Conteineres Meio ambiente é assunto de todos em Besançon
Contêineres coletivos de compostagem na localidade francesa de Besançon. Foto Jean-Charles Sexe/Ville de Besançon
Besançon, França, 11/6/2013 – Christina E. é uma mãe de três filhos que vive em um edifício de apartamentos localizado em um luxuoso bairro da capital da França. Como prepara refeições todos os dias, gostaria de contar com um lugar junto à sua lixeira para poder colocar os resíduos biodegradáveis. “Me sentia mal cada vez que tinha de jogar fora cascas de legumes ou frutas ou outra matéria orgânica. Cresci vendo minha família usar um monte de compostagem (adubo orgânico) e, se soubesse de algum recipiente coletivo em Paris, definitivamente o utilizaria”, contou à IPS.
Se Christina vivesse em Besançon, uma pitoresca cidade do leste da França, poderia se desfazer de seu lixo orgânico em um recipiente fornecido pela cidade e, inclusive, poderia “recuperar” a compostagem para adubar as plantas de sua sacada. Também poderia conseguir um frango para comer as migalhas. Localizada a 325 quilômetros de Paris, Besançon é conhecida como a “campeã” da economia de energia na França.
A região alardeia sua deslumbrante cidadela no alto de uma colina, que na verdade é um sítio do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Também tem a maior quantidade de moradias sociais das cidades do país. Deste modo, faz esforços notáveis para envolver os moradores em suas ações ambientais, e planeja reduzir o consumo de energia e as emissões de carbono em 20% até 2020, o que também é um objetivo da União Europeia.
“Desde o início realizamos uma grande campanha de conscientização para as pessoas entenderem todos os passos que estamos dando. É um esforço participativo. Os cidadãos estão totalmente envolvidos e compreendem o objetivo de reduzir em 20% o consumo de energia”, afirmou Nicolas Guillemet, vice-presidente da grande Besançon, encarregado do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida.
Além de fornecer vasos para compostagem para prédios residenciais e casas particulares com jardins, a cidade também coleta esse adubo orgânico e o usa nos parques públicos e em outros espaços verdes. Os habitantes empreendedores também podem aceitar um frango que ajude a consumir os resíduos orgânicos. Mas este apoio é apenas uma pequena parte dos esforços ambientais que assume esta localidade de 180 mil habitantes.
Como a prioridade local é reduzir a energia e os gases-estufa, todos têm um papel a cumprir, explicou Guillemet. A cada ano a localidade “segue” uma centena de famílias, estudando diariamente como se locomovem, como é a calefação em suas casas e outros hábitos. A pesquisa busca mostrar às pessoas como podem mudar suas ações para usar menos energia, detalhou à IPS. Ao fim do estudo, as conclusões são divulgadas ao público, para que outros possam conseguir mudanças semelhantes de conduta, ressaltou.
Se as cenouras não conseguem atrair os moradores, sempre restará o pau, e a cidade adotará medidas mais duras para motivá-los. Por exemplo, o lixo doméstico paga imposto segundo seu peso: quanto menos lixo a pessoa produz, menos paga. Estas medidas causaram redução de 15% no lixo coletado para incineração, segundo o escritório do prefeito, o socialista Jean-Louis Fousseret. Ele é parte das forças motoras por trás das muitas mudanças que a cidade experimenta, mas suas políticas não estão isentas de controvérsias. Dirigentes políticos da oposição criticam Fousseret por incorrer em gastos excessivos.
Um novo funicular, por exemplo, que se prevê estará terminado no próximo ano, custa 250 milhões de euros (quase US$ 329 milhões) e causou muito inconvenientes à população nos últimos meses. E mudar o sistema de iluminação pública para utilizar lâmpadas de LED (de baixo consumo) custa um milhão de euros (mais de US$ 1,3 milhão) ao ano, segundo funcionários do governo. No entanto, a economia estimada é de cinco milhões de euros (US$ 6,6 milhões) por ano.
“É fácil responder aos críticos que dizem que estamos gastando muito porque, sim, é muito dinheiro investido inicialmente”, declarou Guillemet à IPS. “Porém, depois existe uma grande economia. Criar o funicular, por exemplo, custa milhões, mas durará 50 anos ou mais. O mesmo com a economia em matéria de energia”, prosseguiu. Guillemet ressaltou que “o desenvolvimento sustentável tem a ver com visão de longo prazo. Investimos hoje, mas é para amanhã ou depois de amanhã”.
Os funcionários de Besançon dizem ter se inspirado na Alemanha e na Suíça, que “estão muito avançadas em relação à França” em termos de políticas energéticas sustentáveis. A cidade está perto das fronteiras com esses países, e com o passar dos anos desenvolveu fortes alianças ecológicas. Com ajuda alemã e suíça, Besançon se converteu em um modelo para outras localidades francesas, afirmam os funcionários municipais.
Em 2011, a cidade recebeu a edição “de ouro” do prêmio europeu de energia Cit’ergie por seus êxitos “exemplares” quanto à ação climática e energética. Foi a primeira localidade da França a receber essa honra. Contudo, apesar dos avanços de Besançon, alguns especialistas temem que a cidade ainda enfrente uma árdua batalha para reduzir em 20% o consumo de energia nos próximos sete anos.
“Não creio que conseguiremos isso se não adotarmos medidas mais inovadoras”, opinou Benoit Cypriani, representante do partido ecologista Groupe Europe-Écologie Les Verts. “Definitivamente, pode-se conseguir no setor público, mas as coisas serão mais difíceis no privado, onde é necessário renovar as casas para serem mais eficientes em matéria de energia, por exemplo”, disse à IPS.
Cypriani espera que o funicular tenha um efeito sobre o aumento de 2% no transporte experimentado pela localidade, que envolve majoritariamente automóveis. Também espera que o governo nacional dê passos para reduzir o uso de eletricidade, o que terá um efeito sobre Besançon. A França é líder europeia em termos de consumo elétrico para calefação doméstica, mas Cypriani acredita que se deveria promover mais o uso de lenha, já que contamina menos.
No manual de prioridades de Besançon, depois da redução do consumo de energia deve se seguir a produção de energia no plano local. “Queremos ser autossuficientes no território, e isso significa energia renovável”, afirmou Guillemet à IPS. Atualmente a cidade investe em painéis fotovoltaicos e em ajudar os moradores que querem instalar tanto esses quanto os térmicos em suas propriedades, acrescentou.
Os funcionários municipais identificaram uma área que destinarão à geração de energia eólica e, em quatro anos, implementarão um plano para isso. A água também é explorada como fonte energética, já que a cidade fica em uma curva do rio Doubs e há planos para continuar usando lenha para calefação comunitária alimentada com este elemento. Envolverde/IPS