Copenhague, 10/12/2009 – Uma base militar em desuso foi o cenário do encontro convocado em paralelo à conferência da ONU sobre mudança climática, caracterizado por uma diversidade presença de hippies, motociclistas, livre-pensadores e indígenas de diferentes partes do mundo. A comunidade Povo Livre de Christiania, localizada no antigo centro militar, se autoproclamou autônoma e, para muitos, também é a mais indômita. Ali reina o espírito dos anos 60 e até a policia está cautelosa por medo de desatar as batalhas de rua que periodicamente desestabilizam a área.
Na base, de aproximadamente 35 hectares, reúnem-se radicais e ativistas que chegaram à Copenhague para participar da Climate Bottom, convocada à margem da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15).
Representantes e delegados de países procuram no Bella Centre, bem custodiado por corretos mas firmes policiais, fixar objetivos mais drásticos em matéria de redução de emissões de gases-estufa, causadores do aquecimento global, para as nações em desenvolvimento e outros mais para os que não assinaram o Protocolo de Kyoto, cujas metas expiram em 2012. O Protocolo obriga os 37 países industriais que o ratificaram a reduzir suas emissões até 2012 em 5,2% com relação a 1990.
Christiania se encontra a duas quadras de uma estação do metrô e os grafites são o primeiro sinal de que se está entrando num espaço temporal diferente. A conferência Climate Bottom acontece sob uma improvisada lona de circo no terreno de uma comunidade ecológica. Os residentes de Christiania afirmam que as consequências da mudança climática não são apenas um assunto de populações indígenas sob risco de serem desalojadas e com o problema terem de adaptar-se e mudar sua situação. O aumento da temperatura média do planeta afeta quase toda a população mundial. ”O governo local ameaça Christiania por causa do nosso terreno”, disse Doris Krucknberg, coordenadora do dia dedicado a questões de desenvolvimento Norte-Sul.
A vontade de mudança se mistura no ar com o doce aroma da maconha que inundava a barraca. Cerca de 20 estudantes secundaristas usando rastas e demonstrando aborrecimento ouviam as apresentações dos ativistas sobre a difícil situação dos países em desenvolvimento diante da ameaça da mudança climática. “As tempestades tropicais arrasam a região do Caribe com uma intensidade sem precedentes”, disse o biólogo e agrônomo Roberto Pérez, da organização cubana Conservação para a Natureza, “o que agrava o sofrimento da já empobrecida nação insular, presa da trajetória de furacões”.
“A mudança climática é um fato. Já estamos sofrendo seus efeitos”, afirmou, conceito este compartilhado por muito dos participantes da conferência alternativa em uma tarde fria e úmida. Algumas regiões do planeta sofrem temperaturas cada vez mais altas e maior umidade enquanto outras experimentam secas sem precedentes. As geleiras derretem na cordilheira dos Andes, e em Bangladesh o mar encobre terras cultiváveis. Em 2050, cerca de 200 milhões de pessoas não terão um lar fixo devido à mudança climática, segundo a Organização Internacional para as Migrações.
“É importante que as pessoas atingidas pela mudança climática participem deste encontro”, afirmou Christian Fris Bach, coordenador dos esforços de alívio alimentar e diretor da organização humanitária dinamarquês DanChurchAid. Não há unanimidade sobre o que se precisa e como proceder. O aquecimento global representa uma oportunidade para uma nação coberta de geleiras, afirmou Tove Pederson, da delegação da Groenlândia, rica em recursos minerais.
Esse país tem grandes depósitos de minerais, que não podem ser explorados por causa das geleiras. Com o degelo poderão ser aproveitados, o que supõe uma fonte de renda imprevista para a pequena população autóctone, que depende da caça de subsistência e dos raros turistas que visitam a Groenlândia. “Temos de viver neste mundo. Não podemos sentar e chorar e ficarmos paralisados pelas mudanças do clima. Temos de lidar com os desafios e aproveitar as novas oportunidades que aparecem”, acrescento Pederson.
Os participantes do encontro paralelo cobraram a inclusão de questões muito mais espirituais vinculadas à natureza dentro dos parâmetros da COP-15. O encerramento das sessões incluiu orações e cânticos em homenagem à terra, ao mar e ao ar, associados a divindades de vários povos do mundo.
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FONTE : Enrique Gili, da IPS (Envolverde/IPS/TerraViva)
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