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sábado, 31 de julho de 2010

VOLUNTÁRIO QUE DEFENDIA ANIMAIS É ASSASSINADO EM BAGÉ, RS

Este blog empresta sua solidariedade aos familiares do morto e aos companheiros de luta a favor dos animais errantes da cidade de Bagé, interior do RS. E espera que as autoridades da cidade tomem drásticas providências na elucidação de tão tenebroso crime, que macula o prestígio da cidade. Espero também que o Centro de Castração e Tratamento de Animais Errantes receba o apoio REAL que merece receber. É patético que uma cidade como Bagé, que se tornou historicamente notabilizada pela virilidade de seus filhos, não tenha homens com coragem para guarnecer um estabelecimento de tão grande importância, deixando o local entregue aos malfeitores alegando medo de ratinhos...
Prof. James Pizarro, prof. da UFSM, aposentado.
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"A morte de Balbino Jardim Botesele causou comoção e indignação. O trabalhador rural, de 29 anos, foi assassinado na madrugada de quinta-feira, durante um assalto ao Centro de Castração e Tratamento de Animais Errantes. A chácara, de 32 hectares, localizada no Passo do Viola, com acesso pela Estrada da Serrilhada, é utilizada pelo Núcleo Bageense de Proteção aos Animais São Francisco de Assis (NBPA) para o tratamento de cães e outros animais vítimas de maus-tratos.
O corpo de Botesele foi encontrado caído dentro do prédio utilizado para os procedimentos cirúrgicos veterinários, próximo às baias onde os animais ficam alojados para recuperação. A primeira pessoa a ver o homem foi a mulher de um dos funcionários do núcleo. Ela chegou pela manhã, por volta das 8h, para realizar a limpeza do local, quando se deparou com a vítima no chão. O caseiro imediatamente chamou a vice-presidente do núcleo, Cleonice Rezende.
Uma equipe do Samu foi acionada, mas quando os paramédicos chegaram à chácara Botesele já não apresentava sinais de vida. Logo em seguida, duas viaturas da Brigada Militar isolaram o perímetro ao redor do prédio. Uma equipe volante de investigação da Polícia Civil esteve no local do crime.
De acordo com o delegado Luís Eduardo Sandim Benites, o centro de castração do núcleo é alvo habitual de arrombadores. Os investigadores já teriam alguns suspeitos dos arrombamentos, mas, conforme Benites, não há como associá-los ao assassinato de Botesele. “Não podemos dizer se os arrombadores investigados são os mesmo que cometeram esse crime”, observou o delegado. A polícia já teria encaminhado ao judiciário pedidos de mandados de prisão, busca e apreensão contra os suspeitos investigados pelos ataques ao núcleo.
Ainda segundo o delegado, a investigação trabalha com a tese de latrocínio, pois foi relatado pela direção do núcleo que foram levados vários frascos e embalagens de medicamento de uso veterinário, além de equipamentos cirúrgicos. Após analisar o local do crime, Benites contou ter observado um orifício na porta, provavelmente causado por disparo de arma de fogo. A polícia acredita que mais de uma pessoa tenha invadido o local. Os peritos constataram um ferimento à bala no lado esquerdo; o projétil atravessou o braço da vítima e alojou-se no tórax. Nenhuma cápsula foi encontrada no local, o que sugere que a arma utilizada funcione com tambor.

Mais de 12 horas à espera da perícia

O corpo de Botesele só foi liberado por volta das 19h20min. A equipe do Instituto Geral de Perícia (IGP) de Sant’Ana do Livramento foi acionada pela manhã, mas devido a um acidente na BR 290, entre os município de Alegrete e Uruguaiana, os peritos criminais só chegarem a Bagé às 17h51min. Os familiares de Botesele esperaram mais de 12 horas pela liberação do corpo.

Histórico de crimes

Do mês de fevereiro até ontem o centro de castração sofrera cinco arrombamentos. Na madrugada de quinta foi o sexto. A direção do núcleo registrou até ocorrência de abigeato, pois foram furtados 10 cavalos e uma vaca da chácara. Os ladrões já levaram do local arames, eletrônicos, material cirúrgico de uso veterinário, motores de freezer, geladeiras e bomba d’água, extensões elétricas, botijões de gás entre outros objetos.
A morte de Botesele foi a gota d’água para os voluntários do núcleo de proteção aos animais. Cleonice lamenta que os recorrentes arrombamentos ao local tenham terminado de maneira trágica. Para a vice-presidente do núcleo, a insegurança na cidade é tamanha que atinge até a Ong. Segundo ela, uma empresa foi contratada para realizar a segurança, mas o vigilante teria se negado, pois havia ratos no local. Cleonice garante que o local é detetizado. O núcleo providenciava a instalação de um sistema de alarme. A direção estava estudando o orçamento das empresas.

Fatalidade

Botesele era irmão de uma das voluntárias do NBPA, uma funcionária da Vigilância Sanitária do município que prestava serviços no centro de castração como auxiliar de cirurgia. Filho do meio de uma família de cinco irmãos, Botesele trabalhava nos vinhedos da granja Peruzzo, e estava de férias. Atualmente separado, ele tinha um filho de 10 anos. A vítima também tentava a conclusão do Ensino Médio na Escola Carlos Kluwe.
Na quarta-feira, o NBPA havia recebido um remessa de remédios. Preocupados com os arrombamentos e furtos, os coordenadores temiam que os produtos fossem levados. Botesele se prontificou para passar a noite no local, mas não portava armas. Na manhã de ontem, foi encontrado morto com o aparelho celular na mão."
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FONTE : Jornal Minuano on Line, Bagé, RS
http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=53158

Produtos naturais extraídos do mar são destaques na reunião anual da SBPC

Pesquisa apresentada em Natal revela a gigantesca biodiversidade guardada nas águas oceânicas, conhecidas como "Amazônia Azul".

A química de produtos naturais extraídos do mar é recente em todo o planeta. Iniciada na década de 1960, essa área de investigação começa agora a despontar no Brasil, país que guarda gigantesca biodiversidade em suas águas oceânicas, a ponto de receberem o apelido de “Amazônia azul”.

Foi o que apresentou Vanderlan da Silva Bolzani, professora titular do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da coordenação do Projeto Biota-FAPESP, em conferência na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que está sendo realizada em Natal (RN) e segue até sexta-feira (30/7).

Segundo ela, a pesquisa de substâncias químicas oriundas do mar apresenta defasagem em relação à bioprospecção de elementos retirados de biomas terrestres.

Iniciada na década de 1960, a química de produtos naturais marinhos começou a isolar metabólitos secundários na década seguinte, diversificando as substâncias extraídas com o aprimoramento de tecnologias.

Para Vanderlan, o Brasil começa somente agora a formar uma quantidade de pesquisadores mínima para começar a responder à demanda nacional do setor. “Novas gerações de cientistas vêm expandindo as áreas de pesquisa e incluindo o mar”, observou.

Isso é importante, segundo ela, porque o país está muito atrás nesse conhecimento com relação a Japão, Estados Unidos, Chile, Canadá e Itália. Em um levantamento publicado por John Blunt, da Universidade Canterbury, na Nova Zelândia, o Brasil nem sequer aparece entre os países que apresentam atividades de pesquisa marinha.

“O número de pesquisadores é tão pequeno que desapareceu quando ele aplicou o desvio padrão. É como se não participássemos da pesquisa de marinhos do mundo”, disse Vanderlan.

A pesquisadora defende a abertura de oportunidades e de incentivos para que novos talentos ingressem nessa área de pesquisa. “Após dez anos de programa, nós do Biota-FAPESP percebemos que não bastava fazer renascer o verde. Precisamos também salvar o azul dos oceanos”, afirmou.

Por conta dessa deficiência, o programa lançou chamada de propostas, que anunciou os projetos apoiados na semana passada. A chamada busca promover o avanço do conhecimento em áreas relacionadas à biodiversidade do ambiente marinho.

“A SBPC foi muito feliz ao pensar no mar logo após a reunião [do ano passado] que tratou da Amazônia, pois são patrimônios importantes para o país que devem ser preservados”, afirmou.

“Além do conhecimento, a ciência poderia trazer desenvolvimento econômico e social tanto para a população amazônica como para aquelas que habitam o litoral brasileiro. Na reunião de Manaus, afirmei que o extrativismo não havia levado riqueza à Amazônia, mas a pesquisa em moléculas de alto valor agregado poderia cumprir essa função. O mesmo pode ocorrer com o mar”, disse.

O Brasil teria vocação, segundo Vanderlan, para avançar ainda mais longe no mar e participar do grupo de países que começam a explorar os ambientes marinhos extremos, marcados por condições severas de temperatura, pressão e outros fatores.

“A química encontrada nesses ambientes é diferenciada e muito mais diversificada, pois a natureza é obrigada a responder quimicamente aos imensos estresses impostos pelo ambiente”, disse, enquanto apresentava o mapa mundial dos chamados hot spots oceânicos desses extremos.

Entre as conquistas da química vinda do mar, a professora da Unesp salientou um peptídeo extraído do caramujo marinho Conus magus, que deu origem ao medicamento Prialt, considerado uma alternativa à morfina, analgésico utilizado há cerca de dois séculos no tratamento de dores crônicas.

Preservar o azul

Como os biomas terrestres, os marinhos também precisam ser explorados de maneira sustentável para que não sejam degradados. Vanderlan comparou o mar brasileiro ao Cerrado, bioma em boa parte degradado antes que a ciência descobrisse sua complexidade molecular.

O desenvolvimento da ecologia marinha, a criação de redes colaborativas internacionais, a aproximação com o setor industrial e a realização de encontros entre especialistas foram algumas sugestões da cientista para a consolidação do conhecimento dos mares.

A instalação de centros de pesquisa ao longo da costa brasileira também seria importante, segundo Vanderlan, para que fossem contempladas as diferentes características do mar do Brasil.

“Realizamos reuniões de altíssimo nível em São Paulo que podem ajudar muito, especialmente para aumentar os contatos entre pesquisadores”, disse, convidando os interessados para o primeiro Workshop de Biologia Marinha do Biota-FAPESP, que será realizado nos dias 9 e 10 de setembro na sede da Fundação.

As reuniões e as redes internacionais são, segundo Vanderlan, excelentes auxílios na formação de recursos humanos em ciências marinhas. Segundo ela, a investigação sobre o mar beneficiará o país não somente por gerar novos produtos químicos, mas também porque irá aumentar o conhecimento básico sobre o mar, que ainda é pequeno.

“A química de produtos naturais brasileiros ainda é tradicional e conservadora, precisamos pesquisar novos ambientes e o mar é um excelente laboratório”, destacou.
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FONTE : Fabio Reynol, de Natal (RN), da Agência FAPESP (EcoAgência).

Mogno: a poucos passos da extinção

Extração clandestina é uma das principais ameaças ao mogno. Seguindo os passos do pau-Brasil, o mogno pode desaparecer.

O mogno-brasileiro (Swietenia macrophylla) é uma árvore nativa da Amazônia, mais comum no sul do Pará. Também ocorre no Acre, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins. Países como México e Peru também registram ocorrência da espécie.

A árvore pode ser encontrada em floresta clímax, de terra firme, argilosa. O crescimento da planta é rápido, sendo que pode atingir quatro metros aos dois anos de idade. A largura do tronco varia entre 50 e 80 cm de diâmetro. O mogno floresce nos meses novembro e janeiro. Seus frutos amadurecem no mês de setembro e se prolongam até meados de novembro. A árvore é ornamental quando usada na arborização de parques e jardins.

A lagarta Hypsypyla grandella, conhecida como broca-do-mogno, é uma ameaça ao mogno brasileiro. Ela ataca a árvore, impedindo seu desenvolvimento, especialmente em áreas de reflorestamento, onde a densidade é muito maior que na floresta. O plantio de outras espécies por perto pode amenizar os efeitos negativos da broca-do-mogno.

A madeira do mogno é muito usada na produção de móveis. Muitos apreciam o material pela facilidade com que é trabalhado, pela estabilidade e duração. Depois de polida, a madeira apresenta um aspecto castanho-avermelhado brilhante que chama atenção pela beleza. O mogno é usado em mobiliário de luxo, objetos de adorno, painéis, acabamentos internos, entre outros. É aproveitado também na produção de instrumentos musicais, principalmente em guitarras e violões, pelo timbre característico e ressonância sonora, que tende ao médio-grave.

Quase extinto

O mogno corre sério risco de extinção. Um dos motivos é a extração de madeira clandestina que causa também devastação da floresta amazônica. Isso acontece porque o mogno tem alto valor comercial e aceitação no mercado internacional. A espécie já desapareceu de grandes áreas da Amazônia e resiste apenas em regiões de difícil acesso e em áreas protegidas. Mas mesmo as áreas protegidas não intimidam madeireiros ilegais, que abrem estradas na mata em busca das valiosas árvores de mogno. A derrubada ilegal e arraste da madeira leva à destruição de até 30 árvores próximas, o que agrava ainda mais o desmatamento.

A exploração, o transporte e a comercialização do mogno brasileiro estão suspensos no Brasil desde outubro de 2001, por meio de Instrução Normativa, editada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
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FONTE : WWF Brasil - EcoAgência

Relatório conclui que aquecimento global é um fato

Mais de 300 cientistas de 48 países contribuíram para o State of Climate 2009, que analisou 10 indicadores climáticos e comprovou que o planeta está sem dúvida esquentando e que a atual década será a mais quente já registrada desde 1870.

Derretimento de geleiras, temperaturas mais altas em terra e nos oceanos, aumento dos níveis dos mares e menor cobertura de neve foram alguns dos indicadores estudados por mais de 160 grupos de pesquisa ao redor do mundo para chegar a uma única conclusão: o planeta está aquecendo.

Os autores do State of Climate 2009, coordenado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), não entraram no mérito se o aquecimento é devido à ação humana ou não, mas são enfáticos ao dizer que não há mais dúvidas de que o fenômeno está acontecendo e em ritmo acelerado.

“As evidências neste relatório demonstram claramente que a Terra está aquecendo e que não há mais espaço ou tempo para desconfianças”, afirmou Tom Karl, diretor da NOAA.

Comparando medidas atuais com os dados observados desde 1870, os cientistas conseguiram perceber uma tendência constante na subida das temperaturas, aumento que teve ainda seu ritmo acelerado nas últimas décadas.

Os anos 1980 foram os mais quentes em mais de um século de observação, mas ficaram pouco tempo em primeiro do ranking, pois logo foram ultrapassados pelos anos 1990. Agora é a vez dos dez primeiros anos do século XXI estabelecer um novo recorde.

“Num primeiro momento o aquecimento de aproximadamente um quinto de grau por década pode parecer pouco, mas temos uma média de temperatura 1°C acima do que 50 anos atrás e isso já está afetando o planeta. Chuvas pesadas estão ficando mais freqüentes e ondas de calor são mais comuns e intensas”, explica o relatório.

O State of Climate 2009 enfatiza que a sociedade se desenvolveu por milhares de anos sob um estado climático e que agora um novo conjunto de condições está tomando forma.

Essas condições irão por em risco cidades costeiras, infraestrutura, suprimento de água, saúde pública e agricultura.

Indicadores

Para chegar a estas conclusões, grupos de cientistas analisaram 10 elementos fundamentais para estudar o comportamento climático de uma região. Observando esses indicadores foi possível perceber que os sete fatores que deveriam subir em um mundo mais quente subiram; e os três indicadores que deveriam declinar, caíram.

Os 10 indicadores observados foram:

- Aumento das temperaturas sobre a terra

- Aumento das temperaturas sobre os oceanos

- Maior calor nos oceanos

- Aumento na temperatura na troposfera

- Aumento da umidade

- Aumento da temperatura na superfície dos oceanos

- Aumento do nível dos oceanos

- Menos gelo flutuando nos oceanos

- Menor cobertura de neve

- Diminuição das geleiras

“Pela primeira vez uma análise agrupa dados do alto da atmosfera até as profundezas dos oceanos. Essas informações vêm de centros de pesquisas de todos os cantos do planeta e foram obtidos através de imagens de satélite, estações climáticas, navios e balões. Todo esse trabalho aponta para uma única conclusão: o mundo está aquecendo”, explicou Jane Lubchenco, da NOAA.
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FONTE : Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil, com informações NOAA (EcoAgência)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Água como mercadoria - FREI BETTO

O capitalismo mercantiliza os bens da natureza, os frutos do trabalho humano, todos os aspectos de nossa vida. Aprendemos na escola: 71% de nosso corpo são água, a mesma proporção existente em nosso planeta.

Bebemos litros de água no decorrer do dia. Do velho e bom filtro? Não. Em geral, de garrafas pet vendidas em supermercados. Quem garante que a água engarrafada é mais potável que a filtrada em casa? A propaganda; ela faz nossa cabeça e direciona nossos hábitos.

De olho no faturamento, empresas transnacionais procuram incutir na opinião pública a ideia da água como mercadoria de grande valor econômico, capaz de tornar-se uma fonte de renda para um país como o Brasil. Retira-se da água sua dimensão de direito humano, seu caráter vital, sua dimensão sagrada. Quem se opõe a esta ideologia é rotulado como "contrário ao progresso". Porém, é na defesa da água como direito e bem comum que reside a possibilidade de salvarmos o planeta Terra - "Planeta-Água" - da desolação, e assegurarmos a vida das gerações futuras.

O raciocínio da mercantilização da água é simples: tendo que pagar, a sua utilização será mais racional e cuidadosa. Ora, isso não implica incluir a água na categoria de mercadoria regida pelas leis do mercado.

Este argumento tem sua parte de verdade - cuida-se melhor daquilo que é mais caro. As consequências, porém, podem ser graves se a água for regida pela lei da oferta e da procura. A cobrança pelo uso da água pode ser um mecanismo de gerenciamento desde que se estabeleçam preços diferenciados conforme a concessão de uso. Uma fábrica de cerveja retira do poço artesiano toda água que necessita, sem pagar nada por ela. Depois descarrega parte dessa água, agora poluída por detergentes e dejetos, no rio mais próximo. O lucro com a venda da cerveja é todo dela; a perda no lençol subterrâneo e a poluição do rio são da comunidade local.

Uma boa gestão cobraria preço baixo pela água usada como insumo e alto sobre o esgoto industrial, de modo a obrigar a indústria a filtrar dejetos antes de lançá-los de volta ao rio. Também é preciso estabelecer preços diferenciados conforme o uso da água (consumo humano, esgoto, energia elétrica, produção industrial, agricultura irrigada, lazer etc).

Nas zonas urbanas já pagamos pelos serviços de captação, tratamento e distribuição da água, não pela água em si. A novidade é que, além dos serviços, deveremos pagar também pelo metro cúbico de água utilizada. Se este preço adicional vier a excluir alguém do acesso à água, tal medida será eticamente inaceitável.

O princípio que obriga a quem usa, pagar, não pode ser aceito ao contrário: "quem não paga, não usa." Não sendo a água uma mercadoria, mas bem de domínio público, o princípio só se aplica como norma reguladora de uso, seja quantitativa (quem usa mais água, paga mais), seja qualitativamente (quem usa para fins lucrativos paga mais do que quem usa para consumo pessoal). Se assim não for, a água deixará de ser direito de todos os seres vivos, criando-se um impasse ético e uma tragédia: a dos excluídos da água.
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FONTE : Frei Betto, escritor e assessor de movimentos sociais - Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade"(Agir). (Envolverde/Adital).

Agora, água para todos

Declarar o acesso a água e saneamento como um direito humano foi um passo crucial da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nos esforços para tornar disponível esse elemento vital para toda a população mundial, destacaram organizações não governamentais. A resolução foi aprovada no dia 28, por 122 Estados-membros, com 41 abstenções e nenhum voto contra. Nos debates houve uma clara divisão entre as nações do Norte e do Sul, como muitos já esperavam.

Os Estados Unidos se abstiveram, como outros países industrializados, entre eles Austrália, Áustria, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Irlanda, Israel, Japão, Luxemburgo e Suécia. E várias nações em desenvolvimento, principalmente da África, também preferiram não se manifestar, como Botsuana, Etiópia, Guiana, Quênia, Lesoto, Trinidad e Tobago e Zâmbia.

O embaixador da Bolívia, Pablo Solon, cujo país foi um dos principais defensores da resolução, disse que os direitos humanos não nasceram como conceitos já elaborados, e vão sendo construídos com base na realidade e na experiência. Por exemplo, os direitos a educação e trabalho, incluídos na Declaração Universal de 1948, evoluíram com o tempo graças à Convenção Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. “O mesmo ocorre com o direito humano à água e ao saneamento”, afirmou o diplomata perante a Assembleia Geral.

Em declaração divulgada após a votação, a organização Food and Water Watch disse: “Nossa rede de aliados lutou por mais de dez anos para conseguir um reconhecimento legal do direito humano à água na ONU”. Embora a resolução não tenha caráter vinculante, é um importantíssimo primeiro passo nos esforços para fornecer água e saneamento a todos, diz a declaração, assinada pela presidente do grupo, Maude Barlow, e por sua diretora-adjunta, Wenonah Hauter. Ambas qualificaram a decisão de “assombrosa e surpreendente vitória da justiça pela água”.

Segundo a ONU, três bilhões de pessoas não têm acesso a água corrente em um quilômetro ao redor de sua casa, e outros dois bilhões vivem em áreas com escassez desse elemento vital. “Creio que o conceito de água como direito humano está contemplado no próprio direito à vida”, afirmou à IPS Sahana Singh, editora da Asian Water, destacada revista mensal sobre o assunto. “Todos sabemos que não há vida sem água. Não se deve perder mais tempo redigindo novas leis e resoluções”, afirmou.

“Nos países em desenvolvimento, onde a implantação das leis já é um grande problema, tem pouco sentido pressionar por novas normas que somente serão esquecidas na gaveta”, disse Sahana, que pesquisa o setor da água na Ásia nos últimos dez anos. Esta engenheira e editora disse que, a menos que se especifique claramente, o direito humano à água pode chegar a ser interpretado de forma a se considerar o acesso a ela gratuito, ou quase gratuito.

Por sua vez, Anil Naidoo, do canadense Blue Planet Project, na vanguarda da campanha mundial pelo acesso universal a água, destacou que a resolução teve o apoio esmagador de uma forte maioria de países, apesar da oposição de um punhado de poderosos oponentes. “Agora deve ser seguida de um renovado impulso pela justiça da água. Pedimos ações locais em comunidades de todo o mundo, para garantir que os direitos à água e ao saneamento sejam colocados em prática”, disse Anil à IPS. Os governos, as agências de ajuda e a ONU devem assumir suas responsabilidades seriamente, afirmou.
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FONTE : Thalif Deen, da IPS (IPS/Envolverde)

RARIDADE NO PAÍS : Blumenau transfere serviço de esgoto ao setor privado

Cidade do Vale do Itajaí é a primeira do país a fazer a concessão após a edição da lei do saneamento, em janeiro de 2007
Com apenas 6% do esgoto tratado, Blumenau testará uma alternativa rara no Brasil para tentar resolver o problema. A cidade desistiu de gerir o sistema de saneamento e o entregou à iniciativa privada.

A medida rendeu a Blumenau o título de primeiro município do Brasil a conceder o serviço depois da edição da lei do saneamento, em janeiro de 2007.

Nos últimos sete anos, nenhuma cidade do porte de Blumenau, com cerca de 300 mil habitantes, fez a concessão à iniciativa privada. A última foi Mauá, em São Paulo. O sistema é operado pela empresa Foz do Brasil, líder do consórcio Saneblu, vencedor da licitação na cidade catarinense.

Por ser novidade, a medida causa polêmica no Vale do Itajaí. No mês passado, uma liminar suspendeu a execução do contrato de concessão. A ação foi proposta pelo Ministério Público, que investiga supostas irregularidades no contrato. Os argumentos do promotor Gustavo Mereles Ruiz Diaz baseiam-se em divergências entre a lei, o edital e o contrato.

No início do mês, a liminar foi derrubada pelo Tribunal de Justiça e as atividades para a implementação do novo sistema começaram.

– A concessão à iniciativa privada não é solução para todas as cidades, mas uma alternativa para situações específicas. A capacidade de endividamento das cidades, do Estado e da Casan é muito pequena. Quem tem esta capacidade hoje é a iniciativa privada – diz o diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Paulo José Aragão.

As ruas do Bairro Vorstadt são as primeiras a receber as tubulações. No segundo dia de obras, em 20 de julho, a moradora Clarice Spengler tirava dúvidas. Ela foi informada de que receberá um aviso e terá um prazo para ligar o esgoto de casa à nova rede.

– E quem vai pagar por isso? Sou eu? – questiona.

A taxa de esgoto corresponderá a 98% do valor da fatura da água. Se a conta de água der R$ 10, a de esgoto vai custar R$ 9,80.

O prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing, diz que, nem prefeitura, nem companhia de saneamento municipal têm capacidade financeira para atingir a meta de ter 100% de tratamento de esgoto em 10 anos. Por isso a concessão do serviço.

Tempo de exploração chega a 35 anos

O contrato prevê 35 anos de exploração. A empresa se compromete a investir R$ 185 milhões nos próximos cinco anos e elevar a proporção de esgoto tratado na cidade de 6% para 60% em menos de três anos. O total do investimento previsto é de R$ 300 milhões. O diretor da Foz do Brasil, Francisco Jucá, ressalta que, por se tratar de uma concessão pública, os serviços serão supervisionados por uma agência reguladora. Ao final do contrato, os ativos construídos e melhorados serão revertidos ao patrimônio público municipal.

“O privado aparece como alternativa”O vice-presidente da Foz do Brasil, Newton Lima Azevedo, está à frente da empresa que atua em 16 cidades do país, entre elas Blumenau, e seis estados. Segundo ele, 75% do setor de saneamento é operado pelas companhias estaduais, 18% contam com serviços municipais e 7% são operados pela iniciativa privada.

Diário Catarinense – É possível afirmar que a concessão do sistema de esgoto e água ainda está na fase inicial no Brasil?

Newton Lima Azevedo – Sim, ainda estamos engatinhando. A Odebrecht é pioneira neste movimento. Começamos em Limeira (SP) em 1995. Foi a primeira concessão e hoje é modelo no país. O assunto água e esgoto no Brasil começou a ser discutido na época do regime militar, quando foi criado o Plano Nacional de Saneamento. Nesta época foram criadas 27 companhias estaduais e não havia no Brasil nenhum operador privado. O problema foi que este sistema faliu na década de 1980 por ineficiência na gestão.

DC – Com a lei do saneamento, das leis das parcerias público-privadas, dos consórcios públicos e a modernização da lei de concessão, o setor saiu da inércia?

Azevedo – A lei do saneamento estava parada no Congresso havia 19 anos. Depois que ela foi editada, há três anos, o mercado foi reaquecido. Antes não existia segurança, nem garantias. O país está caminhando para a solução de parceria público-privada. Hoje, quase dois terços das atuais 26 companhias têm despesas maiores do que a receita, não conseguem pagar seus custos de operação e são sustentadas pelos governos estaduais.

DC – A concessão é uma tendência internacional?

Azevedo – Na França, há mais de cem anos se trabalha em parceria público-privada. O privado aparece como uma alternativa.

DC – No caso de Limeira, a Foz do Brasil renovou o contrato feito em 1995, estendendo os serviços até 2039. Não houve tempo suficiente para fazer os trabalhos durante o primeiro contrato?

Azevedo – Foi uma extensão do contrato. A cidade cresceu e exigiu novos investimentos. A prefeitura e a população ficaram satisfeitos e pediram mais serviços.

Pior desempenho do Sul do BrasilDas 293 cidades do Estado, só 30 têm rede coletora de esgoto. O desempenho coloca Santa Catarina abaixo da média nacional (56%) e em último lugar na região Sul do país.

A demora para a implantação do sistema levou 14 cidades a desistir dos contratos com a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) e municipalizar os serviços (detalhes no quadro).

De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Paulo José Aragão, atualmente a Casan atende metade da população do Estado. Situação bem diferente do início da concessão, em 1971, quando cerca de 90% dos catarinenses eram atendidos pela estatal.

Rede coletora faz imóvel valorizar, indica pesquisa

O diretor-presidente da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Yves Besse, fez as contas e afirmou que o Estado precisa de R$ 20 bilhões de investimento para resolver o saneamento até 2020. Ele compara a situação dos catarinenses com os estados vizinhos.

– Somente 560 mil catarinenses têm esgoto em suas casas, sendo que no Paraná e no Rio Grande do Sul este número chega a mais de 4 milhões e 2,5 milhões de habitantes, respectivamente – diz.

A pesquisa Benefícios econômicos da expansão do saneamento básico, lançada pelo Instituto Trata Brasil e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), revela que a implantação da rede de esgoto reflete positivamente na qualidade de vida do trabalhador, gerando aumento de produtividade e renda, além de contribuir para a valorização dos imóveis.

De acordo com a pesquisa, apesar dos investimentos feitos no setor, apenas 43,5% dos brasileiros são atendidos pela rede de esgoto.

– A evolução do setor é inquestionável, mas o déficit continua. Os investimentos precisam ser crescentes para reduzir o número de brasileiros que ainda não tem acesso ao saneamento básico – esclarece o presidente do Trata Brasil, André Castro.

A falta de coleta e tratamento de esgoto é a principal causa da mortalidade de crianças de zero a cinco anos por diarreia e doenças parasitárias, enfermidades que proliferam em áreas sem saneamento básico.

Segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), 2.528 crianças nesta faixa etária morrem a cada ano no Brasil em decorrência de diarréia. O que significa a assustadora cifra de sete mortes por dia.

A Casan diz que 17% da população do Estado têm acesso à rede de esgoto. A estatal afirma que está trabalhando para melhorar a situação.
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FONTE : DIÁRIO CATARINENSE, edição de 30/julho/2010

Reportagem na revista Nature destaca o Brasil como ‘fazenda global’

Edição desta semana da revista científica Nature aborda as contribuições de pesquisas no combate à fome. Uma das reportagens [Food: The global farm / Nature 466, 554-556 (2010) / doi:10.1038/466554a], de Jeff Tollefson, cita o Brasil como a “fazenda global”, mas questiona a capacidade do país continuar produzindo mais sem devastar a Amazônia

A matéria, assinada por Jeff Tollefson, aponta os desafios brasileiros perante o aumento do consumo de carne e soja no mundo. Lembra que, por anos, com o aumento dos preços globais dessas commodities, aumento de produção significou queda de árvores. Há pouco tempo, no entanto, a situação melhorou -em parte devido à crise financeira, que derrubou a demanda internacional, em parte devido a melhorias na forma de produção e na ciência.
A íntegra da reportagem está em:
http://www.nature.com/news/2010/100728/full/466554a.html
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FONTE : Jornal da Ciência, SBPC, publicada pelo EcoDebate, 30/07/2010.

‘A energia hidrelétrica não é limpa, nem barata’. : entrevista com Celio Bermann

O professor de pós-graduação em Energia do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP desmistifica os benefícios de o Brasil aproveitar o potencial energético dos rios da região Amazônica: “Belo Monte representa simbolicamente a possibilidade de transformar todo o territorio amazônico em um grande conjunto de jazidas de megawatts”.

Célio Bermann foi assessor do Ministério de Minas e Energia durante os dois primeiros anos do governo Lula e se afastou em desacordo com o que considera desvirtuamento da política do governo para o setor. Crítico assíduo do planejamento energético brasileiro, Bermann não só rejeita a construção de usinas hidrelétricas como a de Belo Monte, mas propõe uma nova direção de desenvolvimento econômico para o país.


Qual é a importância econômica da Usina de Belo Monte para o Brasil?

Bermann: A importância da usina deve ser medida pela sua capacidade de produção de energia, pelo tempo que a energia produzida estará disponível para o consumo da sociedade e pelos problemas de ordem social e ambiental que essa usina representa, inclusive sob o ponto de vista de custos. A importância econômica da Usina de Belo Monte para o Brasil é negativa, porque ela vai custar muito. O governo fala em 19 bilhões de reais de investimento, mas as empresas envolvidas na obra, na fabricação dos equipamentos, dizem que a obra não sai por menos de 30 bilhões. Os problemas sociais e ambientais, muitos deles, não têm custo financeiro. Mas imagine a perda do valor cultural do rio Xingu, que é sagrado para as populações indígenas. E esse tipo de raciocínio não está incorporado na decisão de construir um empreendimento. A obra é superdimensionada, porque a quantidade de água para tocar a usina na capacidade proposta, de 11 mil MW (Itaipu produz 14 mil MW, para se ter uma idéia do tamanho da usina), estará disponível apenas três meses ao ano. Na época de estiagem, por exemplo, em setembro e outubro, a usina não vai produzir mais do que 1 mil MW. Então porque investir numa obra com essa dimensão se o retorno econômico/financeiro é baixo? Não é a toa que o capital privado desistiu de participar da construção.

E porque então construí-la? Qual é o interesse do governo se não haverá esse retorno?

Bermann: Eu vejo a obra de Belo Monte como um projeto de longo prazo. É preciso levar em consideração que mais da metade do chamado potencial hidrelétrico, para construir hidrelétricas no Brasil, está localizado na região amazônica, onde há problemas de ordens social e ambiental. O fato de ter esse potencial para a construção de hidrelétricas faz com o governo aponte para essa direção irreversível: a de construir essas usinas, custe o que custar. Porque isso? O que chama atenção, como sempre, é a perspectiva do apagão, de se ter falta de energia. Ninguém quer ficar sem energia elétrica. Então essa forma de propagandear, de alardear que vai ter apagão, faz com que se aceite usinas com essas características. Não é particularmente o governo Lula, porque essa obra está sendo pensada há 30 anos.

O problema é que o governo Lula vai ficar na história como aquele governo que decretou o fim das populações indígenas e da cultura na região do Xingu. Para responder o por quê dessa obstinação do governo, é porque se conseguirem validar a construção da usina de Belo Monte, todas as outras usinas vão se validar também, principalmente no critério de impactos socio-ambientais. A Balbina (1) é conhecida como a pior concepção de hidrelétrica do mundo, porque ela está na planície amazônica, ocupa um reservatório enorme de mais de 2500 km2, para gerar 250 MW, sendo que a potência firme dela é de apenas 120 MW. Numa situação dessa, o critério lógico é abandonar o projeto. Isso não foi feito, na década de oitenta. De lá pra cá, aumentou o número de planos de hidrelétricas. Belo Monte representa simbolicamente a possibilidade de transformar todo o território amazônico em um grande conjunto de jazidas de megawatts. Embora frágil, com populações tradicionais que precisam ser respeitadas, populações indígenas que precisam ser consideradas, a perspectiva que Belo Monte aponta é de priorizar a geração de energia a partir das águas do rio Amazonas. E o resto? Bem, o resto é o resto.

O Brasil tem um papel de protagonismo internacional em geração de energia limpa. No caso das hidrelétricas, temos enormes reservas de água que podem ser vantajosas para o país. Não se deve aproveitar essas vantagens?

Bermann: O maior erro desta política energética que está sendo implementada é o fato dela se apoiar em inverdades. Uma delas é de que a energia hidrelétrica é limpa e barata. Ela não é. Estudos mostraram que Balbina, Tucuruí e Samuel, as três maiores hidrelétricas construídas na região amazônica até agora, emitem gases de efeito estufa mais ou na mesma proporção que usinas a carvão mineral. Isso pode parecer uma surpresa, mas nos primeiros dez anos de operação de uma usina da Amazônia, a matéria orgânica, a mata, ela apodrece porque a água a deixa encoberta permanentemente. E o processo de apodrecimento é muito forte, acidifica a água e emite metano, que é um gás 21 vezes mais forte que o gás carbônico, principal gás do efeito estufa. Isso é conhecido pela ciência mas não é considerado porque não é de interesse de quem concebe essas usinas. O que interessa é a grande quantidade de dinheiro que vai ser repassado para as empresas construtoras de barragens, turbinas e geradores. O restante, o problema ambiental, as populações que serão expulsas, a cultura indígena que está sendo desconsiderada, isso não entra na conta.

Ainda não entendi porque construir essa usina se a energia é suja, cara e provoca todos esses impactos socioambientais. O Brasil precisa dessa energia ou não?

Bermann: Se o Brasil persistir nessa direção de desenvolvimento econômico, sim. Mas é isso o que precisa ser mudado. No Brasil, 30% da energia gerada é gasta por empresas que consomem muito: fábricas de aço e de alumínio, principalmente. Todas as empresas presentes na Amazônia, e que usam a energia de Tucuruí, são produtoras de alumínio, que é exportado. Então é essa lógica que está por trás disso. Fala-se em crescimento econômico mas a fabricação industrial é direcionada para essa produção e para a exportação.

Seguindo essa lógica, fatalmente o Brasil precisará de energia. O problema que precisa ser aberto para a população brasileira é se a gente quer um crescimento econômico com esse perfil. Ou se com a mesma energia disponível, não podemos produzir produtos que contenham mais tecnologia, mais mão de obra, que tenham maior valor agregado e aí sim, exportá-los. É o que o Japão faz. Na década de 80, todas as indústrias de alumínio foram fechadas. O Japão passou a importar o alumínio, transformá-lo em chips, para então vendê-los com um valor 20 vezes maior do que ele pagou pelo alumínio utilizado. É possível crescer economicamente gastando menos energia, se diversificarmos a nossa matriz energética para que ela não priorize a hidroeletricidade, como ela vem sendo priorizada hoje.

É falsa a idéia de que ela é mais barata do que as outras. Colocado na ponta do lápis, esse custo de 30 bilhões da usina de Belo Monte será financiado pelo BNDES, com o nosso dinheiro, porque as empresas privadas não quiseram entrar. O banco público vai bancar 80% dos investimentos e pagar empresas privadas para construir a usina. E a energia elétrica, muito provavelmente, vai servir para ampliar esse perfil industrial eletro-intensivo. Vai vir alguma coisa para o consumidor residencial brasileiro, mas poderíamos conseguir essa energia diversificando as fontes, não tendo essa idéia de privilegiar grandes blocos de consumo, como esse tipo de indústria faz. A gente tem, na economia brasileira, demonstrações de que existem setores que atendem ao requisito de menor consumo de energia, maior tecnologia e maior incorporação de mão de obra. Então porque não insistir nessa direção?

E quais são esses setores?

Bermann: Por exemplo, a fabricação de aviões. Dentro da pauta de exportação brasileira, é o que mais se sobressai, em termos de receita que advém da venda desses equipamentos. Não dá para persistir na idéia de um país da dimensão do Brasil, com as necessidades sociais que tem, como exportador de soja, de café, de açúcar, de etanol…Exportar aço, celulose, alumínio, é restringir a capacidade que o conhecimento brasileiro tem, a capacidade de trabalho que o país tem de consumir energia de uma forma mais inteligente, de uma forma que degrade menos a força de trabalho de sua gente e o meio ambiente.

Você acha que a sociedade brasileira está a par do que está acontecendo na Amazônia?

Bermann: É fundamental que a discussão das usinas hidrelétricas da Amazônia seja disseminada para que as idéias que hoje justificam essas obras possam passar pelo crivo da sociedade, e não apenas de especialistas, e aí eu me incluo, que mostram seu ponto de vista cientifico do por quê condenar o empreendimento dessas obras. O projeto brasileiro é de construir 28 usinas na região amazônica. Hoje tem quinze, mas de porte são Tucuruí, Balbina e Samuel. Desse conjunto que se pretende, mostra que 80% da capacidade de geração de energia elétrica prevista até 2020 vai vir de 28 usinas hidrelétricas da Amazônia.

E a questão permanece: a que custos sociais e ambientais? Vale a pena? A gente não vai conseguir substituir a necessidade de energia de uma indústria de alumínio com o vento, ou com energia solar. Mas ela consegue suprir de uma forma diversificada parte da necessidade de consumo da população, de atividades de indústria de ponta, ou de comércio e serviços. Não devemos permanecer nessa dependência de grandes usinas hidrelétricas que custam caro, estão numa distância muito grande do consumo e representam do ponto de vista socio- ambiental, pesados óbices para um país como o Brasil aumentar a renda, a geração de emprego e melhorar a qualidade de vida da população.

A renda no Brasil é absurdamente concentrada e os esforços recentes nessa direção ainda são pouco significativos frente à dimensão que hoje se estabelece. Metade da população ganha a mesma renda que 5% dos brasileiros. Isso mostra porque temos problemas de segurança, baixa escolaridade, baixa capacitação de mão de obra para se qualificar e se inserir no mercado de trabalho. É um conjunto de problemas que se verifica e que poderiam ser resolvidos a partir dessa redifinição do que se quer de um país e como a energia pode contribuir numa qualidade de vida mais elevada. O problema é que estamos muito longe dessa direção.

Quais são as alternativas de geração de energia?

Bermann: Para pequena escala serviria energia solar, dos ventos, dos resíduos agrícolas. A política energética atual tem incorporado essas alternativas de uma forma muito tímida, deveria ser multiplicada na sua escala. Alegam que essas energias alternativas são caras mas se a gente considera a hidroeletricidade com todos os problemas que eu apontei e com todos seus custos, elas passam a ser viáveis, e passam a potencialmente poder compor a cesta energética brasileira. Existe uma falsa questão na hidroeletricidade quando ela é comparada aos combustíveis fósseis e não tem uma vírgula sobre isso no projeto de Belo Monte.

Eu estranhei o espaço que a usina de Belo Monte tem tido na mídia, nunca vi a imprensa defender tanto o meio ambiente. Você acha que existe uma questão política por trás dessa discussão?

Bermann: Eu já estive muito próximo do governo Lula. Participei dos primeiros dois anos do governo como assessor de do Ministério de Minas e Energia. E me afastei por ver a direção que o governo Lula tomava e a sua forma de assegurar governabilidade, se aliando ao PMDB, particularmente à figura do senador Sarney. Isso implicou um redirecionamento político, inclusive nesse comportamento em relação às usinas hidrelétricas. Todo o staff hoje das empresas públicas elétricas é de homens do Sarney. Então a forma da oposição combater politicamente a obra de Belo Monte é em função do que é evidente, dos custos, dos problemas socio-ambientais, para com isso alimentar a crítica, mas que é de fundamento político, à obra. Eu nao vi ainda a oposição dizer que não construiria Belo Monte. Não vi o candidato de oposição se referir à usina de forma incisiva. Então eu vejo que o comportamento da mídia em relação à Belo Monte, que poderia resultar no envolvimento da sociedade com relação à usina e criar condições para que o governo revesse a decisão, foi usado muito na atitude de jogar pedra no telhado de vidro, quando eu suponho que seria o mesmo telhado se tivéssemos outro governo.

Um país subdesenvolvido pode ter um desenvolvimento sustentavel? Quer dizer, um país com tantas necessidades sociais quanto o Brasil pode pensar nesses termos a longo prazo?

Bermann: Deveria. Mas na construção de hidrelétricas, não se pensa no meio ambiente a longo prazo. Enquanto houver minérios na Amazônia, vamos aproveitar. Uma usina hidrelétrica dura até 100 anos. Nos EUA, quando as hidrelétricas já não funcionam mais, estão tentando recuperar a vida do rio, porque a vida do rio morre com a usina hidrelétrica. A água que corria agora fica parada, aumenta sua acidez, diminui o oxigênio, no lago começam a formar macrófitas (algas). São evidências de que a coisa não está indo no bom caminho se a gente pensa a longo prazo. A sociedade não está informada, não participa do processo decisório. Quem participa são essas pessoas que eu mencionei, com suas teias de interesse já definidas. O deputado que hoje está na frente de uma empresa de geração de energia elétrica pública, ele garante com esse tipo de articulação, caixas de campanha para a próxima eleição. Eles embolsam o dinheiro indiretamente, o que torna impossível de registrar, documentar e ser uma peça importante num processo judicial de apuração de responsabilidades.

O Delfim Netto escreveu coluna na revista CartaCapital argumentando em defesa da construção da usina de Belo Monte. Segundo ele, os não índios na região se beneficiariam com a criação de emprego e a movimentação da economia. Termina a coluna citando uma frase que um jornalista publicou no Estadão : “As questões ambientais ou indígenas são vistas pelos locais como argumentos de quem tem sobrevivência garantida. Não é o caso de boa parte dos 60 mil habitantes de Altamira”.

Bermann: A afirmação do Dep. Delfim Neto apenas confunde. A sobrevivência das populações tradicionais está e sempre esteve em permanente ameaça. A população urbana de Altamira tem vários problemas que não são enfrentados pelo município ou pelo estado. A ausência de políticas públicas acaba conduzindo a população carente a acreditar que a usina seria a redenção para a região. Como já havia sido, décadas atrás, a construção da Transamazônica.

(1) A Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, começou a ser construída em 1973 no rio Uatamã e passou a funcionar em 1988.
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FONTE : entrevista realizada por Manuela Azenha e publicada no sítio Viomundo – O que você não vê na mídia. Colaboração de Ruben Siqueira e João Suassuna para o EcoDebate, 30/07/2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

CONTRA A EXTRAÇÃO ILEGAL DE AREIA

Enquanto radialista, produtor e apresentador do primeiro programa radiofônico de educação ecológica da radiofonia brasileira - "ANTES QUE A NATUREZA MORRA" - levado ao ar durante 26 anos pela Rádio Universidade (Santa Maria), fiz campanha contra a extração ilegal de areia das margens do chamado "Rio Verde". De fato, durante as décadas de 60/70/80 batalhei duramente contra a destruição da vegetação ribeirinha, das matas de galeria, o assoreamento do rio, etc...por mais de meia centena de areeiras ali instaladas. As mesmas feriam abertamente o disposto no Código Florestal em vigor no Brasil e praticamente nada se fazia contra as mesmas. Posteriormente, eleito vereador (legislatura 1988-1992) com um programa totalmente ecológico, sob o título de "O Guerreiro da Natureza", fiz do meu mandato uma trincheira de dura luta contra os agressores ambientais de qualquer tipo. Naquela legislatura, por força de dispositivo nacional, a Câmara de Vereadores discutiu, redigiu e aprovou a nova Lei Orgânica do Município de Santa Maria, que nada mais é do que a constituição municipal. Consegui, com o apoio dos demais vereadores, a inclusão de um capítulo inteiro somente sobre meio ambiente na carta magna municipal, o que foi uma novidade para os municípios gaúchos. Tanto é verdade que diversas palestras fiz em outras cidades gaúchas e mesmo fora do RS (Olinda, Florianópolis, Recife,etc...) sobre o teor deste capítulo ecológico. À época em que "estive" vereador, as denúncias que fiz contra a situação ilegal das areeiras obteve um notável aliado, que foi o promotor público daquele período (1984-1992). Por ação das denúncias da tribuna da câmara municipal e por apoio total da Promotoria Pública, veio a Santa Maria uma comissão técnica e jurídica do então IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal). Fizeram as inspeções, visitas e, finalmente, determinaram o fechamento das areeiras, até que as mesmas passassem a cumprir os dispositivos legais constantes no Código Florestal. Estipularam, inclusive, datas/prazos e pesadas multas para quem descumprisse o acertado. Evidente que comecei a sofrer represálias, que variaram desde vaias estrepitosas nas sessões da Câmara de Vereadores até ameaças na calada da noite, feitas por telefonemas anônimos contra minha minha pessoa e familiares. Denunciei as ameças ao Poder Judiciário e à Policia Civil, tornando público as mesmas pela tribuna e pela mídia local. Em certas sessões da Câmara, as galerias eram ocupadas por duas facções. Metade do público era constituído pelos estudantes universitários, estudantes do ensino médio, entidades ecologistas e simpatizantes da defesa do "Verde". A outra metade, era constituída pelos proprietários das areeiras, e seus empregados e familiares, cujo porta-voz e defensor entre os vereadores era o médico-veterinário José Manoel da Silveira, infelizmente falecido num desastre de automóvel em Goiás. Ele era meu amigo particular, a quem eu chamava carinhosamente de "Zé Manoel" e nossas discussões, por vezes violentíssimas, ficavam restritas ao plenário. Antes mesmo de descermos ao plenário, ele passava no meu gabinete, no primeiro andar, e me dizia : "Te prepara gordinho...que vou te meter o pau hoje porque o plenário tá cheio de areeiros". Eu apenas sorria e dizia : "Obrigado, Excelência". Depois das reuniões, a gente costumava ir ao melhor restaurante que essa cidade já teve em propostas gastronômicas e de ambiente, o saudoso "Fritz Krug", situado na rua Tuiuti, atrás do Itaimbé Palace Hotel. Estávamos lá, eu e o Zé Manoel, saboreando salsichas bock, com mostarda picante e chope, quando passavam pela nossa mesa pessoas que tinham assistido a sessão. Certa vez, tivemos de ouvir isso : "Esses vereadores são sem-vergonhas mesmo, quase se agarram a pau na sessão, entusiasmam meio mundo e depois vem tomar chope juntos ! " A mediocridade de certas pessoas da cidade não conseguia entender que "adversário" de idéias não é sinônimo de "inimigo" pessoal...Como as areeiras tiveram suas atividades suspensas durante quase 90 dias, é evidente que isso feriu interesses financeiros, particulares, pessoais, políticos. E a areia tinha de ser importada de outras cidades. O próprio prefeito da época, engenheiro Evandro Behr (que foi um ótimo prefeito, a meu juízo), dava entrevistas e me espinafrava : " O povo tá pagando caro pela areia e o único culpado é o vereador Pizarro, defensor de plantinhas e bichinhos". Máquinas extratoras de areia, tratores de elevada potência e de último tipo, começaram a tirar areia a apenas alguns metros das pilastras da recentemente construída ponte do Rio Verde. Denunciei o fato, levei a reportagem no jornal "in loco". Na edição do dia seguinte, A RAZÃO estampou como manchete :"Vereador denuncia : ponte do Verde vai ruir no futuro". Meus Deus do céu ! Meus adversários foram para as rádios e pediram minha cassação. Outros sugeriram minha internação no Hospital Psiquiátrico. Fui acusado de adepto do catastrofismo, de histérico. Pouco mais de dez anos depois, o vão central da ponte - conforme eu vaticinara - ruiu, causando enormes prejuízos à região toda por quase um ano, tempo que durou a reconstrução do vão da ponte.Em 1992, ano em que tentei a reeleição, sem dinheiro algum para bancar os gastos duma campanha dura, enfrentei uma feroz campanha de difamação, calúnia e perseguição patrocinada por pessoas que se sentiram lesadas pela minha ação contra a situação ilegal das areeiras naquela época. Algumas dessas pessoas já faleceram, razão pela qual - seguindo meu código pessoal - não lhes cito o nome. Perdi a reeleição por apenas 16 votos, ficando na primeira suplência. Tal fato me desgostou profundamente e, compelido pela esposa e filhos, abandonei definitivamente as atividades político-partidárias. Mas valeu a luta. Pois houve uma conscientização maior da cidade para os temas ecológicos. Eu fiz a minha parte. Está tudo documentado. Paguei um preço caro em incômodos e desgastes pessoais. Mas valeu a pena. Tenho coisas para contar a meus cinco netos.Agora, me assaltam algumas dúvidas... Existem planos de preservação atualmente ? A fiscalização existe com maior intensidade,passados 20 anos ? As margens do Verde foram reflorestadas ? O assoreamento do rio diminuiu ? Quantas pessoas pensam nisso hoje em Santa Maria, entre populares, políticos e autoridades em geral ? Existem ativistas da causa ecológica ainda em Santa Maria ? Onde estão aqueles que dão a cara pra bater ?
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AUTOR : James Pizarro

PRIMEIRO ENCONTRO ESTADUAL DE ECOLOGIA NO RIO GRANDE DO SUL

Nos dias 8 e 9 de maio de 1984, realizou-se em Santa Maria, o pioneiro "EEEE", isto é, "Primeiro Encontro Estadual de Entidades Ecologistas", numa promoção conjunta da Associação Ecológica "Irmão Sol, Irmã Lua" (de Santa Maria) e AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (de Porto Alegre). A entidade santa-mariense era presidida por mim e a entidade porto-alegrense era presidida pelo professor Flávio Lewgoy, geneticista da UFRGS.A bem da verdade, a parte operacional que possibilitou a realização do encontro, tais como passagens, ônibus, estada, refeições, cartazes, verbas, etc...foi totalmente implementada por mim e pelo jornalista/ecologista João Batista Santafé Aguiar, secretário da AGAPAN, e que viajou a Santa Maria diversas vezes, hospedando-se na minha residência. O Dr. Armando Vallandro e o Dr. Walter Bianchini, que ocupavam altos cargos na UFSM em 1984, foram de vital importância para o encontro, pois cederam vales para refeições no Restaurante Universitário, apartamentos no campus para dezenas de ecologistas e também um ônibus da UFSM ficou à disposição de todos. Muitos ecologistas, principalmente os mais idosos, foram acolhidos em muitas casas de santa-marienses, que abriram suas portas e seus corações, sensibilizados pela luta ecologista.O deputado estadual Carlos Renan Kurtz, na época presidente da Assembléia Legislativa do RS, colaborou com um mil cruzeiros novos (moeda da época), verba alentada diante das precárias condições financeiras das entidades. Muitos políticos prestigiaram o pioneiro EEEE. Puxando pela memória, acho que lembro de todos : Dep. Estadual Renan Kurtz, Dep. Federal João Gilberto Lucas Coelho (PMDB), Dep. Estadual Vercidino Albarello (Presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa), vereador porto-alegrense Caio José Lustosa (PMDB), vereadora porto-alegrense Jussara Cony (PMDB), Dep. Estadual Cézar Schirmer (líder do PMDB), vereador santa-mariense Marcos Rolim (PMDB), vereador santa-mariense João Nascimento (PMDB), secretário municipal Nelson Borin (representando o prefeito José Haydar Farret). O deputado estadual Jo´se Ivo Sartori, da Comissão de Direitos Humanos, justificou sua ausência por telex.No início do congresso, aproveitando a presença dos políticos, foi realizado um demorado e, às vezes, ácido "pinga-fogo" com os políticos presentes , já que os mesmos, mercê de suas ocupações, não poderiam permanecer no encontro durante todo o tempo. Mas muitos compromissos foram assumidos pelos políticos, como por exemplo, a realização da "Semana Nacional do Meio Ambiente", de 1 a 7 de junho, em Santa Maria (o que se concretizou, como veremos em outro artigo dessa série). Consultando a lista de assinaturas e as atas do primeiro EEEE, todas em meu poder e guardadas nos meus arquivos, computei 110 ecologistas. Estiveram presentes representantes das seguintes entidades : AGAPAN (Porto Alegre), "Irmão Sol, Irmã Lua" (Santa Maria), APAN (Santa Rosa), APPAN (Pelotas), APNVG (Gravataí), ADFG (Porto Alegre), Quero-Quero (Canoas), NEE (Rio Grande), Deite na Grama (Porto Alegre), Em Nome do Amor à Natureza (Porto Alegre), Seriema (Alegrete) , ASPE (Santa Maria), ASCAPAN (Canoas) e os núcleos da AGAPAN das cidades de Lageado, Três de Maio e Cruz Alta. Também participaram e assistiram o encontro, na condição de ouvintes, sem direito a voto, professores da UFSM, alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e Veterinária, jornalistas, radialistas, professores estaduais e de escolas particulares, donas de casa.Nos intervalos das discussões e apresentação/votação de moções, o duo musical "Quintal de Clofila", brindava a assistência com a execução de músicas com temas ecológicos. O duo era constituído por dois exímios artistas irmãos, Nejandre Arbo e Dimitri Arbo, filhos do poeta e jornalista Antônio Carlos Arbo, funcionário da UFSM e autor de uma obra poética intitulada "Tempoema".Cerca de 30 moções foram discutidas e aprovadas no pioneiro EEEE. A Irmão Sol, Irmã Lua, de Santa Maria, teve cinco moçoes aprovadas por unanimidade : moção sobre árvores imunes ao corte, moção sobre livros escolares de leitura em cumprimento da lei 4771, moção sobre depósitos fossilíferos em cumprimento ao decreto-lei 4146, de 1942, moção sobre a obrigatoriedade da inserção semanal de textos florestais nas estações de rádio e moção sobre as comemorações do "Dia da Ave", em 5 de outubro. Outras moções discutidas e aprovadas foram : severa fiscalização sobre os banhados do RS por parte do IBDF, solicitação à UNESCO que torne o Banhado do Taim "patrimônio comum da Humanidade", louvor à equipe do Globo Repórter sobre as matérias versando sobre desfolhantes químicos em Tucuruí, moção de repúdio à ELETRONORTE pela utilização do pentaclorofenol em Tucuruí, repúdio à matança de milhares de pintos em Lageado, exigência do cumprimento da portaria 1079, da Secretaria de Saúde e Meio Ambiente, que proibe qualquer dragagem do Banhado Grande, solicitando a construção de obras que regularizem a vazão do rio em Passo dos Negros, criação de um encarte ecológico de âmbito estadual, proibição imediata da caça às baleias, correspondência aos ministros e senadores dando apoio à aprovação da Lei 7747/82 (lei dos agrotóxicos), preservação dos locais de procriação das baleias, moção no sentido de que as plantas dos engenheiros civis devam vir acompanhadas de um estudo técnico de um engenheiro florestal no caso de terrenos arborizados, etc...Também foram aprovadas por unanimidade moções de louvor e agradecimento ao jornal A RAZÃO, Pró-reitoria de Extensão, Pró-reitoria de Assuntos Estudantis, Departamento de Divulgação da UFSM, Rádio Universidade, dep. estadual Carlos Renan Kurtz, empresário Werney Doeler, Direção do Instituto Master (pela cessão do local) e ecologistas João Batista Santafé Aguiar e James Pizarro, pelos relevantes serviços prestados à causa ecologista e à realização do EEEE.Quase 30 encontros ecologistas estaduais gaúchos já foram realizados, às vezes dois no mesmo ano. Mas nenhum deles (estive presente em quase todos) contou com tamanha representatividade de entidades/políticos/professores/militantes, como o primeiro encontro realizado nesta Santa Maria. Em nossa cidade, pois, nasceu a idéia pioneira da necessidade dos ecologistas/militantes/voluntários da causa se reunirem e discutirem pautas e estratégias do movimento. Já ouvi discursos de jovens militantes em encontros posteriores a esse argumentarem o pioneirismo, a maior importância, o maior número de participantes e outras coisas menores. Eu apenas sorri, porque em 1984 alguns deles nem haviam ainda nascido...
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AUTOR : James Pizarro

PRIMEIRA SEMANA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE EM SANTA MARIA,RS

Em 1983, a Secretaria Especial do Meio Ambiente, conhecida pela sigla SEMA, era uma subsecretaria colocada dentro do Ministério do Interior . Seu ativo titular era o Dr. Paulo Nogueira Neto, que foi cedido para o governo federal pela USP-Universidade de São Paulo, onde era fundador e titular da cátedra de Ecologia.
Por determinação da SEMA, em maio de 1983 foi decretado que todas as prefeituras brasileiras deveriam comemorar, de 1 a 7 de junho, a "Semana Nacional do Meio Ambiente". Em Santa Maria, fui convidado pelo prefeito Dr. José Haydar Farret para coordenar, planejar e fazer realizar este evento. Resolvi aceitar o desafio uma vez que certa parcela da comunidade e da imprensa acusava os ecologistas de apenas criticarem e jamais executarem algo de prático.Passei cerca de 20 dias arregimentando forças. Pretendo lembrar de todas aqui. Direção, funcionários e alunos do SENAC deram notável apoio, confeccionando belíssimo cartaz com a programação, horários, local e nome dos palestrantes. Ainda fizeram as vezes de recepcionistas no Centro de Atividades Múltiplas, local do evento, 12 moças elegantemente trajadas, alunas do Curso de Recepcionistas do SENAC. Os escoteiros da Tropa Henrique Dias distribuiram 10 mil folhetos convidando a população (folhetos pagos pela Prefeitura Municipal e distribuídos nas ruas, avenidas e nas escolas, de sala em sala de aula).
Meus alunos da disciplina de Ecologia dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e Engenharia Florestal ministraram dezenas de palestras nas escolas municipais e, junto com os escoteiros da Tropa Henrique Dias, plantaram dezenas de mudas de árvores ao longo do Parque Itaimbé, muitas delas transformadas hoje (25 anos depois) em frondosas árvores. Meus alunos dos cursinhos Master e Riachuelo também colaboraram na distribuição dos folhetos sobre o evento.
Todas as palestras foram gravadas pelos técnico Anacleto Brondani, da Rádio Universidade, com a colaboração indispensável do motorista Petry e do locutor Roberto Montagner, então diretor da emissora da UFSM, também responsáveis pela sonorização do Centro de Atividades Múltiplas durante sete noites consecutivas. O Departamento de Divulgação da UFSM também muito colaborou (distribuindo "releases") nas pessoas de Gaspar Miotto, Jane, Mariluza, Áurea, Ivone e Nicola Chiarelli Garófallo. Os colunistas de A RAZÃO, Humberto Gabbi Zanatta e Vicente Paulo Bisogno, assinaram matéria divulgando o fato. Também muito colaboraram : Pedro Freire Junior (Rádio Imembui), padre Potrilho e Hugo Fontana (Rádio Medianeira), José Luiz (Rádio Santamariense), Paulo Ceccin (FM Cultura), Jorge André (FM Atlântida), Ademar Ribeiro, Carlos Eduardo Pavani, Verinha Pinheiro e Sérgio Assis Brasil (todos pela TV Imembuí), professoras Romy Scalcon e Ceura Fernandes (pela Delegacia de Educação) e as direções de todas as escolas da cidade. As palestras também receberam cobertura das sucursais dos jornais de Porto Alegre.
Durante as sete noites de palestras, cerca de 1500 pessoas lotaram completamente as dependências do Centro de Atividades Múltiplas, o popular "Bom-Bril". Houve necessidade de que a Rádio Universidade instalasse caixas de som do lado externo do prédio para que cerca de 500 pessoas pudessem ouvir as palestrantes. O impressionante era o silêncio e a disciplina de todos.
O programa desenvolvido, temas e palestrantes foi o seguinte :
1/junho - James Pizarro - palestra inaugural "A Má Qualidade de Vida no Planeta"
2/junho - "Desertos e Áreas de Desertificação no Rio Grande do Sul" - Prof. José Salles Mariano da Rocha
3/junho - Gustavo Quesada - "Comunidades Agro-energéticas"
4/junho - Horst Oscar Lippold - "Aspectos da Fauna Silvestre do Rio Grande do Sul"
5/junho - Dr. Arnaldo Walty - "Câncer e Meio Ambiente"
6/junho - Amaury Silva - "A Verdade sobre as Drogas"
7/junho - Mesa Redonda com os professores João Radünz Neto, Brandão, Ilka Bossemeyer e Paulo Ary Moreira versando sobre "Piscicultura e Aspectos Ecológicos da Água"
Foi feito, como ato final, um plantio de árvores no centro da cidade, com a presença do prefeito municipal, José Haydar Farret e grande número de autoridades, escolares, universitários e populares.
As cerca de 2000 pessoas que assistiram as palestras e assinaram livro de presença ganharam, sem nada pagar, certificado de participação fornecido pela direção do SENAC.Registre-se também que a entrada durante toda a semana foi inteiramente grátis. Registro para a memória da cidade esta iniciativa, de intensa repercussão cultural, técnica, científica e popular. Lamento que, passados 25 anos, a comemoração da "Semana Nacional do Meio Ambiente" ficou apenas nesta primeira edição.
Por razões que desconheço e lamento, a semana nunca mais se realizou.
Coisas de Santa Maria...
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AUTOR : James Pizarro

O FIM DOS ESTILINGUES

O mais antigo inimigo de incautos pássaros em nossa cidade, como de resto em todo território gaúcho, era o estilingue ou funda, o popular " bodoque ". No final dos anos 80, início dos anos 90, uma indústria de brinquedos de SP lançou na praça uma forma moderna de estilingue, com uma peça de metal em forma de letra Y e com duas tiras de borracha de uso cirúrgico, substituindo as velhas tiras feitas de câmara de pneus de automóvel. Ainda havia um melhoramento técnico : uma empunhadura que se encaixava no antebraço do atirador. Este tipo de artefato passou a ser vendido em Santa Maria, tendo eu recebido denúncia contra os Supermercados Trevisan (denúncia feita pela Associação Protetora dos Animais, através da ativa militante, professora Vera Resende). A rede Trevisan de supermercados era a mais importante da cidade e seu Presidente, meu amigo João Trevisan, era inclusive o presidente da Associação de Supermercados do RS. Fui falar com ele pessoalmente e fiz ver que, um daqueles bodoques modernos era capaz de atirar uma bola de gude (nossa tradicional "bulita") a 80 km/hora, cerca de 25 metros por segundo, com um alcance efetivo de 30 metros. Disse que, a essa velocidade, abriria um buraco na cabeça de uma criança. Falei sobre o instinto de violência desenvolvido nas crianças, a mortandade de pássaros em nossa região, etc...Imediatamente, na minha frente, João Trevisan chamou o gerente-geral da principal loja dos supermercados que dirigia (onde hoje está localizado o Supermercado Real) e ordenou que fosse retirada das prateleiras e gôndolas todos os bodoques e que fossem devolvidos à fábrica paulista e cancelados os novos pedidos. Depois disso, fiz uma série infindável de palestras nas escolas de ensino fundamental de nossa cidade, falando sobre a necessidade da gente ter mais pássaros, mais ninhos, mais vida. Foi um golpe de morte no uso de bodoques em nossa cidade, do qual me orgulho ter participado.
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AUTOR : James Pizarro

ECO-TURISMO NO URUGUAI

A convite da Prefeitura (Intendência) e da Câmara de Vereadores da cidade uruguaia de Punta del Este, em companhia de Dom Arturo Vetuschi, cônsul do Uruguai em Santa Maria, estive fazendo a palestra inaugural do "Primeiro Encontro de Eco-turismo e Meio Ambiente de Punta del Este". No dia seguinte, 10 de outubro de 1985, às 15:00 horas, no Ginásio Municipal de Punta del Este completamente lotado por 4000 crianças da faixa etária entre 9 e 12 anos, fiz palestra sobre a fauna e flora do Cone Sul. No final da palestra, cantei diversas músicas ecológicas em espanhol, com um coral de 4000 vozes, o que me emocionou intensamente. O fato foi presenciado pelos vereadores de Santa Maria e pelos estudantes do Curso de Turismo da faculdade das Irmãs Franciscanas, sendo transmitido ao vivo pela TV e pelas rádios da cidade uruguaia. Este fato motivou convite para fazer palestras em outras cidades uruguaias. Tenho em meus arquivos os recortes de um jornal uruguaio, com a manchete : "Maestro Pizarro, un fenomeno de comunicacion". O cônsul Dom Arturo Vetuschi, ainda residente em Santa Maria, possui a íntegra da gravação e da filmagem do fato.
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AUTOR : James Pizarro

Para glaciólogo, degelo em montanhas é principal causa do aumento do nível dos oceanos

Ao contrário do que muitos imaginam não é o derretimento de gelo da Antártica e da Groenlândia o principal responsável pelo aumento do nível das águas dos oceanos. É o degelo dos topos das montanhas que deve receber atenção, segundo o coordenador-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, Jefferson Cardia Simões.

O glaciólogo – especialista em gelo e neve – explicou que o descongelamento nas regiões polares está ocorrendo em um ritmo menor por causa do aquecimento global. No topo das montanhas, o cenário é inverso, e o gelo está sumindo rapidamente. De acordo com Simões, é esse gelo derretido que alcançará, em determinado momento, rios e desembocará nos mares – significando o aumento do volume de água.


“No manto de gelo da Antártida, o derretimento é muito pouco [menos de 1% do Continente Antártico] e está ocorrendo nas periferias das regiões polares. É nas montanhas onde ocorre a maior parte [do derretimento], tanto nas zonas temperadas quanto tropicais. E essa água cedo ou tarde vai para o mar, que contribui para o aumento do nível [do mar]”, disse Simões, em palestra ontem (27) na 62ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Algumas pesquisas preveem um quadro catastrófico: o derretimento total da massa gelada do planeta – equivalente a mais de 28 milhões de quilômetros quadrados – levaria a um aumento de 70 metros do nível do mar. Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), previsões como essas são exageradas e quase impossíveis de se concretizar em curto prazo.

“Gradativamente, vamos ver eventos abruptos de clima, como enxurradas, enchentes e geadas em lugares que nunca haviam ocorrido antes, e também o aumento do nível do mar. Mas é gradativo, não é para amanhã”, afirmou o pesquisador.
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FONTE : Carolina Pimentel, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 29/07/2010

Gerador desenvolvido no Brasil produz energia elétrica e torna a água do mar potável

Apesar de já terem acesso a alguns tipos de combustíveis limpos, como o gás natural e o etanol, diversas localidades no nordeste ainda padecem da falta de energia elétrica e de água potável. Uma tecnologia desenvolvida pela Vale Soluções e Energia (VSE) promete solucionar esses dois problemas sociais por meio de um gerador que produz energia elétrica suficiente para abastecer mais de mil casas e transforma qualquer tipo de água, como a do mar e de açudes, em água potável.

Denominada “central de poligeração de energia”, a tecnologia integra o principal projeto da empresa, chamado “Combcycle”, que visa criar centrais de produção de energia movidas a turbinas de gás à vapor com diversas aplicações. “Estamos fazendo, pela primeira vez no mundo, o casamento entre uma técnica de geração de energia com uma planta de processo químico que pode gerar água doce a partir da água salgada em uma única unidade”, disse o presidente da VSE, James Pessoa, na conferência que proferiu na manhã de ontem (28/07), durante a 62ª Reunião Anual da SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência realiza até 30 de julho no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal (RN).


Prevista para começar a ser comercializada no final de 2011 e para ser entregue em 2012, a central pode gerar até 50 Kw de energia elétrica de forma distribuída – ou seja, no próprio local, sem a necessidade de linhas de distribuição – e 40 mil litros de água potável. Para isso, basta ser abastecida por qualquer forma de combustível que gere calor, como gás natural, etanol e biodiesel, e qualquer tipo de água, a exemplo da salobra e a de rios e manguezais.

A máquina tem seis metros de cumprimento e possui um sistema de telemetria que possibilita que ela possa ser operada ao ar livre e remotamente por satélite, o que possibilita ver as condições de abastecimento, monitorar, fazer a manutenção e operar diversas unidades a partir de uma única unidade de operação. “Elas podem ser transportadas e instaladas de uma forma muito fácil e têm muito potencial de utilização no nordeste brasileiro e na África”, conta Pessoa.

Aplicações – Outras aplicações da tecnologia é no tratamento de esgoto e efluentes industriais e na dessalinização da água do mar que, juntamente com os aquíferos salgados, concentra 97% do total da água disponível no planeta. Com a mini central de geração de energia, segundo Pessoa, é possível dessanilizar 50 mil litros de água potável por hora. “Ela representa um mecanismo efetivo para transformar a água do mar em água potável”, assegura.

Já no campo industrial, a tecnologia pode ser utilizada por companhias petrolíferas para aumentar a taxa de recuperação de petróleo em jazidas que apresentam produção decrescente. Segundo os especialistas na área, do total de óleo e gás encontrados nos poços de petróleo, as indústrias petrolíferas não conseguem extrair mais de 40% do volume por falta de tecnologias. E quanto mais pesado for o petróleo, como o encontrado no nordeste, principalmente em campos terrestres, mais difícil é sua recuperação.

Ao injetar continuamente vapor a 600º em um campo de exploração de petróleo, segundo Pessoa, a tecnologia permite que a temperatura média do campo aumente gradativamente e diminua a viscosidade do petróleo, possibilitando que ele seja extraído mais facilmente. “Essa tecnologia tem um enorme potencial de utilização pela Petrobras, que já está testando-a em uma mina de xisto – outra possível aplicação”, afirma.
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FONTE : Informe da 62ª Reunião Anual da SBPC, publicado pelo EcoDebate, 29/07/2010

quarta-feira, 28 de julho de 2010

ZOOBOTANICA ENTRE AS MELHORES INSTITUIÇÕES CIENTIFICAS DO MUNDO

A notícia que reproduzo abaixo enche meu coração de alegria pois dirigi a Fundação Zootânica do Rio Grande do Sul nos anos 1992/93, a convite do então governador Alceu Collares e na condição de professor cedido pela UFSM para desempenhar o cargo.
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A Fundação Zoobotânica do RS integra o ranking mundial entre os melhores institutos de pequisa do planeta. Este resultado foi publicado na edição de julho passado, na revista do Laboratório de Cibernética do Conselho Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), que coloca a FZB entre os dois mil melhores institutos de pesquisa do planeta. O Ministério da Ciência e Tecnologia comemora a boa classificação dos brasileiros. A FZB também.
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FONTE : Jornal do Comércio, 28.07.2010, Coluna Edgar Lisboa/Editoria de Política. (Coordenadoria de Comunicação Social/Fundação Zoobotânica do RS).

RJ: Secretaria do Ambiente esclarece dúvidas sobre Lei das sacolas plásticas

A lei estadual das sacolas plásticas (Lei 5.502/2009) tem gerado muitas dúvidas que devem ser esclarecidas. A lei determinou que a partir de 16/07, supermercados e estabelecimentos comerciais de médio e grande porte em todo o Estado adotem pelo menos uma entre três medidas para redução do uso de sacolas plásticas:

· Oferecer um desconto de R$ 0,03 (3 centavos) a cada 5 produtos que o consumidor comprar e não utilizar sacola plástica. Vejam que neste caso o estabelecimento continua oferecendo gratuitamente as sacolas, apenas aplicam o desconto para quem não quiser levar.

· Oferecer gratuitamente sacolas reutilizáveis em lugar das sacolas plásticas não reutilizáveis.

· Instalar um posto de troca de sacolas plásticas por produtos da cesta básica. A cada 50 sacolas (limpas e de qualquer estabelecimento) apresentadas, o consumidor recebe 1 kg de feijão ou arroz.


Até o momento, praticamente todos os estabelecimentos optaram por oferecer o desconto. Entretanto, muitas dúvidas têm sido levantadas pelos leitores que vamos esclarecer:

1) Leitores se queixam que com a proibição das sacolas plásticas, não haverá como guardar o lixo. A lei não proíbe as sacolas, e sim desestimula o seu uso excessivo, através do consumo consciente.

2) Leitores reclamam que terão que pagar pelas sacolas. Isto não acontecerá. Ao contrário, para cada 5 produtos que não se peça uma sacola, haverá desconto. Quem pedir algumas sacolas para as primeiras compras, poderá pedir o desconto para os itens seguintes para os quais acondicione em bolsas trazidas de casa (inclusive plásticas), ou caixas de papelão.

3) Pessoas se queixam que o desconto é pequeno. 3 centavos é o valor de uma sacola. Em 2009 a campanha Saco é um Saco, do MMA, retirou 600 milhões de sacos plásticos do meio ambiente, e redes que deram este desconto contabilizaram 30% de redução.

4) Leitores dizem que o problema não é das sacolas, mas do uso errado. Isto é verdade, mas no estado do Rio os supermercados distribuem 200 milhões de sacolas por mês, 2,4 bilhões por ano. O meio ambiente não suporta! Nossa meta para o Rio é em um ano retirar 700 milhões de sacolas.

5) Consumidores reclamam de mudanças impostas. Quem quiser continuar exatamente igual a antes, pode. Só que estará contribuindo indiretamente para entupimento de bueiros, canais, rios, inundações, asfixia de peixes e aves.

6) A lei apenas estimula mudanças de comportamento. Vamos retirar todos os impostos do material reciclado para alavancar a cadeia da reciclagem. O IPI já foi retirado e faremos o mesmo com o ICMS.
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FONTE : Marilene Ramos, Secretária de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro
(EcoDebate, 28/07/2010).

Quem assa o planeta? - Paul Krugman

Nunca diga que os deuses não têm senso de humor. Aposto que eles ainda estão rindo no Olimpo sobre a decisão de tornar o primeiro semestre de 2010 – o ano em que morreu a esperança de uma ação para combater a mudança climática – o período mais quente de que se tem registro.

É claro que não se pode inferir tendências nas temperaturas globais a partir da experiência de um ano. Mas ignorar este fato tem sido há muito um dos truques favoritos dos que negam a mudança no clima: eles apontam um ano incomumente quente no passado e dizem: “Vejam, o planeta tem esfriado, não esquentado, desde 1998!”. Na realidade, 2005, não 1998, foi o ano mais quente até hoje.


Mas acha que algum dos que negam o aquecimento dirão “OK, eu estava errado” e passarão a apoiar uma ação em benefício do clima? Não. E o planeta continuará a cozinhar. Então, por que a legislação sobre mudança climática não passou no Senado? Vamos falar primeiro sobre o que não causou isso, pois tem havido muitas tentativas de jogar a culpa nas pessoas erradas.

Em primeiro lugar, não deixamos de agir devido a dúvidas científicas legítimas.

Todas as evidências válidas – médias de longo prazo de temperaturas, volume de gelo no Ártico, derretimento de geleiras, proporção entre altas e baixas recordes – apontam para um contínuo aumento das temperaturas globais.

Essas evidências tampouco foram maculadas por mau comportamento científico. Você provavelmente soube das acusações contra pesquisadores climáticos – alegações sobre dados fabricados, e-mails comprometedores do “Climagate” e assim por diante. O que você não deve saber, porque recebeu publicidade muito menor, é que todos esses supostos escândalos foram desmascarados como uma fraude tramada por oponentes da ação sobre o clima.

Preocupações razoáveis sobre o impacto econômico da legislação sobre o clima bloquearam a ação? Não. Tem sido engraçado observar conservadores, que enaltecem a flexibilidade e o poder ilimitado dos mercados, e insistir que a economia entraria em colapso se impusermos um preço ao carbono. Todas as estimativas sérias sugerem que poderíamos adotar pouco a pouco limites para emissão de gases-estufa com, no máximo, um pequeno impacto na taxa de crescimento da economia.

Então, se não foi a ciência, os cientistas ou os economistas que abortaram a ação sobre a mudança climática, quem ou o quê foi? Os suspeitos usuais: mesquinharia e covardia.

Se quiser entender a oposição à ação climática, siga o dinheiro. A economia como um todo não seria significativamente atingida se puséssemos um preço no carbono, mas certas indústrias – sobretudo a do carvão e do petróleo – seriam. Essas indústrias montaram uma enorme campanha de desinformação para proteger seus negócios.

Olhe os cientistas que questionam o consenso sobre mudança climática; olhe as organizações que proclamam escândalos falsos; olhe os núcleos de estudo para os quais qualquer esforço para limitar as emissões aleijariam a economia. Verá que estão na ponta do recebimento de um duto de dinheiro que começa nas grandes companhias energéticas, como a Exxon Mobil, que gastaram milhões de dólares para promover a negação da mudança climática, ou Koch Industries, que patrocina há duas décadas organizações contrárias ao meio ambiente. Ou olhe os políticos mais vociferantes contra a ação climática. Onde eles obtêm a maior parte do dinheiro gasto em campanhas? Você já sabe a resposta.

Por si só, a mesquinharia não teria triunfado. Precisou da ajuda da covardia – acima de tudo de políticos que sabem quão grande é a ameaça do aquecimento global, que apoiaram a ação no passado, mas desertaram no momento crucial. Cito um, em particular: o senador John McCain.

Houve um tempo em que McCain era considerado amigo do meio ambiente.

Em 2003, ele poliu sua imagem de dissidente ao copatrocinar um projeto que criaria um sistema de limites para as emissões poluentes. Ele reafirmou o apoio a esse sistema em sua campanha presidencial e as coisas poderiam estar diferentes hoje se ele continuasse a fazê-lo.

Mas não o fez – e é difícil não ver na mudança o ato de um homem disposto a sacrificar princípios, e o futuro da humanidade, para ganhar alguns anos a mais em sua carreira política.
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FONTE : Paul Krugman, economista. Artigo [Who Cooked the Planet?] do New York Times, publicado no jornal O Globo. (EcoDebate, 28/07/2010).

terça-feira, 27 de julho de 2010

ADULTOS, CRIEM JUÍZO...A ÁGUA VAI FALTAR !!!

Altos índices de poluição levam Israel a estudar proibição de batismos no rio Jordão

Israel estuda proibir batismos no rio Jordão devido à poluição – Por causa dos altos índices de poluição no caudaloso rio Jordão, quatro vezes acima do permitido, os batismos no local podem ser proibidos até a redução desses níveis.

O Ministério da Saúde israelense ordenou análises para determinar os níveis de bactérias presentes no Jordão e, enquanto se esperam pelos resultados, dará instruções para que se advirta os banhistas de que as águas estão contaminadas e que se proíba banhos no local, conforme a imprensa israelense.

Nesse rio fica o local conhecido como Qaser al-Yahud, perto da cidade cisjordaniana de Jericó, onde, como ensina a tradição cristã, São João batizou Jesus. Milhares de fiéis vão a cada ano a esse ponto do rio para mergulhar em suas águas e reviver esse ato de fé.

A fim de potencializar o turismo religioso, o Ministério do Turismo investiu nos últimos meses US$ 2 milhões para dar melhores condições à margem ocidental da bíblica nesse ponto. Reportagem de Ana Cárdenas, da Agência EFE.


ESTUDO

Mas o projeto poderá parar se o Ministério da Saúde determinar que, como mostra estudo da ONG Amigos da Terra, uma das mais importantes de ambientalistas da região, entrar no rio representa um perigo à saúde. Deste modo, deve ordenar ao Ministério do Turismo que proíba os batismos na zona dos fiéis cristãos.

“Pedimos ao Ministério da Saúde simplesmente que aplique a lei” declarou recentemente Gidon Bromberg, diretor em Israel da ONG, que acrescentou de forma taxativa que “banhos nessa área do Jordão são insalubres”.

Os estrangeiros que chegam à região seguindo rotas religiosas são uma das fontes turísticas mais importantes para Israel, que tenta desenvolver esse potencial.

Conforme cálculos do Ministério do Turismo, 100.000 pessoas visitam por ano Qaser Al-Yahud. Esse órgão está tentando encontrar uma solução com o Ministério da Saúde para permitir que as pessoas sigam fazendo as cerimônias batismais sem correr riscos.

Mas a solução não é singela, porque o Jordão está altamente contaminado e limpar suas águas não é tarefa fácil.

POLUIÇÃO ATIVA

“Enquanto Israel, Jordânia e a Autoridade Nacional Palestina não pararem de despejar poluição no rio e não proporcionarem fluxos de água limpa, banhar-se ali será perigoso”, sentencia Bromberg.

Pelos dados divulgados pela pesquisa dos Amigos da Terra, a água do Jordão registra na zona de Qaser al-Yehud um nível de bactérias fecal-coliformes de 750, quando o limite permitido tanto em Israel quanto na União Europeia para locais de banho é de 200.

“Não nos opomos à abertura ao local para o turismo, nem que se façam batismos, mas não pode ser feito com a água nessas condições”, explica Bromberg.

Segundo ele, se durante a cerimônia se tragar acidentalmente algo de água, o batizado “pode sofrer no melhor dos casos vômitos, infecção estomacal e gastroenterite e, no pior, pode contrair doenças graves como a pólio”.

Também adverte que banhar-se na água poluída pode provocar infecções de pele, otites, e reações alérgicas e infecções a partir de pequenos cortes na pele.

TRADIÇÃO

O método habitual adotado pelos peregrinos cristãos para reviver o batismo de Jesus Cristo é mergulhar totalmente na água do Jordão, uma experiência que costumam fazer emocionados, acompanhados de párocos e cobertos simplesmente com uma túnica branca que leva impressa a imagem do rosto de Jesus.

A Amigos da Terra denunciou em maio que o Jordão, que nasce no mar da Galiléia e desemboca no mar Morto, serpenteando ao longo de 217 quilômetros, perdeu nos últimos anos 98% de seu caudal e poderia secar no próximo ano se os países contíguos não tomarem medidas.

Este rio, que tem um importante significado espiritual para as três principais religiões monoteístas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, também perdeu metade de sua biodiversidade.

De suas margens desapareceram lontras e corujas que não puderam suportar a salinidade e a ausência de água limpa, e muitas das árvores que ficavam na margem do curso d’água foram substituídas por juncos, mais resistentes à deterioração do ecossistema.
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FONTE : reportagem da Agência EFE, na Folha Online. (EcoDebate, 27/07/2010)

Belo Monte: um monstro financiado : entrevista com Roland Widmer

O projeto da usina Hidrelétrica de Belo Monte tem sido chamado por alguns críticos de faraônico. E isso não é só pelo seu tamanho e potencial, mas também pelos custos que vai gerar. E quem vai pagar essa conta? Quem são os financiadores e que responsabilidades eles têm sobre os impactos que o projeto vão gerar? Essas são algumas das grandes questões apontadas por ambientalistas, economistas, indigenistas e outros estudiosos e pesquisadores. Recentemente, entidades que lutam contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte e suas consequências entregaram uma notificação aos financiadores da obra apontando que eles também têm responsabilidades sobre os danos que a obra vai causar. Segundo Roland Widmer, “a notificação informa que, no estado atual, o financiador se tornará responsável solidariamente por todos os danos ambientais que vierem a ocorrer, e que ele poderá ser responsabilizado por todos os custos decorrentes dos impactos sobre a fauna, flora e pessoas da região”.

Em entrevista, por email, à IHU On-Line, Widmer, que é coordenador do Programa Eco-Finanças da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, aborda o conteúdo da notificação que, por enquanto, só foi enviada ao BNDES. Os fundos de pensão e os Fundos de Investimento do FGTS receberão na próxima semana o mesmo documento. Widmer diz que “os riscos financeiros e socioambientais e os previsíveis impactos socioeconômicos negativos de Belo Monte apontam para um mau negócio”.


IHU On-Line – Como vai funcionar essa notificação aos financiadores ligados ao projeto de Belo Monte?

Roland Widmer – A meta das notificações feitas por mais de vinte organizações da sociedade civil de Altamira é alertar os financiadores sobre os riscos financeiros, jurídicos, socioambientais e riscos na reputação associados ao financiamento e investimento no aproveitamento hidrelétrico Belo Monte. As notificações explicam porque o projeto da Hidrelétrica de Belo Monte não está apto a ser financiado.

A notificação lembra que o agente que financia projetos e/ou atividades causadoras de lesões ao meio ambiente estará exercendo uma atividade de cooperação ou mesmo de co-autoria e deve responder, então, pela degradação ambiental provocada pelo responsável direto pelo empreendimento financiado. Sobretudo porque, em matéria ambiental, a responsabilidade pelo dano é objetiva. No mais, ressalta como os financiadores violariam os compromissos que eles assumiram na esfera da autoregulação como os Princípios de Investimento Responsável das Nações Unidas (UNPRI, na sigla em inglês) e seus próprios normativos internos (estatutos, códigos de ética).

Finalmente, a notificação informa que, no estado atual, o financiador se tornará responsável solidariamente por todos os danos ambientais que vierem a ocorrer, e que ele poderá ser responsabilizado por todos os custos decorrentes dos impactos sobre a fauna, flora e pessoas da região.

IHU On-Line – Quais são os impactos socioeconômicos de Belo Monte?

Roland Widmer – Os perigos e impactos socioambientais se tornam em riscos financeiros e perdas socioeconômicas. Criam-se danos irreparáveis. Tudo isso é bem fundado e documentado, a começar pelo estudo feito a esse respeito pelo painel de especialistas da sociedade civil até um recente estudo feito pelo Conservation Strategy Fund (CSF) e pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, que revela uma probabilidade de apenas 28% do empreendimento gerar uma taxa positiva de retorno ao longo dos primeiros 50 anos de seu funcionamento. Uma análise do cenário de risco calculou uma grande probabilidade de perda para investidores, que oscilaria entre 3 e 8 bilhões de dólares.

IHU On-Line – O que significa a presença dos fundos de pensão no projeto de Belo Monte?

Roland Widmer – Quem pretende entrar são os fundos de pensão de empresas com participação do governo (Petros, Previ, Funcef). Não pode se excluir que eles tenham sofrido certa pressão para entrar. No mínimo, cabe observar que nenhum fundo de pensão de empresas privadas entrou – direta ou indiretamente – no consórcio Norte Energia que pretende construir Belo Monte.

Será que o investimento no empreendimento é no melhor interesse dos previdenciários? Na minha análise, os riscos financeiros e socioambientais e os previsíveis impactos socioeconômicos negativos de Belo Monte apontam para um mau negócio. Isso é confirmado em múltiplos estudos, a exemplo daquele que citei anteriormente.

IHU On-Line – Como você avalia a responsabilidade das ações bancárias dentro do bioma amazônico?

Roland Widmer – Bancos viabilizam e/ou inviabilizam atividades econômicos. No caso da Amazônia, o que se sabe hoje é que várias atividades econômicas dentro do bioma amazônico não “só” são insustentáveis, mas até estão irregulares/em descumprimento das leis vigentes. Porém, elas ocorrem, então tem financiamento. Não há transparência sobre a alocação de recursos, sobre o financiamento das atividades econômicas na Amazônia. Assim sendo, uma avaliação sistemática e completa não é possível, mas há exemplos que ilustram uma triste realidade.

No caso das usinas hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, amplamente conhecidos pelas violações ocorridas no seu planejamento e na construção, BNDES, Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (BASA) e o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), Banco do Nordeste (BNB), Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e BES Investimentos do Brasil financiam estas obras. Como mencionamos, a responsabilidade objetiva está engajada e no mais, estas obras estão em descumprimento com o Protocolo Verde e os Princípios do Equador, ou seja, com iniciativas de auto-regulação que esses bancos assumiram voluntariamente.

No caso da pecuária, um estudo elaborado pela ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e outras instituições aponta que quase 50% das emissões brasileiras vêm de atividades ligadas à pecuária, predominantemente na Amazônia. Como mostramos no nosso estudo “A Hora da Conta”, o maior financiador da pecuária é o BNDES. Além de todas as irregularidades ligadas ao setor que são de conhecimento público, não é estranho ver que o BNDES, ligado ao governo, usa dinheiro público para financiar atividades de grande escala que contrariam as metas de redução de gases de efeito estufa que o Brasil assumiu em Copenhague?

IHU On-Line – E como a sociedade civil deve se portar sobre as instituições financeiras?

Roland Widmer – As pessoas têm que se sentir participantes da construção da sociedade e do país, seja nas políticas públicas, seja no acompanhamento de atores privados como os bancos privados. Portanto, quando os bancos se dizem sustentáveis, cabe ao cidadão e ao cliente bancário perguntar o que os bancos fizeram para se autodeclararem sustentáveis. Quais são os planos deles, e, sobretudo, qual é a atuação real deles referente aos desafios da sustentabilidade?

No mais, quais são as leis e que tipo de fiscalização para evitar que os bancos financiem degradação ambiental e exclusão social? Se cada vez mais pessoas e instituições cobram essas informações, a situação vai mudar.
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FONTE : (Ecodebate, 27/07/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação. [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Alemanha: as lições de um país verde

O país que produz quase metade da energia solar no mundo tem mais dias nebulosos que ensolarados. Parece, no mínimo, um investimento equivocado, mas o motivo de as coisas serem desse jeito explica, em grande parte, o porquê de a Alemanha estar à frente na batalha contra a dependência dos combustíveis fósseis – intensificada com o combate ao aquecimento global e, agora, ainda mais urgente depois do vazamento de petróleo no Golfo do México. Desde muito cedo, os alemães reconheceram a importância da transição para uma economia mais limpa e, recentemente, começaram a colher os frutos de seu pioneirismo.

A Alemanha parece estar em um ritmo completamente diferente das grandes potências. Enquanto a maré negra se espalha e o Brasil só tem olhos para a exploração do pré-sal, os alemães anunciaram uma meta arrojada: em 2050, a previsão é de que toda a eletricidade produzida no país venha de fontes renováveis, como solar, eólica ou biomassa. No ano passado, as fontes alternativas responderam por 16,1% da eletricidade gerada no país. Reportagem de Priscila de Martini, no Zero Hora.


O segredo alemão não é nenhum mistério, e a própria Alemanha busca disseminar as experiências que deram certo para o resto do mundo. O primeiro fator foi uma mudança de postura, que para os europeus ocorreu já na década de 70. Ao contrário dos demais países, a Alemanha resolveu responder à crise do petróleo da época com o investimento em energias limpas. O resultado são décadas de estudos que levaram o país à liderança em tecnologia no setor. Grande parte dos mais modernos equipamentos – de células solares fotovoltaicas a turbinas eólicas – é produzida em território alemão.

– Há muito intercâmbio com a Alemanha, mandamos muitos pesquisadores para universidades de lá. Inclusive, temos aqui na UFRGS um pequeno gerador eólico de uma empresa alemã – diz o peruano Harold Deza Luna, pesquisador em energias renováveis do Laboratório de Transformação Mecânica da UFRGS.

Mas não é só tecnologia que a Alemanha exporta. A legislação criada pelo país para impulsionar a produção de energia renovável foi copiada por cerca de 70 nações mundo afora. A principal delas entrou em vigor em 2000: a Erneuerbare-Energien-Gesetz, conhecida pela sigla EEG – que, segundo Luna, é a maior lição alemã para o Brasil. É o que pensa também a americana Piper Foster, da Sopris Foundation, dos EUA.

– Essa é a medida isolada mais poderosa para combater as mudanças climáticas e incentivar as energias renováveis – disse a pesquisadora, que está há mais de um ano em Berlim para estudar as experiências alemãs no desenvolvimento de energias limpas.

Pela EEG, todo cidadão pode montar uma pequena central de energia de fontes renováveis, que é ligada à rede elétrica. As operadoras do país são obrigadas a comprar o que for produzido em excedente, pagando tarifas preestabelecidas, que valem por 20 anos. Os valores variam de acordo com o tipo de energia, sendo mais altos para as fontes que custam mais e que precisam ser mais desenvolvidas, como a solar fotovoltaica. A diferença de preço é repassada para os consumidores, que têm um pequeno aumento na conta de luz. Assim, o custo-benefício da instalação da tecnologia para esse tipo de energia torna-se muito interessante.

Muitos governos ainda não fazem grandes investimentos em energias renováveis devido ao alto custo. Isto, segundo Piper, é um erro que poderá colocar empresas e países em uma situação muito vulnerável no futuro.

– Quando as pessoas dizem que energia renovável é cara, ignoram o fato de que o preço dos combustíveis fósseis está aumentando e que carvão, gás natural e petróleo estão acabando. Apesar de o custo das energias renováveis ser mais alto no início, podemos prever seu custo no longo prazo, porque vento e sol são gratuitos – finaliza.
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FONTE : EcoDebate, 26/07/2010