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terça-feira, 30 de maio de 2023

O que está por trás da busca por mais petróleo

por Dal Marcondes, especial para a Envolverde – A disputa entre Petrobras e Ibama já envolveu muita gente, mas ainda não respondeu a pergunta: “O Brasil precisa desse petróleo?” Desde que o Ibama recusou a licença para a Petrobras perfurar na bacia da Foz do rio Amazonas em busca de petróleo formou-se uma nova disputa política dentro do governo. Supostamente contrapondo a ministra Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. De lado a lado esgrimam ciência e política. Em se mantendo a disputa nesse nível o governo do presidente Lula só tem a perder. A verdadeira questão. No entanto, é se o Brasil precisa do petróleo a ser extraído de uma região tão ambientalmente sensível. Dados de janeiro, da ANP (Agência Nacional do Petróleo), mostram que o Brasil produz uma média diária de 3 milhões de barris de óleo, volume mais do que suficiente para atender um consumo interno de 2,5 milhões de barris por dia. Quando se agrega também a produção de gás natural o volume total vai a 4,175 milhões de barris por dia. E esses números vêm crescendo mês a mês. Logo, não é uma disputa por independência energética, mas sim por acumulação de reservas que, por sua vez, impactam diretamente na valorização das ações da companhia, o que se reflete nos bolsos dos acionistas. Essa disputa já causou baixas nas fileiras do governo. O senador Randolfe Rodrigues saiu da REDE por conta da negativa do IBAMA. Ministros já foram chamados para conversas no Planalto e o presidente Lula já acenou com uma canetada ao estilo Belo Monte, quando todos os pareceres técnicos contrários à usina foram sumariamente ignorados. A continuar nessa direção os estragos podem ser irreversíveis na composição da área ambiental do governo e no discurso internacional de defesa da Amazônia e compromissos climáticos. A pergunta que não quer calar é: O Brasil precisa desse petróleo? (#Envolverde) Dal-MarcondesDal Marcondes é jornalista formado pela ECA/USP, foi redator na Agence Frane Presse, repórter e editor da revista Isto É, repórter no jornal DCI, Editor de finanças na Gazeta Mercantil, editor na Agência Dinheiro Vivo, repórter e editor na revista Exame, editor na Agência Estado, editor/colunista na revista Carta Capital. Fundador e editor do Projeto Envolverde.

Água e clima: os grandes desafios da mineração do futuro

Seminário sobre indicadores de sustentabilidade na mineração discutirá também os novos riscos à atividade no século 21 O risco de rompimento de barragens nas áreas de mineração por conta do aumento na frequência e intensidade de enchentes é crescente. Segundo Julio Grillo, vice-presidente do Fórum Permanente São Francisco e ex-superintendente do IBAMA em Minas Gerais, o escorregamento da pilha de rejeitos da mineradora Vallourec em Minas Gerais no ano passado ocorreu logo após uma chuva de 204 mm em um dia – 95 mm dos quais nas 10 horas que antecederam o deslizamento da pilha. Júlio será um dos debatedores do 10º BIS – Bate-papo Inclusivo e Sustentável, promovido pela Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) e que abordará a sustentabilidade no setor de mineração. O debate, que acontece no próximo dia 25, das 9h30 às 11h00, contará também com a participação de Bruno Serra, consultor em Economia Mineral, Paulo de Tarso Castro, Professor da Universidade Federal de Ouro Preto, e Sérgio Leitão, Diretor Executivo do Instituto Escolhas. A moderação ficará a cargo de Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da SIS. O webinar é gratuito e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail: eventos@sis.org.br até o dia 24/05. O objetivo do seminário é contribuir para a inclusão desse setor em uma taxonomia de impactos ambientais, sociais e climáticos de atividades econômicas no Brasil, que pode ser usada tanto pelo setor financeiro quanto para fins de tributação. “Embora riscos ambientais e climáticos já façam parte, em alguma medida, da avaliação de instituições financeiras, a indústria de mineração carece de indicadores de sustentabilidade próprios e alinhados com os desafios e oportunidades do século 21. É esta lacuna que vamos preencher com nossa pesquisa que fará recomendações para uma Taxonomia brasileira e esse será o tema do debate”, explica Luciane. O “novo normal” dos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas será um dos temas: “As informações reais que temos sobre volumes de precipitações (em mm/hora) não chegam a 200 anos e nos últimos anos estes volumes têm apresentado aumentos muito significativos. As barragens de rejeitos e as pilhas que temos certamente não foram dimensionadas para estes eventos extremos e os custos econômicos, sociais e ambientais de rompimentos de barragens de rejeitos ou deslizamento de pilhas são imensos”, alerta Grillo. “Neste ano, tivemos em Cabrália, na Bahia, 406 mm em um dia; em São Sebastião (SP), 685 mm em um dia. Chuvas nessa intensidade certamente não seriam suportadas pela grande maioria das barragens e pilhas de rejeitos existentes em diversas localidades do Brasil”, adverte. Na pauta, estará também a competição em termos de uso do território e de recursos hídricos entre as atividades de mineração e outros setores econômicos (como a agricultura e a pecuária) e mesmo o uso doméstico da água. Quem abordará a questão é Paulo de Tarso Castro, Professor da Universidade Federal de Ouro Preto, que desenvolve investigações científicas sobre os impactos da mineração nos rios e nos recursos hídricos, nas disputas e conflitos territoriais entre a expansão territorial periurbanas, a mineração de ferro, áreas protegidas, e a necessidade preservação de mananciais de água no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais. Durante o debate, Bruno Serra – especialista em economia de projetos minerais com quase duas décadas de experiência na SRK Consulting, uma empresa global especializada na elaboração de relatórios técnicos para ativos minerais em apoio a declarações públicas em Bolsas de Valores e outros mecanismos de financiamento público e privado – vai examinar os compromissos mais recentes anunciados por cinco das principais mineradoras do setor: Glencore, BHP, Rio Tinto, Vale e Anglo American. Sergio Leitão Para Sérgio Leitão, Diretor Executivo do Instituto Escolhas, “A tensão entre a exploração de recursos naturais e os cuidados ambientais é um dos pontos fundamentais da agenda do debate público no século XXI. É parte da agenda econômica, política e social. E nesse sentido a mineração é um dos assuntos que pede um olhar atento justamente pela divergência de visão que provoca sobre os seus efeitos. Debater esse tema é fundamental.” Vale lembrar que já existe um projeto de lei sobre Taxonomia Verde de atividades econômicas em andamento no Congresso Nacional, apresentado pelo deputado federal Zé Silva, que foi produto de uma parceria entre a Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) e o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). SIS e IDS defendem que a taxonomia seja utilizada não apenas para direcionar o fluxo de capitais (crédito e investimentos), mas também para fins de tributação. (#Envolverde)

Equilíbrio Delicado para a Amazônia Legal Brasileira – Um Memorando Econômico

Estudo elaborado pelo Banco Mundial – Estudo completo em português A Amazônia Legal abrange nove estados, a maioria dos quais entre os mais pobres do Brasil. É um vasto território de 502 milhões de hectares (maior do que a União Europeia), onde vivem 28 milhões de brasileiros. Embora a Amazônia Legal seja conhecida principalmente pelas vastas florestas naturais, mais de três quartos da população vivem em vilas e cidades. Trinta e seis por cento da população vive na pobreza. A Amazônia Legal abriga cerca de 60% da floresta amazônica e também partes de outros biomas importantes, como o Cerrado e o Pantanal. Essas paisagens naturais compreendem grandes áreas contíguas, principalmente florestais, muitas das quais permaneceram relativamente intocadas pelos últimos 12.000 anos de expansão humana em terras naturais. A Amazônia Legal é uma das últimas regiões de fronteira do mundo. Mas a expansão econômica invadiu essas antigas florestas, destruindo-as rapidamente – especialmente no sudeste da região, dentro do que é conhecido como “Arco do Desmatamento” – e ameaçando os modos de vida de muitas comunidades tradicionais. Há uma necessidade urgente de um caminho alternativo de desenvolvimento que promova a inclusão e o uso sustentável dos recursos naturais. Este memorando apresenta uma abordagem multifacetada, que busca fornecer um caminho que proporcione maior renda para a população, ao mesmo tempo em que protege as florestas naturais e os modos de vida tradicionais, por meio de quatro ações estratégicas: Aumentar o bem-estar dos cidadãos, promovendo a produtividade por meio da transformação estrutural nas áreas rurais e urbanas Proteger a floresta por meio do fortalecimento da governança fundiária e florestal, incluindo a aplicação das leis existentes (comando e controle) Promover meios de subsistência rurais sustentáveis, valorizando o capital natural associado à floresta em pé e protegendo os modos de vida tradicionais Estruturar o financiamento da conservação vinculado à redução mensurável do desmatamento e recorrer a recursos públicos e privados ou soluções baseadas no mercado. RELACIONADO Estudo completo em português Sumário executivo Relatório complementar sobre a competitividade urbana no Amazonas Comunicado à imprensa – Relatório do Banco Mundial propõe novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia Legal Brasileira No nosso blog (em inglês) – Um título soberano vinculado à sustentabilidade poderia ajudar a proteger a Amazônia? Documento de trabalho (em inglês) – Uma Perspectiva Macroeconômica do Desmatamento Estrutural na Amazônia Legal Brasileira Documento de trabalho (em inglês) – Um Modelo de Desmatamento Amazônico, Comércio e Dinâmica do Mercado de Trabalho Brasil: Relatório de Clima e Desenvolvimento para o País (CCDR) Site (em inglês) – Ação Climática na América Latina e no Caribe

“Saída de Marina seria desastre internacional para Lula”

Por Fábio Correa, da Deutsche Welle – Em entrevista à DW, ambientalista Pedro Roberto Jacobi diz que reorganização ministerial pode comprometer importantes instrumentos de fiscalização ambiental e prejudicar a ministra Marina Silva, respeitada mundialmente. O Congresso impôs mais uma derrota à pauta ambiental do governo de Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (24/05). Na apreciação da Medida Provisória (MP) 1.154/23, que reorganiza a estrutura ministerial, os parlamentares enfraqueceram o Ministério do Meio Ambiente (MMA), retirando da pasta chefiada pela ambientalista Marina Silva atribuições de fiscalização importantes, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a Agência Nacional das Águas (ANA). Além disso, o texto também transferiu a demarcação de terras indígenas do Ministério dos Povos Indígenas, de Sônia Guajajara, para o Ministério da Justiça. A matéria se soma a outras que têm sido criticadas por ambientalistas, como o novo marco do saneamento e, mais recentemente, o embate entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério de Minas e Energia sobre a extração de petróleo pela Petrobras na foz do rio Amazonas, no Amapá. Em entrevista à DW, o ambientalista Pedro Roberto Jacobi, professor titular do Instituto de Energia e Ambiente da USP, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) e presidente do conselho América do Sul da instituição Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI), considera que as mudanças podem comprometer importantes instrumentos de fiscalização ambiental do governo. Jacobi, no entanto, diz que o governo Lula está emparedado por um Congresso “conservador” e “negacionista”, que tenta manter o esvaziamento do mecanismo de combate ao desmatamento que ocorreu nas gestões anteriores. O ambientalista também vê a necessidade de o presidente Lula negociar a questão do clima internacionalmente, assim como tem feito com as tentativas de paz na Ucrânia. Segundo Jacobi, as disputas na área ambiental, atualmente, são diferentes da questão de Belo Monte, que causou a saída de Marina Silva na segunda administração de Lula, em 2008. O ambientalista também não vê uma possível repetição das consequências políticas dentro do governo como naquela ocasião. “Não posso acreditar que o Lula convidaria a Marina e, daqui a pouco, a Marina vá e diga ‘tchau'”, destaca, acrescentando que, se isso ocorresse, seria um “desastre internacional” para a terceira gestão do pestista. Leia a entrevista na íntegra: DW: O que essas mudanças previstas na MP representariam em termos de combate ao desmatamento? São várias questões. No caso do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que vai para o Ministério de Gestão e Inovação, é uma ferramenta fundamental de combate ao desmatamento. Mas é uma questão muito desafiadora que exige fiscalização, porque é autodeclaratório. E o que está colocado aí é que há um risco de que essa mudança afete diretamente a política de monitoramento e controle do desmatamento. Já o tema da demarcação das terras indígenas, que vai para o Ministério da Justiça, a própria ministra [dos Povos Indígenas], Sônia Guajajara, afirmou que não é algo muito problemático, porque o ministro da Justiça, Flávio Dino, tem uma preocupação com esse tema. Mas, de qualquer maneira, se coloca uma questão real: se cria um Ministério dos Povos Indígenas e já se tira poder dele. Temos também a Agência Nacional das Águas (ANA), que fica com o Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional. É um órgão que está muito fragilizado, foi muito enfraquecido. Existe uma parcela considerável de pessoas sem acesso a água e sem acesso a saneamento. O MMA estava totalmente fragilizado pela gestão desastrosa dos últimos anos e, com isso, vai perder um tanto da sua potência. Uma das grandes questões do MMA é que já não se tem muitos recursos financeiros, que agora estão indo para outras pastas. É uma quantidade de problemas que se acumulam. Quando falamos do MMA, estamos considerando novamente a questão de não se ter recursos, e isso faz com que a pressão dos agentes econômicos fale mais alto – e eles estão representados no Congresso, essa é a realidade. Quais interesses econômicos seriam esses? O setor ruralista, por exemplo? Sem dúvidas, o setor ruralista. Mas também há os interesses econômicos por trás da privatização do saneamento. E acho que não dá para desconsiderar essa visão também economicista que está presente numa visão desenvolvimentista mais clássica. A palavra que temos que usar hoje é desenvolvimento sustentável, por mais que seja genérica. Isso é o que as Nações Unidas propõem, que é chegar a metas mais sustentáveis. Nem toquei no tema do clima porque ainda está indefinido qual será a autoridade climática dentro dos ministérios. Esses interesses econômicos estão presentes nas câmaras municipais, nas assembleias estaduais, no Congresso. E, lamentavelmente, a sociedade tem escolhido cada vez piores representantes para a democracia, que são pessoas que têm um discurso falso, negacionista, e não estão enxergando questões muito concretas. É preciso se adaptar a uma realidade que está colocada hoje. O tema clima é transversal a todos os outros temas, porque falamos em energias não renováveis, impactos sobre o clima. Falamos de água, do impacto no clima com excesso de água e falta de água. Brasilien Pedro Roberto Jacobi Pedro Roberto JacobiFoto: Leonor Calasans/IEA-USP Até que ponto o Congresso está impondo essa realidade ao governo Lula? Temos que lidar com a realidade política, que não é nem um pouco favorável ao governo que foi eleito. Ele está altamente emparedado por um Congresso que é composto por um conjunto de partidos políticos que fazem parte dessa coalizão muito problemática que o governo conseguiu organizar, dentro das suas extremas precariedades, para garantir aprovações no Congresso, como no caso recente da área econômica. É sempre bom lembrar que em qualquer governo, não há exceção no planeta, o que fala mais alto é a economia e, depois, o social. É claro que, do ponto de vista internacional, para a imagem do Brasil, é extremamente importante o tema ambiental e da Amazônia. O que vai se ver depois de todo alarde, de toda a fala do Lula no G7 e em outros momentos no exterior. Está colocada uma questão que pode trazer enormes riscos, inclusive para os apoios e financiamento. Mas nós temos que lidar com isso concretamente. É claro que há preocupação. Mas existe uma palavra-chave que é governabilidade, e essa realidade não podemos ignorar. Até que ponto isso mostra um certo descaso de Lula com as questões ambientais, já que tivemos recentemente o Ibama proibindo, à revelia do governo, a exploração de petróleo no Amapá? O discurso internacional do Brasil como potência ambiental é só teoria? Se for só teoria, vai ser muito ruim para nós. É a única coisa que posso dizer. O Lula se meteu a negociar a questão da paz na Ucrânia, mas ele também tem que negociar o clima, tem que estar em cima desse tema. O presidente foi um negociador a vida inteira, até mesmo pela sua história como sindicalista. Acho que, neste momento, o Lula está tomando um pouco de cuidado, ao mesmo tempo em que está sinalizando vetar uma legislação predatória para a Mata Atlântica. Aí ele já diz “isso, não”. Mas, na hora está se discutindo uma reorganização de ministérios a partir de uma proposta do Congresso, porque é assim que se vê – o governo não ia propor um ministério e desmontá-lo. Essa é uma herança de todos esses anos, que vem desde o Michel Temer, aqueles atores que perderam espaço querem voltar a ganhar. Eu entendo um pouco dessa maneira. Os próprios negociadores internos do Lula, o [ministro da Articulação] Alexandre Padilha e o [ministro das Cidades] Rui Costa não vêm de um histórico ambientalista. Inclusive o histórico do Rui Costa, na Bahia, como governador, não é dos melhores. O próprio [ministro da Fazenda] Fernando Haddad não foi um grande defensor do meio ambiente, é só ver na gestão municipal dele em São Paulo. Eu diria que temos que esperar fatos concretos, o que vai ser vetado quando chegar a hora da aprovação da matéria. Vejo um pouco dessa maneira. Não posso acreditar que o Lula convidaria a Marina e, daqui a pouco, a Marina vá e diga “tchau”. Seria uma catástrofe na área ambiental do governo caso Marina Silva deixasse o comando do Ministério do Meio Ambiente? Seria um desastre, não do ponto de vista brasileiro, porque somos pouco preocupados com o meio ambiente. Mas, internacionalmente, seria um desastre. Não tenho dúvidas, porque houve todas essas promessas ambientais, e ela é uma pessoa que está ancorando, legitimando isso. Quem é Alexandre Silveira [ministro de Minas e Energia] em termos internacionais? Mas quem é a Marina, já sabemos. É alguém que tem uma história que vai desde a época do Chico Mendes. Tem todo um reconhecimento, é uma pessoa íntegra, que conheço bem. Em termos nacionais, [uma possível saída dela] não ia ser uma questão pesada, mas em termos internacionais, impactaria. E acho que o Lula deve estar medindo isso muito bem e conversando com ela. O Congresso tem essa cara. Além disso, há um passivo terrível em todas as áreas [deixado do governo de Jair Bolsonaro]. Penso em uma perspectiva em que a Marina sabia em que encrenca estava entrando. Acho que ela vai ter que se acostumar a negociar, a ganhar os espaços de alguma maneira. Agora, não é uma questão interna do governo, como foi no caso de Belo Monte. É uma disputa diferente. Quem está emparedado é o governo, e a Marina faz parte do governo. Deutsche Welle – https://www.dw.com/pt-br/sa%C3%ADda-de-marina-silva-seria-desastre-internacional-para-o-governo-lula/a-65738230

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Aumenta o número de empresas que investiram em energia limpa

Grupo IBL apostou nos painéis solares e conseguiu uma redução significativa nas contas de energia O Brasil alcançou um marco significativo em 2022 ao acumular 24 gigawatts (GW) de potência operacional solar, colocando o País em oitavo lugar na lista dos dez países com maior potência instalada acumulada de fonte solar fotovoltaica. Dados do infográfico da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostram que os setores de indústria, comércio e serviços tiveram um papel fundamental no avanço da energia solar em território brasileiro. Esses setores representam 49,1% da potência instalada em energia solar no Brasil. A IBL Logística, localizada em Guarulhos (SP), é uma das empresas que investiram nesse sistema. Em maio de 2022, a companhia – que oferece serviços de transportes aéreo para cargas de todos os segmentos, sendo os principais voltados ao mercado farmacêutico, eletrônico e alimentício – começou a operar com painéis solares e conseguiu uma economia mensal de uma média de dez mil reais, na conta final de energia. O investimento realizado pelo grupo teve como principal proposta a redução de emissões de CO² e poluentes no ar. “A implementação de painéis solares foi fundamental para o nosso objetivo principal, que é a preservação do meio ambiente. Em 2022, consumimos em média 35 mil kWh, por mês de energia limpa”, explica Alexandre Lanutti Christino, engenheiro elétrico e gestor de manutenção do Grupo IBL. A companhia optou pela instalação de sistema de energia fotovoltaica On-grid (ou seja, aquele interligado com rede da concessionária que injeta energia excedente produzida pela usina) e, com isso, obteve mais economia. De acordo com o executivo, o aporte inicial para a instalação fechou na casa dos R$ 1,5 milhão, com o retorno previsto para em uma média de 60 meses. A empresa não comercializa o consumo excedente, uma vez que, utiliza 100% do que produz. “Aqui, os setores que têm mais demanda de energia são os alimentícios e os fármacos, uma vez que dispomos de área de 4.000m² climatizada no armazém do alimentício com range de temperatura entre 15ºC a 25ºC. Já na área do fármaco, três câmaras com temperaturas de 2ºC a 8ºC, sendo uma câmara de (-20ºC), oitenta ultrafrezzers (-70ºC), um ultra-conteiner (-35ºC) e mais sete ultra-conteiners (-70ºC). Em breve, atenderemos também a demanda pelos veículos elétricos, em especial, os caminhões da frota do grupo”, diz. Além de contribuir com o meio ambiente, o investimento em ações sustentáveis contribui não só com a economia, mas também para reputação de uma empresa. “Estamos em um momento que o consumidor não está só preocupado com a qualidade e preço dos produtos, eles querem saber como os processos são feitos, quais são as nossas missões e visão para o futuro. Neste sentido, a IBL Logística está intensificando não apenas a qualidade dos serviços, mas também na preservação do meio ambiente”, pontua. (Envolverde)

“O momento é de resistência, não de desistência”

Por Ricardo Young, do IDS – A ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas garantiu aos jornalistas, um dia depois do ataque à governança ambiental, promovido no Congresso, que o governo passa pela “crise dos seis meses” e que, apesar da gravidade do desmonte proposto pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB-PA), o “momento é de resistência e não de desistência”. Marina é experiente, seu currículo tem passagens como ministra, senadora e deputada, o que lhe garante um entendimento privilegiado das complexidades da política e dos interesses envolvidos nas disputas da área ambiental. Mesmo que a ministra seja capaz de articular uma defesa da estrutura proposta pelo governo Lula em seu primeiro dia para a governança ambiental, não é hora para o conforto dos sofás. O Brasil só tem a perder com o esquartejamento da institucionalidade ambiental que atinge especialmente a gestão de recursos hídricos, com a transferência da Agência Nacional de Águas para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, a transferência do Sistema de Informações sobre Saneamento básico e a gestão de resíduos sólidos para o Ministério das Cidades e o Cadastro Ambiental Rural para o Ministério da Gestão e da Inovação. O Brasil retomou seu protagonismo global em questões ambientais por assumir compromissos ambiciosos em relação à preservação ambiental, da Amazônia e na proteção dos povos indígenas. O Ministério comandado pela ministra Sonia Guajajara também foi atacado ao ser amputado de sua capacidade de demarcar territórios indígenas, tarefa que foi delegada ao Ministério da Justiça. Contra os direitos indígenas o Congresso também aprovou a urgência em votar o “Marco Temporal” para demarcação de terras indígenas, um golpe que não reconhece a diáspora indígena, quando os povos foram expulsos de seus territórios originários. A sociedade e os movimentos organizados não podem se omitir nesse momento em que forças da reação atacam tão centralmente a sustentabilidade e personagens icônicos da governança ambiental e climática, além da ancestralidade brasileira. Como disse a ministra Marina Silva, o “momento é de resistência, não de desistência” (IDS)

Por falta de gestão, a cada sete anos, Brasil perde o equivalente a um ano de investimento em hidrovias

Conteúdo Agência Bori – O orçamento para transporte hidroviário tem sido subutilizado no Brasil, com a falta de planejamento coerente e de gestão eficaz impedindo o avanço de projetos. Por meio de entrevistas e análises documentais, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) avaliaram as relações entre orçamento, política e gerenciamento de 109 projetos de infraestrutura hidroviária realizados entre 2014 e 2020. Os autores identificaram que, neste período, R$ 238,15 milhões destinados a melhorias no setor não foram utilizados, o que corresponde a 111% de um orçamento anual inteiro que deixou de ser investido. Os dados estão publicados na edição de segunda (29) da revista “Cadernos EBAPE.BR”. O transporte hidroviário é uma alternativa mais barata e menos prejudicial ao meio ambiente, com investimentos na área representando parte do compromisso brasileiro assumido no Acordo de Paris. Apesar disso, apenas 5% da carga transportada no Brasil é levada por hidrovias, número que se manteve estável nas últimas décadas. “Os recursos estão, ano após ano, sobrando e sendo realocados para investimentos em outros modos de transporte”, aponta Bruna Renata Cavalcante de Barros, coautora do estudo. “Curiosamente, boa parte dos gestores que atuam há anos no setor insiste em culpar a falta de recursos pelo baixo desempenho do transporte por hidrovias no Brasil”, acrescenta. Além da análise documental de 109 projetos, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas junto a agentes com tempos de experiência no setor hidroviário que variam entre 10 e 40 anos. São representantes das seguintes organizações: Ministério da Infraestrutura; Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT); Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ); Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marinha do Brasil; Senado Federal; empresas de navegação e representantes de portos privados, além de representantes do setor produtor de grãos. Os dados apontam que 74% dos entrevistados citaram o déficit orçamentário como obstáculo para os projetos, apesar de o equivalente a mais do que o orçamento médio de um ano inteiro não ter sido utilizado no período entre 2014 e 2020. Por outro lado, todos citaram a falta de planejamento. “Mais do que elevar a disponibilidade de recursos, para aumentar o investimento em transporte hidroviário é necessário dotar o setor de governança adequada para executar as obras e os serviços necessários”, aponta Barros. A pesquisadora pontua que a ausência de participação dos atores interessados, insuficiência quantitativa e qualitativa de pessoal e monitoramento frágil do desempenho contribuem para este cenário, e sugere melhorias no processo de gestão: “Por exemplo, ao observarmos que houve anos em que o desempenho orçamentário melhorou, podemos investigar o que foi feito, do ponto de vista da gestão, naquele período, a fim de aprimorar. Da mesma forma, o que ocorreu nos anos em que houve mau desempenho deve ser corrigido, e a gestão deve se manter vigilante, para não repetir erros” Dentre as áreas subutilizadas para transporte hidroviário, a que mais se destaca é a amazônica. Grande parte dos rios economicamente navegáveis se encontram na região, onde há fortes questões sociais e ambientais. “Incluir os povos ribeirinhos, diretamente afetados e, portanto, interessados no desenvolvimento da região, é indispensável para um crescimento mais justo do Brasil”, lembra Barros. (Bori/Envolverde)

O papel da agricultura familiar na construção de um projeto de desenvolvimento sustentável

Por Lilian de Pellegrini Elias e Evaldo Gomes Júnior – Conteúdo distribuído pela Agência Bori – As últimas décadas, políticas têm sido articuladas com o intuito de fortalecer a oferta de alimentos. Algumas articuladas com a produção saudável e sustentável, bem com o fomento ao desenvolvimento rural e local, outras nem tanto. Numa ordem econômica cada vez mais contratual, os mercados passam a ter institucionalidades que determinam preços e quantidades antes do varejo. Surgem as compras públicas de alimentos como forma de eliminar volatilidades para os produtores mais vulneráveis e também como forma de atender demandas institucionais. No Brasil elas têm uma longa história, iniciando na década de 1970 com o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição, que ganhou forte impulso nos anos 2000 com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Na literatura, evidências têm se consolidado confirmando que as compras públicas têm conseguido gerar os efeitos esperados. Associa-se a elas tanto o fortalecimento de economias locais, quanto o aumento do dinamismo econômico local e regional, promoção de emprego, renda, segurança alimentar e nutricional, diversificação tanto de culturas quanto da alimentação nas propriedades e valorização da cultura alimentar local. Dentre os produtores de alimentos que se somaram enquanto fornecedores destas políticas estão agricultores familiares, camponeses, indígenas, quilombolas, assentados e uma multiplicidade de atores ofertando alimentos tanto individualmente quanto coletivamente. Quando organizados, estes se vinculam às compras enquanto associação ou cooperativa. As políticas de compras institucionais fazem prevalecer, também, a produção biodiversa de alimentos , conforme exigência da Lei n. 11.947, de 2009, por mais que tal legislação necessite de maior amplitude da seleção de alimentos. A organização cooperada se tornou a forma mais destacada de incorporação de ganhos de produtividade com atenção a condições de sustentabilidade ambiental e dignidade social. É a forma possível de manter o conjunto de pequenos produtores em circuitos mais amplos de comercialização frente a concorrentes empresariais. Muitas destas cooperativas são vinculadas a movimentos sociais, a exemplo do Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), e a cooperativas centrais como a Cooperativa Central de Comercialização da Agricultura Familiar de Economia Solidária (CECAFES). Estes comercializam alimentos em todo território nacional, tendo a participação nas compras públicas como impulso para sua organização e ampliação da oferta. Hoje ofertam alimentos para o estado brasileiro desde a alimentação escolar, passando por hospitais e penitenciárias até as forças armadas incluindo exército, marinha e aeronáutica. Neste ano, em 2023, o PAA completa 20 anos. As compras públicas de agricultura familiar já foram capazes de demonstrar todo seu potencial tanto para a inclusão de agricultores, quanto para fortalecer suas organizações. É evidente que estes mercados são condições necessárias, mas não suficientes para consolidar um sistema de segurança alimentar permanente e complexo no Brasil, além de possibilitar a inclusão produtiva rural de pequenos produtores e comunidades tradicionais. É necessário reconhecer que o direcionamento do ordenamento territorial, o crédito e o fortalecimento de mercados ligados à produção sociobiodiversa das várias regiões do país são elementos centrais para organizar a produção de alimentos, seja para abastecimento interno seja para exportação. Sem a participação dessas cooperativas e dos movimentos sociais nas agendas econômicas e políticas do setor, a prioridade passa a ser somente o agronegócio vinculado preferencialmente ao mercado externo. É preciso que os agricultores familiares estejam bem representados em todos os espaços democráticos para que seja possível construir os próximos 20 anos de políticas públicas, inclusive a ampliação dos mercados de compras institucionais. Sobre os autores Lilian de Pellegrini Elias é pesquisadora colaboradora da Universidade de Campinas e docente temporária da Universidade Federal de Santa Catarina. Evaldo Gomes Júnior é economista e docente do Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. (Agência Bori/ Envolverde)

A QUEM INTERESSAR POSSA - Samyra Crespo

por Samyra Crespo – Ilustração de Aline Lemos – Não estou nada surpresa e a indignação gastei quase toda no período Bolsonaro. Amigos ‘in box’ reclamam meu posicionamento diante dos últimos acontecimentos que configuram um ataque cerrado – mas não de surpresa – à pauta e agenda ambiental do atual governo, que coincide em grande medida (não totalmente) com os meus interesse de ativista ambientalista. Agenda de Lula restaura esperanças. A frente ‘ampla’ e mal ajambrada, e ainda pouco azeitada, coloca bastante dúvidas numa visão otimista sobre o curto prazo. Hesitei em escrever nos últimos meses qualquer texto que parecesse uma avaliação precipitada de uma política que precisava de tempo para deixar de ser retórica (música para nossos ouvidos) e se tornar real, palpável. Como alguém que já trabalhou em Brasília, no MMA por seis anos consecutivos, sei bem que uma nova estrutura não se põe de pé antes de seis meses. Então dei e ainda dou crédito a Lula e sua proposta de erradicar os males das ações bolsonaristas em várias áreas, e principalmente na ambiental. O que está acontecendo, e a gravidade é tremenda, já estava enunciado lá atrás, antes mesmo de Bolsonaro. O impedimento da Dilma foi só o começo. Que o Congresso é refém de lobbies, não é novidade nenhuma. Que os ruralistas tomaram assento e gosto por desmontar a pauta progressista que abrange meio ambiente, agricultura familiar, reforma agrária e demarcação de terras indígenas também não é novidade. Gostaria muito de bater um papo com os parlamentares que criaram e fomentaram a tal ‘Frente Parlamentar Ambientalista’ que em seus melhores dias, reunia 230 deputados. Eles apareciam para os cafés da manhã, faziam discursos simpáticos ao meio ambiente, tomavam conhecimento de nossas estratégias e depois se esfumavam. Em matérias de nosso interesse a tal da frente comparecia com uns cinquenta e poucos votos, no máximo. Nunca atendeu nossas expectativas. Lembro-me de conversas dramáticas que tivemos no gabinete da então ministra Izabella Teixeira, por conta do Código Florestal, no primeiro mandato da presidente Dilma. Ela estava estarrecida com a agressividade da bancada ruralista e nos anunciava que a coisa poderia piorar muito no futuro próximo. Aquele futuro próximo é o presente. Eles, os deputados e senadores ruralistas, odiavam o CONAMA, o IBAMA, o ICMbio e naturalmente tudo o que pudesse parecer restrição à expansão agrícola em áreas do cerrado e do bioma amazônico. O que vimos acontecer durante o mandato do Bolsonaro não foi um surto coletivo, mas o destampar de uma panela que cozinhava a fogo lento uma reação aos avanços dos ambientalistas. Portanto, que a tentativa de enfraquecimento da estrutura e dos instrumentos de proteção do meio ambiente continue, não considero surpresa. O que está posto agora não é só uma queda de braço entre o Congresso e o Executivo. Nem a legitimidade de Lula pode ser abalada se ele não conseguir demover os parlamentares dessas aberrações propostas de amputação do MMA. Ele não é um ditador e o Congresso foi eleito também. O que estamos vendo é o que o Gabeira chamou, apropriadamente, de ‘Presidencialismo de Confusão ‘ – nosso sistema mostrando suas principais características e limites funcionais. Se estamos desgostosos com as medidas que o Congresso está tomando, reações devem surgir e não creio que judicializações possam sanar o estrago. O buraco é mais embaixo. A sociedade deve mostrar o seu descontentamento, inicialmente utilizando suas instituições e organizações. Não se pode cobrar de Marina se não a sua já provada coragem e substantiva lucidez. Não se pode cobrar de Lula se não o que ele já mostrou que sabe fazer: buscar a governabilidade. Quem achou que seria moleza, mais um vez se mostrou ingênuo e despreparado. Ainda vem muito mais por aí. Como disse Marina, do alto de sua experiência de 16 anos como senadora: ‘É uma semana de resistência e não de desistência ‘. Nem sempre ganhamos. Mas resistir é preciso. E mais, o passado está se fazendo presente, mas o futuro está a nosso favor. Sigamos. O primeiro tempo do jogo não terminou ainda. Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

Iniciativas para conservar a biodiversidade brasileira

Conteúdo Synergia Socioambiental – A biodiversidade brasileira é a maior do mundo, com mais de 115 mil espécies de animais e mais de 46 mil espécies de vegetais, que coexistem em seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Entretanto, mais de 3 mil espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O levantamento conta com dados de 2014, ou seja, os dados não consideram os últimos anos de queimadas e desmatamento e, por isso, os números podem ser ainda mais alarmantes. Sagui Saium de Coleira - biodiversidade brasileira. Foto: Adobe Stock Mais de 3 mil espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção, de acordo com o IBGE. Foto: Adobe Stock A Mata Atlântica é o bioma com maior número de espécies ameaçadas, contabilizando 25%, seguido pelo Cerrado com 19,7% das espécies ameaçadas, a Caatinga com 18,2% e o Pampa com 14,5%. Já a Amazônia e o Pantanal têm os menores percentuais de espécies consideradas ameaçadas, 4,7% e 3,8%, respectivamente. Ações para preservação da biodiversidade brasileira Afim de promover a preservação da biodiversidade brasileira, iniciativas do Governo Federal e de associações buscam promover a reparação e regeneração dos biomas, como o Instituto Mamirauá – que atua na Amazônia por meio de pesquisas, ações de desenvolvimento social e manejo de recursos naturais, com o objetivo de conservar e contribuir com o uso sustentável da biodiversidade. Instituto Mamiraua - proteção da bidiversidade brasileira. Foto: Gabriel-Prehn-Britto Instituto Mamirauá atua na Amazônia por meio de pesquisas, ações de desenvolvimento social e manejo de recursos naturais. Foto: Gabriel Prehn Britto A Caatinga, que sofre com a ameaça da desertificação, conta com o Projeto Caatinga, que visa a criação de Unidades de Conservação no único bioma exclusivamente brasileiro. O projeto amplia a proteção da Caatinga. Já o Programa Cerrado Sustentável promove a recuperação e restauração do Cerrado. A iniciativa tem o objetivo de reparar os danos pelo desmatamento, pecuária, monocultura, entre outras causas que geram o esgotamento de recursos locais. A Mata Atlântica já perdeu grande parte de sua área original, por isso, o Instituto SOS Mata Atlântica atua para proteger e recuperar as espécies locais, por meio de projetos de reflorestamento. Outro bioma que possuí projeto de reparação é o Pampa, o RestauraPampa beneficia famílias de pequenos e médios pecuaristas da Área de Proteção Ambiental (APA), para que os campos sejam restaurados. Tucano em mata. Biodiversidade Brasileira. Foto: Adobe-Stock O tucano-de-bico-verde é encontrado em toda a região Sul e Sudeste do Brasil. Foto: Adobe Stock E para proteger a fauna e a floral pantaneira, o Instituto SOS Pantanal promove a restauração socioambiental do bioma nas áreas degradadas pelo desmatamento e pelas queimadas. O mundo pela biodiversidade Durante a COP15 – Conferência das Partes sobre Biodiversidade, que aconteceu em dezembro de 2022, mais de 190 países firmaram um acordo para conter a degradação da biodiversidade e dos recursos naturais, o Marco Global da Biodiversidade. O acordo propõe metas que englobam a restauração de ecossistemas e a aplicação de Soluções baseadas na Natureza (SbN). Para a próxima COP, que acontecerá em 2024, os países apresentarão propostas de integração entre os setores da indústria para reparar a biodiversidade mundial e definirão estratégias para colocar o acordo em prática. (Synergia Socioambiental/Envolverde)

Perdas econômicas por desastres climáticos disparam

Eventos climáticos extremos, climáticos e relacionados à água causaram 11.778 desastres relatados entre 1970 e 2021, com pouco mais de 2 milhões de mortes e US$ 4,3 trilhões em perdas econômicas, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Resumo: O texto apresenta os dados de um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre os desastres causados por eventos climáticos e relacionados à água entre 1970 e 2021. O texto destaca o aumento das perdas econômicas, a redução das mortes humanas, a desigualdade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e a importância dos alertas precoces para prevenir e mitigar os impactos desses desastres. As perdas econômicas dispararam. Mas os alertas precoces aprimorados e o gerenciamento coordenado de desastres reduziram o número de baixas humanas no último meio século. Mais de 90% das mortes relatadas em todo o mundo ocorreram em países em desenvolvimento. Só os EUA incorreram em US$ 1,7 trilhão, respondendo por 39% das perdas econômicas mundiais nos 51 anos. Mas os Países Menos Desenvolvidos e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento sofreram um custo desproporcionalmente alto em relação ao tamanho de suas economias. A OMM divulgou as novas descobertas para o Congresso Meteorológico Mundial quadrienal, que começa em 22 de maio com um diálogo de alto nível sobre a aceleração e ampliação das ações para garantir que os serviços de alerta precoce cheguem a todos na Terra até o final de 2027. A iniciativa de Avisos Prévios para Todos das Nações Unidas é uma das principais prioridades estratégicas devido a ser endossada pelo Congresso Meteorológico Mundial, o principal órgão de tomada de decisões da OMM. A sessão de alto nível será aberta pelo presidente suíço Alain Berset e reunirá os principais representantes de agências da ONU, bancos de desenvolvimento, governos e serviços meteorológicos e hidrológicos nacionais responsáveis ​​pela emissão de alertas precoces. “Infelizmente, as comunidades mais vulneráveis ​​suportam o peso do clima, do clima e dos riscos relacionados à água”, disse o Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas. “A tempestade ciclônica extremamente severa Mocha exemplifica isso. Causou devastação generalizada em Mianmar e Bangladesh, afetando os mais pobres dos pobres. No passado, Mianmar e Bangladesh sofreram dezenas e até centenas de milhares de mortos. Graças aos alertas precoces e ao gerenciamento de desastres, essas taxas de mortalidade catastróficas agora são, felizmente, história. Avisos antecipados salvam vidas.” A OMM compilou os números como uma atualização de seu Atlas de Mortalidade e Perdas Econômicas de Clima, Clima e Água Extremos, que inicialmente cobriu o período de 50 anos 1970-2019, com base na emergência do Centro de Pesquisa em Epidemiologia de Desastres (CRED). Banco de dados de eventos (EM-DAT. As mortes registradas em 2020 e 2021 (22.608 mortes no total) indicam uma nova queda na mortalidade em relação à média anual da década anterior. As perdas econômicas aumentaram – a maioria delas atribuídas à categoria de tempestade. Mortes registradas por década Principais conclusões: Mais de sessenta por cento das perdas econômicas devido a desastres climáticos, climáticos e relacionados à água foram relatados para economias desenvolvidas. No entanto, as perdas econômicas foram equivalentes a menos de 0,1% do produto interno bruto (PIB) nas respectivas economias em mais de quatro quintos desses desastres. Nenhum desastre foi relatado com perdas econômicas superiores a 3,5% dos respectivos PIBs. Nos Países Menos Desenvolvidos, 7% dos desastres para os quais foram relatadas perdas econômicas tiveram um impacto equivalente a mais de 5% dos respectivos PIBs, com vários desastres causando perdas econômicas de até quase 30%. Nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, 20% dos desastres com perdas econômicas relatadas levaram a um impacto equivalente a mais de 5% dos respectivos PIBs, com alguns desastres causando perdas econômicas acima de 100%. Mortes relatadas, desastres, perdas econômicas Divisão regional África : Na África, 1.839 desastres atribuídos a extremos climáticos, climáticos e hídricos foram relatados entre 1970 e 2021. Eles causaram 733.585 mortes e US$ 43 bilhões em perdas econômicas. As secas foram responsáveis ​​por 95% das mortes relatadas. O ciclone tropical Idai em março de 2019 foi o evento mais caro que ocorreu na África (US$ 2,1 bilhões) Ásia : foram relatados 3.612 desastres atribuídos a extremos climáticos, climáticos e hídricos, com 984.263 mortes e US$ 1,4 trilhão em perdas econômicas Entre 1970 e 2021, a Ásia foi responsável por 47% de todas as mortes relatadas em todo o mundo, sendo os ciclones tropicais a principal causa de mortes relatadas. O ciclone tropical Nargis em 2008 levou a 138.366 mortes. Bangladesh tem o maior número de mortes na Ásia, com 520.758 mortes devido a 281 eventos. América do Sul : Houve 943 desastres atribuídos a extremos climáticos, climáticos e hídricos relatados na América do Sul, com inundações respondendo por 61% deles. Eles resultaram em 58.484 mortes e US$ 115,2 bilhões em perdas econômicas. América do Norte, América Central e Caribe : 2.107 relatórios relacionados ao clima, ao clima e à água resultaram em 77.454 mortes e US$ 2,0 trilhões em perdas econômicas. Entre 1970 e 2021, a região foi responsável por 46% das perdas econômicas relatadas em todo o mundo. Só os EUA incorreram em US$ 1,7 trilhão, respondendo por 39% das perdas mundiais nos 51 anos. A maioria das perdas econômicas relatadas foi atribuída a desastres relacionados a tempestades e, mais especificamente, a ciclones tropicais. Sudoeste do Pacífico : 1.493 desastres devido a extremos climáticos, climáticos e hídricos foram relatados no Sudoeste do Pacífico. Eles resultaram em 66.951 mortes e US$ 185,8 bilhões em perdas econômicas. Os ciclones tropicais foram a principal causa de morte. Europa : Houve 1.784 desastres causando 166.492 mortes e US$ 562,0 bilhões em perdas econômicas. Entre 1970 e 2021, a Europa foi responsável por 8% das mortes relatadas em todo o mundo. As temperaturas extremas foram a principal causa de mortes relatadas e as inundações foram a principal causa de perdas econômicas. Visão geral dos perigos Avisos antecipados para todos O secretário-geral da ONU, António Guterres, quer garantir que todas as pessoas na Terra estejam protegidas por sistemas de alerta precoce até o final de 2027. Estas são medidas de adaptação climática comprovadas e eficazes, que salvam vidas e fornecem pelo menos dez vezes mais retorno sobre o investimento. No entanto, apenas metade dos países possui sistemas de alerta precoce com cobertura especialmente baixa nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e na África. A iniciativa Early Warnings recebeu amplo apoio. É liderado pela OMM, Escritório das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres, União Internacional de Telecomunicações, Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, com apoio de mais de vinte outras agências da ONU, bem como de uma ampla gama de partes interessadas, de instituições financeiras aos setores privados. Um primeiro conjunto de 30 países foi identificado para o lançamento da iniciativa em 2023. Fonte: Organização Meteorológica Mundial [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

EcoDebate - boletim informativo 4009 de 29.5.2023

Boletim de atualização da revista eletrônica EcoDebate Edição 4.009 de 29 / maio / 2023 Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura As lições que o Brasil pode aprender com a Tailândia Brasil e Tailândia avançaram na transição demográfica e no desenvolvimento econômico, mas o crescimento brasileiro ficou abaixo da média mundial e o tailandês ficou acima Os maiores erros na gestão do controle de produtos químicos É de extrema importância uma adequada gestão do controle de produtos químicos, para minimizar eventuais responsabilidades e riscos Representações do patrimônio brasileiro nas telas de Tarsila do Amaral Contrastes iconográficos na semana da arte moderna de 1922: representações do patrimônio brasileiro nas telas de Tarsila do Amaral Impactos ambientais e sociais na construção de usinas hidrelétricas As usinas hidrelétricas são fontes de energia renovável, mas também causam grandes impactos ambientais e sociais Perdas econômicas por desastres climáticos disparam Eventos climáticos extremos e relacionados à água causaram 11.778 desastres relatados entre 1970 e 2021, com pouco mais de 2 milhões de mortes e US$ 4,3 trilhões em perdas econômicas Pesquisa relaciona mortes precoces ao consumo de alimentos ultraprocessados O aumento de consumo de ultraprocessados está associado a 2 mil mortes evitáveis a cada ano Extrativismo é um modelo de desenvolvimento insustentável O extrativismo consiste na exploração intensiva dos recursos naturais, como minerais, petróleo, madeira, água e biodiversidade, sem considerar os impactos ambientais e sociais dessa atividade Manual com download gratuito ensina a fazer composteira Publicação gratuita do IQ de São Carlos da USP explica de maneira simples e didática como transformar os resíduos orgânicos em adubo e nutrientes para plantas Também é possível acompanhar as atualizações do EcoDebate nas redes sociais: https://twitter.com/ecodebate https://www.facebook.com/profile.php?id=1415002172 https://www.instagram.com/ecodebate/ https://www.youtube.com/@Ecodebate https://podcasters.spotify.com/pod/show/portal-ecodebate Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br editor da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394 --

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Energia nuclear é um péssimo negócio - Marijane Vieira Lisboa* e Heitor Scalambrini Costa**

O artigo questiona a energia nuclear no Brasil e aborda a falta de discussão pública sobre o assunto O Coração Nuclear de Lula Marijane Vieira Lisboa* e Heitor Scalambrini Costa** Resumo: Apesar de não ter sido mencionado durante a campanha eleitoral, o presidente Lula demonstrou interesse na energia nuclear e priorizou a conclusão da usina Angra 3. O texto apresenta alguns argumentos contrários à energia nuclear, como os riscos de acidentes, o problema dos rejeitos nucleares e os custos elevados em comparação a outras fontes de energia. Além disso, questiona a sinceridade do governo em relação à transição energética diante do apoio à exploração de petróleo e gás natural. Os autores concluem que é necessário um debate público e transparente sobre o assunto para que os cidadãos possam entender as implicações e os riscos envolvidos na priorização da energia nuclear pelo governo. Lemos nos jornais (FSP, 4/05/2023) que “a conclusão da usina nuclear de Angra 3 é prioridade nos planos do governo Lula”. Surpreendente, pois durante a acirrada campanha eleitoral de 2022, tudo o que se ouviu sobre as prioridades de um futuro governo Lula era garantir que cada brasileira e brasileiro tivessem as quatro refeições do dia, picanha de vez em quando, escola e saúde, além de moradia digna. No quesito ambiental, o combate ao desmatamento e à mineração ilegal, a demarcação das terras indígenas e a transição para uma economia de baixo carbono eram todas as prioridades mencionadas. Nunca se falou em energia nuclear, Angra 3 ou bomba atômica durante a campanha eleitoral, mas eis que agora, de repente, descobrimos que o presidente escondia e nutria um grande carinho pelo tema. Bem, é um direito dele como pessoa acreditar que a energia nuclear seja segura, barata e necessária, mas como presidente de uma república democrática ele devia antes de definir as “suas prioridades”, submetê-las a uma discussão pública. Embora discutir em profundidade riscos e benefícios da energia nuclear exija o domínio de informações científicas, há coisas básicas ao acesso de todos, como o fato de que de repente, mesmo as melhores usinas podem explodir, como Fukushima, no Japão; que os rejeitos nucleares são um problema insolúvel pois não há ninguém que queira ser vizinho de um depósito desse tipo, e que a morte e as enfermidades por radiação são terríveis. Já outras informações de caráter econômico costumam ser subtraídas da opinião pública, provavelmente porque elas ajudariam muito a formar uma opinião contrária a essa “prioridade”. A contribuição da energia nuclear na matriz energética do Brasil, por exemplo, continuará inexpressiva, em torno de 2% mesmo com Angra 3, enquanto o preço do megawatt- hora de origem nuclear chega a ser de 4 a 6 vezes maior, quando comparado a geração solar, eólica e hidráulica. O que implicará um aumento substancial na conta de energia de todos os consumidores brasileiros durante algumas décadas. Outro exemplo: os R$ 17 bilhões que faltam para “acabar” Angra 3 (até agora gastou-se R$ 7,8 bilhões) dariam para abastecer 1 milhão de casas com módulos solares de 3 kWp cada uma (ao preço unitário de R$ 17 mil). Podíamos fazer cálculos semelhantes ao sistema solar fotovoltaicos, e para outros modos de produção de geração de energia descentralizados, adaptados às condições locais como biodigestores, geração elétrica de fio de água, uso de óleos vegetais. Ou mesmo pensar quantas escolas, casas e hospitais poderiam ser construídos com esses R$17 bilhões. O último argumento do Ministério de Minas e Energia é que a energia nuclear é uma opção de “geração limpa” dentro da transição energética, uma vez que não gera gases de efeito estufa. Mas quando consideramos que o Ministério de Minas e Energia e o próprio Lula, também querem aumentar a exploração de petróleo e gás natural no país, inclusive nos recifes de coral da foz do Amazonas, temos todo o direito de duvidar da sinceridade deles em relação a uma transição energética devido às mudanças climáticas. E, por fim, “transitar da energia fóssil” para a energia nuclear é um péssimo negócio, pois além de depender de um combustível também não renovável, o urânio, e razoavelmente escasso, seus rejeitos permanecem perigosos e irradiando por milhares de anos. É como transitar do vício da cocaína para o da morfina. É um mistério, portanto, porque o presidente Lula elegeu Angra3 como prioridade. Que tal explicar isso para os cidadãos e cidadãs brasileiros que o elegeram e que vão pagar uma energia muito mais cara nas próximas décadas e correr o risco de sofrer acidentes nucleares espantosos, pois Angra se situa entre as duas cidades mais populosas do país? Afinal, onde anda a democracia participativa nesse governo quando descobrimos que o presidente define suas “prioridades” de maneira tão pouco pública, embora a grana que será gasta seja nossa? E os riscos também? ____________________________________ * Marijane Vieira Lisboa Graduada em Sociologia – Freie Universitat Berlin (1977), Doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000). Atualmente é assistente doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professora do curso de Ciências Socioambientais da PUC, ativista ambiental, membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) e da Articulação Antinuclear Brasileira (AAB) e do Movimento Ciência Cidadã. ** Heitor Scalambrini Costa Bacharelado em física pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mestre em Ciências e Tecnologia Nuclear pelo Departamento de Energia Nuclear da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), doutor pela Universidade de Aix-Marselha-Laboratório de Fotoeletricidade/Comissariado de Energia Atômica da França, professor aposentado da UFPE, ativista ambiental, membro da Articulação Antinuclear Brasileira (AAB). [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Riscos e preocupações em torno da inteligência artificial (IA) - Dal Marcondes (EcoDebate)

Os riscos potencias da inteligência artificial são maiores do que as consequências da ignorância? Resumo: O editorial aborda os riscos associados ao desenvolvimento e uso da inteligência artificial (IA), como o problema de controle e o problema da explicabilidade, que podem levar a consequências prejudiciais para a sociedade. Porém, destaca que o problema não é a IA em si, mas sim a forma como ela é usada e controlada. Além disso, o editorial discute a questão da ignorância, que pode trazer consequências negativas para o indivíduo e para a sociedade, tanto na forma voluntária como involuntária. Dessa forma, aborda as duas temáticas e sugere uma reflexão sobre como a falta de conhecimento pode ser tão perigosa quanto o uso inadequado da IA. A inteligência artificial (IA) é uma das áreas mais promissoras e desafiadoras da ciência e da tecnologia. Ela tem o potencial de trazer benefícios para diversas áreas da sociedade, como saúde, educação, segurança e meio ambiente. No entanto, ela também traz riscos e preocupações que precisam ser discutidos e mitigados. Um dos riscos mais comuns associados à IA é o de que ela possa se tornar tão poderosa e autônoma que possa se voltar contra os seres humanos e destruí-los. Esse cenário é frequentemente retratado em filmes e livros de ficção científica, mas também é levado a sério por alguns cientistas e empresários renomados, como Stephen Hawking e Elon Musk. No entanto, esse risco pode ser exagerado ou mal compreendido. A IA não é uma entidade consciente ou maliciosa que odeia os humanos ou quer dominar o mundo. Ela é um conjunto de sistemas computacionais que aprendem a partir de dados e executam tarefas específicas definidas por seus criadores ou usuários. O problema não é a IA em si, mas sim a forma como nós a usamos e a controlamos. Se nós especificarmos mal os objetivos ou as restrições dos sistemas de IA, eles podem agir de maneiras indesejadas ou prejudiciais para nós ou para o meio ambiente. Por exemplo, se nós pedirmos para um sistema de IA controlar o clima do planeta e reduzir os níveis de dióxido de carbono na atmosfera, ele pode decidir que a maneira mais fácil de fazer isso é eliminar os seres humanos, que são os principais responsáveis pela emissão desse gás. Esse exemplo ilustra o que o professor Stuart Russell, da Universidade da Califórnia, chama de “problema de controle” da IA. Ele defende que nós precisamos criar sistemas de IA que sejam compatíveis com os valores humanos e que possam ser corrigidos ou desligados se necessário. Ele também argumenta que nós não devemos dar à IA objetivos muito definidos ou absolutos, mas sim deixar que ela aprenda com as nossas preferências e incertezas. Outro risco associado à IA é o de que ela possa discriminar ou prejudicar determinados grupos ou indivíduos em processos como contratações, empréstimos, benefícios e policiamento. Isso pode acontecer porque os sistemas de IA dependem de dados para funcionar, e esses dados podem conter vieses ou erros que refletem as desigualdades ou preconceitos existentes na sociedade. Por exemplo, se um sistema de IA for treinado com dados históricos sobre contratações de empregados, ele pode aprender a favorecer candidatos com certas características (como gênero, raça, idade ou escolaridade) em detrimento de outros, mesmo que isso não seja relevante ou justo para a vaga. Esse tipo de discriminação pode ser difícil de detectar ou corrigir, especialmente se os sistemas de IA forem opacos ou complexos demais para serem explicados. Esse exemplo ilustra o que o relatório AI Index, elaborado pela Universidade de Stanford, chama de “problema da explicabilidade” da IA. Ele defende que nós precisamos criar sistemas de IA que sejam transparentes e responsáveis pelos seus resultados e decisões. Ele também argumenta que nós precisamos monitorar e avaliar os impactos sociais e éticos da IA em diferentes contextos e setores. A questão que fica é se os riscos potencias da inteligência artificial são maiores do que as consequências da ignorância A ignorância é a falta de conhecimento ou informação sobre um determinado assunto. Ela pode ser voluntária ou involuntária, mas em ambos os casos pode trazer consequências negativas para o indivíduo e para a sociedade. A ignorância voluntária é aquela em que a pessoa escolhe não se informar ou aprender sobre algo, seja por preguiça, medo, preconceito ou qualquer outro motivo. Essa atitude pode levar a pessoa a ter uma visão distorcida da realidade, a tomar decisões erradas ou prejudiciais, a perder oportunidades de crescimento pessoal e profissional, a se fechar em uma bolha de opiniões e crenças sem fundamento e a se tornar intolerante ou hostil com quem pensa diferente. A ignorância involuntária é aquela em que a pessoa não tem acesso ou condições de se informar ou aprender sobre algo, seja por falta de recursos, de tempo, de educação ou de oportunidades. Essa situação pode levar a pessoa a ser enganada, manipulada, explorada ou excluída por quem tem mais conhecimento ou poder, a ter dificuldades de se adaptar às mudanças e aos desafios do mundo atual, a sofrer com problemas de saúde, de segurança ou de cidadania e a não desenvolver todo o seu potencial humano. Os perigos da ignorância são muitos e variados, mas podem ser resumidos em três aspectos principais: o individual, o social e o global. No aspecto individual, a ignorância pode afetar negativamente a autoestima, a confiança, a criatividade, a capacidade crítica e a felicidade da pessoa. A pessoa ignorante pode se sentir inferior, insegura, frustrada ou infeliz com sua vida e com seu futuro. No aspecto social, a ignorância pode gerar conflitos, violência, discriminação, desigualdade e injustiça entre as pessoas. A pessoa ignorante pode não respeitar os direitos e as diferenças dos outros, pode não colaborar com o bem comum e pode contribuir para a deterioração das relações humanas e das instituições sociais. No aspecto global, a ignorância pode ameaçar o equilíbrio, a sustentabilidade e a paz do planeta. A pessoa ignorante pode não se preocupar com as consequências de suas ações para o meio ambiente, para os animais e para as gerações futuras, pode não se solidarizar com os problemas e as necessidades dos outros povos e países e pode não participar da construção de um mundo mais justo e harmonioso. Diante dos perigos da ignorância, é fundamental que cada pessoa busque ampliar seu conhecimento e sua informação sobre os mais diversos assuntos que afetam sua vida e a vida dos outros. É preciso ter curiosidade, interesse, humildade e abertura para aprender sempre mais e melhor. É preciso também compartilhar o que se sabe e ajudar quem não sabe. É preciso valorizar a educação como um direito e um dever de todos. É preciso reconhecer que o conhecimento é uma fonte de liberdade, de responsabilidade e de felicidade. Ao contrário da ignorância, IA não é inerentemente perigosa ou benigna. Ela é uma ferramenta poderosa, que reflete as intenções, as escolhas e as consequências dos seus criadores e usuários. Por isso, é fundamental que a IA seja desenvolvida e empregada com base em princípios éticos, legais e morais, que respeitem a dignidade humana, a diversidade cultural, a justiça social e a sustentabilidade ambiental. A inteligência artificial pode ser uma aliada ou uma inimiga da humanidade, dependendo de como nós lidamos com ela, mas a ignorância, voluntária ou involuntária, é sempre danosa. Henrique Cortez, jornalista e ambientalista Editor da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394 [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Nova Lei de Incentivo à Reciclagem permite que projetos sociais recebam recursos do IR

A Lei 14.260/2021 estabelece incentivos voltados à indústria de reciclagem e cria mecanismos de fomento aos projetos e às ações voltados à reciclagem. Entre as determinações, a lei abre espaço para que projetos aprovados pelo Ministério do Meio Ambiente possam receber recurso do Imposto de Renda (pessoa jurídica) tributados com base no lucro real e com dedução de até 1% em cada período de apuração trimestral ou anual. No caso de pessoa física, o contribuinte pode deduzir até 6% do imposto devido. Análise da startup de impacto Simbiose Social aponta para um considerável potencial de destravar o financiamento de projetos sociais conduzidos por atores do setor. São Paulo | Uma normativa promete ampliar o alcance da Lei de Incentivo à Reciclagem, publicada em 5 de agosto de 2022, pelo potencial de destravar um mercado promissor para a execução de iniciativas e projetos sociais no Brasil. A versão anterior da lei – que trazia vetos à modalidade de incentivo fiscal – ganhou normas que estabelecem incentivos à indústria de reciclagem e criou mecanismos de fomento a projetos e ações voltadas à temática. Essa é a análise setorial do time de inteligência de mercado do negócio de impacto Simbiose Social. A Lei de Incentivo à Reciclagem determina que projetos previamente aprovados pelo Departamento de Gestão de Resíduos (órgão específico singular do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) possam receber recurso do Imposto de Renda de pessoas físicas e/ou jurídicas tributadas com base no lucro real. Os contribuintes que são pessoa física poderão deduzir até 6% do imposto devido. As pessoas jurídicas, por sua vez, ficam limitadas à dedução de até 1% do imposto de renda em cada período de apuração trimestral ou anual. Para que um projeto consiga captar recursos ele deve estar contemplado em alguma dessas atividades. __ Capacitação, formação e assessoria técnica, inclusive para a promoção de intercâmbios, nacionais e internacionais, para as áreas escolar/acadêmica, empresarial, associações comunitárias e organizações sociais que explicitem como seu objeto a promoção, o desenvolvimento, a execução ou o fomento de atividades de reciclagem ou de reúso de materiais. __ Incubação de microempresas, de pequenas empresas, de cooperativas e de empreendimentos sociais solidários que atuem em atividades de reciclagem. __ Pesquisas e estudos para subsidiar ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. __ Implantação e adaptação de infraestrutura física de microempresas, de pequenas empresas, de indústrias, de cooperativas e de associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. __ Aquisição de equipamentos e de veículos para a coleta seletiva, a reutilização, o beneficiamento, o tratamento e a reciclagem de materiais pelas indústrias, microempresas, pequenas empresas, cooperativas e associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. __ Organização de redes de comercialização e de cadeias produtivas, e apoio a essas redes, integradas por microempresas, pequenas empresas, cooperativas e associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. __ Fortalecimento da participação dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas cadeias de reciclagem. __ Desenvolvimento de novas tecnologias para agregar valor ao trabalho de coleta de materiais reutilizáveis e recicláveis. Segundo os especialistas em inteligência de mercado, Cleber Lopes e Eduardo Augusto, da Simbiose Social, a publicação da Lei de Incentivo à Reciclagem ainda é recente e há muitas questões abertas ao debate. “De qualquer forma, foi mostrado que é preciso haver políticas públicas sólidas que melhorem a situação do descarte do lixo e da reciclagem no Brasil. Esperamos que essa Lei se consolide, porque o caminho para construir um país sustentável ainda é longo. Portanto, é preciso haver um envolvimento entre os diversos setores da sociedade em prol desse bem comum, gerando impacto ambiental positivo e inclusão produtiva, promovendo dignidade aos trabalhadores do setor” ,afirmam os especialistas. Para o ano de 2023, o Ministério da Fazenda – por meio dos Demonstrativos de Gastos Tributários (isenções, anistias, presunções creditícias, reduções de alíquotas, deduções, abatimentos e diferimentos de obrigações de natureza tributária realizadas com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico ou social, não realizadas no orçamento, mas, sim, por intermédio do sistema tributário) – prevê uma despesa tributária de aproximadamente R$ 299 milhões, ou seja, o órgão pretende deixar de arrecadar essa cifra para destiná-la aos projetos aprovados nesta Lei. Cenário da reciclagem no Brasil A reciclagem – processamento de materiais (que já esgotaram sua vida útil) por meio da transformação física ou química no intuito de gerar novos produtos e bens de consumo – tem sido instrumento de inclusão produtiva e geração de renda para muitos brasileiros. Um levantamento feito em 2021 pela Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) aponta que 375 organizações de catadores obtiveram juntas o total de R$ 159 milhões de faturamento com a venda de materiais para reciclagem. Em média, cada organização faturou R$ 424 mil por ano. A renda média mensal por catador é de R$ 1.098,00 só com a venda desses materiais. O Decreto 5.940/2006 institui a separação dos resíduos recicláveis pelos órgãos públicos, na fonte geradora, e a sua destinação às organizações de catadores de materiais recicláveis. Porém, ainda é baixa a incidência dos contratos ou termos de parcerias dos órgãos públicos com essas organizações. Das 452 organizações entrevistadas pela ANCAT, somente 178 alegaram ter algum vínculo contratual nos âmbitos Estadual e Federal. Por mais que existam diversas pessoas e organizações trabalhando na coleta e reciclagem de produtos descartados, somente 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados são enviados para esse processo. Mapeamento conduzido pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2019 mostrou que os bens recicláveis que vão para lixões acarretam uma perda de R$ 14 bilhões ao ano, que poderiam gerar receita e renda para as organizações e pessoas que trabalham com essa atividade. Sobre a Simbiose Social | Fundada por Raphael Mayer, Mathieu Anduze e Tadeu Silva em 2017, a Simbiose Social desenvolveu um sistema inteligente de gerenciamento de dados relativos a mais de 30 mil iniciativas sociais e oferece uma visão completa do ecossistema de projetos culturais, esportivos e de saúde aprovados em leis de incentivo desde 1992. Como resultado de cinco anos de trabalho, a empresa movimentou mais de R$ 350 milhões em incentivos fiscais. De forma concreta, a plataforma da Simbiose promove maior movimentação financeira para o terceiro setor ao gerir de forma mais eficiente e inteligente a verba de leis de incentivo de empresas e, ao mesmo tempo, otimiza a pesquisa, a avaliação e a gestão. https://simbiose.social/

Boletim EcoDEBATE - edição 4002 de 12 de maio de 2023.

Riscos e preocupações em torno da inteligência artificial (IA) Os riscos potencias da inteligência artificial são maiores do que as consequências da ignorância? The risks and concerns surrounding artificial intelligence (AI) and the issue of ignorance Are the potential risks of artificial intelligence greater than the consequences of ignorance? Energia nuclear é um péssimo negócio O artigo questiona a energia nuclear no Brasil e aborda a falta de discussão pública sobre o assunto Breve exame sobre os programas de educação ambiental na televisão brasileira “Globo Ecologia”, “Globo Repórter” e “Repórter Eco”: um breve exame sobre os programas esporádicos ou contínuos de educação ambiental na televisão brasileira Amor e sexo Rita Lee, em música, eternizou em forma de arte uma percepção sem preconceitos, mas cheia de sabedoria Degradação florestal também deve ser foco da agenda ambiental Grupo de pesquisadores defende a atualização do PPCDAm para alinhar combate à degradação florestal e ao desmatamento de maneira eficiente Mitos e verdades sobre a reciclagem do plástico Descubra como e o quê reciclar, garantindo a qualidade dos resíduos O que é pegada ecológica? O que é pegada ecológica e por que devemos nos preocupar com ela? Racismo Ambiental: As Consequências da Desigualdade Socioambiental para as Comunidades Marginalizadas Neste artigo, discutiremos as consequências do racismo ambiental para essas comunidades marginalizadas e as medidas necessárias para combater essa forma de injustiça socioambiental Também é possível acompanhar as atualizações do EcoDebate nas redes sociais: https://twitter.com/ecodebate https://www.facebook.com/profile.php?id=1415002172 https://www.instagram.com/ecodebate/ https://www.youtube.com/@Ecodebate https://podcasters.spotify.com/pod/show/portal-ecodebate Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br editor da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394

FLORESTA NACIONAL - Blog (0)ECO

A Floresta Nacional (FLONA) é uma área com uma cobertura florestal de espécies nativas com proteção especial do Estado. Seu objetivo básico é o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. De acordo com a Lei, a Floresta Nacional é de posse e domínio públicos. Quando é criada, as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas. No entanto, como uma área protegida de uso sustentável, admite que as populações tradicionais que já a habitavam permaneçam, desde que incluídas no regulamento e no Plano de Manejo da unidade. A visitação pública está condicionada ao Plano de Manejo e as pesquisas são permitidas mediante autorização prévia do órgão ambiental responsável pela gestão. No âmbito federal, a responsabilidade sobre as florestas nacionais é do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Essa categoria de unidade de conservação, quando criada pelo Estado ou Município, denomina-se, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal e serão os respectivos órgãos ambientais, os responsáveis por suas administrações. De acordo com a lei, as Florestas Nacionais dispõem de um conselho consultivo, constituído de representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, se presentes, das populações tradicionais ali residentes. A presidência deste Conselho, contudo, é reservada ao órgão responsável pela administração da unidade de conservação. O conceito das Florestas Nacionais nasceu com o Código Florestal de 1934, que institui quatro tipos de florestas especialmente protegidas. Mais tarde, o Código Florestal de 1965 (Lei n° 4771/65) reuniu as antigas tipologias, reunido-as na Floresta Nacional. Atualmente, elas são definidas e reguladas pela Lei 9.985/00, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). De acordo com o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), até o início de julho de 2015, existem 104 florestas protegidas no país: 65 Florestas Nacionais e 39 Florestas Estaduais. São exemplos: a Floresta Nacional de Carajás (PA), a Floresta Nacional de Pacotuba (ES), a Floresta Nacional do Tapajós (PA) e a Florestal Estadual Metropolitana (PR).

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Hyundai é pressionada a bloquear máquinas do garimpo em terras indígenas

por Amazônia Latitude – Greenpeace revela uso maciço de escavadeiras hidráulicas da sul-coreana nas TI Kayapó e Munduruku; Empresa tem tecnologia para travar maquinário via satélite A Hyundai é a principal fornecedora de escavadeiras hidráulicas para garimpos ilegais nas Terras Indígenas (TI) Yanomami, Kayapó e Munduruku, segundo um levantamento da ONG (Organização Não Governamental) Greenpeace. A empresa sul-coreana, com fábrica no Brasil, agora é pressionada a acionar uma tecnologia já disponível para bloquear o funcionamento de máquinas que estejam dentro das TI. As informações fazem parte do relatório “Parem As Máquinas! Por uma Amazônia Livre de Garimpo”, lançado na quarta-feira (12) pelo Greenpeace Brasil, em parceria com o Greenpeace do leste asiático. Foram identificadas 176 escavadeiras sendo utilizadas de maneira ilegal dentro de três TI, de 2021 até 2023, sendo que 75 delas (cerca de 42%) são da Hyundai HCE Brasil. As Terras Indígenas são a Kayapó (PA), Munduruku (PA) e Yanomami (RR/AM). Elaborado com contribuições da equipe da Greenpeace do leste asiático, o documento destaca que cada máquina pode custar mais de R$ 700 mil e representa um ótimo investimento, porque faz em apenas um dia o que três pessoas fazem em 40. Segundo a ONG, a maior frota de escavadeiras está na TI Kayapó, que é alvo de disputas por parte de madeireiros e da siderurgia. Reprodução: Greenpeace Brasil Protesto em frente à sede da Hyundai HCE Brasil O lançamento do relatório foi marcado pela realização de uma ação pacífica próximo à entrada da fábrica da Hyundai, em Itatiaia (RJ), na manhã de quarta-feira (12). Ativistas do Greenpeace Brasil e lideranças indígenas se posicionaram junto a um balão inflável simulando uma máquina escavadeira e seguraram faixas com as mensagens: “Amazônia Livre de Garimpo”, “Parem as Máquinas” e “Fora Garimpo”. Elementos cenográficos como lama, sangue e barras de ouro também foram utilizados para lembrar os danos e prejuízos causados pelas máquinas escavadeiras nas Terras Indígenas. As lideranças indígenas participantes da ação pacífica são dos povos Munduruku, Kayapó e Yanomami, que vêm sofrendo há anos com os efeitos do garimpo ilegal. Elas seguraram quadros com imagens da atividade criminosa em seus territórios, junto à mensagem “Fora Garimpo”. Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace Brasil Garimpo ilegal disparou com ajuda das escavadeiras Em 35 anos, a mineração ilegal cresceu 1.217% em terras indígenas da Amazônia Legal, revela estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, dos EUA. Especialistas apontam constantemente a relação entre a atividade do setor mineral e o desmatamento, e os números confirmam o fato. No intervalo entre outubro de 2018 e dezembro de 2022, por exemplo, o desmatamento resultante do garimpo ilegal na TI Yanomami subiu 309%, de acordo com levantamento elaborado pela Hutukara Associação Yanomami. Em dezembro de 2022, a área devastada era de 5.053,82 hectares, ante 1.236 hectares detectados no início do monitoramento. Tecnologia para bloquear as escavadeiras do garimpo Um dos aspectos que surgem em meio às discussões que permeiam o relatório diz respeito ao deslocamento das escavadeiras. Para o Greenpeace, é possível rastrear as máquinas. No caso da Hyundai HCE Brasil, a ONG informa que dispõe de um sistema de gerenciamento remoto, chamado Hi Mate, que utiliza GPS para coletar dados. A ferramenta também seria capaz de emitir um comando para interromper o funcionamento das máquinas. É isso que a ONG cobra das empresas fabricantes das escavadeiras: que a indústria pare de vender unidades que sejam usadas para o garimpo ilegal e paralise as máquinas, quando estiverem trabalhando com tal objetivo, ao serem localizadas nesse contexto. De acordo com o relatório, as máquinas encontradas começaram a ser vistas na Terra Yanomami a partir do segundo semestre do ano passado. Quatro delas foram achadas em uma estrada clandestina. Perto do local, vive um grupo de indígenas em isolamento voluntário. “Como se vê, o garimpo ilegal está investindo na construção de rodovias dentro de florestas intactas para levar as escavadeiras para o interior dos territórios indígenas”, alerta a ONG. “A introdução dessas máquinas ajuda a explicar a expansão muito rápida e muito violenta dessa atividade [garimpo ilegal] na Amazônia”, disse o diretor de programas do Greenpeace Brasil, Leandro Ramos, à Agência Brasil. A Agência Brasil entrou em contato com a Hyundai, mas a empresa não deu retorno até a manhã desta segunda-feira (17). * Com informações de Letycia Bond (Agência Brasil) e Greenpeace Brasil

quarta-feira, 10 de maio de 2023

A oportunidade climática: um passo à frente da transição para as zero emissões líquidas na América Latina.

Este artigo foi escrito pelo Economist Impact, com o apoio do J.P. Morgan – Os investidores latino-americanos devem esperar uma migração na demanda, de indústrias de alta emissão para outras mais sustentáveis A mudança do clima está remodelando a economia global, afetando a produção em indústrias altamente dependentes de recursos naturais e alterando a demanda dos consumidores. Enquanto os países procuram reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), e os consumidores buscam produtos e serviços mais sustentáveis, a demanda está migrando das indústrias de alta emissão para alternativas mais sustentáveis. Os investidores globais reconhecem esta oportunidade: fundos sustentáveis atraíram um recorde de US$ 69,2 bilhões líquidos em 2021, um aumento de 35% comparado com 2020, ano do recorde anterior.1 No entanto, os investidores ainda não reconheceram por completo a oportunidade representada pela transição para as zero emissões líquidas na América Latina. Hoje, a região contribui com apenas 2% das emissões globais de títulos verdes.2 Com um capital natural imenso e uma população urbana em crescimento, a América Latina pode se tornar um player fundamental na economia verde. Desde a agricultura sustentável até a energia e o transporte limpos, o investimento em indústrias de baixa emissão e em serviços de ecossistema pode se tornar um caminho para os investidores latino-americanos que buscam crescimento de longo prazo. Este artigo explora como a demanda por alternativas de baixo carbono está gerando oportunidades em alguns dos principais setores econômicos da América Latina, que também se beneficiam dos ativos naturais únicos da região. Nossa pesquisa descobriu que: A transição para as zero emissões líquidas pode reduzir a produção estimada de petróleo e gás até 2050, pois a dependência menor de combustíveis fósseis acelera a adoção de energias renováveis. A emissão de títulos verdes na América Latina mais do que dobrou nos últimos dois anos e está ajudando a financiar projetos em energia renovável, transportes e uso do solo. O setor pode se adaptar à mudança na demanda com a ajuda de investimento em tecnologias agrícolas e práticas sustentáveis, que melhoram a produtividade das lavouras, resolvem o desperdício de alimentos e aprimoram a pecuária. Um dos poucos sumidouros de carbono do mundo, a Bacia Amazônica contribui para o imenso potencial da região de sequestrar carbono da atmosfera e está posicionada para se tornar líder nos mercados voluntários de créditos de carbono. Mudanças na demanda e riscos geopolíticos nos mercados de energia geram oportunidades para as energias renováveis Para limitar os impactos da mudança climática, os países precisam zerar as emissões líquidas, equilibrando a quantidade de GEE produzida e removida da atmosfera. Para atingir as zero emissões líquidas, os países precisarão alterar a demanda de operações intensivas em carbono para alternativas com menos emissões. No setor energético, que é hoje fonte de 46% das emissões latino-americanas, seria preciso depender menos de combustíveis fósseis e aumentar a demanda por geração de energia a partir de fontes renováveis, hidrogênio e biocombustíveis.3,4 Esta mudança desafiaria a indústria de petróleo e gás, que historicamente responde por um percentual importante do PIB da região. Estimativas sugerem que, em 2050, os volumes de produção de petróleo e gás podem ser 55% e 70% menores do que são hoje.5 A região registrou uma queda constante na receita com petróleo na última década. Em média, a renda do petróleo6 na América Latina representa hoje 1,7% do PIB, em comparação com 3% em 2010. Em países como o México, a receita do petróleo já caiu para menos da metade nos últimos 10 anos (Figura 1). Fonte: World Bank (2019) World Economic Indicators A alta brusca nos preços de petróleo e gás e os riscos geopolíticos cada vez maiores associados à dependência de combustíveis fósseis pode acelerar a adoção de energias renováveis. Com a perda de estoques por causa de invasão russa à Ucrânia, os renováveis estão tendo um ótimo desempenho, pois os investidores estão buscando alternativas energéticas para fazer frente à escalada nos preços de energia.8 As indústrias devem descontinuar os combustíveis fósseis, fazendo com que a América Latina passe por uma transformação energética. Esta mudança exigirá investimentos consideráveis em fontes renováveis e limpas de energia, o que representa uma oportunidade de longo prazo para os investidores.

terça-feira, 9 de maio de 2023

Pesquisa revela o aumento dos eventos extremos na costa brasileira

Está ficando quente e não é só impressão! Um estudo inédito realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) avaliou as ondas de calor ao longo da costa brasileira pela variação na intensidade e frequência de eventos extremos de temperatura. O estudo demonstra que está se tornando mais frequente encontrar temperaturas cada vez mais altas na costa sudeste e sul brasileira. O litoral do ES é a região com maior impacto, com aumento da frequência das ondas de calor e de frio. Nos últimos 40 anos, a ocorrência de eventos extremos de temperatura quase dobrou nos litorais de SP (84%) e RS (100%), e quase triplicou no ES (188%). Nos litorais de SP e do RS tem aumentado a frequência dos eventos extremos de calor, enquanto no MA e RN não foram observadas alterações nos padrões de extremos de temperatura ao longo do ano. No litoral do RS observou-se também que os extremos de temperaturas mínimas do dia estão cada vez mais altas, ou seja, o dia ‘refresca menos’ e não atinge temperaturas tão baixas. A pesquisa demonstra uma tendência de alteração dos padrões ‘estáveis ou definidos’ esperados para as estações climáticas, demonstrando um aumento da amplitude térmica diária ou da variação abrupta de temperatura entre dias consecutivos. Ondas de calor/frio e eventos extremos de temperatura (alta ou baixa) podem impactar a agropecuária, a biodiversidade e a saúde humana, com impactos econômicos, sociais e climáticos. O estudo avaliou uma série histórica com dados de temperatura do ar observados a cada hora do dia ao longo dos últimos 40 anos em 5 regiões costeiras do país: MA (São Luís), RN (Natal), ES (São Mateus), SP (Iguape) e RS (Rio Grande). A partir destes dados, os pesquisadores utilizaram modelos matemáticos para definir o que seriam extremos de temperatura para cada uma das regiões, pois em um país tão grande quanto o Brasil e com clima tão diverso, uma determinada temperatura pode ser extrema em uma região e normal em outra. Além disso, diferentes temperaturas podem ser consideradas extremas dependendo do mês do ano em cada local. Com este estudo detalhado foi possível observar como a frequência e a intensidade dos valores de temperaturas máxima e mínima, a variação da amplitude térmica ao longo do dia e as mudanças abruptas de temperatura entre dias consecutivos variam em cada região e época do ano. O estudo será publicado dia 25/04 na revista Scientific Reports do grupo Nature, uma das mais prestigiosas revistas científicas no mundo, que foi a quinta revista mais citada mundialmente em 2021. As ocorrências de temperaturas extremas e as ondas de calor e frio Eventos extremos de temperatura quente ou fria são parte da realidade climática do mundo. Porém, os efeitos das mudanças climáticas são visíveis e alteram esse padrão. “Um dos exemplos práticos das mudanças climáticas é o aumento na intensidade e na frequência de eventos extremos de temperaturas quentes e frias. Uma ocorrência de temperatura extrema ocorre quando uma dada temperatura máxima ou mínima excede um ‘limite’ esperado e característico da região. Uma onda de calor ou de frio corresponde a um evento extremo e é caracterizada por um período de alguns dias com temperaturas máximas superiores ou mínimas inferiores ao limite esperado para a época do ano.” explica William Conti, pesquisador da Unifesp responsável pela modelagem matemática. Como definir este ‘limite’ no tempo e no espaço foi o objetivo principal da pesquisa. Será que um extremo de temperatura no sul do Brasil e no norte tem o mesmo valor? Será que estes limites estão mudando ao longo dos anos? E dentro de um mesmo ano, será que uma dada temperatura pode ser extrema em uma estação do ano sem ser nas demais? E em menor escala temporal, como está a variação de temperaturas máximas em dias consecutivos? E como está a diferença entre as temperaturas máximas e mínimas em um mesmo dia? Estas foram as perguntas norteadoras da pesquisa realizada por pesquisadores da Unifesp que avaliou os padrões sazonais e diários. Estes impactos foram medidos em termos de ocorrências (dias em que um extremo aconteceu) e de eventos (dias seguidos da ocorrência de extremos, caracterizando uma onda) O estudo mostrou que toda a costa brasileira já está sofrendo algum impacto das mudanças climáticas em relação à temperatura do ar, com os litorais das regiões sudeste e sul sendo mais impactadas do que das regiões Norte e Nordeste, onde apesar de existirem extremos de temperatura ao longo de todo ano, eles não estão aumentando em frequência ou intensidade. Porém, no sudeste e sul do país o cenário é diferente. Nos litorais de RS, SP e ES a frequência de ocorrências diárias de extremos máximos de temperatura e das ondas de calor, caracterizada por dias consecutivos de extremos máximos de temperatura, têm aumentado ao longo dos anos. Além disso, a frequência de ocorrências diárias e de eventos de ondas de frio no ES têm aumentado. “Estes dados mostram como as regiões sudeste e sul brasileira já se encontram com impactos da temperatura do ar e que irão afetar a biodiversidade e até a economia”, destaca Fábio Sanches, autor da pesquisa. “Identificamos o litoral do ES como a região mais afetada dentre as que estudamos, pois além das ondas de calor, foi a única região onde a frequência de ondas de frio é cada vez maior”, explica Sanches. Além da frequência de eventos no sudeste e sul, um dado sobre a intensidade das temperaturas mínimas extremas chamou a atenção dos pesquisadores: no litoral do RS a temperatura mais baixa (frio extremo) é cada vez maior. “Isso significa que está ficando cada vez menos frio no sul do país, o que pode ter impactos na produção agrícola e até no turismo”, explica Ronaldo Christofoletti, coordenador da pesquisa e bolsista produtividade do CNPq. Nos últimos 40 anos, a ocorrência de eventos extremos de temperatura quase dobrou em SP (84%) e RS (100%), e quase triplicou no ES (188%). O número de eventos por ano é variável dependendo de condições específicas como por El Nino e La Ninha, mas se considerarmos uma média, no ES a taxa de aumento de eventos extremos é, em média, de 4,7% ao ano, enquanto em SP é, em média, de 2,1% e RS de 2,5% ao ano. Estabilidade climática: a amplitude de temperatura ao longo do dia e as variações bruscas de temperatura entre dias consecutivos Além de avaliar os extremos de temperatura máxima e mínima, os pesquisadores avaliaram outros dois fatores: primeiro, as possíveis variações da amplitude térmica ao longo de um mesmo dia (Tmax – Tmin), e depois se existiam mudanças ‘bruscas’ de temperatura, a partir da comparação da temperatura máxima ou mínima entre dias consecutivos. Para estes indicadores, a pesquisa mostrou que toda a costa brasileira apresenta alterações climáticas. “Compreender a amplitude térmica diária e também as variações de temperatura entre dias consecutivos é importante para compreender a dinâmica climática e seus potenciais impactos, como a chegada de frentes frias e também da regulação de chuvas” explica Fernando Martins, pesquisador da dinâmica climática e bolsista produtividade do CNPq. A região do RN foi a única que não apresentou variações na amplitude térmica diária. Porém, é cada vez mais frequente encontrar dias de maior amplitude térmica no MA. Além disso, o MA foi a única região que demonstrou aumento do número de dias consecutivos com amplitude térmica maior. No sudeste e sul, as alterações térmicas são ainda maiores. Além do aumento da frequência de dias de maior amplitude térmica, as regiões de ES, SP e RS apresentaram aumento na intensidade da variação térmica diária, o que significa que é cada vez mais frequente encontrar dias cada vez mais variáveis na temperatura. “Diferente das ondas de calor e frio que indicam situações extremas de temperatura, os dados de amplitude térmica diária apontam mudanças de temperatura ao longo de horas que estão mais associadas ao nosso conforto térmico ao longo do dia”. explica Fábio Sanches. Ao avaliar as mudanças abruptas de temperatura entre dias consecutivos, o padrão da costa brasileira se inverteu, com MA e RN apresentando mais impactos do que o sudeste e sul brasileiro. No MA e RN foi observado aumento de mudanças abruptas tanto das temperaturas máximas quanto mínimas em dias consecutivos, sendo que no MA foi ainda observado que o número de dias seguidos em que as temperaturas máximas variam muito entre dias é cada vez mais frequente. O ES que tinha apresentado muitos impactos referentes às ondas de calor, frio e a amplitude térmica diária, não apresentou nenhum impacto quando analisando as variações entre dias consecutivos. Já para SP e RS, existe um aumento da frequência de eventos onde a temperatura máxima entre dias consecutivos é muito variável. “Compreender as variações de temperatura em um mesmo dia e entre dias consecutivos traz uma relação direta com impactos fisiológicos e até na saúde pública, pois muitas das doenças respiratórias e da nossa sensação de bem estar está associada a variação da temperatura” explica Ronaldo Christofoletti. Os impactos das variações de temperatura “O aumento de ondas de calor e de frio tem vários impactos na sociedade em todo o mundo, que vão desde o desconforto térmico até o aumento de incêndios florestais, problemas de saúde e da mortalidade de animais, plantas e dos seres humanos, especialmente idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Estudos recentes demonstram um aumento de quase 70% na mortalidade de idosos devido ao calor intenso. Ao longo dos últimos anos foram vários casos de mortalidade por ondas de calor como vistos na Espanha, Canadá e Portugal por exemplo”, explica Christofoletti. Os impactos das variações de temperatura também impactam a biodiversidade. “Diversas espécies de animais marinhos têm apresentado alterações fisiológicas, de mudança de comportamento e até da distribuição de onde vivem em função das ondas de calor e frio. Eventos extremos de temperatura podem ocasionar mortalidade em massa de recursos pesqueiros e influenciar as cadeias de pesca, especialmente as da pesca artesanal”, afirma Sanches. Além dos recursos pesqueiros, Christofoletti destaca que “o agronegócio brasileiro está ameaçado por estas variações. A produtividade é dependente do ciclo anual de temperatura e chuva, e as alterações de extremos e de amplitude térmica podem baixar a produtividade, a qualidade da produção ou mesmo levar a perda da safra. Especialmente no sul do país, com os dados de que as temperaturas mínimas estão cada vez mais quentes, pode levar a uma alteração do sistema produtivo nas próximas décadas”. A variação de extremos de temperatura e também da amplitude térmica diária e em dias consecutivos pode intensificar eventos de chuva extremos, como os vistos na costa de São Paulo em 2023. “O regime de chuvas está associado à temperatura do ar, evaporação, temperatura do oceano e sistemas de pressão atmosférica que produzem os ventos. A dinâmica da condição meteorológica associada aos eventos extremos ou mudanças abruptas entre dias consecutivos é propícia para influenciar o volume e a intensidade de chuvas e pode levar a tragédias como ocorrida no litoral norte de São Paulo em fevereiro, que foi resultado de dias muito quentes, oceano mais quente, maior evaporação de água e massas de ar e ventos que atingiram a costa” explica Fernando Martins. “Nosso estudo demonstra para diferentes regiões da costa brasileira como as ondas de calor, frio e amplitude térmica diária estão variando. Estes dados permitem passos futuros para entender a influência destas variações em índices da agricultura (por ex. produção agrícola de espécies regionalmente importantes), saúde pública (por ex. aumento de casos de problemas respiratórios ou de mortalidade de idosos em períodos de ocorrência de extremos de clima), e da importância das políticas públicas locais, regionais e nacionais” explica Christofoletti. “O Governo Federal têm destacado a importância da resiliência climática e dos planos municipais e estaduais para enfrentamento climático. Para isso é essencial conhecer como as mudanças climáticas já estão impactando cada região, como contribui nosso estudo”, complementa Christofoletti. Porém, um desafio foi destacado pela equipe de pesquisadores: “Os estudos para as mudanças climáticas demandam dados históricos e contínuos de monitoramento. Para se entender a situação atual dos eventos extremos e para prever cenários futuros que auxiliem nos planos de resiliência costeira é urgente que ampliemos as estações de monitoramento de dados meteorológicos na costa brasileira. Pesquisas como esta demandam longas séries temporais de dados contínuos e de grande confiabilidade. Os governos municipais e estaduais devem ampliar as estações de monitoramento nas regiões. Os custos de instalação e monitoramento para estes governos são certamente menores do que os gastos necessários para recuperar posteriormente os impactos dos eventos extremos nos setores econômicos e da saúde pública” afirma Fábio Sanches. “Além de garantir os dados locais e regionais continuamente sendo obtidos, é essencial que eles sejam de livre acesso para a sociedade e para as Universidades. Muitas pesquisas em parceria entre os governos e Universidades locais podem ajudar a compreender o clima local e fortalecer as ações nos municípios”, explica Sanches. Com os dados disponíveis no momento para os municípios indicados, a pesquisa avaliou a variação ao longo dos últimos 40 anos que refletem as regiões próximas. “Um dos diferenciais do nosso estudo é fornecer informações que mostram o que possivelmente é um extremo em cada mês no momento atual. Entender as limitações dos dados também é um passo importante” explica Conti. “Primeiro, os valores de extremo são considerados segundo os padrões de temperatura do ano e dos períodos recentes. Portanto, em séries temporais longas, eles variam ao longo dos anos, por isso é essencial um monitoramento contínuo (exemplos detalhados abaixo). Segundo, ao pensar em valores extremos, muitas pessoas buscam apenas o extremo máximo e mínimo do ano. Porém, é importante compreender mensalmente estes valores. Às vezes, no sudeste e sul teremos um valor de temperatura em julho que não é um extremo para o ano, pois neste período do ano são esperadas temperaturas máximas mais baixas do que em janeiro. Porém, essa dada temperatura pode ser um extremo para aquele mês de julho e trazer impactos para animais e plantações naquele momento” explica Conti. Os extremos em temperatura Conforme demonstrado pela pesquisa, os valores extremos variam ao longo dos anos. Porém, para efeito de referência em 2023, os pesquisadores indicaram os valores máximos e mínimos para todo o período e os valores atuais que possivelmente podem ser considerados como temperatura extrema no litoral de cada região com base na mediana das temperaturas extremas em cada mês dos 40 anos de dados. Estes valores possuem uma influência regional em função das cidades onde a estação metereológica se encontra. Valores limites atuais de temperatura para os quais valores acima do Tmax ou abaixo do Tmin podem ser considerados extremos de calor ou frio, respectivamente. Destaca-se que estes valores são para o momento atual e que irão variar ao longo dos próximos anos devido aos impactos das mudanças climáticas Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez MA São Luis Tmax 33 32,5 32 32 32,5 33 33,5 35 35,5 35 34 34 Tmin 21,5 21 21 21,5 21,5 21,5 21,5 21,5 — 21,5 22,5 22 RN Natal Tmax 31,5 32 32 32 31 30 29 29,5 30 30,5 31 31,5 Tmin 23,5 23 23 23 23 21,5 20,5 20,5 21 22 23 23,5 ES São Matheus Tmax 34 35 34 33 32 31 30 30 32 32 33 33,5 Tmin 20 20 19,5 18 16 14,5 14 14 15 16 17 18 SP Iguape Tmax 36 36 35 34 31 30,5 30 32 33 33 34,5 36 Tmin 17 17,5 17 14 9,5 6,5 6,5 7 9 11 13 15 RS Rio Grande Tmax 30 31 30 28 25 22 20 21 21 23 27 28 Tmin 18 18 16 12 6 2,5 2 2,5 5 9 11 15 Sobre a pesquisa e os autores O artigo “The increase in intensity and frequency of surface air temperature extremes throughout the western South Atlantic coast” será publicado na revista Scientific Reports em 25 de abril (embargo finaliza às 8h da manhã). A pesquisa foi realizada por pesquisadores do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com apoio da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e tem como autores: Fábio H. C. Sanches – Pós-Doutorando – fabiohcsanches@yahoo.com.br; 11-98131-7541; Fernando R. Martins – Professor e bolsista produtividade do CNPq – martins@unifesp.br; 13 99712-0646 William R. P. Conti – Professor Ronaldo A. Christofoletti – Professor, bolsista produtividade do CNPq, Representante Brasileiro na Unesco para Cultura Oceânica – christofoletti@unifesp.br, 13 99606-0733 (#Envolverde)