PRAIAS NÃO POLUÍDAS DO BRASIL

FOTO : Praia de Jericoacara, Ceará.
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Está chegando o momento mais aguardado do ano. É quando os estudos dão uma trégua, o trabalho fica para depois e as únicas coisas importantes para fazer são curtir o sol, praticar esportes e aproveitar a paisagem. Para onde ir? Os 9.198 quilômetros do litoral brasileiro abrigam lugares paradisíacos, onde o banho de mar e a areia branquinha são uma tentação para quem passou 11 meses do ano vendo o mar a distância. Mas é preciso ser realista. Há pedaços da costa perdidos para as férias. "Em geral, a condição do litoral brasileiro é ruim para os banhos de mar", confirma Luiz Roberto Tommasi, um dos maiores especialistas em poluição marinha do país, que há anos avalia as condições das praias.

Praia Mole (SC) A praia de Florianópolis tem águas excelentes: não há esgotos nem construções perto da orla
Diante da imensidão azul, pode parecer que o quadro não é assim tão grave. Afinal, o mar deveria diluir a sujeira toda deixada pelos turistas concentrados nesta época do ano. Mas o excesso de esgoto não se manifesta apenas pelo cheiro desagradável, a cor escura da água e o lixo generalizado. O esgoto mata o plâncton que produz o oxigênio e carrega bactérias nocivas e materiais que não são degradados. Entra na cadeia alimentar marinha e contamina os peixes. Nesta reportagem, Galileu apresenta um panorama da qualidade da água nas praias da costa brasileira, do Rio Grande do Sul ao Ceará. É uma forma de garantir mergulhos sem sustos.

A poluição das praias não é causada apenas pelo esgoto e a sujeira deixada pelos banhistas mal-educados. O petróleo que vaza dos navios, por exemplo, causa danos ecológicos que perduram durante anos. Mas é um problema localizado. A poluição mais grave do litoral brasileiro é provocada pelo saneamento deficiente. Apenas 4,8% da população das cidades costeiras é atendida pela rede de esgoto. As conseqüências na qualidade da água do mar são percebidas por meio de exames do nível de coliformes fecais. As medições periódicas indicam se a praia está contaminada por esgoto (veja os valores). Muitos jornais costumam dar os resultados desses exames, principalmente no verão. Mas os interessados também podem acompanhar a situação de sua prai a favorita pela internet (veja os sites).

Camburi (SP) A praia é uma das 26 classificadas como excelentes em São Paulo
"Grande parte do esgoto doméstico é despejado diretamente em rios e córregos que vão desaguar no mar", explica Luiz Roberto Tommasi. É por isso que praias próximas da foz de rios e córregos ou de estuários geralmente são poluídas. Em Torres, principal balneário do Rio Grande do Sul, o banho de mar só é desaconselhado na foz do Rio Mampituba. Na praia da Guarita, famosa por suas falésias, oscila de muito bom a excelente.

O verão é um tempo difícil na costa de Santa Catarina. De dezembro a março, 30% a 40% das praias ficam impróprias. No inverno, o índice não passa dos 15%. Mas isso não é exclusividade dos balneários catarinenses. "No verão, cresce a população das cidad es costeiras e, conseqüentemente, a produção de esgoto", afirma Cláudia Lamparelli, especialista em qualidade de águas litorâneas da Cetesb. O verão também é a estação das chuvas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. "A chuva aumenta a poluição porque leva para o mar toda a sujeira acumulada nas margens de rios e nas ruas", explica Tommasi.

Praia da Guarita (RS) Águas limpas em Torres, o balneário gaúcho mais visitado
Em Florianópolis, praias como Joaquina e Mole permanecem limpas durante todo o verão. As mais freqüentadas da ilha, como Canasvieiras, ficam impróprias em alguns trechos. Balneário Camboriú e Itapema alternam pontos limpos e poluídos. A preocupação com a sujeira diminui no Paraná. A Ilha do Mel é elogiada e a maioria das praias do Estado não tem foco de poluição.

Na costa de São Paulo, as melhores praias estão no Litoral Norte. O ano de 1999 favoreceu o litoral de Ubatuba - mais de metade das praias garantiu condições excelentes durante todos os meses. Em São Sebastião, o índice de praias excelentes, como Cam buri e Maresias, foi de 35%.

O problema em São Paulo é maior na Baixada Santista, que recebe 1,3 milhão de pessoas durante a temporada de verão. No Guarujá, as duas praias mais procuradas apresentam condições diferentes. Enseada ficou imprópria durante 56% do ano de 1999; Pitangue iras esteve em estado de alerta apenas durante 2% do ano. Santos e Praia Grande, cidades paulistas de praias tradicionalmente poluídas, diminuíram seus altos índices de poluição com a coleta e o tratamento dos esgotos. Mas continuam impróprias durante o verão. No município vizinho de São Vicente, a situação é mais grave.

No Rio de Janeiro, alguns famosos cartões-postais estão comprometidos pela sujeira. Não é de estranhar. A Baía de Guanabara está poluída há anos e as badaladas praias da Zona Sul também ficam impróprias boa parte do tempo. Arpoador, Ipanema e Leblon sof rem os efeitos do Canal Jardim de Alah, que leva a água contaminada da Lagoa Rodrigo de Freitas para o mar. "Há muitas ligações de esgotos clandestinos na lagoa", acusa Axel Grael, presidente da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema ).

Copacabana é exceção. "Ela tem boas condições de banho, pois não possui rios ou focos de poluição", afirma Grael. A Barra possui um trecho impróprio para banho, mas a condição melhora bastante no Recreio, na Prainha e em Grumari. Na região dos Lagos, onde ficam Búzios, Armação do Cabo e Cabo Frio, quase todas as praias são próprias para o banho. O mesmo ocorre no litoral do Espírito Santo. Mas Guarapari, balneário mais procurado pelos turistas, sofre dos mesmos problemas de outras cidades do Sul e Sudeste: no verão, boa parte das praias fica poluída, por causa do aumento da população e das chuvas.

No Nordeste, as chuvas dão uma trégua durante as férias. "O verão é seco e as praias tendem a ficar mais limpas", afirma Fátima Morosini, química da Superintendência de Administração do Meio Ambiente da Paraíba. Ela explica que os balneários nordestinos tendem a ficar mais sujos nos meses de março a agosto, época das chuvas naquela região.

Mas isso não quer dizer que as principais capitais nordestinas não tenham problemas de contaminação. A falta de saneamento acaba refletindo nas condições de balneabilidade. Na Bahia, a capital Salvador tem metade das praias poluídas. No resto do litor al baiano, não há medições. Mas no recém-inaugurado complexo de resorts da Costa do Sauípe, os dejetos são levados para uma estação de tratamento antes de desaguarem no mar. "O processo elimina até 98% do esgoto", explica Geraldo Caymmi, gestor ambiental do projeto.


Em Aracaju, no Sergipe, e em Maceió, Alagoas, os principais focos de poluição ficam próximos aos rios. Quando chove na capital alagoana, a sujeira dos rios Reginaldo e Salgadinho chega às praias nobres, como Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca. Outros pontos famosos do litoral alagoano, como a praia do Francês, são excelentes para o banho. Em Pernambuco, a requisitada praia de Porto de Galinhas ficou 94% do tempo excelente e 6% muito boa em 1999. Em Recife, a melhor opção é a praia de Boa Viagem. Na Paraíba, o banho está liberado em quase todo o Estado. "Só 2 km da costa estão contaminados", diz Morosini.

No Rio Grande do Norte e no Ceará, as medições só ocorrem nas capitais. Se em Natal quase não há problemas de poluição, o mesmo não acontece em Fortaleza. Esgotos sem tratamento e ligações clandestinas tornam impróprias quase todas as praias do centro. Mas o belo litoral cearense conta com as dunas de Jericoacoara ou as falésias de Canoa Quebrada. São praias paradisíacas, onde a poluição ainda não chegou. Com um pouco de persistência, tesouros semelhantes podem ser encontrados em outros locais do Brasil.