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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

“Estado do Mundo 2013” pergunta: a sustentabilidade ainda é possível?

por Redação do Akatu
sustentabilidade “Estado do Mundo 2013” pergunta: a sustentabilidade ainda é possível?
Com artigos organizados em torno de três temáticas principais, publicação apresenta a visão de pesquisadores e líderes sobre os rumos do planeta.
Para discutir a sustentabilidade do planeta e tentar responder a essa questão chave, o Instituto Akatu e Worldwatch Institute Brasil lançamnesta quinta-feira (31/10), em São Paulo, a edição brasileira do relatório “Estado do Mundo 2013 – A Sustentabilidade Ainda é Possível?”, em um evento em São Paulo.
Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, acredita que a transição para a sustentabilidade depende de transformações profundas nos modos de produção e consumo. “As mudanças são urgentes e devem guiar a ação de empresas, governos e cidadãos, que precisam adotar o consumo consciente como uma prática cotidiana na sociedade do bem-estar que devemos construir nos próximos anos. A edição brasileira do Estado do Mundo traz ótimas contribuições para as transformações de que precisamos”, indica Mattar.
“Em apenas oito décadas adicionamos mais cinco bilhões de novos habitantes e consumidores ao planeta. Só entre a Eco 92 e a Rio+20, o PIB global cresceu 50 trilhões de dólares”, afirma Eduardo Athayde diretor do Worldwatch Institute Brasil. “Precisamos, antes, definir métricas que nos orientem em direção a um futuro mais equilibrado, seguro e justo”, complementa.
Considerado pela imprensa internacional como a “bíblia da sustentabilidade”, a publicação é formada por um conjunto de artigos organizados em torno de três eixos principais: A Métrica da Sustentabilidade, Chegando à Verdadeira Sustentabilidade e Abra em Caso de Emergência. Os 17 capítulos do relatório oferecem ao leitor um verdadeiro panorama da situação atual do mundo e o que é preciso fazer imediatamente para reverter esta realidade.
O Estado do Mundo em capítulos
O documento é aberto com uma advertência de Robert Engelman, presidente do Wordwatch Institute, sobre os usos e abusos do conceito de sustentabilidade. Utilizada de maneira inadequada, de acordo com ele, a sustentabilidade como é aplicada hoje em nada contribui para a tomada de decisões e mudanças que precisam ser implantadas o quanto antes.
“A Métrica da Sustentabilidade”, primeira seção do relatório, traz um conjunto de métricas que podem ou deveriam ser utilizadas para avaliar em que patamar a humanidade se encontra, quais limites já foram ultrapassados e que direções devem ser seguidas para assegurar o futuro. A segunda seção, “Chegando à Verdadeira Sustentabilidade”, explora que serão necessárias ações, políticas, mudanças comportamentais e institucionais, além da redução na escala da atividade humana, para que a sociedade se torne verdadeiramente sustentável. Já a última parte, “Abra em Caso de Emergência”, destaca iniciativas e estratégias que precisam ser contempladas caso não seja possível fazer a transição a tempo. São elas: como lidar com migrações, fortalecer a resiliência das populações, ou mesmo, adotar soluções de geoengenharia para frear o aquecimento global.
Clique aqui para ler a versão brasileira do “Estado do Mundo 2013: A Sustentabilidade Ainda É Possível?
* Publicado originalmente no site Akatu.
(Akatu)

Banco Mundial oferece cursos gratuitos online sobre desenvolvimento e clima

por Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil
LowCarbonDevel21 300x196 Banco Mundial oferece cursos gratuitos online sobre desenvolvimento e clima
O e-Institute foi criado pelo Banco Mundial para promover, através da educação a distância, temas como o gerenciamento de riscos climáticos e instrumentos para o desenvolvimento de baixo carbono.
Qualquer pessoa pode se inscrever em seus cursos, que são em inglês e apenas são pagos nos raros casos em que haja envio de material. A seleção dos alunos leva em conta o alinhamento de cada candidato com o tema do curso.
Por exemplo, no próximo dia 18 terá início o “Projetos de Gerenciamento de Solos para Agricultura Sustentável: Monitorando o Carbono no Solo”. As inscrições para esse curso estão abertas até o dia 8 de novembro, e o público alvo são pessoas relacionadas com atividades agrícolas ou com monitoramento de carbono.
Também no dia 18 começará o “Desenvolvimento de Baixo Carbono: Planejamento e Modelagem”, que buscará trabalhar conceitos como planejamento dos setores de transporte e energia no sentido de diminuir as emissões de gases do efeito estufa.
Entre os cursos que já foram realizados, podemos destacar “Sistemas de comércio de emissões: utilizando mercados para promover baixas emissões” e “Monitoramento de carbono em projetos florestais no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Existem ainda aulas que podem ser assistidas em qualquer momento, sem que haja necessidade de inscrição, exigindo apenas um registro no portal.
Vale a pena acompanhar o e-Institute, não são comuns cursos gratuitos sobre assuntos tão específicos.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)

Campanha mostra efeitos de agrotóxicos em abelhas

por Redação da Agência USP
abelhasusp Campanha mostra efeitos de agrotóxicos em abelhas
Estudos mostram que uso de agrotóxicos reduz populações de abelhas. Foto: USP Imagens/Marcos Santos
Reduzir o uso de pesticidas tóxicos que causam o desaparecimento de abelhas em larga escala é um dos objetivos da campanha coordenada pelo professor Lionel Segui Gonçalves, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Atualmente aposentado da FFCLRP, o professor preside o Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte (CETAPIS). Gonçalves criou e coordena o movimento Bee or not to be? que busca assinaturas on-line para a Petição pela Proteção das Abelhas, a qual será entregue às lideranças governamentais.
A iniciativa, que já conta com mais de 3.300 assinaturas, baseia-se em estudos que apontam associação entre redução das populações de abelhas e uso de agrotóxicos. Segundo o especialista, este desaparecimento traz como principal consequência a falta de alimentos. “Aproximadamente 70% dos alimentos que consumimos dependem da polinização das abelhas. Elas também polinizam as áreas verdes. Assim, se elas acabarem, podemos sucumbir por falta de oxigênio”.
O problema, já considerado mundial, atinge quatro estados brasileiros (Piauí, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo). Entre as alternativas para proteção de abelhas está a substituição de agrotóxicos e pesticidas pelo controle biológico. “É preciso também aumentar as áreas verdes, proteger o meio ambiente, cultivando plantas de interesse das abelhas para que elas possam proliferar”, defende.
Campanha
Daniel Maluzá, publicitário e coordenador da campanha Bee or not to be? (em português, literalmente abelhas ou não existir, um paralelo ao slogan sem abelhas, sem alimento), explica que o objetivo é conscientizar a população para a importância destes insetos, responsáveis pela polinização.
Como forma de chamar a atenção das autoridades, foi criada uma petição on-line em favor das abelhas. Segundo ele, “a pessoa só precisa disponibilizar o nome e o e-mail”. Paralelamente, estão desenvolvendo amplo trabalho de conscientização em escolas, esclarecendo, desde cedo, crianças e adolescentes sobre a importância destes insetos. A divulgação é feita por meio de palestras, cartazes, folders e diversos materiais ilustrativos. O material foi produzido gratuitamente por uma agência de publicidade de Ribeirão Preto, cujo dono é filho do professor Gonçalves.
Os primeiros relatos de desaparecimento de abelhas em larga escala surgiram em 1995, nos Estados Unidos da América (EUA). Entretanto, apenas em 2007 o problema foi discutido oficialmente, durante Congresso Mundial de Apicultura. Recentemente, o Departamento de Agricultura dos EUA divulgou a morte de um terço das abelhas durante o inverno de 2012/2013. O levantamento também aponta que, nos últimos seis anos, o número de colônias de abelhas caiu 30,5%.
Estudos concluíram que as abelhas apresentam Colony Collapse Disorder (CCD), também conhecida como Síndrome do Desaparecimento de Abelhas. O mal afeta o sistema nervoso desses insetos, com prejuízo da memória e senso de direção. Ao saírem em busca de néctar e pólen, elas se perdem e não conseguem retornar para as colmeias. A síndrome pode ser identificada quando o número de integrantes das colmeias é reduzido ou até mesmo extinto. Nesses casos, as abelhas perdidas deixam mel, crias e até mesmo a rainha.
Para os pesquisadores, que ainda trabalham com hipóteses, o CCD seria caudado principalmente pelo uso de pesticidas do tipo neonicotinoides. Em abril de 2013, notando a interferência dessa substância na vida das abelhas, a União Europeia suspendeu seu uso por dois anos. O manifesto pela proteção das abelhas está integralmente disponível no site Sem Abelhas, Sem Alimento. Lá também podem ser acessados vídeos, explicações sobre a importância desse inseto para a vida humana e ficha para assinatura da petição.
O coordenador do movimento, professor Gonçalves, pede a ajuda da população e faz um alerta: “se perdermos as abelhas seremos os primeiros prejudicados”. A campanha cita Albert Einstein: “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas, não há polinização, não há reprodução da flora. Sem flora não há animais, e sem animais não haverá raça humana”.
* Marcela Baggini e Tauana Boemer, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura USP do Campus de Ribeirão Preto.
** Publicado originalmente no site Agência USP.
(Agência USP)

Ribeirinhos têm conquista histórica em área de barragens do Tapajós

por Leonardo Sakamoto*
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) selou o fim de uma luta histórica de uma centena de famílias ribeirinhas da região oeste do Pará com a criação do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Montanha-Mangabal, garantindo o reconhecimento de um território tradicionalmente ocupado há mais de 140 anos no Alto Tapajós. Se chegou com, no mínimo, meio século de atraso, certamente veio em um momento político surpreendente, considerando que as terras dessas famílias se situa em área de influência direta de barragens planejadas para integrar o Complexo Hidrelétrico do Tapajós. A história foi noticiada, nesta quinta, pela BBC.
Afinal de contas, para quem não sabe, Belo Monte foi apenas um aperitivo de um rosário de dezenas hidrelétricas que estão planejadas para serem construídas na Amazônia nos próximos anos.
Pedi para duas pessoas que conhecem de perto o Montanha-Mangabal para contarem essa história. Natalia Guerrero, jornalista e mestre em Geografia Humana pela USP, que cobre a luta dos ribeirinhos de Montanha e Mangabal desde 2008, e Mauricio Torres, doutor em Geografia Humana também pela USP. Sua dissertação de mestrado, “A Beiradeira e o Grilador“, foi o resultado de sua pesquisa sobre a comunidade, e analisa a trajetória histórica de oito gerações de ribeirinhos. Segue o texto:
mangabal Ribeirinhos têm conquista histórica em área de barragens do Tapajós
Crianças brincam na comunidade de Mpntanha-Mangabal. Foto: Kyle Lee Harper

O ano de 2013 foi um infeliz marco para a reforma agrária no Brasil. Os números são de tal forma constrangedores, que o governo acabou revendo suas próprias diretrizes e veio a público, em outubro, selar o compromisso de assinar cem decretos de desapropriação de terras para a criação de assentamentos, ainda este ano. De forma geral, como este blog muito bem acompanha, vivem-se tempos de intensa oposição ao reconhecimento dos territórios de povos e comunidades tradicionais.
No entanto, com esse quadro por cenário, uma região do Brasil acaba de ser palco de um corajoso ato contra a corrente. No oeste do Pará, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu, por meio da criação de um Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE), os direitos de uma centena de famílias ribeirinhas do Alto Tapajós a seu território, ocupado há mais de um século. A portaria de criação do PAE Montanha-Mangabal foi assinada em setembro, e a homologação das famílias beneficiárias foi concluída neste mês de outubro.
“Tenho muito orgulho de poder estar realizando e encerrando uma luta dessa, dando direito a quem tem”, afirmou à BBC Luiz Bacelar Guerrero Júnior, superintendente da SR-30, regional do Incra situada em Santarém, e que abrange o Oeste do Pará. Quando questionado se os interesses econômicos que pairam sobre o lugar foram um obstáculo na criação do assentamento, Bacelar foi taxativo: “Não dei ouvidos. Fiz o que tinha que fazer e pronto”.
Terras e águas de se cobiçar – A modéstia do superintendente não se aplica: o PAE Montanha-Mangabal está longe de ser um assentamento comum. Situado no município de Itaituba (PA), e abrangendo 54.443 hectares, distribuídos ao longo de quase 70 km da margem esquerda do Alto Tapajós, o projeto se insere em uma região marcada, historicamente, pelo assédio de diversos grupos econômicos – grileiros, mineradoras, madeireiros. Nos últimos anos, foi a vez de o governo federal voltar seus olhos às cachoeiras daquele trecho de rio, onde está prevista a instalação de barragens do Complexo Hidrelétrico do Tapajós.
Mas ali não há só terra e águas para negócio, há também território. Um território que vem sustentando o modo de vida de uma centena de famílias ribeirinhas há mais de 140 anos. É esse manejo centenário, associado à determinação do grupo em resistir às diversas ameaças sobre sua ocupação, que se expressa em algumas das matas mais bem preservadas do Alto Tapajós.
Nesse sentido, a criação do PAE Montanha-Mangabal vem selar o fim dessa longa luta, marcada por uma trajetória que oscila entre o emblematismo e a quebra de paradigmas.
Como muitos extrativistas da Amazônia, a ocupação de Montanha e Mangabal remonta à exploração da borracha na segunda metade do século 19. Por meio da incorporação – barbaramente violenta – de mulheres indígenas à vida nos seringais, incorporou-se também uma matriz de conhecimento que permitiu a adaptação às condições impostas pela floresta, quando o comércio do látex cessou.
Desde então, os moradores daquele lugar testemunharam a ascensão e queda de diversas atividades econômicas, como o comércio de pele de felinos e o garimpo, iniciado em meados dos anos 1970. Nesse período, a criação do Parque Nacional da Amazônia, em 1974, significou a expulsão de muitas das famílias extrativistas que ali viviam. Concentradas rio acima, resistiram.
No início da década de 2000, a batalha foi contra uma empresa paranaense, autora de uma das maiores fraudes fundiárias já registradas. Por meio de uma sofisti­cada manobra jurídica, a empresa se declarou proprietária de 1.138.000 hectares na região de Itaituba, o equivalente a quase oito cidades de São Paulo. No meio da terra grilada, estavam as famílias de Montanha e Mangabal – ou os “invasores”, segundo declarava a empresa.
A resistência dos ribeirinhos permitiu a realização de uma extensa pesquisa genealógica que comprovou que os “invasores” tinham oito gerações, nascidas e enterradas naquele lugar. Com apoio do MPF, obteve-se a interdição da vasta área a qualquer pessoa que não fosse das famílias de Montanha e Mangabal. Uma interdição desse tipo, em uma área que não fosse de ocupação indígena ou quilombola, foi algo sem precedentes na história do Judiciário brasileiro.
Mas não era a última batalha. Para formalizar seu direito àquela terra, os beiradeiros passaram a reivindicar, então, a criação de uma Reserva Extrativista no local, instrumento que garantiria sua ocupação, bem como lhes daria acesso a créditos para agricultura e, até mesmo, melhores condições para demandar atendimento médico e escolar à comunidade.
Todos os estudos necessários à criação da unidade de conservação ambiental foram realizados a contento, mas a Resex não saiu. A minuta do decreto de criação, que deveria ser assinado pelo então presidente Lula, não foi mais longe que as mãos da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O motivo estava em um ofício do Ministério de Minas e Energia (MME), endereçado em 2008 à Casa Civil: “A Resex Montanha Mangabal causará interferência em qualquer uma das alternativas causadas visto que as alternativas estão inseridas na área proposta para a unidade de conservação. Desta forma, conclui-se que a unidade não deva ser criada”.
Frustrados em seus desígnios de reconhecimento, com a perspectiva de ter de abandonar seu território centenário, a resistência dos ribeirinhos de Montanha e Mangabal arrefeceu, mas não cessou. Ante a sequência de desrespeitos no andamento dos estudos para as barragens do Tapajós, uma aliança histórica foi selada com os vizinhos Munduruku, cujo território também sofrerá impactos com o barramento.
É nesse contexto que vem à tona a surpreendente notícia de criação PAE Montanha-Mangabal.
Terra para ficar – “É a primeira vez na história do País que o governo federal reconhece a ancestralidade da história daquelas comunidades e as trata como titulares de direitos fundamentais, em especial titulares de direito à terra”, disse à BBC Felipe Fritz Braga, procurador da República que deu início aos procedimentos no sentido do reconhecimento dos direitos das famílias de Montanha e Mangabal. Para o procurador, a coesão da própria comunidade teve importância fundamental nesse processo. “Montanha-Mangabal hoje tem uma existência política clara. Estiveram no Congresso Nacional há alguns anos e se manifestam regionalmente sobre políticas públicas. A criação do projeto agroextrativista é sem dúvida importante para a proteção do território, mas não é de fato uma criação – é, na verdade, um óbvio e devido reconhecimento”.
Para Ticiana Nogueira, atual procuradora da República em Santarém, a criação foi certamente um marco na luta pelo reconhecimento de territórios tradicionalmente ocupados. “O governo andou muito bem neste caso, que já tinha o devido reconhecimento judicial, uma vez que a área já era protegida por decisão judicial, mas carecia da decisão política final do governo federal.”
Pouco a pouco, a notícia de criação do assentamento vai subindo o Tapajós, envolvida em orgulho e expectativa. “Eu vejo isso como resultado da nossa luta”, defende Simar Braga dos Anjos, uma das antigas lideranças mais ativas na luta pelo reconhecimento dos direitos das famílias de Montanha em Mangabal e pela cobrança da presença do Estado na garantia desses direitos. “Eu digo que dependemos, sim, do governo, mas não em termos de sobrevivência. Nada de cesta básica, essas coisas. O que o povo precisa lá é saúde, escola. O governo se esqueceu de nós ali. É isso que eu sempre cobro, e eu acredito que o assentamento nos dá mais condições de correr atrás disso”.
Mais um filho dessa comunidade do Tapajós, a situação de Tarsis Cardoso sinaliza um exemplo do tipo de consequências dessa falta de políticas públicas. O ribeirinho mudou-se para a sede de Itaituba há alguns anos para que a filha, Sâmila, pudesse seguir na escola. “Muita gente saiu por causa do estudo”, conta. Cardoso é da opinião de que as políticas são consequência da importância da ocupação de sua comunidade. “É uma forma de mostrar que há muitas gerações que nasceram e se criaram ali e que dependem dali pra sobreviver”, avalia o beiradeiro, que mantém fortes vínculos com a terra onde ainda moram seus pais.
Para a pequena Sâmila, de sete anos, os meses são muito longos quando se trata de esperar as férias escolares, oportunidade que tem para visitar o pedaço de rio tradicionalmente ocupado por sua família. É lá que pode se dedicar, junto com os primos e vizinhos do beiradão, a seus passatempos preferidos, como ouvir os bichos da mata, pescar e ouvir histórias dos mais antigos. “Ela gosta mais é de história de rio, que o pessoal conta”, relata Cardoso. “Às vezes ela fica na beira do rio, pescando, o pessoal passa [e diz]: ‘Olha, cuidado, outro dia o fulano falou que o bicho ia levando a mulher’. Ela fica só sorrindo.”
As histórias de que gosta Sâmila mostram como os aspectos daquele modo de vida têm uma relação muito forte com aquele território, tal como segue manejado até hoje pelas famílias de Montanha e Mangabal. “São centenas de pessoas que sabem pescar, lavrar terra, coletar frutas que a floresta oferece para nós. São memórias dos parentes enterrados. Ali existe uma história muito bonita”, diz seu Simar.
Vídeo realizado para a BBC por Minguarana Producciones:

A esquizofrenia do governo – Em maio de 2012, Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), corporação pública ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME) ofereceu uma especial demonstração de desrespeito ou ignorância em relação às comunidades tradicionais de Montanha e Mangabal. Ao falar dos projetos pretendidos para as barragens de São Luiz do Tapajós e Jatobá, Tolmasquim aludiu à inexistência de “ocupação humana” nos locais de pretensão das obras.
Pouco mais de um ano depois, o mesmo governo federal não só admite a existência da comunidade tradicional de Montanha e Mangabal como lhes reconhece formalmente o direito a quase 70 km ao longo das margens do rio Tapajós que seriam inundadas e devassadas por uma barragem.
Terá o governo decidido parar de reproduzir o discurso do colonizador – revisitado nos tempos da ditadura militar – da “terra sem homens”? “Sem homens” porquanto se relega à condição não humana toda uma população, claro. Poderão os povos e comunidades tradicionais dessa região contar com o respeito do governo com relação às convenções e tratados internacionais dos quais é signatário? Esperamos não assistir, nos próximos dias, ao cancelamento da portaria de criação do PAE Montanha-Mangabal alegando-se uma tecnicalidade qualquer. Com esse histórico, seria de uma violência extremamente atroz, mas pouco surpreendente.
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. 
** Publicado originalmente no Blog do Sakamoto.
(Blog do Sakamoto)

Resíduos de agrotóxicos estão presentes em 29% dos alimentos, revela pesquisa

por Redação do EcoD
pimentao ecod Resíduos de agrotóxicos estão presentes em 29% dos alimentos, revela pesquisa
Pimentão foi o produto analisado que teve o maior número de amostras com irregularidades em 2011. Foto: José Cláudio Guimarães

Sabe aquele pimentão que você costuma usar para dar um toque especial na salada? Não gosta muito de pimentão? E de cenoura, pepino, alface e morango? Pois saiba que, embora esses alimentos sejam saudáveis, boa parte deles pode conter resíduos de agrotóxicos, segundo revela o resultado do monitoramento do último Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (2011/2012), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Divulgada na quarta-feira, 30 de outubro, a pesquisa aponta que 36% das amostras de 2011 e 29% das amostras de 2012 apresentaram a presença de agrotóxicos. Na avaliação da agência, é preciso investir na formação dos produtores rurais e no acompanhamento do uso do produto.
Existem dois tipos de irregularidades avaliadas, uma quando a amostra contém agrotóxico acima do limite máximo de resíduo permitido e outra quando a amostra apresenta resíduos de agrotóxicos não autorizados para o alimento pesquisado. O levantamento ressalta ainda que dois agrotóxicos nunca registrados no Brasil, o azaconazol e o tebufempirade, foram encontrados nas amostras de alimentos, o que pode significar que estes alimentos entraram no país contrabandeados.
Em 2011 o pimentão foi o produto analisado que teve o maior número de amostras com irregularidades. Das 213 amostras analisadas, 84% tiveram uso de agrotóxico não autorizado no Brasil, 0,9% tinham índices acima do permitido e 4,7% tinham as duas irregularidades. Em seguida vieram cenoura, com 67% de amostras irregulares; pepino, com 44%, e a alface, com 42%. Em 2012, o morango apareceu com 59% de irregularidades nas amostras e novamente o pepino, com 42%.
Lavagem é insuficiente
A agência explica que alguns agrotóxicos aplicados nos alimentos agrícolas e no solo têm a capacidade de penetrar em folhas e polpas. Por isso, a lavagem dos alimentos em água corrente e a retirada de cascas e folhas externas, apesar de contribuem para a redução dos resíduos de agrotóxicos, são incapazes de eliminar aqueles contidos em suas partes internas.
O atual relatório traz o resultado de 3.293 amostras de 13 alimentos monitorados, incluindo arroz, feijão, morango, pimentão, tomate, dentre outros. A escolha dos alimentos foi baseada nos dados de consumo levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na disponibilidade dos alimentos nos supermercados e no perfil de uso de agrotóxicos nos alimentos.
Para a Anvisa, o aspecto positivo do programa é a capacidade dos órgãos locais em identificar a origem do alimento e permitir que medidas corretivas sejam adotadas vem aumentado. Em 2012, 36% das amostras puderam ser rastreadas até o produtor e 50% até o distribuidor do alimento.
A Anvisa coordena o programa de análise de resíduos em conjunto com as vigilâncias sanitárias dos estados e municípios participantes, que fizeram os procedimentos de coleta dos alimentos nos supermercados e de envio aos laboratórios para análise. Assim, é possível verificar se os produtos comercializados estão de acordo com o estabelecido pela agência.
* Publicado originalmente no site EcoD.
(EcoD)

ANDA - Boletim de 31/10/2013

 
Anda
31/10/2013EDIÇÃO 214
 
 
Espanha
Catalunha proíbe exploração de circo com animais
Sério "Santuários da Vida Silvestre e Selvagem"
Animais silvestres debilitados recebem mais uma chance em Assis (SP)
Presos em zoológico
Fotógrafo reúne acervo que mostra a tristeza de animais em cativeiro
Ezio Flavio Bazzo
E se os Beagles falassem…
Cachoeiro de Itapemirim
Boi é assassinado pela polícia no Espírito Santo
Matança criminosa
Vinte cães morrem misteriosamente em município de Cauca na Colômbia
Resgates emocionantes
 
"A imprensa amplifica a voz e as lutas da sociedade e muitas vezes é fator decisivo na pauta da agenda política dos governos e dos governantes. É este im..."
Jooji Hato
Deputado estadual PMDB/SP
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MANCHETES SOCIOAMBIENTAIS - 31/10/2013


Resumo diário de notícias selecionadas
dos principais jornais, revistas, sites especializados e blogs,
além de informações e análises direto do ISA
 
 
HOJE:
Biodiversidade, Governo Dilma, Povos Indígenas, UHE Belo Monte
Ano 13
31/10/2013

 

Direto do ISA

 
  O II Módulo do curso de História do Rio Negro e o I Módulo de formação de lideranças foram realizados pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), suas associações de base (Acimrn, de Santa Isabel e Asiba, de Barcelos) e o ISA, de 16 a 21/10 - Direto do ISA, 30/10.
  O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) suspendeu no fim da tarde de terça-feira (29) decisão da última sexta (25), que determinara a interrupção das obras da usina de Belo Monte (PA) por descumprimento de obrigações socioambientais - Direto do ISA, 30/10.
   
 

Belo Monte

 
 
A pedido da AGU (Advocacia-Geral da União), o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) cassou a decisão que mandava paralisar as obras da usina de Belo Monte (PA). Os trabalhos não chegaram a ser interrompidos, segundo a Norte Energia, responsável pela hidrelétrica. A suspensão da decisão foi determinada por Mario Cesar Ribeiro, presidente do TRF-1. Na sexta, o TRF-1 ordenara a paralisação das obras por ilegalidade no processo de licenciamento ambiental, atendendo pedido feito em ação de 2011 do Ministério Público Federal no Pará. A Procuradoria questionava a emissão de uma licença parcial para as obras da usina. Segundo a AGU, foram atendidas as condicionantes relativas a infraestrutura, saneamento, saúde e educação previstas na licença prévia - FSP, 31/10, Mercado 2, p.5; OESP, 31/10, Economia, p.B9; O Globo, 31/10, Economia, p.28.
   
 

Governo Dilma

 
 
"O governo vestiu o seu uniforme branco e decidiu que precisava combater os efeitos da crise financeira, garantir o crescimento e o nível de emprego. Para isso, prescreveu doses cavalares de isenção fiscal em setores chaves, como energia, transportes e agropecuária. Resultado: a economia não cresceu muito, a crise continua rondando por aí, mas o paciente sobreviveu. Em compensação, nossas ruas estão mais engarrafadas do que nunca, e batemos todos os recordes no consumo de agrotóxicos e fertilizantes. Além disso, os gases de efeito estufa gerados pela agropecuária e pela energia respondem hoje por 67% de todas as emissões brasileiras", coluna de Agostinho Vieira - O Globo, 31/10, Economia Verde, p.28.
  "O governo brasileiro lançou, na semana passada, o Plano Nacional de Contingência para grandes vazamentos de petróleo - um dia depois do polêmico leilão do pré-sal do campo de Libra, que ocorreu no Rio de Janeiro em 21 de outubro. Da forma como foi concebido, formulado e divulgado, o Plano, porém, não passa de uma carta de intenções. Suscita mais perguntas do que propõe respostas e deixa abertas questões primordiais, como a operacionalização e os recursos disponíveis para enfrentar eventuais acidentes e vazamentos. Enfim, não atinge seu objetivo maior, que é garantir a segurança ambiental em uma das principais e mais ricas zonas costeiras do mundo, diante de um vultoso empreendimento de altíssimo risco, a exploração de petróleo do pré-sal", artigo de Pedro Luiz Barreiros Passos e Roberto Luiz Leme Klabin - Valor Econômico, 31/10, Opinião, p.A14.
   
 

Biodiversidade

 
  As abelhas estão ameaçadas. Um fenômeno ainda sem explicação está levando ao desaparecimento de colmeias inteiras. E junto com o mel, o sumiço das abelhas põe em risco não só os produtos diretos gerados por elas, mas lavouras e pomares que podem minguar na ausência das polinizadoras universais. O risco é geral, afeta diferentes países e independe da espécie de abelha. No Brasil, a ameaça é ainda mais preocupante, pois o ambiente é especialmente favorável à produção de méis. Tome como exemplo a abelha canudo, típica da América tropical. Segundo o Slow Food Brasil, essa espécie é responsável pela polinização de 80% da flora na Amazônia. Manejadas por índios sateré-mawé, se elas sumirem, vão junto o mel, o saber fazer indígena e o guaraná amazônico, que é polinizado por elas - OESP, 31/10, Paladar, p.D1, D4 e D5.
   
 
Imagens Socioambientais

ENVOLVERDE, Jornalismo & Sustentabilidade - 31/10/2013


Brasil, 31 de Outubro de 2013
Resultado do monitoramento do último Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos revela que 36% das amostras de 2011 e 29% das amostras de 2012 têm irregularidades
na presença de agrotóxicos. Confira hoje nos destaques do caderno Saúde da Envolverde.
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destaques
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Propostas de bônus de impacto social para combater a pobreza. Foto: Mario Osava/IPS
Por Emilio Godoy, da IPS
Cidade do México, México, 31/10/2013 – Em contraste com os programas estatais de atenção social executados por governos progressistas na América Latina e no Caribe, surge uma proposta que apela ao investimento privado e que já a partir de sua apresentação recebe variados questionamentos. A iniciativa é conhecida como “b&ocirc ;nus de impacto social” (SIB), [ … ]
Foto: http://www.shutterstock.com/
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fundoclimatico
Por Redação do CarbonoBrasil
Publicação traz artigos sobre os desafios que ainda cercam as iniciativas de remuneração de proprietários de terras que de alguma forma garantam a preservação da biodiversidade e dos benefícios que a natureza nos proporciona. Existem muitas dúvidas sobre os chamados Pagamentos por Seviços Ambientais (PSA), mecanismo que tem tudo para ser bastante relevante em um [ … ]
Capitán está sob cuidados da Associação Canina da Universidade de Havana. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
Por Ivet González, da IPS
Havana, Cuba, 31/20/2013 – O gato tinha a pele queimada e seus olhos saltavam das órbitas quando a aposentada Neida González o recolheu em uma rua da capital cubana. O felino, que hoje se chama Grenlito, sobreviveu graças a essa protetora, que cuida de um harmonioso grupo de nove animais de estimação. “Já perdi [ … ]
A coleta de água de chuva é praticada nas áreas rurais de Trinidad, embora esse método ao ar livre, sem filtro, apresente riscos que o projeto promovido pela Global Water Partnership-Caribbean tenta evitar. Foto: Jewel Fraser/IPS
Por Jewel Fraser, da IPS
Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 31/10/2013 – Um sistema centenário para garantir a segurança hídrica retorna ao Caribe. Trata-se da coleta de água de chuva, que agora integra formalmente o planejamento estratégico da região, com vistas não só a tempestades mais frequentes e intensas, mas também a secas. Até 2100, as precipitações poderão diminuir [ … ]
Sítio Pimental, onde está sendo construída a barragem principal da usina de Belo Monte, Pará|Acervo ISA
Por Redação do ISA
 O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) suspendeu no fim da tarde de terça-feira (29) decisão da última sexta (25), que determinara a interrupção das obras da usina de Belo Monte (PA) por descumprimento de obrigações socioambientais. O desembargador Mário Cesar Ribeiro, presidente do TRF1, acatou o pedido da Advocacia Geral [ … ]
sustentabilidade
Por Redação do Akatu
Com artigos organizados em torno de três temáticas principais, publicação apresenta a visão de pesquisadores e líderes sobre os rumos do planeta. Para discutir a sustentabilidade do planeta e tentar responder a essa questão chave, o Instituto Akatu e Worldwatch Institute Brasil lançamnesta quinta-feira (31/10), em São Paulo, a edição brasileira do relatório “Estado do [ … ]
LowCarbonDevel21
Por Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil
O e-Institute foi criado pelo Banco Mundial para promover, através da educação a distância, temas como o gerenciamento de riscos climáticos e instrumentos para o desenvolvimento de baixo carbono. Qualquer pessoa pode se inscrever em seus cursos, que são em inglês e apenas são pagos nos raros casos em que haja envio de material. A [ … ]
A Agência Envolverde distribui com exclusividade no Brasil os textos da agência Inter Press Service (IPS) e do Projeto Terramérica. Jornais, revistas e websites que queiram ter acesso a este material podem entrar em contato com nossa redação através do email agencia@envolverde.com.br

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