Os ponteiros do relógio aceleram para o fim da conferência sobre mudança climática, que acontece na capital dinamarquesa, sem que surja um acordo para reduzir as emissões de gases-estufa, que provocam o aquecimento global. A 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que termina nesta sexta-feira em Copenhague, procura fixar objetivos mais rígidos para reduzir os gases contaminantes lançados na atmosfera, responsáveis pelo aquecimento planetário. As jornadas negociadoras finais, a fase política da cúpula, se traduziram na chegada em avalanche de aproximadamente 130 chefes de Estado e de Governo à Dinamarca, em meio a protestos organizados pela sociedade civil que reclama um tratado que dê continuidade ao Protocolo de Kyoto, cujas metas vencem em 2012.
A organização ecológica Amigos da Terra, com milhares de membros presentes em Copenhague, foi impedida na terça-feira de entrar na sede da conferência, no Bella Center, após ter liderado os protestos nos arredores do prédio. As manifestações com seus membros sentando no chão das próprias instalações também forçaram os organizadores a tomarem medidas mais duras. “A democracia está em crise quando se impede organizações como a Amigos da Terra de falar nas próprias negociações, representando comunidades de todo o mundo”, disse seu diretor-executivo, Andy Atkins. “Estamos surpresos de saber que foi proibida a presença nestas negociações-chave a todos os delegados da Amigos da Terra. Se isto é consequência de nosso papel como um dos grupos mais ativos em exigir um tratado forte e justo, então é ainda mais preocupante”, afirmou.
O início da fase de alto nível da conferência se caracterizou, na terça-feira, pela surpreendente renúncia da presidente da COP-15, a ministra do Meio Ambiente da Dinamarca, Connie Hedegaard, que foi substituída pelo anfitrião e primeiro-ministro, Lars Lokke Rasmussen. Hedegaard, mas continua participando das negociações ministeriais a portas fechadas. Por sua vez, Rasmussen não começou sua presidência com o pé direito. Quando pronunciava sua terceira ou quarta frase em sua nova função foi interrompido por uma moção de ordem, promovida pelo Sul em desenvolvimento, com Brasil e China à frente.
Este grupo insistiu para que ficasse claro que o rascunho do texto em discussão era o mesmo que os delegados haviam negociado ao longo da noite. O ponto era central. O que se queria era que Rasmussen confirmasse que não se abandonaria a chamada via dupla: a prorrogação do Protocolo de Kyoto enquanto não entrar em vigor outro tratado de longo prazo que o substitua. Esta alternativa é apoiada pelo Grupo dos 77, que reúne 130 nações em desenvolvimento mais a China.
O presidente da COP-15 teve problemas para manter a ordem e limitar os oradores aos cinco minutos protocolares quando a discussão começou. O segundo orador do dia, o primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, tampouco facilitou as coisas para Rasmussen. Zenawi não só excedeu o tempo com apresentou uma proposta junto com a França que minava a postura do bloco africano. A proposta franco-etíope consiste em aceitar um aumento máximo da temperatura mundial de dois graus e um fundo inicial de US$ 10 bilhões para que os países em desenvolvimento possam combater o fenômeno climático.
Observadores da sociedade civil criticaram duramente Zenawi, acusando-o de ameaçar com sua postura o próprio futuro da África. Se Zenawi “quer vender as vidas e esperanças dos africanos por uma miséria, bem-vindo seja, mas essa não é a posição da África”, declarou Mithika Mwenda, da organização ambientalista Aliança Pan-africana para a Justiça Climática. “Devemos manter o aquecimento global em um máximo de 1,5 grau” e a quantia de US$ 10 bilhões é “apenas suficiente”. Os “africanos falam de US$ 400 bilhões por ano nos próximos três anos”, destacou.
“A sensação que temos é que o Protocolo de Kyoto está na UTI e necessitando de vários balões de oxigênio. Um deles está na Casa Branca”, assegurou à IPS o ministro indiano de Meio Ambiente e florestas, Jairam Armes, se referindo aos Estados Unidos e à sua negativa em ratificar o Protocolo.
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FONTE : este artigo teve as colaborações de Nasseem Ackburally, Servaas van den Bosch, Claudia Ciobanu e Terna Gyuse.(IPS/Envolverde)
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