Powered By Blogger

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Derretimento de geleiras ameaça biodiversidade

As geleiras do Quirguistão retrocedem em ritmo alarmante devido à mudança climática, alertam cientistas. Isto não só afetará a segurança energética e hídrica deste e de outros países da Ásia central como devastará os ecossitemas. “Os animais e a vegetação não ficarão imunes, e os riscos de algumas espécies desaparecerem serão grandes”, disse à IPS a ambientalista Ilia Domashov, vice-presidente da organização não-governamental BIOM Enviromental, com sede em Bishkek. Mais de 4% (8.400 km²) do território do Quirguistão são geleiras.

O processo natural de liberação de água das geleiras, que derretem no verão e se congelam novamente no inverno, alimenta muitos dos rios e lagos do país. Até 90% da água nos rios do Quirguistão provêm das geleiras, disseram especialistas locais. Este fluxo de água não é importante apenas para as necessidades energéticas e agrícolas, mas também alimenta os ecossistemas interligados, assegurando o habitat de uma flora e fauna variadas.

A biodiversidade do país é uma das maiores da região e se apresenta através de uma variedade de habitats climáticos, que vão desde as geleiras até a ecossistemas temperados e subtropicais. Embora só cubra 0,1% da massa continental mundial, o Quirguistão é lar de 1% das espécies do planeta, segundo informes do governo a agências da Organização das Nações Unidas.

Várias são espécies únicas deste país, incluindo mais de 200 tipos de plantas, mais de três mil invertebrados e 17 vertebrados. O país é lar de alguns dos animais mais raros, como a ovelha Marco Polo, o urso marrom do Himalaia e a cabra montês siberiana, bem como o leopardo de neve – em risco de extinção – cujos habitats estão estreitamente vinculados com as geleiras.

As geleiras são a força motora por trás desses ecossistemas únicos na região, afirmam cientistas. “Pode-se passar de um deserto seco para uma exuberante pastagem verde em uma viagem de apenas duas horas de automóvel. As geleiras são responsáveis por grande parte disso”, afirmou à IPS o cientista Stephan Harrison, professor da Universidade de Exeter (Grã-Bretanha).

Entretanto, cientistas do Quirguistão e de órgãos internacionais de monitoramente climático alertaram que as geleiras estão retrocederam pelo menos 35% no século XX, e o derretimento fica cada vez mais rápido. Segundo o Instituto de Hidroenergia da Academia Nacional de Ciências de Bishkek, as geleiras atualmente retrocedem três vezes mais do que na década de 50. Alguns grupos reportam retrocesso de 50 metros ao ano.

Especialistas locais afirmaram que agora as geleiras têm seus próprios ecossistemas. A água derretida entra no solo, afetando a vegetação, que serve de alimento para os animais das áreas mais altas, alguns dos quais são presa de outros animais. “Alguns estão profundamente conectados com as geleiras, como o leoparto de neve, e serão afetados pelo rápido derretimento. O que acontecerá é que, no curto prazo, o nível de água subterrânea diminuirá, já que as geleiras desaparecerão, e isto terá um impacto nos sistemas ecológicos em torno dos rios”, explicou Domashov, da BIOM.

Há outras sérias ameaças aos ecossistemas derivadas do processo, enquanto as geleiras derretem, grandes depósitos de sedimento se formam nos vales. Isto afeta solo, riso e seus ecossistemas. O derretimento também pode causar grandes inundações, bem como o surgimento de represas naturais formadas pelo rompimento do gelo, enviado letais torrentes de água desde o alto das montanhas e destruindo florestas inteiras.

Também há alertas de especialistas locais de que o derretimento das geleiras, combinado com um aumento previsto nas temperaturas, incentivará a desertificação. Uma das áreas biodiversas mais importantes do país é o lago Issyk-Kul. A 1.600 metros de altitude na cordilheira de Tien-Shan, no norte do Quirguistão, é o segundo maior lago de montanha do mundo.

Nele habitam mais de 20 tipos de peixes, e um grande número de espécies vive nas diversas paisagens à sua volta, desde semidesertos até a cordilheira, lar de mais de quatro mil diferentes espécies de plantas. O lago em si também é importante escala das aves migratórias, e pelo menos 80 mil se reúnem ali no inverno. Mas seu ecossistema também pode estar em risco pelo derretimento de geleiras. As mudanças nos níveis da água na última década são atribuídas a esse derretimento.

Constatou-se tanto um aumento quanto uma queda do nível da água, e algumas espécies foram destruídas por essas mudanças. Os efeitos já são notados pela população. Agricultores afirmam que os rios começaram a secar e as plantas morrem por falta de água. Pastores disseram à imprensa local que já não veem algumas geleiras nas montanhas.
O informe do Quirguistão à Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, divulgado no ano passado, prevê que as geleiras do país retrocederão 95% no próximo século.
*****************************
FONTE : Pavol Stracansky, da IPS/IFEJ. (este artigo é parte de uma série de reportagens sobre biodiversidade produzida por IPS, CGIAR/Bioversity International, IFEJ e Pnuma/CDB, membros da Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável). (IPS/Envolverde).

Nenhum comentário: