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sexta-feira, 31 de março de 2023
Entenda o que é arcabouço fiscal
O arcabouço fiscal é um conjunto de medidas, regras e parâmetros para a condução da política fiscal e, assim, o governo busca garantir credibilidade e previsibilidade para a economia do país.
ABr
Os cidadãos, as empresas e os investidores precisam ter confiança de que as contas públicas estão sob controle e têm regras claras. Isso porque o descontrole fiscal resulta em aumento da dívida pública e, por consequência, em juros altos e inflação.
Quando o governo gasta mais do que arrecada com tributos, ou seja registra déficit, precisa se endividar mais pegando “dinheiro emprestado” por meio da emissão de títulos.
A nova regra fiscal, anunciada nesta quinta-feira (30) pelo governo, substituirá o teto de gastos que vigora desde 2016 e limita o crescimento das despesas ao ano anterior, corrigido pela inflação oficial (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA).
Para controlar as contas públicas, sem ter que aumentar a carga tributária já alta, o governo criou o teto de gastos, mas ao “congelar” despesas, a medida acabou sendo descumprida várias vezes. Desde a criação do mecanismo, o limite foi furado pelo menos sete vezes.
No fim do ano passado, a Emenda Constitucional da Transição permitiu a exclusão de até R$ 168 bilhões do teto de gastos deste ano – R$ 145 bilhões do novo Bolsa Família e até R$ 23 bilhões em investimentos federais, caso haja excesso de arrecadação.
Novas regras
Na nova política fiscal, haverá uma combinação de limite de despesa mais flexível que o teto de gastos com uma meta de resultado primário (resultado das contas públicas sem os juros da dívida pública).
O novo arcabouço fiscal limitará o crescimento da despesa a 70% da variação da receita dos 12 meses anteriores. Ou seja, se no período de 12 meses, de julho a junho, o governo arrecadar R$ 1 trilhão, poderá gastar R$ 700 bilhões.
Dentro desse percentual de 70%, haverá um limite superior e um piso, uma banda, para a oscilação da despesa, com desconto do efeito da inflação.
Em momentos de maior crescimento da economia, a despesa não poderá crescer mais de 2,5% ao ano acima da inflação. Em momentos de contração econômica, o gasto não poderá crescer mais que 0,6% ao ano acima da inflação.
Para impedir o descumprimento da rota de 70% de crescimento da receita, as novas regras trarão mecanismos de punição que desacelerarão os gastos caso a trajetória de crescimento das despesas não seja atendida.
Se o resultado primário ficar abaixo do limite mínimo da banda, o crescimento das despesas para o ano seguinte cai de 70% para 50% do crescimento da receita. Para não punir os investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), o novo arcabouço prevê um piso para esse tipo de gasto e permite que, caso o superávit primário fique acima do teto da banda, o excedente será usado para obras públicas.
A equipe econômica esclareceu que o limite de 70% está baseado nas receitas passadas, não na estimativa de receitas futuras. Dessa forma, futuros governos, ou o Congresso Nacional, não poderão aumentar artificialmente as previsões de receitas para elevar as despesas.
Confira os principais pontos do novo marco fiscal:
• Limite de crescimento da despesa primária a 70% da variação da receita dos 12 meses anteriores
• Limite superior e inferior dentro dessa trilha de 70% do aumento de receita
• Mecanismo de ajuste para impedir o aumento dos gastos em momentos de crescimento econômico e a queda dos gastos em caso de baixo crescimento
• Aplicação de mecanismos de punição. Caso o resultado primário fique abaixo do limite mínimo da banda, o crescimento das despesas para o ano seguinte cai de 70% para 50% do crescimento da receita.
• Promessa de zerar déficit primário em 2024, com superávit de 0,5% do PIB em 2025 e 1% em 2026
• Meta de resultado primário terá banda de flutuação, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB para cada ano
• Excedente de superávit primário acima do teto da banda poderá ser usado para investimentos
• Promessa de que dívida pública bruta subirá levemente até 2026 e depois será estabilizada
• Exceções apenas para gastos instituídos pela Constituição, como o Fundeb e o piso nacional da enfermagem. Essas despesas não podem ser regulamentadas por lei complementar
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Da ABr, in EcoDebate, ISSN 2446-9394
quarta-feira, 29 de março de 2023
Violência contra mulher na Amazônia – Em 2020, 1.398 mulheres foram mortas na Amazônia Legal
Por Norma Miranda Barbosa* –
A violência contra a mulher ao longo dos tempos tomou dimensões imensuráveis e hoje alguns estudiosos a classificam como problema de saúde pública e violação dos direitos humanos. Só em 2020, 1.398 mulheres foram mortas na Amazônia Legal, segundo dados das Secretarias Estaduais de Segurança da Amazônia Legal. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14 milhões de mulheres vivem nesta região que abrange nove estados da Região Norte. Pouco mais da metade delas – 7,5 milhões – vivem em municípios com registro de conflitos
Em pelo menos 30% dos casos, as vítimas desconhecem a identidade dos agressores. O instituto ouviu 132 mulheres dos estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Pará e Roraima.
Os dados revelam que 100 delas já foram vítimas de violência motivadas por disputa pela posse de terra, exploração ilegal de madeira e minérios preciosos ou por causa da expansão do agronegócio. Pelo menos, 27 já sofreram mais de um tipo de violência e 12 disseram ter sofrido violência de mais de um agressor.
Os meios de comunicação revelam que as mulheres amazônicas e principalmente as (indígenas, quilombolas e ribeirinhas) são as maiores vítimas de violência familiar, institucional ambiental, racial e sexual. Os dados da violência contra as mulheres são cada vez mais assustadores o estado e a sociedade não conseguem reagir diante dos dados alarmante, é necessário o rigor da lei com os criminosos, politicas públicas voltadas para proteção e garantia de direitos, trabalho emprego e renda, campanhas educativas nas escolas e em todos os espaços públicos e privados, que a violência seja transformada em informações alcançando todos os espaços ocupados por essas mulheres. É fundamental, portanto, difundir o combate à violência contra as mulheres e a rede de apoio na Amazônia. As causas da violência contra as mulheres na Amazônia caminham junto com a sua formação, onde a escravidão e o papel de subalternidade deixaram marcas profundas na formação e no caminhar dessa mulher que hoje é vitima de violência, indo do abuso a exploração sexual, trabalho infantil a sua baixa ocupação nos espaços de poder, morte das lideranças femininas. Na contramão desse cenário é fundamental romper com o silencio do patriarcado, fortalecer a rede de serviços e de atendimento a mulher vitima de violência, promover campanhas educativas, promover fóruns, comitês, conselhos e outros instrumentos que possam combater a violência contra as mulheres nos campos, nas florestas e nos rios da Amazônia, principalmente a implementação de politicas públicas voltadas para a Amazônia. Ao longo dos meus 35 anos ocupando vários espaços de defesa dos direitos Direitos Humanos, hoje como Ouvidora Geral Externa da Defensoria do estado do Pará, Órgão auxiliar da defensoria na melhoria dos seus serviços, atender mulheres vítimas de violência está entre as principais demandas, com isso as nossas ações também são voltadas para esse desafio, que é, combater e defender direitos humanos das mulheres na Amazônia.
*Norma Miranda Barbosa, Socióloga, Especialista em gestão de políticas Sociais, voltadas para família criança e adolescente/UFPA. Atualmente no segundo mandato de ouvidoria geral externa da DPE/PA.
*Textos de apoio – Conflitos no campo Brasil 2021
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES AMAZÔNICAS – Vera Lúcia de Azevedo Lima 1, Maria de Lourdes de Souza 2, Marisa Monticelli 3, Marília de Fátima Vieira de Oliveira 4, Carlos Benedito Marinho de Souza 5, Carlos Alberto Leal da Costa 6, Odaléa Maria Brüggemann 7. A questão da mulher na Amazônia Profa. Mestra ROSIANE SOUZA – ASSISTENTE SOCIAL.
#Envolverde
Governo estuda decretar emergência climática permanente em mil cidades
Medida seria voltada para municípios comprovadamente vulneráveis
A ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva, disse que o governo debate internamente a edição de um decreto para reconhecer estado de emergência climática em 1.038 municípios mapeados como mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
“Há uma sugestão que se está debatendo no governo para que se decrete estado de emergência climática permanente nos municípios comprovadamente vulneráveis, para que se tenha uma ação continuada”, disse a ministra ao visitar áreas atingidas por alagamentos em Manaus, na tarde de domingo. Na capital do Amazonas, as fortes chuvas deste sábado fizeram com que 172 famílias perdessem as casas.
Em entrevista coletiva, a ministra afirmou que a ciência já permite prever que eventos extremos, seja de seca ou de fortes chuvas, devem continuar e que, em alguns casos, até mesmo a remoção de populações de áreas de risco deverá ser planejada e executada.
Ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas
Segundo Marina, esse seria o objetivo da decretação da emergência permanente: permitir que obras preventivas, como de estudos de solo, de drenagem e trabalhos de assistência social, possam ser adiantados. “Além da situação de emergência, são os projetos de prevenção, esses são projetos de médio e longo prazo”, explicou. “Nós estamos vivendo sob o efeito de mudanças climáticas que estão se agravando a cada dia”.
Se antecipando a críticas sobre a falta de transparência nos gastos públicos que uma situação de emergência acarreta, por contornar a Lei de Licitações, a ministra sugeriu a criação de uma estrutura permanente – com comitês, equipes de monitoramento e acadêmicos – para supervisionar a aplicação dos recursos públicos.
Ela afirmou que a população precisa ter clareza também das ações necessárias para mitigar a emissão de gases do efeito estufa e manter estável a temperatura do planeta. “É uma adaptação”, disse.
As declarações foram dadas ao lado do ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e do prefeito de Manaus, David Almeida, que agradeceu a visita e a ajuda célere do governo federal. A medida de decretação de estado de emergência climática já havia sido adiantada por Marina Silva mais cedo, em Rio Branco.
Acre
Na manhã deste domingo (26), ambos os ministros visitaram também Rio Branco, onde mais de 32 mil pessoas, em 48 bairros da capital acreana, foram prejudicadas até o momento pelas fortes chuvas e cheias repentinas do Rio Acre e seus sete igarapés principais, que começaram no fim da semana.
De acordo com o governo acreano, cerca de 1.050 pessoas estão desabrigadas, sem ter para onde ir e sendo acolhidas em abrigos. Outras 2.180 pessoas foram desalojadas – tiveram que deixar suas casas, mas têm para onde ir.
Técnicos da Defesa Civil Nacional acompanham as equipes ministeriais. De acordo com Góes, os servidores atuarão não somente em ações de atendimento aos necessitados, como também no desembaraço burocrático necessário para que o governo federal possa enviar recursos às prefeituras.
“Eles vão auxiliar os gestores municipais a preencherem os formulários para o reconhecimento de situação de emergência ou de estado de calamidade pública. E também a realizarem os planos de trabalho para a solicitação de recursos federais para assistência humanitária, restabelecimento de vias públicas, pontes e até mesmo reconstrução das casas das pessoas atingidas pelo desastre”, disse o ministro.
Edição: Aline Leal – Agência Brasil
Guterres cita “consumo vampírico” que está esgotando água no mundo
Chefe da ONU falou na abertura da Conferência da ONU sobre Água, nesta quarta-feira, destacando que 75% dos desastres naturais estão relacionados à água; já presidente da Assembleia Geral quer políticas integradas para o “bem comum global”.
A ONU abriu a Conferência da ONU sobre Água coincidindo com o Dia Mundial da Água, neste 22 de março.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou no evento, que vai até sexta-feira, lembrando que o fornecimento de água, vital para a humanidade, está ameaçado.
Crianças lavam as mãos em um sistema de água instalado em sua escola primária no nordeste de Uganda. © UNICEF/Proscovia Nakibuuka
“Consumo vampírico e uso insustentável”
Para Guterres, o recurso está sendo drenado pelo “consumo excessivo vampírico e uso insustentável”, além dos riscos que sofre em decorrência do aquecimento global.
Ao ressaltar que o ciclo d’água foi quebrado, ecossistemas destruídos e lençóis freáticos contaminados, ele alertou que quase três em cada quatro desastres naturais estão ligados à água.
Guterres citou dados sobre pelo menos 500 milhões de pessoas defecando a céu aberto e milhões de meninas e mulheres caminhando por horas para conseguir água potável todos os dias.
Na avaliação do secretário-geral da ONU, há quatro áreas que devem ser priorizadas para acelerar os resultados e mudar o cenário atual.
Gerenciamento de água
Primeiro, a lacuna na gestão da água. Para ele, os governos devem desenvolver e implementar planos para garantir o acesso equitativo ao recurso.
Em seguida, o chefe da ONU pede o investimento massivo em sistemas de água e saneamento com base no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de número 6, que prevê estímulos, reformas e financiamento.
Guterres adiciona que ação climática e a sustentabilidade da água no futuro são “dois lados da mesma moeda”. Citando o Pacto de Solidariedade pelo Clima, sugerido na reunião do G20, ele lembrou que os países emissores devem agir, bem como as nações mais ricas devem mobilizar recursos para apoiar economias emergentes.
Uma jovem no Zimbábue bebe água limpa e segura de um poço reabilitado com o apoio da ONU. – © Unicef/Karin Schermbrucker
Políticas integradas para evitar crise
Já para o presidente da Assembleia Geral, Csaba Korosi, a água é um bem comum global que precisa de políticas públicas e legislação, bem como financiamento para tratar a questão.
Para ele, é preciso haver um acordo sobre o gerenciamento da água e formulação de políticas integradas de uso da terra, água e clima que ajudem no progresso de ações de mitigação e adaptação climática.
Korosi disse que as autoridades devem se comprometer em garantir o acesso à água potável e saneamento a todos, como um direito humano e uma questão de dignidade.
Oportunidade para garantir água, saneamento e higiene
Em paralelo ao evento, a Organização Mundial da Saúde, OMS, e o Fundo da ONU para Infância, Unicef, reagiram aos dados divulgados nesta terça-feira sobre acesso à água potável e serviços de saneamento.
As entidades alertam que anualmente, pelo menos 1,4 milhão de pessoas, muitas delas crianças, morrem de doenças preveníveis causadas pela baixa qualidade da água e higiene.
OMS e Unicef explicam que as consequências sociais e econômicas de serviços inadequados de água e saneamento também são preocupantes: pessoas adoecem, crianças ficam fora da escola, especialmente as meninas, e comunidades inteiras podem ser deslocadas pela escassez de água.
As agências da ONU querem mais ação das autoridades para fortalecer os sistemas de saneamento e desenvolver formas de financiar políticas públicas nesta área.
Água: bem comum e não uma commodity
Em nota, relatores de direitos humanos* da ONU destacam que a água é “um bem comum e não uma commodity”. A mensagem lembra que o recurso é um direito e deve ser gerenciado desta forma, sem que um viés mercadológico dificulte ou impeça o acesso equitativo.
Eles adicionam que a Conferência da Água da ONU é uma oportunidade para ouvir e se envolver com os defensores dos direitos humanos, especialmente os especialistas desta questão.
Os relatores defendem que em vez de restringir a liberdade de expressão e associação dos defensores, e até mesmo criminalizá-los, é hora de garantir mais participação, especialmente para mulheres e jovens, em todas as discussões, bem como a governança da água mecanismos nos níveis internacional, nacional e local.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.
Pesquisadores da Unifesp confirmam a descoberta de novo habitat marinho na Ilha das Couves, em Ubatuba
Um banco de rodolitos com mais de 5.000 metros quadrados acaba de ser revelado e confirmado por pesquisadores do Instituto do Mar (IMar) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Rodolitos são nódulos formados por algas calcarias que, quando em grande quantidade, formam um dos mais diversos habitats marinhos da plataforma continental brasileira.
Os primeiros indícios da ocorrência desse novo habitat na Ilha das Couves, localizada em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, foram obtidos durante as atividades impostas à Petrobras no contexto do licenciamento do Pré-Sal, Etapa 3.
Durante a análise dos relatórios apresentados, técnicos da Fundação Florestal de São Paulo se surpreenderam com os indicativos da presença de um local tão importante e, até então, nunca registrado, em águas tão rasas (cerca de seis metros de profundidade), em um dos locais mais visitados daquela região. “No momento que nossos técnicos se depararam com tal informação, salientamos o quão importante é o nosso trabalho e a aplicação das condicionantes ambientais, pois, quando bem aplicadas, elas constituem uma ferramenta de grande valor para a gestão da biodiversidade e, portanto, para a nossa sociedade”, explica o biólogo Diego Hernandes, diretor regional da Fundação Florestal.
Para corroborar os primeiros indícios da ocorrência desse banco de rodolitos, a Fundação Florestal entrou em contato com pesquisadores do IMar/Unifesp que, no início deste mês de março, realizaram uma visita técnica no local e atestaram a ocorrência desse novo e importante atributo ecológico do litoral paulista.
Os resultados desta visita acabam de ser publicados em uma nota técnica conjunta entre o IMar/Unifesp e a Fundação Florestal, disponível neste site. “Sermos reconhecidos como uma instituição competente e sempre disposta a contribuir com outras instituições em prol da ciência e conservação marinha é a nossa missão, e esse é mais um exemplo que a recente criação do nosso instituto foi uma política acertada”, comenta Igor Dias Medeiros, diretor do IMar/Unifesp, criado há quase uma década.
A Ilha das Couves, até pouco tempo atrás, chegou a receber cerca de 5.000 turistas em um único final de semana e essa experiência de turismo desenfreado levou o Ministério Público Federal a delinear responsabilidades e definir cenários alternativos para a gestão do local, que culminaram na Portaria Normativa FF/DE nº 350/2022, definindo regras para a atividade turística na região.
“A descoberta do banco de rodolitos, além de valorizar atributos ecológicos do nosso litoral norte paulista, também revela mais um atrativo turístico para o local. A riqueza e biodiversidade desse banco abre uma perspectiva para atividades de sensibilização ambiental, divulgação e educação científica, bem como ciência cidadã, possibilitando a reflexão sobre a importância ecológica dos bancos de rodolitos, envolvendo prioritariamente a comunidade local e operadores de turismo que atuam na região, promovendo a capacitação de monitores e pequenos empreendedores, convergindo com as ações de turismo de base comunitária atualmente em desenvolvimento”, explica o gestor da Área de Proteção Marinha do Litoral Norte, o biólogo Márcio Jose dos Santos.
A descoberta também levanta uma série de perguntas científicas que devem ser tema dos próximos trabalhos do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LABECMar) do IMar/Unifesp. “Até 2019, quando registramos um banco de rodolitos anexo ao recife de corais da Ilha da Queimada Grande, litoral sul paulista, não se tinha conhecimento desses habitats no litoral de São Paulo. Percebê-lo, recobrindo mais 5.000 mil metros quadrados, na Ilha das Couves, em uma profundidade de apenas seis metros, evidencia ainda mais a nossa carência de informações acuradas sobre a diversidade marinha. O Estado de São Paulo, no contexto das suas Unidades de Conservação Marinha, tem a oportunidade ímpar de sair na frente e dar exemplo a outros estados brasileiros nessa que é, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a Década dos Oceanos”, comenta Guilherme Pereira-Filho, professor, um dos coordenadores do LABECMar-IMar/Unifesp e também um dos pesquisadores que assina a nota técnica sobre a descoberta.
#Envolverde
Pesquisa aponta que 82,1% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho
O levantamento foi feito pela Women in Growth, que conecta mulheres e tem com o objetivo fortalecer a voz
Na tentativa de entender o quanto a figura da mulher evoluiu no mercado de trabalho, desde a criação do Dia Internacional da Mulher, em 1975, a Women in Growth, grupo que conecta mulheres e tem como objetivo fortalecer a voz feminina, criou uma pesquisa e entrevistou suas participantes para entender seu dia a dia e mostrar todas as dificuldades enfrentadas como: irregularidade de salários, preconceitos, assédios, entre outros.
A análise feita pelo grupo revelou que 82,1% das entrevistadas já sofreram algum tipo de assédio dentro do mundo corporativo; 97% destas conhecem alguma mulher que também foi assediada. A pesquisa também mostrou que 88,1% das participantes já sofreram preconceitos simplesmente por serem mulheres tendo sua capacidade de inteligência questionada.
No levantamento foi questionado se as participantes sentiriam-se à vontade para denunciar um abuso ou assédio dentro de seu ambiente de trabalho, com elas ou com alguma com colegas. Somente 23,9% delas denunciariam qualquer tipo de abuso cometido por outras pessoas, as demais, 76,1% responderam que pensariam ou que não fariam nada além se calar.
Uma das entrevistadas compartilhou sua história para que outras sintam-se à vontade para correr atrás de seus direitos. “Assim como a maioria das mulheres, já sofri inúmeros abusos no trabalho, desde os “socialmente mais aceitos” até os menos. Um caso recorrente era ter algum um homem falando mais alto do que eu, interrompendo assim, a minha fala. Pegando minha ideia e compartilhando com os demais como se de fato fosse ideia dele. Já escutei calada diversas vezes falas altas e agressivas em reuniões, principalmente, com os diretores da empresa, dizendo o quanto eu era incompetente em frente a certas funções. Um certo dia, comecei a gravar as reuniões onde a minha competência era pauta, assim, decidi não me calar mais uma vez e processar a empresa por assédio moral. Acredito que as mulheres não precisam mais se calar”.
“Ao analisarmos a pesquisa, descobrimos que, 23,1% das mulheres que participaram da entrevista ganham menos que homens na mesma função, simplesmente por serem muheres”, desabafa Carolina Zaccaro, uma das fundadoras do Women in Growth.
Quase 50 anos depois da criação do Dia Internacional da Mulher, elas ainda seguem em busca de respeito, igualdade e equidade mesmo diante de suas multifunções. “Nós somos mulheres, somos fortes e guerreiras, seguimos lutando diariamente para mostrar que somos capazes, que somos inteligentes, que podemos sim ocupar cargos de liderança, que podemos sim formar uma família, se esse for nosso sonho, e não deixaremos de ser uma profissional dedicada. Nós mulheres somos únicas e excepcionais”, conclui Marina Andrioli, também fundadora do grupo.
Sobre a Women in Growth
A Women in Growth é um grupo que conecta mulheres que desejam se estabelecer no mercado de trabalho e fortalecer a voz feminina no ambiente executivo. O intuito é oferecer um espaço seguro para abordar temas como preconceito, assédio (em todas as suas formas), conhecimento e necessidades do mercado, comportamento, networking, diversidade, inclusão, entre outros.
A iniciativa conta com mais de 200 participantes. Além disso, oferece uma rede de apoio para mulheres que sofreram algum tipo de assédio no ambiente profissional, para recolocação no mercado de trabalho e suporte com eventos, bem como mentorias e treinamentos para quem deseja alavancar na carreira.
#Envolverde
Raízes e a trama de um pé de piano que saiu para navegar na Amazônia
Introdução: Das raízes e dos abraços
Por Eduardo Serique –
A volta do piano navegador ao rio dos Arapium
Esta é mais uma história nostálgica, uma história de retorno para casa. Mas, diferentemente da história de Ulisses, na Odisséia, de Homero, não é o herói aquele que parte e retorna à terra natal, mas a sua imagem em forma de filme documentário registrando a aventura de Carla Ruaro e seu sonho de levar o som do piano às comunidades ribeirinhas do rio Arapiuns, no coração da Amazônia. O herói, o curumim da beirada do rio, esse permanece em casa, na sua comunidade, pescando, tomando banho, brincando de pira, ouvindo histórias de boca da noite e sonhando com o curupira, o jurupari, o boto, a Iara e os Encantados do rio e da floresta que rodeiam a sua comunidade.
Foi em 2017 que a decidida pianista erudita Carla Ruaro e sua parceira de empreitada, a primeira pessoa a abraçar a ideia, Tatiana Cobbett, bailarina, cantora e compositora das melhores, a Tatá, surgem num barco e aportam na praia da comunidade ribeirinha do Curi, no rio Arapiuns, trazendo a bordo um piano. O herói, curioso, aproxima-se lentamente e em pouco tempo, como num passe de mágica, escapando da precisão inútil da Matemática, já é dezenas de curumins, incontáveis curumins que, assentados no chão de areia da praia, se deixam encantar pelo som do piano de Carla. Dia novo chega e é hora de visitar outros heróis nas comunidades próximas, rio acima. O documentário que resulta dessa aventura percorre o mundo: Finlândia, Itália, Inglaterra, Marrocos, sempre arrebatando prêmios nos festivais de cinema em que concorre. Cinco anos depois, Carla retorna para apresentar ao nosso herói o registro fílmico desse encontro. Desta feita, em lugar do piano, um telão, um projetor de cinema, caixas de som. Cada tomada, a alegria de se ver e ver o irmão, o parente, o amigo na tela. Estampados no rosto do nosso herói e seus múltiplos, o encantamento, o riso. No rosto de Ruaro e Tatá, a felicidade por se verem testemunhas de tão comovente cena.
Mas agora (como de regra em toda história nostálgica), esse curumim já não é mais o mesmo: as crianças que ele era se tornaram adolescentes, os adolescentes se tornaram jovens, os jovens se tornaram adultos, e outros curumins vieram ao mundo. A equipe de Carla também cresceu: cinegrafistas, músicos, novos parceiros, tudo para tornar o reencontro algo indelével no coração e na mente de cada um de nós.
O momento da despedida, como era de se esperar, é marcado pelo longo e apertado abraço.
Muito mais que membros do corpo, braços são como raízes da alma. Há uma diferença clara entre o aperto de mão e o abraço, dois atos humanos que marcam os encontros e as despedidas, ambos efetivados por esses ditos “membros superiores”: no aperto de mão utilizamos apenas um dos braços em sua parte mais extrema. Ele nos permite olhar o outro “olho no olho”, como que para conhecê-lo. No formalismo do aperto de mão, no encontro com o outro, vemos uma promessa de conexão. Se a promessa não se cumpre, a despedida é outro aperto de mão. Já no abraço utilizamos os dois membros completos. Com eles envolvemos o corpo do A-MIGO. Olhos fechados para indicar que não precisamos conhecê-lo mais do que já o conhecemos, que confiamos nele. No abraço restabelecemos com o outro uma conexão que nunca deixou de existir e que, malgrado tempo e distância vividos, jamais se deixou abalar. Abraços vêm sempre acompanhados de risos e lágrimas, como a regar as raízes de uma árvore plantada nos corações dos abraçantes.
Carla e sua equipe talvez partissem para registrar o reencontro com as outras comunidades, rio acima. Mas haveria fôlego para isso? Melhor voltar pra casa, recarregar as baterias e aguardar a poeira das emoções se assentar.
Por outro lado, o nosso herói permanece na sua comunidade, estampando no rosto o mesmo sorriso encantador, a mesma alegria, o mesmo olhar de AD-MIRAÇÃO. De novidade, apenas a lembrança dessa aventura que decerto ficará, agora entremeando as histórias contadas à boca da noite, ao redor das fogueiras.
Raízes e a trama de um pé de piano que saiu para navegar na Amazônia
Por Patrícia Kalil –
Sabia a petricor. O tempo todo as raízes deste pé de piano estavam conectadas com outras raízes, formando uma imensa rede de colaboração em vários locais do planeta, em um processo contínuo de retroalimentação e transmissão de conhecimentos. Uma teia global de raízes, micorrizas e rizomas.
A pianista gaúcha Carla Ruaro foi para a Europa em 2004 e, de lá, a um oceano de distância, teve seu primeiro contato com a música feita para piano por compositores contemporâneos da Amazônia.
Na época, Ruaro fazia mestrado em performance musical na Goldsmith University. Ao lado do violinista gaúcho Felipe Karam e do violoncelista paraense Diego Carneiro, integrou o único trio brasileiro do programa Live Music Now, levando concertos para pessoas com acesso reduzido à música.
Na pauta, organizações de sons da Amazônia. Composições musicais dos paraenses Luiz Pardal, Lucia Uchôa (macapaense que reside no Pará), Albery e Thiago Albuquerque, Vicente Malheiros da Fonseca, Altino Pimenta e Wilson Fonseca foram apresentadas em hospitais, asilos, presídios, centros de recuperação e fundações de diversas cidades europeias e do Oriente Médio.
Ruaro dedilhava a vida da floresta e a música aproximava essas pessoas em situação de exclusão da natureza. Nota a nota pintava uma paisagem sonora: a primeira arte criada no ambiente da mais rica biodiversidade da Terra. Os tímpanos vibravam. O martelo do piano ecoava no martelo do ouvido. Bigornas e estribos ampliavam o som para cada caracol, emitindo sinais para as redes neurais do cérebro. Células arranjadas numa extensa retícula se conectavam a múltiplas outras, nossas redes radiculares internas, enviando sinais com informações sonoras.
“Diretores dos institutos contavam que depois da nossa apresentação, o público ficava em um estado de encantamento e descoberta. Até então, eles não tinham conhecimento sobre a música da Amazônia”.
Aylton Krenak diz que é preciso provocar o surgimento de uma experiência de florestania. “Temos que reflorestar o nosso imaginário e, assim, quem sabe, a gente consiga se reaproximar de uma poética que devolva a potência da vida”. E tanto se ouve sobre a importância de preservar a floresta em pé, mas tão pouco se escuta de sua cultura viva. O trio foi reconhecido e premiado pelo trabalho de divulgação da música amazônica contemporânea. Contemplado pela Funarte, veio em 2014 para uma turnê em 14 municípios paraenses no entorno de Belém.
“Os compositores moram na nossa imaginação. Imaginamos o que Beethoven, Bach pensavam quando estavam compondo suas peças. Nessa viagem ao Pará, eu tive pela primeira vez a oportunidade de conhecer os compositores que faziam a música que eu tocava, no ambiente deles, na floresta.”
A partir desse encontro, a vida de todos mudou. Ruaro, a convite de Diego Carneiro e ao lado de outros parceiros de Londres fundaram a AmazonArt, organização não-governamental com o objetivo de organizar concertos beneficentes para apoiar projetos de educação musical no Brasil, principalmente na região de Belém e suas ilhas. Em 2015, Ruaro foi para Lisboa, decidida a fazer uma pesquisa de doutorado sobre a música da Amazônia para piano.
Em 2017, ela conheceu a compositora, cantora e bailarina brasileira Tatiana Cobbett depois de uma apresentação da artista em Setúbal, a 48km de Lisboa. Conexão instantânea. Cobbett também tem raízes atlânticas, entre Brasil, Inglaterra e Portugal. Em conversas contínuas, Ruaro compartilhou com Cobbett seu sonho de levar um piano de verdade para apresentar concertos em comunidades ribeirinhas da Amazônia.
“Um pianista não consegue levar seu instrumento para muitos lugares, porque o piano é grande, pesado e delicado ao mesmo tempo. Um piano não viaja facilmente. Como eu poderia carregar um piano nas costas? Tatiana ouviu tudo o que contei e viajou comigo. Ela foi a primeira que acreditou que era possível”, conta Carla.
Cobbett tinha bagagem amazônica. Apresentou-se como artista em diversas ocasiões nos teatros de Belém e Manaus. Em outro momento, morou na capital do Amazonas com seu companheiro, o jornalista, escritor e documentarista Paulo Markun, que havia sido convidado para criar o Jornal do Norte.
A cantora e bailarina também conhecia comunidades ribeirinhas de outros rincões do país. Em 1974, quando fazia parte da companhia Ballet Stagium, desceu o Rio São Francisco, de Pirapora a Juazeiro, com o projeto Barca da Cultura. O espetáculo de dança foi feito para ser executado em uma embarcação, carregando muito mais que os 300 quilos de um piano, mas um corpo de baile inteiro com orquestra. A bordo desta aventura também estavam Egberto Gismonti e Gonzaguinha. Os bailarinos dançavam sobre um tablado montado no convés da Barcaça Juarez Távora, enquanto os músicos tocavam para um público surpreso.
Anos mais tarde, na Amazônia, Cobbett apresentou um espetáculo sobre o poema “Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)”, de Thiago de Mello, onde ficou “decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou”. No estatuto, só uma coisa fica proibida: “amar sem amor”.
Cobbett ouviu Ruaro, conectou-se com as raízes do piano e amou o que viu, com amor.
“Era fundamental levar o piano e o concerto de Carla para comunidades ribeirinhas amazônicas. As pessoas de lá tinham que ouvir as músicas feitas por compositores de lá, músicas nascidas lá, crescidas lá, com raízes lá. Por causa da minha experiência na Barca da Cultura, sabia que era possível. Apesar do piano ser um instrumento que exige uma educação musical para ser tocado, ser caro, pesado e por isso tudo ter uma certa empáfia, via neste sonho a possibilidade de redescoberta da ligação do piano com a natureza”, lembra Cobbett.
Filha do diretor de cinema William Cobbett e da produtora-executiva de cinema Eliana Cobbett, donos da Tabajara Filmes (a primeira empresa importadora de filmes russos para o Brasil e produtora do Cinema Novo), desde criança ajudou em grandes produções. É uma multi-artista que guarda também, desde jovem, seu DRT de produtora raiz.
Tempo de revolver a terra e descobrir redes radiculares e rizomáticas ancestrais do matriarcado Pindorama, do nosso DNA mitocondrial. Ainda de Portugal, as duas começaram a pesquisar a história do Brasil e de Portugal, a partir da independência.
Do auriverde pendão, de onde fora apagado o amor por princípio e sobre a qual o poeta romântico baiano Castro Alves versou narrando a covardia que foi a escravidão, as duas prenderam-se à estrela solitária na parte superior do céu azul. Pois no círculo da bandeira brasileira, a estrela no alto do incompleto lema positivista corresponde ao estado acima do paralelo do Equador, o Grão Pará. Essa antiga capitania representava todo território do Império das Amazonas.
Se a perspectiva histórica hoje permite ver que a proclamação da independência foi uma atuação da elite ruralista do Sul e Sudeste e da corte de Portugal para fazer uma mudança que não mudava nada (continuaríamos uma monarquia; no trono, com um rei português e ainda sem abolir as pessoas escravizadas), naquela época, o forte sentimento de raiz fez com que muitos contestassem essa nova estratégia de “recolonização”.
Com as raízes da floresta vibrando toda a sabedoria ancestral e as guerreiras Icamiabas de peito partido, o Grão-Pará foi a última província colonial a aceitar que um suposto grito às margens do Ipiranga teria unificado um território continental chamado Brasil. A imensa província só se rendeu em agosto de 1823, quase um ano depois da proclamação, com mais de mil mortos.
Há muito o que se estudar sobre o matriarcado Pindorama e as marcas da colonização na Amazônia travada por jesuítas e seus métodos de inculturação da fé. Também sobre a proibição pombalina de se falar tupi no coração da floresta, forçando a língua portuguesa como oficial desde 1758.
O Pará guarda dezenas de cidades homônimas às portuguesas: Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, Aveiro, Barcarena, Beja, Belém, Boim, Bragança, Chaves, Faro, Melgaço, Monte Alegre, Nazaré, Óbidos, Odivelas, Oeiras, Ourém, Porto de Mós, Salvaterra, Santarém, Soure, Vila do Conde e Viseu.
Pesquisa vai, pesquisa vem, as duas começaram a traçar a viagem. Definiram um roteiro para levar um piano a bordo de uma embarcação pelo rio Arapiuns, afluente do rio Tapajós, nas comunidades ribeirinhas da região de Santarém. Nascia assim a expedição “Raízes, um piano na Amazônia”, projeto idealizado por Ruaro e com direção artística de Cobbett.
Apresentaram o material para diversas instituições e possíveis patrocinadores. Todos se encantavam, mas consideravam a viagem com um piano a bordo de um barco um desvario. Sem dar chance para o desânimo, tiveram a ideia de pedir apoio via plataformas de financiamento coletivo. Colocaram o projeto em dois sites: um para o público europeu que conhece o trabalho das artistas e outro para o público no Brasil.
“A resposta foi imediata e pudemos sentir o amor das pessoas e a importância que todos dão para a Amazônia. A maior parte do financiamento veio de gente como a gente, que se apaixonou imediatamente pela imagem de levar um piano para comunidades isoladas no coração da floresta. Esse tipo de apoio fortalece a arte independente e essa é a diferença entre arte sustentável e arte sustentada”, se emociona Cobbett.
Que rede enorme de conexões e apoios! Os recursos arrecadados permitiam fazer a expedição na ponta do lápis, com produção própria e muitos profissionais voluntários. Buscaram uma embarcação em Santarém e encontraram, via indicações, um astrólogo disposto a levá-las em seu barco. Essa primeira tentativa, no entanto, revelou-se uma cilada assim que entraram a bordo. Contam elas que imediatamente perceberam que algo estava errado. O piano já estava dentro da embarcação e a equipe prisioneira. O sujeito atuava como dono da ideia e chefe da equipe. Inclusive, havia apresentado o projeto na prefeitura como se fosse dele.
Como explica o cientista Antonio Nobre, “na natureza impera a colaboração, porque só ela permite complexidade e um sistema auto-regulado. Existe um amor incondicional na natureza e esta é a maior força do universo. Nós precisamos cultivar o amor. O crescimento do indivíduo para si só é uma anomalia na natureza. Se alguma célula resolver não colaborar mais tem um nome, é um tumor. A linha mestra de funcionamento do sistema natural é cuidar do próximo para gerar mais vida. Quando surge egoísmo no sistema é porque algo não está funcionando direito”.
Escolada nos desafios de produção, Cobbett falou que precisava respirar. Desceu do barco, conectou raízes no chão e pensou: “Vou achar a Secretaria de Cultura de Santarém”. Foi perguntando até chegar ao prédio da prefeitura. Lá encontrou o secretário Luiz Alberto Pixica e explicou a enrascada em que se meteram. Conectaram-se.
“Pixica me acolheu de coração aberto. A prefeitura estava com o projeto Cinema na Comunidade. Ele falou que eu precisava apenas encontrar um novo barco e que a prefeitura nos daria suporte humano, com funcionários que poderiam nos ajudar. Voltei o mais rápido que pude para falar com Carla. Saímos naquela mesma tarde em busca de um outro barco na orla”, lembra Cobbett.
Viram uma placa de ‘freta-se’ na cabine do barco Jorge Olinto. A essa altura, as duas já haviam investido quase tudo que tinham na outra embarcação. Tinham apenas 4 mil reais para o resto da viagem. Ligaram para o número na placa. Do outro lado da linha, alguém atendeu. O capitão Joaquim estava a metros de distância delas, dentro da cabine de comando, ajoelhado, desesperado para pagar uma dívida, rezando por um milagre. Caminhos cruzados. “Nos encontramos na hora certa”, conta Cobbett.
Em questão de horas, Jorge Olinto tornou-se a casa flutuante do piano com todas as suas raízes entrelaçadas com as de Ruaro, de Cobbett, de João Santos (na direção de fotografia), de Wanderson Souza, conhecido como Bambam (arte-educador), de Joana Pereira (arte-educadora), da fotógrafa Pamella Herpio, da dona Marina na cozinha, de seu Olavo (como prático) e, claro, de Seu Joaquim, o providencial capitão. Sem profissional para captação de som direto, já planejavam gravar em estúdio as composições para inseri-las durante a edição do filme.
O barco circulou por um mês no rio Arapiuns, parando em 14 comunidades e restabelecendo antigas conexões. Além da apresentação do concerto de piano à noite para todos os moradores, em cada comunidade Ruaro ministrava entre 2 e 4 oficinas para as crianças. Contava sobre a origem do piano, sua mecânica, afinação (algo que Ruaro aprendeu a fazer para conseguir afinar o instrumento sozinha durante a viagem) e depois explicava a escala de dó, o conjunto de sete notas, a nota oitava acima e as músicas dos compositores amazônicos.
Expedição feita, agora faltava ver todo o material filmado, editar e montar o filme. Foram para Portugal na sequência. O jornalista Paulo Markun, companheiro de Cobbett, assumiu o roteiro e costurou a história. As 14 comunidades visitadas na viagem uniram-se para mostrar como se fosse um dia num vilarejo secreto amazônico. O filme começa com a primeira luz da manhã e vai até o anoitecer, fechando com o concerto do meio do rio. Enquanto isso, o violeiro capixaba Gustavo Roriz, companheiro de Ruaro, assumiu a direção musical das gravações em estúdio do repertório tocado na expedição. O filme ficou pronto em 2018.
Inscreveram o filme em festivais, ganhando o prêmio de Melhor Fotografia e Menção Honrosa na Finlândia (2019), Melhor Documentário Curto no Festival de Cinema de Alter do Chão (2019), Melhor Média-metragem no Festival de Cinema Cawcine, do Rio de Janeiro (2021). Também foi exibido na seleção oficial de dois festivais italianos de cinema, o Intimalente Visual Ethnographic e o Rome Prisma Independent Film Award (2019), de dois festivais britânicos, o Lift-Off First Time Filmmakers (2019) e o London International Motion Picture Awards (2020) e no festival africano de cinema Morocco Adventure Film Festival (2019).
Ruaro queria mostrar o resultado nas comunidades que conheceu a bordo do Jorge Olinto, reencontrar as crianças que foram as estrelas dessa história. Enquanto o filme corria festivais, já planejava o retorno. Mas em 2020 o mundo entrou em pausa, a pandemia de Covid-19 alastrava-se por todos os cantos. Isolamentos.
Foi necessário esperar. Só no começo deste ano, com o vírus da Covid sob controle graças à vacina, Ruaro e Cobbett planejaram a viagem para exibir o filme nas comunidades do rio Arapiuns. Outra viagem independente e agora sem captação de recursos, financiada pela própria artista.
Íntima e grandiosa viagem de retorno. A bordo de uma pequena embarcação, dessa vez navegaram juntos também o violeiro Gustavo Roriz, o jornalista Paulo Markun, o secretário de Cultura Luis Alberto Figueira (Pixica), na produção do som e imagem Paulinho Jofre, Wanderson Souza (Bambam) e o chef de cozinha Christian Schimidt.
A crônica do cabôco escritor Eduardo Serique (https://www.eduardoserique.com), convidado especial para escrever a abertura desta reportagem, narra como foi a recepção do filme no Curi: “Esse curumim já não é mais o mesmo: as crianças que ele era se tornaram adolescentes, os adolescentes se tornaram jovens, os jovens se tornaram adultos, e outros curumins vieram ao mundo…” (acima).
Toda essa trama e rede de conexões mostra que quando nos unimos, podemos tornar sonhos realidade. Como explica o ambientalista Ernst Gotsch, “cada um de nós sabe o que é certo e o que é bom. Em vez de explorar, produzir e saquear, vamos nos perguntar primeiro: o que eu posso fazer e como posso interagir para ser querido e útil no sistema? Todos os outros seres fazem isso. Devemos agir de tal maneira que os princípios utilizados nas nossas interações sejam aplicados a nós mesmos. Eu não vou matar a mãe natureza que me nutre, eu não sou suicida. Vou cuidar dela.”
Para o final de 2023, Ruaro e Cobbett já planejam uma nova viagem. “A Grande Expedição” levará um piano em outra embarcação de Santarém a Manaus, com concerto final no Teatro Amazonas. Que essa grande rede continue!
#Envolverde
Florestas são cruciais para a saúde e o bem-estar humanos
As florestas fornecem bens e serviços, empregos e renda para talvez 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo
Cobrindo 31% das terras da Terra e abrigando 80% de todas as espécies terrestres, as florestas são cruciais para a saúde e o bem-estar humanos, mas sua perda em todo o planeta está ameaçando as pessoas em todos os lugares.
Aqui estão cinco coisas que você precisa saber sobre a antiga e crescente relação interligada entre florestas e saúde humana.
As florestas são fundamentais para a construção de resiliência climática.
CityAdapt. As florestas são fundamentais para a construção de resiliência climática.
1. Os sumidouros de carbono combatem as mudanças climáticas
Os ecossistemas florestais mantêm o planeta saudável, regulando o clima, os padrões de chuva e as bacias hidrográficas e fornecem o oxigênio essencial para a existência humana.
Florestas saudáveis ajudam a controlar as mudanças climáticas, atuando como “sumidouros de carbono”, que absorvem anualmente cerca de dois bilhões de toneladas de dióxido de carbono, o gás que contribui para as mudanças climáticas e o aumento das temperaturas globalmente.
O clima em rápida mudança está ameaçando a própria existência das pessoas de muitas maneiras diferentes: através da morte e doença devido a eventos climáticos extremos, a interrupção dos sistemas alimentares e o aumento de doenças. Simplificando, sem florestas saudáveis, as pessoas ao redor do mundo, especialmente nos países mais vulneráveis do mundo, lutarão para levar uma vida saudável e talvez até para sobreviver.
Produtos florestais são transformados em remédios no Vietnã.
UN-REDD/Leona Liu. Produtos florestais são transformados em remédios no Vietnã.
2. Farmácias da natureza: das máscaras aos armários de remédios
De máscaras a remédios, produtos florestais são usados diariamente em todo o mundo . Até 80% dos países em desenvolvimento e um quarto dos países desenvolvidos dependem de medicamentos à base de plantas.
As florestas contêm cerca de 50.000 espécies de plantas usadas para fins medicinais tanto pelas comunidades locais quanto pelas empresas farmacêuticas multinacionais. Por milênios, os habitantes da floresta trataram uma série de doenças usando produtos que colheram. Ao mesmo tempo, muitos medicamentos farmacêuticos comuns são enraizados em plantas florestais, incluindo medicamentos contra o câncer da pervinca de Madagascar e medicamentos para malária, quinino, das árvores cinchona.
A abordagem One Health , lançada como parte da resposta da ONU à pandemia de COVID-19 , reconhece que a saúde de humanos, animais, plantas e o meio ambiente em geral, incluindo florestas, estão intimamente ligados e interdependentes.
Uma mulher carrega mercadorias pela Reserva Florestal Natural Uluguru em Morogoro, Tanzânia.
© FAO/Luis Tato. Uma mulher carrega mercadorias pela Reserva Florestal Natural Uluguru em Morogoro, Tanzânia.
3. Jantar para 1 bilhão de pessoas
Quase um bilhão de pessoas em todo o mundo dependem da colheita de alimentos silvestres, como ervas, frutas, nozes, carne e insetos para dietas nutritivas. Em algumas áreas tropicais remotas, estima-se que o consumo de animais selvagens cubra entre 60 e 80 por cento das necessidades diárias de proteína.
Um estudo de 43.000 famílias em 27 países da África descobriu que a diversidade alimentar de crianças expostas às florestas era pelo menos 25% maior do que aquelas que não eram.
Em 22 países da Ásia e da África, incluindo países industrializados e em desenvolvimento, os pesquisadores descobriram que as comunidades indígenas usam uma média de 120 alimentos silvestres por comunidade e, na Índia, cerca de 50 milhões de famílias suplementam suas dietas com frutas colhidas em florestas selvagens e arredores. matagal.
As comunidades em Timor-Leste estão a ajudar a restaurar as florestas de mangal.
PNUD Timor-Leste. As comunidades em Timor-Leste estão a ajudar a restaurar as florestas de mangal.
4. As florestas são cruciais para o desenvolvimento sustentável
As florestas fornecem bens e serviços, empregos e renda para talvez 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo.
Manter as florestas – e os humanos – saudáveis também está no centro do desenvolvimento sustentável e da Agenda 2030 . As florestas desempenham um papel fundamental no avanço do progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ( ODS ), incluindo:
ODS 3 Bem-estar: As florestas são boas. Estudos mostram que passar o tempo nas florestas pode fortalecer o sistema imunológico, elevando as emoções positivas e diminuindo o estresse, a pressão arterial, a depressão, a fadiga, a ansiedade e a tensão. A saúde e o bem-estar humanos dependem do ambiente natural , que fornece benefícios essenciais como ar puro, água, solos saudáveis e alimentos.
ODS 6 Água: As florestas desempenham um papel de filtragem no fornecimento de água doce. Cerca de 75 por cento da água doce acessível do mundo vem de bacias hidrográficas florestais. Ao alimentar os rios, as florestas fornecem água potável para quase metade das maiores cidades do mundo. Ameaças às florestas podem desencadear escassez de água e colocar em risco os recursos globais de água doce para as pessoas em todo o mundo, que estão entre as questões urgentes abordadas na próxima Conferência da Água da ONU de 2023 .
ODS 13 Ação climática: A floresta amortece os impactos de tempestades e inundações, protegendo a saúde e a segurança humana durante eventos climáticos extremos. Durante séculos, as florestas atuaram como redes de segurança socioeconômica da natureza em tempos de crise. Florestas geridas e protegidas de forma sustentável significam maior saúde e segurança para todos.
O desmatamento continua apesar dos apelos internacionais para proteger as florestas.
© PNUMA/Manuel Acosta. O desmatamento continua apesar dos apelos internacionais para proteger as florestas.
5. As florestas precisam ser protegidas
Os amplos benefícios das florestas são bem conhecidos, mas isso não significa que recebam a proteção que talvez mereçam.
Incêndios, danos causados por insetos e desmatamento foram responsáveis por até 150 milhões de hectares de perda florestal em determinados anos na última década, o que é mais do que a massa de terra de um país como o Chade ou o Peru.
Somente a produção de commodities agrícolas, incluindo óleo de palma, carne bovina, soja, madeira e celulose e papel, é responsável por cerca de 70% do desmatamento tropical.
Muitos governos adotaram políticas favoráveis às florestas e outros aumentaram o investimento em florestas e árvores. Comunidades e atores locais estão avançando, às vezes uma árvore de cada vez. A ONU estabeleceu a Década para a Restauração de Ecossistemas (2021-2023) e suas agências estão aproveitando parcerias com partes interessadas locais e globais para proteger melhor as florestas, desde o plantio de três milhões de árvores no Peru até o empoderamento de mulheres jovens para trabalhar como guardas florestais comunitários para proteger a fauna ilegal. tráfico na Indonésia.
Estabelecido em 2008, o UN-REDD é a principal parceria de conhecimento e consultoria da ONU sobre florestas e clima, apoiando 65 países parceiros. Com base na experiência do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ( PNUMA ), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a iniciativa tem, entre outras coisas, visto os países membros reduzirem as emissões florestais em níveis equivalentes à retirada de 150 milhões de carros na estrada por um ano, trazendo muito mais ar fresco.
O presidente do Conselho Econômico e Social da ONU ( ECOSOC ), falando em um evento que marcou o Dia Internacional na terça-feira, disse que “as florestas manejadas de forma sustentável são a chave para nossa recuperação saudável das inúmeras crises que enfrentamos atualmente e fortalecem nossa resiliência para suportar crises futuras
“Independentemente de como você define a saúde, seja ela física, mental ou espiritual – as florestas têm um papel a desempenhar.”
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segunda-feira, 27 de março de 2023
Mais de 270 animais exóticos ameaçam biodiversidade no Brasil
Por Vitor Abdala – Repórter da Agência Brasil
O Brasil convive com 272 animais exóticos invasores em seus diversos ecossistemas, segundo base de dados do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental. A organização não governamental monitora, desde 2005, espécies consideradas exóticas por não pertencerem originalmente àquele local e invasoras porque se reproduzem e se espalham, de forma descontrolada, ameaçando a biodiversidade da área.
São animais pouco conhecidos do grande público, como o lagarto anolis-marrom (Anolis sagrei), a caranguejola (Cancer paguros) e o coral-sol (Tubastrea sp.), mas há outros mais famosos como os onipresentes cães (Canis familiaris), gatos domésticos (Felis catus) e pombos-comuns (Columba livia)
E eles chegam por aqui, trazidos pelo homem de diversas formas, seja acidentalmente por meio de navios e plataformas de petróleo, seja propositalmente, para servir como fonte de alimentação, como estoque para pesca/caça esportiva ou como animais de estimação.
O coral-sol, por exemplo, é nativo dos oceanos Índico e Pacífico. Ele chegou ao Brasil através das plataformas de petróleo fabricadas no exterior e trazidas para a Bacia de Campos. Já o lagostim-vermelho (Procambarus clarkii) chegou ao Brasil, vindo dos Estados Unidos, através do hobby de aquarismo e acabou sendo liberado em rios e lagos.
Já o achigã (Micropterus salmoides), também nativo dos EUA, foi introduzido no país inicialmente para a aquicultura, mas depois foi solto em corpos d’água do país para a pesca esportiva. A tilápia africana Oreochromis macrochir também foi inserida para servir para a pesca.
Rio de Janeiro (RJ), 19/03/2023 - Tartaruga tigre d_água (Trachemys sp.), animal invasor, em lago no Parque Nacional da Tijuca. Foto:Vitor Abdala/Agência Brasil
Tartaruga tigre d_água (Trachemys sp.), animal invasor, em lago no Parque Nacional da Tijuca. Foto: Vitor Abdala/Agência Brasil
Esses animais ameaçam a biodiversidade local por causar um desequilíbrio ambiental. Afinal, eles chegam de repente em um ambiente que levou gerações para encontrar um balanço entre os diversos seres que habitam aquela área.
“Os problemas gerados dependem da espécie. Tem espécies predadoras, que se alimentam de outros animais, como é o caso do peixe-leão (Pterois volitans), bastante agressivo que se alimenta de diversas espécies de peixes. Temos outros como os javalis (Sus scrofa), que destroem a regeneração natural de plantas na floresta e degradam áreas naturais. E tem aquelas que ocupam espaço de espécies nativas, como a tartaruga tigre-d’água [americana, Trachemys scripta]. Elas acabam ocupando nichos de reprodução ou de descanso de espécies similares nativas”, explica a fundadora do Instituto Hórus, Silvia Ziller.
Impactos
O Banco de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, mantido pelo Instituto Hórus, aponta ainda outros problemas, como a transmissão de doenças do animal exótico para a fauna nativa. É o caso do lagostim-vermelho, que é vetor de um fungo que pode dizimar espécies nativas e que teve seu comércio e criação proibidos pelo governo brasileiro em 2008.
Outro exemplo é o peixe panga (Pangasianodon hypophthalmus), proveniente da Ásia e inserido pelo aquarismo e aquicultura, que é, segundo o banco de dados, suscetível a doenças parasitárias.
Há ainda o risco de transmissão de doenças para o ser humano, como é o caso do camarão-tigre-gigante (Penaeus monodon), vetor de vírus e bactérias como a salmonella, nativo dos oceanos Índico e Pacífico e introduzido pela aquicultura, ou do caramujo-gigante-africano (Lissachatina fulica), vetor do verme que causa a angiostrongilíase abdominal, inserido no Paraná como iguaria culinária.
Vale mencionar que o Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya, também é uma espécie invasora. Originário do nordeste da África, chegou ao Brasil de forma acidental, provavelmente através do tráfico de escravos.
Outro impacto negativo à biodiversidade é a contaminação genética das populações de espécies nativas, uma vez que animais exóticos podem acasalar com os nativos e gerar híbridos. A molinésia (Poecilia sphenops), que vive do México ao norte da América do Sul, por exemplo, se hibridiza com o nativo guaru (Poecilia vivipara).
“Bicho invasor ou planta também quando está num novo ambiente, em condições novas, às vezes ele tem potencial no material genético [para se adaptar], e aquilo explode num ambiente totalmente novo. É um erro nosso [provocar a invasão], mas cabe a gente para cuidar que isso seja cessado ou pelo menos minimizado para reduzir os problemas”, afirma Jorge Antonio Lourenço Pontes, doutor em Ecologia e Evolução e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Conservação
Em 2018, foi criada a Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras, comandada pelo Ministério do Meio Ambiente, que consiste em instrumentos como a manutenção de uma base de dados para monitorar a situação e a criação de planos específicos para lidar com espécies individuais, grupos de espécies, regiões ou vias de dispersão.
Um dos focos principais é proteger as espécies nativas ameaçadas de extinção, já que, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), as exóticas invasoras são uma das principais causas de extinções e perda de biodiversidade no mundo. Como o controle das invasoras é difícil, principalmente quando ela já se espalhou por um grande território, há uma prioridade em detectar precocemente as invasões.
“Em vez de você só investir em programas de controle, que são de longo prazo, também investir em uma abordagem mais preventiva, de detecção das espécies quando elas começam a ser um problema. Aquelas que são introduzidas mais recentemente, porque ainda têm populações menores, ainda são focos pequenos. A erradicação é mais viável do que quando já tem populações muito grande estabelecidas. O javali já está espalhado pelo Brasil, assim como o caracol-africano. A gente vai conviver com essas espécies sempre. Elas não são mais passíveis de eliminação completa. Elas são passíveis de iniciativas de controle, em áreas prioritárias”, afirma Ziller.
A pesquisadora cita como exemplo bem-sucedido de combate a espécies invasoras, a erradicação das cabras de Trindade, ilha oceânica localizada a mais de mil quilômetros da costa brasileira. Os animais, introduzidos por colonos séculos atrás, dizimaram a flora nativa. Cerca duas décadas atrás, finalmente foram eliminados com o objetivo de tentar restaurar a vegetação nativa.
Mas, apenas para comprovar como espécies invasoras são um problema de difícil solução, as tentativas de restaurar a flora nativa acabaram gerando outro problema. Em meio às mudas produzidas no continente e levadas para a ilha, viajaram lagartixas-comuns (Hemidactylus mabouia), espécies exóticas até mesmo no continente americano que passaram a povoar Trindade.
Mais de 100 animais brasileiros são considerados invasores no país
Espécies foram introduzidas em ecossistemas dos quais não são nativas
Os animais exóticos não são apenas aqueles que vêm de outro país. Alguns deles são brasileiros, mas se tornam um problema em ecossistemas onde não deveriam estar. Segundo o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, nada menos que 118 invasores são nativos do Brasil, mas, por algum motivo, extrapolaram seus limites de ocorrência natural.
“São espécies que foram trazidas por alguma influência humana, para uma área onde elas não ocorriam naturalmente. E isso independe de fronteiras políticas. Por isso dizemos que a espécie pode ser nativa em algum lugar do Brasil, mas ela é invasora e causa problemas em outro ecossistema onde ela não é nativa”, explica Silvia Ziller, fundadora do instituto, organização não governamental que monitora espécies invasoras no país há quase 20 anos.
É o caso do pirarucu (Arapaima gigas), que teve exemplares retirados da região amazônica, de onde é nativo, pelo aquarismo, aquicultura e pesca desportiva. O peixe gigante e se espalhou por rios e lagos de estados como Bahia, Piauí e São Paulo, de acordo com o banco de dados do Instituto Hórus.
Rio de Janeiro (RJ), 19/03/2023 - Saguis (Callithrix sp.) do cerrado e da caatinga são invasores na Mata Atlântica. Foto:Vitor Abdala/Agência Brasil
Saguis (Callithrix sp.) do cerrado e da caatinga são invasores na Mata Atlântica. Foto: Vitor Abdala/Agência Brasil
Também há situações como a dos saguis (Callithrix sp.), pequenos primatas criados como animais domésticos. O sagui-de-tufos-pretos (C. penicillata), proveniente do cerrado, e o sagui-de-tufos-brancos (C. jacchus), da caatinga, por exemplo, acabaram inseridos na Mata Atlântica.
Essas espécies competem com os micos nativos do bioma atlântico e hibridizam com alguns congêneres, como o sagui-da-serra-escuro (C. aurita), ameaçado de extinção. E, para complicar ainda mais, os híbridos gerados por essas interações dos diferentes saguis também são considerados invasores, ocupando nichos de outras espécies e transmitindo doenças para outros animais.
Endêmico de remanescentes da Mata Atlântica do sul da Bahia, o mico-leão-de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas), da mesma família dos saguis, é uma espécie considerada em perigo de extinção pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira 2018. Já foi extinto de Minas Gerais.
Ainda assim, foi trazido para o Rio de Janeiro e indevidamente solto no Parque Estadual da Serra da Tiririca, onde começou a se espalhar. O risco é que o animal chegue às áreas de ocorrência do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), congênere também ameaçado e com uma população ainda menor que a espécie baiana.
Outro caso curioso é o da tartaruga tigre-d’água brasileira (Trachemys dorbigni), nativa do Rio Grande do Sul. A espécie de quelônio sofreu com a soltura indevida na natureza e consequente invasão de sua congênere norte-americana (Trachemys scripta), atualmente proibida no Brasil. Mas passou de vítima da invasão a animal invasor, ao ser levada como pet para outros estados e também solta de forma indevida nesses locais, onde passou a predar espécies nativas, transmitir doenças e disputar espaço com quelônios locais.
No Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, em Santa Catarina, por exemplo, compete com o cágado-de-barbelas-cinzento (Phrynops hilarii). Um estudo realizado no local de 2019 a 2020, pelo biólogo Lucas de Souza, na época estudante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostrou que as capturas de tigre d’água na unidade de conservação foram mais frequentes do que aquelas do cágado, o que pode sinalizar que a espécie invasora passou a predominar no ambiente em detrimento da nativa.
A Agência Brasil tentou ouvir o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre as estratégias para lidar com espécies exóticas invasoras, mas não obteve resposta.
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sábado, 25 de março de 2023
Relatório climático da ONU: estamos a caminho do desastre, alerta Guterres
ONU Brasil – O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que as emissões nocivas de carbono de 2010-2019 foram as mais altas na história da humanidade, com aumentos de emissões registrados “em todos os principais setores do mundo”.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, esta é prova de que o mundo está em um caminho rápido para o desastre, que pode tornar o planeta inabitável. “Isso não é ficção ou exagero. É o que a ciência nos diz que resultará de nossas atuais políticas energéticas. Estamos no caminho para o aquecimento global de mais que o dobro do limite de 1,5 grau Celsius que foi acordado em Paris em 2015″, ressaltou.
O painel de cientistas realça, no entanto, que é ainda é possível reduzir pela metade as emissões até 2030 e evitar os piores cenários. O relatório detalha medidas e políticas que podem levar a um mundo mais justo e sustentável.
Moradores e comerciantes da comunidade de Rio das Pedras, zona oeste da cidade, sofrem com alagamentos devido às chuvas intensas que causaram estragos em vários pontos do Estado do Rio de Janeiro
Legenda: Eventos extremos, como enchentes, devem se tornar mais comuns à medida que o planeta aquece Foto: © Fernando Frazão/Agência Brasil
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou seu novo relatório na segunda-feira (04). O documento, que tem foco na mitigação das mudanças climáticas, indica que as emissões nocivas de carbono de 2010-2019 foram as mais altas na história da humanidade. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, esta é prova de que o mundo está em um “caminho rápido” para o desastre.
Em seus comentários sobre o lançamento do novo relatório do IPCC, o secretário-geral da ONU insistiu que, a menos que os governos de todos os lugares reavaliem suas políticas energéticas, o mundo será inabitável.
Seus comentários refletem a insistência do IPCC de que todos os países devem reduzir substancialmente o uso de combustíveis fósseis, ampliar o acesso à eletricidade, melhorar a eficiência energética e aumentar o uso de combustíveis alternativos, como o hidrogênio.
História de terror – A menos que uma ação seja tomada em breve, algumas grandes cidades ficarão submersas, afirmou Guterres em uma mensagem de vídeo, que também prevê “ondas de calor sem precedentes, tempestades aterrorizantes, escassez generalizada de água e a extinção de um milhão de espécies de plantas e animais”.
O chefe da ONU acrescentou: “Isso não é ficção ou exagero. É o que a ciência nos diz que resultará de nossas atuais políticas energéticas. Estamos no caminho para o aquecimento global de mais que o dobro do limite de 1,5 grau Celsius que foi acordado em Paris em 2015″.
Questão urbana – Segundo os autores do relatório, uma parcela crescente das emissões pode ser atribuída a vilas e cidades. De forma igualmente preocupante, o relatório sinaliza que as reduções de emissões na última década “foram menores do que os aumentos de emissões, devido ao aumento dos níveis de atividade global na indústria, abastecimento de energia, transportes, agricultura e edifícios”.
De acordo com o novo, as emissões de gases de efeito estufa geradas pela atividade humana aumentaram desde 2010 “em todos os principais setores do mundo”. O documento é fruto do trabalho de centenas de cientistas independentes de todo mundo e foi aprovado por 195 países.
Sinais encorajadores – O painel de cientistas realça, no entanto, que é ainda é possível reduzir pela metade as emissões até 2030 e insta governos a intensificar as ações para reduzir as emissões.
Como exemplo dos avanços, os autores chamam atenção para a redução significativa no custo das fontes de energia renovável desde 2010, em até 85% para energia solar e eólica e baterias.
Mulher que foi treinadas em engenharia solar em Tinginaput, na Índia, segura uma lâmpada que iluminará sua casa
Legenda: Apesar dos desafios, passos encorajadores vêm sendo dados. A redução significativa no custo das fontes de energia renovável desde 2010 é um exemplo Foto: © Abbie Trayler-Smith/UK Department for International Development
Incentivando a ação climática – De acordo com o presidente do IPCC, Hoesung Lee, o momento atual representa uma “encruzilhada”. “As decisões que tomamos agora podem garantir um futuro habitável”, disse Lee.
Ele se mostrou encorajado pela ação climática que está sendo tomada em muitos países. “Existem políticas, regulamentos e instrumentos de mercado que estão se mostrando eficazes. Se forem ampliados e aplicados de forma mais ampla e equitativa, podem apoiar reduções profundas de emissões e estimular a inovação”, afirmou.
Para limitar o aquecimento global a cerca de 1,5°C (2,7°F), o relatório do IPCC insiste que as emissões globais de gases de efeito estufa teriam que atingir o pico “antes de 2025, o mais tardar, e ser reduzidas em 43% até 2030”.
O metano também precisaria ser reduzido em cerca de um terço, de acordo com os autores do relatório. Ainda assim, mesmo que isso fosse alcançado, é “quase inevitável” que ultrapassemos temporariamente o limite de temperatura de 1,5 grau Celcius acima do período pré-industrial. No entanto, ainda seria possível retornar a um valor abaixo deste limite até o final do século.
Agora ou nunca – “É agora ou nunca, se quisermos limitar o aquecimento global a 1,5°C; sem reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores, será impossível”, disse Jim Skea, copresidente do Grupo de Trabalho III do IPCC, responsável pelo último relatório.
De acordo com o relatório, que reúne as melhores evidências científicas disponíveis, as temperaturas globais se estabilizarão quando as emissões de dióxido de carbono atingirem zero líquido. Para 1,5°C, isso significa atingir emissões líquidas zero de dióxido de carbono globalmente no início da década de 2050; para 2°C, é no início da década de 2070.
“Esta avaliação mostra que limitar o aquecimento a cerca de 2°C ainda exige que as emissões globais de gases de efeito estufa atinjam o pico antes de 2025, o mais tardar, e sejam reduzidas em um quarto até 2030”, ressalta Skea.
A diretora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) acredita que o relatório deve guiar as ações da próxima Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, que acontece no novembro deste ano, no Egito, mas também antes disso. “A próxima COP sobre o clima deve trazer promessas mais ambiciosas quanto ao clima e estratégias de longo prazo para 2050 para ajudar a conduzir tais mudanças. Mas o aumento da ação deve começar este ano, não no próximo. Este mês, não no próximo. Hoje, não amanhã”, disse Inger Andersen.
“Meias medidas não reduzirão as emissões pela metade até 2030, que é o que precisamos fazer. Precisamos avançar com tudo”, afirmou ainda Andersen.
Base da política – As avaliações do IPCC são muito importantes porque fornecem aos governos informações científicas que podem ser usadas para desenvolver políticas climáticas. Elas também desempenham um papel fundamental nas negociações internacionais para combater as mudanças climáticas.
Entre as soluções sustentáveis e de redução de emissões disponíveis para os governos, o relatório do IPCC enfatizou que repensar como as cidades e outras áreas urbanas funcionarão no futuro pode ajudar significativamente a mitigar os piores efeitos das mudanças climáticas.
“Essas (reduções) podem ser alcançadas por meio de menor consumo de energia (como a criação de cidades compactas e caminháveis), eletrificação do transporte em combinação com fontes de energia de baixa emissão e maior absorção e armazenamento de carbono usando a natureza”, sugeriu o relatório, que apresenta opções para cidades estabelecidas, de rápido crescimento e novas.
“As mudanças climáticas são o resultado de mais de um século padrões insustentáveis de energia, uso da terra, estilos de vida, consumo e produção”, resumiu Skea. “Este relatório mostra como agir agora pode nos levar a um mundo mais justo e sustentável.”
Sobre o IPCC – O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é o órgão da ONU para avaliar a ciência relacionada às mudanças climáticas. Foi estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988 para fornecer aos líderes políticos avaliações científicas periódicas sobre as mudanças climáticas, suas implicações e riscos, bem como propor estratégias de adaptação e mitigação. No mesmo ano, a Assembleia Geral da ONU endossou a ação da OMM e do PNUMA em estabelecer conjuntamente o IPCC, que atualmente tem 195 Estados-membros.
Milhares de pessoas de todo o mundo contribuem para o trabalho do IPCC. Para os relatórios de avaliação, os especialistas oferecem seu tempo como autores do IPCC para avaliar os milhares de artigos científicos publicados a cada ano para fornecer um resumo abrangente do que se sabe sobre os impulsionadores das mudanças climáticas, seus impactos e riscos futuros e como a adaptação e a mitigação podem reduzir esses riscos.
Sobre o relatório – O último relatório é resultado do trabalho de 278 autores de 65 países, incluindo o Brasil. Eles compõem o Grupo de Trabalho III do IPCC, que se debruça sobre a mitigação das mudanças climáticas, ou seja, medidas que podem tornar menos intensas os efeitos da crise do clima.
O documento faz parte do Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC (AR6). As duas primeiras partes deste ciclo foram lançadas em agosto de 2021 e fevereiro de 2022 e tratam, respectivamente, das bases científicas e da adaptação às mudanças climáticas. Um Relatório de Síntese está previsto para ser divulgado no segundo semestre de 2022.
(ONU/Envolverde)
Mudança radical no relacionamento do mundo com a água é urgente, diz o grupo internacional de especialistas
Por ClimaInfo –
Poucos países têm sido poupados pelos impactos de padrões pluviométricos cada vez menos confiáveis. Grandes partes da Europa estão atualmente enfrentando uma seca de inverno. No ano passado, países do Paquistão à China, passando pelo Brasil, foram atingidos por eventos extremos relacionados à água.
Os cientistas advertem que o mundo ultrapassou as fronteiras seguras para a água doce devido à poluição, à extração excessiva e à mudança no uso da terra. A mudança climática está desequilibrando ainda mais o ciclo global da água, e isto está levando a mais e mais desastres relacionados à água, sejam secas, enchentes, incêndios ou falhas nas colheitas, que estão devastando tanto os países pobres quanto os ricos.
Neste momento crucial, “A virada da maré: um apelo à ação coletiva”, a publicação inaugural da Comissão Global de Economia da Água (GCEW) divulgada hoje (17) argumenta que a humanidade falhará na mudança climática se ela falhar na água. A GCEW foi criada no ano passado para um mandato de dois anos, no âmbito da OCDE e sob a liderança do governo da Holanda e da Conferência da ONU sobre Água.
Segundo o documento, uma relação inteiramente nova com o ciclo da água é necessária, e o sucesso neste esforço é a única maneira de manter nossas estações chuvosas intactas, manter o sistema terrestre em um estado que possa continuar a apoiar a humanidade, manter o limite climático de 1,5°C, deter e reverter a perda de biodiversidade e cumprir com os objetivos de desenvolvimento sustentável para toda a humanidade.
Lançada em 17 de março antes da Conferência da Água da ONU, esta chamada à ação e o Relatório de fundo que a acompanha o manifesto dos pesquisadores apresentam as bases para uma nova economia na qual a água seja tratada não apenas como uma mercadoria ou uma necessidade humana básica, mas como um fator crucial para sustentar ecossistemas, apoiando os meios de subsistência e promovendo o crescimento econômico.
A iniciativa também busca mostrar que um futuro sustentável e justo para a água pode ser alcançado. Ela delineou um conjunto de sete soluções viáveis e eficazes para a crise global da água, desde a reforma da governança que assegura uma ampla participação, até soluções tecnológicas, de mercado e financeiras que promovem a equidade.
Entre suas principais conclusões da iniciativa, estão:
As inundações sem precedentes, secas e outros eventos extremos do último ano são o resultado de décadas de má gestão humana da água. A crise da água, o aquecimento global e a crise da biodiversidade estão se reforçando mutuamente. Sem ação para transformar a economia e a governança da água, o mundo falhará na ação climática e nas Metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O mundo está gerenciando a água localmente, sem reconhecer que rios, águas subterrâneas e fluxos atmosféricos de vapor de água cruzam fronteiras internacionais – o mundo deve tratar o ciclo da água como um bem comum global.
O mundo deve parar de subvalorizar e subestimar a água. Combinado com o apoio direcionado aos pobres e vulneráveis, a garantia de que a água tenha um preço adequado permitirá que ela seja utilizada mais eficientemente em todos os setores, mais equitativamente e de forma mais sustentável tanto local quanto globalmente.
Os subsídios de 700 bilhões de dólares estão alimentando o consumo excessivo de água e outras práticas prejudiciais ao meio ambiente – estes devem ser gradualmente eliminados, e os recursos que são liberados devem ser utilizados para incentivar a conservação da água e o acesso universal.
O grupo propõe o estabelecimento de Parcerias Justas de Água para possibilitar investimentos em acesso à água, resiliência e sustentabilidade em países de baixa e média renda, de forma a contribuir tanto para as metas de desenvolvimento nacional quanto para o bem comum global.
O mundo também deve agir sobre as oportunidades na década atual – incluindo a fortificação de sistemas de armazenamento de água doce, o desenvolvimento da economia urbana circular de água especialmente via reciclagem de águas residuais industriais e urbanas, a redução de pegadas hídricas na indústria, e a mudanças na agricultura para irrigação de precisão, culturas menos intensivas em água e agricultura resistente à seca.
A governança multilateral da água, que atualmente está fragmentada e não está à altura do desafio, deve ser reformulada. A política comercial também deve ser usada como uma ferramenta para o uso mais sustentável da água, por exemplo, não exacerbando a escassez em regiões de estresse hídrico.
Sobre a GCEW
A Comissão Global de Economia da Água (GCEW) foi criada em maio de 2022 por iniciativa do Governo da Holanda como co-apresentadora da Conferência da ONU sobre a Água de 2023, com o objetivo de revisar a economia e a governança da água. A iniciativa deve completar a trilogia de sustentabilidade que começou com a Stern Review on the Economics of Climate Change e a Dasgupta Review on the Economics of Biodiversity. Ela é co-presidida por Mariana Mazzucato, Ngozi Okonjo-Iweala, Johan Rockström e Tharman Shanmugaratnam, e compreende um grupo independente e diversificado de especialistas das áreas de ciência, economia e elaboração de políticas, e com experiência de liderança em nível comunitário, municipal, nacional e multilateral. Os pontos de vista e recomendações da GCEW são independentes de qualquer governo, incluindo o holandês.
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Violência contra mulher na Amazônia – Em 2020, 1.398 mulheres foram mortas na Amazônia Legal
Por Norma Miranda Barbosa* –
A violência contra a mulher ao longo dos tempos tomou dimensões imensuráveis e hoje alguns estudiosos a classificam como problema de saúde pública e violação dos direitos humanos. Só em 2020, 1.398 mulheres foram mortas na Amazônia Legal, segundo dados das Secretarias Estaduais de Segurança da Amazônia Legal. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14 milhões de mulheres vivem nesta região que abrange nove estados da Região Norte. Pouco mais da metade delas – 7,5 milhões – vivem em municípios com registro de conflitos
Em pelo menos 30% dos casos, as vítimas desconhecem a identidade dos agressores. O instituto ouviu 132 mulheres dos estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Pará e Roraima.
Os dados revelam que 100 delas já foram vítimas de violência motivadas por disputa pela posse de terra, exploração ilegal de madeira e minérios preciosos ou por causa da expansão do agronegócio. Pelo menos, 27 já sofreram mais de um tipo de violência e 12 disseram ter sofrido violência de mais de um agressor.
Os meios de comunicação revelam que as mulheres amazônicas e principalmente as (indígenas, quilombolas e ribeirinhas) são as maiores vítimas de violência familiar, institucional ambiental, racial e sexual. Os dados da violência contra as mulheres são cada vez mais assustadores o estado e a sociedade não conseguem reagir diante dos dados alarmante, é necessário o rigor da lei com os criminosos, politicas públicas voltadas para proteção e garantia de direitos, trabalho emprego e renda, campanhas educativas nas escolas e em todos os espaços públicos e privados, que a violência seja transformada em informações alcançando todos os espaços ocupados por essas mulheres. É fundamental, portanto, difundir o combate à violência contra as mulheres e a rede de apoio na Amazônia. As causas da violência contra as mulheres na Amazônia caminham junto com a sua formação, onde a escravidão e o papel de subalternidade deixaram marcas profundas na formação e no caminhar dessa mulher que hoje é vitima de violência, indo do abuso a exploração sexual, trabalho infantil a sua baixa ocupação nos espaços de poder, morte das lideranças femininas. Na contramão desse cenário é fundamental romper com o silencio do patriarcado, fortalecer a rede de serviços e de atendimento a mulher vitima de violência, promover campanhas educativas, promover fóruns, comitês, conselhos e outros instrumentos que possam combater a violência contra as mulheres nos campos, nas florestas e nos rios da Amazônia, principalmente a implementação de politicas públicas voltadas para a Amazônia. Ao longo dos meus 35 anos ocupando vários espaços de defesa dos direitos Direitos Humanos, hoje como Ouvidora Geral Externa da Defensoria do estado do Pará, Órgão auxiliar da defensoria na melhoria dos seus serviços, atender mulheres vítimas de violência está entre as principais demandas, com isso as nossas ações também são voltadas para esse desafio, que é, combater e defender direitos humanos das mulheres na Amazônia.
*Norma Miranda Barbosa, Socióloga, Especialista em gestão de políticas Sociais, voltadas para família criança e adolescente/UFPA. Atualmente no segundo mandato de ouvidoria geral externa da DPE/PA.
*Textos de apoio – Conflitos no campo Brasil 2021
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES AMAZÔNICAS – Vera Lúcia de Azevedo Lima 1, Maria de Lourdes de Souza 2, Marisa Monticelli 3, Marília de Fátima Vieira de Oliveira 4, Carlos Benedito Marinho de Souza 5, Carlos Alberto Leal da Costa 6, Odaléa Maria Brüggemann 7. A questão da mulher na Amazônia Profa. Mestra ROSIANE SOUZA – ASSISTENTE SOCIAL.
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Manifesto: A Importância de Incluir as Relações entre Saúde e Natureza nas Políticas Públicas e nas Ações da Sociedade
Introdução
Estamos vendo com grande expectativa a renovação de propostas de políticas públicas, alinhadas com a agenda socioambiental e com a saúde pública, urgentes e necessárias para a sociedade brasileira contemporânea. É fundamental que, a médio e longo prazo, essas medidas contribuam para reduzir a fragmentação nas ações governamentais, nos três níveis, ampliem a presença de áreas verdes e azuis em regiões urbanas e ampliem a visibilidade das comunidades rurais e tradicionais, contribuindo, dessa forma, com a conservação ecológica e ambiental e para promover a saúde física e mental da população brasileira.
Assim, nos parece importante que o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima se apresente com uma estrutura renovada, com representantes qualificados para a melhoria do cenário ambiental brasileiro. Nossas expectativas são também similares em relação ao Ministério da Saúde, que deve desenvolver ações voltadas para as necessidades da nossa sociedade. Da mesma forma, consideramos a relevância de outros ministérios que se associam com esses temas, como dos Povos Indígenas, das Cidades e da Educação, entre outros, e demais instituições vinculadas à essas políticas públicas, como o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), entre outras.
similar por parte do Conselho de Direitos Humanos, a Assembleia das Nações Unidas declarou que:
O acesso a um ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano universal e está relacionado com outros direitos humanos fundamentais e com o direito internacional existente (UNGA Resolution A/76/L.75).
Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da ONU, lançou o documento “Conectando prioridades globais: biodiversidade e saúde humana”, há alguns anos, no qual apresenta um panorama de estudos científicos sobre os benefícios mútuos desta relação. No contexto das crises ecológica, climática e social em que nos encontramos, há um conjunto amplo de estudos, ações e documentos internacionais, inclusive no meio científico, promovendo maior atenção a essas relações. Somadas a importantes experiências em outros países, como Japão, Austrália, Chile, Canadá, Estados Unidos, Colômbia, Finlândia e Escócia, entre outros, esses avanços devem ser insumos importantes para o fortalecimento desta agenda também no Brasil, no desenho e implementação de iniciativas que fortalecem o vínculo entre as áreas naturais e protegidas e a saúde pública e o bem-estar das sociedades.
Mas não estamos começando por aqui, pois no Brasil já há vários grupos, instituições e pessoas atuando em defesa da (re)conexão da sociedade com a natureza como forma de promover saúde e bem-estar. Por exemplo, a Rede Saúde e Natureza Brasil, criada em 2020, é um meio de diálogo que reúne especialistas, cientistas e outros profissionais, nos campos da conservação da natureza, da atenção à saúde em todos os seus níveis, das áreas protegidas, da saúde integrativa, das florestas urbanas e do bem-estar de crianças, idosos e demais fases do ciclo vital, além de enfoques complementares. Essa rede (sem personalidade jurídica) promove intercâmbios e reflexões e estimula iniciativas para promoção da saúde das pessoas e dos ambientes. Esse e outros conjuntos de especialistas e instituições, organizações e iniciativas têm desenvolvido pesquisas, promovido seminários, elaborado documentos técnicos e propostas e realizado ações no sentido de produzir evidências, empreender práticas e incentivar políticas públicas que considerem melhor a relação entre saúde e natureza. Dessa forma, buscam contribuir, tanto para promover a melhoria da saúde e do bem-estar humano, como a conservação da natureza e da sua biodiversidade. Um dos focos fundamentais é sobre as condições que viabilizam a relação entre esses campos, isto é, o acesso à natureza, às áreas conservadas e aos espaços abertos de qualidade, associados aos seus benefícios relacionados à promoção da saúde. E isso é complementado pela promoção de intervenções de saúde baseadas na natureza, cientificamente validadas, e outras atividades associadas às práticas integrativas.
(Para eventuais interesses de aprofundamento, oferecemos alguns documentos na pasta compartilhada sobre saúde e natureza.)
contato com a natureza, como a implantação de parques lineares, naturalização dos pátios escolares e criação de parques e equipamentos de lazer em áreas estratégicas;
Promover a integração com programas de educação ambiental, para a sustentabilidade e para ações, inclusive considerando a emergência climática, fortalecendo iniciativas de associações comunitárias, sejam elas urbanas, agrícolas, de pescadores/as e de povos indígenas e comunidades tradicionais; e
Estimular e divulgar experiências de serviços, organizações e instituições que promovam ações de sustentabilidade em saúde ou que busquem a implantação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, do novo Marco Estratégico Global de Biodiversidade e do Acordo de Paris sobre o Clima, especialmente em termos das demandas e dos seus reflexos nos campos da saúde e natureza,
Entre outras linhas de ação similares e complementares.
E, nesse sentido, nos colocamos a disposição para colaborar.
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Desmatamento do Cerrado no Matopiba coloca em risco oferta de água em 373 municípios
Por Ipam –
Cinco bacias hidrográficas na região concentram 74,5% do desmatamento no bioma; sem vegetação nativa, perdem capacidade de absorção e distribuição. Tocantins e São Francisco estão entre as mais comprometidas, mostra SAD Cerrado
O desmatamento do Cerrado no Matopiba pode reduzir o abastecimento e a qualidade da água em ao menos 373 municípios, se seguir o ritmo atual. Esses municípios estão dentro da área das bacias hidrográficas mais desmatadas do bioma em 2022, na região da fronteira agrícola. Segundo o SAD Cerrado, 74,5% de todo o desmatamento do Cerrado ano passado ocorreu nas bacias dos rios Tocantins (210.804 hectares), São Francisco (116.367 ha), Parnaíba (105.419 ha), Itapecuru (88.049 ha) e Araguaia (78.368 ha).
A análise de pesquisadores expõe, neste Dia Mundial da Água (22), a relação entre desmatamento e segurança hídrica no bioma considerado berço das águas do Brasil. O SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) é desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com o MapBiomas e com o LAPIG (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento) da UFG (Universidade Federal de Goiás).
Com a perda de vegetação nativa, fica comprometida a capacidade natural de absorção e distribuição da água, que chega a “viajar” centenas de quilômetros antes de ser aproveitada para uso humano, seja em consumo próprio, afazeres domésticos, geração de energia, produção industrial ou irrigação, por exemplo. O SAD Cerrado indica que os municípios que mais desmataram dentro da área das bacias foram Balsas (MA), São Desidério (BA), Correntina (BA), Carolina (MA) e Formosa do Rio Preto (BA).
“Garantir a proteção dos remanescentes de vegetação nativa do Cerrado e, ao mesmo tempo, recuperar áreas próximas a nascentes, rios e bacias, é essencial para a manutenção dos recursos hídricos que temos hoje e para o equilíbrio climático. São diversos e complexos os efeitos que a diminuição na oferta de água teria nos municípios, mas uma coisa é certa: se o desmatamento continuar na velocidade e na extensão em que está, a disponibilidade hídrica será cada vez menor”, explica Fernanda Ribeiro, pesquisadora no IPAM responsável pelo SAD Cerrado.
O Cerrado tem 24 bacias hidrográficas, com nascentes de 8 das 12 principais regiões hidrográficas do país. As cinco bacias mais desmatadas em 2022 são também as que têm os maiores contínuos de vegetação nativa.
Segundo o SAD Cerrado, foram 815.532 hectares desmatados no bioma ano passado. Maranhão teve a maior derrubada no período e Balsas (MA) foi o município que mais desmatou: subiu quase 60% em relação a 2021. Já em 2023, Bahia, Goiás e Minas Gerais tiveram recorde, com altas de 227%, 82,5% e 69%, respectivamente.
Além do desmatamento, monoculturas e atividades agrícolas que não levam em conta o equilíbrio com a sociobiodiversidade acabam causando outros prejuízos para a segurança hídrica, não só de quem vive na cidade, mas de povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares no campo, com a seca e o envenenamento de rios. A transformação de áreas de vegetação nativa para pastagem e agricultura já tornou o clima no Cerrado quase 1°C mais quente e 10% mais seco. Nos locais desmatados, a temperatura média anual pode subir até 3,5°C com queda de 44% na evapotranspiração, processo que contribui para a umidade do ar.
“O Cerrado está ficando cada vez mais quente e seco, com menos água disponível. Este cenário acende o alerta para que tipo de planeta queremos habitar no futuro. É como destacou o relatório-síntese do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, das Nações Unidas], precisamos lidar com a emergência do clima tendo como prioridades a justiça climática e a equidade para o bem-estar humano e da biodiversidade”, conclui Julia Shimbo, pesquisadora no IPAM e coordenadora científica do MapBiomas.
Crédito imagem destacada: Pesquisadores alertam para conexão entre desmatamento do bioma e segurança hídrica no Dia Mundial da Água (Foto: Acervo IPAM)
#Envolverde
domingo, 19 de março de 2023
Guardiãs da Amazônia: conheça a história de mulheres que lutaram pela Amazônia e pelos povos originários
O Brasil carrega o peso de ser o país onde mais defensores e defensoras de direitos humanos são assassinados. O maior índice atinge ativistas que atuam na luta pelo direito à terra, à moradia e ao meio ambiente, sobretudo na Amazônia.
Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que, no primeiro semestre de 2022, foram registradas 759 ocorrências no país, mais da metade dos casos registrados ocorreram na Amazônia Legal. Do total, 601 casos foram por conflitos por terra, 105 por conflitos pela água, 42 por conflitos trabalhistas, 10 envolveram conflitos em tempos de seca e 1 em área de garimpo.
No mesmo período, 74 mulheres foram vítimas de violências em conflitos no campo, segundo a CPT. Os principais tipos de violência contra as mulheres foram a ameaça de morte, com 21,62% do total, seguida de intimidação, com 18,92%, e tentativa de assassinato com 10,81%.
Berço de conflitos violentos, a Amazônia volta e meia é palco de assassinatos e ameaças a defensores e defensoras de direitos humanos. Hoje, 8 de março, data em que celebramos o Dia Internacional das Mulheres, a Rede Eclesial Pan-Amazônia (REPAM-Brasil) destaca a trajetória de sete mulheres que doaram a vida pela defesa do meio ambiente, da preservação das florestas e dos povos originários.
“Vidas pela vida, Vidas pelo Reino, Vidas pela Amazônia”
Celebrado no dia 8 de março desde 1909, o Dia Internacional da Mulher celebra as conquistas das mulheres e relembra a luta pela igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Excluídas de muitos relatos históricos, as mulheres deram importantes contribuições na defesa e na preservação da Amazônia. Conheça a história de sete mulheres que fizeram a diferença em seus territórios:
Irmã Dorothy Stang, irmã dos povos da floresta
O testemunho de Irmã Dorothy Stang, missionária da Comissão Pastoral da Terra (CPT), é marcado por uma intensa luta pelo direito à terra dos numerosos camponeses que migraram para o norte do Brasil em busca de sustento. Ir. Dorothy dedicou sua vida ao combate da exploração dos pobres da região rural, em especial daqueles que viviam na Amazônia. Em fevereiro de 2005, Ir. Dorothy foi assassinada, numa emboscada, em uma estrada rural do município de Anapu, no Pará.
Irmã Cleusa Rody Coelho, mártir da causa indígena
Com uma vida dedicada à cauda indígena, aos mais pobres e aos excluídos, Irmã Cleusa Rody Coelho, 52 anos, protagonizou uma trajetória marcada pelo compromisso na defesa da terra indígena e dos direitos dos mais pobres. Radical na opção pelos pobres e na defesa dos direitos indígenas, Ir. Cleusa morreu defendendo as terras indígenas e buscando a paz na conturbada região da Prelazia de Lábrea, no Amazonas. Ir. Cleusa foi assassinada em abril de 1985 às margens do Rio Paciá, onde trabalhava com os Povos indígenas Apurinã
Maria do Espírito Santo Silva, defensora da floresta e da justiça
Maria do Espírito Santo Silva era de São João do Araguaia, nascida às margens do Rio Araguaia, filha de agricultores. Atuava na defesa da floresta como forma de subsistência e na criação de uma reserva extrativista no Assentamento Agroextrativista Praia Alta-Piranheira, onde vivia, no município de Nova Ipixuna, no Pará. Defensora da floresta, dos direitos de seus povos e da justiça, Maria do Espírito Santo e seu companheiro José Cláudio Ribeiro foram executados, numa emboscada, na manhã de 24 de maio de 2011, na cidade de Nova Ipixuna, no sudoeste do Pará, cidade a 390 quilômetros de Belém.
Irmã Adelaide Molinari, uma trajetória marcada pela defesa dos mais pobres
Mulher de fé, corajosa e dedicada à defesa dos mais pobres, Irmã Adelaide fazia parte da Congregação Filhas do Amor Divino, sendo uma das primeiras irmãs da sua congregação a trabalhar nas missões no Pará. Em 1985, foi assassinada a tiros na Rodoviária de Eldorado por sua luta pela terra em Eldorado dos Carajás.
Dilma Ferreira da Silva, defensora da Terra, moradia e meio ambiente
Lutadora incansável e destemida, Dilma Ferreira da Silva nunca baixou a cabeça perante as injustiças. Militante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) no Pará, Dilma denunciava as violações dos direitos e doou seu tempo e trabalho para construir a organização coletiva das famílias atingidas e a resistir aos problemas que por décadas perduraram na região após a construção de Tucuruí. Em março de 2019, foi brutalmente torturada e assassinada, junto a seu companheiro, Claudionor Costa da Silva, e um amigo do casal, Hilton Lopes, em sua própria casa na zona rural do município de Baião (PA).
“As marias somos nós! Nós somos as verdadeiras marias, guerreiras, lutadoras que estão aí no desafio da luta do dia a dia.” (Dilma Ferreira Silva, Encontro Nacional das Mulheres Atingidas por Barragens, Brasília, abril de 2011)
Nilce de Souza Magalhães, defensora de Direitos Humanos
Pescadora e líder do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Porto Velho, Rondônia, Nilce “Nicinha” de Souza Magalhães denunciava as violações de direitos humanos perpetradas pelo consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) na construção da Usina Hidrelétrica de Jirau e os impactos do projeto hidrelétrico na vida de pescadores e pescadoras no Rio Madeira. Foi brutalmente assassinada em 2016. Seu corpo foi encontrado na barragem da Usina Hidrelétrica (UHE) em Jirau.
Jane Júlia de Oliveira, uma trajetória marcada pela defesa dos sem-terra
Trabalhadora rural sem-terra, Jane Júlia lutava pelo direito à terra e moradia digna. Em 2017, dez trabalhadores rurais sem-terra foram mortos durante operação das polícias militar e civil na Fazenda Santa Lúcia, no município Pau D’Arco, no sudeste do Pará. Entre os mortos estava Jane Júlia de Oliveira, liderança do acampamento e presidenta da Associação dos Trabalhadores Rurais Nova Vitória, a única mulher assassinada naquele dia.
Comunicação – Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil)
#Envolverde
Conheça 8 mitos sobre a reciclagem de vidro
Massfix, empresa líder em reciclagem de cacos de vidros, ajuda a desmentir alguns desses boatos.
O vidro é um material composto por areia, barrilha, óxido de minerais e calcário, e está presente na vida das pessoas mais do que se pode imaginar. Garrafas, aparelhos domésticos, frascos de remédios, copos, perfumes, entre outros. Por ser considerado um material de grande importância mundial e os benefícios do seu reaproveitamento, a Organização das Nações Unidas (ONU), declarou que 2022 é o Ano internacional do vidro, com o objetivo de introduzir cada vez mais a pauta de reciclagem desse material na sociedade.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, reciclagem é um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo. O uso do vidro reciclado traz grandes benefícios ambientais “Para cada 1kg de vidro reaproveitado se produz 1kg de vidro novo. E a cada 10% de caco utilizado na produção, pode-se reduzir 5% de CO2 e 2,5% a menos de consumo de energia no processo de fabricação” comenta Juliana Schunck, CEO da Massfix
Com a chegada do fim ano e o aumento do consumo dos vidros no dia a dia, a Massfix aproveita para esclarecer os mitos sobre a reciclagem de vidro para ajudar os consumidores a colaborar com o meio ambiente.
1.O vidro pode ser reciclado apenas uma vez
Mito: O vidro é um material 100% reciclável e não há perda dele durante o processo, e pode ser reciclado infinitas vezes sem perder sua qualidade. Um material de vidro reciclado possui as mesmas qualidades que um fabricado com matérias-primas virgens.
2. É preciso lavar o vidro antes de destinar para a reciclagem
Mito: Lavar o material antes do descarte não traz benefícios no processo de reciclagem, gera mais esgoto e aumenta o consumo de água
3.O vidro é biodegradável e não polui o meio ambiente
Mito: Os vidros não são biodegradáveis e permanecem na natureza por cerca de dez mil anos. Pela característica inerte do vidro, ele não libera resíduos contaminantes no solo ou nos lençóis freáticos, pois não reage com os componentes presentes, porém, o descarte desses materiais em locais inapropriados pode ser muito prejudicial ao meio ambiente por aumentar o volume de resíduos nos aterros sanitários. Dessa maneira, a reciclagem é o melhor a se fazer com esse material.
4. Porcelana e cerâmica podem ser descartados juntamente com o vidro
Mito: Porcelanas, louças, cerâmicas e similares não podem ser descartados
com o vidro, já que esses materiais contaminam o vidro, pois não derretem, geram perdas de cacos e prejudicam a reciclagem. Estes tipos de materiais não devem ser incluídos nos recicláveis comuns.
5. É necessário tirar os rótulos dos vidros antes de destinar para a reciclagem
Mito: Não é necessário tirar os rótulos dos vidros em casa, o rótulo é um material orgânico que pode ser absorvido no processo de fabricação de um novo vidro em quantidades controladas. A separação de tampas da embalagem, como metal e plástico, também pode se dar em um centro de reciclagem de forma mecanizada.
6. É necessário separar o vidro por cor na hora de reciclar
Mito: Não é necessário separar os vidros por cor, centros de reciclagem de vidros podem fazer isso de forma automática, através de separadores óticos.
7. É possível juntar vidro e plástico na hora de reciclar
Mito: O recomendado é colocar todos os vidros em um único saco, separado dos demais materiais recicláveis. No caso de vidros quebrados, devemos embrulhá-los em uma caixa de papelão ou em um papel mais grosso para diminuir o risco de ferir os catadores da coleta seletiva e a perda de cacos de vidro para reciclagem ou levar em um PEV (ponto de entrega voluntário) específico para vidros.
8. Todo tipo de vidro é reciclável
Mito: Vidros planos, seja temperado, laminado ou espelho são 100 % recicláveis, assim como vidros de embalagens. Outros tipos de vidros dependem de processos e destinações finais especiais. Vidros específicos, como vidros resistentes a calor, vidros refratários ou vidros com chumbo não podem retornar a fabricação de um novo vidro e devem ser coletados separadamente para uma destinação final específica. Vidros de medicamentos devem ser destinados a logística reversa de medicamentos, já que apesar de recicláveis, possuem resíduos químicos.
Sobre a Massfix
Desde 1991 a Massfix atua na reciclagem de cacos de vidros planos, vidros laminados e vidros de embalagens, sendo hoje a única empresa no mercado que recicla todo o tipo de vidro.
No início de nossa história atuamos apenas na coleta de cacos em uma pequena região de São Paulo. Com seriedade e profissionalismo a Massfix expandiu sua atuação, sempre se especializando e inovando no processo de beneficiamento e transportes destes resíduos, e hoje está em grande parte da região sudeste, com equipamentos roll on / roll off que proporcionam maior eficiência no atendimento. Atualmente atendemos mais de 1000 fornecedores entre pequenos e grandes geradores de diferentes segmentos, coletando todos os tipos de vidros: planos, temperados, laminados, vidros de embalagens e outros especiais.
As preocupações com o meio ambiente são a base das atividades da Massfix, e nos orgulhamos em contribuir com um ramo de atividade nobre que visa preservar a natureza, impedindo o descarte indevido de resíduos em aterros sanitários e lixões, reinserindo matérias-primas na cadeia produtiva.
A Massfix trabalha com reciclagem de resíduos de vidros de forma a serem reutilizados como matéria-prima secundária em diferentes segmentos como: indústrias de vidro, indústria cerâmica, coloríficos, jateamento, micro esferas, tintas, e muitas outras.
#Envolverde
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