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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Como gerar mais energia sem afetar o ambiente?


Cresce a participação de energias alternativas, como a eólica. Foto: Shutterstock
Cresce a participação de energias alternativas, como a eólica. Foto: Shutterstock
Por Roberto Rockmann, da Carta Capital –
Um dos maiores desafios do Brasil é a equação entre mais energia, crescimento econômico e sustentabilidade. CartaCapital debate o tema nesta segunda-feira.
Brasil atravessa um período de transição da sua matriz de energia baseada nas hidrelétricas, que deverão gradualmente perder participação na geração nos próximos anos. Com o avanço das térmicas movidas a combustíveis fósseis, o setor poderá tornar-se o maior responsável por emissões de poluentes a longo prazo e desbancar o desmatamento. Essa possibilidade levanta uma série de dúvidas em relação ao futuro da matriz, cada vez mais dependente das chuvas, e que exigirá maior diversificação e redução dos custos para o consumidor final, prejudicado por uma das tarifas mais caras no mundo.
Segundo estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente, as emissões do setor partiram de um patamar de 195 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (medida da quantidade de gases de efeito estufa) em 1990 para 440 milhões de toneladas em 2012, equiparando-se às emissões da agropecuária e da mudança de uso da terra.
De apenas 11% das emissões em 2004, as empresas responderam em 2012 por 30%, resultado do intenso uso do modal rodoviário, grande consumidor de diesel e gasolina, para o transporte de cargas, e do crescimento do uso das térmicas na geração elétrica. Esse e outros desafios no setor serão discutidos na segunda-feira 31 no seminário “Energia: Crescimento Sustentável”, mais um evento da série Diálogos Capitais.
Neste ano de forte estiagem, com o nível dos reservatórios perto dos 20% na Região Sudeste, e o aumento do risco de um novo racionamento, as usinas térmicas contribuíram com quase um terço da geração de energia do País. O avanço da participação dessas unidades coincide com a maior dependência das chuvas para gerar eletricidade e a dificuldade de se construirem novas hidrelétricas, hoje restritas à Região Norte, detentora de cerca de 70% do potencial hidrelétrico nacional.
Desde a década de 1990, o País constrói usinas a fio d’água, ou seja, sem grandes reservatórios de armazenagem. Nos anos 1980 e no início da década de 1990, a capacidade dos reservatórios possibilitava o armazenamento de energia por até três anos. Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro mostra que, em 2001, a capacidade de regularização dos reservatórios, ou o quanto de energia o Brasil pode armazenar na forma de água para suprir a demanda de energia, era de pouco mais de seis meses. Em 2012, a capacidade de regularização caiu para 4,9 meses e poderá diminuir ainda mais.
Entre 2013 e 2018, período previsto para o início de operação de grandes empreendimentos como as usinas do Rio Madeira e de Belo Monte, deverão ser acrescentados ao sistema 20 mil megawatts de capacidade hídrica. Desse total, só 200 megawatts têm reservatórios, segundo estimativa do Operador Nacional do Sistema. Isso fará com que a capacidade de armazenamento caia para 3,8 meses em 2018, de acordo com algumas estimativas de empresas privadas. Nesse contexto, a energia térmica ganha espaço.
A menor área de alagamento reduz os impactos ambientais, mas torna o sistema mais dependente de São Pedro. “Neste ano, não tivemos problemas porque a demanda da indústria está muito fraca, por conta da recessão”, afirma o físico Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras e diretor da Coppe (UFRJ).
Licitar projetos hidrelétricos é complicado, a exemplo da Usina São Manoel, no Rio Teles Pires, na divisa do Mato Grosso com o Pará. A União tentou por mais de três anos obter o licenciamento do empreendimento. Em 2010, o Ibama apontou uma série de deficiências no estudo de impacto ambiental da hidrelétrica, com capacidade estimada para abastecer mais de 2 milhões de residências.
A participação da energia solar também tem sido mais relevante. Foto: Shutterstock
A participação da energia solar também tem sido mais relevante. Foto: Shutterstock
Em 2011, durante o processo de audiência pública para discussão do empreendimento, quatro funcionários da Funai, dois da Empresa de Pesquisa Energética e um antropólogo foram sequestrados por índios da aldeia Kururuzinho, contrária à construção. A usina foi licitada somente em dezembro de 2013. Até a hora do leilão, a licitação estava cercada de dúvidas. Depois das dificuldades para obter a licença ambiental prévia, o projeto chegou a ser retirado por força de uma liminar da Justiça. A Advocacia-Geral da União derrubou a liminar e garantiu a licitação, pouco antes do prazo.
Diante dessas dificuldades, as hidrelétricas, que há 20 anos geravam mais de 80% da energia, deverão contribuir com 65% no início da próxima década. Com base em três cenários e em projeções de crescimento da demanda até 2040 em cada um deles, a participação das hidrelétricas poderá variar de 46% a 57% da geração de energia elétrica, segundo estudo da FGV Projetos.
O potencial hidrelétrico estimado entre 40 a 50 gigawatts deverá esgotar-se por volta de 2030, segundo projeções de algumas empresas. Os principais projetos são os do Rio Tapajós, no Pará, com destaque para São Luís, de 8.040 megawatts de potência e investimentos de 26 bilhões de reais, o maior empreendimento futuro de fonte hídrica no País. O governo trabalha para licitá-lo em 2016. A usina será construída a partir de um novo modelo, inspirado parcialmente nas plataformas de exploração de petróleo.
A hidrelétrica não seria acompanhada da instalação de vilas operárias, cidades e centros comerciais no entorno. A ideia é criar alojamentos temporários, que serão totalmente desmontados no fim da obra, com redução da possibilidade de grandes migrações para a região. Além disso, vias provisórias de acesso serão desfeitas e a vegetação, recomposta com o replantio de árvores.
Usinas eólicas, solares e térmicas a gás natural deverão ganhar espaço. A opção nuclear, favorecida pelo fato de o Brasil deter grandes reservas de urânio, provavelmente voltará a ser discutida. Um destaque deverá ser o uso da energia solar, hoje inexpressivo, mas que em 2024 poderá representar 3% da geração de eletricidade no Brasil. Essa alternativa pode gerar 10% da energia, cerca de 6 mil megawatts médios, apontam estimativas do governo.
Uma resolução de 2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica estabelece que clientes residenciais e comerciais podem instalar painéis fotovoltaicos e abater de suas contas a microgeração obtida a partir dessa fonte. O governo trabalha em um projeto para estimular o ingresso da energia solar na matriz. Está em negociação com o Ministério da Fazenda a redução da cobrança de PIS/Cofins sobre os equipamentos importados, enquanto os secretários de Fazenda dos estados deverão eliminar o ICMS cobrado sobre os microgeradores de energia.
Há 15 anos, projeções de aumento da participação da energia eólica na matriz elétrica nacional não eram levadas muito a sério. Essa fonte ganhou espaço e poderá chegar ao fim da década com uma potência instalada superior a 14 mil megawatts, mais do que a capacidade da Usina Hidrelétrica de Itaipu, uma das três maiores do mundo. Em 2024, atingiria 20 gigawatts de potência, mais de 10% da matriz elétrica. Com o aumento do uso das fontes eólica e solar, a matriz será mais bem distribuída e intermitente, pois essas fontes dependem de sol e vento.
O gás terá também presença crescente. A produção poderá dobrar para 180 milhões de metros cúbicos por dia no início da próxima década, por causa do pré-sal, apontam algumas estimativas. Na Bacia de Campos, nos melhores casos fora do pré-sal, são produzidos 80 metros cúbicos de gás para cada metro cúbico de petróleo.
Já no pré-sal da Bacia de Santos, a média é de 220 metros cúbicos de gás para cada metro cúbico de petróleo. Uma portaria da Agência Nacional do Petróleo determina que, a partir de 2015, a queima de gás terá de ser apenas de 3% nos campos de petróleo. Essa definição harmoniza-se com a situação do pré-sal, com o gás associado ao óleo, e às promissoras perspectivas de jazidas de gás não convencional, como as de xisto.
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Energia em debate
Confira a programação do seminário “Energia: Crescimento Sustentável“, promovido por CartaCapital:
Na segunda-feira 31, CartaCapital promove em São Paulo mais um debate da série Diálogos Capitais. Desta vez, o tema central será a perspectiva de ampliação da oferta de energia. A seguir, a programação de “Energia: Crescimento Sustentável”:
8h Credenciamento e Welcome Coffee
9h Boas-vindas CartaCapital
9h10 Debate: As Oportunidades de Investimento
Renato Sucupira – Presidente da BF Capital
Nelson Siffert – Superintendente de Energia do BNDES
Maurício Tolmasquim – Presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética)
10h15 Coffee Break
10h30 Debate: A Diversificação da Matriz
Tania Cosentino – Presidente da Schneider Electric para América do Sul
José Carlos de Miranda Farias – Diretor-presidente da Chesf
11h30 Debate: Mais Inteligência na Rede
Sergio Jacobsen – Gerente-geral de Serviços e Soluções para Smart Grids da Siemens no Brasil
Abel Rochinha – Presidente da Ampla e da Coelce
(Carta Capital/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Carta Capital

Audiência discute ameaças às áreas verdes nas cidades


Foto: Lucio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados
Foto: Lucio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados
Por Redação do WWF Brasil –
Mais uma proposta de ameaça ao patrimônio natural brasileiro está em tramitação na Câmara dos Deputados. Desta vez, o alvo da bancada ruralista são as Áreas de Preservação Permanente (APPs) localizadas no perímetro urbano nas regiões metropolitanas. Mesmo com as evidências sobre a importância das áreas protegidas na manutenção das fontes de água, do equilíbrio climático e da preservação dos solos, os parlamentares insistem em reduzir espaços verdes no País.
O projeto de lei 6830/2013, do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), estabelece que, em áreas urbanas, as margens de qualquer curso d’água natural terão sua largura determinada pelos planos diretores e leis de uso do solo, ouvidos os conselhos estaduais e municipais de meio ambiente.
O PL é mais uma das propostas que pretende alterar o novo Código Florestal – Lei 12.651, de 25 maio de 2012 –, modificando o artigo 4º, que estabelece limite de no mínimo 30 metros para proteção de margens de cursos d’água, riachos e rios, inclusive dentro de cidades. Com as mudanças no dispositivo, será permitido que os planos diretores municipais e as leis de uso do solo alterem diretamente as limitações das áreas de preservação localizadas nas regiões metropolitanas e urbanas. Essa possibilidade já tinha sido vetada pela Presidente Dilma Rousseff em 2012, quando foi encaminhado à sanção a nova lei florestal.
Na última quarta-feira (26), especialistas defenderam que o novo Código Florestal seja mantido. Na audiência pública realizada pela Comissão de Desenvolvimento Urbano para discutir projeto de Colatto, expositores da área ambiental e acadêmicos alertaram que se as APPs nas cidades forem reduzidas a crise hídrica e climática será ainda mais intensa nos próximos anos.
“As APPs têm a função de um grande filtro mantenedor das águas potáveis nas cidades. E elas trazem as oportunidades de vencermos os desafios do clima”, explicou Malu Ribeiro, coordenadora do Programa Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. Para ela, não podem ser cometidos os mesmos erros do passado, como as ocupações das margens dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo. “A natureza não pode ficar à mercê das questões políticas e econômicas. Hoje morremos de sede em frente a enormes reservatórios hídricos e mananciais que estão poluídos”, lamentou.
Na avaliação do Superintendente do WWF-Brasil, Jean Timmers, é importante observar as funções das APPs para a saúde da sociedade, melhorando a qualidade de vida na realidade urbana. “Elas são uma forma de garantir água potável, lazer e conforto ambiental, visto que amenizam as ilhas de calor em até 8 graus. Também são fundamentais na prevenção de desastres naturais, evitando mortes causadas por deslizamentos de terras e reduzindo enchentes”.
Segundo Timmers, é preciso que haja uma mudança de atitude com relação às APPs, no sentido de não serem mais consideradas como uma dificuldade para o desenvolvimento, e sim vistas como uma oportunidade de lazer coletivo, de bem-estar social e de saúde. “Mas o projeto não está facultando nada de novo no sentido de ampliar as áreas de proteção das cidades, mas de permitir reduzi-las”, destacou.
O professor Mário Diniz, do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB), disse que o quadro atual das APPs no Brasil é de ocupação e uso irregular. “São fatores diretamente ligados às inundações e às perdas de vida, como os casos ocorridos nas regiões Sudeste e Nordeste”, lembrou. Por essa fragilidade, Diniz entende que a manutenção das APPs precisa ser uma política de governo.
Já o autor da proposta em análise, Valdir Colatto, entende que esse assunto precisa ser discutido no Brasil porque existe uma lacuna no novo Código Florestal no que diz respeito às áreas urbanas consolidadas. “Se for cumprido o que está estabelecido na lei, o que estiver em APP – de 30 a 500 metros – teria que ser demolido. E isso é inviável”, argumentou.
Colatto defendeu ainda que o município é quem tem a competência de “resolver o seu problema”. Para ele, essa questão está engessando todo o processo de parcelamento do solo nas cidades. “Não se pode ter uma lei geral, pois cada realidade é uma. Isso é uma utopia. Se não expandirmos as moradias nas cidades vão acabar indo para a área agrícola e futuramente vamos ter que discutir aqui a segurança alimentar”.
Para o deputado Nilto Tatto (PT-SP), é a especulação imobiliária que empurra as populações carentes para as áreas sensíveis e são elas quem mais sofrem as consequências ambientais. “As prefeituras podem sim trabalhar em uma perspectiva de uma lei federal, pois é benefício do interesse da sociedade e não dos interesses particulares. Vemos absurdos em alguns municípios que acabam com rios e com a biodiversidade”, alertou Tatto.
Tramitação
O relator na comissão de Desenvolvimento Urbano, deputado Alberto Filho (PMDB-MA), informou que vai elaborar um parecer preliminar para ser analisado no grupo de trabalho. O relatório deverá ser votado em até 25 dias.
Em março deste ano, o projeto foi rejeitado na Comissão de Meio Ambiente. O relator do projeto na CMADS, deputado Sarney Filho (PV-MA), fez seu parecer pela rejeição do projeto. Uma das suas justificativas é que o texto aprovado em 2012 no Congresso Nacional apresentava dispositivos semelhantes aos novamente propostos pelo PL de Valdir Colatto e que, depois, foram vetados pela presidente da República.
“Trata-se de grave retrocesso na legislação em vigor, ao dispensar, em regra, a necessidade da observância dos critérios mínimos de proteção, que são essenciais para a prevenção de desastres naturais e proteção da infraestrutura”, defende Sarney Filho em seu relatório.
A proposta, que tramita em caráter conclusivo, depois de passar pela Comissão de Desenvolvimento Urbano, a proposta seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. (SOS Mata Atlântica/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site SOS Mata Atlântica.

O Brasil mais perto do Sol


Em Juazeiro, projeto do Minha Casa, Minha Vida, tem painéis solares em todos os telhados. Foto: ©Carol Quintanilha/Greenpeace
Em Juazeiro, projeto do Minha Casa, Minha Vida, tem painéis solares em todos os telhados. Foto: ©Carol Quintanilha/Greenpeace
Por Redação do Greenpeace –
Em segundo leilão exclusivo de energia solar 30 empreendimentos foram contratados. Bahia e Piauí lideram a contratação expressiva de 833 MW.
A energia solar teve destaque: o segundo leilão exclusivo para a fonte terminou com a contratação de 833,80 MW, a um valor médio de R$301,79/MWh. O deságio foi de 14% em relação ao valor inicial. “Com este preço, o governo dá sinais de que entendeu que é preciso incentivar a fonte. Não basta realizar leilões exclusivos, também é necessário garantir um preço final que faça com que os projetos contratados sejam viáveis e, de fato, possam ser entregues”, comenta Bárbara Rubim, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. Em outubro de 2014 – quando ocorreu o primeiro leilão federal exclusivo -, o valor final foi de R$215,12/MWh.
Se considerarmos que em novembro teremos outro leilão exclusivo para a fonte, a perspectiva é de que a contratação total de 2015 de energia solar supere as expectativas. Para o setor, é necessário garantir uma contratação de cerca de 1GW por ano, considerado o mínimo para o desenvolvimento do mercado nacional.
Apesar de os leilões serem de inegável importância para a maior inserção da energia solar na matriz elétrica brasileira, é preciso lembrar que o maior potencial para a fonte no Brasil – que segue quase despercebido pelo Governo Federal – está na descentralização da produção de energia, na chamada micro e minigeração renovável.
Hoje, para um brasileiro ter acesso a um sistema fotovoltaico e poder passar a gerar eletricidade a partir de seu telhado, ainda existem certas barreiras. Uma delas são os impostos que incidem no próprio sistema, que fazem com que ele seja 30% mais caro do que poderia ser, e tributos como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços) que incidem na própria eletricidade de quem opta por gerar sua própria energia, tornando-a menos vantajosa do que poderia ser.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que se todo o potencial de energia solar dos telhados brasileiros fosse aproveitado, a eletricidade gerada seria suficiente para abastecer 2,3 vezes o consumo inteiro do setor residencial de todo o país.
Uma outra barreira que precisa ser resolvida é a ausência de linhas de crédito subsidiadas pelos bancos. Outra forma de incentivar a energia solar, seria permitir aos cidadãos brasileiros usar seu FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para a aquisição de um sistema fotovoltaico.
Para chamar a atenção do Governo e dos brasileiros para essas questões, o Greenpeace lançou o Solariza. Um jogo que permite ao usuário encontrar e marcar qualquer telhado no País e descobrir quanto poderia estar gerando de energia e a economia prevista. O Solariza permite mostrar o potencial da energia solar no Brasil e que a sociedade civil tem interesse e deseja ter acesso à sistemas fotovoltaicos.Acesse, jogue, participe e convide seus amigos! (Greenpeace Brasil/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Greenpeace Brasil.

Negociação do clima reinicia contra o relógio


Bonn, na Alemanha, sedia nova rodada de negociações. Foto: Matthias Zepper/Creative Commons
Bonn, na Alemanha, sedia nova rodada de negociações. Foto: Matthias Zepper/Creative Commons
Por Claudio Angelo, do OC
Com metas quase todas na mesa, prazo apertado e nada resolvido, negociação para o acordo de Paris precisa avançar na substância. 
Representantes de 190 países reúnem-se a partir desta segunda-feira (31/08) em Bonn, na Alemanha, para uma maratona de discussões que poderá – ou não – avançar na montagem do novo acordo do clima. Os chefes da negociação já avisaram que a reunião começará “pontualmente às 10h” e que salamaleques diplomáticos não serão bem-vindos nos cinco dias de trabalho: simplesmente não há tempo a perder.
Exatos dez dias de negociações diplomáticas separam o mundo da COP21, a conferência do clima de Paris. Esse período será dividido em duas rodadas de uma semana cada uma, agora e em outubro, ambas na sede da Convenção do Clima da ONU, na antiga capital alemã.
As duas reuniões servirão para tentar dar forma e conteúdo ao texto do novo tratado de proteção climática, que já está sendo chamado nos bastidores de Acordo de Paris (“Paris Agreement”). O instrumento, a ser assinado em dezembro na capital francesa, deverá regular o combate às emissões de gases de efeito estufa pelas próximas décadas.
Os delegados reunidos em Bonn deverão trabalhar a partir da Ferramenta dos Co-Presidentes, o rascunho de acordo criado informalmente pelos coordenadores do ADP, o grupo de diplomatas encarregado de produzir o texto.
O argelino Ahmed Djoghlaf e o americano Daniel Reifsnyder tentaram resumir as 85 páginas do texto original – tamanho impossível para um acordo internacional – num documento enxuto. O texto original, que começou a ser rascunhado em fevereiro em Genebra, acabou com um tamanho intratável, às vezes com seis opções de redação para um mesmo parágrafo. Esse arrazoado precisa de uma edição radical.
A Ferramenta dos Co-Presidentes buscou quebrar o problema em três partes: a primeira contém os elementos essenciais do acordo, em 18 páginas. A segunda, de 21 páginas, contém elementos de uma decisão da Conferência de Paris que não precisam fazer parte do acordo, mas que o complementam, como detalhes de implementação e ações de corte de emissão a adotar antes de 2020, quando o novo acordo deve entrar em vigor.
A terceira parte, de 35 páginas, contém assuntos que, no dizer dos co-presidentes, precisam de “mais clareza” entre os países – entre eles, questões cruciais como a visão de longo prazo para 2050, o pico nas emissões globais, os mecanismos de mercado e o pagamento pelos ricos de perdas e danos sofridos pelos pobres devido a efeitos das mudanças climáticas aos quais não é possível adaptar-se.
A reunião de Bonn visa “arredondar” o texto da Ferramenta. Quanto menos questões forem deixadas em aberto na reunião de Paris, maiores as chances de um acordo efetivo. “Quem quer substância em Paris vai querer fazer as coisas rápido”, diz Mark Lutes, analista sênior de clima do WWF.
O caminho, é claro, não será tranquilo. Segundo Lutes, alguns países em desenvolvimento já vêm insinuando que a Ferramenta reflete mais as visões dos países desenvolvidos do que as deles. Os ricos, por sua vez, não indicaram ainda como será o fluxo de financiamento para os países pobres no acordo – e, sem isso, não há acordo.
Há, ainda, a preocupação básica com o tempo: há tanto texto para limpar, tantas edições para fazer e tantas opções para eliminar que esta rodada de Bonn pode não iniciar a discussão da substância do acordo.
Por outro lado, o clima político joga a favor: a maior parte dos grandes poluidores já apresentou suas metas (embora elas nem de longe representem o esforço necessário para conter o aquecimento global); os EUA lançaram seu Plano de Energia Limpa; e os líderes das três principais religiões do mundo – islâmicos, católicos e judeus – já avisaram seus fiéis que lutar contra a mudança climática é uma questão moral.
A depender de como esse clima se refletir nas mesas de negociação, existe uma chance de os co-presidentes receberem um mandato para elaborar mais um texto editado para apresentação em outubro, que pode ser, enfim, o rascunho final do Acordo de Paris. (Observatório do Clima/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.

Megaprojetos exigem desenvolvimento local


A estação de tratamento de água de Altamira, praticamente inativa, porque o encanamento, instalado há dez meses nas ruas desta cidade de 140 mil habitantes, não foram conectados aos imóveis. Altamira fica a 50 quilômetros da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia brasileira. Foto: Mario Osava/IPS
A estação de tratamento de água de Altamira, praticamente inativa, porque o encanamento, instalado há dez meses nas ruas desta cidade de 140 mil habitantes, não foram conectados aos imóveis. Altamira fica a 50 quilômetros da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia brasileira. Foto: Mario Osava/IPS
Por Mario Osava, da IPS – 
Altamira, Brasil, 31/8/2015 – Para o megaprojeto de Belo Monte chegaram muito tarde, mas algumas atuações poderiam melhorar a imagem das centrais hidrelétricas que aproveitam os rios amazônicos do Brasil, convertendo-as em um fator de desenvolvimento local efetivo. Em construção desde 2011 no rio Xingu, Belo Monte destina recursos sem precedentes para compensar e mitigar seus impactos, no chamado Projeto Básico Ambiental (PBA), com orçamento de US$ 900 milhões, pelo câmbio atual com o real.
A isso se soma um Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS), com verba de US$ 140 milhões, destinados a impulsionar políticas públicas e melhorar a vida de toda a população da área de influência da central de energia, que compreende 11 municípios do Estado do Pará.O total desses recursos corresponde a 12,8% do custo da gigantesca obra no Médio Xingu, um dos grandes afluentes do rio Amazonas.
Se fosse feita uma distribuição por pessoa, caberiam US$ 2.500 para cada um dos pouco mais de 400 mil habitantes locais. Os números apresentados pela empresa concessionária de Belo Monte, a Norte Energia, não silenciam as queixas e denúncias que, embora originadas por pequenos grupos, minam a reputação das hidrelétricas como melhor solução energética para este país sedento de eletricidade.
“A lentidão com que a empresa executa as ações compensatórias é inversa à velocidade que imprime às obras da hidrelétrica”, criticou o Fórum de Defesa de Altamira, que reúne 22 organizações contrárias ao megaprojeto. O atraso mais visível afeta o saneamento da cidade, a principal da região, que concentra um terço de sua população. Instalados há dez meses, a rede de esgoto e as tubulações de água continuam inúteis, deixando parcialmente ociosas também as usinas de tratamento de água potável e de esgoto.
Isso ocorre porque não foi feita a ligação com as residências e os comércios, uma tarefa em demorada negociação entre a Norte Energia, a prefeitura e a empresa de saneamento do Pará, mesmo depois que a companhia se mostrou disposta a assumir seu custo, aumentado pela deterioração das tubulações.“Além disso, ficou fora a drenagem pluvial, pois a prefeitura não a incluiu entre as condições exigidas para que a empresa possa operar a hidrelétrica”, lamentou à IPS o coordenador da Fundação Viver, Produzir e Preservar, João Batista Pereira. É uma carência destrutiva para as cidades amazônicas, que recebem chuvas frequentes e torrenciais.
Componente de uma das 18 turbinas que vão gerar eletricidade na unidade principal da central de Belo Monte, pronto para ser instalado na gigantesca obra na Amazônia brasileira. Foto: Mario Osava/IPS
Componente de uma das 18 turbinas que vão gerar eletricidade na unidade principal da central de Belo Monte, pronto para ser instalado na gigantesca obra na Amazônia brasileira. Foto: Mario Osava/IPS
As obras e serviços incluídos no PBA respondem às exigências do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente, a autoridade nacional do setor, cujo descumprimento pode paralisar o projeto. Mas são regras sujeitas a flexibilizações e interpretações variadas, conforme demonstram experiências recentes.Pereira é um dos dirigentes do PDRS, um programa “democrático e participativo”, no qual os investimentos são decididos por um Comitê Gestor de 15 membros da sociedade e 15 membros dos governos municipal, estadual e federal.
Os projetos podem ser apresentados por qualquer organização local que opere nos quatro eixos do plano: regularização da terra e de assuntos ambientais, infraestrutura, produção sustentável e inclusão social. Esses eixos e alguns projetos que já financia, como a fábrica de chocolate Cacauway, que processa a recente produção de cacau, distinguem o PDRS do PBA, que responde às necessidades imediatas de pessoas afetadas, como indígenas, pescadores ou famílias deslocadas pela construção da represa.
As ações do PBA foram definidas pelo estudo de impacto ambiental, prévio à licitação da central e elaborado por pesquisadores. Os hospitais e clínicas buscam compensar os municípios pelo aumento da demanda de serviços de saúde, enquantoforam construídas 4.100 moradias para acolher as famílias desalojadas. As respostas a essas necessidades imediatas acontecem sem um planejamento integral ou duradouro. Existe apenas um responsável pela execução, a concessionária, embora sejam tarefas estatais. “É natural a confusão entre o público e o privado”, afirmou à IPS o diretor da área socioambiental da Norte Energia, José Anchieta.
O atraso em programas compensatórios, conforme críticas do Fórum de Defesa de Altamira, gerou caos. Na realidade, muitas dessas atuações deveriam ter acontecido antes da construção da hidrelétrica. Os hospitais e ambulatórios foram entregues pela Norte Energia agora, no final da obra, mas quando foram mais necessários foi há dois anos, durante o maior fluxo de trabalhadores e população flutuante na região. O mesmo aconteceu com as escolas e obras de urbanização.
Essa falta de sincronia teve ares de tragédia na questão indígena. Não foi feito o fortalecimento institucional da proteção à população originária, mas o contrário, e a presença local da Fundação Nacional do Indígena (Funai) se enfraqueceu durante as obras de Belo Monte. Acentuou-se a ausência do Estado.
Entre 2010 e 2012, foi adotado um “plano de emergência” que distribuiu alimentos industrializados e outros bens às aldeias indígenas. Isso provocou uma mudança abrupta de hábitos, à qual é atribuído um grande aumento da desnutrição e mortalidade infantil entre suas populações, que só recentemente começaram a receber moradias, escolas e insumos para retomada da produção agrícola.
Ponte em construção em uma estrada à entrada da cidade de Altamira, na Amazônia brasileira. O atraso na obra impede a reurbanização das partes baixas da cidade, que serão parcialmente inundadas pela represa da hidrelétrica de Belo Monte. Foto: Mario Osava/IPS
Ponte em construção em uma estrada à entrada da cidade de Altamira, na Amazônia brasileira. O atraso na obra impede a reurbanização das partes baixas da cidade, que serão parcialmente inundadas pela represa da hidrelétrica de Belo Monte. Foto: Mario Osava/IPS
O horizonte temporário também afasta o PDRS do PBA, que deveria terminar antes da formação das represas, prevista para o final deste ano. O PDRS tem prazo de ação de 20 anos. Além disso, trata-se de “um importante ambiente de debates, definição de projetos e redefinição de políticas públicas, que deveria ser perene, transformado em um instituto ou fundação”, destacou Pereira, para defender a “adoção de sua gestão democrática por outras agências de fomento”.
O tema preocupa o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financia 78% do custo da construção de Belo Monte. Além de ter uma equipe acompanhando o PDRS, promoveu um estudo para ordenar seus projetos e suas ideias em uma Carteira de Iniciativas e em uma Agenda do Desenvolvimento Territorial (ADT) do Xingu.Esse esforço de planejamento e fomento de um verdadeiro desenvolvimento acontece quando já é difícil neutralizar os efeitos negativos, que dificultam a construção de novas hidrelétricas Amazônia adentro, mesmo prometendo uma ADT prévia.
Além disso, Belo Monte realçou, também por motivos claramente energéticos, os dilemas e desafios da geração elétrica, dramatizados atualmente por uma forte seca em grande parte do Brasil.Belo Monte, segunda maior hidrelétrica brasileira em potência e a terceira do mundo, com 11.233 megawatts, agravará as quedas cíclicas da hidroeletricidade no segundo semestre de cada ano, quando estiver plenamente operacional a partir de 2019.
Isso porque o rio Xingu apresenta a maior variação estacional em seu fluxo. De 19.816 metros cúbicos por segundo em abril, mês de maior cheia, baixa para 1.065 metros cúbicos em setembro, no extremo da estiagem, como média entre1931 e 2003, segundo dados da Eletrobras, principal empresa do setor.
Provavelmente não exista um rio pior para receber centrais de passagem, cujas represas não acumulam água para os meses secos. Belo Monte representará 12% do total de geração hídrica do país, por isso o efeito desse desnível será enorme, ampliando a demanda por centrais térmicas, mais contaminantes e caras.A alternativa teria sido uma represa 2,5 vezes maior, inundando duas terras indígenas, algo vedado pela Constituição brasileira. Outra pode ser a construção de quatro a seis centrais rio acima, para regularizar o fluxo do Xingu, como incluía o projeto original da década de 1980, deixado de lado pelas reações contrárias. Envolverde/IPS

James, a Veronica mora em Lorena e está indignada com o iminente acontecimento do primeiro rodeio em sua cidade. Ela fez um abaixo-assinado pela proibição deste evento que se baseia em maus tratos de animais para o simples divertimento. Assine aqui para apoiá-la!

Prefeitura Municipal de Lorena/SP: Diga não aos rodeios na cidade de Lorena

Veronica Paula 
Lorena
Entre os dias 03 e 06 de setembro será realizado o 1º rodeio festival de Lorena.
Diversas cidades já proibiram a prática de rodeios. 
É de conhecimento geral que para que o touro pule são usados instrumentos cortantes e perfurantes.
Não podemos retroceder nesse direito dos animais e permitir que tal barbárie ocorre em nossa cidade.
Vamos nos unir contra mais essa forma de maus tratos, vamos mostrar para a Prefeitura de Lorena que a população não aceita esse tipo de "divertimento".
Festa com músicas sertanejas SIM! 
Rodeio NÃO!

Aumento da temperatura causa a diminuição da taxa metabólica de beija-flores


Mudanças climáticas causam alterações no comportamento de beija-flores (foto: Wikimedia Commons)

Por Elton Alisson | Agência FAPESP
As mudanças climáticas podem causar a diminuição da atividade de voo de beija-flores e, consequentemente, da polinização de vegetais por esse grupo de aves.
A constatação é de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Taubaté (Unitau), em colaboração com colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo (EEL-USP) e da University of Toronto Scarborough, do Canadá, durante o Projeto Temático “Assessment of impacts and vulnerability to climate change in Brazil and strategies for adaptation option”, realizado com apoio da FAPESP no âmbito de um acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Observamos que o aumento da temperatura causa a diminuição da taxa metabólica de beija-flores [a quantidade de oxigênio consumido necessário para produzir energia]. Com isso, cai a frequência de batimentos de asa das aves e, consequentemente, elas passam a voar menos e diminuem a procura por néctar em flores”, disse Maria Cecília Barbosa de Toledo, professora do Departamento de Biologia da Unitau e coordenadora do projeto, à Agência FAPESP.
Os pesquisadores estudaram oito espécies de beija-flor encontradas em diferentes níveis de altitude no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo.
Duas das espécies são de baixa altitude – o beija-flor rajado (Ramphodon naevius) e o topetinho-verde (Lophornis chalybeus) –, outras duas são de alta altitude – o beija-flor de topete (Stephanoxis lalandi) e o beija-flor de papo branco (Leucochloris albicollis) –, três ocorrem ao longo de todo o gradiente elevacional do Vale do Paraíba – o beija-flor de fronte violeta (Thalurania glaucopis), beija-flor rubi (Clytolaema rubricauda) e beija-flor de garganta verde (Amazilia fimbriata) – e a última – o beija-flor preto (Florisuga fusca) – é migratória.
O grupo de aves foi escolhido porque apresenta uma alta taxa metabólica, relacionada com fatores ambientais, como temperatura e altitude.
“Estimávamos que as mudanças climáticas poderiam causar grandes impactos em espécies de beija-flor e que, por isso, podiam ser usadas como bioindicadoras”, disse Toledo.
A fim de simular os efeitos das variações climáticas nesses animais, os pesquisadores usaram como referência o gradiente climático altitudinal da região montanhosa do Vale do Paraíba, que varia de três metros – como os das cidades de Ubatuba e Caraguatatuba – a 1,8 mil metros de altitude, como o da cidade de Campos do Jordão.
Nessas regiões, com diferentes níveis de elevação altitudinal e temperatura variável entre 10 e 30 ºC, eles avaliaram a taxa metabólica em campo de beija-flores rubi (Clytolaema rubricauda) – uma das três espécies de beija-flor que ocorrem ao longo de todo o gradiente altitudinal do Vale do Paraíba.
Para isso, usaram um sistema em que o beija-flor é capturado e colocado dentro de uma câmara com um alimentador, no alto do recinto – composto por um tubo plástico contendo uma solução de sacarose a 20% –, e um poleiro que serve de balança para indicar o peso do animal.
Para conseguir se alimentar da solução de sacarose, a ave precisava pairar no ar e inserir a cabeça dentro do tubo de plástico do alimentador, que funciona como uma máscara respiratória, com passagem de 2,5 mil mililitros (ml) de ar por minuto.
Ao pairar no ar e inserir a cabeça na máscara respiratória, os pesquisadores conseguiam analisar a temperatura, além do volume de oxigênio consumido e o total de dióxido de carbono produzido pela ave durante o voo pairado.
Dessa forma, conseguiram estimar as taxas metabólicas dos pássaros em diferentes temperaturas ao longo do gradiente altitudinal do Vale do Paraíba.
“Esse sistema possibilita avaliarmos a taxa metabólica de beija-flores em atividade, que é o dado mais importante para mensurarmos os efeitos das mudanças climáticas no metabolismo dessas aves”, explicou Toledo.
Menos voo
Uma das constatações dos experimentos foi que o aumento da temperatura diminui a taxa metabólica do beija-flor rubi.
A taxa metabólica da ave foi maior em uma faixa de temperatura mais amena, entre 20.1 e 25 ºC, e menor sob temperaturas mais altas, entre 25.1 e 30 ºC, indicaram os experimentos.
Nessa faixa de temperatura mais elevada, o pássaro tende a diminuir a frequência de batimento de asas, procura mais sombra para permanecer em repouso e voa menos para manter seu metabolismo e diminuir o gasto energético, explicou Toledo.
“Essa mudança de comportamento pode causar a diminuição da polinização de vegetais por essas aves”, estimou a pesquisadora. “Os beija-flores passam a visitar menos as flores silvestres em busca de néctar e, consequentemente, deixam de transportar pólen de uma flor para outra”, estimou a pesquisadora.
Algumas espécies de beija-flor possuem preferências climáticas, apontou o estudo.
O beija-flor rubi, por exemplo, apresenta maior ocorrência no Vale do Paraíba em regiões com temperatura na faixa de 20 º a 25 ºC, e não “dá as caras” em regiões de baixa altitude durante o verão, quando a temperatura média atinge 28 ºC, disse Toledo.
“Se a temperatura aumentar, elevando a média das terras altas, provavelmente os beija-flores tentarão acompanhar essa mudança”, estimou a pesquisadora.
“Observamos durante o estudo que os beija-flores apresentam variações morfométricas em função da altitude, tais como massa, comprimento e área da asa, comprimento do bico e comprimento total. Mas ainda não sabemos se poderão sofrer mudanças morfométricas rápidas a tempo de se adaptarem às mudanças climáticas”, disse Toledo.
O aumento da temperatura, contudo, não representa um fator limitante para a sobrevivência dos beija-flores, uma vez que esse grupo de aves possui alta resistência térmica.
A temperatura corpórea dos beija-flores é em torno de 40 ºC. Dessa forma, a ave é capaz de suportar de forma confortável uma temperatura ambiente em torno de 38 ºC – considerada bastante alta –, explicou Toledo.
“Os beija-flores só conseguem manter esse estresse térmico por muito tempo, entretanto, se houver energia disponível, que é o néctar das flores. E isso representa um ponto de preocupação”, ponderou.
Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia de Lorena, da USP, no âmbito do projeto, identificou que a quantidade de energia disponibilizada pelas plantas para os beija-flores na região do Vale do Paraíba varia de acordo com a elevação.
Algumas espécies de plantas visitadas por beija-flores em regiões de terras altas, como Campos do Jordão, possuem néctar com maior teor de sacarose – o açúcar preferido pela ave – do que em regiões de terras baixas, como Ubatuba, apontou o estudo.
“Nossa preocupação é se as plantas visitadas pelos beija-flores serão capazes de ajustar suas concentrações de néctar em tempo de acompanhar as mudanças climáticas e continuarem fornecendo energia para essas aves”, ressaltou Toledo.

in EcoDebate, 26/08/2015

Areia de praças e creches coloca saúde das crianças em risco no Rio, diz Fiocruz


Areia de praças e creches coloca saúde das crianças em risco no Rio, diz Fiocruz
Foto: minc.com.br

Uma análise da qualidade ambiental da areia de parques, praças e creches feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) nas zonas norte, sul e oeste do Rio de Janeiro atestou que o risco de contrair doenças nesses locais é alto. O resultado foi apresentado na sexta-feira (28) pelo instituto, na Praça do Leme, zona sul do Rio, um dos locais com piores condições ambientais e muito frequentado por crianças.
A coordenadora da pesquisa, Adriana Sotero Martins, disse que no Brasil não existe parâmetro para avaliação da qualidade da areia, mas, nas análises, foram encontradas altas concentrações de coliformes fecais, bactérias, fungos e parasitas que podem causar micoses, infecções de pele, náusea e vômito.
“Foram feitos 15 pontos de coleta e apenas dois apresentaram resultados aprovados para o usuário, sem risco. Nos demais, encontramos parasitas que oferecem risco à saúde pública, como o bicho geográfico, que é aquela larvinha supercomum que atinge crianças na primeira infância. Seria superimportante ter uma legislação que possa garantir ao usuário, aquele que usa o serviço público, ou mesmo serviços provados de creche, por exemplo, que tem parquinhos e tanques de areia, a qualidade dessa areia”, afirmou Adriana.
Os dois pontos analisados que não apresentam riscos para a saúde são a faixa de areia na Praia Vermelha, na Urca, ao lado da Creche Municipal Gabriela Mitral, e a Creche Bambalalão, na Freguesia, em Jacarepaguá. Entre os pontos com maiores concentrações de contaminantes estão a Praça Saens Peña, na Tijuca, o Bosque da Freguesia, em Jacarepaguá, e a creche municipal Chácara do Céu, no Morro do Borel, na Tijuca.
O estudo foi encomendado pela Comissão pelo Cumprimento das Leis da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para fundamentar um projeto de lei que estabelece o monitoramento semestral da areia.
Autor do projeto e presidente da comissão, o deputado estadual Carlos Minc ressaltou que não há nenhuma iniciativa nesse sentido no Brasil. “Não existe no Rio. nem no Brasil, um padrão de referência para qualidade de areia. A partir de que limite isso é perigoso para a saúde das crianças e da população em geral? E depois se estabelece o que fazer para prevenir: cercar com tela, borrifar semanalmente com alguma coisa de cloro.”
A proposta já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Alerj e segue para apreciação das comissões técnicas. O projeto propõe que o monitoramento fique a cargo do órgão ambiental estadual e que os responsáveis pelos locais contaminados sofram sanções que vão de multa à interdição.
*Colaborou Tâmara Freire – Repórter do Radiojornalismo
Por Akemi Nitahara, da Agência Brasil*,in EcoDebate, 31/08/2015

Uma outra agricultura, com produção de alimentos limpa, é possível

Dossiê Abrasco adverte sobre os danos causados pelos agrotóxicos, mas também aponta caminhos possíveis para a produção de alimentos limpa
Versão impressa do Dossiê Abrasco
Foto: Leslie Chaves 
Profissionais, gestores públicos, professores e estudantes de diversas áreas do conhecimento, mas principalmente das graduações e pós-graduações em nutrição, engenharias ambiental e de alimentos, e de outros cursos ligados ao campo da saúde, tiveram a oportunidade de discutir as contribuições do “Dossiê Abrasco: Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde” com dois dos organizadores do trabalho, a biomédica e doutora em saúde pública Karen Friedrich, o biólogo e doutor em Epidemiologia,Fernando Carneiro; e ainda com o engenheiro agrônomo e doutor em engenharia de produção,Leonardo Melgarejo.
Os debates aconteceram durante o lançamento do Dossiê que, à noite, fechou a programação doSeminário Agrotóxicos: Impactos na Saúde e no Ambiente, promovido na Unisinos ao longo da última segunda-feira, 24-08-2015. O livro reúne em suas cerca de 600 páginas uma série de informações científicas que buscam o diálogo com a sociedade a partir de uma linguagem, diagramação, e inserção de recursos gráficos que procuram facilitar a compreensão e o uso do material.
O Dossiê começou a ser dissecado já durante a tarde na conferência de Fernando Carneiro, que é professor da Fundação Osvaldo Cruz, a Fiocruz Ceará, e da Universidade de Brasília – UnB. O pesquisador mergulhou na publicação para falar dos efeitos e impactos dos agrotóxicos no meio ambiente e da sustentabilidade como alternativa ao agronegócio. “Vende-se a ideia de que o uso de sementes transgênicas e mais agrotóxicos são necessários para aumentar a produção. Mas dados do IBGE mostram que quem mais põe alimento na mesa do brasileiro é a agricultura familiar”, diz o pesquisador.
Signorá Konrad, professora do curso de Nutrição da Unisinos (à esquerda), Fernando Carneiro, Leonardo Melgarejo e Karen Friedrich no evento
Foto: Leslie Chaves
Depois de fazer um resgate histórico do uso dos agrotóxicos, Carneiro aborda o poder da propaganda das empresas detentoras das patentes das substâncias. “É assim que se dissemina e cristalizam falsas verdades sobre o tema. E vive-se essa hegemonia do agronegócio também dentro da academia. Um percentual de 95% das pesquisas sobre agrotóxicos visam à maximização de seu uso e não medir e avaliar seus efeitos no ambiente”, destaca. É nesse contexto que o Dossiê se insere. A ideia é promover o pensamento complexo e se afastar do marketing do agronegócio e da assepsia da ciência que busca distanciamento na relação entre problema e objetivo.
De acordo com o pesquisador, esse é um dos motivos de o Dossiê buscar inspiração em autores como Edgar MorinPaulo FreireBoaventura de Sousa Santos, entre outros. “Uma das grandes novidades é a metodologia, o olhar multidisciplinar, a forma como trazemos e organizamos as informações que já estão por aí. Afinal, já vimos que temos teoria crítica. O problema é que ainda temos o pensamento careta”, provoca.
Para Karen Friedrich, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN e coordenadora do GT de Agrotóxicos e Transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia; o Dossiê discute os problemas causados pelos agrotóxicos, mas também aponta trilhas para a mudança. Uma dessas opções é a agroecologia, que possibilita a produção de alimentos sem produtos químicos e ainda é um meio para a promoção da justiça social a partir da valorização dos saberes de famílias que há muito tempo produzem alimentos de uma maneira saudável e rica, em diversas dimensões, para a sociedade. “Os consumidores têm o direito de saber sobre todas as informações a respeito dos agrotóxicos, de que forma esses químicos estão presentes nos alimentos e onde buscar alternativas, para poder escolher o que vão adquirir para compor sua alimentação”, defende.
Profissionais, gestores públicos, professores e estudantes acompanharam o evento
Foto: Leslie Chaves
Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, membro do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade, e coordenador do GT Agrotóxicos e Transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia, ressalta a questão da alimentação processada, que também é produzida a base de produtos químicos. Para o pesquisador, é necessário que se incentive o consumo de alimentos naturais cultivados a partir de métodos orgânicos e sustentáveis. Os debates suscitados pelo Dossiê podem ser uma forma de fomentar essa mudança de hábito. “Quando consumimos, por exemplo, suco industrializado de fruta, seu gosto se parece com o da fruta, mas estão longe de ser a fruta. Ainda, esses alimentos são produzidos para serem consumidos até o final, não importando o tempo que se leve para terminar com o conteúdo da embalagem. São produtos cheios de conservantes, que não estragam, e isso é preocupante, pois nem as bactérias e fungos querem se alimentar deles. Nós queremos que as pessoas consumam alimentos de verdade, produzidos de maneira saudável e sustentável”, ressalta.
O “Dossiê Abrasco: Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde” continuará sendo debatido nos diversos eventos de lançamentos que estão agendados para acontecer em várias cidades do Brasil. Ainda, o material tem sido recebido em países da América Latina e em breve será concluída sua tradução para o espanhol. Essa versão em língua espanhola tem previsão de ser lançada em outubro deste ano na Argentina, no Congresso Latino-Americano de Agroecologia, da Sociedade Latino-Americana de Agroecologia – SOCLA.
É possível acessar a versão eletrônica do Dossiê aqui.
Por Leslie Chaves e João Vitor dos Santos
(EcoDebate, 31/08/2015) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]