Quase todo mundo, mesmo que não esteja mais na escola, sabe como é: Semana do Meio Ambiente é tempo de plantar árvore, de levar uma garrafinha pet para reciclagem, o professor dá aula ao ar livre e assiste-se a um filme escatológico (aqueles que falam dos fins dos tempos). Em algumas escolas, isso se resume a toda educação ambiental do ano, mesmo o tema sendo obrigatório, desde 1999, no projeto político-pedagógico de todas as instituições de ensino, de forma transversal.
“Esta semana vai estar todo mundo comovido porque a água vai acabar, porque podemos ser engolidos pelo lixo, por causa da poluição… Mas logo novos assuntos vão dispersar os estudantes e a questão volta a ser discutida no Dia da Árvore, da Água. Mas o meio ambiente não pode esperar por outra Semana para ser cuidado”, comenta a professora e doutora pela Faculdade de Educação da Universidade São Paulo (USP), Cláudia Ferreira. Ela acaba de lançar um livro, fruto de sua tese do Doutorado, a respeito do ensino de educação ambiental, tese já noticiada pelo EcoD.
Para a produção da obra, a pesquisadora foi a campo, esteve em três escolas públicas de São Paulo, com média de 900 alunos, durante o ano de 2009 e observou diversos problemas enfrentados pelos professores para levar o tema para os estudantes. “Os educadores, em geral, não haviam sido preparados para usar o material didático fornecido pelo governo, que é de boa qualidade, e, por estarem sobrecarregados, não têm tempo para elaborar as aulas”.
No livro, editado pela Editora Paco (capa ao lado), “O Meio Ambiente na Prática de Escolas Públicas da Rede Estadual de São Paulo: Intenções e Possibilidades”, Cláudia conta que embora o tema ainda seja pouco abordado, os alunos revelam muito interesse, principalmente, quando há atividades práticas.
Há diversas histórias, adaptadas à linguagem mais comum, retratando as escolas e rotinas dos alunos. A professora defende uma educação integrada, que promova articulações, e não uma disciplina separada. “Por que se for falar somente em uma disciplina, o conhecimento fica isolado e é mais difícil haver engajamento”, define a educadora e bióloga.
Exemplo
Mas, em Salvador, Bahia, uma escola pública do Subúrbio Ferroviário dá um exemplo de ensino transversal. O Colégio Luiz Rogério Souza, situado no bairro de Plataforma, é frequentado por cerca de mil pessoas, entre alunos, funcionários e corpo docente. A professora de Física Rosângela Maria dos Santos conta como funciona a abordagem: “Na minha disciplina temos falado de energias alternativas e lixo espacial, por exemplo. Já os professores de sociologias estão falando do papel social dos catadores de lixo. Nós queremos primeiro que eles pratiquem novos hábitos em casa, mas que também ampliem a visão para enxergar o planeta”.
Para a escola incorporar o ensino às diferentes disciplinas, o primeiro passo foi a produção do seu projeto político-pedagógico de forma co-participativa, com professores e colegiados, como prevê a lei das diretrizes básicas. “Desde 2005, o projeto inclui a educação ambiental em todas as matérias”, conta o diretor Wellington Pires.
Tudo começou com a construção de uma horta com oleiros em forma geométrica. A água da irrigação? Vem de um sistema de captação de chuva, que reduziu a conta de água da escola de R$ 5 mil para R$ 1.200. “Eu já vi escola pagando 22 mil de água”, conta Pires. Os tomates, pimentões, quiabos e hortaliças colhidas na horta implementam a merenda dos estudantes.
Mas o ciclo não termina aí. Na hora de preparar as refeições, as funcionárias têm que guardar o óleo de cozinha que sobra para a produção do sabão ecológico (uma mistura de gordura e soda cáustica). “O sabão é de ótima qualidade”, pontua o diretor.
É na horta, irrigando as plantas com água da chuva, que João Paulo Ferreira, 12 anos, aluno do oitavo ano do ensino fundamental, aprendeu que precisa “economizar bastante a água porque está acabando”. Iago Barreto, 13 anos, colega de turma de João, já plantou rabanete e cenoura em sua casa. “Aprendi a cultivar e cuidar da terra”.
* Publicado originalmente no site EcoD.
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