Integração lavoura-pecuária é alternativa sustentável
por Valéria Dias, da Agência USP
A integração lavoura-pecuária é uma técnica, também conhecida como rotação de culturas anuais com pastagens, em que os produtores utilizam a terra tanto para a produção animal como a vegetal, realizando um revezamento de acordo com a época do ano. Entre os benefícios encontrados na implantação da técnica estão: o aumento na renda, melhora da situação do solo, melhor aproveitamento do maquinário, além de aumento da necessidade de mão-de-obra, gerando mais empregos locais.
Esses resultados foram obtidos a partir de entrevistas realizadas em 12 fazendas que utilizam a técnica, localizadas no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso, por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) e da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, ambas em Pirassununga.
“A integração lavoura-pecuária é uma forma mais sustentável de produção e várias organizações não-governamentais [ONGs] são favoráveis ao seu uso”, conta o professor Augusto Hauber Gameiro, do Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da FMVZ, em Pirassununga. “Outra vantagem observada é o fato de as plantações de soja e outras leguminosas fixarem nitrogênio no solo. Ao plantar gramíneas para a pastagem do gado, quase não será preciso adicionar nitrogênio” descreve.
Gameiro foi o orientador do trabalho de iniciação científica realizado pelos alunos Felipe Perrone Braz e Thiago Denardi Mion, do curso de Zootecnia da FZEA. A pesquisa deu origem ao artigo Análise Socioeconômica comparativa de sistemas de integração lavoura-pecuária em propriedades rurais nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil.
O estudo — uma pesquisa qualitativa — foi realizado por meio da aplicação de um questionário que foi respondido pelos donos ou gerentes das fazendas. Foram escolhidas propriedades que já são sabidamente usuárias da técnica. Os entrevistados destacaram que o conhecimento técnico e a capacidade de investimento são fundamentais para o sucesso da atividade. “Não se trata de algo a ser utilizado apenas por pequenas propriedades”, diz o docente, ressaltando que “são necessários investimento e conhecimento técnico para que produções em maior escala tornem-se viáveis e rentáveis”.
Monoculturas e pecuária
Segundo Gameiro, a integração lavoura-pecuária é algo bastante antigo. O uso da técnica decaiu após a Segunda Guerra Mundial, quando houve um crescimento das grandes monoculturas. Já a pecuária cresceu muito no Brasil a partir da década de 1970. Durante muito tempo, agricultores e pecuaristas se dedicaram a uma ou outra atividade exclusivamente, cenário que tem mudado nos últimos tempos.
“Aquelas lavouras enormes de monocultura podem parecer melhor sob alguns aspectos, pois o produtor fica focado em uma só cultura, e pode se especializar. Entretanto, há várias desvantagens, sendo a principal delas a ambiental. As monoculturas prejudicam a biodiversidade e, sob o aspecto econômico, na entressafra, é preciso lidar com a ociosidade da terra, de equipamentos e de pessoal, principalmente nas culturas anuais, como soja e milho”, afirma o professor. Já no caso da pecuária, pode ocorrer um processo crescente de degradação do solo, caso o manejo seja inadequado.
Na integração lavoura-pecuária, quando a terra não está sendo utilizada para o cultivo de determinada cultura, ela se transforma em pasto e o agricultor pode se dedicar à pecuária e vice-versa. No caso da soja e do milho, o plantio é realizado na primavera (em outubro ou novembro), em São Paulo e nos estados localizados acima dele. A colheita é em fevereiro, março e abril. No modelo tradicional, a terra somente seria utilizada no plantio seguinte (na primavera) e, no inverno, o pasto estaria seco. Na integração lavoura-pecuária, o produtor pode plantar pasto para o gado logo após a colheita. Entre julho e agosto, durante a época seca, o pasto estará verde e capaz de sustentar uma maior lotação de animais.
Adaptação possível
Gameiro lembra que a agricultura, quando comparada à pecuária extensiva de baixa produtividade, é uma atividade mais complexa, pois exige mais investimentos, atenção e esforço gerencial: é preciso cuidar adequadamente do solo, dos maquinários, escolher a semente adequada, plantar e colher na época certa, armazenar corretamente, etc.
Na pecuária extensiva de baixa produtividade, os animais ficam em grandes áreas, geralmente um por hectare (cerca de 10 mil metros quadrados ou um campo de futebol). Já na pecuária mais intensiva, o gado ocupa espaços menores e recebe uma alimentação de altíssima qualidade, o que exige mais esforços do produtor.
“Apesar de ser mais difícil para um pecuarista deste tipo se adaptar, constatamos que não é impossível que ele comece a utilizar a integração lavoura-pecuária. Isso pode ser feito por meio de arranjos contratuais entre pecuaristas e agricultores”, finaliza o docente.
No ultimo dia 30 de abril, a presidenta da República, Dilma Rousseff, sancionou a Lei que institui a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O objetivo, segundo o texto, “é de aperfeiçoar a produtividade e qualidade dos produtos, utilizando sistemas sustentáveis de exploração que integram atividades agrícolas, pecuárias e florestais”.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
Esses resultados foram obtidos a partir de entrevistas realizadas em 12 fazendas que utilizam a técnica, localizadas no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso, por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) e da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, ambas em Pirassununga.
“A integração lavoura-pecuária é uma forma mais sustentável de produção e várias organizações não-governamentais [ONGs] são favoráveis ao seu uso”, conta o professor Augusto Hauber Gameiro, do Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da FMVZ, em Pirassununga. “Outra vantagem observada é o fato de as plantações de soja e outras leguminosas fixarem nitrogênio no solo. Ao plantar gramíneas para a pastagem do gado, quase não será preciso adicionar nitrogênio” descreve.
Gameiro foi o orientador do trabalho de iniciação científica realizado pelos alunos Felipe Perrone Braz e Thiago Denardi Mion, do curso de Zootecnia da FZEA. A pesquisa deu origem ao artigo Análise Socioeconômica comparativa de sistemas de integração lavoura-pecuária em propriedades rurais nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil.
O estudo — uma pesquisa qualitativa — foi realizado por meio da aplicação de um questionário que foi respondido pelos donos ou gerentes das fazendas. Foram escolhidas propriedades que já são sabidamente usuárias da técnica. Os entrevistados destacaram que o conhecimento técnico e a capacidade de investimento são fundamentais para o sucesso da atividade. “Não se trata de algo a ser utilizado apenas por pequenas propriedades”, diz o docente, ressaltando que “são necessários investimento e conhecimento técnico para que produções em maior escala tornem-se viáveis e rentáveis”.
Monoculturas e pecuária
Segundo Gameiro, a integração lavoura-pecuária é algo bastante antigo. O uso da técnica decaiu após a Segunda Guerra Mundial, quando houve um crescimento das grandes monoculturas. Já a pecuária cresceu muito no Brasil a partir da década de 1970. Durante muito tempo, agricultores e pecuaristas se dedicaram a uma ou outra atividade exclusivamente, cenário que tem mudado nos últimos tempos.
“Aquelas lavouras enormes de monocultura podem parecer melhor sob alguns aspectos, pois o produtor fica focado em uma só cultura, e pode se especializar. Entretanto, há várias desvantagens, sendo a principal delas a ambiental. As monoculturas prejudicam a biodiversidade e, sob o aspecto econômico, na entressafra, é preciso lidar com a ociosidade da terra, de equipamentos e de pessoal, principalmente nas culturas anuais, como soja e milho”, afirma o professor. Já no caso da pecuária, pode ocorrer um processo crescente de degradação do solo, caso o manejo seja inadequado.
Na integração lavoura-pecuária, quando a terra não está sendo utilizada para o cultivo de determinada cultura, ela se transforma em pasto e o agricultor pode se dedicar à pecuária e vice-versa. No caso da soja e do milho, o plantio é realizado na primavera (em outubro ou novembro), em São Paulo e nos estados localizados acima dele. A colheita é em fevereiro, março e abril. No modelo tradicional, a terra somente seria utilizada no plantio seguinte (na primavera) e, no inverno, o pasto estaria seco. Na integração lavoura-pecuária, o produtor pode plantar pasto para o gado logo após a colheita. Entre julho e agosto, durante a época seca, o pasto estará verde e capaz de sustentar uma maior lotação de animais.
Adaptação possível
Gameiro lembra que a agricultura, quando comparada à pecuária extensiva de baixa produtividade, é uma atividade mais complexa, pois exige mais investimentos, atenção e esforço gerencial: é preciso cuidar adequadamente do solo, dos maquinários, escolher a semente adequada, plantar e colher na época certa, armazenar corretamente, etc.
Na pecuária extensiva de baixa produtividade, os animais ficam em grandes áreas, geralmente um por hectare (cerca de 10 mil metros quadrados ou um campo de futebol). Já na pecuária mais intensiva, o gado ocupa espaços menores e recebe uma alimentação de altíssima qualidade, o que exige mais esforços do produtor.
“Apesar de ser mais difícil para um pecuarista deste tipo se adaptar, constatamos que não é impossível que ele comece a utilizar a integração lavoura-pecuária. Isso pode ser feito por meio de arranjos contratuais entre pecuaristas e agricultores”, finaliza o docente.
No ultimo dia 30 de abril, a presidenta da República, Dilma Rousseff, sancionou a Lei que institui a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O objetivo, segundo o texto, “é de aperfeiçoar a produtividade e qualidade dos produtos, utilizando sistemas sustentáveis de exploração que integram atividades agrícolas, pecuárias e florestais”.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário