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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Boaventura de Sousa Santos: Acesso à água desencadeará as grandes guerras do século

Se as guerras do século XX foram motivadas pela exploração do petróleo, os conflitos do século XXI estarão centrados no controle dos hídricos, previu o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. “Quem controla a água controla a vida”, disse.
A reportagem é de Micael Vier B. e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 27-01-2012.
Boaventura apresentou palestra em São Leopoldo, hoje, no Fórum Social Temático 2012, evento preparatório para a Cúpula dos Povos da Rio + 20. Ele fez um apelo para que o tema da água motive a agregação dos movimentos sociais, reunindo em torno dele povoados rurais e urbanos, movimentos de mulheres e indígenas.
Ao sinalizar dois grandes paradigmas em torno da temática, o sociólogo disse que enquanto comunidades consideram a água um bem comum vinculado à sua história, identidade e espiritualidade, a tese defendida pelo Banco Mundial submeteu a exploração da água às leis do mercado.
As dimensões do problema revelam que 17% da população mundial não possuem acesso à água potável, enquanto 40% dos moradores do planeta não têm saneamento básico. Mesmo Manaus, cidade cercada com a maior quantidade de água doce no mundo, apresenta problemas de coleta e tratamento de esgoto.
Em países do continente africano, afirmou Boaventura, o problema aflige diretamente a população feminina, na medida em que muitas mulheres chegam a consumir seis horas diárias na busca por alguns litros de água. “Essas pessoas realizam um esforço extraordinário para garantir a sustentabilidade de suas famílias”, enfatizou.
Dados oferecidos na palestra indicam que entre 40 a 90 milhões de pessoas foram deslocadas de suas propriedades no último século em decorrência de grandes projetos de mineração e barragem, a exemplo do que ocorre atualmente no Estado do Pará com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Como alternativa, Boaventura enalteceu o surgimento de um novo conceito de segurança humana, pautado pela democratização da água, pelo respeito ao valor atribuído a ela pelas diferentes culturas e por um processo de implementação do que denominou de uma “cultura da água”, a começar nas escolas.
Segundo o sociólogo, daqui a dez anos a humanidade estará travando esse mesmo diálogo em torno do ar, que já começa a ser explorado enquanto mercadoria, embora seja, assim como a água, uma falsa mercadoria na medida em que não é produzido pelo homem, mas a ele concedido de forma gratuita.

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FONTE : (Ecodebate, 30/01/2012) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

Os estranhos caminhos de um pedaço do Brasil, artigo de Washington Novaes

O documento inicial da ONU para a conferência Rio+20, a realizar-se em junho – comentado neste espaço na semana passada (20/1) -, menciona a necessidade de, na busca de um novo modelo de governança para o planeta, respeitar os direitos de comunidades indígenas, “que têm seus modos sustentáveis de uso de recursos naturais frequentemente marginalizados”, levando-as a “altas taxas de pobreza”. Não é uma afirmação gratuita. Vários estudos internacionais e brasileiros – inclusive do nosso Ministério do Meio Ambiente – mostram que os formatos mais adequados para a conservação da biodiversidade está nas áreas indígenas, mais eficazes até que os de áreas protegidas por lei. E isso é vital num momento em que vivemos uma crise global de recursos naturais, com mais de 30% das áreas da biodiversidade já perdidas, num caminho que só avança. E ainda com ameaças permanentes às áreas indígenas – já demarcadas ou não -, quando se deveria pensar em ampliar a proteção.
É questão de muitos séculos, que vem desde a época do “descobrimento”. E que levou o antropólogo Lévi-Strauss, num de seus livros, a perguntar por que os “índios” brasileiros, que eram milhões, não massacraram os portugueses recém-chegados, que eram umas poucas centenas. Mas, ao contrário – como já foi lembrado aqui -, eles os trataram como fidalgos. Porque, diz Lévi-Strauss, na cosmogonia desses povos, a chegada do outro está sempre prevista. E esse outro é o limite da liberdade de cada indivíduo, porque tem os mesmos direitos que ele. Precisa ser respeitado.
Um forte exemplo das consequências dessa relação entre colonizadores e “índios” está no recém-lançado livro Rio Doce – A Espantosa Evolução de um Vale (Editora Autêntica), no qual o jornalista Marco Antônio Tavares Coelho decifra o aparente enigma de essa vasta parte de Minas Gerais haver permanecido durante séculos à margem da evolução que ocorreu no restante do território. Basicamente, porque a Coroa portuguesa quis deixar isolada essa porção, para não ser alvo da cobiça de outros colonizadores (a rainha Maria, a Louca, chegou a decretar a extinção ali das fábricas de tecidos). E porque, para manter o quadro que a beneficiava, bem como aos senhores de vastas extensões de terra, classificava como “botocudos” e “antropófagos” os “índios”, por isso quase exterminados ao longo do tempo. Além de entender que a Mata Atlântica era fonte de “pestes” terríveis.
O panorama, mostra o livro, só começou a mudar no final do século 18, quando se pensou que a mineração estava esgotada em outras áreas do País e as migrações internas passaram a se concentrar no vale. A ocupação acentuou-se a partir da segunda década do século 20, com a forte concentração de poderosas empresas mineradoras e siderúrgicas nacionais e transnacionais. O modelo energético escolhido para a siderurgia – carvão – levou ao rápido avanço da derrubada da Mata Atlântica e do Cerrado, para o qual contribuiria também a transformação do Porto de Vitória no maior ponto de exportação de madeira no mundo.
Mas cerca de 200 municípios à margem da BR-040 (direção Rio-Brasília) permaneceram com altas taxas de pobreza, semelhantes às do Nordeste, e desertificação progressiva, enquanto do outro lado da rodovia pareciam seguir o modelo paulista. O modelo agropecuário, já observava Saint-Hilaire – que viajou pela região da Serra da Canastra na segunda década do século 19 -, “é baseado na destruição das florestas”. E, acrescenta o autor do livro, no “genocídio dos botocudos”, que “ocupavam um imenso território dos chamados sertões do Leste, nos vales dos Rios Mucuri, Doce e Jequitinhonha”, que permaneceu intocado “até o início do século 19 por ser considerado ‘zona proibida’ pela Coroa portuguesa”, que não podia “ser franqueada aos civilizados”. Para a dizimação dos indígenas contribuiu fortemente a transmissão, pelos “civilizados”, de doenças para as quais os antigos moradores não tinham defesas orgânicas. Há notícias até da inoculação proposital de sarampo em índios.
É útil e esclarecedor o histórico que o livro traz sobre a evolução da siderurgia no vale e os problemas dos modelos utilizados, até com subsídios oficiais para o reflorestamento com eucaliptos pós-derrubada da vegetação originária. Assim como os problemas gerados pelo modelo na área “ambiental”, inclusive nos recursos hídricos, largamente utilizados – modelo que se repetiria depois na Amazônia. E que na parte de Minas retratada inclui áreas em desertificação, lagoas eutrofizadas, nascentes desprotegidas, retirada de mais de 90% da cobertura vegetal, poluição gerada pela deposição de resíduos industriais e domésticos, uso descontrolado de agrotóxicos, desequilíbrios causados pela implantação de barragens, inundações, escassez de água em alguns municípios. E tudo resultando em índices de desenvolvimento humano abaixo da média nacional. As águas na região, diz um relatório de 2007 do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, têm altos índices de contaminação por alumínio, fósforo, manganês, ferro, óleo e graxas, cobre, arsênio, além de coliformes fecais (parte dos esgotos de estações de tratamento).
Nestes tempos de hoje, caracterizados pela escassez progressiva de recursos naturais – reconhecida agora mesmo pelos economistas mais conservadores -, é decisiva uma reflexão mais aprofundada, como propõe o livro, sobre essa extensa região brasileira, com seus recursos minerais e seus remanescentes de Mata Atlântica e Cerrado. O futuro passa por aí, têm dito muitos estudiosos ao discorrerem sobre a privilegiada situação brasileira. Lembrando, como propõe Marco Antônio Tavares Coelho, que é preciso pensar no importante papel das nações indígenas e de seus modos de viver – que, como diz no livro o competente Ailton Krenak, “estão sendo jogados num liquidificador”, por nossas políticas que induzem uma aculturação disfarçada.

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FONTE : Washington Novaes, jornalista.
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo.
EcoDebate, 30/01/2012

Belo Monte. ‘O capital fala alto, é o maior Deus do mundo’. Entrevista com Ignez Wenzel

“Todas as informações estão sendo dominadas por essa democracia ditatorial, que nunca pensei que pudesse existir. Ela é ainda pior que a militar, porque é enganosa, porque diz ser uma coisa e é outra”, afirma a religiosa.
Confira a entrevista.
Há 35 anos, Irmã Ignez Wenzel deixou as atividades que desenvolvia no Colégio São João, em Porto Alegre, onde trabalhava junto aos lassalistas, para abraçar a causa dos colonos que migraram para o Pará em função da construção da Rodovia Transamazônica (BR-230). Em Medicilândia (PA) e Altamira (PA), iniciou os trabalhos pastorais, visitando mais de 80 comunidades, onde pôde observar de perto o abandono do Estado e os problemas sociais que se arrastam há anos na região.
Atualmente, ela vive em Altamira (PA), e está engajada com o Movimento Xingu Vivo para Sempre na luta contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Em visita ao Rio Grande do Sul, Irmã Ignez recebeu a IHU On-Line no Convento Monte Alverne, onde concedeu a entrevista a seguir. Por trás da voz tranquila, encontramos uma mulher incansável, que conhece as mazelas do interior paraense e está disposta a continuar lutando em defesa da vida, a exemplo de São Francisco de Assis.
Depois de conviver mais de três décadas do outro lado do país, ela é enfática: “O que mais me indigna é a incompetência, a incapacidade do povo do Sul e do Centro querer julgar a situação do povo do Norte”, referindo-se à intolerância e ao descaso do governo federal com as populações que dependem do Rio Xingu para sobreviver.
Na entrevista a seguir, ela explica quais são as contradições da usina hidrelétrica de Belo Monte e critica o posicionamento de alguns cristãos, que não se manifestam em relação aos problemas sociais e ambientais da região. “A voz maior é a do bispo, Dom Erwin Kräutler, e muitos já se sentem contemplados com a fala dele. É uma lastima. Nem todas as religiosas estão engajadas com estas questões”, lamenta.
Irmã Ignez também denuncia as artimanhas do governo e da Norte Energia, empresa responsável pela construção, operação e manutenção da hidrelétrica de Belo Monte, para cooptar indígenas e ribeirinhos que estavam engajados com as manifestações contra a hidrelétrica, e a postura da Advocacia Geral da União – AGU, que solicitou o afastamento do procurador da República Felício Pontes Jr. nos processos que envolvem a construção de usinas hidrelétricas. “Ele era nosso grande líder, estava ao nosso lado, era coerente, de pé no chão. O governo está nos tirando o último fio que nos esquentava na solidão, a nossa força legal, Felício Pontes”, afirma.
Ignez Wenzel é graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e em Teologia pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. É religiosa da Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã.
Confira a entrevista.Foto de Thamiris Magalhães
IHU On-Line – Desde quando a senhora vive em Altamira, no Pará? Pode nos contar um pouco da sua trajetória?
Ignez Wenzel – Estou em Altamira há 35 anos. Fui morar no Pará porque Dom Eurico Kräutler, tio de Dom Erwin, veio a Porto Alegre pedir socorro para a Igreja da cidade. Ele queria que enviassem irmãs, irmãos e padres para Altamira porque, em função da construção da Rodovia Transamazônica, milhares de famílias de colonos migraram para a região e não havia padres que pudessem assistir essas pessoas e tampouco escolas para as crianças. Três congregações foram enviadas para lá: os Lassalistas, as Irmãs Escolares de Nossa Senhora, nós, Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, e três padres diocesanos.
As Irmãs Escolares de Nossa Senhora abriram escolas em Brasil Novo (PA), nós nos instalamos em Medicilândia (PA), os Lassalistas, em Uruará (PA), e os padres diocesanos atuaram nas três regiões, atendendo o povo e organizando as comunidades. O projeto de colonização visava dividir os imigrantes de acordo com a sua origem, para que o povo brigasse entre si e não com o governo. A ideia era dividir para dominar. Então, a Igreja católica foi o centro das atenções no sentido de dar apoio a esse povo inseguro e abandonado, através das Comunidades Eclesiais de Base. Em 1987, surgiram os primeiros municípios na região e as comunidades passaram a ter autonomia e a se organizar como estrutura política e social de defesa da própria comunidade.
Eu morei durante treze anos em Medicilândia, onde trabalhava diretamente com o povo e visitava cerca de 80 comunidades, onde formávamos lideranças. Quando mudei para Altamira, ajudei a articular os movimentos sociais com as pastorais.
Luta
Hoje moro em Altamira, e participo da luta contra a construção de Belo Monte, um projeto que se estende desde a década de 1980. Em 1989, nós participamos de uma grande mobilização contra a construção da hidrelétrica: mais de 800 indígenas do Brasil e de outros países participaram.
Na ocasião, o governo federal pleiteou um empréstimo com Banco Mundial para construir a hidrelétrica, mas os organismos sociais conseguiram barrar esse empréstimo e a discussão acerca da construção da hidrelétrica ficou adormecida. Depois dos anos 2000, o debate reascendeu e começamos a discutir a questão novamente. Em 2007, realizamos um encontro com todos os caciques indígenas e foi nesta ocasião que adotamos o nome Xingu Vivo para Sempre, após um dos caciques gritar: “Nós queremos o Xingu vivo para sempre”. Percebemos aí uma filosofia de vida e desde então nos tornamos o Movimento Xingu Vivo para Sempre.
Nesta ocasião, os indígenas pediram para organizarmos uma grande mobilização envolvendo a sociedade civil a fim de discutir as implicações da construção de Belo Monte. Reunimos cerca de cinco mil pessoas. Os indígenas coordenaram parte do evento onde todo mundo teve direito de fala, inclusive o governo e os representantes da Eletrobrás. Durante a explanação do representante da Eletrobrás os indígenas começaram a dançar, demonstrando que não estavam satisfeitos com os argumentos dele. Ao manifestar que também não concordava com os indígenas, o representante da Eletrobrás caiu no meio deles e sofreu um pequeno corte no braço. Algumas pessoas ainda respondem processo com a alegação de terem armado os indígenas. Mas não foi isso que aconteceu. Essas pessoas apenas possibilitaram os ornamentos necessários para uma manifestação digna da cultura deles. Em função desse incidente, nós entramos em crise e acabamos cancelando uma passeata que iria ocorrer na cidade. Porém, não cancelamos o evento.
IHU On-Line – Como a população que reside em Altamira reage diante da construção de Belo Monte? Os moradores participam das manifestações e demonstram um posicionamento em relação ao projeto da hidrelétrica?
Ignez Wenzel – O governo sempre consegue intimidar a população com ameaças. Muitas pessoas são contra a construção da hidrelétrica, mas dizem que não podem fazer nada em relação à decisão de construí-la. A maioria do povo é contra a barragem, mas não tem condições psicológicas de reagir. A Norte Energia e o governo têm estratégias: eles estudam as lideranças para depois cooptá-las. Agiram assim com os ribeirinhos e fizeram o mesmo com os indígenas. Recentemente, nós (civis, movimentos do Brasil inteiro e indígenas) estávamos acampados em cima de um canteiro de obras de Belo Monte, quando, de repente, as lideranças indígenas desapareceram e, ao voltarem, o cacique ordenou que recolhessem suas coisas e fossem embora. Ninguém entendeu esta atitude. Quando eles chegaram no município de Conceição do Araguaia (PA), o cacique fez várias compras. O que aconteceu? A Norte Energia os chamou, deu dinheiro e nos deixou com as “calças na mão”.
Na semana passada, fizemos um protesto por causa do início das obras da hidrelétrica, barrando uma região do Xingu. Levamos duas faixas: uma de quarenta e outra de 15 metros de comprimento, onde dizíamos que não queremos Belo Monte. Barramos por uma hora e não deixamos os caminhões passar porque Belo Monte é contra a lei, contra a Constituição.
IHU On-Line – Como a senhora se sente quando vê os casos de cooptação dos indígenas e ribeirinhos que estavam engajados nesta luta?
Ignez Wenzel – Eles serão prejudicados, ficarão sem as terras, sem a sua cultura, e serão os futuros “beirantes de estradas”. Sentimos uma indignação que quase não conseguimos expressar. Os ribeirinhos são ainda mais frágeis do que os indígenas, porque eles moram sozinhos e não têm um clã. Um ribeirinho ganhou 900 mil reais pelo seu lote e arrastou mais 12 pessoas com ele. Eles vão viver em uma terra seca. O rio vai secar mais ou menos 140 quilômetros.
Apesar de tudo isso, continuamos a nossa luta e temos vários centros de Xingu Vivo espalhados pelo Brasil, nas cidades de Belém, São Paulo, Santa Catarina, São Leopoldo. A índia Sheila Juruna e Antônia Melo já foram para os EUA e para a Europa, conseguimos entrar com uma ação na Corte Interamericana, mas o governo brasileiro disse que isso era uma banalidade e que nada do que estamos falando era verdade. Notamos que os governos Lula e Dilma têm a seguinte filosofia: “Acolham todo mundo, mas toquem para frente, não parem”. Pessoalmente, estou muito aflita porque o Xingu fica no meio da Amazônia, onde está prevista a construção de mais de 300 barragens até 2050. O que vai sobrar do ecossistema? Os colonos não podem derrubar uma árvore, e os envolvidos com Belo Monte desmataram uma área enorme. Essa madeira está parada e será utilizada para outros fins.
Dilemas sociais
O sistema econômico nos explora. Desde a construção da Rodovia Transamazônica, milhares de pessoas migraram para Altamira e a cidade continua com os mesmos hospitais, a mesma infraestrutura. As pessoas que trabalham em torno de Belo Monte sempre têm prioridade nos atendimentos hospitalares. A população já fez manifestos contra isto, mas nada acontece porque a prefeitura é dirigida pela “Norte Energia”.
As escolas, as estradas e os postos de saúde prometidos ainda não foram construídos. O fedor das ruas continua o mesmo de vinte anos atrás. Em um determinado momento da construção de Belo Monte, Altamira irá receber 18 mil trabalhadores e em torno de cem mil habitantes. Hoje os universitários que chegam do interior dormem em cima de colchonetes, têm de procurar comida e geralmente não encontram nada para comprar. O preço dos aluguéis aumentou mais de 300%, enquanto que os chefes de Belo Monte moram em apartamentos que têm custo alto e são pagos pela Norte Energia.

IHU On-Line – A Igreja continua engajada na busca de solução para esses problemas, como estava há 35 anos? Como os membros da Igreja se posicionam diante de Belo Monte e desses dilemas sociais?

Ignez Wenzel – Alguns estão atuando junto com o movimento Xingu Vivo para Sempre, mas dentro da Igreja também tem pessoas que sentem medo. A voz maior é a do bispo e muitos já se sentem contemplados com a fala dele. É uma lastima. Nem todos estão engajados com estas questões.
IHU On-Line – Dom Erwin está à frente como bispo, mas terá de deixar o cargo ao completar 75 anos. Quem poderá assumir o cargo dele? Como ficará a luta contra a construção da usina, considerando que ele é visto como referência hoje?
Ignez Wenzel – Ainda não tivemos tempo de pensar na saída de Dom Erwin, mas talvez ele seja substituido por um bispo de fora. Devido as circunstâncias, certametamente haverá mudanças. A nossa prelazia começa no Mato Grosso e termina em Macapá, no estado do Amapá, no outro lado do rio Amazonas. É uma extensão muito grande e não há como atender a todos.
Este ano, Dom Erwin completará 73 anos, e aos 75 tem de avisar ao Papa que está na hora de deixar o cargo, mas nem sempre o Papa atente logo. Portanto, poderá ficar mais alguns anos ou poderá sair em seguida. Mesmo deixando o cargo, não deixará de lutar; talvez disponha de mais tempo. De toda maneira, não deixará de ser uma liderança nossa; liderança não se prende.

IHU On-Line – Ele continuará sendo influente nesta luta?

Ignez Wenzel – Sim, porque será sempre o bispo do Xingu. Quando se aposentar, ele será “emérito”, e aí vão dizer que ele tem muito mérito. (Risos)
IHU On-Line – A senhora percebeu alguma mudança no debate sobre Belo Monte após a saída de Ana Júlia Carepa (PT) e a entrada de Simão Jatene (PSDB) no governo estadual?
Ignez Wenzel – Não gosto do partido atual porque ele não tem uma postura solidária, mas, por outro lado, foi ele quem deu o grito de que o governo federal do PT desrespeita a lei do Estado.
Em função do PT, o movimento Xingu Vivo para Sempre ficou dividido. Nós trabalhávamos dentro da Fundação Viver, Produzir, Preservar e fomos expulsos. Pedimos ajuda ao bispo, para termos um espaço para reunir as pessoas e não sermos manipulados. Dói muito ver que os mesmos companheiros e colegas que lutaram para conseguir melhorias sociais não estão mais do nosso lado. Em relação à Ana Júlia, posso dizer que não fez quase nada.
IHU On-Line – Como a mídia paraense atua em relação a Belo Monte?
Ignez Wenzel – A mídia paraense aparece quando os veículos de outros estados pedem informação. A TV Cidade Livre, da Prelazia, tem um jornal diário de 30 minutos e é favorável à luta contra Belo Monte. Somente as rádios comunitárias divulgam informações, as demais estão fechadas para esta questão. Todas as informações estão sendo dominadas por essa democracia ditatorial, que nunca pensei que pudesse existir. Ela é ainda pior que a militar, porque é enganosa, porque diz ser uma coisa e é outra.
IHU On-Line – O que mais lhe causa indignação?
Ignez Wenzel – O que mais me indigna é a incompetência, a incapacidade do povo do Sul e do Centro querer julgar a situação do povo do Norte. A presidente Dilma declarou o seguinte, recentemente: “Nós vamos tirar esse povo que vive em palafita da miséria”. Há dois erros nessa afirmação: o povo não vive na miséria; vive na pobreza, pois eles estão cuidando da alimentação; e palafita é um tipo de construção necessária na Amazônia, onde, em determinados meses, as casas próximas ao rio ficam debaixo d’água caso não sejam construídas no alto. A fala dela demonstra a falta de compreensão do que é a Amazônia. O governo também não entende o que é a floresta e a biodiversidade.
Há comentários de que o interesse do governo não é a construção da hidrelétrica e, sim, o minério que tem na região. No período de estiagem, provavelmente, a hidrelétrica não irá gerar energia. Para que gastar 31 bilhões com uma coisa que não funciona? Quando a Irmã Dorothy esteve no Canadá, disse que em uma reunião foi dito que Belo Monte é necessário para viabilizar os trabalhos na mineração, ou seja, ao secar o rio, a água deixará de ser um incômodo.
IHU On-Line – Qual a situação das comunidades que vivem em Tucuruí? A vida delas mudou após a construção da hidrelétrica?
Ignez Wenzel – A hidrelétrica de Tucuruí foi construída há 25 anos e os pobres vivem debaixo da linha de alta tensão, sem acesso à energia. Tucuruí é pobre, miserável. Muitos moradores foram expulsos de lá e mudaram para Altamira, de onde serão expulsos novamente.
Em função de Belo Monte, Altamira irá enfrentar um problema gravíssimo de consumo de drogas e exploração sexual de meninas e adolescentes.
Altamira não foi preparada para as transformações geradas pela Rodovia Transamazônica. Vi colonos passarem fome colhendo quinhentos sacos de arroz, porque não tinham como trazer o alimento para a cidade. O jeito de eles sobreviverem é encostar-se na cidade para, pelo menos, deixar os meninos estudarem e dar um jeito vendendo picolé, engraxando sapatos. A cidade inchou, já têm mais de cem mil pessoas, e apenas 6% das casas têm água encanada.
IHU On-Line – Além do medo de as pessoas manifestarem opinião, a que atribui o aumento desses problemas sociais e a falta de mobilização?
Ignez Wenzel – Na época da ditadura, todo mundo calava com medo de ser preso. Os poucos que falaram foram mortos. De modo geral, a população não tem estudo. As nossas escolas são tão fracas, que passam todos os alunos para frente. Parece que o governo não quer povo culto; quer gente de cabresto. Por isso nós fomos contra a divisão do Pará, pois caso o estado fosse dividido, teríamos mais ladrões. Com essa discussão, poderíamos ter feito uma boa reflexão, mas nenhum partido político fez isso.
IHU On-Line – A Igreja estava dividida em relação à divisão do Pará?
Ignez Wenzel – Nós não falamos muito sobre isso porque estamos mais preocupados com a situação do Xingu. De todo modo, éramos contra a divisão. Organizamos um debate e um seminário na universidade, mas poucas pessoas participaram. O povo não estava muito interessado.
IHU On-Line – Qual é o desafio dos movimentos sociais? Como interpreta o Fórum Social Mundial e o engajamento de alguns partidos nesse projeto?
Ignez Wenzel – Os movimentos e os partidos fizeram uma associação, “com tanto que a fatia maior seja para mim”, conforme dizem. Nós participamos do Fórum Social Mundial, realizado em Belém, levamos sete ônibus lotados, e na ocasião disseram que nunca um Fórum Social teve tantos pobres como aquele. Naquele tempo nós tínhamos esperança, mas depois foram cortando todos os naipes.
IHU On-Line – Vocês estão preparando alguma atividade para lembrar a memória da Irmã Dorothy, sete anos depois do seu assassinato ? Como está a questão dos conflitos na região?
Ignez Wenzel – A região continua pior do que antes, porque os fazendeiros voltaram e como o prefeito de lá é do PT, ele é safado como os outros. Então, não se pode esperar nada. Dia 12 de fevereiro será realizado um grande encontro e uma celebração. À tarde irão até a sepultura dela, que fica no meio da mata, onde ela pediu para ser enterrada. Hoje, muitos militantes que participavam do movimento da Irmã Dorothy estão do outro lado. O capital fala alto, é o maior Deus do mundo.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Ignez Wenzel – Eu quero dizer que ainda tem treze ações no Supremo Tribunal Superior Federal, as quais devem ser julgadas, mas eles não têm coragem de julgá-las.
Não sei como está a situação do procurador Felício Pontes, que foi impedido de desempenhar suas funções em defesa de populações atingidas por projetos hidrelétricos no Pará. Ele era nosso grande líder, estava ao nosso lado, era coerente, de pé no chão. O governo está nos tirando o último fio que nos esquentava na solidão, a nossa força legal, Felício Pontes. Mas nossa esperança de vida do Xingu vivo continua.

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FONTE : (Por Patricia Fachin, Thamiris Magalhães e Luana Nyland)
(Ecodebate, 30/01/2012) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Energia Solar: Aquele bem comum chamado Sol

Imperativo energético, do estudioso alemão Hermann Scheer (foto), é um formidável documento sobre um modelo de produção energética alternativa ao petróleo, ao carvão e ao átomo. E que prevê uma gestão descentralizada e auto-organizada pelos por indivíduos e pelas populações locais.
A análise é de Guglielmo Ragozzino, publicada no jornal Il Manifesto, 18-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A vantagem competitiva alemã em comparação com a economia italiana – alguns a chamam familiarmente de spread – reside preponderantemente no formidável ativo da Alemanha nas trocas internacionais de bens e serviços, a diferença do passivo que caracteriza a Itália. Essa é a explicação em que insistem os mais renomados economistas (às vezes também de esquerda). E muitos sugerem de sair do atoleiro reconvertendo o sistema econômico e social do país para dispor de bens exportáveis, contendo mais inovação de produto, ou para produzi-los através de processos mais eficientes (leia-se: com demissões em massa).
Submissamente, sugerimos uma outra via. A de imitar a sério os alemães, mas na sua transição para as energias renováveis e ao contemporâneo abandono das energias fósseis, incluindo a nuclear. Esse caminho é o que um autor, um verdadeiro cientista político, Hermann Scheer, sociólogo, descreveu na íntegra em seu último livro, Imperativo energético, publicado no fim de 2011, nos Kyoto Books das Edizioni Ambiente (269 páginas). O tema está resumido nas frases que completam o título original: “100% renovável agora! Como realizar a completa conversão do nosso sistema energético”.
O advogado do verde
Scheer, saudado como “advogado do Sol”, “herói verde”, faleceu em outubro de 2010. O seu papel não foi apenas o de pensar o futuro “renovável” e escrever livros para explicá-lo e torná-lo familiar para os alemães e outros, na Europa e no mundo, mas também o de construir uma extraordinária obra de convicção, através de associações como Eurostar.
Scheer tornou realmente mais próximo e acessível o “seu” futuro, na ação de todos os dias, escrevendo livros, participando de congressos, proferindo conferências. Mas ele fez muito mais, trabalhando sem trégua na esfera política, utilizando no parlamento, no seu partido, o SPD, e também nas administrações das cidades e das Länder, todos os espaços permitidos. Em busca contínua de escolhas concretas, de leis para tornar o mundo “renovável” prático, vantajoso e convincente.
Imperativo energético está entre os trabalhos do seu último período e é, ao mesmo tempo, ciência, informação, política. Certamente, deve ser lido como um programa muito concreto para aqueles que continuarão a sua obra e se dedicarão à reconversão energética da sociedade ou, melhor, à revolução social praticada através da mudança de paradigma energético.
A energia de origem solar deve substituir totalmente e o mais rápido possível aquela que hoje é utilizada, que é quase inteiramente de origem fóssil. Para Scheer, não há mediações possíveis, os atrasos tornam-se intoleráveis, não se pode aceitar compromissos, soluções confusas. As grandes empresas tradicionais do gás, do petróleo, elétricas, incluindo o átomo, mostram agora, em grande parte, uma atitude tolerante com relação às energias renováveis. É falso. Fingir dar espaço às novidades é uma medida que permite se mostrar na moda, serve para dar uma demão de verniz de elegância a um mundo energético ainda e sempre dominado pelas energias fósseis.
Scheer rejeita essa atitude complacente. O modelo renovável não deve e não pode ser apenas uma variante, um enchimento, nem a oferta de uma área de descanso gratuito e de tempo indeterminado para desenvolver experimentos com toda a calma, à espera que as energia fósseis se esgotem.
Ao contrário, Scheer é movido pela urgência. Não está apenas convencido de que as energias fósseis estão esgotando rapidamente, muito mais perto do que se pensa e que, por isso, será preciso abrir mão delas o quanto antes. Elas devem ser eliminadas hoje, por serem prejudiciais por causa da poluição que determinam, por causa dos desastres naturais crescentes e pelo aquecimento global que provocam.
Portanto – ele tem certeza disso – quanto antes nos libertarmos delas, melhor. Ou, melhor, essa é a única via para permitir um futuro para a humanidade, é um imperativo categórico se quisermos não só sobreviver, mas também continuar sendo humanos. Nesse sentido, deve ser proibido qualquer compromisso. A energia não pode coexistir com a fóssil, com as suas redes extensas por toda a parte.

Uma rede pequena e flexível

A energia solar e a fóssil são modelos totalmente alternativos, inclusive de um ponto de vista econômico. Não há capital suficiente para ambos. Uma verdadeira política de desenvolvimento para as energias renováveis implica que os fundos disponíveis para a energia sejam todos postos à disposição para esse projeto, excluindo qualquer outra escolha. Nem um centavo a mais, nem um metro quadrado a mais de território para a expansão da energia de petróleo, carvão, gás, nuclear. As suas redes, as suas gigantescas plantas chegaram ao fim. Não devem ser revitalizadas com novos capitais, com mais espaço, com reedições de concessões administrativas. Ao contrário: é preciso finalmente calcular de verdade a economia da energia fóssil, não ignorando os custos postos em cima das comunidades às escondidas. Só assim então a comparação econômica vai se tornar aceitável e se poderá julgar se os custos efetivos da energia tradicional são ou não mais altos do que os incentivos à energia solar.
Atualmente, a mídia proclama que estes últimos têm custos exorbitantes nas contas, mas na maioria das vezes as contas provêm diretamente dos escritórios de estudos das companhias elétricas e semelhantes e, portanto, são pouco confiáveis. Os interesses vitais das companhias energéticas são defendidos sem equívocos.
Scheer não conseguiu conhecer a escolha do governo alemão de fechar inteiramente o capítulo da energia nuclear até 2022. Ele certamente teria apreciado a sua direção geral, mesmo criticando qualquer compromissos a mais. A sua atitude – como ilustra no livro – sempre era pragmática sobre as formas e as táticas, uma vez estabelecidos os termos gerais da questão, a certeza ética de jamais confundir os fins com os meios, contanto que, finalmente, permanecesse sempre fixo o objetivo final, o Sol, que nunca deveria ser posto em discussão ou alcançado às pressas.
O que une entre si as energias fósseis, incluindo também a variante dos reatores nucleares, é a necessidade de dispor de redes extensas ao máximo. O objetivo ao qual as companhias fósseis tendem é a SuperGrid, a rede de todas as redes, como se disséssemos o monopólio de todos os monopólios energéticos. Ela contrasta em máximo grau com a SmartGrid, a rede inteligente, a rede democrática que Scheer indica como modelo e como objetivo a ser alcançado.
A energia deve ser, por assim dizer, feita em casa, para evitar que se dependa de produtores fósseis, patrões dos seus carvões e dos patrões das redes, aqueles cujos governos de todo o mundo se inclinam como fossem realmente os reis dos territórios atravessados.
A energia que é necessária nasce de uma mistura de tudo o que existe, a partir da cultura, do conhecimento da história e de química e física, e depois o Sol, o vento, os resíduos agrícolas, a água. A economia obtida com os materiais projetados para os novos edifícios e as novas máquinas, feitas de modo a se consumir o mínimo possível. Tudo isso e o dinheiro necessário para avançar na pesquisa de máquinas, sistemas, materiais cada vez mais adaptados a capturar a força do Sol serão em breve suficientes para cobrir todas as exigências energéticas dos seres vivos em uma área determinada.
Scheer, por outro lado, não mostra nenhuma intenção de eliminar o automóvel privado. Certamente, não será para sempre o meio de transporte mais inteligente e livre. O futuro saberá fazer melhor. Os automóveis, todos os automóveis, também deverão ter uma transição muito próxima para a eletricidade. Os longos percursos serão possíveis com baterias capazes, já disponíveis industrialmente, e com estações de recarga, alimentadas por redes inteligentes à beira das estradas e das rodovias. Será uma série de redes locais, capazes de interagir quando necessário, mas todas com uma forte marca comunitária e local.
Em geral, os municípios deverão retomar a posse das suas redes e gerenciar diretamente com as próprias forças e sob o impulso dos cidadãos a água, os resíduos, a energia, os transportes. Assim, se tornará necessário um caminho inverso à linha atual, perceptível também na Alemanha, de privatização com passagem para grandes grupos acionistas dos serviços públicos locais.
Conta mais a rede local ou a eliminação imediata das energias fósseis?
Renovável e de curto alcance
“Imperativo energético” não foge desse dilema, ou, melhor, o enfrenta com ardor no caso de Desertec. Esse é um programa de exploração de plantas solares termodinâmicas e eólicas, nos desertos, as primeiras, e ao longo das costas atlânticas da África, as segundas, para produzir energia elétrica a ser canalizado para a Europa de modo a cobrir – em um ano ainda não especificado – uma fração importante da necessidade energética europeia. Um programa intrigante, capaz de convencer além das companhias financeiras e os gigantes energéticos da Alemanha e de meia Europa, também uma parte dos ambientalistas. Mas não Scheer. E a oposição ao Desertec é uma das passagens mais significativas do livro.
O Desertec é muito caro, bilhões de euros. Não é possível fazer nada melhor, usando esse capital, com as renováveis de curto alcance, tanto na Europa como na África? De um ponto de vista técnico-científico, Scheer indica as perdas de potência em um sistema de transmissão tão longo. Ele mostra depois o perigo político, além de econômico, que um sistema tipo Desertec pode gerar e a sua afinidade com aqueles sistemas elétrico-fósseis tradicionais, que deveriam ser substituídos: rigidez extrema, fragilidade, problemas de segurança. Razão pela qual o Desertec acabaria invertendo a intenção de libertar as populações dos vínculos energéticos fósseis, substituindo-o por outros vínculos não menos graves. E afastando-se de qualquer perspectiva democrática, essencial na pesquisa de Scheer.
Abre-se o confronto fundamental: há uma energia renovável, solar, que também é local, cidadã, cresce nos telhados e ao longo dos muros, é controlável de perto, é sempre substituível, pode ser consertada, é fácil de mudar e de melhorar, sem interromper o serviço, não custa muito, ou, melhor, torna-se concorrencial se for deixada viva e ao mesmo tempo não se facilita a hipótese energética contrária: um bem comum, em suma, para o qual se devem construir, dia após dia, as condições. Um modelo de sociedade em que todas as pessoas são “obrigadas” a discutir, a escolher um modelo de vida, a elaborar um projeto comum para alcançá-lo: para fazer, um dia após o outro, a democracia.
Por outro lado, há uma energia poderosa, de amplo alcance, governada de longe, inalcançável pelos usuários que parece (parecia) responder às exigências dos engenheiros, mas que, na realidade, responde desde sempre às exigências das finanças e dos poderes mais fortes . “Eu tenho a resposta”, dizia Hermann Scheer. “Agora, cabe a vocês”.

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FONTE : (Ecodebate, 27/01/2012) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

O grande desafio da Causa dos Animais, artigo de Vininha F. Carvalho

O grande desafio da causa dos animais é construir uma nova mentalidade
Proteger os animais é compreender suas necessidades
Os cães são muito mais inteligentes do que pensam os humanos. É o que afirmam cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Em uma reportagem da revista “New Scientist”, os pesquisadores afirmam que o melhor amigo do homem sabe contar e que tenta passar mensagens usando diferentes tipos de latidos.
Em geral, os cães latem alto quando são separados de seus donos. Já quando estranhos se aproximam ou a campainha toca, emitem latidos baixos e secos, explica a especialista em comportamento animal da universidade, Sophia Yin. Quando brincam, os sons são altos e espaçados.
Por isto, acredito que não existem raças “problemas” e sim humanos que cuidam de cães, de raças ou não, de forma inadequada. Numa sociedade cada vez mais urbana e distante da natureza, poucas pessoas conseguem compreender a “linguagem” do seu animal e, por isto, acabam abandonado-o a própria sorte.
O grande desafio da causa dos animais é construir uma nova mentalidade, conduzindo as ações para que haja um amadurecimento no relacionamento entre as pessoas e os animais. Para que isto se torne possível , se faz necessário diferenciar responsabilidade social de caridade.
A responsabilidade social enfoca a busca da solução do problema, agindo diretamente na causa. A caridade investe na consequência, dificultando que o problema seja resolvido, pois não estimula a união de esforços para descobrir a verdadeira causa do problema. O assistencialismo é imediatista. A responsabilidade social é um atitude que envolve determinação e persistência, que garante um futuro muito melhor.
A meu ver, o ideal não é apenas lutar para combater as crueldades. É preciso educar as pessoas para que não ocorra os maus tratos, tornando cada cidadão responsável pelo seu animal.
Precisamos dar futuro aos animais, e isto com certeza, não se faz através de esmolas, e sim, através da conscientização de seus direitos, incidindo no adestramento adequado, que propiciará um convívio harmonioso.
Precisamos despertar a criatividade, através de novas idéias, ecoar nos corações sensíveis, conseguindo instalar nas mentes o desejo de amar e respeitar os animais .Agindo assim, formaremos uma legião de educadores, capazes de promover a posse responsável e o controle de natalidade, onde a vontade de fazer o bem será o elo forte entre o cidadão e o cumprimento das leis.

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FONTE : Vininha F. Carvalho – ambientalista e presidente da Fundação Animal Livre ( www.animalivre.org.br)
EcoDebate, 27/01/2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Queda na atividade do Sol até 2100 não vai atrasar aquecimento global, diz estudo

Menor radiação solar não vai atrasar aquecimento global, diz estudo. Queda na atividade do Sol até 2100 deve reduzir temperatura em 0,08ºC. Aumento é menor que o provocado pelo efeito estufa, de 2º C nesse século. Matéria da Reuters.
Atividades solares mais fracas nos próximos 90 anos não devem ter impactos significativos no atraso do aumento da temperatura global causada por gases do efeito estufa, segundo um relatório divulgado na segunda-feira (23).
O estudo, realizado pelo Escritório Meteorológico da Grã-Bretanha e pela Universidade de Reading, descobriu que a radiação solar vai cair até 2100, mas isso iria apenas produzir uma queda de 0,08 º C na temperatura global.
Cientistas têm alertado que condições climáticas mais extremas devem ocorrer com mais freqüência em todo o planeta conforme o clima da Terra aumenta.
As estimativas são de que o mundo deve aquecer mais de 2 º C esse século devido ao crescimento das emissões de gases do efeito estufa.
Os compromissos globais existentes atualmente para cortar o dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa são vistos como insuficientes para impedir o aquecimento do planeta além de 2º C, um limiar que deve provocar um clima instável com freqüentes condições meteorológicas extremas, segundo cientistas.
“Essa pesquisa mostra que as mudanças mais prováveis na atividade solar não terão um grande impacto nas temperaturas globais, nem farão muito para reduzir o aquecimento provocado por gases estufa que nós esperamos”, disse Gareth Jones, cientista que detecta mudanças climáticas no Escritório Meteorológico.
“É importante notar que este estudo está baseado em um modelo climático único, em vez de modelos múltiplos que pudessem captar mais incertezas do sistema climático”, ele adicionou.
Durante o século 20, a atividade solar aumentou para um nível máximo. Estudos recentes sugerem que esse nível já atingiu um fim ou está se aproximando dele.
Os pesquisadores usaram esse nível máximo como ponto de partida para projetar possíveis mudanças na atividade solar ao longo deste século.
O estudo também mostrou que, se a radiação solar cair além do patamar atingido entre 1645 e 1715 – chamado de mínimo de Maunder, quando a atividade solar atingiu valor o mínimo já observado – a temperatura global cairia 0,13 º C.
“O cenário mais provável é que vamos ver uma redução geral da atividade solar, em comparação com o século 20, que faça com que a radiação caia para os valores do mínimo Dalton (atingido em cerca de 1820)”, disse Mike Lockwood, especialista em estudos de energia solar na Universidade de Reading.
“A probabilidade da atividade cair aos níveis do Mínimo de Maunder – ou mesmo voltar para a alta atividade verificada no século 20 – é de cerca de 8%”.

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FONTE : Matéria da Reuters, no G1 Natureza.
EcoDebate, 26/01/2012

Emergências no Brasil, artigo de Roberto DaMatta

No Brasil a palavra emergência é um desses vocábulos com muitos sentidos, quase todos reveladores da dimensão mais profunda da atmosfera local. Dou um exemplo: se um inglês grita “help!”, ele é imediatamente socorrido. Se uma companhia aérea americana, pequena ou grande, recebe um pedido de passagem numa “emergency” – isso já ocorreu comigo – o lugar vai ser obtido. Palavras como socorro, perigo, ajuda, emergência e expressões como vida ou morte têm o poder de suspender as rotinas diárias e deflagram atitudes condizentes. O atendimento e a atenção têm que ser imediatos.
No Brasil, elas dizem o mesmo, mas dependem de quem está do lado de cá (como vítima ou doente) ou do lado de lá da porta do hospital ou do balcão de atendimento. Entre nós existem mediações e tudo depende do “caso” – e o “caso”, conforme sabemos, mas não discutimos, tem a ver com conceitos tipicamente brasileiros como “a pinta”, “a cara”, “o jeito” – a tal aparência. O modo pelo qual a vítima ou o doente é socialmente classificado.
Em todos os encontros impessoais no Brasil, o modo de falar, o tom de voz, o porte, a roupa, a cor da pele, a gesticulação, o cabelo e o penteado, os adereços, o andar e até mesmo o grau e limpeza, o cheiro, o relógio ou o anel – com maior ou menor peso, mas com a cor da pele, sejamos sinceros, sendo muito importante – são peças básicas no acolhimento ou na rejeição de uma emergência. Acostumados a ver as pessoas situando-as apenas como inferiores ou superiores e jamais como iguais, as emergências e os socorros (esses momentos que nos igualam como seres mortais e capazes de ser ofendidos, feridos e socorridos) passam numa primeira instância a “saber quem é a vítima” para, em seguida, dar-lhe atenção ou desamparo.
Donde, o antipático mas preventivo “você sabe com quem está falando?”. Diante de balcões de repartições públicas, hospitais e postos de saúde. Nas emergências, tendemos a seguir a mesma lógica das tramoias políticas. Diante da suspeita de crime, ou, como diz a presidente, do “malfeito”, procuramos primeiro saber quem é para depois demitir, indiciar ou blindar! Embora, como estamos fartos de saber, o bom-senso quase sempre demande providências imediatas.
Fala-se muito em cidadania, mas o fato é que esse papel continua sendo dependente de quem o desempenha. Se for nosso, recebe a blindagem que o torna superior às leis e fica dispensado dos socorros; se for pessoa comum, entra nas emergências. Esses atendimentos que, com ou sem plano de saúde, podem levar ao cemitério independentemente de quaisquer circunstâncias.
Pois “socorro” e “emergência” são palavras que em todo lugar, exceto no Brasil, têm a força de suspender as circunstâncias.
Em maio do ano passado tive um mal-estar e descobri, depois de uma consulta de emergência, que estava com uma crise de vesícula. Tinha que extirpá-la o mais rapidamente possível, o que fiz dois dias depois. Passei, assim, pela famosa cadeia medicinal deflagrada pelo estado de emergência que vai do atendimento imediato ao diagnóstico; passando pela intervenção, recuperação e retorno à vida normal.
Mas esse processo só foi feliz porque durante todo o tempo eu tive a sorte e o privilégio de estar acompanhado por médicos amigos. Recebi, deste modo, não só a competência da sabedoria médica habitual, mas uma decisiva e grata atenção. Eu pago caro por um plano de saúde mas, mesmo em plena crise, eu demorei mais ou menos seis horas para ser internado num grande hospital de Niterói porque o plano fala em Rio de Janeiro e Niterói é nele classificado como Leste Fluminense! Quer dizer, a contiguidade entre o Rio de Janeiro e Niterói sumiu porque o plano de saúde comporta um detalhe burocrático típico do moderno-brasileiro. Esperei mas comigo esperou a equipe médica, até que as tramas do plano fossem resolvidas e deixassem passar o doente.
O fato concreto é que cheguei no hospital às 9 da manhã e só fui operado às 6 da tarde, depois de uma troca interminável de mensagens e telefonemas entre Rio e Niterói. Felizmente tudo deu certo. Mas e se eu fosse – digamos como hipótese – um negro desconhecido e educado na boa norma da igualdade que abomina o “você sabe com quem está falando?” que recria a desigualdade, onde deveria reinar uma equidade plena mas devidamente enfartado? Em caso afirmativo, eu estaria escrevendo essa crônica no outro mundo.
É preciso rever as condutas que tipificam o espaço público brasileiro, sobretudo no que diz respeito a emergências. Não cabe, numa democracia e num governo voltado para a justiça social e para o povo pobre, nenhuma desculpa que acaba incidindo sobre detalhes legais e que, no final, tentam demonstrar que o doente vitimou-se a si próprio. O caso da trágica morte do sr. Duvanier Paiva Ferreira, secretário de um ministério voltado justamente para os recursos humanos e uma agência de saúde, é exemplar. Primeiro porque não houve o famoso “você sabe quem está falando?”; depois porque a vítima era um negro importante. Será que em todos os atendimentos os doentes devem fazer um escarcéu?
O socorro e a emergência não podem admitir demoras, desculpas e, sobretudo, esse detestável legalismo nacional que trava o mundo (e a vida) em nome de uma serenidade jurídica que simplesmente não deve existir nas crises de saúde e jamais pode prevalecer na batalha entre a vida e a morte! Bem faz a presidente Dilma em mandar averiguar o caso. Melhor ainda seria interferir, com maior consciência sociológica, nos protocolos dos atendimentos emergenciais.

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FONTE : Artigo originalmente publicado em O Globo e socializado pelo ClippingMP
EcoDebate, 26/01/2012

Poyang, maior lago de água doce da China, sofre as consequências da represa de Três Gargantas

Pequim culpa a falta de chuvas pela secura do lago, mascarando a responsabilidade da represa de Três Gargantas.Para quem pensava em se deparar com o maior lago de água doce da China, Poyang é um espetáculo desolador. Dos mais de 3.500 quilômetros quadrados que costumam ficar imersos, somente 200 quilômetros quadrados estão sob as águas neste mês de janeiro. Uma planície ressecada se estende a perder de vista. Um pagode se projeta sobre um pequeno monte que parece ser uma ilhota. Em uma bruma característica das regiões do Baixo Yangtzé, barcaças estão ancoradas diante de um magro curso d’água enquanto os pescadores estão sem trabalho. Matéria de Harold Thibault, Le Monde.
De acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, essa seca, a mais grave em seis décadas, se deve a “uma falta de chuvas na região do lago e na nascente de seus afluentes”. A severidade do clima este ano tem sua parte de responsabilidade, mas mencioná-la como única causa é omitir o papel da colossal barragem de Três Gargantas, 500 quilômetros acima. A relação de causalidade nem sempre é reconhecida oficialmente, mesmo que o governo tenha admitido, em maio de 2011, que a maior represa do planeta criou “problemas que devem ser resolvidos com total urgência”.
“Todo ano, quando a barragem de Três Gargantas armazena água para funcionar durante a estação seca invernal, a vazão do Yangtzé cai. Isso acelera a queda do nível do lago Poyang, cujo período de águas baixas é antecipado”, analisa Ye Xuchun, pesquisador da Universidade do Sudoeste da China. Ele é coautor, junto com cientistas do Laboratório de Estudos Ambientais da Nanquim, de uma análise cruzada de levantamentos dos níveis de água na bacia de Três Gargantas e no local onde os fluxos do “Longo Rio” se misturam aos do lago Poyang, em sua extremidade norte, frente à cidade de Hukou.
Os autores concluem a partir disso que o ajuste artificial da represa, que deve ser enchida para maximizar sua produção de eletricidade, reduz o nível de água do Yangtzé em sua foz. E que o rio não garante mais seu papel de “bloqueio” ao norte do lago. Assim, os outros rios que abastecem o Poyang só atravessam, como simples cursos d’água, o lago que desaparece. Foi o que aconteceu em 2006, ano muito seco que caiu em plena fase de enchimento da represa de Três Gargantas: “Quando o nível de água da barragem foi elevado em 15 metros, chegando a 155 metros em outubro, o lago declinou a um nível extremamente baixo em Hukou”, diz o relatório.
O início de 2012 está sendo pior. O equilíbrio ecológico da região foi “gravemente afetado”, lamenta Dai Nianhua, vice-diretor do Centro de Pesquisas sobre o lago Poyang, em Nanchang, capital da província. Sem um nível de água suficiente não há peixes, e portanto não há víveres necessários aos pássaros migratórios para os quais Poyang é uma etapa. O governo decidiu abastecer o lago com peixes e camarões, por helicóptero.
O balanço econômico segue a mesma linha. No canteiro naval de Xingzi, um operário conta: “Os navios comerciais não podem mais circular com a bacia vazia”, sendo que o lago é um pulmão da atividade na província rural do Jiangxi. Há quem proponha que seja construída uma nova barragem na junção do lago e do Yangtzé, mas sabem-se quais seriam seus efeitos secundários.
Quanto aos pescadores, eles viraram suas embarcações sobre a margem ou simplesmente as abandonaram no leito seco do Poyang. Guo Jintao, morador de Yumincun, vila de uma centena de pescadores, não mexe em seu barco há mais de um ano. Fazia meio século que ele não via o lago tão seco assim – ele, que começou a pescar aos 13 anos de idade. Sua esposa e ele passaram a procurar pequenos trabalhos temporários de construção.
“No ano que vem é que saberemos. Se houver água o suficiente, voltaremos a pescar. Senão, continuaremos com essa nova atividade”, diz Guo, tragando seu cigarro sem parar. Zhang Jingzen, sua mulher, acha que, aos 55 anos, empilhar tijolos é exaustivo: “Prefiro a pesca, é uma atividade que nossa família pratica há quatro gerações”, ela diz, fazendo seu marido mostrar o certificado de pescador profissional.
A família costumava ganhar entre 10 mil a 20 mil yuans por ano (R$2.736 a R$5.472 ), mas os Guo só conseguiram juntar 5 mil yuans em 2011. As autoridades locais lhes ofereceram uma indenização de 4 mil yuans. Um outro pescador, curioso com a discussão, interveio para contar que ele só recebeu 500 yuans do governo da cidade, sendo que a província teria liberado 1.000 yuans para cada pescador.
“As rendas das vilas de pescadores estão caindo tão rápido quanto o nível de água do lago. Alguns habitantes estão tendo de mudar de profissão”, constata Xu Bin, autor de uma tese sobre as consequências socioeconômicas dos desequilíbrios ambientais do lago. Ele avisa: “A terra na China é seca, então o Yangtzé é vital. Poyang é uma de suas chaves, e sua situação atual serve de alerta para o futuro”.

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FONTE :
Tradutor: Lana Lim
Matéria [En Chine, le plus grand lac d'eau douce est à sec] do Le Monde, no UOL Notícias.
EcoDebate, 26/01/2012

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Oceanos já estão até cem vezes mais ácidos devido a emissões de CO2



Oceanos já estão até cem vezes mais ácidos devido a emissões de CO2
Emissão de CO2 aumenta acidez do oceano e prejudica corais, diz estudo. Mudanças causadas pelo homem são cem vezes maiores que as naturais. Em 90 anos, a calcificação de corais e moluscos pode cair 40%, afirma estudo científico. Do Globo Natureza.
O aumento da acidez dos oceanos verificado nos últimos 100 a 200 anos foi muito maior que as transformações que ocorreriam naturalmente, sem a interferência da ação do homem. A conclusão é de um time de cientistas internacionais ligados ao Centro de Pesquisa Internacional do Pacífico, da Universidade do Havaí, em um estudo publicado neste domingo (22), na “Nature Climate Change”.
De acordo com a pesquisa, cerca de 65% do gás proveniente de atividades humanas entram no mar e, em contato com a água salgada, aumentam sua acidez. O fenômeno reduz a taxa de calcificação de organismos marinhos, como corais e moluscos.
As conclusões do estudo são baseadas em simulações de condições do clima e do oceano verificadas na Terra nos últimos 21 mil anos, desde a última Era Glacial até o século 21. Durante as simulações, os pesquisadores analisaram o nível de concentração do aragonito, um tipo de carbonato de sódio que ajuda a medir a acidez dos oceanos. Quanto mais ácida é a água do mar, menor é a quantidade de aragonito.
Os resultados obtidos revelaram que o nível atual de aragonito é cinco vezes menor que o verificado na fase pré-industrial. De acordo com a pesquisa, essa redução pode representar uma queda de 15% na calcificação de corais e moluscos. Já nos próximos 90 anos, a redução da calcificação pode cair 40% em relação aos valores pré-industriais, considerando o contínuo uso de combustíveis fósseis, que emitem CO2.
“Em algumas regiões, as mudanças na acidez do oceano provocadas pelo homem desde a Revolução Industrial são cem vezes maiores que as mudanças naturais verificadas entre a última Era Glacial e os tempos pré-industriais”, disse Tobias Friedrich, um dos cientistas que lideraram a pesquisa, em material de divulgação.
Segundo ele, após o fim do último período glacial, a concentração de CO2 atmosférico aumentou de 190 partes por milhão (ppm) para 280 ppm ao longo de seis mil anos. Assim, os ecossistemas marinhos tiveram tempo suficiente para se adaptar. Já o aumento para o nível atual, de 392 ppm, levou apenas entre 100 e 200 anos, prejudicando a vida marinha.
De acordo com a pesquisa, os corais são vistos em locais com concentração de aragonito presentes em 50% do oceano atualmente. Até o final do século 21, essas condições seriam encontradas em apenas 5%.
“Nosso estudo sugere que severas reduções devem ocorrer na diversidade, complexidade e resistência dos corais até metade deste século”, afirmou o co-autor do estudo, Alex Timmermann.

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FONTE : EcoDebate, 24/01/2012

Estudos sobre resíduos de agrotóxicos em alimentos terão que seguir padrões internacionais

Estudos sobre resíduos de agrotóxicos em alimentos, elaborados pelas empresas para registrar esse tipo de produto no Brasil, terão que seguir metodologias semelhantes às adotadas em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e União Europeia. É o que estabelece a Resolução RDC 4/2011 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada nesta segunda-feira (23/1).
A norma da Anvisa detalha todas as condições técnicas que devem ser observadas pelas empresas na condução dos estudos de resíduos de agrotóxicos em alimentos, tais como: critérios para preservação de amostras, apresentação de estudo de estabilidade de agrotóxico na cultura, curva de dissipação, entre outros.Com esse regulamento, a Agência pretende dar mais segurança na condução dos estudos de resíduos de agrotóxicos em alimentos.
De acordo com o diretor da Agência, Agenor Álvares, muitas vezes as empresas de agrotóxicos apresentam estudos de resíduos elaborados em condições insatisfatórias ou inadequadas, o que aumenta o custo e o tempo de análise dos produtos. “Tendo regras bem claras e detalhadas, esperamos receber estudos elaborados em condições corretas, pois quando conduzidos de forma inadequada não são suficientes para que os técnicos da Agência consigam estabelecer um limite seguro de resíduos de agrotóxicos em alimentos”, explica Álvares.
Normas Internacionais
O novo regulamento é uma atualização da Resolução RDC 216/ 2006 da Agência. Com essa norma, os estudos de resíduos de agrotóxicos em alimentos, no Brasil, passam a seguir as recomendações metodológicas do Codex Alimentarius – programa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e da Organização Mundial de Saúde (FAO/ONU) para alimentação segura.
Registro
No Brasil, o registro de agrotóxicos é realizado pelo Ministério da Agricultura, órgão que analisa a eficácia agronômica desses produtos. Porém, a anuência da Anvisa e do Ibama é requisito obrigatório para que o agrotóxico seja registrado.
A Anvisa realiza avaliação toxicológica dos produtos quanto ao impacto na saúde da população e estabelece os limites máximos de resíduos em alimento, bem como o intervalo de segurança que deve ser observado entre a última aplicação do agrotóxico e a colheita. Já o Ibama observa os riscos que essas substâncias oferecem ao meio ambiente.

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Fonte: Anvisa
EcoDebate, 24/01/2012

Anvisa abre consulta pública para banir os agrotóxicos parationa metílicia e forato, prejudiciais à saúde humana

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, nesta segunda – feira (23/1), duas consultas públicas recomendando o banimento dos agrotóxicos parationa metílicia e forato. As recomendações da Anvisa estão baseadas em estudos científicos que relacionam o uso desses agrotóxicos à problemas de saúde.
“Nossa medida pretende reduzir o risco da população exposta a esses produtos, tendo em vista que são extremamente tóxicos e estão sofrendo restrições de uso em diversos países”, afirma o diretor da Agência, Agenor Álvares.
A parationa metílica é um inseticida e acaricida que tem uso autorizado nas culturas do algodão, alho, arroz, batata, cebola, feijão, milho, soja e trigo. “Este agrotóxico possui características neurotóxicas, imunotóxicas, mutagênicas e provoca toxicidade para os sistemas endócrino e reprodutor e para o desenvolvimento de embriões e fetos, além de gerar desordens psiquiátricas”, explica Álvares.
Quanto ao forato, o diretor da Anvisa destaca que produto pode provocar letalidade em doses baixas, por diferentes vias de exposição, e está associado com diabetesmellitus na gravidez, toxicidade reprodutiva e para o sistema respiratório, nefrotoxicidade e neurotoxicidade. Esse agrotóxico é um inseticida, acaricida e nematicida (empregado para combater alguns parasitas) utilizado no cultivo do algodão, amendoim, batata, café, feijão, milho, tomate e trigo.
Cenário internacional
No cenário internacional, os dois produtos são proibidos na Comunidade Europeia. A parationa metílica também não pode ser utilizada na China, Japão, Indonésia, Sri Lanka e Tanzânia. Nos Estados Unidos, esse agrotóxico está classificado como restrito, o que significa que as formulações a base de parationa metílica só podem ser compradas e usadas por aplicadores certificados. Ainda, nos Estados Unidos, a aplicação do produto é mecanizada, o que diminui a exposição dos trabalhadores ao produto.
O forato está em processo de descontinuidade de uso para a cultura da batata no Canadá e tem prioridade para ser reavaliado na Austrália. Nos Estados Unidos, o uso desse agrotóxico sofre diversas restrições, tais como: uso em sistemas fechados, proibição de aplicação aérea, restrição de culturas autorizadas e regiões e definição de uma única aplicação por safra.
Retirada voluntária
Uma das empresas, fabricante de produtos à base de parationa metílica no Brasil, já se manifestou formalmente à Anvisa de que irá retirar esse agrotóxico do mercado nacional, de forma voluntária, em 2012.
Contribuições
As contribuições às Consultas Públicas 8 e 9/2011 podem ser feitas pelo site da Anvisa ou pelo e-mail toxicologia@anvisa.gov.br. Outros canais de participação são o fax (61) 3462 – 5726 e cartas para o endereço Agência Nacional de Vigilância Sanitária / Gerência-Geral de Toxicologia, SIA, Trecho 5, Área Especial 57, Lote 200, Brasília, DF, CEP 71.205.050.
Confira as notas técnicas que recomendam a proibição de uso da parationa metílica e do forato no Brasil.
Veja ainda publicação das consultas públicas da Anvisa no Diário Oficial da União.

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Fonte: Anvisa
EcoDebate, 24/01/2012

Anvisa constata uso de agrotóxicos não autorizados no plantio de diversos alimentos



Anvisa constata uso de agrotóxicos não autorizados no plantio de diversos alimentos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) constatou que os produtores rurais têm usado agrotóxicos não autorizados no plantio de determinados alimentos. Em 2010, a Vigilâncias Sanitária avaliou 2.488 amostras de alimentos, sendo que 28% apresentaram resultado insatisfatório para a presença de resíduos dos produtos. Deste total, 605 (24,3%) amostras estavam contaminadas com agrotóxicos não autorizados.
Quando o uso de um agrotóxico é autorizado no país, os órgãos responsáveis por essa liberação, indicam para que tipo de plantação ele é adequado e em que quantidade pode ser aplicado.
Em 42 amostras (1,7%), o nível de agrotóxico estava acima do permitido. Em 37% dos lotes avaliados, não foram detectados resíduos de agrotóxicos.
“Os resultados insatisfatórios devido à utilização de agrotóxicos não autorizados resultam de dois tipos de irregularidades, seja porque foi aplicado um agrotóxico não autorizado para aquela cultura, mas cujo [produto] está registrado no Brasil e com uso permitido para outras culturas, ou seja, porque foi aplicado um agrotóxico banido do Brasil ou que nunca teve registro no país, logo, sem uso permitido em nenhuma cultura”, conclui o relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos (Para).
O pimentão lidera a lista dos alimentos com grande número de amostras contaminadas por agrotóxico. Em quase 92% das amostras foram identificados problemas. Em seguida, aparecem o morango e o pepino, com 63% e 57% das amostras com avaliação ruim.
Em uma amostra de pimentão, foram encontrados sete tipos diferentes de agrotóxicos irregulares. A batata foi o único alimento sem nenhum caso de contaminação nas 145 amostras analisadas.
A agência reguladora constatou também que, das 684 amostras consideradas insatisfatórias, 208 (30%) tinham resíduos de produtos que estão sendo revistos pela Vigilância Sanitária ou serão banidos do país, como é o caso do endossulfan e do metamidófos, que serão proibidos no Brasil nos próximos dois anos.
Em 2010, foram avaliados resíduos de agrotóxicos em 18 tipos de alimentos em 25 estados e no Distrito Federal. São Paulo não participou do programa.
A lista com os dez alimentos com mais amostras contaminadas com resíduos de agrotóxicos é a seguinte:
1) pimentão
2) morango
3) pepino
4) cenoura
5) alface
6) abacaxi
7) beterraba
8) couve
9) mamão
10) tomate

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FONTE : Reportagem de Carolina Pimentel, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 24/01/2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Como inventar um novo planeta, artigo de Washington Novaes

Afinal a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou, em 19 páginas, seu documento preliminar sobre a conferência mundial Rio+20, a realizar-se em junho no Rio de Janeiro. O texto O Futuro que Queremos está repleto de boas intenções, mas quase vazio de meios concretos, específicos, para a sua realização – reforçando os temores de tantos estudiosos, muitos deles já mencionados neste espaço, de que a conferência venha a ser um malogro, ou apenas um espaço para palavras, sem consequências práticas.
O documento reafirma “a determinação de livrar a humanidade da fome”, por meio da “erradicação de todas as formas de pobreza”. E assume o compromisso de “lutar para que as sociedades sejam equitativas e inclusivas”, de modo a atingirem “estabilidade econômica e crescimento que beneficie todos”.
Também reitera o desejo de atingir, em 2015, os “Objetivos do Milênio”, que incluem essa erradicação da pobreza, a universalização do saneamento básico (do qual estão excluídos 40% da humanidade), renda mínima para todos (hoje 40% vivem abaixo da “linha da pobreza”). E que os países industrializados cumpram o compromisso, assumido na Rio-92, de ampliar de 0,37% de seu produto interno bruto (PIB) para 0,70% a ajuda aos países em desenvolvimento, para que se atinjam os objetivos – atualmente a ajuda é de 0,30%, inferior à de 20 anos atrás, e pouquíssimos países cumpriram o que assumiram.
Complicadíssimo. O próprio documento reconhece que hoje nada menos que 1,4 bilhão de pessoas vivem na pobreza; que 1,6 bilhão são subnutridas, sob a ameaça de pandemias e epidemias “onipresentes”; que o “desenvolvimento insustentável” agravou o estresse na área dos recursos naturais.
Por isso tudo e muito mais, diz o documento, o desenvolvimento sustentável é um “objetivo distante” – e a “governança global” dessa sustentabilidade é exatamente um dos temas centrais da conferência, juntamente com a “economia verde”. Ainda mais que a ONU pressupõe, para chegar a esses objetivos, que haja “participação da sociedade nas decisões”, a qual, por sua vez, depende de “acesso à informação”. Pressupõe até a inclusão, nas estratégias, do que está escrito na Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas.
Da mesma forma, exige eliminar barreiras comerciais e subsídios, eliminar o “gap tecnológico” entre países desenvolvidos e os demais, criar até 2015 indicadores para avaliar as transformações, tendo ainda em conta que crescimento do PIB dos países é um indicador considerado insuficiente, porque não leva em conta fatores sociais e ambientais. Sem esquecer que tudo isso deverá estar no âmbito de uma “governança ambiental internacional”, que pode exigir até a criação de uma agência especializada da ONU.
E vai por aí o documento das Nações Unidas, enumerando objetivos como reduzir o desperdício de água no mundo, planejar e implantar “cidades sustentáveis”, impedir a perda da biodiversidade e a acidificação dos oceanos, proteger estoques pesqueiros ameaçados, combater a desertificação na África, a deposição de lixo eletrônicos e de plásticos no mar. E, em meio a isso tudo, reduzir os subsídios para combustíveis fósseis, para proteger a agricultura dos países centrais, para sustentar a pesca predatória. Assim como duplicar a porcentagem de energias renováveis na matriz mundial.
Este último item remete ao relatório recente da Agência Internacional de Energia, lembrando que o aumento de 5% no consumo de energia primária em 2010 levou a novo “pico” nas emissões de dióxido de carbono, graças inclusive aos subsídios ao consumo de energias derivadas de fontes fósseis, que estão em US$ 400 bilhões anuais. Ainda assim, 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso à energia elétrica. E os cenários traçados para o período que vai até 2035 chegam a prever um aumento de um terço na demanda de energia, mantida a previsão de aumento de 1,7 bilhão de pessoas na população mundial nesse período e crescimento médio anual de 3,5% do PIB – 90% do aumento estará fora dos países industrializados. Tudo isso exigirá investimentos de US$ 38 trilhões em 25 anos, principalmente em estruturas para transporte de energia. O consumo de combustíveis fósseis deverá baixar apenas dos 81% totais de hoje para 75%. As energias renováveis – principalmente hidrelétrica e eólica – responderão por 50% da capacidade que será adicionada.
Num quadro tão difícil, com as dificuldades da conjuntura econômica mundial, a pouca praticidade dos objetivos da convenção tem gerado críticas fortes. O renomado economista Jeffrey Sachs, da Universidade de Colúmbia, tem dito que a conferência do Rio “deve servir para admitir duas décadas de fracasso no campo ambiental”; para reconhecer que “não há propostas para a crise”; que “o lobby da indústria de energia venceu Obama” (Estado, 18/11/2011). Suzana Kahn, que representa o Rio de Janeiro na conferência, admite que há “um grande risco de a Rio+20 ser um evento sem consequência nenhuma”, já que “não tem nada prático que vá sair do encontro” (Estado, 21/12/2011).
Muito mais complexa ainda é a questão levantada pelo teólogo Leonardo Boff, ao lembrar que sustentabilidade é tema muito abrangente: “É toda ação destinada a manter condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana” – e ainda assegurando os direitos das gerações futuras. Meio ambiente, diz ele, não é “algo secundário e periférico”. Que fará a Rio+20 para abrir caminhos que assegurem tudo isso?
Como haverá também, paralela à conferência do Rio, uma Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, certamente se dirá que esse avanço da consciência social poderá abrir caminhos para transformações políticas que levem à superação das lógicas apenas financeiras no mundo – e ao desejado desenvolvimento sustentável. Difícil, mas não é impossível.

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FONTE : Washington Novaes, jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo.
EcoDebate, 23/01/2012

Mobilização na praia de Canasvieiras, Florianópolis-SC

Para o próximo sábado, dia 28 de janeiro de 2012, das 9hs ao meio-dia, está prevista uma atividade de conscientização socioambiental na praia de Canasvieiras, norte da Ilha da Magia, na beira do Rio do Braz, próximo ao trapiche das escunas.
O evento contará com a participação do Movimento SOS CANASVIEIRAS, Instituto Eco&Ação e dos integrantes do projeto CECA (Centro de Educação e Cidadania Ambiental), com distribuição de material informativo sobre conduta consciente em praias.
Precisamos da colaboração de todos: moradores e turistas. As praias da Baia de Canasvieiras estão sofrendo forte degradação. Principalmente pelo despejo de esgoto in natura nas suas águas e areia. No dia 22 de janeiro último, o DC - Diário Catarinense* publicou que, em Florianópolis, “dos 65 pontos monitorados pelos técnicos da Fatma, 29 não são indicados para o banho. Quem está curtindo o verão no Norte da Ilha não tem muito o que comemorar. A incidência de chuva combinada ao gigantesco fluxo de turistas e um sistema de esgoto sobrecarregado agrava a situação. Pelo menos cinco pontos em praias em Canasvieiras, Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui estão com a qualidade sanitária da água comprometida”.
E prestem atenção ao recado deixado por essa reportagem do DC: “Independente das placas de balneabilidade, os técnicos do órgão ambiental não indicam o banho de mar após dias chuvosos. A chuva "lava as ruas", levando água contaminada para o mar. Locais próximos de braços de rios, córregos e tubulações também devem ser evitados”.
O número de pessoas que contraíram ‘virose’ – principamente crianças – nesse início de 2012 já é alarmante. Problemas gastrointestinais dos usuários da praia, esperas nos postos de atendimento, despesas com medicamentos são uma constante nas conversas diárias.
Precisamos descruzar os braços e lutar pela qualidade sanitária das nossas praias. Se nada for feito, elas não mais poderão ser utilizadas em um futuro bem próximo. E não é isso o que queremos: queremos praia limpa! Para a presente e futura geração.
Participe do nosso evento: ajude a salvar a Baia de Canasvieiras!

* - http://www.clicrbs.com.br/especial/sc/praias-sc/19,859,3638308,Sobe-para-66-pontos-improprios-para-banho-em-praias-no-Litoral-de-Santa-Catarina.html

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FONTE : Ana Echevenguá - advogada ambientalista - OAB/SC 17.413
ana@ecoeacao.com.br
Instituto Eco&Ação - www.ecoeacao.com.br
(48) 91343713 (vivo)
(48) 96459621 (tim)
Florianópolis - SC.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Bacia amazônica está virando emissora de carbono, alerta estudo na revista Nature

A bacia amazônica, tradicionalmente considerada uma proteção contra o aquecimento global, pode estar se tornando um contribuinte-chave de emissões de dióxido de carbono (CO2) como resultado do desmatamento, alertaram cientistas em artigo [The Amazon basin in transition] publicado nesta quarta-feira.
Em um resumo divulgado na revista Nature, cientistas chefiados por Eric Davidson, do Centro de Pesquisas Woods Hole (WHRC), em Massachusetts, a Amazônia está “em transição” em consequência das atividades humanas. Matéria da France Presse.
Ao longo de 50 anos, a população na região aumentou de 6 para 25 milhões de habitantes, levando a uma limpeza maciça de terreno para a exploração de madeira de corte e a agricultura, afirmaram.
O balanço de carbono da Amazônia – quantidade de dióxido de carbono que é liberada ou retirada da atmosfera – está mudando, embora seja difícil estimar com precisão, acrescentaram.
“O desmatamento alterou o balanço líquido da bacia de um possível sumidouro de carbono, no final do século XX, para uma fonte líquida”, afirmaram os cientistas no artigo.
Florestas maduras, como a amazônica, são fatores importantes na equação do aquecimento legal.
Suas árvores sugam CO2 da atmosfera, através da fotossíntese. Mas quando apodrecem ou são queimadas ou a área de florestas é desmatada, o carbono volta para o ar, incrementando o efeito estufa.
O artigo calcula que a biomassa da Amazônia contenha colossais 100 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a mais de 10 anos de emissões globais de combustíveis fósseis.
Desencadeador de mudanças no clima, o aquecimento global pode liberar parte deste estoque, alertaram.
“Grande parte da floresta amazônica é resiliente à seca sazonal e moderada, mas esta resiliência pode ser e foi exacerbada com secas severas experimentais e naturais, indicando um risco de perda de carbono se a seca aumentar com as mudanças no clima”, acrescentaram.
No artigo, os cientistas também destacaram que tem sido registradas secas extremas e cheias nas bacias do Tocantins e do Araguaia, cujos rios drenam a região do Cerrado, fortemente desmatada.
“Onde o desmatamento é extenso em escalas local e regional, a duração da estação seca está se alongando e a descarga da estação úmida está se intensificando”, destacou.

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FONTE : The Amazon basin in transition
Nature 481, 321-328 doi:10.1038/nature10717

Matéria da France Presse, no Correio Braziliense.
EcoDebate, 20/01/2012

Mudanças Climáticas: ‘Setor de energia é 80% responsável por emissões’, diz secretária da ONU

Termelétrica à carvão, em foto de arquivo
Termelétrica à carvão, em foto de arquivo
Christiana Figueres disse que revolução energética tem que ser ‘grande’. Ela discursou em Abu Dhabi, durante evento sobre o futuro da energia. Matéria do Globo Natureza, com agências internacionais*
A secretária-executiva da Organização das Nações Unidas para o Câmbio Climático (UNFCCC, na sigla em inglês), Christiana Figueres, acusou nesta quinta-feira (19) o setor energético de ser responsável em 80% pela mudança climática.
Durante conferência realizada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, que debate o futuro da energia no mundo, Christiana assegurou que, por este motivo, o setor energético deve deter “a maior parte da solução”.
Ela acrescentou que o mundo necessita de uma “revolução energética muito grande para solucionar o problema”, embora disse que os governos já avançam pelo “bom caminho”.
Durante o discurso, a secretária-executiva para assuntos climáticos afirmou que 180 nações já têm algum tipo de política de contra a mudança climática e que no ano passado foi batido o recorde de instalação de centrais de energia renovável, apesar da crise financeira.
Isto indica “uma ambição crescente e universal” para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), embora, apontou, que para conseguir isto será necessária a colaboração do setor privado. Figueres destacou também os êxitos obtidos na conferência do clima de Durban, realizada na África do Sul, em 2011, onde a maior parte dos países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões de CO2.
COP 17
Os 200 países signatários da Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), aprovaram em dezembro uma série de medidas com o objetivo de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa e que estabelece metas para países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O feito inédito, considerado o maior avanço na política climática desde a criação do Protocolo de Kyoto, em 1997, acontece após duas semanas de negociações que envolveram diplomatas e ministros do Meio Ambiente na Conferência das Partes (COP 17), realizada em Durban, na África do Sul.
O documento denominado “Plataforma de Durban para Ação Aumentada” aponta uma série de medidas que deverão ser implementadas, mas na prática, não há medidas efetivas urgentes para conter em todo o planeta o aumento dos níveis de poluição nos próximos nove anos.
*Com informações da EFE

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FONTE : EcoDebate, 20/01/2012

Peixes do Madeira desaparecem como os cientistas previram. Depois vem Belo Monte

Os peixes do rio Madeira estão desaparecendo. E as causas desse desaparecimento são sistêmicas, conseqüência de uma grande intervenção humana no ecossistema do rio, que os cientistas haviam previsto que teria impacto dramático sobre a população de peixes do rio. E é isso que está ocorrendo neste momento, como revelou a “Folha de S.Paulo” em sua edição de 8/1: os peixes do rio Madeira já sumiram na região do lago da hidrelétrica de Santo Antônio; outra hidrelétrica está em construção, chamada Jirau, com danos cumulativos previstos há pelo menos seis anos.
As decisões que levaram ao desaparecimento da população de peixes do rio Madeira foram tema de discussão longa nos anos anteriores, com envolvimento de inúmeros cientistas especializados em clima, em hidrografia e ictiologia (estudo dos peixes) e o que está acontecendo foi previsto naqueles relatórios, mas o presidente da República e a ministra da Casa Civil mandaram atropelar os estudos e tocar as obras.
E o que acontece agora no Madeira é uma sombra sobre os argumentos do governo em relação à próxima vítima, o rio Xingu e Belo Monte.
Pense o seguinte: de todos os rios deste planeta, em todos os países de todos os continentes, o rio Madeira é o 17º. maior. E os seus peixes estão desaparecendo como mostrou a “Folha de S.Paulo” no domingo, 8/1. A causa dessa destruição foi a decisão do governo brasileiro de construir duas grandes hidrelétricas naquele rio sem levar em consideração de fato os relatórios ambientais que alertavam para o risco de que a obra poderia dizimar a fauna do rio e por conseqüência toda a economia formada naquela região da Amazônia em torno da pesca artesanal.
O rio Madeira é um dos afluentes do rio Amazonas, com uma fauna tão peculiar e rica que é dos únicos rios do mundo de que se pode dizer que tinha uma espécie animal rara completamente exclusiva de suas águas: o boto vermelho do rio Madeira. Sobre essa espécie, ameaçada, ainda não há estudos sobre o que aconteceu nos últimos meses. Mas o jornal revelou em sua reportagem do dia 8 que se inviabilizou a pesca dedicada a uns tantos tipos de peixe (chamados genericamente de “bagres”), que gerava 29 mil toneladas/ano de pescados. São estes peixes que “sumiram” segundo o relato dos pescadores ao jornal. Esta atividade econômica acabou.
O governo federal dirá que não, que a pesca está reduzida temporariamente em algum trecho do rio, tentará levar o caso com a barriga mais para a frente, afastará os jornalistas com desculpas improvisadas enquanto os pescadores se acostumam com a falta de peixes, aceitam esmolas oficiais e arrumam outra ocupação. Mas o fato é que acabou.
A “Folha de S.Paulo” noticiou com destaque médio (manchete de página interna) no dia 8 que os pescadores deslocados pela represa da hidrelétrica de Santo Antônio pedem prorrogação da ajuda que recebem do Estado a guisa de indenização porque os peixes desapareceram e não têm como sobreviver de seu trabalho tradicional, apesar de estar acabando a ajuda de custo prevista no orçamento da obra. Ao lado da reportagem, um texto de uma coluna continha uma declaração de um funcionário da área de sustentabilidade da empresa, chamado Ricardo Márcio Martins Alves, alegando que os pescadores terão que aprender novas técnicas de pesca, pois os peixes que eles pescavam costumavam se concentrar junto a corredeiras do rio e que agora, com a formação do açude para alimentar as turbinas da hidrelétrica, as corredeiras foram cobertas e os peixes se espalharam pelo lago todo. A técnica para achá-los deverá ser outra.
A informação pode ensejar pelo menos estas hipóteses:
1) A que desconfia da versão dos pescadores: eles preferem seguir sem trabalhar, vivendo às custas do Estado e por isso alegam que os peixes sumiram para conseguir mais dinheiro;
2) Uma menos apocalíptica, que desconfia da versão da empresa: os peixes sumiram temporariamente e o orçamento da obra subestimou a necessidade de ajuda de custo a populações da região, agora essa ajuda de custo terá que ser prorrogada por certo período de tempo, o governo terá que providenciar cursos de técnicas alternativas de pesca, aumentando razoavelmente o custo do projeto;
3) Uma hipótese mais apocalíptica, que também desconfia da versão oficial: os peixes foram extintos ou reduzidos radicalmente para sempre, o impacto ambiental da obra foi subestimado pelo governo e agora o orçamento da obra terá que ser substancialmente ampliado para dar conta do custo eterno da extinção da pesca regional e o país terá que se entender com o grande impacto ambiental real causado pela hidrelétrica.
Recentemente foi inaugurado o lago da primeira hidrelétrica do rio Madeira construída a partir da decisão do então presidente Lula e da então ministra Dilma Rousseff de construir na Amazônia o plano produzido nos anos 1970 pelos governos da Ditadura Militar de 1964-1985. Depois de anos de governo em que pouco havia realizado em produção de energia, com medo de um novo apagão como o que assolou a popularidade de seu antecessor, FHC, o governo Lula resolveu desarquivar o projeto militar de construir um complexo de hidrelétricas na planície Amazônica. A primeira, Santo Antônio, está começando a funcionar no rio Madeira; a segunda, Jirau, logo vai produzir seus efeitos. Em breve, conforme a vontade do governo, começa a construção de Belo Monte. Na semana passada, a presidente autorizou a redução de cinco reservas florestais para seu alagamento alimentar três hidrelétricas. Várias outras hidrelétricas de grande porte estão em projeto ou construção na Amazônia, no Tapajós; outras virão no Xingu após Belo Monte, tudo sendo realizado estritamente conforme o plano produzido pelo regime ditatorial, quando não havia oposição; plano que foi congelado por causa da reação das populações da região a partir da redemocratização e agora descongelado e retomado, em um regime democrático peculiar, sem oposição.
É muito difícil saber exatamente o que vai acontecer no Madeira após a inauguração das duas hidrelétricas, mas algumas informações concretas já existem:
1) O funcionário da usina introduziu em toda a discussão uma novidade absoluta: em nenhum estudo de impacto ambiental anterior, do governo ou externo, foi mencionada a necessidade ensino de novas técnicas de pesca por decorrência desse efeito “espalhamento” que ele sugere em sua declaração à Folha. O que sugere a hipótese de que os cientistas todos que se debruçaram sobre o assunto não tenham previsto este aspecto que os fatos concretos revelaram; ou outra, de que o funcionário tenha inventado agora essa versão.
2) Os relatórios de impacto ambiental anteriores à obra previam danos graves para a população de peixes da região, especialmente para as várias espécies de bagres que sustentavam a riqueza da pesca artesanal do rio Madeira que são bem coerentes com o que está acontecendo, sugerindo a hipótese de que apesar de o presidente Lula, pessoalmente, ter desacreditado os cientistas e mandado o governo atropelar a resistência das áreas ambientais, os relatórios estavam certos.
Entre os estudos de impacto ambiental que alertavam para o risco definitivo à população de peixes do rio Madeira, talvez os mais significativos sejam os produzidos pelo cientista Philip Fearnside, cientista do Inpa, americano radicado na Amazônia desde 1978, que participou pessoalmente da revelação (ainda durante a Ditadura) do plano de construção de várias hidrelétricas no Xingu, incluindo a hidrelétrica que agora foi denominada de Belo Monte. Como membro do IPCC (o painel intergovernamental sobre mudanças climáticas da ONU), Fearnside ganhou o prêmio Nobel de 2007. Mas embora seja um cientista trabalhando no Brasil, cujos conhecimentos são produzidos para órgãos brasileiros e revertem para a comunidade científica brasileira, ele não recebeu o reconhecimento ufanista que o Brasil costuma conceder a seus destaques internacionais.
Seus textos (acessíveis no site http://philip.inpa.gov.br/ ) reúnem uma infinidade de dados sobre o meio ambiente e o clima na Amazônia, em estudos seus ou em referências aos estudos de outros cientistas, como é o caso do texto publicado em http://www.mp.ro.gov.br/web/guest/Interesse-Publico/Hidreletrica-Madeira que é um resumo comentado dos estudos feitos, inclusive das ameaças para as espécies pescadas na região. O texto é de 2006. Nada foi feito para evitar os danos. O governo tratou a obra como irreversível e inegociável.
Em resumo, o que Fearnside diz (nesse estudo e em entrevista a este repórter) é que os bagres pescados no Madeira são peixes de fundo de rio, onde há oxigênio. Com a criação de um grande lago, o fundo desse reservatório não tem oxigênio (devido à profundidade) e não há peixe portanto. Além disso, esses peixes nadam rio acima para pôr ovos e a passagem pela barreira da hidrelétrica se torna muito difícil ou impossível (neste momento, inclusive, está fechada a rampa de transposição criada para dar uma possibilidade de os peixes subirem o rio); e as larvas (os filhotes) dos peixes descem o rio à deriva enquanto crescem para se alimentar no Baixo rio Amazonas. Agora, nessa deriva, as larvas terão que atravessar as turbinas da hidrelétrica, um triturador de grandes proporções. Esses três fatores foram apontados como ameaças possivelmente intransponíveis para as espécies de peixe. O desaparecimento apontado pelos pescadores indica que o cientista americano e todos os outros tinham razão.
Os peixes se foram e como eles outras formas de vida do rio, já ameaçado pelo esgoto das todas as cidades ribeirinhas. Tudo vai piorar com a hidrelétrica de Jirau. E o mesmo vai acontecer com Belo Monte, no Xingu, pois o governo atropela os alertas ambientais e depois dá desculpas esfarrapadas para enganar jornalistas, como aconteceu com a Folha.

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FONTE : Matéria do blogue SE O POVO SOUBESSE / Observador Político
Matéria indicada por Telma Monteiro e publicada no EcoDebate, 20/01/2012