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sábado, 8 de novembro de 2008
CANASVIEIRAS
FOTO : foto tirada do trapiche de Canasvieiras,onde resido desde 8 de março de 2008.
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OBS.- Chamo a atenção para a data da publicação desse artigo do Celso Martins : 22 de julho de 2001 !
Balneário de Canasvieiras enfrenta problemas como desvalorização dos imóveis e infra-estrutura precária
Celso Martins
Nas décadas de 1960 e 1970 os veranistas de Florianópolis começaram a vender suas casas de praia em Coqueiros e Itaguaçu, transferindo-se paulatinamente para o balneário chique da cidade, Canasvieiras, onde possuir um imóvel tornou-se símbolo de status e prestígio social. Os terrenos adquiridos por preços relativamente baratos valorizaram rapidamente com a chegada em massa dos turistas argentinos e de outros países da América do Sul, durante os anos 80.
Ao longo dessas três décadas Canasvieiras se transformou num paraíso de diversões e negócios, assumindo a posição de carro-chefe do movimento turístico de Florianópolis. Mas aos poucos essa situação começou a mudar e surgiram os primeiros conflitos envolvendo "gringos" e brasileiros, os esgotos passaram a ser um incômodo e as construções avançaram sobre a faixa de areia, provocando a diminuição do tamanho da praia.
"Tenho um terreno em Canasvieiras que diminuiu de valor", diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon), Adolfo César dos Santos, sentenciando: "Mataram a galinha dos ovos de ouro". Por causa da grande concentração de argentinos, os florianopolitanos passaram a buscar outras praias como a Brava, Mole e Jurerê Internacional. "Quando eles viram que Canasvieiras estava se transformando numa praça de Buenos Aires, foram para outros locais da Ilha", aponta o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Capital, Tarcísio Schmitt.
"Canasvieiras foi onde o turismo intencional começou, transformando-se no balneário dos moradores do Centro de Florianópolis. Nos anos 60 foi o máximo, era status ter uma residência em Canasvieiras", recorda o presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), Alaor Tissot. "Mas, como ocorreu em toda a Ilha, o planejamento só se tornou obrigatório para os que não eram amigos do rei, e os amigos fizeram o que fizeram", acusa, lembrando a venda de lotes com testadas de apenas 10 metros, ruas estreitas e ausência de saneamento básico.
Naquela época, segundo Tissot, "o negócio era trazer argentinos a qualquer custo e não nos preocupamos com o turismo de qualidade". A estrutura hoje existente "não suporta o número de visitantes que deveria suportar", salienta, lembrando que quando chove nos meses de janeiro e fevereiro os esgotos se espalham pela avenida principal do balneário, vindos da rede pluvial e levando a uma "desvalorização" dos imóveis da região. "As pessoas descobrem outras praias, que também não têm infra-estrutura e que por enquanto são mais calmas", complementa o presidente da Acif.
Engorda
Luiz Carlos Sempre Bom, vice-presidente da Acif-Canasvieiras, tem outra leitura para os problemas que o balneário enfrenta, a começar pela intensidade do impasse. "Não vejo uma situação tão grave. Canasvieiras foi e continuará sendo o balneário que mais atrai turistas e o que mais rende dividendos para o município", garante. O fenômeno da desvalorização dos imóveis não é exclusivo de Canasvieiras, "mas acontece em toda a Ilha, no Brasil inteiro, por causa da situação da economia", salienta.
Mas ele concorda que existem ameaças potenciais aos atuais valores dos imóveis em Canasvieiras, destacando o problema do saneamento básico (esgotos) e a diminuição da faixa de areia para os banhistas. "Um balneário sem praia é como um hotel sem cama", compara Sempre Bom, para quem "esse é o problema mais grave". Cerca de 80% dos turistas procuram Florianópolis "por causa da praia e do sol, e se ela não existe a tendência é que os visitantes busquem outros locais". Bom destaca que "em determinados dias de janeiro ou fevereiro, por volta das 10 horas, existem duas multidões na areia e dentro d'água. Se a multidão que está na água resolver sair, não vai encontrar espaço na faixa de areia", alerta.
Escunas
O argentino Roberto Gil, 41 anos, há 23 em Florianópolis, trabalha com a venda de passeios nas escunas que saem de Canasvieiras para passeios pela baía Norte e não acredita que os tenpos áureos do balneário estejam chegando ao fim. A opinião é compartilhada por seu colega brasileiro, João Augusto dos Santos, nativo do local. Eles não acreditam que os preços dos imóveis estejam caindo. "O problema é que estão cobrando muito caro e então o pessoal não compra", justifica Santos, lembrando que um lote a cerca de 500 metros da praia, com 450 metros quadrados, está valendo entre R$ 150 mil e R$ 200 mil.
O ramo em que eles atuam é o mais movimentado durante a baixa-temporada. As quatro embarcações que estão navegando no momento transportam cerca de 100 pessoas por dia (no auge da temporada esse número chega a 2,5 mil), garantindo retorno a seus proprietários. Durante este mês Roberto e João atendem os turistas uruguaios que procuram a Ilha, trazidos por três operadoras de Montevidéu. "O problema é o tamanho da praia. O pessoal quer passear mas não pode, principalmente quando a maré está alta e a faixa de areia desaparece em muitos pontos", salienta o argentino.
Órgãos programam medidas
contra esgotos irregulares
A partir de setembro a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) e o serviço municipal de Vigilância Sanitária iniciam uma "operação de guerra" em Canasvieiras, voltada para a desobstrução e limpeza de toda a rede pluvial das ruas do balneário. "Já está tudo acertado", avisa o presidente da Acif, Alaor Tissot, que defende uma ação radical. "A saída irregular que for encontrada na rede pluvial terá que ser lacrada, de modo que, ao dar descarga no seu banheiro, o sujeito receba o esgoto de volta. Quando isso acontecer ele vai fazer a ligação à rede coletora", acredita.
Inaugurado em 1993, o sistema de esgotos de Canasvieiras não está sendo usado pela maioria dos moradores e donos de estabelecimentos comerciais e de serviços, que trocaram as fossas por ligações na rede pluvial. "É impressionante que isso esteja acontecendo", complementa Tissot. Essa ação, segundo Luiz Carlos Sempre Bom, "precisa ser desenvolvida e existe boa disposição da parte do poder público para fazer isso".
Entretanto, restará outro incômodo a ser eliminado: a execução do projeto de engorda da praia. "Estamos esperando os recursos do Prodetur para que isso aconteça", diz Sempre Bom. Tissot, entretanto, não acredita que isso possa acontecer a curto prazo. "As informações que nos chegam é que os Estados do Paraná e Rio Grande do Sul estão em inadimplência com o banco financiador do Prodetur e por esse motivo Santa Catarina também não pode receber os recursos, pois é um programa regional", salienta. Fica a expectativa de que o governo do Estado possa fazer a obra, "mas numa época em que o funcionalismo público ainda espera pelos salários atrasados, não há clima para investir na engorda de praia", diz Tissot.
Além dos esgotos e da pequena faixa de areia na praia, Canasvieiras enfrenta o desafio da baixa temporada, refletido na média de 10% de ocupação da rede hoteleira da região. Em todo o Norte da Ilha existem cerca de 9 mil leitos disponíveis, dos quais aproximadamente 900 se mantêm ocupados fora do período de verão. "Nos anos anteriores essa ocupação se mantinha em 15%, nas agora desceu para 10%", diz Tarcísio Schmitt. "O custo para manter essas estruturas é maior do que a receita", acrescenta. Isso torna alguns empreendimentos insustentáveis.
Centro de eventos
Uma das alternativas para vencer o desafio é a construção de um centro de eventos no Norte da Ilha, iniciativa defendida por Schmitt e Tissot. "Um centro com capacidade para 400 a 500 pessoas poderia alimentar os hotéis e restaurantes, revigorando o turismo na região", assinala o hoteleiro. O presidente da Acif acrescenta que, além dos eventos, poderiam acontecer "espetáculos musicais de grande porte, com amplas áreas para estacionamentos". Quando isso acontecer, o número de brasileiros residentes em Canasvieiras será muito pequeno, pois a tendência do balneário é se tornar "exclusivo para os visitantes", prevê Tissot. (CM)
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