A matança de elefantes está matando o futuro da África
por Bradnee Chambers*
Bonn, Alemanha, junho/2013 – Conflitos armados na África, outro golpe de Estado, intervenção de forças militares estrangeiras e novos informes sobre crianças-soldado na frente de batalha, enquanto os mais pobres dos pobres perdem o pouco que têm, e a riqueza de um país não é investida no indispensável desenvolvimento social e econômico, mas financia a morte e a destruição.
É uma história muito familiar, que traz à memória o filme Diamantes de Sangue, de Edward Zwick, que narra a história da guerra civil em Serra Leoa, financiada pelo tráfico ilegal de pedras preciosas.
Neste caso, não se trata de riqueza mineral, mas do saque da fauna africana. Não são “diamantes sangrentos”, mas “marfins sangrentos”. O sangue derramado é o dos elefantes africanos, em rápida diminuição.
Em fevereiro de 2012, cerca de 200 elefantes foram abatidos por caçadores ilegais no Parque Nacional de Bouba N’Djida, em Camarões, para retirada de suas valiosas presas.
Incidentes semelhantes também foram registrados no Chade, na República Centro-Africana, e em outros países africanos. A última informação conhecida é o extermínio, em abril, de 26 elefantes no Parque Nacional de Dzanga-Ndoki, na República Centro-Africana, apontado pela Organização das Nações Unidas das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como um dos bens do patrimônio cultural e natural do planeta.
Estes crimes contra a natureza são cometidos com frequência pelas mesmas redes criminosas que traficam armas, drogas e pessoas, e representam uma grave ameaça contra a segurança, a estabilidade política, a economia, os recursos naturais e o patrimônio cultural de numerosos países.
O problema reside na insuficiência de recursos e de capacidade dos órgãos encarregados da preservação do meio ambiente e da fauna e da flora silvestres.
A Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre estima que, apenas no Gabão, foram mortos cerca de 11 mil elefantes desde 2004, mas ao menos nesse país os líderes políticos tentam enfrentar a caça ilegal. O governo do presidente Ali Bongo Ondimba mandou queimar publicamente o marfim apreendido, imitando um ato semelhante ocorrido há alguns anos no Quênia.
A comunidade internacional também pode atuar.
Irina Bokova, diretora-geral da Unesco solicitou aos governos da República Centro-Africana, de Camarões e da República do Congo que colaborem na luta contra a caça ilegal na região.
Os governos signatários da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres, reunidos em Bangcoc no começo deste ano, afirmaram a intenção de atuar com firmeza e notificaram oito governos (de países fornecedores e consumidores) para tomarem as medidas necessárias para erradicar o comércio ilegal de produtos de marfim.
Por outro lado, a Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS) tem o mandato de conservar este tipo de fauna em risco de extinção, como os elefantes.
A maior parte dos Estados onde vivem as duas espécies de elefantes africanos aderiram à CMS e estão, portanto, obrigados a velar pela conservação destes animais e pela preservação de seu habitat.
Se a população de elefantes africanos desta região fosse incluída no Apêndice I da CMS, todos os Estados da área estariam obrigados a garantir uma rígida proteção das espécies ameaçadas em seus respectivos territórios, incluindo a proibição de capturá-las.
A CMS também ajustou um acordo sobre os elefantes na África ocidental que poderia servir como marco institucional para toda a região.
Como veículo para fomentar a cooperação internacional no contexto das Nações Unidas, a CMS está disposta a responder aos chamados dos governos membros para passar à ação. Ainda não é tarde demais. Mas, logo será. Envolverde/IPS
* Bradnee Chambers é secretário-executivo da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres.
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