Cidade do México, México, 17 de junho de 2013 (Terramérica).- As cidades do México com mais de 500 mil habitantes enfrentam importantes barreiras para medir a qualidade do ar e frear a poluição. Porém, as autoridades locais deverão fazê-lo e divulgar os relatórios a respeito, obrigatoriamente, a partir de julho. Especialistas consultados pelo Terramérica consideram que os principais obstáculos a serem superados para realizar essa tarefa, segundo o que foi determinado no ano passado pelo governo mexicano, são financeiros e de recursos humanos que saibam lidar adequadamente com os aparelhos de medição, frente à urgente necessidade de reduzir os níveis de poluição atmosférica.
As redes de acompanhamento existentes “não funcionam de maneira desejável”, segundo Ricardo Torres, pesquisador do Centro de Ciências da Atmosfera da Universidade Nacional Autônoma do México. “Não há apoio dos governos estaduais, para os quais não são prioridade a saúde ambiental e a poluição do ar”, afirmou ao Terramérica. Metade dos 118 milhões de mexicanos se distribui em 32 cidades com 500 mil ou mais habitantes, muitas delas carecendo de sistemas de acompanhamento ambiental.
Nas grandes cidades do país são problemas crescentes a presença de ozônio, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e material particulado (PM10), gerado pelo consumo de combustível de origem fóssil e por atividades industriais, como processamento de hidrocarbonos e produção de cimento, que implicam graves efeitos para o meio ambiente e a saúde humana.
“Não é possível melhorar o que não se mede. A única forma é conhecendo as condições de cada cidade. Contudo, falta regulamentar o monitoramento e as barreiras econômicas são as principais”, disse ao Terramérica o especialista Gerardo Moncada, da organização não governamental O Poder do Consumidor. O México conta com 28 redes para medir a qualidade do ar, das quais apenas 18 entregam informação válida e confiável, acrescentou.
O Sistema Nacional de Informação da Qualidade do Ar possui mais de 80 estações de acompanhamento e controle atmosférico, mas seus dados devem ser validados, para atender a legislação. “É primordial monitorar a qualidade do ar, mas falta vontade para fazê-lo bem, devido às carências de equipamentos e pessoal especializado”, afirmou ao Terramérica o ativista Agustín Martínez, integrante da Bicitekas, um grupo social dedicado a promover a mobilidade não motorizada.
A Organização Mundial da Saúde indica que mais de 14.700 pessoas morrem anualmente no México vítimas de enfermidades provocadas pela poluição atmosférica. Desde 2009, o governo nacional destinou cerca de US$ 15 milhões para instalação de centros de acompanhamento e medição, que utilizam equipamentos avaliados em US$ 38 mil, embora o lado mais caro seja a operação e manutenção desses aparelhos.
Proposta para avançar
Diante deste problema, oito organizações da sociedade civil, entre as quais O Poder do Consumidor e Bicitekas, propõem, no plano denominado Para Cidades Saudáveis e Competitivas: Movendo-se Por Um Ar Limpo, uma série de medidas para melhorar a qualidade do ar neste país. Entre elas se destacam regulamentações para combustíveis limpos, emissões contaminantes e demais componentes da poluição; eliminação dos subsídios para combustíveis; redução do uso do automóvel nas zonas metropolitanas; melhorar o transporte urbano; e fortalecer os programas de acompanhamento atmosférico.
O estatal Instituto Nacional de Estatística e Geografia estima em mais de US$ 40,5 bilhões os custos ambientais da poluição atmosférica. “É necessária uma coordenação intermunicipal, porque há um fluxo importante de tráfego nas zonas metropolitanas. É um problema macro. As estratégias de controle não devem ser locais”, opinou Torres. Este especialista prepara a publicação dos resultados de uma pesquisa sobre o fluxo de poluentes procedentes de fontes como indústria e transporte na região que agrupa o Distrito Federal e os vizinhos Estados de México, Morelos, Hidalgo e Puebla. Também realiza outra pesquisa sobre os efeitos dessa poluição na vegetação da região.
Este ano, a Cidade do México emitiu pelo menos seis alertas ambientais devido aos altos níveis de poluição, o que desaconselha atividades físicas ao ar livre. Porém, essa figura não é comum nas demais grandes cidades do país. “Os relatórios têm de ser em tempo real, por hora, por poluente, para se construir um registro histórico. Além disso, fica claro que as ações de medição e redução devem ser simultâneas”, ressaltou Moncada.
Os governos dos Estados da região central já criaram a Comissão Ambiental Metropolitana para que aborde assuntos como os citados e trabalhe em soluções compartilhadas, instância que deve ser replicada em outras grandes localidades, segundo os especialistas.
O relatório A Qualidade do Ar na América Latina: Uma Visão Panorâmica, divulgado em março e atualizado em maio pelo norte-americano Clean Air Institute, enfatiza a necessidade de se medir os níveis atmosféricos. “Não há técnicas de monitoramento, de coleta de dados ou protocolos de cálculo de médias padronizadas na região. E há evidência limitada de controle de qualidade ou atividades de garantia da mesma”, afirma o documento, que analisa 42 grandes cidades latino-americanas em relação a cinco poluentes.
Por essa razão, a instituição sugere definir metas de qualidade do ar baseadas em padrões nacionais, garantir um ótimo acompanhamento da qualidade do ar e estabelecer inventários detalhados das emissões. “Precisamos que o assunto esteja na agenda pública, e debatê-lo. As autoridades já têm nossa proposta, que pode ser um ponto de partida”, ressaltou Martínez. Envolverde/Terramérica
* O autor é correspondente da IPS.
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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
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