O estaleiro da empresa OSX não será mais instalado em Santa Catarina.
No início da noite de terça-feira, a empresa anunciou que vai implantá-lo no Porto do Açu, litoral do Rio de Janeiro. Com a decisão do empresário Eike Batista, dono do Grupo EBX, do qual a OSX é uma subsidiária, o Estado deixará de receber um investimento privado de mais de R$ 2,5 bilhões, com potencial para gerar algo em torno de 14 mil empregos. Além disso, atraídos pela força de um projeto de tamanho porte, investimentos no entorno criariam outras oportunidades de trabalho e empreendedorismo. Adicionalmente, o polo metalmecânico já instalado no Estado veria alargadas as possibilidades de mercado para a sua produção. E haveria, ainda, um efeito positivo no meio acadêmico, pela possibilidade de parcerias e implantação de equipamentos de ensino e pesquisa na promissora área naval.
O desfile de opções de incremento na geração de empregos e impostos e o efeito multiplicador do empreendimento em outras áreas, por si só, dão a dimensão do que Santa Catarina perde – ou deixa de ganhar – com a desistência da OSX. Ainda que houvesse em torno do empreendimento uma interrogação de natureza ambiental, sobre se o local escolhido em Biguaçu, na Grande Florianópolis, poderia receber este tipo de operação, é uma atitude madura e de bom senso refletir sobre o episódio e tirar lições que, no futuro, encaminhem uma discussão desta natureza a um desfecho mais adequado – aquele que respeite restrições ambientais, mas, ao mesmo tempo, não mande aos agentes econômicos a mensagem de que Santa Catarina é refratária ou está despreparada para o debate sobre modelos de desenvolvimento e crescimento.
É a hora da autocrítica. De avaliar, por exemplo, se o impasse ambiental foi suficientemente debatido ou se, pela intervenção açodada de alguns segmentos, acabou matando na origem uma proposta que teria um efeito econômico virtuoso para o Estado. De analisar a conduta de setores que, antes que o tema lhes chegasse às mãos, manifestaram pontos de vista precoces, anunciando batalhas jurídicas intermináveis que emperrariam o projeto. Momento de considerar se as lideranças políticas e empresariais do Estado fizeram tudo o que precisava ser feito – no momento certo e nos gabinetes certos – para que interesses divergentes pudessem ser conciliados.
Cabe, também, uma análise da lentidão com que o caso foi tratado, gerando no investidor incertezas de toda ordem e o inspirando na busca de um plano B para implantar o empreendimento. Nesta etapa, a análise transcende a esfera estadual e chega aos órgãos ambientais federais, que não conseguiram se entender entre eles próprios e se posicionar de maneira clara e rápida. É preciso se perguntar até quando projetos críticos para a sociedade ficarão travados nos escaninhos da burocracia, até que se tornem inviáveis ou sejam superados por novas alternativas.
Resta por fim, para Santa Catarina, uma análise de qual modelo de desenvolvimento pretende seguir para não parar no tempo, enquanto outros estados surfam na onda do crescimento econômico do país, impulsionado por novidades como o pré-sal. O Estado está de portas fechadas para novos investidores e novos elos na cadeia produtiva? Após ter ficado de fora da expansão da indústria automobilística, na virada desta década, também vai refugar outras oportunidades? Especificamente na Grande Florianópolis, se a aposta é no turismo, quando este tema terá o adequado cuidado e deixará de enfrentar impasses, como a inexistência de uma prosaica marina na Capital?
Buscar respostas para tantas interrogações é o mínimo que se pode esperar dos agentes que tiveram algum tipo de protagonismo no episódio. Ou se aprofunda este debate ou só restarão o lamento pela perda econômica e a interrogação sobre se o obstáculo ambiental era mesmo intransponível, a ponto de afugentar uma oportunidade rara de desenvolvimento.
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FONTE : editorial do Diário Catarinense, edião de 19/11/2010.
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