TERRAMÉRICA – Ciência mede dióxido de carbono
por Emilio Godoy*
Cidade do México, México, 10 de junho de 2013 (Terramérica).- Florestas, marismas, mangues e lagoas são depósitos naturais de carbono nas zonas do Caribe mexicano. No entanto, agora se procura medir sua capacidade de absorver o dióxido de carbono que é abundante na atmosfera. Esses ecossistemas são próprios da faixa costeira que inclui os Estados de Veracruz, Tabasco, Yucatán, Campeche e Quintana Roo.
“A recomendação de evitar a deterioração e o desmatamento das florestas é uma medida de mitigação (redução) de quase 20% das emissões de gases-estufa por essas práticas”, afirmou ao Terramérica José Andrade, acadêmico do estatal Centro de Pesquisa Científica de Yucatán (Cicy). “Por outro lado, é necessário reduzir emissões da indústria e do transporte com energias alternativas. A conservação de florestas não é uma solução para reduzir emissões globais”, acrescentou.
No estudo As Folhas: Parte Fundamental do Armazenamento de Carbono em uma Floresta de Yucatán, Andrade e quatro de seus colegas avaliaram fatores com as correntes de ar, a biomassa e o fluxo de carbono do ecossistema na reserva de Kiuic, em Yucatán, com 1.800 hectares de extensão. Das espécies vegetais estudadas, o almácigo (Bursera simaruba) mostrou capacidade para absorver 730 gramas de dióxido de carbono (CO2) por metro quadrado, o jabín (Piscidia piscipula), 680 gramas, e o kitinché (Caesalpinia gaumeri), 1,32 quilos. Estas duas últimas são nativas do México.
“Os dados sugerem que as espécies da região utilizam a água eficazmente para promover a regeneração de folhas novas, o que lhes permite continuar assimilando CO2 e assim armazenar o carbono em forma de biomassa”, explicou Andrade. O Caribe mexicano está exposto a furacões e tempestades cada vez mais destruidoras e à ameaça do aumento do nível do mar, que inundaria extensas faixas costeiras, afirmam especialistas. Além disso, a riqueza biológica está ameaçada pelo avanço da indústria do turismo, pelo desmatamento, pela pecuária intensiva e pelas atividades petroleiras.
O México emite anualmente cerca de 748 milhões de toneladas de CO2, um dos gases responsáveis pelo aquecimento da atmosfera. A agricultura responde por 12,3%, a indústria por 8,2%, e a mudança no uso do solo e a silvicultura por 6,3%, segundo o Ministério de Meio Ambiente e Recursos Naturais. “A mudança climática intensifica nossa incerteza sobre o futuro das florestas. Não estamos certos do que vai acontecer”, disse ao Terramérica o especialista do Serviço Florestal do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos, Richard Birdsey.
“Em alguns lugares, as florestas crescem mais e em outros, menos. Influem muitos fatores que temos de estudar”, acrescentou Birdsey, membro da CarboNA (North American Carbon Program), um programa de pesquisa do ciclo do carbono nos países da América do Norte. Os projetos da CarboNA, um dos quais é desenvolvido em Yucatán, se dirigem a construir modelos de monitoramento de CO2 na região, com sensores remotos e mapas. “É difícil calcular o CO2 no solo, mas estamos tentando medi-lo. Processamos ecossistemas em pequena escala para gerar curvas de fator de emissões do gás”, explicou Birdsey.
Em 2011, um grupo de cientistas criou no México a rede MexFlux, de fluxos de água e carbono, com o mesmo esquema da norte-americana AmeriFlux e que conta com pelo menos sete locais de estudo desses intercâmbios de massa e energia. Os ecossistemas do Caribe mexicano prestam valiosos serviços para o equilíbrio ambiental da região e funcionam como proteção diante de fenômenos meteorológicos como secas, tempestades, ressacas do mar e inundações.
Entretanto, “a península de Yucatán está muito degradada. Há muita pressão sobre os ecossistemas. É preciso analisar as áreas de sumidouros (de CO2). As florestas tropicais fixam mais dióxido de carbono do que liberam”, detalhou ao Terramérica o estudante de pós-graduação Rodrigo Valle, do Cicy. Valle e dois colegas trabalham na Estimativa da Distribuição Espacial da Biomassa Florestal na Península de Yucatán, Usando Percepção Remota e Dados de Campo. Na pesquisa encontraram uma biomassa de 229 mil toneladas por hectare na área estudada, medindo a radiação eletromagnética refletida pela matéria verde.
Com base no Inventário Nacional Florestal e de Solos 2009-2013, duas instituições governamentais, a Comissão Nacional Florestal e o Programa Mexicano do Carbono, calcularam uma reserva de 9,146 bilhões de toneladas de carbono nos solos do México. A península de Yucatán é a região com maiores níveis de CO2 enterrado, devido à natureza calcária de sua superfície.
A concentração de gases-estufa na atmosfera este ano ultrapassou 400 partes por milhão, um nível crítico para o termômetro do planeta e sinônimo de que as medidas aplicadas até agora não funcionam e que a solução é reduzir drasticamente as emissões desses gases. Como “parte do dióxido de carbono se armazena nas plantas, uma alternativa é diminuir o desmatamento e incentivar o manejo e a conservação de florestas como reservatórios”, disse ao Terramérica a acadêmica Luisa Cámara, da pública Universidade Juárez Autónoma de Tabasco.
A especialista encabeça o estudo Carbono Armazenado na Floresta Mediana de Quercus oleoides e Plantações de Eucalyptus urophylla e Gmelina arborea em Huimanguillo, Tabasco, sobre azinheiros, melinas e duas plantações comerciais de eucalipto, nenhuma delas autóctone do México. Nas áreas analisadas de savana, Luisa Cámara e seus colegas mediram 14,75 toneladas de CO2 por hectare no caso de eucaliptos, 15,54 no de melinas, e 63,51 toneladas no de encinos. Os números indicam que o desenvolvimento de plantações comerciais não representa uma solução para capturar CO2. (Envolverde/Terramérica)
* O autor é correspondente da IPS.
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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Terramérica)
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