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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Papelão é alternativa rápida e limpa na construção civil

O uso deste material reciclável pode revolucionar a construção de casas térreas populares.

O uso do papelão na construção civil pode representar uma alternativa que proporcione mais rapidez na obra, e com um processo mais leve e salubre. Pesquisas com a utilização do produto estão sendo realizadas no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. De acordo com a arquiteta e doutoranda da EESC, Gerusa Salado, estudos com o material já vem sendo desenvolvidos no Japão. “No Brasil esse tipo de pesquisa ainda é inédita”, afirma.

A escolha do material levou em conta critérios como reciclagem e produção de celulose e papelão, uma matéria-prima abundante no Brasil. “O papelão, além do fato de poder ser reciclado várias vezes, não precisa de um grande processo de transformação para a reciclagem. Basta triturá-lo e misturar com água”, descreve Gerusa.

Para testar a eficácia do uso do papelão na construção, os pesquisadores construíram uma célula-teste. Esta “construção experimental”, como foi denominada, possui o formato de um cubo medindo cerca de 3x3x3 metros (m), equivalente a um volume de 27 metros cúbicos (m3). Em uma de suas paredes há uma janela. Na outra, uma porta. Gerusa explica que as outras duas paredes são “paredes cegas”, ou seja, sem qualquer tipo de abertura. Inicialmente, a pesquisadora desenvolveu na célula-teste as vedações, que são o objeto principal de sua pesquisa.

No seu trabalho de doutorado, Gerusa conseguiu construir uma parede de 1 m linear , com tubos de 10 cm de diâmetro, sem resina ou impermeabilizantes. A estrutura, segundo ela, resistiu até 5,0 toneladas. Utilizando a resina impermeabilizante, a mesma estrutura teve sua resistência aumentada, suportando até 6,0 toneladas. Esta mesma resina, também, torna o material resistente às chuvas e à umidade. “Nossa construção experimental (célula-teste) tem resistido a todas as fortes chuvas desses últimos tempos”, conta a pesquisadora.

Em relação ao fogo, ela alerta que o material ainda precisa ser avaliado em relação ao tempo que o papelão pode levar para ser incinerado e se o fogo pode se extinguir sozinho, os testes são realizados em laboratório e seguem normas técnicas nacionais e/ou internacionais. “Sabemos que todos os materiais de construção são passíveis ao fogo, mas neste caso, precisamos averiguar se o tempo de propagação de um incêndio acidental possibilita que os usuários desocupem a edificação”, diz Gerusa.

O estudos realizados já têm dado frutos, segundo a pesquisadora. “Já é certeza que a estrutura poderá ser aplicada em edificações térreas”. O intuito das investigações, segundo Gerusa, é que a estrutura possa vir a ser utilizada para habitações ou não, além de outros tipos de construções como edifícios, como uma possibilidade de substituição de materiais de alvenaria.

Vantagens
Entre as principais vantagens na utilização do papelão na construção civil, Gerusa destaca o uso de uma fundação apenas superficial e não subterrânea, pois a construção é leve. A construção de imóveis com este material é bem mais rápida do que os métodos convencionais porque é feita num sistema construtivo pré-fabricado. “Além disso, os tubos de papelão são ocos, facilitando a instalação dos sistemas hidráulicos e elétricos, não havendo necessidade de quebrar paredes. Todo o processo é limpo e salubre podendo ser desmontado e remontado a qualquer tempo”, garante a pesquisadora.

O custo de uma parede de papelão em relação à de alvenaria convencional por enquanto é proporcional, mas Gerusa lembra de alguns fatores que podem torná-lo um potencial material concorrente à alvenaria, como impostos adequados a construção civil, produção não só dos tubos, mas também de módulos pré-fabricados em larga escala.

A pesquisa de doutorado é orientada pelo professor Eduvaldo Paulo Sichieri e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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FONTE : Reportagem de Sandra O. Monteiro, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 29/12/2010.

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