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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Estudo indica que a Amazônia está secando

Para cada grau de aquecimento acima de 1,5°C até 12% do norte da Amazônia experimentará mudanças abruptas para baixo no carbono da vegetação A mortalidade da floresta amazônica tem sido apontado como um possível ponto de inflexão climático, embora apenas uma pequena minoria de modelos de sistemas terrestres estivesse projetando a mortalidade. University of Exeter* Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Exeter mostra que essa situação agora mudou. Entre os mais recentes Modelos do Sistema Terrestre que simulam mudanças no carbono florestal, a maioria dos modelos agora produz eventos de morte devido às mudanças climáticas na Amazônia. Estudos anteriores sugeriram que, uma vez que o ponto de inflexão fosse ultrapassado na Amazônia, toda a região sofreria uma severa mortalidade florestal, mas o novo estudo – publicado na revista Earth System Dynamics – descobriu que muitos dos modelos mais recentes projetam eventos de mortalidade florestal localizados. A equipe de pesquisa, da Universidade de Exeter, diz que, embora não corramos o risco de perder toda a floresta amazônica apenas devido às mudanças climáticas, a morte localizada ainda teria consequências graves para as comunidades e ecossistemas locais. “Embora vejamos pouca mudança no carbono florestal na Amazônia, cinco dos sete modelos que estudamos mostram eventos de extinção abrupta localizados sob o aquecimento global”, disse a principal autora Isobel Parry, do Departamento de Matemática e Estatística de Exeter. “É importante lembrar que até mesmo a morte localizada pode ter consequências graves. Este estudo sugere que para cada grau de aquecimento acima de 1,5°C, até 12% do norte da Amazônia experimentará mudanças abruptas para baixo no carbono da vegetação.” A equipe de Exeter também descobriu que muitas das mudanças abruptas detectadas no carbono da vegetação são precedidas por aumentos na amplitude do ciclo sazonal de temperatura, o que é consistente com estações secas mais extremas. Um estudo relacionado liderado pelo Dr. Paul Ritchie – publicado recentemente na revista Communications Earth & Environment descobriu que a seca na floresta amazônica está associada a aumentos na amplitude do ciclo sazonal de temperatura em modelos e observações. “A partir de dados observacionais de temperatura, podemos agora inferir que a Amazônia está secando consistentemente há mais de cem anos. Os modelos do sistema terrestre projetam uma secagem contínua no futuro sob o aquecimento global e, portanto, nos dão mais motivos para nos preocuparmos com a mortalidade das florestas tropicais causadas pelo clima”, disse o Dr. Paul Ritchie, também do Departamento de Matemática e Estatística da Universidade de Exeter. Como disse o autor sênior, o professor Peter Cox, “juntos, esses estudos fornecem uma base mais sólida para detectar a secagem que pode levar à morte da floresta amazônica, mas também aumentam nossas preocupações sobre a morte da floresta devido às mudanças climáticas “. a Amazônia está secando Mudanças abruptas detectadas na Amazônia pelo algoritmo descrito e exemplos de séries temporais para mudanças de dieback. (a–h) Mapas de mudanças abruptas detectadas. Os pontos da grade coloridos em vermelho indicam mudanças abruptas detectadas onde a direção da tendência geral e a mudança abrupta são ambas negativas. (h) Exemplo de séries temporais para mudanças de mortalidade detectadas em cada modelo, correspondendo a pontos de grade destacados por cruzes pretas. Referências: Isobel M. Parry et al, Evidence of localised Amazon rainforest dieback in CMIP6 models, Earth System Dynamics (2022). DOI: 10.5194/esd-13-1667-2022 https://dx.doi.org/10.5194/esd-13-1667-2022 Paul D. L. Ritchie et al, Increases in the temperature seasonal cycle indicate long-term drying trends in Amazonia, Communications Earth & Environment (2022). DOI: 10.1038/s43247-022-00528-0 https://dx.doi.org/10.1038/s43247-022-00528-0 Henrique Cortez *, tradução e edição. in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Plurale em revista Edição Especial número 80: Estudos de casos ESG, entrevista exclusiva com Maya Gabeira, artigos inéditos e roteiros de viagens para Galápagos (Equador) e Serra do Cipó (NG)

A revista Plurale, com foco em sustentabilidade, editada pela jornalista Sônia Araripe, está completando 15 anos de trajetória marcada por matérias incríveis e reconhecimento de vários prêmios. A Edição Especial de número 80 acaba de sair do forno. Em destaque, entrevista exclusiva com a surfista Maya Gabeira, campeã das ondas gigantes e engajada ativista ambiental, que nos conta sobre as recentes realizações, como o premiado documentário internacional sobre sua trajetória, o lançamento de seu livro infantil e ainda sua ação como “Campeã para o Oceano e a Juventude ”, pela Unesco. Maya relembrou para Sônia Araripe e Felipe Araripe como foi a superação de voltar ao mar fazendo o que mais ama, após o gravíssimo acidente ocorrido há alguns anos, ao surfar em Nazaré, Portugal. A carioca que conquistou o mundo pela bravura defende igualdade de condições para as meninas e mulheres, nos esportes e na vida. A Edição 80 de Plurale também destaca um Especial ESG, que apresenta estudos de casos de empresas preocupadas em realizar ações e práticas sociais, ambientais e de governança para melhorar processos e a vida de funcionários, clientes e da sociedade civil. A matéria de capa (texto e fotos) é de Adriana Boscov, com roteiro de viagem incrível para conhecer o Arquipélago de Galápagos, no Equador, e sua exuberante biodiversidade. No Brasil, a Editora de Fotografia Luciana Tancredo nos apresenta as cores e os encantos da Serra do Cipó e da região de Milho Verde, no Cerrado mineiro. Esta edição traz ainda artigos inéditos sobre sustentabilidade de Nádia Rebouças, Renata Mondelo e Marcus Quintella. Os jornalistas Nícia Ribas e Hélio Rocha apresentam novidades da agricultura sustentáve;l e a também jornalista Lília Gianotti nos conta sobre a transformação de vidas de jovens do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, pelo projeto ViDançar. Tudo isso além da coluna Cinema Verde, de Isabel Capaverde, e de matéria da jornalista Flávia Ribeiro sobre o projeto que resgata lixo da Baía de Guanabara e apoia pescadores artesanais. Plurale em revista e Plurale em site — Em 2022 são 15 anos de reportagens, tendo a sustentabilidade e ESG como temas centrais. Dirigida pela jornalista Sônia Araripe, Plurale divulga histórias de pessoas, empresas, projetos 1e temas relacionados ao meio ambiente, cidadania, ação e cultura. www.plurale.com.br #Envolverde

OIT: relatório mostra que inflação provocou queda drástica nos salários

Por ONU Brasil – A grave crise inflacionária, combinada com uma desaceleração mundial do crescimento econômico, impulsionadas em parte pela guerra na Ucrânia e pela crise global de energia –, provoca uma queda drástica nos salários mensais reais em muitos países. De acordo com um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a crise está reduzindo o poder de compra das classes médias e atingindo de forma particularmente severa as famílias de renda baixa. O “Relatório Global de Salários 2022-2023: O impacto da inflação e da COVID-19 sobre os salários e o poder de compra” estima que os salários mensais em todo o mundo caíram em termos reais para menos 0,9% no primeiro semestre de 2022. Essa é a primeira vez neste século que o real o crescimento global dos salários foi negativo. Entre os países avançados do G20, estima-se que, no primeiro semestre de 2022, os salários reais tenham caído para menos 2,2%, enquanto os salários reais nos países emergentes do G20 cresceram 0,8%, 2,6% a menos do que em 2019, o ano anterior ao início da pandemia da COVID-19. “As múltiplas crises globais que estamos enfrentando levaram a um declínio nos salários reais. Isso colocou dezenas de milhões de trabalhadores em uma situação terrível, pois enfrentam incertezas crescentes”, disse o diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo. “A desigualdade de renda e a pobreza aumentarão se o poder de compra dos salários mais baixos não for mantido. Além disso, a tão necessária recuperação pós-pandemia pode ser colocada em risco. Isso pode alimentar ainda mais a agitação social em todo o mundo e minar o objetivo de alcançar prosperidade e paz para todos”. A crise do custo de vida se soma às perdas salariais significativas para os trabalhadores, as trabalhadoras e suas famílias registradas durante a crise da COVID-19, que em muitos países teve o maior impacto nos grupos de renda baixa. O relatório mostra que o aumento da inflação tem um impacto maior no custo de vida das pessoas com renda mais baixa. Isso ocorre porque elas gastam a maior parte de sua renda disponível em bens e serviços essenciais, que geralmente sofrem maiores aumentos de preços do que itens não essenciais. Recomendações – O estudo mostra que há uma necessidade urgente de aplicar medidas políticas bem concebidas para ajudar a manter o poder de compra e os padrões de vida dos trabalhadores assalariados e de suas famílias. O ajuste apropriado das taxas do salário mínimo pode ser uma ferramenta eficaz, uma vez que 90% dos Estados-membros da OIT têm sistemas de salário mínimo. Um forte diálogo social tripartite e a negociação coletiva também podem contribuir para alcançar ajustes salariais adequados durante uma crise. Outras políticas que podem aliviar o impacto da crise do custo de vida sobre as famílias incluem medidas direcionadas a grupos específicos, como dar vouchers a famílias de renda baixa para ajudá-las a comprar bens essenciais ou reduzir o Imposto sobre Valor Agregado sobre esses bens para reduzir o peso da inflação sobre as famílias, ao mesmo tempo em que ajuda a reduzir a inflação. “Devemos dar atenção especial aos trabalhadores que estão na parte média e baixa da escala salarial. Combater a deterioração dos salários reais pode contribuir para sustentar o crescimento econômico que, por sua vez, pode ajudar recuperar os níveis de emprego registados antes da pandemia. Essa pode ser uma forma eficaz de reduzir a probabilidade ou intensidade de recessões em todos os países e as regiões”, disse Rosalia Vazquez-Alvarez, uma das autoras do relatório. Diferenças regionais – O relatório, que contém dados regionais e nacionais, mostra que no primeiro semestre de 2022 a inflação aumentou, proporcionalmente, com mais rapidez nos países de renda alta do que nos países de rendas baixa e média, levando às seguintes tendências regionais nos salários reais: Na América do Norte (Canadá e Estados Unidos), o crescimento médio do salário real chegou a zero em 2021 e baixou para menos 3,2% no primeiro semestre de 2022. Na América Latina e no Caribe, o crescimento dos salários reais caiu para menos 1,4% em 2021 e para menos 1,7% no primeiro semestre de 2022. Na União Europeia, onde programas de preservação de empregos e subsídios salariais preservaram, em grande parte, os níveis de emprego e de salários durante a pandemia, o crescimento do salário real aumentou para 1,3% em 2021 e caiu para menos 2,4% no primeiro semestre de 2022. Na Europa Oriental, o crescimento dos salários reais desacelerou para 4,0% em 2020 e 3,3% em 2021, depois caiu para menos 3,3% no primeiro semestre de 2022. Na Ásia e no Pacífico, o crescimento dos salários reais aumentou para 3,5% em 2021 e desacelerou para 1,3% no primeiro semestre de 2022. Se a China for excluída desses cálculos – considerando o importante peso deste país na região – o crescimento dos salários reais foi bem menor, 0,3% em 2021 e 0,7% no primeiro semestre 2022. Na Ásia Central e Ocidental, o crescimento dos salários reais registrou um forte crescimento de 12,4% em 2021, mas desacelerou para 2,5% no primeiro semestre de 2022. Na África, os dados sugerem uma queda no crescimento dos salários reais de menos 1,4% em 2021 e um declínio para menos 0,5 % no primeiro semestre de 2022. Nos Estados Árabes, as tendências salariais são provisórias, mas as estimativas apontam para um baixo crescimento do salarial real de 0,5% em 2021 e de 1,2% em 2022. *Crédito da imagem destacada: Legenda: Aumento da inflação provoca queda drástica nos salários reais, diz relatório da OIT. Foto: © OIT #Envolverde

O “revogaço” ambiental que o brasil precisa

Por Marina Helou * e Marcus Eduardo de Oliveira ** – Derrotar o projeto fascista de Jair Bolsonaro, o pior presidente brasileiro de todos os tempos, foi o primeiro – e decisivo – passo para salvar a democracia e o projeto de nação. Agora, a partir de janeiro de 2023, a etapa seguinte: reconstruir ponto a ponto o desmonte implantado em quatro anos de governo Bolsonaro, especialmente a política e a estrutura de governança ambiental brasileira, tema central de nossa discussão aqui. Diríamos mais: é chegado o momento de reconstruir a política ambiental global, a partir da necessária recuperação da Floresta Amazônica (e seu imprescindível papel na manutenção de serviços ecológicos) e de práticas de desenvolvimento que dialoguem, protejam e respeitem o meio ambiente, com participação permanente com a sociedade. Com efeito, talvez cada uma dessas ações interligadas – isto é, reconstrução e desenvolvimento social, humano, econômico – sejam, entre tantas outras, as que mais clamam urgência no futuro e tão desejado governo Lula 3. No âmbito da questão ambiental, o compromisso-chave já está delineado: fazer um amplo “revogaço” ambiental logo de início. Quer dizer, novas regulações, ajustes e mesmo revogação (reversão total) imediata. A começar por resgatar o espaço da sociedade civil no Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) – de 11 cadeiras existentes, a dupla Bolsonaro-Salles reduziu para apenas quatro. E não é só isso. É preciso voltar a fortalecer os órgãos de proteção ambiental, escandalosamente enfraquecidos durante o desgoverno dos últimos anos. É igualmente importante suprimir de vez aquilo que os ambientalistas (vozes que foram abafadas nesses últimos tempos) vêm chamando de “legado tóxico” da política ambiental de Bolsonaro, o que inclui aumentar a proteção da biodiversidade e instituir uma nova relação com os povos originários e quilombolas. O outro nome disso, assim sabemos, é prosperidade inclusiva, e tem a ver com novos valores e comportamentos. Na prática, isso não é um mero detalhe. Estamos falando da saúde do planeta, de manter a floresta em pé e de colocar em ação uma verdadeira e consistente política de sustentabilidade, valor capaz de devolver o equilíbrio planetário. Nessa mesma direção, urge revogar pelo menos 80 medidas antiambientais conduzidas por um governo marcado pelo desapego à realidade socioambiental. Por exemplo: Adote um Parque, política vazia que deixou a cargo do setor privado a gestão de unidades de conservação, mas que, na prática, não aconteceu. Importa ainda revogar em caráter de urgência normas que dificultaram a aplicação e a cobrança de multas ambientais por parte do Ibama. Outro exemplo é o Programa Lixão Zero, que, apesar de apoiar estados e municípios para a melhoria da gestão de resíduos sólidos, traz retrocessos imensos ao estimular a adoção de tecnologias obsoletas e poluentes, abandonadas na Europa e nos EUA, como a incineração dos resíduos para gerar energia. De tal forma que esse “revogaço” ambiental marcará triunfalmente o início da nova gestão Lula e Marina Silva (detalhe importante: enquanto escrevemos essas linhas, a ex-Ministra ainda não foi oficialmente anunciada como titular da pasta que a consagrou como uma das principais lideranças internacionais em matéria de meio ambiente). Ademais, no rol de mais ações esperadas, a atualização (leia-se, uma nova diretriz) do ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e do próprio Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis) contam com atenção especial. Ainda assim, a ação/tarefa que mais exige pressa diz respeito, sobretudo, a organizar medidas de segurança humana, de combate às mudanças climáticas e de defesa da maior floresta tropical do mundo, cuja criminosa destruição (queimadas e desmatamentos que batem recordes ano após ano) está em crescimento desde 2017 — foi de 73% a taxa de desmatamento nos três primeiros anos do governo Bolsonaro. Tema central, inútil dizer às claras que restaurar ecossistemas de alto carbono, como é o caso de florestas, é de fundamental importância como iniciativa internacional para mitigar as mudanças climáticas. Para que se eliminem dúvidas, o que estamos dizendo abertamente diz respeito à regeneração do planeta. Sob esse nobre sentimento, recordemos a mensagem do Papa Francisco, anunciada em abril de 2021, mas sempre atual: “é preciso cuidar da natureza para que ela cuide de nós”. Por isso, vale observar com cuidado, organizar uma força-tarefa envolvendo outros ministérios, notadamente o da Agricultura e da Segurança Pública, e olhar com mais atenção para os outros biomas do País (especialmente o Cerrado e o Pantanal), integra, de modo prático, um conjunto de ações que vise resgatar de vez o Brasil para a condição que sempre ocupou e que foi perdida diante da chegada desastrosa de Bolsonaro ao poder: protagonista da pauta ambiental global. Está no radar das próximas ações propositivas retomar as negociações e “recuperar” o colegiado (comitê e grupo técnico) que faz a gestão do Fundo Amazônia, descongelando o montante de R$ 3,6 bilhões repassados por Noruega e Alemanha. Não menos importante, é a questão urbana, das cidades, onde vivem mais de 80% da população brasileira. É nas cidades onde os efeitos negativos das mudanças climáticas serão mais sentidos – e, principalmente, pela população que já se encontra em situação de vulnerabilidade: quem vive nas regiões periféricas das grandes cidades. Aliás, pelas mãos de Marina Silva, já foi encaminhado um pedido formal à John Kerry (enviado especial dos Estados Unidos para o clima) para que o país liderado por Joe Biden passe a contribuir com o Fundo. Dinamizar esse Fundo, bem sabemos, é tarefa-chave. De 102 projetos apoiados pelo Fundo Amazônia (criado em 2008), apenas 47 já foram concluídos. Há muito ainda por fazer e a hora é essa. Por último, mas não por fim, superando desafios inéditos e sepultando de vez quatro “trágicos” anos de escuridão de governo Bolsonaro, alimentado por uma militância extremista que mais se assemelha a uma seita de lunáticos que ajudou a transformar a pauta ambiental doméstica em agenda ideológica, o novo Brasil de Lula e Marina, e de todos os brasileiros que sustentaram a frente ampla pela democracia, volta a ter compromisso com a realidade, e, mais do que isso, volta a recuperar a imagem do país, especialmente para a luta de todos: o desmatamento zero na Amazônia. Justamente por isso, ao reinserir o Brasil na arena internacional, quem sabe sejamos recompensados com a COP30 (em 2025) aqui em nosso pedaço de chão, recebendo as nossas cores e o nosso jeito especial de organizar a questão ambiental. (*) Deputada Estadual pela REDE SUSTENTABILIDADE (São Paulo). Eleita para o segundo mandato (2023-2026). Formada em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), com especialização em negócios e sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral / Cambridge University. (**) Economista e ativista ambiental. Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Mestre em Integração da América Latina (PROLAM) pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor do Departamento de Economia da Fundação Instituto Tecnológico de Osasco (FAC-FITO) e do UNIFIEO (Centro Universitário Fundação de Ensino para Osasco). Autor de Civilização em Desajuste com os Limites Planetário” (CRV, 2018), entre outros. #Envolverde Compartilhar: WhatsAppFacebookTwitterLinkedInTelegramEmailPrint

Amazônia é o bioma com mais pastagens no Brasil

Por MapBiomas – Nas últimas duas décadas, a área de pastagem cresceu 40% na Amazônia. No mesmo período, esse tipo de cobertura de solo diminuiu substancialmente na Mata Atlântica (28%) e no Cerrado (10%), onde 10,2 milhões de hectares foram transformados em lavouras temporárias. O avanço das pastagens sobre a Amazônia a colocou no topo da lista dos biomas com maior área, em termos percentuais, com 36%. Cerrado (31%), Mata Atlântica (18%), Caatinga (12%) e Pantanal (2%) vêm na sequência. Com exceção de Minas Gerais, com 19,3 milhões de hectares, os outros dois estados líderes em área de pastagens no Brasil ficam na Amazônia Legal: Pará (21,1 milhões de hectares) e Mato Grosso (20,2 milhões de hectares). Os dados fazem parte de um mapeamento inédito do MapBiomas que será apresentado nesta quarta-feira, 30 de novembro, pelo YouTube. Ele revela que o principal uso dado ao solo brasileiro continua sendo a pastagem: de toda a área desmatada no Brasil, que já se aproxima dos 35% do território nacional, aproximadamente 90% foram ou continuam sendo pastagem. Com presença nos seis biomas, ela ocupa atualmente algo em torno de 151 milhões de hectares de norte a sul do país. Mas a área total pode ser ainda maior porque esse número não integra parte dos campos naturais, principalmente no Pampa e Pantanal, que cobrem 12 milhões de hectares no país, e áreas de mosaico de usos, onde não é possível separar agricultura e pastagem (ou elas ocorrem de forma consorciada), e que cobrem 42 milhões de hectares. A partir da análise de imagens de satélite é possível identificar uma intensa dinâmica quanto às áreas de pastagens no Brasil, marcada por momentos de expansão e retração territorial. Entre 1990 e 2000, 46,4 milhões de hectares de áreas naturais e antrópicas foram convertidas em pastagem, principalmente nos biomas Amazônia e Cerrado, enquanto 19,2 milhões de hectares de áreas de pastagem foram convertidos para outros usos ou abandonados, notadamente nos biomas Cerrado e Mata Atlântica. Entre 2000 e 2021, as áreas naturais e antrópicas transformadas em pastagens totalizaram 47,1 milhões de hectares e, mais uma vez, Amazônia e Cerrado foram os principais alvos da conversão. Mas a conversão ou abandono da pastagens nesse mesmo período mais que dobrou em relação ao registrado nas duas décadas anteriores: 44,7 milhões de hectares, principalmente nos biomas Cerrado e Mata Atlântica. Entre 1985 e 2021, a agricultura e pecuária ganharam 85 milhões de hectares — um crescimento de 47%. As atividades agropecuárias cresceram em cinco dos seis biomas brasileiros, com exceção da Mata Atlântica. Pastagens brasileiras estocam mais de seis gigatoneladas de carbono De forma inédita, a Coleção 7 do MapBiomas traz estimativas de estoques de carbono no solo associados às áreas de pastagens no Brasil. Considerando as pastagens de todo o Brasil (cultivadas e nativas), o estoque total de carbono orgânico no solo é de 6,43±1,79 gigatoneladas. Especificamente para o bioma Cerrado, a recuperação de cerca de 28 milhões de hectares de pastagens com algum nível de degradação pode resultar em um ganho de aproximadamente 6% nos estoques de carbono no solo até 2030. Considerando estoques médios de carbono (toneladas por hectare), estes variam de 44 a 22 toneladas por hectare para a camada superficial do solo (0 a 20 cm) nas áreas de pastagens (nativas) do Pampa e Pantanal, respectivamente. Para os demais biomas – Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga e Cerrado – estes estoques ficam em torno de 41, 39, 36 e 33 toneladas por hectare, respectivamente. “A recuperação de pastagens degradadas e adoção de boas práticas de manejo representam um verdadeiro ganha-ganha. Ganha o produtor, com o aumento da produtividade do rebanho. E ganha o país, haja vista o maior potencial de pastagens bem manejadas em sequestrar carbono, contribuindo para a redução das emissões e para tornar a atividade pecuária, como um todo, mais sustentável”, afirma Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador geral do mapeamento das pastagens. Clique o pdf para mais informações: anexo 1.pdf Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra, em um país, disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa. #Envolverde

Amazônia mantém altos patamares de desmatamento com taxa de 11.568 km2 em 2022

Valor se mantém acima da média dos últimos 4 anos, apesar de queda em relação a 2021, e confirma ritmo de devastação descontrolado na era Bolsonaro, quando o bioma perdeu área maior que a Holanda A taxa anual de desmatamento da Amazônia estimada em 2022 foi de 11.568 km2, de acordo com os dados oficiais do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A taxa de desmatamento se refere ao período entre agosto de 2021 e julho de 2022. Os estados que lideraram a destruição no período foram o Pará, Amazonas e Mato Grosso, com 4.141 km2, 2.607 km2 e 1.906 km2 de florestas desmatadas, respectivamente. O maior aumento de desmatamento estimado foi no estado do Amazonas com 13,1% a mais em relação a 2021. O desmatamento na Amazônia se manteve nos mais altos patamares desde 2009, apesar de queda em relação ao registrado em 2021 (13.038 km2), consolidando a tendência de aumento descontrolado da devastação observada nos últimos quatro anos, durante o governo Bolsonaro. 2009 foi o ano em que a meta de redução do desmatamento para 2020 foi definida em 3.925 km2 para o ano 2020, no Plano Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil. A taxa estimada esse ano é quase 3 vezes maior. A área devastada em 2022 na Amazônia é 48,2% mais alta que a média observada nos últimos 10 anos no bioma. Nos quatro anos de governo Bolsonaro, 45.586 km2 de florestas foram destruídas – uma área maior que a Holanda ou perto de 8 vezes a extensão do Distrito Federal. A explosão do desmatamento durante a última gestão Federal é resultado do abandono do sistema de proteção ambiental, de acordo com Raul do Valle, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil. “Nos últimos anos, o desmatamento associado a atividades ilegais aumentou exponencialmente por conta da redução de fiscalização e o desmonte dos órgãos ambientais. Os números consolidados pelo sistema PRODES sobre o desmatamento da Amazônia confirmam que é urgente a retomada dos mecanismos de comando e controle”, afirmou Valle. “O novo governo precisa emitir um sinal claro de que nenhum desmatamento será tolerado e reconstruir todo o arcabouço de proteção que foi destruído. Esse caminho é vital para que o Brasil garanta sua segurança climática e retome seu papel de liderança nas questões ambientais, no cenário internacional”, acrescentou Valle. Sem essa recuperação da capacidade de fiscalização e de ação dos órgãos ambientais, a Amazônia se aproxima perigosamente de um ponto de não retorno, a partir do qual ela perderá a capacidade de prover os serviços ecossistêmicos dos quais todos nós dependemos, segundo Mariana Napolitano, Gerente de Ciências do WWF-Brasil. “Os dados consolidados de desmatamento da Amazônia do sistema PRODES comprovam o cenário dramático que o sistema DETER já apontava: o patamar dos 10 mil km2 por ano foi superado novamente, colocando a Amazônia cada vez mais perto do seu ponto de não retorno”, afirmou Napolitano. De acordo com ela, perder a Amazônia afetaria os meios de subsistência de 47 milhões de pessoas e intensificaria a emergência climática global. “Além disso, colocaria em risco a segurança alimentar em toda a América do Sul e afetaria a agricultura em outros continentes. É essencial e viável reduzir significativamente as taxas de desmatamento até sua eliminação completa em 2030. Trata-se de um imperativo humanitário diante da dupla crise do clima e da perda em massa da biodiversidade global que a humanidade está enfrentando”, disse ela. Setor agropecuário A redução drástica do desmatamento e sua eliminação completa até 2025 é uma das condições essenciais para que seja possível evitar o aquecimento do planeta acima de 1,5 graus. Além da retomada das políticas públicas, recursos e condições para fiscalização e controle do crime ambiental, a redução do desmatamento e emissões não será alcançada sem a participação do setor agropecuário. O plano de ação para reduzir o desmatamento associado à produção agrícola, proposto durante a COP 27 esse mês pelas maiores traders de commodities agrícolas, é insuficiente para atingir essa meta. A cadeia de produção de alimentos contribui com pelo menos um terço do total de emissões líquidas de GEE que estão alterando o clima do planeta. Por isso, para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, as emissões do sistema alimentar precisam diminuir em mais de 80% até 2050 – o que só será possível com uma efetiva implementação de políticas de desmatamento zero. Desmatamento no Cerrado No caso do Cerrado, para o período mais recente (agosto de 2021 a julho de 2022), o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (DETER), do INPE, apontou um aumento de 12,1% nos alertas de desmatamento quando comparado ao mesmo período do ano retrasado. Considerando os alertas desde o início do ano e até dia 17 de novembro, data da última atualização de dados, esse aumento foi de 23,2% em relação ao mesmo período em 2021. O DETER é um sistema de alertas em tempo real voltado para dar suporte à fiscalização e seus dados costumam ser corroborados pelo PRODES, que é o sistema responsável por medir as taxas oficiais de desmatamento. Portanto, é esperado também um aumento no incremento de desmatamento medido pelo PRODES no Cerrado no mesmo período, mas esses dados ainda não foram divulgados. “Além dos dados do PRODES sobre a Amazônia, é essencial termos o quanto antes a publicação dos dados do PRODES Cerrado que teve um aumento de 17,5% de desmatamento nos últimos três anos, passando de 7.260 km2 em 2018 para 8.531 km2 em 2021”, disse Mariana Napolitano. Sobre o WWF-Brasil O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 26 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática. Conheça a ONG. #Envolverde

terça-feira, 29 de novembro de 2022

PANDEMIA NÃO DIMINUIU O DESMATAMENTO

Apesar das grandes reviravoltas no primeiro ano da pandemia de COVID-19, o desmatamento global ocorreu mais ou menos conforme as tendências estabelecidas nos últimos 15 anos, de acordo com um estudo recente de pesquisadores da Alliance of Bioversity International e do CIAT. Por The Alliance of Bioversity International e International Centre for Tropical Agriculture No artigo “Has global deforestation accelerated due to the COVID-19 pandemic?” publicado em meados de novembro de 2022, os pesquisadores usaram dados históricos de desmatamento (2004–2019) do sistema de monitoramento de mudanças na cobertura da terra pantropical Terra-i para projetar tendências de desmatamento esperadas para 2020. A análise da perda de cobertura arbórea ao longo do tempo foi usada para determinar se o desmatamento observado em 2020 se desviou das trajetórias esperadas após o relato dos primeiros casos de COVID-19; tanto em nível regional para as Américas, África e Ásia quanto em nível nacional para Brasil, Colômbia, Peru, República Democrática do Congo e Indonésia. “Não foi particularmente surpreendente ver poucas mudanças”, diz Janelle Sylvester, autora correspondente do estudo e pesquisadora da Alliance. Ela disse que as taxas de desmatamento provavelmente não mudaram drasticamente por muitas razões. Por um lado, é provável que a dinâmica complexa que impulsionava o desmatamento antes da pandemia persistisse sem ser afetada pelos bloqueios. “Por exemplo, o desmatamento ilegal em áreas onde havia presença mínima do estado (governamental) antes da pandemia provavelmente continuaria durante os bloqueios”, disse ela. Além disso, ela explicou que “as forças macroeconômicas em nível global relacionadas a mudanças na demanda e na oferta combinadas com pacotes de estímulo econômico nacional poderiam ter equilibrado as pressões econômicas que estavam sendo exercidas sobre as florestas”. Louis Reymondin, que co-lidera o tema de pesquisa Transformação digital dos sistemas agroalimentares para a Alliance of Bioversity International e o CIAT, também disse que a descoberta não foi surpreendente, dado que o desmatamento é fortemente impulsionado pela pecuária e que a demanda por esses produtos continuaram durante os bloqueios em 2020. “Houve mudanças nos hábitos de consumo de alimentos, mas geralmente em direção a alimentos processados e uma dependência da agricultura industrializada”, disse ele . e governos e cientistas estão tentando avançar.” Jonathan Céspedes, o principal autor do estudo, assistente de pesquisa da Alliance of Bioversity e do CIAT durante o estudo e agora aluno de doutorado do 2º ano no Institut Polytechnique de Paris, diz que sua tarefa era avaliar os dados de desmatamento e COVID-19 para determinar possíveis relações entre ambas as variáveis. “É fundamental levar em conta que a escala espacial deste estudo é global; portanto, a próxima etapa é avaliar escalas subnacionais e locais, onde provavelmente os resultados podem ser diferentes”, disse Céspedes. Sylvester disse que, para obter um instantâneo genuíno do impacto, seriam necessárias mais pesquisas, pois os esforços de recuperação econômica nacional em resposta à pandemia podem ter efeitos de longo prazo no desmatamento que não são capturados neste estudo limitado a 2020. “No geral, vemos que as tendências de desmatamento na maioria dos países seguiram suas trajetórias esperadas; no entanto, para realmente entender os efeitos da pandemia no desmatamento, teremos que olhar para um período de tempo mais longo, digamos três anos ou mais, a fim de entender como os esforços de recuperação econômica nacional afetam a cobertura florestal”, disse Sylvester. O papel da Aliança Sylvester explicou que a expertise anterior da Alliance foi fundamental para chegar a essas conclusões. “A Alliance of Bioversity e o CIAT têm uma grande equipe trabalhando com o sistema de monitoramento de desmatamento Terra-i, sua experiência trabalhando com esses alertas de desmatamento contribuiu imensamente para este estudo”, disse Sylvester. Augusto Castro-Nunez, supervisor principal e cientista sênior para sistemas alimentares de baixa emissão na Alliance Bioversity e CIAT, disse que a Alliance é conhecida por seus muitos anos de experiência no monitoramento de mudanças na cobertura florestal. “Mais recentemente, a Aliança desenvolveu as capacidades não apenas para monitorar as mudanças, mas também para entender os motivadores subjacentes a elas”, disse ele, “Temos publicado sobre este tópico por muitos anos com foco em cenários afetados por conflitos como a Colômbia e, mais recentemente, , temos estudado os impulsionadores do desmatamento do sistema alimentar com a FAO como parceira.” pandemia não diminuiu o desmatamento Desmatamento histórico (2004–2020) detectado pelos sistemas Terra-i e Global Forest Change (GFC) para as Américas, África e Ásia, in Has global deforestation accelerated due to the COVID-19 pandemic? Referência: Céspedes, J., Sylvester, J.M., Pérez-Marulanda, L. et al. Has global deforestation accelerated due to the COVID-19 pandemic?. J. For. Res. (2022). https://doi.org/10.1007/s11676-022-01561-7 Henrique Cortez *, tradução e edição. in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Aprovação do PL do Veneno pode expor a sociedade a produtos ainda mais tóxicos, diz MPT

Manifestação encaminhada a senadores alerta sobre riscos presentes em projeto de lei que muda regras para autorização do registro de agrotóxicos. Texto pode ser votado na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) A aprovação do Projeto de Lei (PLS) nº 1.459/2022, que muda regras para autorização do registro de agrotóxicos, pode colocar os trabalhadores e a sociedade brasileira diante do risco de exposição a produtos ainda mais tóxicos. É o que o Ministério Público do Trabalho (MPT) aponta em manifestação encaminhada a senadores no dia 21 de novembro. O PL pode ser votado na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). No documento, o MPT afirma que a proposta altera profundamente o regime de produção bem como o controle e o uso de agrotóxicos, com direta violação aos princípios da prevenção, da precaução, da informação e da vedação ao retrocesso, fragilizando a defesa do meio ambiente e as metas da segurança alimentar e da saúde humana. Além disso, a instituição ressalta que a medida compromete, em especial, o direito fundamental à preservação da saúde dos agricultores, proprietários e trabalhadores rurais em geral. A manifestação alerta que o PLS facilita o registro de produtos mutagênicos, cancerígenos e tóxicos, tornando possível que esses produtos sejam utilizados no país. O texto aponta que pesquisas realizadas no Ceará, em Piauí, em São Paulo, em Mato Grosso, no Paraná e no Rio Grande do Sul vêm identificando relação entre a exposição aos agrotóxicos e a ocorrência de alterações hormonais, câncer infantil, abortos, puberdade precoce e suicídios, com graves riscos a trabalhadores e suas famílias, além das comunidades e consumidores. Atualmente, cerca de 40% dos 1.624 agrotóxicos autorizados desde 2019 no Brasil utiliza formulações banidas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Outra mudança nas regras destacada pelo MPT é a possibilidade de fabricação de agrotóxicos no Brasil sem que seja necessário o registro desses produtos pelos órgãos reguladores. O PL torna dispensável a apresentação de dados toxicológicos e ambientais que são cruciais para a adoção de medidas de proteção e de redução de danos em casos de exposição humana e ambiental a essas substâncias. “Essa medida compromete a adoção de medidas de prevenção de agravos, diagnóstico e tratamento das intoxicações dos trabalhadores envolvidos nessa cadeia produtiva, que inclui aqueles envolvidos na fabricação, no transporte ou mesmo os envolvidos no atendimento de emergências e acidentes, como profissionais de saúde, bombeiros e policiais”, diz a manifestação. Tramitação – Após sofrer diversas modificações, o PL 6.299/2002 foi aprovado pelo Plenário da Câmara dos Deputados no dia 9 de fevereiro deste ano. No lugar da proposta original, que mudava apenas dois artigos, o texto enviado ao Senado possui 67 artigos e modificou integralmente a matéria sem que houvesse discussão aprofundada sobre o tema. O MPT esclarece que a proposição não diz respeito apenas ao comércio e à produção agrícola, motivo pelo qual defende que o projeto de lei também deve ser submetido à análise da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa; da Comissão de Assuntos Sociais e da Comissão de Meio Ambiente do Senado. Por meio de sua Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL), o MPT vem promovendo articulação institucional para que não sejam aprovadas regras prejudiciais aos trabalhadores e à sociedade em geral. A manifestação foi elaborada pela Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat) do MPT. A acesse a íntegra no site do MPT: https://mpt.mp.br/. Ministério Público do Trabalho Procuradoria-Geral do Trabalho in EcoDebate, ISSN 2446-9394

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

EcoDebate - Edição Nº 3.936

Boletim de atualização da revista eletrônica EcoDebate Edição de 28/11/2022 Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura A Índia ultrapassou a União Europeia nas emissões de CO2 As emissões de carbono continuam aumentando, tornando cada vez mais difícil deter o aquecimento global e colocar em prática os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris www.ecodebate.com.br Como o bem-estar animal contribui para a saúde dos cães e gatos Vivemos em uma época em que cada vez mais os cães e gatos são vistos como membros da família, e por isso, precisamos sempre buscar informações que melhorem a saúde e o bem-estar desses animais www.ecodebate.com.br Estudo indica que a Amazônia está secando Para cada grau de aquecimento acima de 1,5°C até 12% do norte da Amazônia experimentará mudanças abruptas para baixo no carbono da vegetação www.ecodebate.com.br Mudança climática interfere no papel do plâncton no sumidouro de carbono O aquecimento do Atlântico Norte está fazendo com que o plâncton mude em abundância e distribuição, indicando uma ameaça ao clima da Terra www.ecodebate.com.br Alerta dos cientistas sobre mudanças climáticas e o 'apocalipse de insetos' Indico um novo artigo importante - um alerta dos cientistas sobre o colapso contínuo das populações globais de insetos. www.ecodebate.com.br Aumento da temperatura do planeta ameaça à saúde humana global Os riscos à saúde como consequência do aumento da temperatura média do planeta acima dos 1.5°C sobre as temperaturas pré-industriais já são claramente reconhecidos pela comunidade científica www.ecodebate.com.br Os negacionistas da Terra finita Produção e consumo da humanidade ultrapassa a capacidade de carga da Terra degradando os ecossistemas e provocando uma grande redução das demais espécies vivas do Planeta www.ecodebate.com.br

Artigo: “A gestão dos resíduos sólidos urbanos e o novo marco legal”

Por Cintia Barudi Lopes* – “A destinação ambientalmente adequada do lixo, contribuiria significativamente para que o País cumprisse a meta assumida na Conferência do Clima (COP-26) em Glasgow de redução de 30% da emissão de gás metano” Conforme dados de notícia divulgada pela Revista DOM Total, no Brasil, metade das cidades brasileiras descarta seu lixo de forma ambientalmente inadequada, conforme apontado no Índice de Sustentabilidade Urbana (ISLU 2021); ainda em 2016, 55% das cidades utilizam lixões a céu aberto para o descarte dos resíduos. Caso ocorresse, a destinação ambientalmente adequada do lixo, contribuiria significativamente para que o País cumprisse a meta assumida na Conferência do Clima (COP-26) em Glasgow de redução de 30% da emissão de gás metano, uma vez que, o saneamento é responsável por 5% das emissões de gases-estufa gerados no País em função dos lixões a céu aberto. (a notícia pode ser acessada em https://domtotal.com/noticias/?id=1551874). A legislação brasileira tem empenhado esforços para proposição de soluções no setor de resíduos sólidos urbanos. A Política Nacional incrementada pela Lei n°12.305/2010, o Novo Marco Legal do Saneamento, Lei n° 14.026/20, a Norma de Referência n°01 da ANA, os decretos federais n.º 10.936, 11.043 e 11.044, todos de 2022, representam um conjunto normativo voltado à tomada de ações dos setores que estimulem a reutilização e reciclagem, o sistema de logística reversa, o desenvolvimento de tecnologia limpa com o aproveitamento energético e padrões sustentáveis de produção e de consumo. Ocorre que o diagnóstico do setor de resíduos sólidos no país anda a passos lentos na implementação das proposições legais. Existem desafios nos mais variados segmentos do lixo: doméstico, hospitalar, industrial, nuclear e tecnológico. O descarte de grande parte desses dejetos ainda é feito em lixões a céu aberto, sem técnicas adequadas, consideradas de alto custo. Recorde-se que quando se fala em saneamento básico no Brasil, compreende-se quatro grandes eixos de serviços: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos urbanos e limpeza urbana e, finalmente, drenagem de águas pluviais. Os Estados tinham a possibilidade de regionalizar todos os eixos dos serviços de saneamento a fim de que os ganhos de eficiência e aumento de investimento no setor, em especial da iniciativa privada, fossem atingidos com o formato de subsídios cruzados, de modo que Municípios com déficit orçamentários pudessem ser financiados por Municípios superavitários. A pesquisa do Grupo de Direito Administrativo Contemporâneo da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie em parceria com o Instituto Saverr: “Mapeamento da Regionalização do Saneamento Básico no país: perspectivas e desafios” constatou que, todos os Estados priorizaram os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, deixando em segundo plano a questão do manejo de resíduos sólidos urbanos, limpeza urbana e de drenagem de águas pluviais. Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Pernambuco e Roraima foram os Estados que incluíram no seu processo de regionalização os serviços de drenagem de águas pluviais. O Estado do Ceará, apesar de incluir em sua legislação (Lei Complementar nº 247/2021) a drenagem de água pluvial, ao que parece prioriza outro eixo, tendo em vista que existem duas concessões em andamento, uma PPP de natureza administrativa em Fortaleza e Cariri, estruturada pelo BNDES e, outra, de natureza comum em Crato, modelada pela CEF, ambas de esgotamento sanitário. O Projeto de Lei em tramitação perante a Assembleia Legislativa de Goiás (PLC n° 6306/2021) contempla na estrutura regionalizada, além de água e esgoto, os serviços de manejo de resíduos sólidos e limpeza urbana. Rondônia prevê em sua legislação (Lei n° 4955/2021) que o Estado regionalize os serviços de água, esgoto, manejo de resíduos sólidos urbanos e drenagem de água pluvial, deixando de fora apenas os de limpeza urbana. Destaca-se ainda o projeto de lei de em tramitação no Estado de Minas Gerais (PL n° 2884/2021) que prevê a criação de 22 (vinte e duas) Unidades Regionais de Água e Esgoto e 34 (trinta e quatro) Unidades Regionais de Gestão de Resíduos Sólidos. Diante do cenário atual de regionalização em que poucos Estados brasileiros incluíram em sua legislação os serviços de manejo de resíduos sólidos urbanos, questiona-se: os Estados perderam a oportunidade de agrupar Municípios para dividir esforços na busca de gestão eficiente dos serviços de manejo e descarte do lixo? O Portal Resíduos Sólidos, em Estudo de Regionalização e proposição de arranjos intermunicipais, alerta que os pequenos municípios, quando associados, de preferência com os de maior porte, podem superar a fragilidade da gestão, racionalizar e ampliar a escala no tratamento dos resíduos sólidos e ter um órgão preparado tecnicamente para gerir os serviços, podendo inclusive, operar unidades de processamento de resíduos, garantindo sua sustentabilidade. Quando comparada ao modelo atual, no qual os municípios manejam seus resíduos sólidos isoladamente, a gestão associada possibilita reduzir custos. O ganho de escala no manejo dos resíduos, conjugado à implantação da cobrança pela prestação dos serviços, garante a sustentabilidade econômica dos consórcios e a manutenção de pessoal especializado na gestão de resíduos sólidos. (o Portal pode ser acessado em https://portalresiduossolidos.com/estudo-de-regionalizacao-e-proposicao-de-arranjos-intermunicipais/). Apesar do Novo Marco Legal estimular a regionalização dos serviços de saneamento básico, o fato é que os eixos priorizados no processo se referem ao abastecimento de água potável e esgotamento sanitário. Mais uma vez o setor de resíduos sólidos urbanos ficou à mercê da discricionariedade estatal para a tomada de ações voltadas a solucionar os problemas ambientais produzidos pelo descarte inadequado do lixo. Perdeu-se, portanto, uma grande oportunidade de agrupar Municípios menores, com os de maior porte, a fim de que houvesse um planejamento e gestão conjuntos, compartilhamento de tecnologia no setor, diminuição de custos operacionais e capacitação de servidores para melhoria dos quadros técnicos destinados à implementação das políticas de resíduos sólidos, ainda tão carentes de efetivação. Diante do cenário atual da regionalização, não se sabe ao certo qual será o destino da prestação dos serviços de distribuição de água e de esgoto, quiçá dos resíduos sólidos que mais uma vez foram deixados de lado para ganho de eficiência, escala, redução de custos e novos investimentos privados no setor. Sobre Instituto Saverr O Instituto Saverr Sustentabilidade é sem fins lucrativos, tem por finalidade o desenvolvimento de pesquisas para a sustentabilidade em todos os segmentos, com a promoção das boas práticas para o Desenvolvimento Sustentável. Acesse a Pesquisa na íntegra: https://bit.ly/PesquisaRegionalizaçãoSaneamento Pesquisadores responsáveis pelo Mapeamento da Regionalização do Saneamento no país citado no texto: Antonio Cecílio Moreira Pires, Cintia Barudi Lopes, Lilian Regina Gabriel Moreira Pires, Luísa Vieira Almeida, Marcus Andrade Covre, Thays Rodrigues da Costa. *Doutora em Direito Administrativo pela Puc-SP. Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. Pesquisadora e Advogada. #Envolverde

Brasil é o primeiro país do mundo a monitorar desenvolvimento sustentável de todas as suas cidades

Por Plurale em Site – Lançado nesta sexta-feira (8), o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades mostra grande desequilíbrio regional. Enquanto São Paulo concentra as 10 cidades com os melhores indicadores, o Pará tem 43 das 100 piores classificadas. O Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) lançou nesta sexta-feira (8), em São Paulo, o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades — Brasil (IDSC-BR), ferramenta que monitora o nível de engajamento de todos os 5.570 municípios brasileiros aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O IDSC-BR reúne dados de todas as cidades brasileiras, em cruzamento com mais de 100 indicadores, permitindo verificar o grau de desenvolvimento de cada uma delas em relação a cada um dos 17 ODS. O levantamento permite fazer diversos cruzamentos e comparações, construindo um Ranking ODS com cidades e regiões. Há um índice para cada objetivo e outro para o conjunto dos 17 ODS, permitindo avaliar o grau de desenvolvimento dos municípios para o cumprimento da Agenda 2030 de modo geral, e para cada objetivo que ela estabelece, em particular. Com isso, o Brasil torna-se o primeiro país do mundo a monitorar e avaliar a nível de evolução da sustentabilidade de todas as suas cidades a partir dos objetivos da Agenda 2030 da ONU. “Trata-se de um instrumento estratégico para gestores públicos, uma vez que a análise dos resultados permite orientar a ação política municipal, além de definir referências e metas com base em indicadores de gestão e facilitar o monitoramento dos ODS em nível local”, explicou Jorge Abrahão, coordenador geral do ICS, no evento de lançamento nesta sexta (8), no auditório da Bienal do Parque do Ibirapuera. O lançamento aconteceu dentro da programação do 1º Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Cidades, agenda do ICS na Virada ODS, evento da Prefeitura de São Paulo que será realizado de 8 a 10 de julho. A Agenda 2030 e os ODS surgiram em 2015 como um grande pacto global. Assinado por 193 países-membros da ONU, incluindo o Brasil, o acordo representa uma ambiciosa agenda comum para o enfrentamento de grandes desafios de ordem econômica, social e ambiental. São 17 objetivos e 169 metas, que requerem ações conjuntas envolvendo governos, sociedade civil e empresas. “Nesse contexto, há um enorme desafio para as cidades. Como implementar e levar os ODS para o nível local? Como traduzir os compromissos definidos pela ONU em metas e indicadores monitoráveis, capazes de serem medidos e comparados ao longo do tempo, de modo que se possa acompanhar e avaliar a sua evolução?”, perguntou o coordenador geral do ICS, apontando o IDSC-BR como um instrumento capaz de apoiar a gestão pública nesse processo. Melhor desempenho nas cidades de São Paulo Em uma análise geral, o levantamento do ICS corrobora o desequilíbrio social, econômico e ambiental regional, revelando uma distância enorme entre os índices alcançados pelos municípios das regiões Sudeste e Norte do país. Enquanto as 10 cidades com melhor desempenho de desenvolvimento sustentável concentram-se no estado de São Paulo, 43 das 100 piores ranqueadas ficam apenas no estado do Pará. O estado de São Paulo não tem nenhuma cidade no nível muito baixo de desenvolvimento. Apenas 5 municípios do estado estão abaixo da média nacional, sendo a pior o município do Pirapora. A cidade de São Paulo foi a capital que registrou a melhor performance, com destaque para indicadores de abastecimento de água potável — com 99,3% da população atendida — e coleta seletiva — 79% da população atendida, além do gasto total do orçamento da cidade de São Paulo em saúde ser de R? 942,76 per capita, valor acima da referência, que é de R? 1.300,00 per capita. Apesar disso, a desigualdade de renda em São Paulo é pior do que em Macapá (AP), que registrou o pior índice geral entre todas as capitais. Além disso, São Caetano do Sul foi a cidade que apresentou os melhores indicadores de ODS. No município do ABC paulista, 100% da população é atendida com abastecimento de água potável e coleta seletiva. O gasto total do orçamento municipal em saúde é de R? 2.324,03 per capita, bem acima da referência. Municípios do Norte e Nordeste mais frágeis A região conhecida como Amazônia Legal, composta pelos estados brasileiros que abrigam o bioma, apresenta as cinco piores capitais dentro do índice, com destaque negativo para Macapá (AP), com a nota mais baixa. Nenhuma cidade da composição geográfica aparece com nível alto ou muito alto no levantamento do IDSC-BR e apenas 16 estão em uma classificação média. Todos os 100 municípios com os números mais frágeis estão nas regiões Norte e Nordeste do país. De acordo com o índice, Macapá é a pior capital no ranking. Apenas 37,56% da população de Macapá recebe abastecimento de água potável, enquanto o orçamento municipal de saúde é de apenas R? 329,00 per capita, muito abaixo da referência. E o percentual da população analfabeta com 15 anos ou mais é de 6,17, mais que o dobro da meta (3). Santana do Araguaia, no Pará, é o município que apresenta os piores indicadores do país. Apenas 8,8% dos jovens até 19 anos completaram o Ensino Médio e a taxa de adequação idade/ano no ensino fundamental é 49,6. Isso significa que quase a metade dos alunos tem idade de dois ou mais anos acima da esperada para o ano em que estão matriculados. Nas questões de gênero, o município tem baixos índices: 42% das mulheres de 15 a 24 anos de idade não estudam nem trabalham; a presença de mulheres na Câmara de Vereadores é da ordem de 26% e a taxa de feminicídio é de 17,5 por 100 mil habitantes. O valor de referência para o indicador é de 1 feminicídio para cada 100 mil habitantes. A taxa de desemprego é de 19,45%; entre os jovens, o percentual é de 27,2%. E 31% dos jovens da cidade de 15 a 24 anos de idade não estudam nem trabalham. Metodologia A metodologia do IDSC-BR foi elaborada pela rede SDSN (UN Sustainable Development Solution Network), uma iniciativa que nasceu dentro da própria ONU para mobilizar conhecimentos técnicos e científicos da academia, da sociedade civil e do setor privado no apoio de soluções em escalas locais, nacionais e globais. O IDSC-BR será apresentado como solução para as cidades também durante o próximo High Level Political Forum, reunião preparatória da Assembleia Geral das Nações Unidas que acontece de 5 a 15 de julho e tem a intenção de expandir sua metodologia para outras cidades da América Latina. A pontuação do IDSC é atribuída no intervalo entre 0 e 100 e pode ser interpretada como a porcentagem do desempenho ótimo. A diferença entre a pontuação obtida e 100 é, portanto, a distância em pontos percentuais que uma cidade precisa superar para atingir o desempenho ótimo. O mesmo conjunto de indicadores foi aplicado a todos os municípios para gerar pontuações e classificações comparáveis. Diferenças entre a posição de cidades na classificação final podem ocorrer por causa de pequenas distâncias na pontuação do IDSC. Além da pontuação e da classificação de cada cidade, o índice também apresenta os Painéis ODS, que fornecem uma representação visual do desempenho — o nível de desenvolvimento — dos municípios nos 17 ODS. O sistema de classificação por cores (verde, amarelo, laranja e vermelho) indica, portanto, em que medida um município está longe de atingir o objetivo. Quanto mais próximo do vermelho, mais distante de alcançar o ODS. #Envolverde

Favelas no Brasil crescem em ritmo acelerado e ocupam 106 mil hectares

Dados do MapBiomas mostram que de cada 100 hectares de favela, 15 foram construídos em áreas de risco Nos últimos 37 anos, as áreas urbanizadas no país passaram de 1,2 milhão de hectares para 3,7 milhões. Nesse período, as áreas informais totalizaram 106 mil hectares – uma expansão de aproximadamente três vezes a área da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Esses dados são do mais recente levantamento do MapBiomas sobre áreas urbanizadas, feito a partir da análise deimagens de satélite captadas entre 1985 e 2021. A maior parte da área urbanizada em favelas se concentra nas capitais. Manaus é um dos destaques: a capital do Amazonas possui o maior crescimento na série histórica, totalizando cerca de 10 mil campos de futebol em 2021. São Paulo (5.579 ha), Belém (5.450 ha), Rio de Janeiro (5.038 ha) e Salvador (4.793 ha) vêm na sequência. Todas registram crescimento semelhante em área informal, mesmo que possuindo características territoriais próprias. A Amazônia lidera o percentual de crescimento das ocupações informais do território: 29,3% do crescimento urbano nesse bioma foi em áreas informais. A região norte possui 13 das 20 cidades com maior proporção de crescimento, com Belém entre as cinco primeiras da lista. “O crescimento das favelas tem um comportamento parecido com o das áreas urbanizadas, mas na década de 90 as áreas informais aceleraram o avanço. A expansão da urbanização tem impactos no consumo dos recursos naturais, na qualidade de vida e, de uma maneira geral, na sustentabilidade urbana, mas quando falamos das favelas, além disso, há uma chance muito grande do aumento de ocupação de áreas de risco por populações mais vulneráveis”, explica Julio Cesar Predrassoli, um dos coordenadores do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas. As imagens de satélite permitiram identificar que a ocupação urbana como um todo em áreas de risco aumentou 3 vezes entre 1985 e 2021, e em áreas informais esse avanço foi ainda maior: 3,4 vezes. De cada 100 hectares de favela, 15 foram construídos em áreas de risco. Das 887 cidades com alguma área urbanizada em áreas de risco, apenas 20 cidades respondem por 36% de toda a área de risco ocupada nos últimos 37 anos. Salvador (BA), Ribeirão das Neves (MG), Jaboatão dos Guararapes (PE), São Paulo (SP), Recife (PE) e Belo Horizonte (MG) são as seis primeiras da lista. O Cerrado lidera o ranking dos biomas com o maior aumento das áreas urbanizadas em risco com 382%, seguido da Caatinga com 310%, Amazônia com 303%, Mata Atlântica com 297%, Pampa com 193% e por último o Pantanal com 187%. Como o ranking é feito por área e Petrópolis tem uma extensão urbana pequena, a cidade não está no topo da lista, mas é um dos exemplos mais emblemáticos das consequências da ocupação de áreas de risco que vem ocorrendo na região desde o século XIX. O Cerrado foi também o bioma que mais perdeu vegetação nativa para a expansão urbana. Dos mais de 558 mil hectares de formações naturais que foram convertidos para áreas urbanizadas entre 1985 e 2021, 28% (156,5 mil hectares) estavam no Cerrado. Em segundo lugar vem a Mata Atlântica (13008 mil ha), seguido pela Amazônia (123 mil ha), Caatinga (108 mil ha), Pampa (40 mil ha) e Pantanal (778 ha). O levantamento ainda mostrou que a maior expansão das áreas urbanizadas ocorreu sobre áreas de uso agropecuário. Entre 1985 e 2021, os 2,5 milhões de hectares que foram urbanizados eram 67,8% de uso agropecuário: 30,7% eram áreas de pastagens, 30,5% mosaicos de uso e de agricultura eram6,4%. “Apesar da agropecuária ter quase 70% de crescimento nas áreas urbanas, é o avanço sobre a vegetação nativa que nos chama atenção. Proporcionalmente, alguns estados perderam mais da metade da sua cobertura natural para as áreas urbanizadas, afetando os ecossistemas naturais em que se inserem as cidades e contribuindo para uma resposta menos eficiente aos desafios climáticos”, aponta Mayumi Hirye, coordenadora do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas. A perda total das formações naturais para áreas urbanas foi de 22,2% em 37 anos. No Piauí, 68,4% (29.029 ha) da urbanização ocorreu sobre cobertura natural, as formações florestais e savânicas somam 26.421 hectares perdidos. No Amazonas, foram perdidos 59,9% (17.159 ha) da cobertura natural, como florestas e campos alagados. O Ceará perdeu 58,6% (53.845 ha), com destaque para formações savânicas. A perda no Mato Grosso foi de 51,2% (38.156 ha), as formações savânicas,campestres e florestais somam mais de 36 mil ha. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, localizados na Mata Atlântica, têm as duas maiores áreas urbanizadas do país e juntos eles perderam quase 38 mil hectares de vegetação nativa: foram perdidos, respectivamente, 26.655 ha e 10.982 ha. O Pantanal e Pampa são os biomas com a maior proporção de vegetação nativa em áreas urbanas tanto de alta como de baixa densidade. Já na Amazônia observou-se a maior perda de vegetação nativa, em ambas as áreas de densidade. “As áreas de baixa densidade compreendem as áreas de expansão das cidades, onde os serviços ecossistêmicos da vegetação poderiam ser incorporados em novos bairros, mais verdes e sustentáveis”, adverte Hirye. O destaque fica para a Mata Atlântica: são cerca de 730 mil ha de vegetação nativa em áreas urbanas de baixa densidade. A Mata Atlântica, que concentra mais da metade das áreas urbanizadas (53%), também é líder no ranking da ocupação urbana de faixas marginais (30 m) de corpos hídricos por bioma. Em 2021, o bioma correspondeu a 67% de toda a ocupação urbana que pressiona as margens dos corpos hídricos. Além disso, 280 mil hectares da Mata Atlântica são de áreas urbanizadas de baixa densidade. Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org #Envolverde

domingo, 27 de novembro de 2022

Cenários indicam que o limite de 1,5°C de aquecimento será ultrapassado

Depois da COP27, todos os sinais apontam para o mundo explodindo além do limite de aquecimento global de 1,5°C. Eis o que ainda podemos fazer sobre isso Por Peter Schlosser* Vice-presidente e vice-reitor do Julie Ann Wrigley Global Futures Laboratory, Arizona State University O mundo ainda poderia, teoricamente, cumprir sua meta de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 grau Celsius , um nível que muitos cientistas consideram um limiar perigoso . Realisticamente, é improvável que isso aconteça. Parte do problema ficou evidente na COP27, a conferência climática das Nações Unidas no Egito. Enquanto os negociadores climáticos das nações lutavam com sucesso para “manter 1,5°C vivo” como meta global no acordo oficial , alcançado em 20 de novembro de 2022, alguns de seus países negociavam novos acordos de combustíveis fósseis , impulsionados em parte pela crise global de energia. Qualquer expansão de combustíveis fósseis – o principal fator da mudança climática – torna muito mais difícil manter o aquecimento abaixo de 1,5°C (2,7° Fahrenheit) em comparação com os tempos pré-industriais. As tentativas nas negociações sobre o clima para fazer com que todos os países concordem em eliminar gradualmente os subsídios ao carvão, petróleo, gás natural e todos os combustíveis fósseis falharam. E os países fizeram pouco para fortalecer seus compromissos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa no ano passado. Houve movimentos positivos, incluindo avanços em tecnologia , queda nos preços da energia renovável e países se comprometendo a reduzir suas emissões de metano . Mas todos os sinais agora apontam para um cenário em que o mundo ultrapassará o limite de 1,5°C , provavelmente em grande quantidade. A Organização Meteorológica Mundial estima que as temperaturas globais têm 50% de chance de atingir 1,5°C de aquecimento, pelo menos temporariamente, nos próximos cinco anos. Isso não significa que a humanidade pode simplesmente desistir. Por que 1,5 graus? Durante o último quarto do século XX, as mudanças climáticas devido às atividades humanas tornaram-se uma questão de sobrevivência para o futuro da vida no planeta. Desde pelo menos a década de 1980, as evidências científicas do aquecimento global têm sido cada vez mais firmes , e os cientistas estabeleceram limites de aquecimento global que não podem ser excedidos para evitar a passagem de uma crise climática global para uma catástrofe climática em escala planetária. Existe um consenso entre os cientistas do clima , inclusive eu, de que 1,5°C de aquecimento global é um limite além do qual a humanidade interferiria perigosamente no sistema climático. Sabemos pela reconstrução dos registros climáticos históricos que, nos últimos 12.000 anos, a vida foi capaz de prosperar na Terra a uma temperatura média anual global de cerca de 14°C (57 F). Como seria de esperar do comportamento de um sistema complexo, as temperaturas variaram, mas nunca aumentaram mais de 1,5°C durante esse regime climático relativamente estável . Hoje, com o mundo 1,2°C mais quente do que os tempos pré-industriais, as pessoas já estão experimentando os efeitos das mudanças climáticas em mais locais, mais formas e em frequências e amplitudes mais altas. As projeções dos modelos climáticos mostram claramente que o aquecimento acima de 1,5°C aumentará drasticamente o risco de eventos climáticos extremos, incêndios florestais mais frequentes e de maior intensidade, aumento do nível do mar e mudanças nos padrões de inundações e secas com implicações no colapso dos sistemas alimentares, entre outros impactos adversos. E pode haver transições abruptas , cujos impactos resultarão em grandes desafios em escalas locais a globais. Reduções acentuadas e emissões negativas Atingir a meta de 1,5°C neste ponto exigirá reduções acentuadas nas emissões de dióxido de carbono, mas isso por si só não é suficiente. Também exigirá “emissões negativas” para reduzir a concentração de dióxido de carbono que as atividades humanas já colocaram na atmosfera. O dióxido de carbono permanece na atmosfera por décadas a séculos, portanto, apenas interromper as emissões não interrompe seu efeito de aquecimento. Existe tecnologia que pode retirar o dióxido de carbono do ar e prendê-lo. Ainda está operando em uma escala muito pequena, mas acordos corporativos como o compromisso de 10 anos da Microsoft de pagar pelo carbono removido podem ajudar a ampliá-lo. Um relatório de 2018 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas determinou que atingir a meta de 1,5°C exigiria reduzir as emissões de dióxido de carbono em 50% globalmente até 2030 – além de emissões negativas significativas de fontes naturais e tecnológicas até 2050 até cerca de metade do presente- emissões do dia. Ainda podemos manter o aquecimento em 1,5°C? Desde que o acordo climático de Paris foi assinado em 2015, os países fizeram algum progresso em suas promessas de reduzir as emissões , mas em um ritmo muito lento para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C. As emissões de dióxido de carbono ainda estão aumentando , assim como as concentrações de dióxido de carbono . na atmosfera . Um relatório recente do Programa Ambiental das Nações Unidas destaca as deficiências . O mundo está a caminho de produzir 58 gigatoneladas de emissões de gases de efeito estufa equivalentes a dióxido de carbono em 2030 – mais do que o dobro do que deveria ser para o caminho para 1,5°C. O resultado seria um aumento médio da temperatura global de 2,7°C (4,9 F) neste século, quase o dobro da meta de 1,5°C. Dada a diferença entre os compromissos reais dos países e os cortes de emissões necessários para manter as temperaturas em 1,5 C, parece praticamente impossível ficar dentro da meta de 1,5°C. As emissões globais não estão próximas do platô e, com a quantidade de dióxido de carbono já existente na atmosfera, é muito provável que o mundo atinja o nível de aquecimento de 1,5°C nos próximos cinco a 10 anos . Quão grande será o excesso e por quanto tempo ele existirá depende criticamente da aceleração dos cortes de emissões e da ampliação de soluções de emissões negativas, incluindo a tecnologia de captura de carbono. Neste ponto, nada menos que um esforço extraordinário e sem precedentes para reduzir as emissões salvará a meta de 1,5°C. Sabemos o que pode ser feito – a questão é se as pessoas estão prontas para uma mudança radical e imediata das ações que levam à mudança climática, principalmente uma transformação de um sistema de energia baseado em combustíveis fósseis. Henrique Cortez *, tradução e edição. * Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês: https://theconversation.com/after-cop27-all-signs-point-to-world-blowing-past-the-1-5-degrees-global-warming-limit-heres-what-we-can-still-do-about-it-195080 in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Brasil pagou US$3.6 bilhões a mais por importações de fertilizantes – custo quase triplicou

Por ClimaInfo – Agricultores e governos do G20 gastaram US$ 21,8 bilhões a mais nas principais importações de fertilizantes em 2021 e 2022, enquanto as maiores empresas de fertilizantes do mundo devem ter lucro de quase US$ 84 bilhões no mesmo período, de acordo com uma nova análise divulgada pela GRAIN e pelo Institute for Política Agrícola e Comercial hoje. A Comissão Europeia deve publicar seus planos para aumentar a produção doméstica e tornar os agricultores da UE menos dependentes de fertilizantes em 9 de novembro. Os Chefes de Estado do G20 também discutirão a crise dos fertilizantes quando se reunirem na Indonésia de 15 a 16 de novembro. “A Armadilha de Fertilizantes” pede ações para reduzir o consumo de fertilizantes químicos caros e prejudiciais. Ele revela: As nações do G20 pagaram quase três vezes mais pelas importações de fertilizantes em 2022 em comparação com 2020. A conta adicional pelas importações de fertilizantes em 2021 e 22 foi de pelo menos US$ 4,8 bilhões para a Índia, US$ 3,6 bilhões para o Brasil e US$ 3 bilhões para a UE. Nove países em desenvolvimento pagaram duas a três vezes mais pela importação de fertilizantes em 2022 em relação a 2020. Em 2021 e 2022, a Etiópia – onde 20 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar – gastou um total adicional de US$ 384 milhões, enquanto os custos do Paquistão aumentaram em US$ 874 milhões. Nove das maiores empresas de fertilizantes do mundo devem ter lucro de US$ 57 bilhões em 2022 – quatro vezes o valor que fizeram em 2020. Isso equivale a duas vezes o PIB do Senegal, que pagou US$ 64 milhões a mais por importações de fertilizantes nos últimos dois anos. O custo total da crise de fertilizantes – incluindo o aumento do custo da produção nacional – deverá ser muito maior. David Calleb Otieno, da Liga dos Camponeses do Quênia, disse: “Os agricultores estão lutando, mas as grandes empresas de fertilizantes estão obtendo lucros recordes. Os governos precisam parar de usar fundos públicos para subsidiar fertilizantes químicos e apoiar uma mudança para práticas agrícolas agroecológicas que sejam melhores para agricultores, consumidores e o planeta.” O custo dos fertilizantes químicos disparou desde 2020, juntamente com o custo do gás natural – um ingrediente-chave na produção de fertilizantes nitrogenados. A interrupção das exportações da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia – os maiores produtores de fertilizantes do mundo – como resultado da guerra e a lucratividade de poderosas empresas de fertilizantes alimentaram ainda mais os aumentos de preços. Um punhado de empresas domina o mercado global de fertilizantes de US$ 200 bilhões, com apenas quatro – Nutrien, Yara, CF Industries e Mosaic – controlando um terço de toda a produção de fertilizantes nitrogenados. Esse domínio de mercado permitiu que eles repassassem custos crescentes aos consumidores, mantendo ou até aumentando suas margens de lucro. O aumento nos preços dos fertilizantes está colocando os agricultores e os orçamentos do governo sob severa pressão econômica e contribuindo para a inflação dos preços dos alimentos. A ONU alertou que as colheitas podem ser atingidas se os preços permanecerem altos. A produção na África pode diminuir em mais de 20% à medida que os agricultores reduzem o uso de fertilizantes e a área de terra cultivada. Em países onde a agricultura industrial é dominante, o fertilizante é aplicado em excesso e seu uso pode ser reduzido significativamente sem afetar os rendimentos. Na Alemanha, um estudo descobriu que apenas 61% dos fertilizantes chegam às plantações de trigo, o que significa que 39% são desperdiçados. No México, apenas 45% dos fertilizantes chegam às lavouras, no Canadá apenas 59% e na Austrália apenas 62%. Numerosos estudos de todo o mundo também mostraram que é possível substituir os fertilizantes químicos por práticas agrícolas agroecológicas, mantendo ou aumentando os rendimentos. A agricultura agroecológica usa fertilizantes naturais, como composto ou plantas que fixam nitrogênio no solo. Chukki Nanjundaswamy, de Karnataka Rajya Raitha Sangha, uma das maiores organizações de agricultores da Índia, disse: “Os agricultores da Índia estão em crise existencial por causa da dívida causada por fertilizantes químicos e pesticidas caros. usando insumos químicos sem afetar os rendimentos, usando o conhecimento local e sementes, e pode levar uma vida de autossuficiência.” A Dra. Sophia Murphy, Diretora Executiva da IATP, disse: “A era dos fertilizantes químicos baratos acabou. Para reduzir os preços e proteger a produção de alimentos, os governos devem acabar com a especulação corporativa, parar o uso excessivo de fertilizantes químicos, aumentar a produção de alternativas orgânicas e redirecionar os gastos públicos para práticas agrícolas agroecológicas que causam menos danos do que os fertilizantes químicos.” Os fertilizantes químicos são uma importante fonte de poluição do ar, da água e do solo e respondem por uma em cada 40 toneladas de emissões globais de gases de efeito estufa. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) disse que uma mudança para uma agricultura de baixo consumo mais diversificada é fundamental para manter a segurança alimentar em um clima em mudança. Devlin Kuyek, pesquisador da GRAIN, disse: “As empresas de fertilizantes estão fazendo lobby por apoio para aumentar a produção de fertilizantes, apesar dos custos para os agricultores e dos danos que causam ao nosso meio ambiente, clima e solos. Agricultores de todo o mundo precisam ser apoiados para se libertarem da armadilha de fertilizantes para proteger a produção de alimentos agora e no futuro.” O relatório completo está disponível no link #Envolverde

“Das cloacas da Roma antiga à privada de Bill Gates”: Livro revela histórias, mazelas e conquistas do saneamento básico

Livro revela histórias, mazelas e conquistas do saneamento básico no Brasil e no mundo e propõe debate sobre caminhos possíveis Correndo escondido sob o solo, misturado por séculos às águas limpas dos rios e do mar, renegado ao segundo plano urbanístico de governos e nações, o saneamento se impõe como pauta emergencial após uma tradição de descaso. As graves consequências da invisibilidade, o contexto por trás dos fatos e os principais agentes desta trajetória são tema do livro “A Epopeia do Saneamento: da revolução sanitária às tecnologias do futuro”, Letra Capital Editora, de Aspásia Camargo e Márcio Santa Rosa. Uma obra que reúne história, engenharia sanitária, política, urbanismo e economia e apresenta caminhos para um desafio que une toda a humanidade. Como escreve no texto de apresentação Gesner Oliveira, professor e coordenador do Centro de Estudos de Infraestrutura e Soluções Ambientais da Fundação Getúlio Vargas, “Epopeia do Saneamento” é “um dos relatos mais ricos sobre a história do saneamento no país”. O livro tem início com uma homenagem. Na verdade, 120 homenageados são destacados por sua atuação relevante no setor. O primeiro deles, Dom Pedro II. Visionário, amante da ciência, curioso em relação a tecnologias, o imperador do Brasil foi o responsável por trazer ao país uma nova maneira de tratar o esgoto e a água potável que acabara de surgir na até então fétida Londres. O Rio de Janeiro foi, de acordo com os autores, a terceira cidade do mundo a viver a revolução sanitária surgida pouco tempo antes na Inglaterra e adotada também por Hamburgo, na Alemanha. – Dom Pedro II é o nosso herói. Um homem verdadeiramente à frente do seu tempo, que vislumbrou a importância do saneamento para a manutenção da vida. Só lamentamos que tivemos que esperar mais de um século e meio para ver o sonho do imperador começar a se realizar – conta Aspásia. O caminho percorrido pelo saneamento, que começa séculos antes de Cristo, é revelado em texto e imagens. Das primeiras cloacas públicas na Roma antiga, passando pelo famoso “trono” de Elizabeth I, todas as conquistas e mazelas são dissecadas. O livro aprofunda a análise das decisões equivocadas tomadas ao longo desse percurso pelos governantes, assim como as omissões e a falta de políticas públicas eficazes que levaram o mundo a viver hoje dois grandes paradoxos: a água que sofre com a extrema poluição se tornou a maior commodity da atualidade, e o sistema de esgoto, criado para não ser visto, não pode mais ser ignorado e se impôs pela sua falência. – São 20 capítulos que devem ser lidos aos poucos, de gota em gota. Uma viagem fascinante por diferentes aspectos deste tema que é tão complexo e vital – afirma Aspásia. Apesar dos longos períodos de estagnação e retrocesso, a civilização registra marcos históricos que fizeram avançar o debate e as iniciativas para reduzir o impacto da falta de coleta adequada e de tratamento do esgoto sobre a saúde da população e o meio ambiente. No cenário global, o livro destaca, por exemplo, a criação de políticas mundiais para as questões ambientais, capitaneadas pela Organização das Nações Unidas, com o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (o ODS 6 trata de água potável e saneamento para todos), a realização dos Fóruns Mundiais da Água e a disseminação do conceito da economia verde. No caso do Brasil, a publicação enaltece o papel heroico de pessoas e instituições que empunharam e empunham a bandeira do saneamento universal, denunciando fracassos e apontando caminhos. A frase destacada do jornalista Fernando Gabeira, por exemplo, dita em 2010 (“O saneamento é uma conquista do século XIX, que ainda não conseguimos realizar em pleno século XXI. Esta é uma derrota da nossa geração”) reflete sua reação diante da constatação do fracasso do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. Em termos de trabalho institucional positivo, o livro aponta a criação do Instituto Trata Brasil, dedicado a produzir dados confiáveis sobre saneamento no país, e a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio que, sob a presidência de Aspásia, produziu um relatório completo sobre a situação do saneamento no Estado do Rio de Janeiro. Também valoriza o papel da imprensa para a comunicação pública do tema e dá dois exemplos bem próximos dos fluminenses, implantados há tempo suficiente para mostrar resultados animadores: a concessão dos serviços na área da AP5 (parte da Zona Oeste do Rio) e no município de Niterói, líder no ranking das melhores cidades do estado e que tem no saneamento ambiental seu pilar mais forte. Um dos pontos altos do livro é a reconstrução das misérias do saneamento no Estado do Rio e as mudanças que ocorreram, com o plano estratégico de Jaime Lerner e o planejamento proposto pelo Instituto Rio Metrópole, sob o comando de Vicente Loureiro. Tais mudanças culminaram com o leilão da Cedae e o início do trabalho dos consórcios vencedores, uma atuação que já está mudando o panorama ambiental fluminense. O novo Marco Legal do Saneamento surge como excelente oportunidade para resolver o problema brasileiro, permitindo a realização dos leilões e a concessão dos serviços à iniciativa privada, sem tirar do poder público sua responsabilidade de criar as políticas que deverão ser adotadas. – Estamos vivendo um grande momento em que a universalização é uma possibilidade com mais potencial de realidade do que nunca. E a nossa obstinação por fazer um trabalho tão denso e extenso como este é o nosso testemunho de que acreditamos na universalização, mesmo com o prazo curto de entrega até 2033. Mas deixamos claro no livro as condições para que isso aconteça, além das cláusulas determinadas nos contratos das concessionárias, que terão que ser materializadas para que o processo se conclua – afirma Márcio Santa Rosa. A obra aborda ainda o potencial que esta área reserva em relação à economia circular. O texto traz análises de novas tecnologias ligadas à sustentabilidade como a busca por um sistema de descarga financiado pelo bilionário americano Bill Gates, que promete revolucionar o setor. Tudo contado e analisado por dois especialistas que viveram de perto, nas últimas décadas, o debate e os marcos do saneamento brasileiro, e do Rio de Janeiro em particular. Um trabalho feito por dois “sonhadores”, como os próprios autores se definem por acreditarem que, mais do que nunca, existe solução para essa questão. O engenheiro civil Márcio Santa Rosa, técnico e pesquisador da água, trouxe na bagagem a sua militância nos comitês de bacias hidrográficas, além de sua participação nos programas de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) e de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam) e na coordenação do Plano de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da candidatura do Rio para os Jogos Olímpicos de 2016. Já Aspásia Camargo, doutora em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da Universidade de Paris, foi também presidente do IPEA e secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente no governo Fernando Henrique, quando coordenou a Comissão de Desenvolvimento Sustentável que produziu a Agenda 21 Brasileira. Participou ainda das negociações com a Secretaria Nacional de Recursos Hídricos para aprovação da Lei das Águas, em 1997, que criou o comitê de bacias hidrográficas e a agência de águas, regionalizando a gestão participativa dos recursos hídricos. Para completar o debate iniciado com o “A Epopeia do Saneamento”, Aspásia e Márcio gravam uma série de podcasts com convidados que são expoentes na área. Livro e podcasts trazem à tona um alerta: o tempo para transformar o saneamento básico no Brasil, onde 50% não contam com rede de coleta de esgoto e 15% não têm acesso à água potável, se esgotou. Os autores deixam clara a mensagem de que é urgente a necessidade de adoção de medidas transformadoras com a vigência do Marco Legal do Saneamento. É preciso exigir saneamento básico em todas as 5.570 cidades brasileiras. Uma batalha digna do título do livro. “Epopeia” é um gênero literário que versa sobre acontecimentos históricos ou míticos considerados fundamentais para a formação das culturas. Uma realidade que se impõe no Brasil e no mundo. A publicação tem o patrocínio da Águas do Rio, Aegea, Rio 2030, Cedae e Glória Mariani. A Epopeia do Saneamento Lançamento: 5 de dezembro de 2022, a partir das 19h Livraria da Travessa do Shopping Leblon #Envolverde

sábado, 26 de novembro de 2022

A COP27 terminou sem uma resposta adequada à crise climática

Talvez ainda mais preocupante seja a ausência de um compromisso renovado para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis Por 30 anos, as nações em desenvolvimento lutaram para estabelecer um fundo internacional para pagar pelas “perdas e danos” que sofrem como resultado da mudança climática. Quando a cúpula do clima da COP27 no Egito terminou no fim de semana, eles finalmente conseguiram. Matt McDonald* Professor Associado de Relações Internacionais, Universidade de Queensland Embora seja um momento histórico, o acordo de financiamento de perdas e danos deixou muitos detalhes ainda a serem resolvidos. Além do mais, muitos críticos lamentaram o resultado geral da COP27, dizendo que está muito aquém de uma resposta suficiente à crise climática. Como Alok Sharma, presidente da COP26 em Glasgow, observou: Amigos, eu disse em Glasgow que o pulso de 1,5 graus era fraco. Infelizmente, ele permanece em suporte de vida. Mas as conferências anuais não são a única maneira de buscar uma ação significativa sobre a mudança climática. A mobilização de ativistas, forças de mercado e outras fontes de impulso significa que a esperança não está perdida. Um grande avanço: perdas e danos Havia esperanças de que a COP27 levasse a novos compromissos de redução de emissões, compromissos renovados para a transferência de recursos para o mundo em desenvolvimento, fortes sinais para uma transição para longe dos combustíveis fósseis e o estabelecimento de um fundo para perdas e danos. Por qualquer estimativa, o grande avanço da COP27 foi o acordo para estabelecer um fundo para perdas e danos. Isso envolveria nações ricas compensando os países em desenvolvimento pelos efeitos da mudança climática, especialmente secas, inundações, ciclones e outros desastres. A maioria dos analistas tem sido rápida em apontar que ainda há muito a esclarecer em termos de doadores, destinatários ou regras de acesso a esse fundo. Não está claro de onde realmente virão os recursos, ou se países como a China contribuirão, por exemplo. Esses e outros detalhes ainda não foram acertados. Também devemos reconhecer as lacunas potenciais entre promessas e dinheiro na mesa, dado o fracasso dos estados desenvolvidos em entregar US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático para os estados em desenvolvimento até 2020. Isso foi assumido em Copenhague em 2009. Mas foi uma luta significativa para colocar a questão das perdas e danos na agenda do Egito. Portanto, o acordo para estabelecer esse fundo é claramente um resultado monumental para os países em desenvolvimento mais vulneráveis aos efeitos da mudança climática – e menos responsáveis por ela. Foi também uma vitória para os anfitriões egípcios, que fizeram questão de mostrar sua sensibilidade às questões enfrentadas pelo mundo em desenvolvimento. O fundo surge 30 anos depois que a medida foi sugerida pela primeira vez por Vanuatu em 1991. Notícia não tão boa O fundo de perdas e danos quase certamente será lembrado como o resultado principal da COP27, mas outros desenvolvimentos foram menos promissores. Entre elas, várias lutas para manter os compromissos assumidos em Paris em 2015 e em Glasgow no ano passado. Em Paris, as nações concordaram em limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C, e de preferência a 1,5°C neste século, em comparação com os níveis pré-industriais. Até agora, o planeta aqueceu 1,09°C e as emissões estão em níveis recordes . As trajetórias de temperatura tornam cada vez mais desafiador para o mundo limitar os aumentos de temperatura a 1,5°C. E o fato de manter esse compromisso no Egito foi uma luta duramente vencida que lança algumas dúvidas sobre o compromisso global com a mitigação. A China, em particular , questionou se valia a pena manter a meta de 1,5°C, e isso se tornou uma disputa importante nas negociações. O ministro da Mudança Climática da Nova Zelândia, James Shaw , disse que um grupo de países estava minando as decisões tomadas em conferências anteriores. Ele acrescentou isto: realmente veio à tona nesta COP, e temo que houve apenas uma batalha massiva que, no final das contas, nenhum dos lados venceu. Talvez ainda mais preocupante seja a ausência de um compromisso renovado para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, que havia sido sinalizado em Glasgow. Os países produtores de petróleo, em particular, lutaram contra isso. Em vez disso, o texto final observou apenas a necessidade de uma “redução gradual da energia inabalável do carvão”, que muitos consideraram inadequada para a urgência do desafio. Da mesma forma, as esperadas regras para acabar com o greenwashing e novas restrições aos mercados de carbono não estavam por vir. Tanto esse resultado quanto o fracasso em desenvolver novos compromissos para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis refletem, sem dúvida , o poder dos interesses e lobistas dos combustíveis fósseis. O presidente da COP26, Alok Sharma, capturou a frustração dos países da coalizão de alta ambição, dizendo : Juntamo-nos a muitos partidos para propor uma série de medidas que teriam contribuído para [aumentar a ambição]. Pico de emissões antes de 2025, como a ciência nos diz ser necessário. Não neste texto. Acompanhamento claro da redução gradual do carvão. Não neste texto. Compromissos claros para eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis. Não neste texto. E o texto energético enfraqueceu nos minutos finais. E como lamentou o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres : “Nosso planeta ainda está na sala de emergência”. Além da COP27? No final, delegados exaustos assinaram um acordo inadequado, mas evitaram em grande parte o retrocesso que parecia possível durante dias tensos de negociações. A criação de um fundo para perdas e danos é claramente um resultado importante da COP27, mesmo com detalhes ainda a serem aprofundados. Mas, por outro lado, as negociações não podem ser vistas como um resultado inequivocamente positivo para a ação na crise climática – especialmente com muito pouco progresso na mitigação de emissões. E enquanto o mundo hesita, a janela de oportunidade para responder efetivamente à crise climática continua se fechando. É importante observar, no entanto, que embora as COPs sejam claramente significativas na resposta internacional à crise climática, elas não são o único jogo disponível. A mobilização e o ativismo público, as forças de mercado, os programas de ajuda e desenvolvimento e a legislação nos níveis local, estadual e nacional são locais importantes da política climática – e, potencialmente, de mudanças significativas. Há uma infinidade de exemplos. Veja o fenômeno internacional das greves climáticas nas escolas ou a aquisição da AGL Energy pelo ativista climático Mike Cannon-Brookes . Eles apontam para a possibilidade de ação sobre a mudança climática fora das negociações climáticas internacionais formais. Portanto, se você está desesperado com o progresso limitado da COP27, lembre-se disso: nações e comunidades determinadas a se livrar dos combustíveis fósseis farão mais para enfraquecer o poder do setor do que a maioria dos acordos internacionais poderia realisticamente esperar alcançar. Henrique Cortez *, tradução e edição. * Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês: https://theconversation.com/cop27-one-big-breakthrough-but-ultimately-an-inadequate-response-to-the-climate-crisis-194056 in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Fundo de perdas e danos da COP27 pode ser outra promessa climática vazia

Para os países em desenvolvimento, existe um perigo real de que isso se transforme em outro “fundo placebo”, um arranjo de financiamento sem nenhum compromisso Adil Najam* Professor of International Relations, Boston University As nações em desenvolvimento ficaram justificadamente exultantes no encerramento da COP27, quando negociadores de países ricos de todo o mundo concordaram pela primeira vez em estabelecer um fundo dedicado de “perdas e danos” para países vulneráveis prejudicados pelas mudanças climáticas. Foi um reconhecimento importante e árduo do dano – e de quem carrega pelo menos alguma responsabilidade pelo custo. Mas o fundo pode não se materializar da maneira que os países em desenvolvimento esperam. Eu estudo a política ambiental global e acompanho as negociações climáticas desde o seu início na Cúpula da Terra no Rio em 1992 . Aqui está o que está no acordo alcançado na COP27, as negociações climáticas das Nações Unidas no Egito em novembro de 2022, e por que ele é muito promissor, mas muito poucos compromissos. 3 perguntas-chave Todas as decisões nessas conferências climáticas da ONU – sempre – são notas promissórias. E o legado das negociações climáticas é de promessas não cumpridas . Essa promessa, por mais bem-vinda que seja, é particularmente vaga e pouco convincente, mesmo para os padrões da ONU. Essencialmente, o acordo apenas inicia o processo de constituição de um fundo. A decisão implementável é a criação de um “comitê de transição”, encarregado de fazer recomendações para o mundo considerar na conferência do clima de 2023, a COP28, em Dubai. Importante para os países ricos, o texto evita termos como “responsabilidade” e “compensação”. Essas foram as linhas vermelhas para os Estados Unidos. As questões operacionais mais importantes também foram deixadas para 2023. Três, em particular, devem perseguir a próxima COP. 1) Quem pagará a este novo fundo? Os países desenvolvidos deixaram bem claro que o fundo será voluntário e não deve se restringir apenas às contribuições dos países desenvolvidos. Dado que os tão alardeados US$ 100 bilhões por ano que os países ricos prometeram em 2015 para fornecer aos países em desenvolvimento ainda não se materializaram, acreditar que os países ricos estarão colocando seu coração neste novo empreendimento parece ser mais um triunfo da esperança sobre a experiência. . 2) O fundo será novo, mas será adicional? Não está claro se o dinheiro do fundo será dinheiro “novo” ou simplesmente ajuda já comprometida para outras questões e transferida para o fundo. Na verdade, a linguagem da COP27 poderia ser facilmente interpretada como favorecendo acordos que “complementam e incluem” fontes existentes, em vez de financiamento novo e adicional. 3) Quem receberia o apoio do fundo? À medida que os desastres climáticos aumentam em todo o mundo, podemos tragicamente entrar em desastres competindo com desastres – minha seca é mais urgente do que sua inundação? – a menos que princípios explícitos de justiça climática e o princípio do poluidor-pagador sejam claramente estabelecidos. Porque agora? O reconhecimento de que os países cujas emissões excessivas têm causado mudanças climáticas têm a responsabilidade de pagar pelos danos impostos às nações mais pobres tem sido uma demanda perene dos países em desenvolvimento nas negociações climáticas . De fato, um parágrafo sobre “perdas e danos” também foi incluído no Acordo de Paris de 2015, assinado na COP21. O que a COP27 em Sharm el-Sheikh, no Egito, fez foi garantir que a ideia de perdas e danos seja uma característica central de todas as futuras negociações climáticas. Isso é grande. Observadores experientes deixaram Sharm el-Sheikh se perguntando como os países em desenvolvimento foram capazes de promover a agenda de perdas e danos com tanto sucesso na COP27, quando ela foi resistida com tanta firmeza por grandes países emissores como os Estados Unidos por tanto tempo. emissões per capita de co2 Emissões per capita de CO2 A lógica da justiça climática sempre foi impecável: os países que mais contribuíram para criar o problema são quase o oposto daqueles que enfrentam o risco mais iminente de perdas e danos climáticos. Então, o que mudou? Pelo menos três coisas fizeram da COP27 o momento perfeito para esta questão amadurecer. Primeiro, uma série implacável de desastres climáticos apagou todas as dúvidas de que agora estamos firmemente no que tenho chamado de “ era da adaptação ”. Os impactos climáticos não são mais apenas uma ameaça para amanhã; são uma realidade a ser enfrentada hoje. Em segundo lugar, as inundações devastadoras neste verão que inundaram um terço do meu país natal, o Paquistão, deram ao mundo uma noção imediata e extremamente visual de como podem ser os impactos climáticos, especialmente para as pessoas mais vulneráveis. Eles afetaram 33 milhões de pessoas e devem custar mais de US $ 16 bilhões . As inundações, além de uma série de outras calamidades climáticas recentes, forneceram aos países em desenvolvimento – que passou a ser representado na COP27 por um Paquistão energizado como presidente do “G-77 mais China”, uma coalizão de mais de 170 países em desenvolvimento – com a motivação e a autoridade para promover uma agenda de perdas e danos com mais vigor do que nunca. Finalmente, é possível que a fadiga do COP também tenha desempenhado um papel. Os países industrializados – particularmente os EUA e membros da União Europeia, que tradicionalmente bloqueiam as discussões sobre perdas e danos – continuam distraídos com a guerra da Rússia na Ucrânia e os efeitos econômicos da pandemia do COVID-19 e pareciam mostrar menos resistência imediata do que na passado. É importante ressaltar que, por enquanto, os países em desenvolvimento conseguiram o que queriam: um fundo para perdas e danos. E os países desenvolvidos puderam evitar o que sempre não quiseram dar: quaisquer compromissos concretos de financiamento ou qualquer reconhecimento de responsabilidade pelas reparações. Ambos podem ir para casa e declarar vitória. Mas não por muito. É apenas um ‘fundo placebo’? Por mais real que seja o júbilo para os países em desenvolvimento, ele também é moderado. E com razão. Para os países em desenvolvimento, existe um perigo real de que isso se transforme em outro “ fundo placebo ”, para usar o termo do pesquisador da Universidade de Oxford Benito Müller – um arranjo de financiamento acordado sem nenhum compromisso de financiamento acordado. Em 2001, por exemplo, os países em desenvolvimento ficaram encantados quando três fundos foram estabelecidos: um fundo climático para apoiar os países menos desenvolvidos , um Fundo Especial para Mudanças Climáticas e um Fundo de Adaptação . Nenhum jamais alcançou a escala prometida. Escrevendo antes da COP15 em Copenhague em 2009, Müller declarou corajosamente que os países em desenvolvimento nunca mais “se contentariam com mais ‘fundos placebo ‘”. Espero sinceramente que ele não tenha se enganado em Sharm el-Sheikh. Henrique Cortez *, tradução e edição. * Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês: https://theconversation.com/cop27s-loss-and-damage-fund-for-developing-countries-could-be-a-breakthrough-or-another-empty-climate-promise-194992 in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Existem ‘modismos’ na Medicina? artigo de Montserrat Martins

Circula um vídeo de uma jovem explicando o espectro autista, depois que a Folha de S. Paulo publicou matéria sobre o “modismo” desse diagnóstico. O vídeo sugere que o jornal não compreenderia o que é ser um autista, mas, afinal, existem “modismos” na Medicina? Messi, por exemplo, tem sido apontado como “autista” nas redes sociais, o que é um claro exagero, pois confunde esse espectro com outras variáveis humanas de personalidade extremamente comuns, como timidez, introversão, que podem incluir, sim, alguns instantes de desligamento, sem que preencham os critérios diagnósticos para o espectro autista. Esses exageros acontecem em muitas áreas da Medicina e na Psiquiatria em especial, já que os fenômenos comportamentais são mais subjetivos e podem ser produzidos por causas muito diferentes entre si. É o caso da TDAH (Transtorno por Déficit de Atenção e Hiperatividade), cada vez mais diagnosticado nas escolas para qualquer criança que não apresente o desempenho esperado. Roberto Carlos foi entrevistado quando ficou viúvo e o repórter perguntou se ele estava deprimido, ao que o cantor respondeu que “eu estou triste, não deprimido”. Resposta exata, pois a tristeza é parte normal do luto, enquanto a depressão é um transtorno que inclui sentimentos de culpa e auto desvalia. Ao mesmo tempo em que existem muitos transtornos do humor a serem diagnosticados, também há casos de excessos em diagnósticos de depressão e até mesmo de bipolaridade. “Harmonização facial” é o modismo atual da Cirurgia Plástica. Em outra área da Medicina, a Ortopedia, em relação aos problemas da coluna há um modismo de cirurgias sem que tenham sido esgotadas as possibilidades de tratamento através da Fisioterapia. Há dietas que viram moda durante algum tempo, como se fossem milagrosas. Uma pesquisadora da USP chamou de “epidemia de diagnósticos” o possível exagero de diagnósticos de determinadas doenças. E há “epidemias” verdadeiras, na área de psiquiatria, como o aumento dos casos depressão e ansiedade no auge da Covid. Montserrat Martins é Médico Psiquiatra in EcoDebate, ISSN 2446-9394