A irrigação por gotejamento e pressão são luxos necessários para a agricultura mexicana submetida ao aquecimento global.
Cidade do México, México, 15 de novembro (Terramérica).- Sem financiamento, muitos agricultores não podem melhorar seus antigos sistemas de irrigação, o que é fundamental para que o agro do México suporte os efeitos da mudança climática e diminua sua contribuição de gases causadores do efeito estufa. Irrigar por gotejamento ou pressão são opções modernas e de consumo reduzido.
Contudo, estes “novos sistemas são caros. Com eles poderíamos plantar todo o ano e ter mais empregos e mais renda”, disse ao Terramérica o agricultor Oseas Espino, que planta sorgo em 30 hectares do município de Yecapixtla, no Estado de Morelos. Oseas ilustra milhares de casos de pequenos e médios produtores agrícolas que não podem modernizar a irrigação.
O sistema mais usado é por gravidade, mediante equipamentos eletromecânicos, mas “ineficiente no uso de água e eletricidade”, disse ao Terramérica o assessor do Instituto Nacional de Pesquisas Florestais, Agrícolas e Pecuárias, Nemecio Castillo. Da água encanada, 77% é destinada a usos agrícolas. Para a agropecuária existem 118 mil poços, mas as autoridades reabilitaram apenas seis mil deles.
Um poço ineficiente consome por ano cerca de 200 mil metros cúbicos de água e gera 350 toneladas de dióxido de carbono (CO²), um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Um poço operado com técnicas modernas requer a metade de água e reduz a contaminação climática a 98 toneladas anuais de CO², estimam as organizações não governamentais El Barzón e Oxfam México, que defendem um plano para modernizar a irrigação agrícola.
A área plantada mexicana supera os 20 milhões de hectares, mas somente entre 5,3 e 5,5 milhões estão irrigados, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Geografia. As colheitas mais abundantes são de milho, feijão e sorgo, que consomem muita água. O milho – base da tortilla, o alimento tradicional – exige 1.700 metros cúbicos de água por tonelada produzida, segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento Rural, Pesca e Alimentação. E uma tonelada de sorgo requer 1.200 metros cúbicos.
Das 630 mil unidades de produção agrícolas registradas, apenas 16% têm irrigação e somente 12% aplicam técnicas não convencionais, segundo a El Barzón e a Oxfam. Existem 85 distritos de irrigação que ocupam 3,5 milhões de hectares em mãos de 583 mil usuários, sobretudo no centro e norte do país, segundo a Comissão Nacional da Água. Estes distritos necessitam por ano de 30 bilhões de metros cúbicos de água, 90% procedentes de represas e 10% de fontes subterrâneas.
Entre 2000 e 2009, o consumo elétrico agrícola aumentou 17%. O subsídio estatal à compra de energia com este fim, de quase US$ 0,50 por quilowatt, custou este ano cerca de US$ 640 milhões de fundos públicos. Utilizando a gravidade, “um hectare é irrigado em 24 horas, enquanto por gotejamento isto demora de três a quatro horas”, disse ao Terramérica o engenheiro em irrigação José de Santos, formado pela estatal Universidade Autônoma Chapingo.
Segundo a Oxfam e a El Barzón, a combinação de um poço eficiente com a irrigação moderna equivaleria a reduzir em 36% as emissões de CO² e economizar 40% no consumo de energia e 50% no consumo de água. O México é responsável por uma contaminação climática de 715,3 milhões de toneladas de CO², 6% delas procedentes da agropecuária.
Os métodos alternativos ao da gravidade são a irrigação por gotejamento, que faz a água chegar diretamente às raízes por uma rede de tubulações e goteiras, e por pressão, que faz a água fluir por dutos fechados que banham o terreno plantado por meio de aspersores, como se fosse água de chuva direcionada. No entanto, os custos são quase proibitivos para os pequenos e médios produtores: entre US$ 2.250 e US$ 2.500, calcula a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
A estratégia do governo é lenta. O Ministério de Agricultura implementou o Projeto Estratégico Técnico de Irrigação, com orçamento de US$ 52 milhões para este ano e a meta de levar tecnologia a 22 mil hectares e beneficiar 1.500 agricultores. Porém, estes devem aportar outros US$ 4 milhões para comprar os equipamentos. “O custo é muito alto. O problema é que muitos produtores arrendam a terra e aos proprietários não interessa colocar tecnologia nelas”, disse José de Santos.
Desde 2006, a Comissão Nacional da Água modernizou a irrigação de 599 mil hectares, com financiamento de US$ 240 milhões. O objetivo é chegar a 2012 com 1,2 milhão de hectares cobertos. Além disso, “é preciso passar para cultivos que exigem menos água”, como grão-de-bico, hortaliças, frutas e oleaginosas.
“Os produtores devem estar conscientes de que a água é um recurso finito”, disse Nemecio. Em todo caso, não há alternativa à modernização: um hectare rende colheitas de 27,3 toneladas se é regado, contra apenas 7,8 toneladas na semeadura seca. E a mudança climática, alertou o Instituto Nacional de Ecologia, acentuará as secas que já afetam a agricultura mexicana.
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Um milhão de cisternas contra a seca
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Metas do Milênio – Cobertura especial da IPS Notícias, em espanhol
http://www.ipsnoticias.net/_focus/metas_milenio/index.asp
Cientistas apostam na irrigação em arrozais
http://envolverde.com.br/materia.php?cod=82878&edt=33
Instituto Nacional de Estatística e Geografia, em espanhol
http://www.inegi.org.mx/
Comissão Nacional da Água, em espanhol
http://www.cna.gob.mx/
El Barzón, em espanhol
http://www.elbarzon.org/
Oxfam México, em espanhol
http://www.oxfammexico.org/
Instituto Nacional de Pesquisas Florestais, Agrícolas e Pecuárias, em espanhol e inglês
http://www.inifap.gob.mx/
Universidade Autônoma Chapingo, em espanhol
http://www.chapingo.mx/
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, em espanhol, inglês e francês
http://www.fao.org/index_es.htm
Ministério de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento Rural, Pesca e Alimentação, em espanhol e inglês
http://www.sagarpa.gob.mx/Paginas/default.aspx
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FONTE : Emilio Godoy - artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
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