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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sistema humanitário está em quebra

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, perante à Assembleia Geral da ONU. Foto: Cia Pak/ONU
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, perante à Assembleia Geral da ONU. Foto: Cia Pak/ONU
Por Thalif Deen, da IPS – 
Nações Unidas, 30/9/2015 – O planeta, politicamente complicado, sofre falta de empatia, afirmou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, em seu discurso na sessão inaugural do debate de alto nível da Assembleia Geral, no dia 28. “Cem milhões de pessoas precisam de assistência humanitária imediata”, ressaltou Ban aos delegados, acrescentando que pelo menos 60 milhões foram obrigadas a abandonar seus lares ou seus países.
A ONU pediu US$ 20 bilhões para enfrentar as necessidades deste ano, seis vezes mais do que há uma década. Mas as exigências continuam sendo maiores do que os fundos existentes, embora os Estados membros tenham sido generosos, destacou Ban. Entretanto, acrescentou, o sistema humanitário “está em quebra”. O secretário-geral afirmou que “não estamos recebendo dinheiro suficiente para salvar suficientes vidas. Temos cerca de metade do que precisamos para ajudar as pessoas no Iraque, Sudão do Sul e Iêmen, e apenas um terço para as da Síria”.
No Iêmen, 21 milhões de pessoas (80% da população) necessitam assistência humanitária. O plano de resposta das Nações Unidas para a Ucrânia só está financiado em 39%, enquanto o pedido de fundos para Gâmbia, onde uma em cada quatro crianças sofre de desnutrição crônica, foi respondido com o silêncio.
Ainda assim, o mundo continua esbanjando milhares de milhões de dólares em gastos com defesa. “Por que é mais fácil encontrar dinheiro para destruir as pessoas e o planeta do que para protegê-las?”, perguntou Ban aos delegados, entre eles representantes das cinco principais potências militares do mundo: China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia.
Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em seu discurso de 45 minutos perante a Assembleia Geral, abrangeu diversos temas. E sua presença na ONU coincidiu com a notícia de que Irã, Iraque, Rússia e Síria formariam uma aliança para lutar contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), apesar de uma coalizão ocidental também travar uma batalha contra essa organização armada.
“Disse antes e repito. Não há espaço para abrigar um culto apocalíptico como o EI, e os Estados Unidos não se desculpam por empregar nossos militares, como parte de uma ampla coalizão, para ir atrás dele”, advertiu Obama. “O fazemos com a determinação de garantir que jamais exista um refúgio seguro para os terroristas que cometem esses crimes. E demonstramos, ao longo de mais de uma década de perseguição incessante à (rede armada) Al Qaeda, que os extremistas não nos sobreviverão”, acrescentou.
O poder armado é necessário, mas não basta para resolver a situação na Síria, afirmou Obama. “A estabilidade duradoura só pode ser garantia quando o povo sírio forjar um acordo para viver junto em paz”, acrescentou, lembrando que os Estados Unidos estão preparados para trabalhar com qualquer nação, inclusive Rússia e Irã, para resolver o conflito. Segundo Obama, “devemos reconhecer que não pode haver, depois de tanto derramamento de sangue, tanta carnificina, um retorno ao status quo anterior à guerra”.
Ray Offenheiser, presidente da Oxfam Estados Unidos, apontou à IPS que Obama mostrou um renovado interesse em participar de um processo de paz para a Síria, com inclusão de Irã e Rússia. “Temos a esperança de que, quando voltar a Washington, seja com a intenção de continuar participando pessoalmente de um processo de paz. Suas palavras são bem-vindas, mas devem estar acompanhadas pela ação”, ressaltou.
Offenheiser enfatizou que “um destino pior do que a morte” é como alguns dos quatro milhões de refugiados sírios descrevem o que se sente ao ver seus povoados e suas cidades desmoronarem pelos ataques com morteiros e bombas de barril. “É necessário com urgência um processo de paz inclusivo, com pressão sobre as partes para que cessem os ataques indiscriminados e permitam maior acesso à assistência humanitária”, recomendou.
“Nos alegra o recente anúncio de Obama de que os Estados Unidos receberão mais refugiados, mas continuamos preocupados com a possibilidade de o ritmo e a magnitude da resposta norte-americana não se aproximar nem de longe. Exortamos Washington a receber ao menos cem mil refugiados sírios no próximo ano fiscal”, afirmou Offenheiser. Os Estados Unidos podem e devem fazer muito mais para oferecer refúgio e segurança aos milhões de sírios deslocados pelo conflito, acrescentou o ativista.
A presidente Dilma Rousseff se referiu, em seu discurso na Assembleia Geral, aos êxitos e fracassos da ONU em seus 70 anos de trajetória. Afirmou que as Nações Unidas ampliaram suas iniciativas, ao incorporar a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluídas questões relacionadas com o ambiente, a erradicação da pobreza, o desenvolvimento social e o acesso a serviços de qualidade.
Questões como os desafios urbanos e as questões de gênero e raça se converteram em uma prioridade, destacou Dilma. Entretanto, a ONU não teve o mesmo êxito no tratamento da segurança coletiva, uma questão que esteve presente nas origens do fórum mundial e que se mantém no centro de suas preocupações, prosseguiu a presidente.
Segundo Dilma Rousseff, a proliferação dos conflitos regionais – alguns com alto potencial destrutivo –, “bem como a expansão do terrorismo – que mata homens, mulheres e crianças, destrói nosso patrimônio comum e desloca milhões de pessoas de suas comunidades – demonstram que a ONU está diante de um grande desafio. Não se pode ser complacente com atos de barbárie como os cometidos pelo chamado EI e por outros grupos associados”.
Essa situação explica, em grande parte, a crise dos refugiados que a humanidade experimenta atualmente, pontuou a presidente. “Uma parte considerável dos homens, mulheres e crianças, que se aventuram perigosamente nas águas do Mediterrâneo e vagam dolorosamente pelos caminhos da Europa, provêm do Oriente Médio e do norte da África, de países cujas instituições estatais foram desestruturadas pela ação militar realizada, contrariando o direito internacional, abrindo espaço para o terrorismo”, destacou Dilma Rousseff. Envolverde/IPS

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