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domingo, 9 de novembro de 2008
A DEMOGRAFIA DO LIXO
Regiões mais ricas, domicílios unipessoais e residências chefiadas por pessoas com mais de 60 anos são variáveis que configuram estilo de consumo associado a uma produção mais volumosa de lixo doméstico. A relação entre a geração de lixo e uma espécie de perfil demográfico urbano-contemporâneo aparece na dissertação recentemente defendida por Harley Silva, junto ao Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Face.
Foca Lisboa
harley
Harley Silva: áreas mais ricas geram mais material reciclável
O trabalho analisa as relações entre variáveis populacionais e a produção de resíduos sólidos domiciliares em Belo Horizonte, investigando o peso que fatores socioeconômicos (renda e educação) e demográficos (estrutura etária e domiciliar) têm na definição da quantidade e composição dos resíduos gerados em sub-regiões do município.
“Um domicílio unipessoal gera, proporcionalmente, mais lixo do que uma residência com mais pessoas. Não é exatamente o dobro, pois duas pessoas produzem pouco mais lixo do que uma pessoa só. Isso talvez se deva ao tipo de consumo, como refeições de fácil preparo e fast-food, que resultam em grande volume de embalagens”, analisa Harley Silva. O consumo de lixo, segundo ele, é potencializado quando os fatores renda elevada, idade mais avançada e domicílios unipessoais se somam.
Malhas cruzadas
Para chegar a essas conclusões, o pesquisador consultou dados relacionados com a geração de resíduos sólidos da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), responsável pela coleta e sistematização das informações; com a quantidade de lixo produzida em cada distrito de coleta, em uma malha cartográfica digital; e informações da malha digital das chamadas Áreas de Ponderação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao Censo Demográfico do ano 2000. “Consegui, por meio de um pacote de informações georreferenciadas, detectar a quantidade de lixo gerada por diferentes perfis socioeconômicos, cruzando a malha do IBGE com a da SLU”, revela o autor da dissertação.
Além desses dados, um relatório amostral de caracterização dos resíduos, divulgado pela SLU em 2004, serviu de base para a análise da composição do lixo, embora circunscrita ao âmbito das regionais administrativas. Assim, além de estudar a variação da quantidade de lixo produzida por perfil socioeconômico, o pesquisador analisou a composição desses resíduos (recicláveis e orgânicos). Por essa análise é possível verificar que as áreas mais ricas, como Centro-Sul, Buritis/Estoril e Pampulha, estão mais propensas a gerar um volume maior de material reciclável.
Segundo o pesquisador, o padrão de consumo parece ser o aspecto subjacente à relação entre características populacionais e a composição dos resíduos gerados. “À medida que este perfil urbano-contemporâneo difunde-se e se concentra em áreas específicas do município, seu padrão de consumo orientado para o mercado, inclusive de alimentação industrializada, implica aumento relativo da produção de resíduos recicláveis nessas áreas”, esclarece Harley Silva.
No extremo oposto, as áreas mais pobres são compostas, ao mesmo tempo, por população com idade média mais baixa e por domicílios chefiados por indivíduos mais jovens. Essas características estão intimamente ligadas a questões de renda e educação, tendo em vista que pessoas com escolaridade insuficiente tendem, mais cedo, a formar famílias, em geral, numerosas. Assim, a partir da pesquisa, foi verificado que, em regiões periféricas e favelas, a geração per capita de lixo é menor e menos intensa em recicláveis.
Conhecer para gerenciar
Ao revelar a demografia do lixo gerado em Belo Horizonte, o estudo de Harley Silva lança luzes sobre as políticas de gestão dos resíduos urbanos. “É um equívoco pensar que a gestão de resíduos sólidos do futuro é o aterramento. Conhecer a relação do perfil da população que mora em uma determinada região com o tipo de lixo que essa região produz pode ser um insumo importante para a elaboração de modelo sustentável e mais inteligente de gestão de resíduos sólidos”, avalia o pesquisador. Para ele, uma gestão sustentável passa necessariamente pela reciclagem. “Em vez de serem vistos apenas como problema, esses resíduos devem ser encarados como possibilidade de geração de emprego e renda”, conclui.
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FONTE: Dissertação "Aspectos demográficos associados à geração de resíduos sólidos domiciliares no município de Belo Horizonte, 2002"
Autor: Harley Silva, mestre em Demografia pelo CEDEPLAR
Data da defesa: 2 de setembro de 2008
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