Qual a contribuição do Brasil para o Efeito Estufa pela emissão de gás carbônico na atmosfera terrestre? Acusado de ser um grande emissor, o Brasil está entre os que poucos contribuem com o fenômeno, segundo os novos dados apresentados pela Energy Information Administration dos EUA1 e pelo Balanço Energético Nacional 2010 – Ano Base 20092.
Em termos absolutos, o mundo emitiu 31,5 bilhões de toneladas de CO2 de origem fóssil em 2008. A China respondeu por 21% das emissões mundiais (6,5 bilhões de toneladas), seguida pelos Estados Unidos (19%), Rússia (5,5%), Índia (4,8%) e Japão (3,9%). Esses cinco países representam 53,4% das emissões planetárias. A China aumentou suas emissões em praticamente um bilhão de toneladas entre 2005 e 2008! O Brasil, com 428 milhões de toneladas anuais, ficou em 17º lugar (1,4%), bem atrás da Alemanha, Canadá, Inglaterra, Irã, Itália, África do Sul, Austrália, México, Indonésia e outros.
A Austrália e os Estados Unidos são líderes da emissão de CO2 por habitante/ano: 20,3 e 19,9 toneladas e só perdem para alguns países produtores de petróleo como Qatar (74 t) ou Emirados Árabes (43t). Em seguida vêm o Canadá (17,9 t), a Holanda (17 t), a Estônia (16 t), a Bélgica (14,9 t) e a Rússia (11,7t). Com 17 t, a Holanda é uma das campeãs européias das emissões por habitante.
E o Brasil? Cada brasileiro emite 2,1 toneladas de CO2 por ano. Não basta plantar apenas duas ou três árvores por pessoa para retirar esse carbono da atmosfera. Mas emitimos dez vezes menos do que australianos e norte-americanos, quatro vezes menos do que os europeus e metade da média mundial. Ocupamos a posição de 86º no mundo, muito atrás, de muita gente.
O quociente entre o total de toneladas CO2 emitidas por um país e seu Produto Interno Bruto (PIB) dá uma medida da eficiência energética e ambiental das economias nacionais na geração de riquezas. A grosso modo, quanto mais eficiente o país, menor o número. Dada a variação da cotação do dólar entre países, o PIB foi calculado em função do poder de compra das moedas nacionais, o chamado Purchasing Power Parities (PPP). Os campeões de emissões de CO2 para gerar riquezas são Coréia do Sul (1,45), África do Sul (1,38), Cuba (1,34) e Ucrânia (1,2). O Brasil, com um quociente de 0,24 é mais eficiente do que uma centena de países no mundo: ocupamos a posição de 104.
Mas qual seria a posição do Brasil entre os emissores de CO2, caso às emissões de origem fóssil fossem agregadas as resultantes dos desmatamentos e queimadas? Quem afirma que o Brasil ocuparia o quarto lugar é no mínimo desonesto. Isso significaria agregar mais de um bilhão de toneladas de CO2 às nossas emissões anuais. Ninguém sabe exatamente qual seria a posição do Brasil por duas razões.
Em primeiro lugar, o país não dispõe de uma avaliação criteriosa do total de CO2 emitido anualmente como resultado de desmatamentos e parte das queimadas. O Inventário Brasileiro de Emissões data de 15 anos e apresenta uma dezena de incorreções. Sequer descontou a madeira industrializada das áreas desmatadas, convertendo tudo em fumaça.
Em segundo lugar, o mesmo cálculo deveria realizado pelos outros países do mundo para ser possível comparar. Anualmente incêndios florestais de grandes proporções ocorrem nos EUA, Canadá, Alasca, Rússia, Austrália, países do Mediterrâneo e em diversos outros. A vegetação é muito comburente (pinheiros e resinosos) e tudo vira cinzas. Acaso a Rússia, por exemplo, incluirá os enormes incêndios do verão passado em suas emissões?
O desmatamento prossegue em diversos países tropicais e temperados. Acaba de ser publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, um estudo planetário, com base em imagens de satélite sobre a perda de florestas ocorrida entre os anos 2000 e 20053. No período, o Brasil perdeu 164.000 km2 e o Canadá 160.000 km2! Em termos percentuais, os EUA perderam 6% de suas florestas (recorde mundial!) e o Canadá 5,25%4. A perda de florestas boreais no período foi de 351.000 km2 contra 272.000 km2 de florestas tropicais! Acaso esses países agregam essas emissões em seus balanços? Não. Agregar emissões dessa natureza ao cálculo do Brasil e compará-lo com as únicas emissões fósseis dos outros países é uma desonestidade. Sem falar do que eles acumularam no passado. A título de exemplo, só para igualar o acumulado das emissões de CO2 pelos países da OCDE, apenas da RIO-92 para cá, o Brasil levaria mais de 450 anos.
O que explica esse excelente desempenho ambiental do Brasil é sua matriz energética: 47,3% de energia renovável contra uma média mundial inferior de 18,6% e de apenas 7,2% de energia renovável nos países membros da OCDE. A agricultura brasileira garante 32,9% dessa energia renovável. Em 2009, segundo o Balanço Energético Nacional, só a cana-de-açúcar, com o etanol e a cogeração de energia elétrica, contribui com 18,1% na matriz, mais do que todas hidroelétricas juntas (15,3%). Poucos países possuem uma economia de tão baixo carbono como a nossa. Existe uma vitimização do País e de sua agricultura nesse tema, cultivada aqui e no exterior. O excepcional desempenho energético e ambiental do Brasil e de sua agricultura não é uma licença para aumentar de forma irresponsável as emissões de CO2, mas nesse tema estamos mais para vítimas do que para réus.
Notas:
1 - IEA: http://tonto.eia.doe.gov/cfapps/ipdbproject/IEDIndex3.cfm?tid=90&pid=44&aid=8
2 - https://ben.epe.gov.br/
3 - http://www.pnas.org/content/early/2010/04/07/0912668107
4 - http://news.mongabay.com/2010/0427-hance_forestloss.html
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FONTE : Evaristo Eduardo de Miranda é doutor em ecologia, pesquisador da Embrapa.
**Este texto é parte integrante da revista ECO 21, edição 168, de novembro de 2010. Para conhecer acesse http://www.eco21.com.br/. Para assinar acesse http://www.eco21.com.br/assinaturas/assinaturas.asp.(Envolverde/ECO 21)
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