Estudo climático recomenda que 80% das reservas de combustíveis fósseis não sejam utilizadas
por Jéssica Lipinski, do CarbonoBrasil
Um novo relatório do Comitê Climático da Austrália revelou nesta semana que aproximadamente 80% das reservas de combustíveis fósseis não devem ser utilizadas se o mundo quiser impedir que as mudanças climáticas cheguem a níveis perigosos.
O documento afirma que nos últimos 50 anos, várias transformações têm sido observadas por todo o mundo em muitos aspectos do sistema climático, como o aquecimento da atmosfera e dos oceanos, a alteração de padrões pluviométricos, a redução na área do gelo ártico marinho, a perda de massa nos mantos de gelo polares, o aumento do nível do mar, e transformações nos ciclos de vida e distribuição de muitas plantas e animais.
E essas alterações podem ter um efeito muito prejudicial para os seres humanos, como na saúde, com o calor causando mais mortes e aumentando a pressão sobre serviços de saúde e as mudanças na temperatura e nas chuvas aumentando as doenças como dengue; na infraestrutura, com incêndios e enchentes prejudicando construções; na agricultura, com as mudanças nas chuvas e calor excessivo eliminando colheitas; e em ecossistemas naturais, com a extinção de espécies que não conseguem se adaptar às rápidas mudanças climáticas.
Segundo o relatório, há um consenso muito forte de que todas essas mudanças estão ocorrendo devido a atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, que é a principal contribuinte para as mudanças no clima.
A análise aponta, por exemplo, que dos dias atuais até 2050, não poderemos emitir mais do que 600 bilhões de toneladas de dióxido de carbono se quisermos ter uma chance de limitar o aquecimento a 2ºC.
Por isso, indica o documento, é tão importante reduzir as emissões da queima dos combustíveis fósseis, pois, de acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia, as emissões do uso de todas as reservas de combustível fóssil do mundo extrapolariam em cinco vezes essas 600 bilhões de toneladas, o que levaria a mudanças sem precedentes no clima, tão severas que desafiariam a existência de nossa sociedade como a conhecemos hoje.
Assim, o texto enfatiza a necessidade de se manter a maioria dos combustíveis fósseis intactos, sem serem queimados. Os sistemas de captura e armazenamento de carbono (CCS) nos solos e na vegetação até poderiam ser utilizados como parte da solução para controlar as emissões, mas não podem substituir a redução das emissões da queima de combustíveis fósseis, diz o relatório.
“Temos que deixar a maioria dos combustíveis fósseis no solo e claro que isso tem implicações óbvias para decisões de investimento nessa década. Temos que colocar em vigor um caminho muito claro para uma economia descarbonizada nos próximos 30-35 anos. Isso exige que tomemos decisões inteligentes sobre investimentos agora”, explicou Will Steffen, coautor da análise, à rede australiana ABC News.
Nesse sentido, o documento sugere que nos últimos dois anos houve um progresso global significativo, e todas as grandes economias, como a China e os Estados Unidos, estão colocando em vigor soluções para diminuir as emissões e desenvolver as energias renováveis. Mas apesar do progresso, as concentrações de dióxido de carbono estão no maior nível em mais de um milhão de anos, e continuam aumentando na taxa mais rápida já registrada.
Por fim, o relatório conclui que a melhor chance de manter o aquecimento abaixo dos 2ºC é a redução das emissões globais, começando com a redução das emissões da queima de combustíveis fósseis o mais cedo possível, no máximo até 2020, e chegando a quase zero até 2050.
“A fim de atingir uma meta de estabilizar o clima em dois graus ou menos, simplesmente teremos que deixar cerca de 80% das reservas de combustível fóssil no solo. Não podemos nos dar ao luxo de queimá-los e ainda ter um clima estável e seguro”, comentou Lesley Hughes, coautora do texto, à ABC News.
Esse não é o primeiro relatório a sugerir que a maior parte das reservas de combustíveis fósseis não deve ser queimada para não contribuir com o aumento das emissões. Em abril, a iniciativa Carbon Tracker e o Instituto de Pesquisas Grantham divulgaram um documento explicando que entre 60% e 80% das reservas de carvão, petróleo e gás natural apresentadas pelas grandes companhias do setor na verdade nunca poderão ser aproveitadas por causa de tratados climáticos internacionais.
“As 200 maiores empresas do setor gastaram US$ 674 bilhões em 2012 para encontrar e explorar novas reservas, uma quantia equivalente a 1% do PIB mundial. Todo esse dinheiro pode estar sendo gasto em atividades que não poderão ser realizadas”, sustentou na época Nicholas Stern, ex-diretor de economia do Banco Mundial e um dos autores do relatório.
Já em fevereiro, a Smith School of Enterprise and the Environment, da Universidade de Oxford, lançou um programa para avaliar esse mesmo tema. “Os investidores continuam a empregar centenas de bilhões em setores poluidores e insustentáveis. Em muitos casos esses investimentos não valerão o que os investidores esperam”, observou Hon John Gummer, presidente do comitê de Mudanças Climáticas da Smith School.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
O documento afirma que nos últimos 50 anos, várias transformações têm sido observadas por todo o mundo em muitos aspectos do sistema climático, como o aquecimento da atmosfera e dos oceanos, a alteração de padrões pluviométricos, a redução na área do gelo ártico marinho, a perda de massa nos mantos de gelo polares, o aumento do nível do mar, e transformações nos ciclos de vida e distribuição de muitas plantas e animais.
E essas alterações podem ter um efeito muito prejudicial para os seres humanos, como na saúde, com o calor causando mais mortes e aumentando a pressão sobre serviços de saúde e as mudanças na temperatura e nas chuvas aumentando as doenças como dengue; na infraestrutura, com incêndios e enchentes prejudicando construções; na agricultura, com as mudanças nas chuvas e calor excessivo eliminando colheitas; e em ecossistemas naturais, com a extinção de espécies que não conseguem se adaptar às rápidas mudanças climáticas.
Segundo o relatório, há um consenso muito forte de que todas essas mudanças estão ocorrendo devido a atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, que é a principal contribuinte para as mudanças no clima.
A análise aponta, por exemplo, que dos dias atuais até 2050, não poderemos emitir mais do que 600 bilhões de toneladas de dióxido de carbono se quisermos ter uma chance de limitar o aquecimento a 2ºC.
Por isso, indica o documento, é tão importante reduzir as emissões da queima dos combustíveis fósseis, pois, de acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia, as emissões do uso de todas as reservas de combustível fóssil do mundo extrapolariam em cinco vezes essas 600 bilhões de toneladas, o que levaria a mudanças sem precedentes no clima, tão severas que desafiariam a existência de nossa sociedade como a conhecemos hoje.
Assim, o texto enfatiza a necessidade de se manter a maioria dos combustíveis fósseis intactos, sem serem queimados. Os sistemas de captura e armazenamento de carbono (CCS) nos solos e na vegetação até poderiam ser utilizados como parte da solução para controlar as emissões, mas não podem substituir a redução das emissões da queima de combustíveis fósseis, diz o relatório.
“Temos que deixar a maioria dos combustíveis fósseis no solo e claro que isso tem implicações óbvias para decisões de investimento nessa década. Temos que colocar em vigor um caminho muito claro para uma economia descarbonizada nos próximos 30-35 anos. Isso exige que tomemos decisões inteligentes sobre investimentos agora”, explicou Will Steffen, coautor da análise, à rede australiana ABC News.
Nesse sentido, o documento sugere que nos últimos dois anos houve um progresso global significativo, e todas as grandes economias, como a China e os Estados Unidos, estão colocando em vigor soluções para diminuir as emissões e desenvolver as energias renováveis. Mas apesar do progresso, as concentrações de dióxido de carbono estão no maior nível em mais de um milhão de anos, e continuam aumentando na taxa mais rápida já registrada.
Por fim, o relatório conclui que a melhor chance de manter o aquecimento abaixo dos 2ºC é a redução das emissões globais, começando com a redução das emissões da queima de combustíveis fósseis o mais cedo possível, no máximo até 2020, e chegando a quase zero até 2050.
“A fim de atingir uma meta de estabilizar o clima em dois graus ou menos, simplesmente teremos que deixar cerca de 80% das reservas de combustível fóssil no solo. Não podemos nos dar ao luxo de queimá-los e ainda ter um clima estável e seguro”, comentou Lesley Hughes, coautora do texto, à ABC News.
Esse não é o primeiro relatório a sugerir que a maior parte das reservas de combustíveis fósseis não deve ser queimada para não contribuir com o aumento das emissões. Em abril, a iniciativa Carbon Tracker e o Instituto de Pesquisas Grantham divulgaram um documento explicando que entre 60% e 80% das reservas de carvão, petróleo e gás natural apresentadas pelas grandes companhias do setor na verdade nunca poderão ser aproveitadas por causa de tratados climáticos internacionais.
“As 200 maiores empresas do setor gastaram US$ 674 bilhões em 2012 para encontrar e explorar novas reservas, uma quantia equivalente a 1% do PIB mundial. Todo esse dinheiro pode estar sendo gasto em atividades que não poderão ser realizadas”, sustentou na época Nicholas Stern, ex-diretor de economia do Banco Mundial e um dos autores do relatório.
Já em fevereiro, a Smith School of Enterprise and the Environment, da Universidade de Oxford, lançou um programa para avaliar esse mesmo tema. “Os investidores continuam a empregar centenas de bilhões em setores poluidores e insustentáveis. Em muitos casos esses investimentos não valerão o que os investidores esperam”, observou Hon John Gummer, presidente do comitê de Mudanças Climáticas da Smith School.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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