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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

À revelia dos Estados nordestinos, Brasil decidirá em 2012 se constrói novas usinas nucleares

O Brasil vai decidir em 2012 se seguirá ou não com o projeto para construção de pelo menos quatro novas usinas nucleares, como estava previsto até o início deste ano. O plano de expansão nuclear sofreu um duro golpe com acidente de Fukushima, em março de 2011. O vazamento de material radioativo no Japão –devido a um tsunami ocasionado por um terremoto– teve impacto no outro lado do mundo e paralisou os projetos para instalação de novas usinas. Por enquanto, o plano brasileiro segue com a construção de Angra 3, que não foi paralisada após o acidente no Japão. Reportagem de Aliny Gama e Carlos Madeiro, do UOL Notícias.
A meta inicial do governo federal era anunciar em 2011 o local onde duas novas usinas nucleares seriam construídas no Nordeste. Com o episódio, não só a definição das áreas ficou comprometida, como os Estados que até então lutavam para receber os empreendimentos agora mostram receio em receber os investimentos bilionários.
A Eletronuclear –empresa ligada à Eletrobras e responsável por operar e construir as usinas termonucleares do país– informou ao UOL Notícias que, após a repercussão mundial causada pelo acidente de Fukushima, o Brasil vai rediscutir, em 2012, se os investimentos previstos serão levados adiante ou não. O debate será feito na elaboração do PNE (Plano Nacional de Energia) 2035, que será lançado pelo Ministério de Minas e Energia no próximo ano. “Esse documento vai definir o planejamento energético brasileiro para as próximas décadas e dizer qual será a contribuição futura da energia nuclear”, afirmou Leonam dos Santos Guimarães, assistente da Presidência da Eletronuclear.
Segundo o PNE 2035, o governo federal tinha como meta investir R$ 20 bilhões nos próximos anos, ou seja, R$ 5 bilhões em cada uma das quatro unidades de 1.000 megawatts –sendo duas no Nordeste e duas no Sudeste. “O pagamento [do investimento] se dará ao longo de 15 anos e será acrescido de juros. E o investimento poderá ser amortizado durante o período a partir da geração de caixa da própria usina. Como a vida útil do empreendimento supera os 60 anos, a nova usina nuclear produzirá eletricidade e proporcionará significativo retorno durante quase meio século após a amortização do investimento inicial”, explicou.
A Eletronuclear afirma que já tem um mapa nacional com 40 áreas, identificadas como aptas para o recebimento de novas usinas nucleares. Segundo Guimarães, o processo ficou paralisado nos últimos meses por conta de novas avaliações sobre a segurança da energia nuclear. “[O acidente de Fukushima] está promovendo em todo o mundo novos estudos, debates e posicionamentos, que, obviamente, estão retardando eventuais tomadas de decisão sobre novos empreendimentos nucleares”, alegou.
Apesar da necessidade de investimentos, que serão definidos no PNE 2035, a Eletronuclear diz que não há motivo para abortar a ideia de construir novas usinas nucleares no país, a exemplo das já existentes em Angra dos Reis (RJ). “É justa a preocupação da sociedade, e cabe à Eletronuclear demonstrar com transparência seus procedimentos e evidenciar a segurança de suas operações. Mas o acidente nuclear no Japão não implica em elementos objetivos que possam alterar os rumos atuais do Programa Nuclear Brasileiro, a não ser a incorporação das lições técnicas que estão sendo aprendidas, que aperfeiçoarão sua segurança num processo de melhoria contínua”, disse Guimarães.
Para garantir a segurança das operações, a Eletronuclear elaborou um plano de resposta ao acidente de Fukushima, onde definiu ações para aprimorar a segurança das usinas nucleares brasileiras. “O programa contará com investimentos de R$ 300 milhões e inclui 52 iniciativas que serão executadas a curto, médio e longo prazo”, diz, citando que, entre os itens que estão sendo analisados, está a proteção contra ondas e inundações por eventos externos –exatamente a causa do acidente no Japão.
Estados saem da disputa
Se até o início do ano a construção de usinas nucleares era um “sonho de consumo”, que abriu uma verdadeira batalha entre os quatro Estados nordestinos pré-selecionados (Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe), hoje a instalação desses empreendimentos se tornaram motivo de preocupação para as autoridades. Todos já admitem até desistir da participação no processo, caso não sejam apresentadas novas tecnologias de segurança aos investimentos.
Segundo a Eletronuclear, a região dos empreendimentos ficará entre o litoral de Recife e Salvador, os dois maiores centros de carga do Nordeste. Os Estados são cortados por “grandes rios que desembocam nesse litoral”.
Informações extraoficiais dão conta de que a primeira usina nordestina seria construída em Itacuruba, no sertão pernambucano, às margens do rio São Francisco. Mas, após o episódio em Fukushima, o governo do Estado decidiu engavetar o projeto e informou que vai aguardar tecnologias de segurança para evitar uma obra que traria sérios riscos à saúde da população.
O secretário executivo de Recursos Hídricos e Energéticos de Pernambuco, José Almir Cirilo, informou, por meio da assessoria de imprensa, que o acidente nuclear no Japão fez não só Pernambuco, mas todo o mundo repensar na execução de projetos nucleares. “A secretaria não tem previsão para retomar os trabalhos do projeto. Esperamos as tecnologias amadureçam e isso não tem um prazo certo, definido, para repensarmos no projeto”.
Outro forte candidato a receber a usina, a Bahia também não escondeu o desinteresse em recebê-las. O superintendente de Energia e Comunicações da Secretaria estadual de Infraestrutura, Silvano Ragno, diz que o governo decidiu batalhar por projetos que gerem energia limpa “para não expor a população a riscos.”
Segundo Ragno, a Bahia quer aproveitar o potencial de energia eólica para produzir cerca de 1.700 megawatts/mês, aproveitando apenas as forças dos ventos. “Diminuímos o interesse pela geração de energia nuclear depois que vimos o que ocorreu com o Japão. O governo deu preferência a projetos que gerem energia limpa, sem riscos para a população. Apesar das tecnologias avançadas que nos dariam uma certa garantia de riscos mínimos, agora não temos mais essa certeza”, disse.
A Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Alagoas também informou que o Estado vai aguardar pela apresentação de novos estudos técnicos que garantam mais segurança às operações de usinas nucleares. Até a apresentação desses resultados, o Estado informou que o assunto está “fora da pauta energética.”
O UOL Notícias entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento de Sergipe na semana passada mas, até a publicação desta reportagem, não recebeu resposta. Porém, em março, o governador Marcelo Déda (PT) publicou nota afirmando que era necessário rediscutir a expansão da matriz nuclear com segurança. “A pretensão do Estado de Sergipe em disputar a instalação de uma usina no nosso território pressupõe garantias plenas de segurança das instalações. Sem essas garantias, não há como defender tais empreendimentos”, disse.

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FONTE : EcoDebate, 30/12/2011

Belo Monte: Esqueceram do custo socioambiental, artigo de André Villas-Bôas

A mais polêmica obra do PAC, a Hidrelétrica de Belo Monte, é parte de um projeto antigo do governo brasileiro, cujas modificações ao longo dos anos geram desinformação. A iniciativa do grupo de artistas que compõe o movimento gota d”água surge no momento em que o início da construção da obra suscita questionamentos. O vídeo dos artistas está provocando um debate amplo e necessário sobre a política energética do país.
Belo Monte é tida como a terceira maior usina hidrelétrica do mundo. No entanto, a energia firme de Belo Monte é de 4.571MW dos 11.233MW instalados. Sua eficiência energética é de aproximadamente 39% enquanto a média brasileira está entre 50% e 60%. Isso ocorre porque é necessário, ao desviar a água do Xingu para um lago artificial, garantir a manutenção de uma vazão mínima para os cerca de cem quilômetros da região da Volta Grande do Xingu, onde vivem índios e ribeirinhos que, apesar de não terem suas áreas alagadas, serão afetados.
O valor total da obra é incerto. De acordo com Norte Energia será de 27,46 bilhões de reais, porém já foram feitas estimativas muito diferentes disso. Historicamente grandes obras na Amazônia custam até duas vezes mais do que o anunciado inicialmente.
O tamanho da área alagada, de acordo com o edital do leilão de Belo Monte, é de 668km2, mas em 2009 registravam-se 440km2 e em 2010, 516km2. A destruição da floresta associada à Belo Monte, entretanto, será muito maior do que a área do lago, podendo chegar, nos próximos 20 anos, a 5.316km2.
Uma hidrelétrica é, geralmente, considerada geradora de “energia limpa”. Porém, os impactos socioambientais diretos e indiretos da construção de uma usina da magnitude de Belo Monte na Amazônia geram consequências que vão além da emissão de gases causadores de efeito estufa e das áreas afetadas diretamente com as construções. Deslocamento de milhares de pessoas, desmatamentos, acirramento de conflitos de terra em função da atração de pelo menos 96 mil pessoas para uma região com situação fundiária instável e sem infraestrutura.
Todos esses impactos poderiam ser previstos, compensados ou mitigados, caso os estudos tivessem sido feitos prévia e conclusivamente, e o processo de licenciamento previsto por lei respeitado. O tratamento da obra na lógica de fato consumado, sob o fantasma do apagão, fez com que direitos constitucionais dos diversos povos não fossem respeitados e investimentos preventivos não fossem realizados. O Estado se vê na contingência de remendar ações mitigatórias cuja conta não é agregada ao valor real da obra.
O Brasil deveria investir na diminuição da perda gerada nas linhas de transmissão, estimada atualmente em 20%, quantidade correspondente à geração de Belo Monte por ano e em outras fontes. A geração de eletricidade por biomassa tem potencial de 28 mil MW e o potencial eólico é de 143 mil MW. Com a média anual de radiação no Brasil entre 1.742 e 2.300 KWh/m2, apenas 5% da energia atenderia toda a demanda brasileira atual por eletricidade. O Brasil deve ainda considerar no planejamento energético a construção de hidrelétricas, porém de forma seletiva e considerando os custos socioambientais associados.
Falta vontade política para fazer investimentos em energias alternativas de forma a torná-las viáveis em curto prazo e para discutir de fato a política energética do país.

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FONTE : Artigo originalmente publicado em O Globo e socializado pelo ClippingMP
EcoDebate, 30/12/2011

Meio Ambiente: Trabalhar sob a ótica da solução, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos

Seria por demais importante para a sociedade brasileira que os pesquisadores e todos os demais profissionais que de alguma maneira trabalham com questões de cunho ambiental assumissem em sua prática uma constatação que já de há muito se nos apresenta clara e contundente: não há posicionamento filosófico, ideológico, político, por mais justo e belo que seja, que substitua ou dispense uma sólida e consistente base científica e tecnológica.
Agregaria mais um atributo ainda a essa indispensável base científica e tecnológica: ser traduzida em propostas práticas e factíveis de pronta aplicação.
Não que as postulações filosóficas, ideológicas e políticas não façam sentido, obviamente são também indispensáveis e são elas que, ao limite, vão propiciar as mudanças culturais e comportamentais necessárias à alteração do rumo suicida com que o Homem vem conduzindo suas relações com o Planeta. Mas o dilema que se nos apresenta hoje estabelece, inexoravelmente, que se não minimizarmos desde já certas consequências de erros crassos que vêm sendo cometidos por ações humanas junto ao Meio Ambiente, por certo os prejuízos causados à população atingirão patamares insuportáveis, e até a possível recuperação de alguns equilíbrios e condições ambientais de enorme importância poderão se tornar definitivamente impraticáveis.
Poderíamos citar um elenco grande de situações que bem ilustrassem essas afirmações, algumas de caráter planetário, outras de caráter regional ou local, mas talvez bastasse nominar algumas dessas últimas para bem exemplificar o dilema colocado: os processos erosivos urbanos e rurais associados ao assoreamento da rede de drenagem e reservatórios de abastecimento, às enchentes, à destruição de infra-estrutura e ao empobrecimento agrícola de solos; a contaminação de águas superficiais e profundas (aquíferos) estratégicas; os riscos de epidemias gravíssimas oriundas das atuais técnicas de produção pecuária intensiva; a poluição do ar em nossas metrópoles e suas decorrências para a saúde da população; o trágico avanço de expansões urbanas sobre regiões serranas, os graves problemas agronômicos, ambientais e sanitários associados à fronteira agrícola que tange a floresta amazônica, os riscos da escassez energética…
Nesse contexto, é por demais preocupante o número de jovens profissionais que estão a se formar, positivamente envolvidos com a questão ambiental, mas que estão apenas a se satisfazer com o proselitismo (sem dúvida necessário) das pregações ambientalistas e com a manifestação de justas denúncias frente aos descalabros ambientais que estão aí a se cometer por todos os lados; talvez imaginando que sua colaboração e responsabilidade se esgotariam na participação em organizações ambientalistas ou em órgãos vocacionados a ações de fiscalização ambiental. Mas, compreendam, não podem parar por aí. A pregação por um novo mundo ambientalmente sustentável é necessária, assim como o exercício da cidadania com ações de denúncia e fiscalização e seus desdobramentos, mas se nos satisfizermos somente com elas poderemos estar, paradoxalmente, colaborando com a insensatez e, ao limite, até inviabilizando a real possibilidade de um futuro melhor, tal será a gravidade de perdas ambientais e humanas irreparáveis que estão aí a acontecer hoje e agora. É imperativo trabalhar sob a ótica da solução. Conhecer os fenômenos, produzir soluções, propô-las e articular sua aplicação considerado o mundo real em que vivemos.
Para tanto, não há outra opção para nossos jovens profissionais, é preciso queimar pestanas e neurônios, mergulhar com disposição no aprofundamento científico e tecnológico, com método e persistência; menos eventos eloquentes e mais horas solitárias de estudo e pesquisa, transformando-se em efetivos participantes da construção da base científico-tecnológica do país de seus sonhos; o que não deixa de ser supremamente gratificante.
Em outros termos, preocupando-se em produzir propostas técnicas práticas e viáveis de pronta aplicação. E alertados de que essa viabilidade muitas vezes tem que ser estendida também ao campo político, qual seja o campo das atuais relações entre os mais diversos agentes sociais e políticos que participam, com trunfos de poder e influência, de nossa sociedade. Nesse cenário, não serão poucas as vezes que as dificuldades políticas e administrativas em implementar as propostas produzidas serão equivalentes ou maiores que aquelas que tiveram que ser enfrentadas para, no campo da ciência e da tecnologia, produzi-las. E aí redobra-se a necessidade de bem administrar os atributos políticos da paciência, da persistência e, porque não, da habilidade de persuasão e negociação.
Nossos jovens estudantes, formandos e recém-formados estejam mais do que nunca certos da consistência de uma velha e surrada afirmação: o futuro deles depende. Poderá ser um futuro brilhante para a espécie humana, e mais especificamente em nosso caso, para a sociedade brasileira, mas também poderá ser um futuro triste e trágico. Como diria Guimarães Rosa, carece escolher.

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FONTE : Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
  • Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia
  • Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Cubatão” e “Diálogos Geológicos”
  • Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente
  • Criador da técnica Cal-Jet de proteção de solos contra a erosão
  • Articulista do Portal EcoDebate
EcoDebate, 30/12/2011

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Estudo sugere que a evolução dos mamíferos está associada a mudanças climáticas

Ascensão e queda de grupos de animais foram determinadas pela temperatura
A história frequentemente nos mostra que os eventos acontecem em ondas – gostos musicais, por exemplo, mudam e voltam a cada década e impérios dão lugar a outros ao longo dos séculos. Um padrão similar caracteriza os últimos 65 milhões de anos da história natural na América do Norte, onde uma nova análise [Cenozoic climate change influences mammalian evolutionary dynamics] identificou seis ondas diferentes e consecutivas de diversidade de espécies de mamíferos, ou “faunas evolucionárias”. O que levou a isso? Ao que parece, tudo está relacionado a mudanças climáticas. Das agências de notícias, no Estadão.com.br.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,evolucao-dos-mamiferos-esta-associada-a-mudancas-climaticas,816163,0.htm
“Embora saibamos que, de um modo geral, os mamíferos respondem a mudanças climáticas ao longo do tempo, há controvérsias em relação à comprovação quantitativa do fenômeno”, disse a bióloga Christine Janis, da Brown University, uma das autoras do trabalho. “Nós mostramos que a ascensão ou queda dessa fauna está de fato correlacionadas com mudanças climáticas.”
Especificamente, das seis ondas de diversidade de espécies que Janis e seus colaboradores descrevem na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, quatro mostram correlações estatisticamente significativas com grandes mudanças na temperatura.
Estudos anteriores da potencial ligação entre mudanças climáticas e evolução das espécies de mamíferos avaliaram a diversidade total das espécies em registros fósseis em períodos similares de tempo.
Neste estudo, os cientistas se perguntaram se havia padrões na diversidade das espécies que poderiam ser significativos. E eles descobriram que há seis agrupamentos diferentes e consecutivos de espécies de mamíferos que partilharam crescimento, pico e declínio em seus números.
Pelos números, a pesquisa mostra correlações entre a diversidade de espécies e mudanças na temperatura, mas qualitativamente, ela também fornece uma narrativa de como os traços de espécies típicas em cada onda faz sentido considerando as mudanças na vegetação que se seguiram às mudanças no clima.
“Essas perturbações, relacionadas às mudanças climáticas antropogênicas, são um desafio corrente para a fauna do mundo de hoje, enfatizando a importância dos registros fósseis para a compreensão de como eventos passados afetaram a história da diversidade da fauna e extinções, e por isso como futuras mudanças climáticas podem continuar a influencias a vida na Terra”, dizem os autores.

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FONTE : Cenozoic climate change influences mammalian evolutionary dynamics
Published online before print December 27, 2011, doi: 10.1073/pnas.1110246108 PNAS December 27, 2011

EcoDebate, 29/12/2011

Nível do mar sobe cada vez mais rápido no litoral norte de São Paulo ameaçando cidades costeiras

Sobe cada vez mais rápido o nível do mar no litoral norte de São Paulo, aponta pesquisa coordenada pelo professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Paolo Alfredini. Com base nos registros feitos de 1944 a 2007 pela Companhia Docas do Estado de São Paulo, em Santos, Alfredini constatou uma elevação do mar de 74 centímetros por século. Também foi analisada a documentação de outras instituições em Ubatuba, São Sebastião e Caraguatatuba .Nas últimas décadas, no entanto, o avanço das águas marítimas foi mais rápido. “Nos últimos 20 anos, analisando esses dados, a gente nota que tem havido uma aceleração. Isso aparentemente está ligado ao fato que as temperaturas têm aumentado mais nesse período”, ressaltou o professor. Com isso, a estimativa de Alfredini é que neste século o nível do mar suba cerca de 1 metro.
Um aumento desse nível significa, segundo Alfredini, a perda de 100 metros de praia em áreas com declividades suaves. Essa aproximação das águas pode colocar em risco construções à beira mar. “A quebra da onda vai ficar muito mais próxima das avenidas, onde existem ocupações urbanas. Vai começar a solapar e erodir muros”, disse. “Tubulações que passem perto da praia, como emissários de esgoto, interceptores de águas pluviais, podem vir a ser descalçados e eventualmente até romper”, completou.
Outro fator que ameaça as construções costeiras, verificado no estudo, é o aumento da altura das ondas nas ressacas e tempestades marítimas, além do aumento da frequência desses fenômenos. “Havendo um recrudescimento das ondas, isso também vai provocar mais erosões [nas praias]”, alertou o pesquisador.
A elevação do nível do mar poderá ainda, segundo Alfredini, causar problemas para o abastecimento de água em algumas cidades. Segundo ele, esse processo tende a causar um aumento no volume de água que se infiltra nos rios. “ Portanto, as tomadas de água para abastecimento público e industrial poderão começar a receber água com maior teor de salinidade. E isso pode começar a complicar ou inviabilizar o tratamento da água”.
Para amenizar esses problemas, o pesquisador aponta a necessidade de preparação das cidades afetadas, com a construção, por exemplo, de obras de defesa costeira. “Tem que ter nesses governos municipais, principalmente, que estão em áreas de extremo risco, consciência de que isso é uma realidade”.

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FONTE : Reportagem de Daniel Mello, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 29/12/2011

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Liberação de obras de Belo Monte sem redução de impactos é carta branca para o caos na região, diz MPF

Derrubada da decisão que exigia o cumprimento de ações de minimização dos impactos socioambientais da hidrelétrica pode causar prejuízos irreparáveis, afirmam procuradores da República no Pará
A decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que liberou a instalação do canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte sem o cumprimento de ações de prevenção e redução dos impactos socioambientais do projeto – as chamadas condicionantes foi considerada temerária pelo Ministério Público Federal no Pará.
Segundo procuradores da República que atuam no Estado, a liberação pode provocar problemas como o colapso da infraestrutura urbana na região e danos irreversíveis ao meio ambiente e à população do Xingu.
A decisão do desembargador federal Olindo Menezes cassou liminar expedida no último dia 25 pelo juiz Ronaldo Destêrro, da 9ª Vara da Justiça Federal em Belém. Segundo Menezes, não há necessidade do cumprimento das condicionantes listadas na licença prévia concedida ao projeto.
As condicionantes haviam sido estabelecidas em 2010 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No entanto, o próprio Ibama recorreu ao TRF-1, em Brasília, contra a decisão de Destêrro. O recurso foi enviado ao tribunal ontem e a decisão de Menezes foi publicada hoje.
“Atitudes como essa só comprovam que hoje o Ibama é o maior responsável pelo desmatamento na Amazônia”, critica o procurador da República Felício Pontes Jr. “Em todas as etapas do licenciamento o governo federal vem desrespeitando a Constituição e as leis ambientais, com o auxílio do Ibama, que deixou de ser um órgão técnico e agora cede a pressões políticas”. O procurador da República Ubiratan Cazetta é taxativo: “O início da obra sem as condicionantes pode provocar o caos em termos de infra-estrutura na região de Altamira”.
Para o MPF, a licença que permite a instalação do canteiro de Belo Monte é totalmente ilegal porque nem sequer está prevista no ordenamento jurídico brasileiro. Além disso, levantamento do MPF aponta que, das 66 condicionantes estabelecidas em 2010, 29 não foram cumpridas, quatro foram realizadas parcialmente e sobre as demais 33 não há qualquer informação.
Entre as condicionantes estão ações como a construção e reforma de escolas e hospitais, providências para o reassentamento de famílias atingidas pela barragem, recuperação de áreas degradadas, garantia da qualidade da água para consumo humano na região, iniciativas para garantir a navegabilidade nos rios, regularização fundiária de áreas afetadas e programas de apoio a indígenas.
Estimativas extra-oficiais às quais os procuradores da República tiveram acesso apontam que o simples anúncio da obra, no ano passado, já atraiu cerca de 8 mil pessoas em busca de emprego para a cidade de Altamira, a maior da região.
O governo federal estima que 100 mil pessoas migrarão para a região e 32 mil permanecerão lá após as obras. Altamira terá parte de seus bairros inundados, entretanto não há estudo conclusivo sobre o impacto. Não se sabe a quantidade exata de pessoas a serem removidas, nem está claro para onde serão realocadas, critica o MPF.

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Fonte: Ministério Público Federal no Pará
EcoDebate, 28/12/2011

Belo Monte em 2011: a instalação do caos, artigo de Rodolfo Salm

A propaganda enganosa a favor de Belo Monte foi abundante em 2011. Tanto na forma de artigos em jornais supostamente sérios como a Folha de São Paulo (ver Impactos indiretos de Belo Monte serão muito maiores que os diretos) quanto de sites governamentais com aplicativos como o do Robô Ed, que nos tratam como bobos, com uma série de mentiras e distorções relativas a esta obra desastrosa (Belo Monte: Entrevista com o Robô Ed). Entretanto, neste fim de ano, pudemos comemorar que, finalmente, o debate sobre os problemas da construção da hidrelétrica de Belo Monte ganhou a visibilidade que merece, principalmente graças ao vídeo “É a Gota D’Agua + 10”, com a participação de vários atores e atrizes da Rede Globo (Belo Monte: a batalha dos vídeos).
É curioso que a entrada dos artistas no debate sobre Belo Monte tenha despertado reações tão iradas: “O Correio me surpreende com a publicação desse artigo em defesa dos atores da Globo. Trata-se de uma oposição politicamente ingênua e perigosa, e a direita tem tudo a ganhar com isso. Apenas indivíduos politicamente cegos e aqueles bem pagos pela oposição estrangeira e nacional não enxergam isso. Cuidado com posições pseudo-esquerdistas como a do autor deste artigo”. Escreveu um leitor do Correio, na sessão de comentários de “A batalha dos vídeos”, que ainda classificou minha posição como “eco-fascista”.
No começo deste ano, Arnold Schwarzenegger e James Cameron estiveram em Altamira, sobrevoaram o Rio Xingu e conversaram com índios preocupados com a construção de Belo Monte (Artistas contra Belo Monte). Então, a reação foi xenofóbica, na linha do “eles deveriam cuidar dos problemas do seu próprio país”. Pois agora que os artistas nacionais ganham destaque no debate, são desqualificados como “eco-chatos” ou manipulados. Cientistas já se posicionaram e posicionam-se contrários à obra e, para estes, a tática é simplesmente ignorá-los. Opositores em geral são taxados de contrários ao desenvolvimento do país.
De toda forma, esta visibilidade conseguida com o trabalho dos artistas já é algo a se comemorar, pois não foi fácil conquistá-la. Há exatamente um ano, na edição retrospectiva do Correio da Cidadania de 2010 (Belo Monte e as eleições presidenciais), eu lamentava que a discussão sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte não tivesse se desenvolvido como eu esperava ao longo daquele ano, a ponto de afetar as eleições presidenciais. A então candidata Dilma escondeu o seu grande e polêmico projeto, o candidato José Serra não fez questão de atacá-lo de frente, as discussões programáticas dos dois candidatos se perderam em uma série de pequenos debates, que hoje, em retrospectiva, eram evidentemente menores que a grande questão do futuro da Amazônia. Com a vitória do PT, financiado pelas empreiteiras interessadas na construção da barragem, a única previsão certa para o Xingu em 2011 era que este seria um ano difícil por aqui, “um dos mais duros dos últimos tempos”. Ah, sim, aquele mesmo leitor do Correio, citado mais acima também escreveu: “Àqueles que se opõem à construção da Usina de Belo Monte, sugiro que se mudem pra lá e vivam a tal existência sustentável que defendem para os outros enquanto usufruem de todos os confortos da vida moderna nas cidades eletrificadas”. Pois é, eu moro em Altamira.
Infelizmente, a previsão de um ano difícil para os moradores dessa região não poderia ter sido mais acertada. Com a concessão da licença de instalação da barragem, no primeiro semestre deste ano, e o início da construção do canteiro de obras, o caos instalou-se em Altamira. Caos na saúde, onde os serviços já eram precários e agora estão inviáveis, pois ainda não foi construído um único novo leito hospitalar sequer, e as ocorrências médicas estão se multiplicando com o repentino aumento da população. As filas dos bancos se tornaram quilométricas, pois, apesar de todo o movimento, ainda temos apenas uma agência do Banco do Brasil, uma agência dos Correios etc. Os preços dos aluguéis dispararam (300% de aumento). O preço do tomate na feira disparou. A inflação acumulada do ano na cidade certamente foi muito além daquela de 5% do país. Ninguém se deu ao trabalho de calcular quanto foi, mas certamente foi típica de um país em crise hiper-inflacionária. O número de pedintes na rua aumentou, por causa das pessoas que vieram para a cidade atrás de um emprego na construção da barragem e não conseguiram nada.
Caos no trânsito, outrora tranqüilo, e agora engarrafado por centenas de ônibus e caminhões da obra. No começo do ano mal se viam ônibus na cidade. Agora se formam filas intermináveis de ônibus e vans nas ruas, como só se vê em grandes centros como o Rio de Janeiro. Mas nos letreiros dos ônibus, ao invés dos bairros de destino (Botafogo, Copacabana, Leblon), aqui se lê “Sítio Belo Monte”, “Sítio Pimental”, “Canais” – as diferentes frentes de trabalho, ou, devo dizer, de ataque ao rio, das obras de Belo Monte. E, ironicamente, continuamos sem ônibus para circular pela cidade. Em todas as ruas de Altamira, de madrugada, antes que os transeuntes regulares saiam de casa, vê-se um imenso exército de pessoas com um uniforme robótico luminescente e o símbolo do CCBM (Consórcio Construtor Belo Monte). Esses mesmos que foram recentemente surpreendidos com a notícia de que não poderiam passar as festas em casa, pois não haverá recesso de Natal e Ano Novo. E que, quando fazem greve, são demitidos e escoltados pela polícia até a rodoviária, de onde são despachados para seus respectivos estados.
Foram muitos os desmatamentos em 2011. O Governo Federal comemora que tenha “estabilizado” os desmatamentos na Amazônia em níveis semelhantes àqueles observados na década de 1980. Porém, esquece-se que aqueles já eram níveis astronômicos, pois na época estavam sendo abertas imensas áreas de fazendas no norte do Mato Grosso, Sul do Pará, em Rondônia. Enfim, estava se formando o chamado “arco-do-desmatamento” da Amazônia. Hoje, estes desmatamentos migraram em grande medida para áreas centrais e remotas da floresta, atacando-a em seu coração, através de obras como esta da hidrelétrica de Belo Monte. Em Altamira, os desmatamentos são visíveis em toda parte, em todas as escalas, dos remanescentes florestais ainda preservados na beira do rio (As primeiras vítimas de Belo Monte), às ruas da cidade, pois os jardins das casas são os primeiros devastados nas reformas feitas para receber os engenheiros da barragem.
Uma das coisas que mais me preocuparam em Altamira este ano foi a severidade e a extensão de sua estação seca, que começou em junho e se estende praticamente sem chuvas até agora nas proximidades do Natal (quando o Brasil quase todo já sente os efeitos das tempestades). Aqui foram sete meses de seca este ano. O que, ecologicamente, é uma novidade nessa região, pois temos uma floresta perenifólia, em que a grande maioria das árvores não perde as folhas durante a estação seca. Estas florestas são típicas de áreas com no máximo três a quatro meses de estiagem, exatamente como acontecia por aqui na década de 1970 quando da abertura da Transamazônica. Um colono antigo, assustado com a seca atual, me contou que, há cerca de 30 anos, quem não tivesse queimado a sua roça até novembro, não queimava mais porque as chuvas não permitiam. Agora, já no finzinho do ano, ainda está tudo seco, estalando, pronto para queimar. É bom para os fazendeiros que querem fazer avançar os desmatamentos, e para os barrageiros que também podem avançar com suas máquinas além do cronograma previsto neste projeto de morte. Mas como reagirá o que sobrar da floresta, mesmo nas áreas mais protegidas, a esta nova situação climática? É possível que tudo se degrade rapidamente virando sertão, pasto degradado e deserto. Com a construção da barragem e a proliferação dos desmatamentos na região, as mudanças climáticas locais tendem a crescer.
Apesar da visibilidade recente que conquistamos, segundo um artigo na Folha de São Paulo, assinado pelo jornalista (e “barrageiro”) Agnaldo Brito, “a discussão sobre o empreendimento neste momento pode influenciar pouco o arranjo do projeto negociado com o Ibama e o governo”. Pois “a usina, leiloada em abril de 2010, terá de começar a gerar energia em fevereiro de 2015”. Bobagem. Desde sempre, mesmo no período das audiências públicas forjadas, aquele jornal tratou a obra como inevitável. Assim como sempre fizeram todos os barrageiros, disfarçados ou assumidos. Esta usina não estará pronta em 2015, esse cronograma é um blefe, e sempre poderemos lutar pela paralisação das obras ou mesmo a destruição da barragem, se um dia ela ficar pronta. Várias barragens norte-americanas estão sendo desmontadas, como a represa Milltown. Ícone do progresso industrial americano que se tornou símbolo da destruição no Rio Clark Fork, o maior em volume de água do estado de Montana, que drena boa parte das montanhas Rochosas. Com a remoção da barragem, esperam-se a descontaminação do ambiente, a recuperação dos peixes e ganhos com o turismo.
Se há um ano eu lamentava que a discussão sobre a hidrelétrica de Belo Monte não tinha o destaque que merecia, hoje faço o mesmo com relação aos escândalos de corrupção da obra. O ano de 2011 foi marcado politicamente pela queda de vários ministros envolvidos em “malfeitos”. Mas quase não se falou da corrupção associada ao setor elétrico, onde se armam os maiores golpes da atualidade (Belo Monte e as cobras). Para 2012, espero que eles apareçam cada vez mais, e que a oposição perceba o potencial de se atacar esse governo através dos escândalos de Belo Monte, que não são poucos. Até agora foi feita apenas a instalação do canteiro de obras, e consequentemente do caos em Altamira. O ataque ao rio propriamente dito mal começou. Ainda é possível parar esta obra.

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FONTE : Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) em Altamira, e faz parte do Painel de Especialistas para a Avaliação Independente dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte.
Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no Correio da Cidadania, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
EcoDebate, 28/12/2011

Geotecnologias aplicadas à restauração ecológica, artigo de Ivan André Alvarez e Luciana Spinelli Araújo

A restauração ecológica tem como meta criar locais de conservação da vegetação natural ou ainda retornar as áreas a seu estado inicial. A maior parte da ação antrópica sobre o meio natural, a partir de sistemas agrícolas, interfere na produtividade primária e secundária dos ecossistemas. Os agroecossistemas são uma forma de reabilitar uma área degradada podendo ser aumentadas ou sustentadas por novas técnicas de manejo e com efeitos de manutenção da biodiversidade e estabilidade dos ecossistemas. Os modelos e ideias que guiam essas áreas aplicadas poderiam beneficiar a todos com maior intercâmbio de ideias e metodologias.Num maior nível, a fragmentação e a degradação dentro da paisagem devem ser objetos de maior ação dos agentes da restauração e reabilitação.
Quando práticas econômicas e culturais são modificadas na direção da sustentabilidade ecológica e conservação da biodiversidade, e quando a restauração ou reabilitação é aplicada a todos os ecossistemas parcialmente degradados, com a ajuda de todas as disciplinas necessárias e adequadas cientificamente, o resultado seria uma tentativa de reintegração de paisagens fragmentadas.
De fato, a abordagem sistêmica considera a paisagem como resultante da combinação dinâmica dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, que interagem dialeticamente entre si. Tal abordagem é adequada ao estudo do zoneamento e posterior planejamento ambiental, visto que estes também são resultantes da Análise Ambiental Integrada (IEA) dos elementos supracitados. Portanto, da IEA chega-se à compreensão das partes menores de uma porção da paisagem e suas inter-relações, permitindo identificar os diferentes subsistemas (e seus componentes) envolvidos, sendo os mais comuns: econômico, político, social, comportamental, físico-territorial e físico-biótico. É ainda parte do processo a identificação dos fatores condicionantes ao desenvolvimento sustentável, tanto os positivos como os negativos.
Existem vários tipos de planejamento, de acordo com os objetivos pretendidos, sendo o planejamento de uso das terras um dos mais empregados. Neste caso, o objetivo é disciplinar o uso das terras e as atividades da sociedade, considerando o seu melhor aproveitamento.
Este tipo de planejamento fundamenta-se na interação e integração dos sistemas que compõem o ambiente, a partir de uma visão sistêmica e holística da área em estudo. Normalmente, é feita uma compartimentação da área em subáreas, para depois integrá-las novamente. A escolha da unidade de paisagem deve ser o primeiro passo para se estudar uma área a ser recuperada.
Nesse campo de planejamento e monitoramento dos processos de restauração se inserem os recursos geotecnológicos. Essas ferramentas empregam um conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e disponibilização de dados com informação espacial. Em estudos de monitoramento da paisagem, o uso de séries temporais de dados de sensoriamento remoto tornou-se fundamental no resgate do histórico da área e acompanhamento de sua evolução, com produtos selecionados em função da necessidade de escala temporal e espacial do foco de análise.
As imagens do satélite Landsat continuam sendo as mais empregadas em mapeamentos da paisagem, por englobar uma série histórica de mais de 30 anos. Esses dados têm como maior restrição a resolução espacial, em torno de 30 metros, refletindo na limitação de mapeamento de pequenas áreas restauradas. Neste caso, as imagens de alta resolução surgem como informações adicionais para essas análises, possuindo características espaciais e espectrais que possibilitam o mapeamento detalhado de feições florestais distintas e em diferentes estágios.
Alia-se a isso a possibilidade de organização de dados diversos em uma mesma base de análise, a partir da geração de bancos de dados em sistemas de informação geográfica. Com este recurso, dados de diferentes sensores, escalas distintas e de diversas épocas podem ser analisados conjuntamente, a partir de métodos de processamento de imagens, resultando na geração de mapas temáticos temporais. Áreas restauradas podem, assim, ser monitoradas com otimização de trabalhos de campo, minimizando investimentos financeiros. Essa plataforma integrada também permite a realização de análises espaciais, em que áreas de restauração e fragmentos florestais são analisados no contexto, considerando parâmetros como distância e tamanho, viabilizando a implantação de novas áreas de vegetação em regiões prioritárias para a conectividade da paisagem e conservação da biodiversidade.
Em projetos de restauração florestal, as geotecnologias tornam-se essenciais para as etapas de planejamento, implantação e monitoramento, sendo ferramentas de apoio para embasar políticas públicas facilitadoras desses processos ecológicos.

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FONTE :
*Ivan André Alvarez e Luciana Spinelli Araújo, pesquisadores da Embrapa Monitoramento por Satélite
** Colaboração de Graziella Galinari, para o EcoDebate, 28/12/2011

Novas ameaças à segurança alimentar e os rios que não chegam no mar, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) publicou, em 28 de novembro de 2011, o relatório “O Estado dos Recursos de Terra e Água do Mundo para a Alimentação e a Agricultura” (The State of the World’s Land and Water Resources for Food and Agriculture – SOLAW)
O relatório mostra que entre 1961 e 2009, as terras cultiváveis ​​do mundo cresceram 12%, porém a produção agrícola expandiu 150%, graças a um aumento significativo na produtividade e no rendimento dos principais cultivos. Como a população mundial cresceu 120% no período, passando de 3,1 bilhões de habitantes em 1961 para 6,8 bilhões em 2009, houve um aumento da oferta de alimentos per capita, em nível global. O número de pessoas em situação de fome no mundo aumentou em termos absolutos (de cerca de 820 milhões em 1990 para 930 milhões em 2010), mas em termos relativos houve uma queda de 15% para 13% da população mundial, no período.
Em parte, este aumento da oferta de alimentos aconteceu em função do uso de novas tecnologias e da aplicação de fertilizantes e defensivos agrícolas produzidos pela industria química e do petróleo. Porém, em muitos lugares “as conquistas têm sido associadas a práticas de gestão que têm degradado a terra e os sistemas de água sobre a qual a produção de alimentos depende” e, hoje em dia, um número crescente desses sistemas encontram-se em “risco de colapso progressivo da sua capacidade produtiva, devido à combinação da pressão demográfica excessiva e o uso não sustentável de práticas agrícolas”, diz o relatório.
A FAO considera que até 2050 a produção agrária (agrícola e pecuária) precisará crescer 70% para atender os 9 bilhões de habitantes do mundo previstos para a metade do século. Mas este objetivo não será fácil de ser alcançado porque muita coisa mudou nos últimos 50 anos.
Em primeiro lugar houve um aumento considerável do preço do petróleo e demais fontes de energia. Com o aumento da demanda e a escassez da oferta de combustíveis fósseis as projeções indicam preços elevados para as próximas décadas. Ao mesmo tempo, os gargalos dos recursos naturais são cada vez mais sentidos, já que a competição por terra e água tem se tornado “pervasiva”, diz o relatório. Isto inclui a concorrência entre os usuários urbanos e industriais, bem como internamente ao setor agrícola: entre gado, culturas básicas, grãos, legumes, hortaliças e produção de biocombustíveis.
Além disto, as mudanças climáticas podem alterar os padrões de temperatura, precipitação e os fluxos dos rios, dos quais os sistemas mundiais de produção de alimentos dependem. Como resultado, o quadro atual é diferente de 50 anos atrás, pois a demanda humana é maior, mas a disponibilidade de terras de qualidade, de nutrientes do solo e de água são menos abundantes.
O relatório SOLAW 2011 trouxe pela primeira vez uma avaliação global do estado dos recursos de terra e água do planeta: 25% estão altamente degradados; 8% estão moderadamente degradados; 36% estão estáveis ​​ou levemente degradados; e 10% estão em melhor estado. As maiores ameaças são a perda de qualidade do solo, seguido de perda de biodiversidade e esgotamento dos recursos hídricos.
Esta situação atinge em maior proporção a população pobre do mundo que se encontra em uma situação caracterizada como “armadilha da pobreza”, pois são as pessoas de baixa renda que têm menos acesso à terra e água, ao mesmo tempo em que estão restritas às pequenas propriedades com solos de má qualidade e alta vulnerabilidade à degradação da terra e às incertezas climáticas. Cerca de 40% dos solos degradados do mundo são encontrados em áreas com altas taxas de pobreza (e também de fecundidade).
A escassez dos fluxos de água está aumentando juntamente com a salinização e poluição das reservas subterrâneas e a degradação das nascentes. Os níveis dos aquíferos estão em declínio e a sucção contínua de água subterrânea não renovável apresenta um risco crescente para a produção de alimentos locais e globais. Muitos rios não chegam ao seu fim e inúmeras nascentes e zonas húmidas estão desaparecendo.
Para ilustrar os problemas hídricos e as trajédias dos rios que não chegam no mar, vale a pena ver o vídeo “The Colorado River: Running Near Empty” do fotógrafo Peter Mcbride, postado no site Yale Environment 360. O vídeo mostra como o sobre-uso das águas do rio Colorado, para agricultura, industria e consumo das cidades, interrompe o seu fluxo antes de chegar ao mar de Cortez, no golfo da Califórnia. Desde 1998, o delta do rio Colorado está seco e o “rio vermelho” não deságua mais no oceano, causando a morte e a extinção de alguns peixes e espécies que viviam no local.
Já o vídeo “Death of a River: The Colorado River Delta”, de Alexandra Cousteau, mostra a destruição do Delta do Colorado e os efeitos negativos sobre a biodiversidade e para as populações que vivem na fronteira dos Estados Unidos e México (enquanto a cidade de Las Vegas utiliza as águas do rio Colorado e cresce com a industria dos cassinos).
Vale a pena ver os vídeos e refletir se algo semelhante não poderia acontecer, por exemplo, com o sobre-uso das águas do rio São Francisco. Estudos mostram que houve diminuição de 35% da vazão do “rio da integração nacional”, especialmente por falta de cuidado com as suas nascentes, a morte de diversos afluentes, o desmatamento das matas ciliares, o uso indiscriminado das águas para a produção de energia, para a agricultura, a pecuária, a industria e as cidades. Como ficará a situação do São Francisco com a maior demanda que virá após o fim das obras de transposição? Como a destruição dos nossos rios afetará a segurança alimentar do Brasil e do mundo?
Referências:
FAO. 2011. The state of the world’s land and water resources for food and agriculture (SOLAW) – Managing systems at risk, Rome and Earthscan, London. Disponível em:
http://www.fao.org/nr/solaw/the-book/en/
Peter Mcbride. “The Colorado River: Running Near Empty”. Disponível em:
http://e360.yale.edu/feature/video_colorado_river_running_near_empty/2443/
Alexandra Cousteau. “Death of a River: The Colorado River Delta”. Disponível em:
http://www.alexandracousteau.org/field/expedition-films/death-river-colorado-river-delta

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FONTE : José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 28/12/2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Cisternas no semiárido: Um GPS para orientar nossa presidenta, artigo de Pedro Costa Guedes Vianna

“Senhora presidente, se a senhora esta pensando em distribuir cisternas de plástico, porque acha que as que deveriam ter sido construídas não foram, temos como lhe provar isso em muito pouco tempo”. O comentário é de Pedro Costa Guedes Vianna, professor de Cartografia e Recursos Hídricos do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Eis o artigo.
Nesta segunda-feira, 19 de dezembro, a aluna Cristhiane Fernandes de Araújo, defendeu seu projeto final de curso, depois de 5 anos na Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Seu trabalho intitulado: “Mapeamento das Tecnologias Sociais Hídricas, nos Municípios de Juazeirinho e Soledade – Paraíba”. Foi aprovada, elogiada e com isso obteve o titulo de Geógrafa, mas o mais importante é que ela provou, por A+B, ou por coordenadas geográficas, que é possível mapear as cisternas do Programa Um milhão de Cisternas com custo muito baixo.
Cristhiane apenas utilizou um computador simples com conexão na internet, ferramentas gratuitas disponíveis na internet, o conhecido Google Earth, e dois aparelhos simples GPS (que custam R$ 800,00 cada), fornecidos pela UFPB. Mapeou as cisternas nas imagens gratuitas e depois, com 3 de seus colegas de curso, percorreu estes municípios no semiárido paraibano, marcando com os GPS as cisternas previamente identificadas e mapeadas nas imagens Google Earth.
Depois com simplicidade, montou uma tabela e descobriu que as diferenças médias das coordenadas em ambos os sistemas não superavam o diâmetro da cisterna. A cisterna de 16.000 litros do Programa 1MCR tem um diâmetro de 3,2 metros e a diferença média encontrada entre as duas medidas foi de 2,18 metros. Ou seja, o mapeamento é seguro matematica e geograficamente. Estes dados são possíveis devido a algumas peculiaridades das cisternas: sua forma circular, sua cor branca, sua proximidade com as casas, e particularidades da região semiárida como uma vegetação aberta, arbustiva e de pouca densidade foliar.
Isso quer dizer o que afinal de contas? Quer dizer que se o Governo Federal e a Presidente Dilma quiserem podem fiscalizar, acompanhar e constatar diretamente de seus escritórios, as cisternas tal qual estão construídas hoje. Se quiserem podem também contratar qualquer grande empresa de auditoria, destas que tem como consultores grandes doutores, com currículos acima de qualquer suspeita, que nós fornecemos a metodologia utilizada pela Cristhiane, afinal somos uma Universidade pública.
Ainda se desejar, pode dispor da rede de Universidades públicas brasileira, onde milhares de estudantes dos cursos de Geografia, Engenharia, Geologia, Arquitetura, Biologia e outros mais, usuários comuns dos instrumentos cartográficos encontrados no Google Earth e no sistema GPS, poderão em poucos dias comprovar irrefutavelmente a existência ou não das mais de 370.000 cisternas que as Organizações responsáveis pelos Programas até hoje, afirmam existir.
Senhora presidente, se a senhora esta pensando em distribuir cisternas de plástico, porque acha que as que deveriam ter sido construídas não foram, temos como lhe provar isso em muito pouco tempo.
De posse de um simples GPS, um computador com internet e de senso público, nossa presidente pode se orientar e não cometer um erro estratégico. Erro este, que pode levar à região semiárida e sua população, sede, miséria a dependência hidro-eleitoreira.

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FONTE : (Ecodebate, 23/12/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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AULA SOBRE REFRIGERANTES

Na verdade, a fórmula 'secreta' da Coca-Cola se desvenda em 18 segundos em qualquer espectrômetro-ótico, e basicamente até os cachorros a conhecem. Só que não dá para fabricar igual, a não ser que você tenha uns 10 bilhões de dólares para brigar com a Coca-Cola na justiça, porque eles vão cair matando.

A fórmula da Pepsi tem uma diferença básica da Coca-Cola e é proposital exatamente para evitar processo judicial. Não é diferente porque não conseguiram fazer igual não, é de propósito, mas próximo o suficiente para atrair o consumidor da Coca-Cola que quer um gostinho diferente com menos sal e açúcar.

Entre outras coisas, fui eu quem teve que aprender tudo sobre refrigerante gaseificado para produzir o guaraná Golly aqui (nos EUA), que usa o concentrado Brahma. Está no mercado até hoje, mas falhou terrivelmente em estratégia promocional e vende só para o mercado local, tudo isso devido à cabeça dura de alguns diretores.

Tive que aprender química, entender tudo sobre componentes de refrigerantes, conservantes, sais, ácidos, cafeína, enlatamento, produção de label de lata, permissões, aprovações e muito etc. e tal. Montei um mini-laboratório de análise de produto, equipamento até para analisar quantidade de sólidos, etc. Até desenvolvi programas para PC para cálculo da fórmula com base nos volumes e tipo de envasamento (plástico ou alumínio), pois isso muda os valores e o sabor. Tivemos até equipe de competição em stock-car.

Tire a imensa quantidade de sal que a Coca-Cola usa (50mg de sódio na lata) e você verá que a Coca-Cola fica igualzinha a qualquer outro refrigerante sem-vergonha e porcaria, adocicado e enjoado. É exatamente o Cloreto de Sódio em exagero (que eles dizem ser 'very low sodium') que refresca e ao mesmo tempo dá sede em dobro, pedindo outro refrigerante, e não enjoa porque o tal sal mata literalmente a sensibilidade ao doce, que também tem de montão: 39 gramas de 'açúcar' (sacarose).

É ridículo, dos 350 gramas de produto líquido, mais de 10% é açúcar. Imagine numa lata de Coca-Cola, mais de 1 centímetro e meio da lata é açúcar puro... Isso dá aproximadamente umas 3 colheres de sopa CHEIAS DE AÇÚCAR POR LATA !...

- Fórmula da Coca-Cola?...

Simples: Concentrado de Açúcar queimado - Caramelo - para dar cor escura e gosto; ácido ortofosfórico (azedinho); sacarose - açúcar (HFCS - High Fructose Corn Syrup - açúcar líquido da frutose do milho); extrato da folha da planta COCA (África e Índia) e poucos outros aromatizantes naturais de outras plantas, cafeína, e conservante que pode ser Benzoato de Sódio ou Benzoato de Potássio, Dióxido de carbono de montão para fritar a língua quando você a toma e junto com o sal dar a sensação de refrigeração.

O uso de ácido ortofosfórico e não o ácido cítrico como todos os outros usam, é para dar a sensação de dentes e boca limpa ao beber, o fosfórico literalmente frita tudo e em quantidade pode até causar decapamento do esmalte dos dentes, coisa que o cítrico ataca com muito menor violência, pois o artofosfórico 'chupa' todo o cálcio do organismo, podendo causar até osteoporose, sem contar o comprometimento na formação dos ossos e dentes das crianças em idade de formação óssea, dos 2 aos 14 anos. Tente comprar ácido fosfórico para ver as mil recomendações de segurança e manuseio (queima o cristalino do olho, queima a pele, etc.).

Só como informação geral, é proibido usar ácido fosfórico em qualquer outro refrigerante, só a Coca-Cola tem permissão... (claro, se tirar, a Coca-Cola ficará com gosto de sabão).

O extrato da coca e outras folhas quase não mudam nada no sabor, é mais efeito cosmético e mercadológico, assim como o guaraná, você não sente o gosto dele, nem cheiro, (o verdadeiro guaraná tem gosto amargo) ele está lá até porque legalmente tem que estar (questão de registro comercial), mas se tirar você nem nota diferença no gosto.

O gosto é dado basicamente pelas quantidades diferentes de açúcar, açúcar queimado, sais, ácidos e conservantes. Tem uma empresa química aqui em Bartow, sul de Orlando. Já visitei os caras inúmeras vezes e eles basicamente produzem aromatizantes e essências para sucos. Sais concentrados e essências o dia inteiro, caminhão atrás de caminhão! Eles produzem isso para fábricas de sorvete, refrigerantes, sucos, enlatados, até comida colorida e aromatizada.

Visitando a fábrica, pedi para ver o depósito de concentrados das frutas, que deveria ser imenso, cheio de reservatórios imensos de laranja, abacaxi, morango, e tantos outros (comentei). O sujeito olhou para mim, deu uma risadinha e me levou para visitar os depósitos imensos de corantes e mais de 50 tipos de componentes químicos. O refrigerante de laranja, o que menos tem é laranja; morango, até os gominhos que ficam em suspensão são feitos de goma (uma liga química que envolve um semipolímero). Abacaxi é um festival de ácidos e mais goma. Essência para sorvete de Abacate? Usam até peróxido de hidrogênio (água oxigenada) para dar aquela sensação de arrasto espumoso no céu da boca ao comer, típico do abacate.

O segundo refrigerante mais vendido aqui nos Estados Unidos é o Dr. Pepper, o mais antigo de todos, mais antigo que a própria Coca-Cola. Esse refrigerante era vendido obviamente sem refrigeração e sem gaseificação em mil oitocentos e pedrada, em garrafinhas com rolha como medicamento, nas carroças ambulantes que você vê em filmes do velho oeste americano. Além de tirar dor de barriga e unha encravada, também tirava mancha de ferrugem de cortina, além de ajudar a renovar a graxa dos eixos das carroças. Para quem não sabe, Dr. Pepper tem um sabor horrível, e é muito fácil de experimentar em casa: pegue GELOL spray, aquele que você usa quando leva um chute na canela, e dê um bom spray na boca! Esse é o gosto do tal famoso Dr.Pepper que vende muito por aqui.

- Refrigerante DIET

Quer saber a quantidade de lixo que tem em refrigerante diet? Não uso nem para desentupir a pia, porque tenho pena da tubulação de pvc... Olha, só para abrir os olhos dos cegos: os produtos adocicantes diet têm vida muito curta. O aspartame, por exemplo, após 3 semanas de molhado passa a ter gosto de pano velho sujo.

Para evitar isso, soma-se uma infinidade de outros químicos, um para esticar a vida do aspartame, outro para dar buffer (arredondar) o gosto do segundo químico, outro para neutralizar a cor dos dois químicos juntos que deixam o líquido turvo, outro para manter o terceiro químico em suspensão, senão o fundo do refrigerante fica escuro, outro para evitar cristalização do aspartame, outro para realçar, dar 'edge' no ácido cítrico ou fosfórico que acaba sofrendo pela influência dos 4 produtos químicos iniciais, e assim vai... A lista é enorme.

Depois de toda essa minha experiência com produção e estudo de refrigerantes, posso afirmar: Sabe qual é o melhor refrigerante? Água filtrada, de preferência duplamente filtrada, laranja ou limão espremido e gelo... Mais nada !!! Nem açúcar, nem sal.


(AUTOR: ANÔNIMO - por motivos óbvios)

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Claro que, sabendo disso, você vai olhar diferente para um refrigerante. E, naturalmente, gostando de si próprio, vai preferir saúde.

“O QUE VOCÊ FAZ FALA MAIS ALTO DO QUE O QUE VOCÊ FALA!!!”
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Prof. Dr. Carlos Alexandre Fett

Faculdade de Educação Física da UFMT Mestrado da Nutrição da UFMT
Laboratório de Aptidão Física e Metabolismo - 3615 8836
Consultoria em Performance Humana e Estética

**O QUE ACONTECE QUANDO VOCÊ ACABA DE BEBER UMA LATA DE REFRIGERANTE**

Primeiros 10 minutos:10 colheres de chá de açúcar batem no seu corpo, 100% do recomendado diariamente.
Você não vomita imediatamente pelo doce extremo, porque o ácido fosfórico corta o gosto.

20 minutos:O nível de açúcar em seu sangue estoura, forçando um jorro de insulina.
O fígado responde transformando todo o açúcar que recebe em gordura (É muito para este momento em particular).

40 minutos:A absorção de cafeína está completa. Suas pupilas dilatam, a pressão sanguínea sobe, o fígado responde bombeando mais açúcar na corrente. Os receptores de adenosina no cérebro são bloqueados para evitar tonteiras.
45 minutos:O corpo aumenta a produção de dopamina, estimulando os centros de prazer do corpo. (Fisicamente, funciona como com a heroína..)
50 minutos:O ácido fosfórico empurra cálcio, magnésio e zinco para o intestino grosso, aumentando o metabolismo.
As altas doses de açúcar e outros adoçantes aumentam a excreção de cálcio na urina, ou seja, está urinando seus ossos, uma das causas das OSTEOPOROSE.

60 minutos:As propriedades diuréticas da cafeína entram em ação. Você urina.
Agora é garantido que porá para fora cálcio, magnésio e zinco, os quais seus ossos precisariam..
Conforme a onda abaixa você sofrerá um choque de açúcar.
Ficará irritadiço.
Você já terá posto para fora tudo que estava no refrigerante, mas não sem antes ter posto para fora, junto, coisas das quais farão falta ao seu organismo

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*Pense nisso antes de beber refrigerantes.
Se não puder evitá-los, modere sua ingestão!
Prefira sucos naturais.
Seu corpo agradece!*

Se achar interessante, repasse.
Certamente estará fazendo bem a alguém.



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

‘O Brasil precisa se constranger por aprovar um Código Florestal como está se dando’, entrevista com Pedro Gonijo

“A maior parte das questões que são preocupantes no Código vigente poderiam ser resolvidas por legislações infraconstitucionais, por portarias, por decisões do Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente], enfim, nós não precisaríamos de um novo Código Florestal. Para nós, o próprio fato de entrar em pauta a reforma do Código já é uma derrota colocada, não pelo agronegócio, mas pelo agrobanditismo”, afirma Pedro Gonijo, professor de filosofia da Universidade de Brasília e secretário executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz – CBJP, organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB (entidades integrantes do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável), em entrevista que nos foi enviada pela CBJP.
Eis a entrevista.
Em 2007, a Campanha da Fraternidade trouxe o tema da Amazônia. Em 2011, o lema é “A Fraternidade e a Vida no Planeta”. Neste ano também, a CNBB compôs o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, na luta contra o desmantelamento do Código Florestal. O que os vem movendo nessa direção?
A CBJP tem em sua tradição o trabalho em defesa dos direitos humanos, dos direitos sociais que, em última instância, se traduz numa defesa da vida. Isso faz parte da própria concepção cristã de justiça, de vida para todos, em qualidade, em abundância. O projeto que nós defendemos enquanto cristãos – e a CBJP como um organismo da CNBB nesse processo – é de promoção da vida plena para todos, especialmente dos mais vulneráveis. Entramos na discussão do Código Florestal a partir das nossas próprias discussões, mais especificamente das Campanhas da Fraternidade voltadas para o meio ambiente, mas de um modo geral dessa busca de lutar pela vida, sobretudo onde a vida é mais ameaçada. E nas nossas avaliações, um dos aspectos em que a vida tem sido mais ameaçada tem sido na destruição da biodiversidade, com o desenvolvimento predatório que a nossa civilização ocidental desenvolveu, que dentro do atual modelo econômico vem crescendo. Isso é uma forte ameaça não só às vidas humanas atuais e das futuras gerações, mas também às outras formas de vida existentes no planeta. Nós não podemos defender apenas os direitos da espécie humana e dizer que o direito a vida é um direito só dos humanos e não das outras formas de vida. Nós acreditamos que preservar as outras formas de vida é preservar a nossa própria vida. Esse é o mote maior no qual nos inserimos e o desmantelamento do Código Florestal é uma causa específica.
Há um crescimento do envolvimento da comunidade cristã com essas questões?
O processo de massificação de qualquer temática é difícil. A maior parte das pessoas se dá conta da realidade que se apresenta de forma mais imediata e mais próxima. A maioria das pessoas está preocupada com a sua sobrevivência imediata, numa sociedade cada vez mais competitiva, com o capitalismo cada vez mais aprofundado, com o processo de exploração cada vez maior e que muitas vezes, inclusive, dispensa a exploração de muitas pessoas, jogando-as no desemprego. Agora, nós percebemos que, a partir dessa discussão da defesa da vida, das proposições das Campanhas da Fraternidade, a defesa geral do desenvolvimento sustentável e do respeito ecológico tem crescido.
Com relação ao Código Florestal, qual é a sua avaliação sobre as mudanças que ele vem sofrendo no Congresso Nacional?
O Código precisaria diferenciar algumas coisas, como a agricultura familiar, precisaria evitar a possibilidade de criminalizar pessoas de pequenas posses que no passado ocuparam, na forma como se sabia, como se tolerava. Mas a maior parte das questões que são preocupantes no Código vigente poderiam ser resolvidas por legislações infraconstitucionais, por portarias, por decisões do Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente], enfim, nós não precisaríamos de um novo Código Florestal. Para nós, o próprio fato de entrar em pauta a reforma do Código já é uma derrota colocada, não pelo agronegócio, mas pelo agrobanditismo. Porque, na verdade, para a própria existência do agronegócio é fundamental a existência de água e água em abundância, é fundamental a existência de terra e terra de qualidade. São estes de visão imediatista que estão defendendo de forma tão ferrenha aquilo que está produzindo esse “Frankenstein” do Código Florestal. Portanto, consideramos que há um processo de involução, de retrocesso legislativo no que se refere à proteção ao meio ambiente no Brasil.
E como o senhor avalia a atuação do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável?
Eu sou apaixonado pela existência do Comitê. Acho que ele conseguiu reunir gente muito diferente, que tem bandeiras de luta ou representa setores da sociedade bem diferentes, mas que conseguiram de forma paulatina construir uma compreensão do que era fundamental nesse processo, colocando de forma muito tranqüila, muito honesta, quais eram os limites de cada organização. Tudo em busca de um entendimento maior de que sem unidade, fracionando as nossas forças, nós não teríamos condições de lutar contra o que está acontecendo. Matrizes de pensamento e prática social tão diferentes conseguiram produzir uma unidade para uma ação política fundamental nesse momento. Se não fosse o Comitê Brasil o resultado teria sido muito mais catastrófico, provavelmente a essa altura do campeonato, teríamos um texto bem pior aprovado pelo Congresso. Acho que esse é o grande ganho. Quando a gente diz pensar um projeto de sociedade, cada um de nós tem posições muito diferenciadas, mas se tem algo que a gente consegue fazer junto, acho que é um ganho que não pode se perder. Inclusive, acho que o Comitê Brasil poderia passar a discutir outras pautas tão relevantes quanto o Código Florestal que talvez permitissem uma continuidade dessa união.
De que maneira o Comitê influiu?
Em primeiro lugar, o Comitê consegui ter capilaridade na sociedade, sensibilizar uma parcela significativa dela. A coleta de assinatura que foi conseguida [1,5 milhão de assinantes] é reveladora de que esse tema tem eco na sociedade. A gente pode dizer que em volta das pessoas que participaram dessas assinaturas tem um universo bem maior que provavelmente tem simpatia e, se continuássemos, poderiam participar. Em segundo, o processo de incidência política no Congresso e no Executivo. Ao repetirmos constantemente quais são os compromissos da presidente Dilma, no que se refere a não aprovar nada que permita a manutenção e ampliação do desmatamento, nós estamos incidindo e dizendo ao governo “a sociedade está de olho naquilo que vai ser o posicionamento da presidência e naquilo que tem sido o posicionamento no governo”. E o processo de incidência dentro do Congresso foi fundamental. No senado, o relatório apresentado pelo senador Jorge Viana expressava alguns avanços, apesar de não resolver as principais contradições oriundas da Câmara dos Deputados.
Quais são os principais problemas que permanecem no texto enviado de volta à Câmara?
Vou citar os que eu acho mais emblemáticos e que precisaríamos reverter ou conseguir um veto da presidente. Não há separação clara do que deve ser o tratamento dado a agricultura familiar e o que deve ser dado aos médios e grandes produtores. Também não está bem feita a diferenciação no que se refere às áreas desmatadas e no que se refere às áreas de proteção ambiental. Nesse sentido, essa anistia promovida aos médios e grandes proprietários de terra é nefasta. Outro ponto é a proteção dos pequenos rios onde há faixas de recomposição, que caiu pela metade, dos 30 para 15 metros.
Terminado esse ano, com a votação marcada só para o ano que vem, o que esperar do Comitê no Próximo período?
Precisamos ampliar a nossa articulação com as organizações internacionais, com parlamentos e governos de outros países que estejam mais sensibilizados para a questão ambiental. A destruição do meio ambiente em qualquer lugar do planeta deixa de ser assunto somente de um país e passa a ser um problema que afeta o clima no mundo inteiro. Há uma série de lutas sociais que já foram feitas no Brasil que só conseguiram ganhar força quando conseguimos parcerias em outros países que tinham condição de pressionar o Brasil. Inclusive em função da Rio+20. O Brasil precisa se constranger por aprovar um Código Florestal como está se dando, em função de estar se prontificando a sediar uma conferência que deveria discutir justamente um outro patamar civilizatório no que se refere ao respeito ao meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável. Temos que conseguir criar uma pressão de fora para dentro e continuar esse trabalho com a sociedade brasileira. Além de continuar o trabalho de incidência política, as conversas de deputado a deputado, de partido a partido, pressionar para que as lideranças, as direções dos partidos venham a público, mostrar a cara e fazer esse debate. Temos que desmontar alguns discursos. Um é o de que este texto é de consenso, porque ele só é de consenso dentro de algumas lideranças dentro do Congresso. A população, seja em função das assinaturas, seja em função das pesquisas de opinião, tem expressado sua completa discordância. Quando você junta num comitê desde ex-ministros do meio ambiente de governos tão diferentes, reúne movimentos de tantas diferenças, como Via Campesina, WWF, ISA, Greenpeace, CUT, CNBB, OAB e organizações sociais que não são ligadas, em princípio, ao meio ambiente significa que aí sim você tem uma representação da sociedade bastante forte. O que se vê no Congresso é um pequeno grupo com forte poder econômico e de pressão política para conseguir fazer alterações no Código Florestal. A segunda falácia é a que afirma que esse texto aprovado é o “caminho do meio”, por não atender só a ambientalistas ou só a produtores rurais. Isso é uma falácia porque qualquer mudança no Código que, de alguma forma, permita manter e ampliar o desmatamento, que reduza as áreas de proteção permanente e dê anistia a quem desmatou, se distancia de uma da posição virtuosa, ou seja, que defenda, de fato, um desenvolvimento sustentável e seja comprometida com as futuras gerações.

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FONTE : (Ecodebate, 22/12/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

Brasil: a segurança alimentar em risco – Sobre a uranificação das áreas agrícolas, artigo de Norbert Suchanek

No Brasil, temos vários vilões contra o meio ambiente e seres humanos: A indústria da soja e a indústria nuclear com sua exploração de urânio estão entre os mais poderosos vilões. Este artigo mostra a conexão dessas duas indústrias e como eles ameaçam a segurança alimentar das futuras gerações do Brasil. O artigo começa com o plano dos Governos Lula da Silva e Dilma Rousseff de sextuplicar a produção de urânio e de instalar uma mina de urânio-fosfato no Sertão de Santa Quitéria, no Ceará.
[EcoDebate] Em 2008, o Conselho de Administração das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) aprovou a proposta feita pelo Grupo Galvani para atuar como parceira na exploração da jazida de Santa Quitéria, onde o urânio se encontra consorciado ao fosfato. Galvani ganhou a disputa pelo direito de exploração de fosfato-urânio contra a Vale e a Bunge Brasil. “Objetivamente, (a Galvani) é a que dá maior retorno, maior vantagem às indústrias da INB. É uma empresa com muita experiência na área. Tecnicamente, entende todas as necessidades deste projeto, que não é só a produção de urânio, mas também de fertilizantes”, justificou o Presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho. Segundo a INB – que detém o monopólio da mineração e beneficiamento do urânio encontrado em solo brasileiro – a reserva de Itataia tem capacidade de produção por ano de até 240.000 toneladas de fosfato e 1.600 toneladas de urânio – neste caso, o urânio é somente um subproduto da mineração de fosfato. O fato é que Santa Quitéria só é economicamente viável por causa da demanda do agrobusiness por fosfato.
O que é o fosfato?
O fosfato é um fertilizante cada vez mais utilizado na agricultura mundial e no Brasil, especialmente para manter a produção de soja não-transgênica e transgênica. Já desde 2005 – quando foi publicado um alerta na Suíça – sabemos que o uso do fosfato (de origens de rochas sedimentares e rochas ígneas) é um grande perigo para a Humanidade, porque este fosfato está sempre contaminado com urânio. E este urânio se acumula a cada ano no solo, e poderiam contaminar cada vez mais as águas e os alimentos. Com as grandes lavouras industriais por exemplo de soja e dos outros biocombustíveis, estamos na realidade uranificando o solo. Urânio no solo é um risco alto para a segurança alimentar no futuro bem próximo.
Mas por que usamos, no Brasil e no mundo, fosfato (contaminado com urânio) para fertilizar as lavouras e não fosfato biogenético de origem guano? Resposta: guano quase não existe mais, as jazidas de guano já foram esgotadas na segunda metade do Século 20.
Fosfato (puro sem contaminação) é um elemento importante para todos os seres vivos, plantas e animais ou para a Coca Cola. E todo os seres vivos expelem fosfato com os seus excrementos. Fosfato biogenético é simplesmente a acumulação de ‘cocô’ de milhares de aves durante séculos e milhares de anos. Isso é o que se chama guano. Lugares com grandes colonias de aves criaram grandes jazidas de guano, por exemplo, no Chile e na Ilha do Pacífico Nauru.
Hoje, por causa da exploração não sustentável, já por muitos anos este fertilizante “orgânico” é raro e caro! Por isso o Brasil, EUA, União Europeia, Rússia e todos os países com agricultura industrial estão usando fosfato da mineração do subsolo que sempre é contaminado com urânio. “A rocha fosfática é a única fonte de fósforo economicamente viável para a produção de fertilizantes fosfatados e fosfatos para outros fins”, explicou a empresa Bunge Fertilizantes, em 2008. “Cerca de 85% da produção mundial de fosfato vem de rochas sedimentares e o restante (15%) de rochas ígneas. No Brasil mais que 95% vem de rochas ígneas, pela vocação geológica.”
Tecnologicamente, é possível separar o urânio quase 100% do fosfato, mas esta tecnologia é muito cara. Resultado: cada ano os agricultores convencionais jogam, junto com fosfato, o urânio – um elemento pesado, radioativo e altamente tóxico – nas terras de nossas plantações, que significa um grande risco à saúde e à segurança alimentar no futuro para as próximas gerações de toda a Humanidade.
O mundo não pode continuar com este processo de uranificação dos solos!
Até agora o Brasil está importando uma grande quantidade deste fosfato do Norte da África e da Rússia, provenientes de suas minerações de fosfato (urânio). No futuro próximo, o governo brasileiro quer substituir estas importações com fosfato da mina de urânio de Santa Quitéria.
Summa-Sumarum: quem lutar contra soja e contra o uso de fosfato na agricultura convencional, luta automaticamente também contra a desastrosa mineração de urânio-fosfato em Santa Quitéria e em outros países! Importante lembrar que a agricultura tradicional não precisa de fertilizante fosfato e na agricultura orgânica o fertilizante “fosfato mineral” é normalmente proibido!
Também existe uma outra fonte de fosfato barato e mais ecológico: fosfato extraído de nossos próprios excrementos, concretamente fosfato extraído durante o processo de tratamento de esgoto das cidades. Mas até hoje, o Brasil não está usando esta grande jazida, esta grande riqueza sustentável, este “Pré-Cocô”. Até hoje o Rio de Janeiro está jogando fora a sua riqueza, o esgoto de 11 milhões de pessoas, com emissários submarinos no mar. Então, a minha proposta para a Rio + 20 é: Economia Verde baseada no esgoto. Tratamento de esgoto correto, usar o esgoto como uma jazida de fosfato e deixar o urânio-fosfato em Santa Quitéria no chão. Questão: quem vai ganhar os royalities desta jazida de esgoto, só os cariocas?
Post scriptum: Embora a mina em Santa Quitéria ainda não tenha a licença ambiental e o povo brasileiro ainda não ter tido a oportunidade para decidir se quer esta primeira mina de urânio-fosfato do Brasil, o projeto já está produzindo fosfato e lixo radioativo na região de Poços de Caldas, Minas Gerais, onde foi feita a primeira mineração de urânio do Brasil.
Segundo a Empresa Galvani, publicado em agosto de 2011, a planta piloto do projeto Santa Quitéria, instalada em Caldas (MG), iniciou a segunda etapa dos trabalhos de purificação do acido fosfórico por meio da retirada do urânio. “A planta está operando 8 horas por dia, com a meta de alcançar 1.500 horas. Assim, vamos poder otimizar a utilização dos equipamentos e dos solventes empregados, além de identificar e corrigir todos os possíveis problemas que o processo possa apresentar quando implantado industrialmente”, diz Michele Ruiz, engenheira de processos do Grupo Galvani.”O Consórcio Santa Quitéria, formado pela Galvani e pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil), iniciou a primeira etapa dos testes com a planta piloto em agosto 2010.”
Até agora o Grupo Galvani está seguro que a mina vá ganhar a licença ambiental do IBAMA, quando chegar a fase de produção: “A partir de reuniões entre INB, responsável pela obtenção das licenças, a Galvani, o Governo do Ceará e o IBAMA, foi estabelecido um termo de referência usado para elaborar o EIA-RIMA, seguindo modelo que atenda aos requisitos tanto em âmbito estadual quanto federal. A previsão é que o projeto Santa Quitéria comece a operar em 2015“, informou o Grupo Galvani recentemente.

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FONTE : Norbert Suchanek, Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, é articulista e colaborador do EcoDebate
Veja também: Os problemas causados pela soja, livro: “Der Soja-Wahn” (“A loucura da soja”)
http://racismoambiental.net.br/2010/08/os-problemas-causados-pela-soja-em-livro-der-soja-wahn-a-loucura-da-soja/
EcoDebate, 22/12/2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Amazônia morre e os jornais não vêem, artigo de Leão Serva

Nos últimos dias, dados preliminares de desmatamento da região foram anunciados como “boa notícia” ao mostrar que a destruição reduziu velocidade, quando apenas querem dizer (se comprovados) que o tumor causou a amputação de parte menor do corpo. Enquanto governo e imprensa fazem festa, o paciente morre. Procedimentos essenciais do jornalismo determinam a desinformação sobre o desaparecimento da maior floresta do mundo.
Um exemplo: no dia 16/10, a Folha deu manchete para um inédito levantamento de todas as obras de infraestrutura do PAC para a Amazônia. A reportagem saiu em “Mercado” e pela primeira vez foi possível ver que está em curso uma série de obras com dinheiro da União que, tantas sendo, não podem ser benignas numa floresta atacada há 40 anos. Mas, como o jornal é dividido em editorias e as notícias devem se submeter a elas, a mesma edição do jornal revelava na editoria “Ciência”, páginas distante, que o “País faz mais obras, mas diminui gasto com conservação”.
A separação das notícias tira do leitor a capacidade de entender fatos complexos, como o atual processo de destruição da Amazônia. O fracionamento faz com que a tramitação do Código Florestal no Congresso seja tratada em páginas de política; obras de infraestrutura na Amazônia, em economia; o ritmo da devastação florestal, em ciência; as mudanças dramáticas no clima amazônico, em meteorologia.
O ineditismo do levantamento da Folha é prova de omissão frequente da nossa imprensa: não ligar notícias de um dia com o passado. No caso das obras na Amazônia, os jornais nunca somam o impacto de obras já inauguradas com as que são anunciadas.
O governo se aproveita da miopia: jamais anuncia dois projetos ao mesmo tempo, diluindo o impacto de cada um. O próprio índice percentual de destruição total da floresta (estimado pelo Inpe pela análise de fotos de satélites do programa Prodes) é tema de confusão. O órgão divulga a cada ano quatro meses levantamentos de satélites diferentes, com dados às vezes contraditórios. Neste ano, os alertas de incêndio e desmatamento dos programas Deter e Degrad indicaram um aumento da degradação, mas os dados preliminares de desmatamento total revelam redução da velocidade de destruição.
Dois defeitos se repetem anualmente na divulgação dos dados do Inpe: (a) ao divulgar percentuais, o instituto esconde a soma dos valores absolutos de desmatamento já acumulado; (b) o noticiário não junta os dados dos programas que medem destruição total (Prodes) e degradação grave (Deter e Degrad), que poderiam revelar à opinião pública o ritmo assombroso da destruição da Amazônia.
Quanto ao primeiro defeito: segundo o Inpe, o desmatamento acumulado das áreas ocupadas por floresta em 1988 é de 18% (ou seja, quase 1/5 da maior floresta do mundo sumiu em 23 anos)! A segunda questão é mais dramática: a cada hectare inteiramente desmatado, outro sofre degradação irreversível. Ou seja, em 23 anos, o processo de destruição da floresta (desmatamento total e degradação grave) já amputou cerca de 35% da floresta, aproximando-se da previsão, que parecia apocalíptica nos anos 1980, de que a floresta amazônica poderia desaparecer em 50 anos.
A confusão de índices de desmatamento é semelhante à cobertura da inflação anos atrás: em 1989, uma redução da alta de preços de 80% para 20% seria notícia boa se o índice tendesse a zero, o que se deu com o Plano Real, em 1994. Já a destruição da Amazônia não tem Plano Real à vista: o governo federal quer estabilizar o desmatamento em 5 mil km²/ano, área de três cidades de São Paulo. Assim, de “boa notícia” em “boa notícia”, a floresta morre.

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FONTE :  Leão Serva, jornalista, ex-secretário de Redação da Folha (1988-92), é autor de “Jornalismo e Desinformação” (editora Senac).
Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo.
EcoDebate, 21/12/2011