Nos últimos anos, tempestades violentas, levando a enchentes e deslizamentos de terra, se tornaram mais frequentes no Brasil.
Em 2011, tempestades violentas causaram estragos no Rio de Janeiro e entorno. Casas construídas em ladeiras íngremes foram arrastadas por devastadores deslizamentos de terra. Uma favela inteira construída em cima de um antigo lixão em Niterói desabou, matando mais de 50 habitantes.
Em Nova Friburgo, cidade serrana colonizada por 265 famílias suíças em 1820, e na região ao redor, mais de mil pessoas morreram em janeiro de 2011, após vários dias de chuvas violentas.
Sirenes soaram para alertar as pessoas a evacuarem, mas muitas pessoas não as ouviram ou as ignoraram. A solução permanente, é claro, seria fornecer melhores condições em áreas mais seguras, mas isso ainda está muito longe de ser feito.
Agora, um esquema testado com sucesso no outro lado do Atlântico deve ser lançado na região. O sistema foi testado no lago Vitória, um enorme lago do tamanho da Irlanda, que é compartilhado por três países: Uganda, Quênia e Tanzânia.
Cinco mil mortes
O tamanho do lago o torna grande o suficiente para criar seu próprio clima, e as condições podem mudar de repente, com ventos rapidamente levantando ondas a dois metros de altura, capazes de emborcar balsas e barcos de pesca. Quase cinco mil dos 200 mil pescadores estimados no lago estavam morrendo a cada ano devido a essas grandes tempestades.
O esquema africano é uma iniciativa conjunta entre o Met Office (serviço meteorológico) do Reino Unido, o Departamento Ugandense de Meteorologia e a companhia de telecomunicações Ericsson. Mensagens de texto são enviadas aos telefones celulares dos pescadores locais, alertando-os das mudanças no clima.
Antes, não havia serviços de previsão relevantes para pescadores na região, tornando o acesso às informações climáticas quase impossível. Para obter informações mais precisas sobre as condições climáticas locais, o Met Office configurou um modelo de previsão do tempo para o lago Vitória.
Tom Butcher, gerente de relações exteriores do Met Office, explicou: “Muitos dos padrões climáticos do lago ocorrem em uma escala muito pequena e são movidos pela diferença na temperatura entre a água do lago e as terras em redor. Você obtém ar úmido à noite, que se eleva acima do lago e absorve o ar mais frio da superfície da terra – um processo convectivo que cria muitas tempestades.”
Vermelho significa perigo
Para contornar o problema do analfabetismo entre os pescadores, os meteorologistas do Departamento de Meteorologia da Uganda adotaram um sistema do Met Office de alertas meteorológicos codificados por cores, como um semáforo.
O verde significa ventos de menos de cinco nós e nenhuma condição meteorológica significativa prevista, portanto um limite de risco muito baixo, sem recomendações necessárias. Vermelho significa uma grande probabilidade de ventos com mais de 20 nós, ou tempestades severas, portanto um limite de alto risco e recomendações de ‘ação’. O projeto foi recebido entusiasticamente pelos pescadores e dentro de poucas semanas estava salvando vidas.
No Rio, o esquema envolve anexar pluviômetros a antenas de telefonia móvel para dar alertas em tempo real de climas extremos e grandes chuvas a telefones celulares com 3G, através de seus fornecedores.
O esquema será eventualmente estendido a 19 estados brasileiros, com a anexação de pluviômetros a 1,5 mil antenas. A experiência tem mostrado que sirenes são frequentemente ignoradas, ou não são ouvidas, mas uma mensagem direta dirigida pessoalmente a um usuário de telefone é muito mais eficaz.
Quatro horas de alerta
Esse é o primeiro esquema a usar uma ligação direta entre os pluviômetros e os usuários de telefonia móvel. Um esquema em pequena escala, baseado em informações coletadas através de satélite e de uma rede de radares meteorológicos já está em uso, através uma parceria entre as autoridades da cidade do Rio, o departamento de Defesa Civil e as quatro maiores operadoras de telefonia móvel.
Os alertas de grandes chuvas são transmitidos por SMS cerca de quatro horas antes da estimativa de chuva. A Defesa Civil também tem um programa especial de alerta para 3,5 mil agentes que trabalham em 117 áreas de risco.
Os agentes, cada um responsável por cerca de 100 famílias, devem então disseminar os alertas boca a boca. Quando as chuvas atingem 40 mm em uma hora ou 125 mm em 24 horas, os agentes recebem mensagens pedindo que evacuem o local.
Alertas meteorológicos de telefonia móvel não estão sendo usados apenas para chuvas. No estado do Paraná, alertas de geada para os agricultores de café da região também estão sendo enviados por SMS para telefones celulares.
A iniciativa, que começou em 2012, é o resultado de uma parceria entre o IAPAR, Instituto Agrícola do Paraná, e o sistema meteorológico do estado, o SIMEPAR.
Paulo Henrique Caramori, coordenador do departamento de agrometeorologia do IAPAR, afirmou: “o serviço de SMS é direto e muito rápido e permite que os produtores de café acelerem as medidas de proteção para suas árvores”.
* Traduzido por Jéssica Lipinski. Leia o original no Climate News Network (inglês)
** Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário