Investimento de impacto no Brasil
por Randall Kempner*
O Brasil não está fora disso. No final de março, tive a oportunidade de visitar o Rio para o Congresso Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Congress), o maior encontro de organizações que promovem empreendedorismo no mundo. O evento deste ano, organizado pela Endeavor Brasil, ofereceu um dia especialmente voltado ao empreendedorismo social e aos investimentos de impacto. Todos os continentes estavam ali representados, os brasileiros presentes em peso -e eles promoviam seu setor de investimento de impacto em nível nacional.
Mesmo assim, embora o setor esteja crescendo no Brasil, ele ainda é muito pequeno. Como em qualquer outro país do mundo, empreendedores sociais e investidores de impacto encontram três principais desafios para aumentar o crescimento:
1) Falta de bons negócios
Há centenas de milhares de pequenos negócios no Brasil, e milhares deles poderiam afirmar que são negócios sociais, com credibilidade, e assim reivindicar capital. Infelizmente, eles são difíceis de serem encontrados pela maioria dos investidores de impacto. Muitos ainda canalizam sua energia para levantar capital com os bancos locais, que tipicamente não oferecem “equity” (investimento com participação minoritária na empresa) e tendem a reagir de modo desfavorável a pequenas empresas com poucos ativos físicos procurando capital de crescimento.
No Brasil, existe uma falta de mecanismos conectores de mercado que promovam o encontro de negócios sociais procurando fundos de capital de investimento e investidores individuais que possam provê-los. Nós conseguimos ver algumas soluções aparecendo, como a plataforma BRiiX (Intercâmbio de Investimento de Impacto Brasil).
Há ainda um desafio mais fundamental que limita o investimento. A maioria dos empreendedores sociais do Brasil e no mundo necessita uma significativa assistência ao desenvolvimento de seus negócios para poder escalar. Um típico empreendimento social bem-sucedido apresenta um líder versado em empreendedorismo na direção, mas não dispõe de uma forte equipe de gestão sob seu comando.
Outro desafio comum é a falta de real entendimento de mercado. Quando tentamos servir consumidores da base da pirâmide, é difícil obter informações precisas a respeito do dimensionamento do mercado em fontes públicas. Para uma empresa pequena, também sai muito caro gerá-las. Investidores estão cientes dessas dificuldades e, quando investem, eles tipicamente esperam fornecer suporte para muito além de sua contribuição financeira. Entretanto, por conta disso, acabam por fazer um número menor de investimentos.
2) Falta de atividade do investidor
Conforme o que foi mencionado acima, líderes em fundos de investimentos, incluindo grandes nomes como JP Morgan, UBS e Goldman Sachs, lançaram fundos de investimento de impacto ou de finanças sociais. De acordo com dados do GIIN (Rede Global de Investimento de Impacto), há cerca de 300 veículos de investimento que focam pequenos empreendedores de negócios em mercados emergentes.
No entanto, a pesquisa mais recente sobre a indústria realizada pelo GIIN identificou apenas US$ 8 bilhões em investimento de impacto global em 2012. Trata-se de fato de uma quantia minúscula. Ela representa apenas 0,01% dos quase US$ 80 trilhões de ativos em fundos administrados profissionalmente em 2011. E a quantidade fluindo para a América Latina e o Caribe é menor do que um terço do total rastreado.
Portanto, enquanto a indústria cresce, não há muita atividade atrelada à necessidade. Novamente, há razões compreensíveis. A infraestrutura para facilitar os investimentos ainda não existe. Ao contrário das classes tradicionais de “private equity”, não há relatórios de pesquisa à mão que rastreiem a atividade de empresas individuais. Além disso, a necessidade de avaliar firmas em potencial é mesmo maior em investimentos de impacto porque o sucesso precisa ser mensurado em termos de impacto financeiro “E” social. Há notáveis esforços para tratar desses desafios. Neles incluem-se o desenvolvimento do Iris (Padrão de Relatórios de Impacto e Investimento) e a criação do GIIRS (Sistema de Avaliação de Investimento de Impacto Global). Mas nós ainda temos um longo caminho a percorrer.
3) Apoio do governo
No Rio, vários oficiais do governo expressaram seu apoio ao empreendedorismo social. Podemos observar esse avanço com a criação de programas como o Start Up Brasil, um ministério exclusivo para pequenas e micro empresas e o crescente apoio de instituições como o Finep no setor de investimento de impacto. O mesmo está acontecendo globalmente, enquanto os maiores investidores de fundos de impacto até o momento têm sido as agências de fomento bi e multilaterais como o IFC (Corporação Financeira Internacional) e o BID (Banco de Desenvolvimento Interamericano). Eles têm sido úteis catalisadores. Entretanto, para essa indústria nascente, subsídio ainda é necessário, de recursos advindos do setor público nacional e internacional.
As microfinanças têm sido beneficiárias com cerca de US$ 16 bilhões em capital subsidiado. Isso diminui o apoio que tem sido estendido aos fundos e empreendedores que se concentram em atender aos desafios sociais. No entanto, o retorno potencial advindo desse apoio é até maior, pois pequenas empresas empreendedoras, como as microempresas, têm o potencial de crescer e criar milhões de novos empregos. Particularmente, mais apoio é necessário para o desenvolvimento de talento e o desenvolvimento de capacidade nas empresas. Além disso, os governos deveriam trabalhar bem próximos aos outros intermediários que ajudam a construir mercados para a inovação social servindo como consumidores-piloto e provendo garantias de risco aos investidores de impacto.
Um Brasil otimista
Uma das coisas que eu amo no Brasil é o quão otimistas as pessoas são. Fico impressionado com as tantas maneiras em que os brasileiros são capazes de dizer como as coisas andam ótimas – “tudo joia”, “tudo bem”, “tudo bom”, “tudo legal”, “tudo ótimo” e o “mais ou menos”, que é praticamente a resposta mais negativa que uma pessoa jamais vai escutar. Pois bem, às vezes esse otimismo é mal utilizado -mas não neste caso.
O Brasil é legitimamente um epicentro para a emergência de um mercado global de investimento de impacto. Tanto a qualidade como a quantidade de negócios sociais vem aumentando no Brasil. E o mesmo pode ser dito a respeito dos fundos de investimento de impacto e das incubadoras dedicadas ao empreendedorismo social que operam no país. Cada vez mais os investidores expandem para fora do Sudeste brasileiro em direção ao Nordeste.
Então, há muitos desafios a serem superados ainda, mas ao menos o Brasil está constituindo uma massa crítica de atores para atingir tal objetivo.
O Brasil pode ter “perdido o papa”, mas vai provavelmente ganhar em investimento de impacto.
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* Randall Kempner é graduado em governo pela Universidade Harvard e especialista em desenvolvimento econômico e políticas públicas pela Universidade do Texas em Austin, é cofundador do Grupo OTF e diretor-executivo da Ande (Aspen Network of Development Entrepreneurs), rede global de organizações que busca impulsionar o empreendedorismo em mercados emergentes.
** Publicado originalmente no site Prêmio Empreendedor Social/Folha de s. Paulo.
(Prêmio Empreendedor Social/ Folha de S. Paulo)
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