Roma, Itália, 21/6/2013 – Como a água e a alimentação são coisas que estão estreitamente ligadas, há um perigo latente de que, se a primeira escassear, a segunda faltará. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) destacou os fortes vínculos entre os dois temas, ao assinalar que a produção rural responde por mais de 70% do uso da água no mundo.
Em um informe divulgado em Roma – onde realiza sua 38ª Conferência Bianual, que começou no dia 15 e terminará amanhã – a FAO alertou que a parte da água disponível para a agricultura cairá em 40% até 2050. Sua projeção se baseia em estatísticas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que tem entre seus integrantes os países mais industrializados.
A disponibilidade de água potável mostra uma tendência semelhante à das terras: há recursos suficientes em nível mundial, mas distribuídos de forma desigual. Entretanto, em um número cada vez maior de países ou partes destes, há escassez de água, segundo a FAO. Devido à sua vulnerabilidade, as áreas costeiras, a bacia do Mediterrâneo, os países do norte da África e da Ásia central parecem ser lugares onde os investimentos em técnicas de manejo de água devem ser considerados uma prioridade quando se trata de promover a produtividade agrícola.
Consultado sobre se o vínculo entre produtividade agrícola e escassez de água é real, Jan Lundqvist, assessor científico do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (Siwi), disse à IPS que “sim e não”. Se não há água (por exemplo, nos desertos), não se pode produzir alimentos, afirmou. Mas, acrescentou, a água é um recurso renovável e o ciclo hidrológico continuará no futuro.
O problema é que está cada vez mais difícil, caro e perigoso, segundo Lundqvist, desviar água dos rios e lagos ou extrair a que se encontra nas reservas subterrâneas. “Ao mesmo tempo, com o desenvolvimento econômico, aumenta a demanda de água por habitante”, pontuou. O fato de se necessitar deste recurso para produzir tudo o que o ser humano come ficou claramente ilustrado em uma exposição realizada no Siwi no ano passado.
Naquela ocasião foi explicado que a produção de um hambúrguer médio (duas fatias de pão, carne, tomate, alface, cebola e queijo) consome cerca de 2.389 litros de água, contra 140 litros para uma xícara de café e 135 para um simples ovo. Para um prato de arroz com carne e verduras são necessários 4.230 litros, enquanto um grosso e suculento bife, alimento básico em muitos países do Norte industrializado, consome uma das maiores quantidades de água: aproximadamente sete mil litros.
Vincent Casey, gerente de apoio técnico da organização WaterAid, com sede em Londres, disse à IPS que a agricultura irrigada responde pela maior parte da extração de água em muitos países. A escassez poderia ser prevenida mudando as práticas agrícolas, argumentou. É possível modificar os tipos de cultivos, os métodos de irrigação e as tarifas da água para reduzir a demanda. Mas essas ações exigem compromisso político, o que pode ser difícil de obter, reconheceu.
Para garantir a segurança da água também é necessária uma boa administração dos recursos e dos serviços de fornecimento, como bombas, tubulações e tanques de reserva. A escassez de água já é uma realidade para mais de 760 milhões de pessoas, alertou Casey, em grande parte pela falta de serviços de fornecimento. “Se não tivéssemos represas, tubulações e torneiras na Grã-Bretanha, também sofreríamos escassez”, afirmou.
Para enfrentar a crise do fornecimento será preciso controlar a demanda nas áreas onde os recursos estão mais pressionados, e ampliar a oferta aos lugares onde há dificuldades de acesso. Se existe escassez de água, a produção de alimentos é afetada por muitos motivos, observou Lundqvist. Em primeiro lugar porque outros setores demandam uma boa parte do fornecimento. Com a crescente urbanização, tanto a indústria como as famílias necessitarão de água adicional. “A água está ficando escassa, não só pela redução no volume, como também porque está aumentando a demanda da sociedade”, ressaltou Lundqvist.
Um segundo motivo é que o padrão de chuvas ficará mais alterado devido à mudança climática. A incerteza e os riscos aumentarão para os agricultores. Isto é particularmente problemático para a agricultura que depende da chuva, afirmou Lundqvist. E a situação ficará mais complexa conforme as secas e inundações se tornarem mais frequentes e amplas. Por outro lado, o aumento das temperaturas acelera a evaporação da água, o que também complica para os agricultores.
Nessas circunstâncias, e considerando o fato de que se produz comida suficiente para alimentar de forma adequada toda a população mundial, é vital garantir que esses alimentos cheguem a todos, inclusive aos pobres. Segundo Lundqvist, entre um terço e metade dos alimentos produzidos é desperdiçado ou transformado. Isto significa uma enorme perda de recursos. “Deveremos caminhar bem firme no futuro, assegurando que se produza o necessário, que se possa ter acesso à produção e que esta seja aproveitada”, destacou. Envolverde/IPS
(IPS)
Em um informe divulgado em Roma – onde realiza sua 38ª Conferência Bianual, que começou no dia 15 e terminará amanhã – a FAO alertou que a parte da água disponível para a agricultura cairá em 40% até 2050. Sua projeção se baseia em estatísticas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que tem entre seus integrantes os países mais industrializados.
A disponibilidade de água potável mostra uma tendência semelhante à das terras: há recursos suficientes em nível mundial, mas distribuídos de forma desigual. Entretanto, em um número cada vez maior de países ou partes destes, há escassez de água, segundo a FAO. Devido à sua vulnerabilidade, as áreas costeiras, a bacia do Mediterrâneo, os países do norte da África e da Ásia central parecem ser lugares onde os investimentos em técnicas de manejo de água devem ser considerados uma prioridade quando se trata de promover a produtividade agrícola.
Consultado sobre se o vínculo entre produtividade agrícola e escassez de água é real, Jan Lundqvist, assessor científico do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (Siwi), disse à IPS que “sim e não”. Se não há água (por exemplo, nos desertos), não se pode produzir alimentos, afirmou. Mas, acrescentou, a água é um recurso renovável e o ciclo hidrológico continuará no futuro.
O problema é que está cada vez mais difícil, caro e perigoso, segundo Lundqvist, desviar água dos rios e lagos ou extrair a que se encontra nas reservas subterrâneas. “Ao mesmo tempo, com o desenvolvimento econômico, aumenta a demanda de água por habitante”, pontuou. O fato de se necessitar deste recurso para produzir tudo o que o ser humano come ficou claramente ilustrado em uma exposição realizada no Siwi no ano passado.
Naquela ocasião foi explicado que a produção de um hambúrguer médio (duas fatias de pão, carne, tomate, alface, cebola e queijo) consome cerca de 2.389 litros de água, contra 140 litros para uma xícara de café e 135 para um simples ovo. Para um prato de arroz com carne e verduras são necessários 4.230 litros, enquanto um grosso e suculento bife, alimento básico em muitos países do Norte industrializado, consome uma das maiores quantidades de água: aproximadamente sete mil litros.
Vincent Casey, gerente de apoio técnico da organização WaterAid, com sede em Londres, disse à IPS que a agricultura irrigada responde pela maior parte da extração de água em muitos países. A escassez poderia ser prevenida mudando as práticas agrícolas, argumentou. É possível modificar os tipos de cultivos, os métodos de irrigação e as tarifas da água para reduzir a demanda. Mas essas ações exigem compromisso político, o que pode ser difícil de obter, reconheceu.
Para garantir a segurança da água também é necessária uma boa administração dos recursos e dos serviços de fornecimento, como bombas, tubulações e tanques de reserva. A escassez de água já é uma realidade para mais de 760 milhões de pessoas, alertou Casey, em grande parte pela falta de serviços de fornecimento. “Se não tivéssemos represas, tubulações e torneiras na Grã-Bretanha, também sofreríamos escassez”, afirmou.
Para enfrentar a crise do fornecimento será preciso controlar a demanda nas áreas onde os recursos estão mais pressionados, e ampliar a oferta aos lugares onde há dificuldades de acesso. Se existe escassez de água, a produção de alimentos é afetada por muitos motivos, observou Lundqvist. Em primeiro lugar porque outros setores demandam uma boa parte do fornecimento. Com a crescente urbanização, tanto a indústria como as famílias necessitarão de água adicional. “A água está ficando escassa, não só pela redução no volume, como também porque está aumentando a demanda da sociedade”, ressaltou Lundqvist.
Um segundo motivo é que o padrão de chuvas ficará mais alterado devido à mudança climática. A incerteza e os riscos aumentarão para os agricultores. Isto é particularmente problemático para a agricultura que depende da chuva, afirmou Lundqvist. E a situação ficará mais complexa conforme as secas e inundações se tornarem mais frequentes e amplas. Por outro lado, o aumento das temperaturas acelera a evaporação da água, o que também complica para os agricultores.
Nessas circunstâncias, e considerando o fato de que se produz comida suficiente para alimentar de forma adequada toda a população mundial, é vital garantir que esses alimentos cheguem a todos, inclusive aos pobres. Segundo Lundqvist, entre um terço e metade dos alimentos produzidos é desperdiçado ou transformado. Isto significa uma enorme perda de recursos. “Deveremos caminhar bem firme no futuro, assegurando que se produza o necessário, que se possa ter acesso à produção e que esta seja aproveitada”, destacou. Envolverde/IPS
(IPS)
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