Roberto Freire afirma que dinheiro destinado à construção seria melhor aplicado se empregado em saneamento na região
O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás, Roberto Gonçalves Freire, diz que o Estado não pode admitir a construção da projetada Usina Couto Magalhães no Rio Araguaia.
Em entrevista exclusiva ao Diário da Manhã, Freire afirma que a destruição do Araguaia é inadmissível porque o benefício da energia produzida não compensa o dano ambiental. “O Araguaia tem grande extensão e ainda conserva em suas margens, áreas com a mata original. Essa biodiversidade está ameaçada. A degradação, por meio de grandes obras, vai eliminar praias belíssimas e prejudicar enorme variedade de peixes, aves, répteis e mamíferos. A barragem da usina será capaz de alterar o microclima da região.” Reportagem de Ivair Lima, da editoria de cidades, no Diário da Manhã, GO.
O secretário diz que salvar o Araguaia é missão de todos os goianos. “Eu vou me insurgir contra a construção da Usina de Couto Magalhães e espero que os goianos se levantem juntos. Os riscos são grandes e os benefícios incertos. O Araguaia é um rio novo, de curso ainda não definido. Podem investir muito dinheiro e depois assorear tudo tornando-o um elefante branco.”
A preocupação de Freire é com o futuro do vale do Araguaia. “O dinheiro destinado à construção da usina seria muito melhor aplicado se fosse empregado no saneamento das cidades da região. A verdadeira vocação do rio é o turismo de contemplação. Essa é uma atividade que pode ser sustentável. Preservar o Araguaia é muito melhor para os goianos e todos os brasileiros que construir uma usina que vai representar muito pouco no conjunto da produção de energia elétrica. O Brasil precisa explorar também energia solar e eólica.” A capacidade de produção prevista para a usina é de 150 MW.
Ele avalia a construção de usinas hidrelétricas no Araguaia como um equívoco. “A posição da Agência Nacional de Águas é clara, e luta pela preservação do Araguaia. Como secretário e como cidadão eu sigo essa orientação. As Ongs ambientalistas já se posicionaram contra as usinas.”
A Associação de Exploradores de Cavernas e Elevações (Asce- Guerreiros da Natureza) decidiu refazer a parceria com as Ongs Patrulha Ambiental, Geombiental e Mais Ação para enfrentar a ameaça de construção da usina. “Para retirar as dragas, falamos com o então ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, com todos os secretários de pastas afins, com o Ministério Público, o Departamento Nacional de Produção Mineral, a OAB e Ministério do Trabalho, e conseguimos. Agora, temos a mesma disposição de luta”, diz Antônio Carlos Volpone, diretor de relações públicas da entidade.
A Ong Guerreiros da Natureza, que já se posiciona contra todas as formas de exploração predatória do Araguaia, considera a construção de barragens no rio séria ameaça aos grandes peixes e aos animais que vivem nas margens. “Já avistamos e fotografamos grupos de 44 antas e 22 capivaras. A região da cachoeira é importantíssima para a produção de uma infinidade de animais”, afirma Volpone.
O ambientalista diz que as Ongs vão agir. “Vamos lutar, repetir o trabalho que fizemos há seis anos. Eu fui pessoalmente conversar com o MINISTRO DO MEIO AMBIENTE Sarney Filho e conseguimos, depois de horas de reunião, uma declaração contra a barragem que seria feita nos municípios de Ponte Branca e Torixoréu. “Nunca esqueci que Sarney Filho falou que o Araguaia é um rio de pesca, o dodói dos goianos, e se declarou contra a usina”, lembra.
Os goianos têm o Rio Araguaia como um símbolo. O hábito de acampar em suas margens passa de pai para filho. Os defensores do rio dizem que é explorar recursos naturais de forma sustentada. A Fundação Cultural e Educativa Portal do Araguaia (Funcepar), por meio do Projeto Amigos do Araguaia, promove a limpeza dos rejeitos deixados pelos turistas. Esse tipo de ação tem efeito educativo e conscientiza ribeirinhos e visitantes sobre o uso racional do patrimônio natural. O trabalho de educação ambiental também alcança fazendeiros e empresários estabelecidos próximos ao Araguaia.
O relatório de impacto ambiental do projeto indica que o reservatório cobrirá área total de 9,11 km². É um avanço. Para conseguir os mesmos 150 MW projetados agora, a Eletronorte concluiu, em estudo realizado em 1998, que o lago formado pela barragem cobriria 48,11 km². Se aquele projeto fosse realizado, 79 famílias seriam atingidas. O projeto em curso afetará quatro famílias.
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FONTE : EcoDebate, 15/11/2010
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