Ainda são faladas no Brasil cerca de 160 línguas indígenas, mas 20% “estão agonizando”
Lideranças indígenas receberam nesta semana os kits do Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas, que tem como objetivo formar pesquisadores indígenas e não indígenas, além de criar arquivos digitais e centros de documentação nas aldeias e no museu. O programa é uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Museu do Índio e a Unesco no Brasil.
O material será distribuído para as comunidades e escolas indígenas, como fonte de pesquisa e aprendizagem. O trabalho de registro e salvaguarda do patrimônio cultural indígena durou sete anos e envolveu 30 mil indígenas de 35 etnias e 14 estados.
Trabalharam no projeto 200 pesquisadores, que fizeram 331 oficinas e produziram 70 mil fotografias digitais, 1,6 mil horas de filmagem e 425 horas de gravações em áudio. O produto final rendeu 32 filmes, 42 publicações, 14 dossiês linguísticos, 30 galerias virtuais e 25 exposições temporárias.
De acordo com a coordenadora do projeto, professora de linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Bruna Franchetto, ainda são faladas no Brasil cerca de 160 línguas indígenas, mas 20% “estão agonizando”, já que não são mais passadas de uma geração para outra.
As línguas são veículos de culturas, de conhecimentos riquíssimos. Então, nós temos essa responsabilidade enorme, que pesa nos ombros, para manter esse patrimônio, que é patrimônio do país e da humanidade”, ressalta.
Para o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o trabalho mostra a força da cultura indígena como parte integrante do Brasil: “Isso desconstrói um pouco uma hierarquia cultural que o Brasil construiu, onde coloca os índios numa invisibilidade ou numa secundariedade. Então, eu acho que é muito importante, principalmente nesse momento que nós estamos vivendo”, diz o ministro, referindo-se aos conflitos fundiários no Mato Grosso do Sul.
A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, ressalta que as línguas indígenas são um patrimônio da humanidade e precisam ser preservadas, em uma luta pelos direitos humanos e pela diversidade: “Neste mundo de globalização e conectividade, estamos cometendo um crime se não nos esforçamos para proteger a diversidade cultural da humanidade criada com a engenhosidade de muitas mulheres e homens”.
Preservação
Líder da nação kayapó, Akiaboro Kayapó, de Moikaraku, no Pará, considera o projeto importante: “São os próprios índios que estão fazendo [a pesquisa], para nós preservarmos nossa tradição, a língua, essas coisas todas. Um pouco [do material] vai ficar guardado aqui e um pouco vai para as aldeias, para os jovens aprenderem a dança, a língua, como escrever”.
O presidente da Funai, João Pedro Gonçalves da Costa, diz que a ideia é continuar com o trabalho, já que ainda não foram registradas todas as línguas indígenas do país.
Segundo o presidente, a Funai está buscando parceiros para dar continuidade ao trabalho de registro e salvaguarda do patrimônio cultural indígena. A entrega do material foi feito no Museu do Índio, em Botafogo, zona sul do Rio, após os convidados visitarem a exposição.
Da Agência Brasil, in EcoDebate, 25/09/2015
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