Copenhague, 10/12/2009 – A conferência sobre mudança climática parece uma “grande feira de soluções”, onde as pessoas evitam falar do problema de fundo, que é a mudança do modelo de desenvolvimento, disse à IPS a brasileira Miriam Nobre, coordenadora do secretariado da Marcha Mundial das Mulheres. Esta engenheira agrônoma e feminista chegou terça-feira à Copenhague para participar da Klimaforum, a cúpula da sociedade civil paralela à 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que começou segunda-feira (07/12) e vai até o próximo dia 18.
A Marcha Mundial das Mulheres, liderada por Nobre, é um movimento feminista internacional que nasceu em 2000 e está organizado em 71 países. Começaram com uma campanha contra a pobreza e a violência das quais são vítimas a população feminina e para 2010 estão preparando sua terceira ação internacional com quatro objetivos: autonomia econômica das mulheres, luta contra a violência, paz e desmilitarização e promoção do bem comum e dos serviços públicos.
Antes de conceder entrevista à IPS, Nobre participou de uma reunião de coordenação com representantes de outros movimentos e organizações não-governamentais em alguns dos espaços do colorido Klimaforum, para onde estão programadas centenas de palestras, mostras, exibições de documentários e espetáculos musicais e teatrais.
IPS – Quais propostas ou demandas trazem a Copenhague?
Miriam Nobre – Viemos a Copenhague articulados com a Via Camponesa e a Amigos da Terra Internacional e estamos denunciando as falsas soluções para as mudanças do clima, que têm a ver com a produção das monoculturas, os agrocombustíveis e a privatização da natureza, com os créditos de carbono. Também mantemos diálogo com outras organizações que trabalham a questão da divida climática, como é o caso do Jubileo Sul.
Além disso, nossa presença na Dinamarca tem a ver com um sentido de urgência. Há uma sensação de que algo deve ser feito agora, mas que não se pode aceitar, por esta questão de urgência, uma chantagem onde nos imponham um mau acordo, onde não se reconheça a desigualdade de classe, de país e de gênero no tema da mudança climática.
IPS – De quais atividades participarão?
MN – Temos um painel que se chama “Feministas em luta contra as falsas soluções para a mudança climática e contra a privatização da natureza”, onde ouviremos como está o processo de negociações, porque as mulheres são sujeitos políticos importantes neste tema. Também recordaremos os vínculos e os atritos que há entre o movimento ecológico e o feminista e como as mulheres vivem os efeitos da mudança climática e as resistências, as alternativas que elas estão construindo. Além disso, teremos outra atividade com a Coalizão Mundial das Florestas sobre a soberania alimentar e energética como soluções reais para a mudança climática.
IPS – Por que as mulheres são importantes como sujeitos políticos nas negociações sobre mudança climática?
MN – Existe toda uma experiência das mulheres camponesas, pescadoras, que seguem afirmando suas maneiras tradicionais de produzir alimento e que, então, são uma alternativa real à sociedade dependente do petróleo e dos combustíveis fósseis. E também há toda uma relação que fazemos com o que é a fragmentação e a mercantilização dos corpos das mulheres e a fragmentação e mercantilização dos próprios territórios.
IPS – Qual sua percepção do avanço das negociações mundiais em Copenhague?
MN – A primeira impressão que tive é que as pessoas chegam com o sentido de vender suas soluções, o agrocombustível, o mercado de carbono. Dá uma sensação de uma grande feira de soluções, que passa por cima do problema, que é a necessidade urgente de uma profunda mudança do sistema, do modelo, de como organizamos a produção e o consumo. É como se as pessoas continuassem evitando discutir o que, de fato, é necessário fazer.
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FONTE : (Envolverde/IPS/TerraViva)
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