No Distrito Florestal da BR-163, onde o impacto da ação humana é realidade inconteste, pesquisadores do Goeldi identificaram 50 espécies de mamíferos de médio e grande porte, dentre os quais oito constam da lista de ameaçados de extinção.
Agência Museu Goeldi - De acordo com a pesquisa sobre os impactos da ocupação e exploração de recursos naturais, “mesmo uma lista incompleta de mamíferos pode ser muito valiosa para orientar as decisões de manejo, uma vez que as populações de mamíferos de grande porte são as que mais necessitam de manejo”.
Avaliar a dinâmica populacional da fauna de uma região no processo de exploração dos recursos naturais pode gerar subsídios diretos para a elaboração de estratégias de conservação e uso racional de tais recursos. Com interações e dependências diversas em ambientes de floresta tropical, mamíferos de médio e grande porte apresentam respostas concretas sobre a influência dos diferentes distúrbios ambientais na manutenção de populações saudáveis na natureza.
Para analisar a relação entre mamíferos e as populações humanas da região do Distrito Florestal Sustentável da BR-163, a Santarém-Cuiabá, o biólogo André Ravetta da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, orientado pela pesquisadora Ana Albernaz, desenvolve o estudo “Padrões de Distribuição e Abundância dos médios e grandes mamíferos no Distrito Florestal Sustentável (DFS) da BR-163” vinculado ao Projeto de Integração dos Programas do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Embrapa na Amazônia (PIME).
Segundo Ravetta, “a pesquisa tem como objetivo caracterizar comunidades de mamíferos de médio e grande porte do Distrito Florestal Sustentável da BR-163”. Além disso, “o estudo avalia a viabilidade das populações [de mamíferos] diante do processo de exploração florestal na região”, informa o biólogo.
A realização de levantamentos populacionais de mamíferos é uma técnica utilizada para gerar estimativas de abundância das espécies que funcionam como um termômetro para avaliar os impactos da exploração madeireira. Devido a suas relações diretas com a floresta e por sua sensibilidade elevada às alterações do habitat por pressões humanas, os médios e grandes mamíferos representam um parâmetro para avaliar os efeitos da exploração dos recursos em ambientes florestais.
Criado em fevereiro de 2006 e localizado na região Oeste do Estado do Pará, o Distrito Florestal da BR-163 compreende pouco mais de 19 milhões de hectares que se estendem pelo eixo da BR-163 (Santarém-Cuiabá), de Santarém à Castelo dos Sonhos, e pelo eixo da BR-230 (Transamazônica), de Jacareacanga a Trairão.
Trata-se de um grande mosaico de ambientes e unidades de conservação, distribuídos em paisagens com níveis distintos de interferência humana. Isso permitiu à pesquisa de André Ravetta a distribuição de amostras entre diferentes tipos de ambientes e níveis de exploração. Durante os trabalhos de campo foram registradas 50 espécies: dois marsupiais, dois tamanduás, quatro tatus, 17 primatas, 12 carnívoros, cinco ungulados e oito roedores.
Resultados - Baseado na classificação da International Union for Conservation of Nature (IUCN - União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), a pesquisa desenvolvida por André Ravetta registrou oito espécies integrantes da Lista Vermelha da IUCN. Dentre os ameaçados estão: o coatá-da-testa-branca (Ateles marginatus); coatá preto (Ateles chamek); cuxiú de nariz-branco (Chiropotes albinasus); e o macaco barrigudo (Lagothrix cana). Já na categoria de vulnerável constam o guariba (Alouatta discolor); souim branco (Mico leucippe); tatu canastra (Priodontes maximus); e a anta (Tapirus terrestris).
Ravetta observou ainda que a onça pintada (Panthera onca), embora não seja alvo de caçadores para alimentação, costuma ser perseguida nas proximidades de vilarejos devido aos ataques a criações de gado e a animais domesticados. Além disso, como espécie que prefere áreas florestais em bom estado de conservação, as onças também são afetadas pela exploração madeireira e pelo desmatamento.
As diferenças encontradas na dinâmica populacional dos mamíferos analisados no estudo servirão de parâmetro para subsidiar o ordenamento territorial e definir as áreas mais críticas para a conservação dentro do DFS da BR-163, além de estimar a quantidade de animais por espécie que podem ser removidos de maneira sustentável.
Lista Vermelha
A Lista Vermelha foi criada em 1963 pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), para classificar as espécies ameaçadas de extinção e constitui um dos inventários mais detalhados do mundo sobre o estado de conservação mundial de várias espécie de plantas, animais, fungos e protistas. A IUCN reavalia as categorias das espécies que estão na lista periodicamente.
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FONTE : Lucila Vilar, do Museu Emílio Goeldi (Envolverde/Museu Emílio Goeldi)
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