Enquanto existir um índio, as florestas estarão em pé
(por Lúcia Chayb e René Capriles, da Eco21)
Já está circulando a revista ECO 21 de abril de 2013. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial e o índice da edição.
Editorial
Povos indígenas de todas as regiões do Brasil se concentraram em Brasília nas últimas semanas, para lutar na Câmara dos Deputados contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 215) mediante a qual seria de competência exclusiva do Congresso Nacional a demarcação das terras indígenas e quilombolas, além de rever os territórios com processo fundiário e antropológico já encerrado. A PEC 215 atinge ainda Unidades de Conservação e Áreas de Proteção Ambiental, tal como anteriormente os parlamentares o fizeram com o Código Florestal. Essa iniciativa indignou o movimento indigenista nacional, organizações da sociedade civil voltadas para os direitos humanos e os deputados que compõem a Frente Parlamentar de Defesa dos Povos Indígenas, os quais apontaram a proposta como inconstitucional. Paradoxalmente, no dia 19 de Abril, quando se celebra o Dia do Índio, a Câmara dos Deputados convidou o cacique Raoni, dos Caiapó Metuquitire, para discursar em sua língua nativa sobre a importância da cultura indígena no Brasil atual. Na tribuna, se posicionando contra a PEC 215, ele defendeu que “a continuidade da demarcação de terras seja uma atribuição exclusiva da Fundação Nacional do Índio”. Além disso, ele lembrou os assassinatos dos indígenas que acontecem em todas as regiões do Brasil, do Norte ao Sul; “peço para que parem de massacrar os índios, vamos nos reunir, vocês políticos e nós lideranças indígenas, para isso não acontecer mais”, disse fazendo eco às palavras do cacique Araticum Pataxó, da aldeia Araticum da Mata Medonha, Bahia, que explicou na Comissão de Justiça da Câmara: “quando éramos analfabetos, na mata tínhamos nossos direitos; quando aprendemos as leis do branco, os perdemos. Os grandes latifundiários sabem o que os indígenas pensam e nós sabemos o que eles querem; isso já vem de muito tempo, dos nossos antepassados”, se referindo aos parlamentares das bancadas ruralista e evangélica, que recebem grande influência dos empresários madeireiros e pecuaristas, principais interessados em legislar sobre essas terras. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário, as palavras de Araticum podem ser traduzidas em números: “são cerca de 200 deputados federais que compõem a bancada ruralista, respaldados pelo atual modelo de desenvolvimento do governo, por sua vez ancorado nos pastos, canaviais e deserto verde da soja; dessa maneira, a correlação de forças no Congresso será sempre desfavorável aos povos indígenas e quilombolas”. Enquanto Brasília tentava destruir definitivamente a cultura indígena, a ONU, durante o Fórum das Nações Unidas sobre Florestas realizado em Istambul, Turquia, homenageava Almir Narayamoga Surui com o “Prêmio ‘Herói da Floresta”. Este prêmio reconhece os “heróis desconhecidos” que protegem e tratam de gerir sustentavelmente as florestas de todo o mundo. Almir nasceu em Rondônia na tribo Paiter-Surui e em 20 anos seu povo foi reduzido de 5 mil para 295 pessoas. Uma tragédia que pode ser considerada muito bem um genocídio. Almir convenceu o Banco Mundial a investir num programa de desenvolvimento e convenceu os diretores do Google para que ajudem sua tribo usando tecnologia digital para monitorar e mapear a floresta. Tal como os índios, o Brasil precisa das florestas preservadas. Elas fornecem alimentos e medicamentos e, os melhores guardiões desse patrimônio natural são os próprios nativos, é o que afirmou o cacique Ninawá, do povo Huni Kui, do Acre em declaração a Nathália Clark, do Greeenpeace: “Estão permitindo que a Constituição seja rasgada, como foi rasgado o Código Florestal. Enquanto existir um indígena em pé, existirá a luta para defender as florestas em pé”.
Índice :
4 Achim Steiner – Mongólia é o país-sede do Dia da Terra
6 Elton Alisson – Estudo propõe monitorar os ecossistemas costeiros
8 Fabio Feldmann – O Brasil e a Economia Verde: o que nos falta?
10 Evaristo Eduardo de Miranda – A seca e o Bolsa Família
12 Fernanda Cruz – Usinas eólicas brasileiras crescem 73% em 2012
14 Silneiton Favero – Água e desperdício urbano: como ser sustentável?
16 Washington Novaes – A lógica perversa no desperdício de água
18 Lucas Tolentino – MMA cria Comitê Gestor da Política das Terras Indígenas
19 Valéria Schilling – Almir Narayamoga Surui é premiado pela ONU
20 Ivar L. V. Busatto – É tempo de aprender com as sociedades indígenas
24 Márcio Santilli – Nenhum dia mais é dia de índio
25 Marcelo Barros – O desafio dos índios
28 José Monserrat Filho – Balões, amigos infláveis
32 Gilmara Guedes – Brasil terá um instituto para pesquisas oceanográficas
34 Marcos Casado – Brasil se consolida na construção sustentável
36 Ricardo Zibas – Sustentabilidade mensurável?
38 Aurore Capriles – A renovadora volta ao pastoralismo na França
40 Jim Leape – Caça ilegal ameaça espécies
42 Luiz Soares – TNC e Walmart, juntos pela pecuária sustentável
44 Marcelo Tavela – Cresce a conscientização sobre biodiversidade
46 Williams M. Ferreira – Café orgânico: bom para a saúde humana
48 Leonardo Boff – Papa Francisco, promotor da consiência ecológica?
50 Marilene de Paula – Beijing+20: uma nova Conferência das Mulheres
Para assinar clique aqui.
(Eco21)
Nenhum comentário:
Postar um comentário