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terça-feira, 6 de julho de 2010

A visão e a cegueira ambientais

Nossa sociedade está consumindo mais ecossistemas do que a natureza consegue recuperar. Assim, se assemelha a um piloto que testa um avião que em vez de voar, segue em rumo de colisão com o chão. Enquanto não vê o chão se aproximando, o piloto pode se dar por satisfeito por estar voando. Mais ou menos como um suicida que se joga do prédio mais alto e ao passar voando pelo nono andar, em queda livre rumo ao chão, pensa: "até aqui, tudo bem!"

O estilo de vida baseado no consumo crescente e ilimitado de recursos naturais limitados tem deixando atrás de si uma terra arrasada, extinção em massa, montanhas de lixo, ao mesmo tempo em que produz exclusão social, guerras, fome. Por outro lado, tem gerado uma brutal concentração de renda, nunca se lucrou tanto e cresce a cada dia a quantidade de indivíduos e famílias cujas fortunas pessoais ultrapassam o PIB de muitos países! Os pobres, por sua vez, também estão tendo acesso, pela primeira vez ao consumo, graças a programas assistenciais públicos de transferência de renda, aos produtos chineses fabricados com mão de obra quase escrava e com energia suja de carvão, tudo isso facilitado por créditos a perder de vista!

Parar ou diminuir por quê? Alguns pensam : "recebemos o planeta de herança de nossos pais e avos já poluído, e sobrevivemos! Que mal há em fazer o mesmo com nossos filhos e netos? O que hoje chamam de lixo e poluição amanhã a tecnologia e a ciência poderão descobrir um jeito de neutralizar ou de transformar em matéria prima novamente! Existe muito exagero por parte dos ambientalistas que adoram anunciar o fim do mundo enquanto fazem seu marketing para atrair mais recursos e filiados para suas organizações! Na pior das hipóteses, suas teses cataclísmicas tem servido para aumentar os lucros vendendo mais livros e lotando bilheterias de cinema!"

E o chão continua se aproximando, mas a maioria - como já denunciou o escritor português Saramargo - sofre de cegueira. Os que vêem, ao tentar alertar aos que preferem a cegueira, são logo classificados como ecochatos, biodesagradáveis e outros apelidos engraçadinhos ! E assim, a sociedade de consumo segue voando, alegremente, rumo ao pouco provável mas não impossível fim da espécie humana! Como ambientalista, sempre torco para estar errado, pois geralmente quando me dão razão é por que é tarde demais.

Entretanto, não é para desanimar, pois já estão ocorrendo mudanças rumo a uma sociedade sustentável e, claro, tal mudança não se deve aos que preferem permanecer na cegueira e se recusam a mudar. E, por isso, a velocidade da mudança ainda é lenta diante dos enormes desafios a serem ainda enfrentados! Por exemplo, como promover a inclusão sócio-econômica-ambiental da maior parte da humanidade - que tem o direito à vida com qualidade e a um futuro para si e para os que os sucederão - sem comprometer ainda mais a base de recursos naturais já exploradas além do seu limite nem agravar o aquecimento global. Certamente, não será com o atual modelo de consumo nem com a atual tecnologia! Então, qual será? Nossos jovens estarão capacitados para serem os novos técnicos e cientistas do amanhã, capazes de pensar e descobrir respostas para os problemas que herdarao de nos? Nossas escolas e universidades estão atentas para o fato que as crianças e jovens de hoje em breve serão adultos num mundo diferente do atual, onde sustentabilidade e baixo carbono serão as palavras de ordem?

Dizem que a esperança é a última que morre, e que se depender dos que preferem não mudar, então não mudaremos mesmo e o fim será certo. Então, a mudança tem acontecido e depende dos que vêem, e sofrem, e se importam, e sonham com um mundo melhor e trabalham por ele, preferindo encontrar um jeito para mudar em vez de se contentar em desqualificar ambientalistas ou em encontrar desculpas para continuar tudo do mesmo jeito.

Se você conseguiu ler este artigo até aqui, então esteja certo, você não está só, apesar de fazer parte ainda da minoria que preferiu a visão em vez da cegueira ambiental.

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FONTE : Vilmar é escritor, com dezoito livros publicados, e jornalista, editor da Revista do Meio Ambiente e do http://www.portaldomeioambiente.org.br/ Por suas lutas pela democratização da informação ambiental e formação da cidadania socioambiental, recebeu em 1999, o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas. (Envolverde/O autor).

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