Atualmente a sociedade brasileira presencia um intenso debate sobre pesquisa em biotecnologia e plantio comercial de organismos geneticamente modificados (OGMs), conhecidos popularmente como transgênicos.
O problema deve ser examinado sem dogmas, através do prisma da biossegurança e das exigências econômicas por competitividade internacional e eficiência operacional.
No entanto se observa que a formação das idéias e concepções sobre transgenia, estão muito mais controladas e associadas a opiniões políticas, religiosas e econômicas, o que produz enormes distorções de avaliação.
O resultado é que as decisões tem passado por filtros políticos, jurídicos e econômicos em detrimento de avaliações científicas e os resultados destes processos todos estamos assistindo. A história é hegemônica e tem a capacidade de atropelar tanto conceitos quanto preconceitos como se fossem a mesma coisa e não são.
Há um consenso na comunidade científica mundial que a tecnologia convencional não será suficiente para que o aumento da produção de alimentos seja suficiente para alimentar uma população de 9,37 bilhão de pessoas, estimada para o ano 2.050 (BONGAART, J. Global population Growth: Demographic consequences of declining fertility. Science 282: 419-420, 1998).
O crescimento da população não exigirá apenas maior quantidade de alimentos, mas também uma grande expansão de áreas ocupadas com moradias, locais de trabalho, educação e lazer. Por isto é fundamental um acentuado aumento na produtividade das culturas, para que algumas regiões naturais, como a Amazônia, possam continuar a ser preservadas (ZANETTINI, M. H. B. Plantas transgênicas: estado da arte e histórico. In SACCHET, A. M. O. F. org. Genética para que te quero? Porto Alegre. Ed. UFRGS, 1999, 235p).
Já é percebido claramente que no futuro haverão mercados diferenciados para alimentos. O mercado orgânico, sem o uso de agroquímicos, mas em geral com preços maiores. O mercado tradicional, que aceita o cultivo como é feito atualmente, mas rejeita os transgênicos. E o mercado de organismos geneticamente modificados.
Deverão existir políticas públicas muito claras sobre plantio, estocagem e rotulagem dos produtos agrícolas, para que os mesmos possam ser garantidos e assim não haver prejuízos em nenhum dos mercados, tanto interno como externo.
Pesquisas publicadas (Nature Biotechnology) mostram dados singulares, que representam muito mais influências de manipulação de informação do que qualquer outro fato. Ao mesmo tempo que se reduz a confiança na biotecnologia para agricultura, o mesmo não ocorre com a manipulação genética de plantas para destinações não alimentares, como produção de medicamentos.
Pareceria adequado falar em pragmatismo, mas o calor dos interesses subreptícios impede. A percepção da validade das novas tecnologias não tem transitado pelo conhecimento de causa.
Fígados de porcos já foram enxertados com sucesso em seres humanos e pesquisadores enxergam nos transplantes com doadores animais a solução ética para a carência de órgãos doados por seres humanos.
A biotecnologia claramente tem perdido a batalha da comunicação, derrotada por exércitos dogmatizados, a serviço consciente ou inconsciente de interesses excusos. Não deixa de ser curioso que especialistas em biotecnologia, que é um dos mais pragmáticos ramos das ciências, não consigam transferir a concepção do seu pragmatismo antes de qualquer outra coisa.
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FONTE : Roberto Naime, Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS, é colunista do EcoDebate. (EcoDebate, 07/07/2010).
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