Há muita comida no fundo do oceano
por Thalif Deen, da IPS
O que aconteceria se os recursos agrícolas finitos do planeta se esgotasse como resultado das secas, da desertificação, da mudança climática e dos desastres naturais? Sempre haverá o leito marinho, responde o embaixador Palitha Kohona, copresidente do Grupo de Trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Conservação de Recursos Marinhos Fora de Jurisdições Nacionais.
Os mares e oceanos, que cobrem 70% do planeta, são, provavelmente, a última fronteira da Terra, pois ali ainda há vastas áreas inexploradas e formas de vida ainda por serem descobertas, explicou Kohona em entrevista à IPS. E 65% dos oceanos estão fora das jurisdições nacionais, acrescentou.
O mandato do Grupo de Trabalho é garantir a conservação e o uso sustentável da diversidade biológica marinha que existe fora das jurisdições nacionais, bem como preservar recursos genéticos oceânicos, explicou Kohona, que também foi representante permanente do Sri Lanka na ONU e diretor da seção de Tratados do fórum mundial. Kohona destacou que “temos melhor conhecimento do espaço exterior do que dos oceanos, que fornecem sustento a mais de um bilhão de pessoas, em sua maioria no Sul em desenvolvimento”.
IPS: Até onde chegamos na exploração destes ricos recursos submarinos?
Palitha Kohona: No momento, apenas um punhado de países avançados possui equipamentos capazes de coletar este material genético, especialmente o que se encontra em fossas submarinas e em respiradores hidrotermais. Um número ainda menor de países tem a capacidade de analisar este material, e a pesquisa básica atual está financiada principalmente por Estados industrializados. Os países em desenvolvimento argumentam que os benefícios do material obtido em áreas fora de jurisdições nacionais devem ser compartilhados de forma equitativa através de uma convenção mundial, já que a fonte deste material provavelmente esteja situada em uma área reconhecida como patrimônio comum da humanidade.
IPS: Quais os principais objetivos de seu Grupo de Trabalho?
PK: Fazer recomendações à Assembleia Geral da ONU, para garantir um futuro contexto legal para abordar os temas complexos que surgirem. De fato, é a expectativa de muitas delegações que estas discussões levem à criação de um instrumento legal.
IPS: Em seu informe do mês passado, o Grupo de Alto Nível de Pessoas Eminentes para a Agenda de Desenvolvimento posterior a 2015 previu que a fome extrema e a pobreza poderiam ser erradicadas até 2030. Se é assim, qual o papel dos oceanos e mares nos esforços para aliviar a crise de alimentos?
PK: Em todo o mundo, um bilhão de pessoas diariamente vai dormir sem jantar, e 1,2 bilhão vive com menos de US$ 1,25 por dia. Nossos recursos devem ser distribuídos de forma mais eficiente e equitativa. Cerca de 30% dos alimentos disponíveis vão parar no lixo em países industrializados devido a padrões de consumo que permitem esse fenômeno. O setor pesqueiro mundial emprega e fornece sustento e proteínas a mais de um bilhão de pessoas. É uma realidade preocupante que 70% das populações de peixes estejam em sério risco de colapso devido à sobrepesca. Se isto acontecer, as consequências serão desastrosas. Além disso, o aquecimento global, a crescente acidificação dos oceanos, o aumento dos níveis do mar e o branqueamento dos corais estão afetando as populações de peixes e outras formas de vida nos mares, em alguns casos obrigando-as a buscar novos habitats, especialmente os peixes tropicais. Enquanto nos concentramos em proteger as baleias, algo que devemos fazer, populações de peixes economicamente relevantes estão atingindo o ponto de extinção. É imperativo que administremos de forma adequada, conservemos e usemos sustentavelmente estes recursos, que são essenciais e diminuem rapidamente.
IPS: Quais progressos apresentam as negociações sobre a diversidade biológica marinha fora das jurisdições nacionais?
PK: O progresso é lento. Enquanto os países em desenvolvimento são ativos na defesa de uma divisão igual dos benefícios da pesquisa sobre os materiais genéticos de áreas marinhas fora das jurisdições nacionais, as nações que fazem esses estudos se mostram reticentes. Argumentam que custa mais de US$ 1 bilhão desenvolver e levar ao mercado um novo produto. E muitos nunca chegam ao mercado, apesar de nele se ter investido milhões de dólares. Envolverde/IPS
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