Estratégia norte-americana para lidar com as mudanças climáticas é elogiada por autoridades internacionais e ONGs, mas Republicanos criticam as novas políticas e alertam para a perda de postos de trabalho.
Ao anunciar o Plano de Ação Climática nesta terça-feira (25), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi bastante enfático ao afirmar que a hora de agir é agora e que não vai mais perder tempo discutindo com quem ainda nega as mudanças climáticas.
“O julgamento da ciência é esmagador. Através da química, da física e de milhões de medições chegamos à conclusão de que não há mais espaço para dúvidas. A questão é se teremos a coragem de agir antes que seja muito tarde. Não temos tempo para fazer uma reunião com a sociedade dos que pensam que a Terra é plana”, declarou Obama.
Apesar de o plano não apresentar metas objetivas em alguns pontos, a sensação de que os EUA estão finalmente se mexendo para lidar com as suas emissões de gases do efeito estufa e a confiança do presidente Obama agradaram autoridades internacionais e ONGs.
“Aplaudo o fato de os EUA pretenderem assumir uma posição de liderança na construção de uma solução global para as mudanças climáticas. Uma solução que deve unir as ações internacionais com os objetivos de reduzir as emissões, preparar para os impactos climáticos e acelerar as negociações internacionais”, afirmou Christiana Figueres, presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
A União Europeia também recebeu bem a notícia, mas criticou a demora dos EUA em acordar para a realidade.
“O novo plano norte-americano ajudará a dar ao mundo mais confiança de que é possível ganharmos essa batalha se trabalharmos todos juntos. É com certeza um passo positivo”, disse José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.
“Estou feliz em ver que os EUA finalmente se moveram. A Europa estava esperando impacientemente esse momento. Vamos ver se realmente as boas intenções contidas no plano se transformarão em ações”, completou Connie Hedegaard, comissária de ação climática da União Europeia.
A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) chamou o plano de “passo positivo” e diz esperar uma postura mais construtiva dos EUA nas negociações climáticas daqui para frente. Além disso, cobrou uma maior participação do país nos financiamentos para ações de adaptação e mitigação às mudanças climáticas.
“Infelizmente, estamos muito cientes de que o novo cotidiano das comunidades vulneráveis é conviver com a erosão costeira, a acidificação oceânica, a degradação dos recifes e dos cardumes, as secas, as enchentes e com tempestades intensas. Assim, qualquer resposta adequada às mudanças climáticas deve também levar em conta a diminuição dos prejuízos dessa crise”, declarou Marlene Moses, representante da AOSIS nas Nações Unidas.
Entidades da sociedade civil elogiaram a nova postura de Obama, mas dizem que o plano não é ambicioso o suficiente.
“Essa é a primeira vez que o governo federal anuncia ações domésticas significativas, o que reflete o fato de que Obama reconhece que os EUA estão enfrentando impactos adversos das mudanças climáticas e que precisa se adaptar a eles [...] As promessas no plano são bem-vindas, mas ainda são muito pouco para fazer o que é preciso [evitar um aquecimento global de mais de 2oC]”, afirmou Saleemul Huq, do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED).
“Aparentemente o presidente finalmente resolveu tirar suas promessas climáticas da gaveta, mas para verdadeiramente proteger as futuras gerações esse novo plano deve ser um começo e não o ato final das políticas climáticas dos EUA”, disse Phil Radford, presidente do Greenpeace norte-americano.
“As linhas de batalha foram delimitadas; a indústria do carvão lutará com unhas e dentes para paralisar as novas regras de emissões. E lutará para enterrar as chances do desenvolvimento de fontes alternativas de energia” acrescentou Radford.
Guerra ao carvão
O Greenpeace parece estar certo. Assim que o presidente desceu da tribuna de onde anunciou o novo plano, representantes do Partido Republicano partiram para o ataque. Uma das críticas mais ouvidas é que as medidas foram criadas especificamente para serem ações exclusivas do Poder Executivo e, assim, não passarem pelo Congresso. Estratégia que é classificada como “totalitária” pelos republicanos.
“O que estamos vendo é a declaração de guerra ao carvão. O presidente está passando por cima do Congresso e colocando economias de estados inteiros em risco. Muitos estados precisam da indústria do carvão, são milhares de empregos diretos e muitos mais que dependem de energia barata. O novo plano é um golpe na classe média e nos pequenos negócios”, afirmou o republicano Mitch McConnell, líder da minoria no Senado.
“O fato de o presidente Obama dizer que é comprometido com a criação de empregos e ainda assim adotar medidas que ameaçam milhares de postos de trabalho neste país demonstra o quão fora da realidade está a sua lista de prioridades”, disse Steve Robertson, presidente do Partido Republicano no estado do Kentucky.
As associações industriais também não ficaram nada contentes com a estratégia climática.
“O presidente está repetindo erros do passado, ao colocar em prática políticas que têm como objetivo aumentar a regulamentação, o que acabará apenas diminuindo o número de empregos e o crescimento econômico”, disse Kathleen Sgamma, vice-presidente da Aliança de Energia do Ocidente.
Outra crítica do setor de energia é que a contribuição do gás natural na redução das emissões está sendo esquecida por Obama.
“A ideia de incentivar apenas fontes alternativas, como eólica e solar, e não conceder nenhum tipo de apoio ao gás natural, que tanto tem contribuído para tirar os EUA da crise econômica, é um grande erro. Subsidiar as ‘tecnologias limpas’ vai acabar com os investimentos em gás, que não será mais viável economicamente”, explicou Jack Gerard, presidente do Instituto Americano do Petróleo.
O novo plano climático ainda deverá ser detalhado nos próximos meses, sendo que a maior parte de suas propostas sugere a criação de grupos de trabalho para analisar como reduzir as emissões, promover medidas de adaptação climática e direcionar investimentos para fontes limpas de energia.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
Ao anunciar o Plano de Ação Climática nesta terça-feira (25), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi bastante enfático ao afirmar que a hora de agir é agora e que não vai mais perder tempo discutindo com quem ainda nega as mudanças climáticas.
“O julgamento da ciência é esmagador. Através da química, da física e de milhões de medições chegamos à conclusão de que não há mais espaço para dúvidas. A questão é se teremos a coragem de agir antes que seja muito tarde. Não temos tempo para fazer uma reunião com a sociedade dos que pensam que a Terra é plana”, declarou Obama.
Apesar de o plano não apresentar metas objetivas em alguns pontos, a sensação de que os EUA estão finalmente se mexendo para lidar com as suas emissões de gases do efeito estufa e a confiança do presidente Obama agradaram autoridades internacionais e ONGs.
“Aplaudo o fato de os EUA pretenderem assumir uma posição de liderança na construção de uma solução global para as mudanças climáticas. Uma solução que deve unir as ações internacionais com os objetivos de reduzir as emissões, preparar para os impactos climáticos e acelerar as negociações internacionais”, afirmou Christiana Figueres, presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
A União Europeia também recebeu bem a notícia, mas criticou a demora dos EUA em acordar para a realidade.
“O novo plano norte-americano ajudará a dar ao mundo mais confiança de que é possível ganharmos essa batalha se trabalharmos todos juntos. É com certeza um passo positivo”, disse José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.
“Estou feliz em ver que os EUA finalmente se moveram. A Europa estava esperando impacientemente esse momento. Vamos ver se realmente as boas intenções contidas no plano se transformarão em ações”, completou Connie Hedegaard, comissária de ação climática da União Europeia.
A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) chamou o plano de “passo positivo” e diz esperar uma postura mais construtiva dos EUA nas negociações climáticas daqui para frente. Além disso, cobrou uma maior participação do país nos financiamentos para ações de adaptação e mitigação às mudanças climáticas.
“Infelizmente, estamos muito cientes de que o novo cotidiano das comunidades vulneráveis é conviver com a erosão costeira, a acidificação oceânica, a degradação dos recifes e dos cardumes, as secas, as enchentes e com tempestades intensas. Assim, qualquer resposta adequada às mudanças climáticas deve também levar em conta a diminuição dos prejuízos dessa crise”, declarou Marlene Moses, representante da AOSIS nas Nações Unidas.
Entidades da sociedade civil elogiaram a nova postura de Obama, mas dizem que o plano não é ambicioso o suficiente.
“Essa é a primeira vez que o governo federal anuncia ações domésticas significativas, o que reflete o fato de que Obama reconhece que os EUA estão enfrentando impactos adversos das mudanças climáticas e que precisa se adaptar a eles [...] As promessas no plano são bem-vindas, mas ainda são muito pouco para fazer o que é preciso [evitar um aquecimento global de mais de 2oC]”, afirmou Saleemul Huq, do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED).
“Aparentemente o presidente finalmente resolveu tirar suas promessas climáticas da gaveta, mas para verdadeiramente proteger as futuras gerações esse novo plano deve ser um começo e não o ato final das políticas climáticas dos EUA”, disse Phil Radford, presidente do Greenpeace norte-americano.
“As linhas de batalha foram delimitadas; a indústria do carvão lutará com unhas e dentes para paralisar as novas regras de emissões. E lutará para enterrar as chances do desenvolvimento de fontes alternativas de energia” acrescentou Radford.
Guerra ao carvão
O Greenpeace parece estar certo. Assim que o presidente desceu da tribuna de onde anunciou o novo plano, representantes do Partido Republicano partiram para o ataque. Uma das críticas mais ouvidas é que as medidas foram criadas especificamente para serem ações exclusivas do Poder Executivo e, assim, não passarem pelo Congresso. Estratégia que é classificada como “totalitária” pelos republicanos.
“O que estamos vendo é a declaração de guerra ao carvão. O presidente está passando por cima do Congresso e colocando economias de estados inteiros em risco. Muitos estados precisam da indústria do carvão, são milhares de empregos diretos e muitos mais que dependem de energia barata. O novo plano é um golpe na classe média e nos pequenos negócios”, afirmou o republicano Mitch McConnell, líder da minoria no Senado.
“O fato de o presidente Obama dizer que é comprometido com a criação de empregos e ainda assim adotar medidas que ameaçam milhares de postos de trabalho neste país demonstra o quão fora da realidade está a sua lista de prioridades”, disse Steve Robertson, presidente do Partido Republicano no estado do Kentucky.
As associações industriais também não ficaram nada contentes com a estratégia climática.
“O presidente está repetindo erros do passado, ao colocar em prática políticas que têm como objetivo aumentar a regulamentação, o que acabará apenas diminuindo o número de empregos e o crescimento econômico”, disse Kathleen Sgamma, vice-presidente da Aliança de Energia do Ocidente.
Outra crítica do setor de energia é que a contribuição do gás natural na redução das emissões está sendo esquecida por Obama.
“A ideia de incentivar apenas fontes alternativas, como eólica e solar, e não conceder nenhum tipo de apoio ao gás natural, que tanto tem contribuído para tirar os EUA da crise econômica, é um grande erro. Subsidiar as ‘tecnologias limpas’ vai acabar com os investimentos em gás, que não será mais viável economicamente”, explicou Jack Gerard, presidente do Instituto Americano do Petróleo.
O novo plano climático ainda deverá ser detalhado nos próximos meses, sendo que a maior parte de suas propostas sugere a criação de grupos de trabalho para analisar como reduzir as emissões, promover medidas de adaptação climática e direcionar investimentos para fontes limpas de energia.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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