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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

2010, o ano selvagem: Desastres naturais mataram 260 mil pessoas

Este foi o ano em que a Terra deu o troco. Terremotos, ondas de calor e frio extremos, enchentes, vulcões, supertufões, desmoronamentos e secas mataram pelo menos 260 mil pessoas em 2010 – ano mais letal em uma geração, mostra levantamento da AP. Os desastres naturais mataram mais em 2010 do que os ataques terroristas dos últimos 40 anos combinados.

- A expressão “o desastre do século” perdeu o sentido em 2010, pois houve muitos desastres assim – disse Craig Fugate, diretor da Agência de Gerenciamento de Desastres dos EUA. Reportagem de Seth Borenstein e Julie Reed Bell, da Associated Press, em O Globo.

Segundo cientistas e especialistas em desastres naturais, o ser humano deve culpar a si mesmo, e não a natureza, na maioria dos casos. Construções precárias conspiraram para tornar terremotos mais letais do que deveriam. Mais pessoas vivem hoje na pobreza em construções vulneráveis de cidades superpovoadas. Isso significa que, quando a terra treme, um rio transborda ou uma grande tempestade acontece, mais gente morre.

- Desastres geológicos, como terremotos, são fenômenos regulares. Todas as mudanças são causadas pelo homem – disse Andreas Schraft, vicepresidente de análise de risco de catástrofes da seguradora Swiss Re.

O terremoto que em janeiro matou mais de 220 mil pessoas no Haiti é o exemplo perfeito. Port-au-Prince tinha três vezes mais habitantes – quase todos pobres – do que há 25 anos. Se o mesmo sismo tivesse ocorrido em 1985 em vez de 2010, o número de mortos provavelmente teria sido cerca de 80 mil, disse Richard Olson, diretor do Departamento de Redução de Riscos em Desastres da Universidade Internacional da Flórida.

Em fevereiro, um terremoto 500 vezes mais forte do que o do Haiti atingiu uma área bem menos pobre e povoada do Chile e menos de mil pessoas morreram.

Calor opressivo e frio polar

Cientistas destacam que o clima também está em transformação devido ao aquecimento global. O resultado são mais fenômenos extremos, como ondas de frio e calor.

No verão passado do Hemisfério Norte, um sistema climático poderoso causou uma onda de calor escorchante na Rússia e enchentes devastadoras no Paquistão, que cobriram mais de 160 mil quilômetros quadrados, ou mais de três vezes a área do estado do Rio de Janeiro. Só esse sistema de calor e tempestades matou 17 mil pessoas, mais do que a soma de todos acidentes aéreos do mundo nos últimos 15 anos.

- É um tipo de suicídio. Construímos casas que nos matam (em terremotos), erguemos habitações em áreas de inundações e depois nos afogamos – argumenta Roger Bilham, professor de Geologia da Universidade do Colorado. – É nossa culpa não prever tais coisas, que são a Terra fazendo o que ela faz.

E ninguém pode classificar melhor a situação do que Vera Savinova, administradora de uma clínica odontológica, que em agosto usava uma máscara para se proteger da fumaça causada pelos incêndios florestais em uma Moscou calorenta:

- Nosso planeta está nos alertando sobre o que pode acontecer se não tomarmos conta da natureza.

O grande número de fenômenos climáticos extremos em 2010 é um sinal clássico do aquecimento global causado pelo homem sobre o qual os cientistas tanto avisaram. Eles calculam que a onda de calor russa – que estabeleceu novo recorde nacional de 43,88 graus Celsius – aconteceria apenas uma vez a cada 100 mil anos se não fosse o aquecimento global. Dados preliminares mostram ainda que outros 18 países registraram os dias mais quentes de sua história.

- Esses fenômenos não aconteceriam sem o aquecimento global – diz Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA.

É por isso que muitos dos que estudam desastres naturais para ganhar a vida dizem que é um erro classificar 2010 só como um ano ruim qualquer.

- A Terra se vinga associada às más decisões do homem – diz Debarati Guha Sapir, diretor do Centro de Pesquisas Epidemiológicas em Desastres da Organização Mundial da Saúde. – É como se todas as políticas governamentais ou para o desenvolvimento estivessem ajudando a Terra a se vingar ao invés de nos protegerem dela. Criamos as condições para que qualquer pequena coisa que a Terra faça tenha um impacto desproporcional.

Doze meses de fúria da Terra

Veja porque 2010 está sendo apontado como o ano em que a Terra decidiu se vingar da Humanidade.

* MORTES: Segundo a empresa de seguros Swiss Re, até 30 de novembro os desastres naturais mataram mais de 260 mil pessoas este ano, contra 15 mil em 2009. O número é um pouco maior do que o contabilizado pela Organização Mundial da Saúde, que calcula cerca de 250 mil mortes mas não atualiza seus dados desde 30 de setembro. Já a organização não-governamental Oxfam afirma que pelo menos 21 mil mortes foram causadas pelo clima este ano. A título de comparação, as mortes por ataques terroristas totalizaram menos de 115 mil entre 1968 e 2009, segundo o Departamento de Estado dos EUA e o Laboratório Nacional Lawrence Livermore. O último ano em que desastres naturais mataram tanta gente foi 1983, quando uma grande seca atingiu a Etiópia e matou de fome centenas de milhares de pessoas.

* TERREMOTOS: Além do Haiti e Chile, grandes tremores atingiram Turquia, China e Indonésia, fazendo deste um dos anos de maior atividade sísmica nas últimas décadas. Até meados de dezembro, foram registrados 20 terremotos de grande magnitude, contra uma média anual de 16, fazendo de 2010 o ano com maior número de tremores devastadores desde 1970.

* INUNDAÇÕES: Até setembro, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, enchentes mataram mais de 6,3 mil pessoas em 59 países. As nações inundadas incluem Paquistão, China, Itália, Índia, Colômbia e Chade. Com ventos de mais de 320 quilômetros por hora, o supertufão Megi devastou as Filipinas e parte da China.

* EXTREMOS: No começo de 2010, fortes nevascas paralisaram os EUA e causaram precipitações recordes de neve na Rússia e na China. Depois disso, porém, a temperatura começou a ferver. Este ano deverá terminar como o mais quente já registrado na História ou pelo menos um dos três mais quentes, ao lado de 1998 e 2005, afirma a Organização Meteorológica Mundial. A temperatura média global estava em 14,74 graus Celsius no somatório realizado até o fim de outubro, um pouco acima do recorde anterior de 2005, informou o Centro Nacional de Dados Climáticos dos EUA. Lá, a cidade de Los Angeles registrou o dia mais quente de sua história em 27 de setembro: 45 graus Celsius. Já em maio os termômetros atingiram quase 54 graus Celsius no Paquistão, a temperatura mais alta já registrada em uma região habitada. De volta aos EUA, o ano começou com geadas na Flórida que fez iguanas entrarem em coma e caírem de árvores. Assim como no resto do país, após isso as temperaturas não pararam de subir e o estado americano teve o verão mais quente de sua história. E agora, no fim do ano, o frio está de volta com toda força. O norte da Austrália, por sua vez, teve o período de maio a outubro mais úmido já registrado, enquanto o sudoeste do país enfrentou uma seca recorde. A falta de chuvas também provocou um cenário pouco comum na bacia do Rio Amazonas, com as águas atingindo o nível mais baixo da história em algumas regiões.

* CUSTOS: Os desastres naturais causaram prejuízos de US$ 222 bilhões em 2010, contabiliza a Swiss Re. É um pouco mais que o normal mas ainda assim não é um recorde porque muitos deles atingiram regiões pobres, como o Haiti.

* BIZARRO: A erupção de um vulcão sob uma geleira na Islândia paralisou o tráfego aéreo da Europa durante vários dias. Já Nova York registrou um raro tornado, enquanto uma pedra de granizo de quase um quilo e 20 centímetros de diâmetro despencou do céu no estado de Dakota do Sul. Em um período de apenas 24 horas em outubro a Indonésia foi atingida por três grandes desastres: um terremoto de magnitude 7,7; uma tsunami que matou mais de 500 pessoas; e a erupção de um vulcão que provocou a fuga de outras 390 mil.
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FONTE : EcoDebate, 22/12/2010

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