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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A moda extermina os tigres asiáticos

O animal nacional de vários países asiáticos, que dá nome aos mais diversos produtos e ocupa um lugar de destaque na mitologia regional, pode ser extinto antes do próximo ano chinês do tigre, em 2022, alertam conservacionistas. É necessário deter o mercado negro na fronteira comum entre Myanmar, Tailândia e China, onde existe um comércio ilegal de tigres e outras espécies em perigo, afirmam várias organizações conservacionistas.

“O comércio ilegal é a ameaça imediata que coloca em risco a sobrevivência dos tigres”, disse William Schaedla, diretor regional da Traffic Sudeste Asiático, que participou do Fórum Internacional do Tigre, que acontece na cidade russa de São Petesburgo. O Fórum, que começou no dia 21 e termina hoje, é o encontro de maior nível político já dedicado a uma única espécie.

O contrabando “também deixa em risco outros grandes felinos da Ásia. A legislação de Myanmar e Tailândia proíbe claramente o tráfico de tigres e outros grandes felinos. Pedimos urgência às autoridades na aplicação de todo o peso da lei sobre os traficantes”, acrescentou William.

A Traffic Sudeste Asiático apresentou, no dia 19, o estudo “Comércio de Grandes Felinos em Myanmar e Tailândia”, realizado em colaboração com o Programa para o Grande Mekong do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). A pesquisa, que durou dez anos, concentrou-se no mercado negro de diferentes partes do corpo de aproximadamente 400 felinos selvagens desses dois países.

O informe está acompanhado do documentário “Closing Deadly Gateway” (Fechando a Porta Mortal), com entrevistas com caçadores ilegais e imagens arrepiantes de tigres descarnados. “Com apenas 3.200 exemplares no mundo, o comércio em grande escala denunciado no estudo não pode ser ignorado”, insistiu William.

Os mercados e postos de venda direta no povoado de Mong La, em Myanmar, perto da fronteira com a China, e no de Tachilek, na fronteira com a Tailândia, funcionaram como pivô na distribuição em grande escala de peles, ossos, patas, pênis e dentes de felinos, diz o estudo da Traffic.

As legendárias bravura e majestade do tigre, o fazem desaparecer. O consumo começou motivado pela “medicina popular”, aumentou às custas da “prosperidade e da nova riqueza existente na Ásia, de pessoas que escolhem esses produtos como se fossem a nova tendência da moda”, alerta o estudo.

“É preciso adotar medidas urgentes na região para salvar a minguante população de tigres”, afirmou Peter Cutter, coordenador de conservação de felinos da região do Grande Mekong, na Tailândia. “Deve-se melhorar a coleta de dados e garantir que o governo e organizações não governamentais compartilhem informações de forma transparente e oportuna em nível local e regional”, acrescentou.

A população de tigres na região do Rio Mekong (Myanmar, sudoeste da China, Camboja, Laos, Tailândia e Vietnã) diminuiu drasticamente, de 1.200 exemplares no Ano do Tigre, em 1998, para 350 atualmente.

“O meio ambiente entre Myanmar e Tailândia abriga as maiores esperanças para recuperar a população de tigres na região, o que é alarmante” devido à situação, disse Peter. “Porém, só se conseguirá se forem feitos esforços coordenados sem precedentes para enfrentar o comércio ilegal”, acrescentou.

“Um aspecto importante para poder salvar os exemplares selvagens é liquidar o comércio ilegal de partes de seu corpo”, disse, por sua vez, Michael Baltzer, diretor da iniciativa Tigres Vivos, da WWF. “Este aumento deve estar no centro das negociações”, acrescentou no Fórum na Rússia.

Os últimos estudos mostram como prospera o comércio de tigres e outros animais selvagens, através de Myanmar, apesar das leis nacionais e internacionais que o proíbem. A maior parte desta atividade ocorre em áreas não controladas pelo governo, entre o Norte desse país e o Sul da China, o que dificulta a coordenação de medidas para deter os problemas.

O Fórum da Rússia pretende reunir apoio para conseguir duplicar a população de tigres selvagens até 2022, formar um consórcio internacional para combater os crimes contra a vida silvestre, e receber doações para reforçar o controle nos 13 países onde hoje existem exemplares: Bangladesh, Butão, Myanmar, Camboja, China, Índia, Indonésia, Laos, Malásia, Nepal, Rússia, Tailândia e Vietnã.

“Um burocrata pode fazer a diferença, um bom funcionário pode fazer a diferença em nível local, um diretor de parques excelente que saiba o que fazer pode representar uma grande diferença”, insistiu o conservacionista Valmik Thapar, no documentário Clossing Deadly Gateway. Contudo, “onde estão? Por que são tão poucos e estão tão distantes? Estamos esperando”, acrescentou.

“Não acredito que erradicaremos o tráfico de tigres, mas devemos desbaratá-lo. Eliminando os grandes traficantes conseguiremos isso”, disse William. Na Malásia, “estão pelo menos mais dois” grandes traficantes, além de Anson Wong, condenado a seis meses de prisão em setembro e obrigado a pagar multa de US$ 61,3 mil por exportar ilegalmente 95 giboias constritoras, informou. As autoridades da Malásia confiscaram em outubro dois tigres de Bengala que o traficante mantinha em sua fazenda no Estado de Penang.

O contrabando, o comércio ilegal e a urbanização levaram à extinção de três das nove subespécies de tigres, o de Bali, o de Java e o do Cáspio ou persa, no Século 20. O tigre do Sul da China, antepassado comum de todas as subespécies, está funcionalmente extinto, restando pouquíssimos exemplares em cativeiro.
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FONTE : Stanislaus Jude Chan, da IPS (Envolverde/IPS).

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