Crise ambiental é mais grave que a financeira, diz francês.
Estudioso resume a história econômica e propõe uma revolução ecológica.
Na algaravia de interpretações e obras de divulgação econômica que se seguiu à crise de 2008 e 2009, "A Prosperidade do Vício", de Daniel Cohen, se destaca.
O leitor interessado nos meandros das inovações do "shadow banking system" ou no debate sobre as razões últimas da crise deve procurar outro livro na estante.
A "débâcle" financeira suscitou uma curiosidade maior sobre o funcionamento e a história da economia, e é nesse contexto que se insere "A Prosperidade do Vício".
Mas não é exatamente do último ciclo de crescimento e recessão que se ocupa a obra.
O professor da École Normale Supérieure prefere dar um passo atrás -ou vários- e inserir o momento atual em uma análise de longa duração histórica.
Longuíssima duração, na verdade. A ambição do pequeno volume é narrar uma história econômica da humanidade que começa antes mesmo da invenção da agricultura -ocorrida, nas palavras irônicas do autor, "há apenas 10 mil anos".
Mas que chega, em menos de 200 páginas, ao "novo capitalismo financeiro" das últimas décadas e à impressionante ascensão chinesa. Cohen procura demarcar momentos decisivos nesse arco de tempo gigantesco. E apresenta ao leitor a lógica e os argumentos das diferentes explicações teóricas que cada um deles suscitou.
O que veio antes: o sedentarismo ou a agricultura? O autor não responde à pergunta de forma definitiva, mas descreve instigantes modelos especulativos que defendem a precedência de um ou de outro.
Outro marco divisório aparece no final do século 18, com a superação da "lei de Malthus". Até o advento da Revolução Industrial, o crescimento econômico engendrava seus próprios limites.
O aumento da população dele decorrente não era acompanhado de ganhos similares na produtividade da agricultura. Uma fração maior de pessoas se alimentava mal. Fome, doenças e guerras reduziam novamente o contingente populacional, a capacidade de produzir e o crescimento.
NOVO LIMITE
Desde o século 19, esse limite foi superado. A indústria e ganhos de produtividade inéditos na agricultura se espalharam pelo mundo.
Mas o espectro de um teto ao crescimento volta a rondar a humanidade, segundo a narrativa de Cohen.
A "crise ecológica", a impossibilidade de "a riqueza saída das entranhas do planeta" ser multiplicada para atender ao crescente nível de consumo em países como China e Índia impõem restrições, diz o autor.
Cohen compara esse possível limite futuro com a longa vigência da "lei de Malthus". Teria sido esse breve intervalo de dois séculos de crescimento desimpedido, desde a Revolução Industrial, uma exceção? Ou uma mudança definitiva de padrão? O autor não responde.
LIVRO : A prosperidade do vício
Autor : Daniel Cohen
Tradução : Wandyr Hagge
Editora Zahar
Quanto custa : R$ 34 (200 págs.)
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FONTE : Rafael Cariello (Editorialista da Folha de SP, edição de 6/11/2010).
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