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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Grupo da USP cria coleção de células-tronco com características genéticas brasileiras

Por Karina Toledo da Agência FAPESP –

Segundo os autores do estudo, divulgado na revista Scientific Reports, o material poderá ser usado em terapia, desenvolvimento de novos medicamentos e estudos de doenças (imagem: neurônios derivados das células-tronco pluripotentes (núcleos em azul))
Segundo os autores do estudo, divulgado na revista Scientific Reports, o material poderá ser usado em terapia, desenvolvimento de novos medicamentos e estudos de doenças (imagem: neurônios derivados das células-tronco pluripotentes (núcleos em azul))
Uma coleção de células-tronco pluripotentes capaz de refletir a mistura genética da população brasileira foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) vinculados ao Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionária (LaNCE).
Resultados da pesquisa, que contou com apoio da FAPESP, foram publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
“Além do uso em terapias, essas células-tronco poderão ser úteis no desenvolvimento de novos medicamentos – complementando ou até mesmo substituindo testes em animais e aumentando a segurança dos ensaios em humanos. Também poderão auxiliar no estudo de doenças comuns em nossa população”, disse Lygia da Veiga Pereira, coordenadora do LaNCE.
A equipe de Pereira já vinha cultivando há alguns anos linhagens de células-tronco embrionárias derivadas de embriões congelados durante procedimentos de fertilização in vitro. No entanto, segundo a pesquisadora, análises genômicas revelaram que essas linhagens não eram representativas da população brasileira, pois apresentavam mais de 90% de ancestralidade europeia.
“Esses embriões vinham de clínicas privadas, às quais apenas uma pequena parcela da população tem acesso. Os serviços públicos não congelam os embriões excedentes por uma questão de custo. Decidimos então firmar parceria com o grupo do ELSA-Brasil [Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto].”
Financiado pelos ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o ELSA é um estudo multicêntrico que vem sendo realizado desde 2008 em seis universidades brasileiras de diferentes estados. Ao todo, são acompanhados 15.105 homens e mulheres entre 35 e 74 anos, sendo 5 mil deles no Hospital Universitário (HU) da USP, sob coordenação de Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina.
Os voluntários passam por exames periódicos com o objetivo de se identificar o risco de doenças cardiovasculares e diabetes. De acordo com Lotufo, no primeiro exame foram colhidas e guardadas amostras biológicas, que posteriormente serviram de base para a criação da nova biblioteca de células-tronco.
Reprogramação celular
A equipe do LaNCE fez uso de uma técnica premiada com o Nobel de Medicina em 2012 e descrita em 2006 por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão. O método consiste em inserir na célula adulta – nesse caso, células do sangue periférico dos voluntários do ELSA – certas proteínas capazes de reprogramar o genoma celular.
Esses fatores de transcrição, como são conhecidos, ativam genes relacionados ao estágio embrionário da célula e desligam outros genes que deveriam estar ativos após o amadurecimento. São criadas assim células-tronco pluripotentes induzidas (IPS) que podem, com o devido estímulo, se diferenciar nos mais diversos tecidos do corpo humano.
“Criamos uma biblioteca inicial com 23 linhagens celulares apenas como prova de conceito. Mas temos amostras de 1.872 indivíduos e podemos criar novas linhagens de acordo com a demanda da comunidade científica ou de laboratórios farmacêuticos”, afirmou Pereira.
Segundo os dados descritos na Scientific Reports, as células que integram a nova coleção apresentam entre 14,2% e 95% de ancestralidade europeia; entre 1,6% e 55% de ancestralidade africana; e entre 7% e 56% de características indígenas – sendo consideradas representativas da mistura genética que caracteriza a população do país.
Outra grande vantagem da parceria com a equipe do ELSA-Brasil, segundo Pereira, é que as amostras biológicas estão acompanhadas de um vasto banco de dados clínicos, abrindo a possibilidade de aplicação do material em diversos tipos de estudo.
“Posso selecionar no banco de dados do ELSA apenas amostras de voluntários com hipertensão, ou diabetes, ou depressão ou asma e gerar uma coleção de linhagens adequada para cada estudo. Por exemplo: o ELSA nos mostra que a incidência de hipertensão no Brasil é de 30% e que cerca de 10% dos hipertensos não respondem ao tratamento. Mas qual é o mecanismo molecular por trás dessa resistência à terapia? Com essas células-tronco podemos desenhar experimentos para tentar responder a esse tipo de dúvida”, explicou Pereira.
Outra questão importante, na avaliação da pesquisadora, é a resposta variável das pessoas a diferentes medicamentos aprovados, que podem não funcionar ou causar efeitos adversos para vários pacientes.
“Na Inglaterra, um em cada 15 casos de admissões hospitalares deve-se a reações adversas a medicamentos, enquanto nos Estados Unidos 2 milhões de pacientes por ano apresentam reações adversas graves e 100 mil morrem. Sabemos que nossos genes são o fator mais importante para determinar como respondemos a um medicamento. Logo, um fármaco testado na população europeia, por exemplo, pode não ter a mesma resposta na população asiática”, explicou Pereira.
Como é economicamente inviável testar um novo medicamento em vários países antes de ele ser comercializado, acrescentou a pesquisadora, poderiam ser usadas células-tronco com as características genéticas dessas populações – reduzindo custos, aumentando a segurança e acelerando o processo de desenvolvimento de fármacos.
“Por enquanto temos amostras apenas de parte dos voluntários do ELSA acompanhados em São Paulo, mas gostaríamos de expandir para os mais de 15 mil participantes. Essa biblioteca da população brasileira aumenta significativamente a diversidade genética das células-tronco pluripotentes disponíveis no mundo, que são em sua grande maioria de origem europeia e asiática. Nosso objetivo ao publicar esse trabalho é divulgar a disponibilidade dessa coleção de células associadas a dados clínicos para que pesquisadores do mundo todo possam usá-las em seus estudos”, disse Pereira.
O serviço prestado pelo LaNCE não tem fins lucrativos. De acordo com Pereira, o desenvolvimento das linhagens poderia ser realizado por meio de parcerias, sendo cobrado apenas valores necessários para cobrir os custos de operação. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail: lpereira@usp.br.
O laboratório integra a estrutura do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP. A pesquisa também contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O artigo Increasing The Genetic Admixture of Available Lines of Human Pluripotent Stem Cells (doi: 10.1038/srep34699) pode ser lido em: www.nature.com/articles/srep34699. (Agência FAPESP/#Envolverde)
Publicado originalmente no site da Agência FAPESP

Etnobotânica aproxima conhecimentos indígenas e científicos

Por Felipe Storch do ISA –
Pesquisadores e cientistas brasileiros e britânicos e pesquisadores e conhecedores indígenas do Rio Negro, estão reunidos em oficina, em São Gabriel da Cachoeira, cujo tema é Etnobotânica e Ilustração Botânica, a partir de material coletado na região pelo naturalista britânico Richard Spruce
O material botânico coletado pelo naturalista britânico Richard Spruce, há mais de 150 anos na região do Rio Negro e em outros locais amazônicos, é o tema de um encontro que está acontecendo em São Gabriel da Cachoeira, noroeste amazônico. A ideia é que cientistas, pesquisadores britânicos e brasileiros e pesquisadores e conhecedores indígenas do Rio Negro façam uma reflexão sobre dois mundos distintos – o do conhecimento científico e o do conhecimento indígena – e de que forma eles podem caminhar juntos.
O diretor da Foirn, Renato Matos Tukano fala na abertura da oficina, na maloca da Foirn
       O diretor da Foirn, Renato Matos Tukano fala na abertura da oficina, na maloca da Foirn

Para o coordenador adjunto do Programa Rio Negro, Aloisio Cabalzar, a oficina de Etnobotânica e Ilustração Botânica que acontece na sede do ISA e na maloca da Foirn, em São Gabriel, é parte de um esforço para aproximar instituições de pesquisa brasileiras e britânicas, em torno de pesquisas colaborativas – interculturais e interdisciplinares. Participam da oficina especialistas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do Jardim Botânico de Kew (Inglaterra), do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e da Universidade de Londres Birkbeck, além do Instituto Socioambiental e de pesquisadores indígenas dos rios Tiquié, Içana, de outros locais do Rio Negro, da comunidade de Itacoatiara Mirim com apoio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). O encontro, que se iniciou em 27 de outubro e se estenderá até 5 de novembro, promove o intercâmbio de conhecimentos sobre as plantas e ainda contempla um treinamento em metodologias de pesquisa botânica.

 William Milliken fala sobre os objetivos da Oficina Etnobotânica na maloca da Foirn

William Milliken fala sobre os objetivos da Oficina Etnobotânica na maloca da Foirn

Na avaliação do etnobotânico William Milliken (Kew), a oficina reflete sobre perguntas como: “O que podemos aprender com a coleção de Spruce? Como podemos juntar os dois mundos, se é que existe esta distinção, do conhecimento indígena e do conhecimento científico? Como podemos usar a coleção de Spruce para promover a pesquisa indígena aqui na Amazônia?”. Cláudia Lopez, do Museu Paraense Emílio Goeldi, acredita que a oficina é uma oportunidade de auto-reflexão para quem trabalha em institutos de pesquisa. “Nós podemos construir conhecimento em diálogo com os povos indígenas.”
Interculturalidade
Os temas abordados ao longo dos próximos dias incluem taxonomia botânica básica, coleção e manejo de plantas para um herbário, coleção de dados etnobotânicos, fotografia para pesquisas bioculturais, coleção de artefatos e classificação, interpretação em diferentes contextos culturais, manejo e armazenagem de dados. Alguns dos participantes estão em um workshop paralelo de ilustração botânica coordenado por Patrícia Villela e Rachel Rosadas, ambas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Na sexta (28), os pesquisadores indígenas apresentaram suas pesquisas sobre os ciclos anuais no Rio Tiquié, agrobiodiversidade, cultura material, pimenta baniwa e paisagens florestais. A interação entre os pesquisadores indígenas e os cientistas abre um diálogo para que as comunidades possam ter acesso a todo conhecimento já gerado sobre a região.
Durante as noites, haverá um ciclo de palestras aberto ao público sobre o legado de Richard Spruce e os conhecimentos indígenas, além de lançamento de livros do ISA sobre pesquisas interculturais. (Instituto Socioambiental/#Envolverde)
*Publicado originalmente no site do Instituto Socioambiental 

REFUGIADOS E BRASILEIROS DISCUTEM PROJETOS DE NEGÓCIOS

Por ONU Brasil –
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Participantes da série de workshops “Negócios Sociais”, da ONG Migraflix, aprendem sobre o uso da ferramenta MVP. Foto: Migraflix/ José Roberto Comodo Filho.

Em uma terceira rodada de debates realizada em São Paulo no último sábado (22), cerca de 30 pessoas, entre elas refugiados, imigrantes e brasileiros, discutiram projetos de negócios voltados para solucionar problemas de estrangeiros que desembarcam no Brasil para reconstruir suas vidas.
Seis grupos vão apresentar iniciativas, já no formato de negócio inovador, a um corpo de jurados nos próximos dias 19 e 20 de novembro, na rodada final da iniciativa “Negócios Sociais”. O vencedor receberá uma consultoria do SEBRAE para o projeto se tornar realidade.
A série de workshops é uma iniciativa da organização não governamental Migraflix e tem o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), do Google e do SEBRAE.
Além de dar ferramentas para criar empreendimentos, os workshops têm como objetivo integrar brasileiros, refugiados e imigrantes e desafiá-los a propor ideias criativas e economicamente plausíveis para facilitar a vida de quem quer viver no Brasil.
Os seis projetos propostos vêm sendo aperfeiçoados desde o primeiro workshop, em 13 de agosto: uma plataforma na Internet para facilitar a busca de emprego; a montagem e distribuição de kits de boas-vindas em aeroportos; a recepção de refugiados em portos, aeroportos e pontos de fronteira; uma plataforma online para empresas recrutarem refugiados e imigrantes; outra para o compartilhamento de experiências, produtos e serviços entre refugiados imigrantes e brasileiros; e um banco de dados com oportunidades de hospedagem e moradia.
Refugiados empreendedores
Uma das mais entusiasmadas participantes do “Negócios Sociais” é a administradora de empresas Maha Mamo, que nasceu na Síria e passou a maior parte de sua vida no Líbano com sua família.
Maha jamais conseguiu ser reconhecida como cidadã desses dois países por razões religiosas e, refugiada no Brasil há dois anos, tornou-se uma das vozes mais vibrantes da causa da apatridia — pessoas que não são consideradas nacionais sob as leis de nenhum país. Por sua influência, seu grupo no workshop trata de uma das questões que mais a afligiu quando decidiu se refugiar no Brasil: a moradia.
“Recebi ordem de deixar o Líbano em 48 horas e, assim que consegui o visto para o Brasil, a única coisa que queria saber era onde eu iria dormir”, relatou. “Felizmente, antes de eu embarcar junto com meus irmãos, encontrei pelo Facebook uma família brasileira que aceitou nos hospedar, em Belo Horizonte”, completou Maha.
Já o grupo do engenheiro de telecomunicações Majd Soufan contribuiu para um dos projetos voltados para a recepção de refugiados nos pontos de chegada ao Brasil. “Todos precisam de informações básicas, como onde se abrigar, como encontrar água e comida, como solicitar o refúgio às autoridades, como conseguir um emprego”, explicou Soufan, que é refugiado sírio e vive no Brasil há três anos.
Na fase de busca por emprego, os refugiados no Brasil têm enfrentado o mesmo problemas que os brasileiros desempregados: a crise econômica. Mas, entre os vários empecilhos, os estrangeiros se ressentem dos burocrátivos processos de revalidação de diplomas. Diante disso, um dos grupos de empreendedores fixou-se em facilitar esse processo. Entre seus participantes, está o refugiado cubano José Angel Malbranche, que há um ano vive no país.
José Angel atua na sua área de formação: é graduado em Língua Inglesa, em Cuba, e trabalha como professor e tradutor desde que ingressou no Brasil. Mas não trouxe seu diploma, o que lhe causa entraves para se candidatar a um mestrado ou a um emprego em escolas. “Este workshop abriu a cabeça de todos nós e nos dá ferramentas para adotar projetos que vão ajudar muitas outras pessoas”, resumiu.
Ao avaliar o projeto de outro grupo, que pretende divulgar um folheto com informações básicas para refugiados recém-chegados ao Brasil, Alphonse Nyembo, da República Democrática do Congo, sugeriu a inclusão de um contato para auxílio psicológico imediato. “Os refugiados chegam muito abalados, têm medo do que vão encontrar no país que os acolhe. Quando uma pessoa é forçada a se deslocar devido à guerra, já está com problema psicológico”, comentou durante os trabalhos. (ONU Brasil/ #Envolverde)
*Publicado originalmente no site da ONU Brasil

A PEGADA MATERIAL DA ECONOMIA CONTEMPORÂNEA

Ricardo Abramovay* –
ricardo-abramovayO mundo está se distanciando do principal objetivo estabelecido há quatro anos na RIO+20, a transição para uma Economia Verde. A proposta central da reunião organizada pelas Nações Unidas consistia em aumentar a eficiência dos sistemas produtivos (usando cada vez menos recursos para oferecer bens e serviços) e, ao mesmo tempo, reduzir as desigualdades das sociedades contemporâneas. Um Relatório recém-publicado pelo Painel de Recursos Internacionais do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente mostra um quadro extremamente preocupante: a fome de recursos por parte da economia global não cessa de aumentar. A ambição de fazer mais com menos sequer iniciou sua concretização. A ideia tão comum de que a revolução digital é a porta de entrada para a economia da abundância e a era da desmaterialização é frontalmente desmentida pelos fatos. A palavra-chave da Economia Verde (decoupling, ou seja, desacoplamento, descasamento, desligamento) ainda não chegou ao mundo real.

Nos últimos quarenta anos, a população mundial dobrou, o PIB global (a preços constantes) triplicou e o uso de materiais passou de 22 bilhões de toneladas em 1970 para 71 bilhões de toneladas em 2010, ou seja, acompanhou o aumento do PIB.
Contrariamente ao que se poderia esperar, o ritmo deste aumento no uso de materiais não é atenuado pelo progresso científico e tecnológico. Desde 1970 o uso de materiais cresce 2,7% ao ano. Mas na primeira década do milênio, o aumento atingiu 3,7% ao ano. Levou trinta anos para que a média anual no uso de materiais “per capita” pulasse de 6,4 toneladas em 1970 para 7,9 toneladas em 2000. Mas a partir daí, em apenas dez anos, este número médio alcançou 10,1 toneladas per capita (e por ano). “A velocidade com que estamos explorando recursos naturais, gerando emissões e lixo aumenta mais rápido que os benefícios econômicos daí resultantes”, diz o Relatório.
O Painel de Recursos Internacionais do PNUMA reúne um grupo de especialistas que se dedicam a estudar o metabolismo social contemporâneo, ou seja, a maneira como a espécie humana emprega os recursos materiais, energéticos e bióticos necessários a sua reprodução. E a grande conclusão é que este metabolismo está doente. A maneira como são extraídos, transformados, consumidos e descartados os recursos em que se apoia a economia está destruindo serviços ecossistêmicos indispensáveis à vida, que se trate das florestas, do ar, do clima, da água, dos solos ou dos oceanos. Na raiz desta destruição encontra-se antes de tudo uma imensa desigualdade na maneira como são apropriados os materiais de que a oferta de bens e serviços depende. E não há a menor chance de que a redução desta desigualdade passe pela generalização ao conjunto da espécie humana dos padrões de produção e consumo vigentes nos países desenvolvidos.
A principal inovação teórica destes especialistas consiste em examinar a economia não apenas a partir do sistema de preços, mas com base na sua realidade substantiva. Sua pergunta central é: quanto extraímos da biosfera para obter as utilidades que compõem a riqueza? A resposta se traduz em quatro famílias de materiais: biomassa, combustíveis fósseis, minerais metálicos e minerais não metálicos (como areia, cal e cimento). É a partir daí que se avalia o que os especialistas chamam de “pegada material” da economia. E os dados mostram que esta pegada não está melhorando.
pegadaMas e os países desenvolvidos? É verdade que aí, cada unidade do PIB é oferecida com quantidade decrescente de materiais. Mas esta redução deriva não só de sua inegável eficiência produtiva, mas também do fato de que suas indústrias foram, em grande parte, terceirizadas, transferidas a países com sistemas produtivos predatórios dos recursos naturais. Uma das inovações deste Relatório é que, utilizando técnicas de matriz insumo-produto ele estima os materiais contidos naquilo que um determinado país consome, mesmo que o produto e as matérias-primas que lhe deram origem não venham deste país. Se isso não for feito, fica-se com a falsa impressão de que os países (como os EUA e os da União Europeia), que transferiram parte de suas indústrias para a China, passaram a consumir poucos recursos. O mito da desmaterialização dos países desenvolvidos vem da ignorância do fato de que seu consumo só é mais “leve” porque as atividades “pesadas” em materiais foram, em boa medida, terceirizadas. Os dados neste sentido são chocantes.
Quando se leva em conta o consumo (e não apenas a produção), o uso médio de materiais por parte de um cidadão da União Europeia é de 20 toneladas por ano. Na América do Norte chega a 25 toneladas “per capita” e por ano. América Latina e os países em desenvolvimento da Ásia estão em torno de 10 toneladas e em trajetória ascendente. Mas na África subsaariana o consumo de materiais está estagnado em não mais que três toneladas anuais “per capita”. Além disso, é imensa a disparidade que deriva das desigualdades no interior de cada país.
É claro que a elevação do nível de vida dos mais pobres exige maior consumo de materiais. No entanto, o nível de consumo dos países mais ricos do mundo não é passível de generalizar-se, mesmo nos padrões europeus. Se o consumo médio anual “per capita” dos dez bilhões de habitantes que devem habitar o Planeta em 2100 for de 20 toneladas, isso significará quase o triplo do montante atual de 70,1 bilhões de toneladas. O problema não é o horizonte de escassez absoluta destes materiais, muitos dos quais são abundantes. O problema é que sua extração e seu uso não são compatíveis, nesta escala, com a preservação e a regeneração dos ecossistemas de que depende a vida social.
A questão é tão séria que o Relatório do PNUMA, contrariamente ao que ocorre com documentos deste tipo, não contém um capítulo com propostas de políticas, além de um apelo bastante vago a mudanças nos estilos de vida e nos comportamentos dos consumidores. O trabalho reitera também, claro, a importância das inovações tecnológicas para acelerar o processo de descasamento entre a produção e suas bases materiais, energéticas e bióticas.
Os dados que ele contém, entretanto, mostram que na ausência de políticas nacionais e globais voltadas à urgente redução das desigualdades, o risco é que o mundo aumente ainda mais sua produção e seu uso de recursos, destruindo serviços ecossistêmicos preciosos e, ao mesmo tempo, marginalizando parte imensa da população global.
*Ricardo Abramovay é autor de “Muito Além da Economia Verde” (Ed. Planeta Sustentável, SP, 2012). Coautor de Lixo Zero: Gestão de Resíduos Sólidos para uma Sociedade Mais Próspera.
Publicado originalmente na revista Eco21

A GEOGRAFIA DA VERGONHA

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José Eli da Veiga – Professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP)
José Eli da Veiga –
Deveria ser inaceitável que ainda houvesse multidões condenadas a abjetas condições de vida após um século e meio de vertiginosa aceleração de processos civilizadores, que se seguiu a mais de dez milênios de lentos progressos, mas marcados por cruciais surtos de desenvolvimento. Quanto tempo ainda será necessário para que isso termine? Depende do que se entenda por pobreza.
Pela convenção dominante, pobre seria quem sobreviveu em 2012 com renda inferior a US$ 1,90 ao dia. Abaixo dessa “linha” estavam 12,7% da população mundial. Mas, como se sabe, com imensas discrepâncias espaciais.
No Leste Asiático (que inclui a Coreia do Sul), 6,5% da população se enquadrava nessa condição, apesar das extraordinárias proezas do despotismo esclarecido na China. Proporção superior à da América Latina e Caribe (5,6%) e bem superior à do Norte da África (1,7%). Com o Oriente Médio nem dá para comparar, já que razoáveis dados estatísticos estão entre as vítimas de tantas conflagrações. E parece até desnecessário mencionar o sucesso do grupo de 55 países ditos desenvolvidos, que já se libertaram desse tipo de flagelo.
saneamento-basicoBrasil tem mais da metade da população sem acesso a esgoto, e está na 112ª posição no ranking do saneamento.
Na margem oposta, desempenhos piores que o do Leste Asiático ocorriam nas duas regiões vizinhas do mesmo continente: o Sul com 8,3% e o Sudeste com 15,4%. Assim como no Cáucaso, com 11,6. Mas nada que se aproximasse dos dois mais calamitosos casos de subdesenvolvimento: a África Subsaariana, com trágicos 42,6%, e a Oceania (sem Austrália e Nova Zelândia), com 29,7%.
Ao contrário do que parece, esse é um panorama que autoriza razoável grau de otimismo para 2030, prazo de validade dos dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados pela comunidade global em setembro de 2015. Pois, bastará mais do mesmo. Se o crescimento econômico mundial puder manter o padrão dos primeiros quinze anos deste século, é provável que em 2030 somente em partes da África e da Oceania ainda restem intoleráveis contingentes de párias por insuficiência de renda.
O problema, contudo, é que essa agenda reconhece, desde seu primeiro objetivo, que a pobreza não se resume a insuficiência de renda. É imprescindível ter em conta as demais privações sofridas no porão da sociedade, pois a incidência de pobreza não é obrigatoriamente determinada pela renda.
Só que o pensamento convencional continua a hostilizar essa conjectura. Por isso, é indispensável perguntar, por exemplo, se faz sentido não contabilizar como pobre alguém que sobreviveu 2015 excluído do elementar direito humano à higiene propiciada por saneamento básico. Não seriam pobres as famílias das crianças mortas no ano passado por recorrentes diarreias causadas pela convivência com esgoto a céu aberto?
Tal indagação seria improcedente, claro, se houvesse correlação entre as duas privações citadas: a de renda e a de higiene.
Mas não há.
Para começar, no Leste Asiático 22,6% da população continuava em 2015 sem saneamento, malgrado o espetacular desempenho chinês. Mais que o triplo de pessoas privadas de higiene do que pessoas com menos de US$ 1,90 ao dia. Isto é, havia por ali perto de quatro vezes mais pobres do que faria pensar o bitolado critério da pobreza de renda.
Nas demais regiões do globo ocorrem diversos graus dessa mesma disparidade, com uma única exceção. Em 2015, só no Cáucaso a privação de renda superava a privação de higiene: 11,6% contra 4,1%. Até no clubinho dos desenvolvidos havia 4,4% das pessoas sem acesso a saneamento, enquanto no restante do mundo elas chegavam a 38,2%. Pior: atingiam impensáveis 65,5% nos 48 países classificados como “os menos desenvolvidos”.
Aí está, em síntese, a distribuição geográfica da vergonha que pode ser descrita graças ao ótimo anexo estatístico do primeiro relatório de acompanhamento dos ODS, que acaba de ser lançado pelo Conselho Econômico e Social da ONU. Proíbe qualquer esperança de que a pobreza seja minimizada em quinze anos.
E podem ser úteis mais três observações:
Primeiro, justificar por que esgoto inacessível é a pior das mazelas de todas as civilizações contemporâneas. Porque sofrer recorrentes infecções parasitárias na primeira infância reduz a inteligência, diz estudo coordenado por Christopher Eppig, que está nos “Proceedings of the Royal Society” (277: 38013808). O cérebro é o órgão do corpo humano que mais consome energia: 87% no recém-nascido, 44% aos cinco anos, 34% aos dez. As infecções parasitárias desviam energia para ativar o sistema imunológico. Repetidas diarreias até os cinco anos roubam do cérebro as calorias necessárias a seu desenvolvimento.
Segundo, relembrar o escandaloso desempenho do Brasil. Ter mais da metade da população sem acesso a esgoto o coloca na 112ª posição no ranking mundial do saneamento (atrás até do Paraguai, na 101ª). E isso apesar de o país alcançar a 75ª colocação nas classificações por IDH ou por PIB per capita (PPC).
Finalmente, mas não menos importante, anunciar que será consagrada ao saneamento a edição da ótima revista online “Página 22” que está para sair: www.pagina22.com.br/
—–
*José Eli da Veiga é professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP) e autor de “Para entender o desenvolvimento sustentável” (Editora 34, 2015). 
Página web: www.zeeli.pro.br  

Anvisa Deve Ampliar Debate Sobre Atualização De Regras De Agrotóxicos No Brasil, Recomenda MPF

Câmara de Meio Ambiente recomendou ao órgão realização de audiências públicas e prorrogação do prazo dos processos de consulta pública

pulverisação aérea de agrotóxicos

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) colocou em discussão propostas para atualizar as regras para agrotóxicos no Brasil. Para garantir a adequada participação da sociedade, a Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (MPF) encaminhou recomendação ao órgão, solicitando a ampliação do prazo das consultas à população e realização de audiências públicas.
As consultas públicas de agrotóxicos tratam de três temas: exigências para avaliação toxicológica; informações para bulas e rótulos; e classificação toxicológica de agrotóxicos, afins, e preservativos de madeira. No entendimento do MPF, os prazos propostos pela Anvisa para o debate são desproporcionais e infringem o princípio da razoabilidade, uma vez que o tema exige amplo debate por afetar direitos sociais do setor de saúde e dos consumidores.
Na recomendação, o MPF orientou que a Anvisa realize audiências públicas no prazo de 60 dias e prorrogue o prazo dos processos de consulta pública em 45 dias.
Confira a íntegra da recomendação aqui
Resposta – A Anvisa respondeu ao MPF que os parâmetros utilizados para a classificação toxicológica não são alterados há mais de 24 anos e estão desatualizados em relação ao cenário internacional. Segundo o órgão, o tema foi aberto a contribuições da população há seis anos e a última consulta pública ficou aberta por 180 dias.
Com relação às audiências públicas, a Anvisa informou que realizará uma audiência aberta a toda sociedade no dia 3 de novembro, das 9h às 17h, no Auditório da Sede da Anvisa, em Brasília.
Fonte: Procuradoria-Geral da República
in EcoDebate, 31/10/2016

EcoDebate - Edição 2.640 de 31/ outubro / 2016

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura
Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

" O GRITO DO BICHO " - Boletim do dia 31/10/2016.

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Ambiente Energia: meio ambiente, sustentabilidade e inovação
Newsletter Ambiente Energia - ano 8 - nº 240 - 31 de outubro de 2016
Congresso Brasileiro de Geração Distribuída
Primeira Página
Governo contrata estudo sobre a implantação sustentável de hidrelétricasSegundo informações, o Brasil utilizará recursos do Banco Mundial em estudo sobre como construir hidrelétricas de uma maneira que favoreça o desenvolvimento e a sustentabilidade
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Diferentes usos do biogás consolida a fonte no mercado de energiaO III Fórum do Biogás, promovido pela Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás) discutiu, na última semana, os diferentes usos do biogás e do biometanoQuestões centrais para a readequação do modelo institucional do setor elétrico BrasileiroImpulsionada pela mudança de governo, uma nova reforma do setor elétrico brasileiro vem sendo gestada. A chamada P&D Estratégico número 20 da Aneel vai subsidiar a elaboração da reforma setorial
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Curso sobre Energia Solar Fotovoltaica capacita para negócios
Curso capacita para o dimensionamento, viabilidade de projetos fotovoltaicos e a como empreender de forma sutentável neste mercado. Inscrições abertas
BiomassaVeículos Elétricos
Uso de biomassa de plantas forrageiras para gerar energia é estudado pela EmbrapaPara o estudo foram colhidas cerca de 105 toneladas de biomassa que, após análises, serão utilizadas como fonte de energia no processo de produção de cimentoBônus para carros elétricos é aprovado em Comissão do Meio AmbienteO consumidor que adquirir carros elétricos novo poderá passar a ter direito a bônus equivalente à parcela que cabe à União do IPI
Energia Solar Fotovoltaica

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31/10/2016EDIÇÃO 914
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Gabriela Veiga
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domingo, 30 de outubro de 2016

" O GRITO DO BICHO " - Boletim do dia 30/10/2016.

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Reflorestamento contra degradação do solo

Técnico do Instituto de Pesquisa Florestal do Quênia poda uma acácia no terreno seco do sítio de testes localizado em Tivu, no condado de Kitui. Foto: Justus Wanzala/IPS
Técnico do Instituto de Pesquisa Florestal do Quênia poda uma acácia no terreno seco do sítio de testes localizado em Tivu, no condado de Kitui. Foto: Justus Wanzala/IPS
Agoniado pela crescente degradação do solo que traga terras férteis, o Quênia dedica enormes esforços à recuperação de vastas zonas áridas e semiáridas a fim de deter a desertificação.
Por Justus Wanzala, da IPS – 
Nairóbi, Quênia, 27/10/2016 –  O ministro de Ambiente e Recursos Naturais, Charles Sunkuli, informou que foi lançado,em setembro deste ano,um programa para recuperar 5,1 milhões de hectares até 2030. Além disso, o país procurará estender sua cobertura florestal dos atuais 7% de seu território para um mínimo de 10%.
“Criamos um fundo de compensação para ajudar as comunidades que vivem em terras secas e degradadas a ganharem a vida e participar das iniciativas de recuperação”, disse Sunkuli, por ocasião da 15ª sessão do Comitê de Revisão da Implementação (CRIC15) da Convenção das Nações Unidas para a Luta Contra a Desertificação (UNCCD), realizada em outubro, em Nairóbi, capital do país.
O reflorestamento acontecerá principalmente em zonas áridas e semiáridas, que constituem 80% do território do país, mas também se estenderão a outras áreas.Para conseguir esse ambicioso objetivo, o ministro informou que está se implantando um programa para promover o plantio de espécies de árvores tolerantes à seca, como Melia volkensii (conhecida no país como mukau), nas zonas áridas.
O Quênia investe muito em pesquisa de árvores resistentes à falta de água para reflorestar as zonas secas e melhorar as fontes de renda das populações locais.Em Tiva, no árido condado de Kitui, no leste do país, o Instituto de Pesquisa Florestal do Quênia (Kefri) criou um centro de pesquisa para cultivar duas espécies ideais para plantar em regiões áridas e semiáridas, com apoio do governo e da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica).
O diretor do Programa de Pesquisa da Ecorregião Árida do Kefri, James Ndufa, explicou que o crescimento da população e a transformação da selva em terras férteis para cultivar levaram a um uso pouco sustentável do solo e contribuiu para a degradação e a desertificação.E acrescentou que o centrode pesquisa de Tiva se concentra em adaptar duas espécies de árvores às condições mais quentes e mais secas, para que as zonas áridas se adaptem à mudança climática”.
A reprodução acontece pelo método convencional de selecionar as espécies que prosperam nas condições desejadas. A ideia é distribuir entre os agricultores as sementes melhoradas geneticamente de árvores tolerantes à seca, de rápido crescimento e que oferecem madeira de boa qualidade, além de forragem para os animais, destacou Ndufa. Com o tempo, a iniciativa permitirá recuperar as áreas degradadas e conservar a diversidade biológica, acrescentou.
A análise do DNA ocorre durante a seleção, e o enxerto é praticado para conseguir os resultados desejados. Assim, criaram uma horta de sementes e um sítio de provas das espécies modificadas de mukau e acácia. O projeto, iniciado em 2012, permite distribuir as sementes melhoradas geneticamente das duas espécies entre os agricultores.Além da Jica, o Kefri conta com a colaboração dos Serviços Florestais do Quênia, de universidades quenianas, do Instituto de Pesquisa de Florestas e Produtores Florestais do Japão e da japonesa Universidade de Kyushu.
O centro de pesquisa fica em uma zona semiárida que recebe apenas 700 milímetros de chuva por ano. Os produtores só conseguem magras colheitas, o que gera uma pressão sobre os recursos naturais pela consequente superexploração. Ndufa explicou que as comunidades locais dependem do corte de árvores, que usam para fazer carvão e vendê-lo em Nairóbi, o que acelera o desmatamento e a degradação do solo. Além disso, outros grupos de pessoas, de forma deliberada, recolhem areia e prejudicam a vegetação, o que também degrada a terra.
A madeira de mukau é vendida pelo equivalente a um dólar por pouco menos de meio metro. “E pode-se cultivar cerca de 400 árvores em um hectare, que quando maduras podem gerar entre US$ 200 mil e US$ 500 mil”, acrescentou Ndufa. As duas espécies com as quais trabalham foram superexploradas. A mukau, cuja madeira é roxa, tem valor equivalente ao mogno e é a preferida pelos fabricantes de móveis, enquanto a acácia é valiosa pelo carvão.
O objetivo é desenvolver árvores de rápido crescimento, que possam ser cortadas em 15 ou 20 anos. Foram plantadas cerca de três mil mukau e mil acácias em cem hectares do sítio de provas de Tiva, e já foram coletados aproximadamente 2.500 quilos de sementes.
Também são estudadas outras duas espécies com folhas mais duradouras, para que sirvam de forragem para os animais, especialmente para as cabras. O projeto também conta com atividade de extensão para distribuir as sementes e conscientizar sobre a importância das árvores,por meio de visitas de campo, demonstrações agrícolas e dias de campo.
Verónica Kioko, residente em Kitui, opinou que o pouco interesse demonstrado pelas árvores em algumas áreas pode estar relacionado com a insegurança alimentar e a pobreza. Os agricultores receberam a informação sobre os benefícios de plantar árvores, mas para eles é difícil esperar de 15 a 20 anos até ficarem prontas para o corte. De fato, as cortam principalmente para fazer carvão, mesmo antes de estarem maduras, ressaltou.
A seca e a fome exacerbam a situação. “As pessoas costumam ficar sem alimentos em caso de má colheita, e, não tendo dinheiro, cortam as árvores para fazer carvão e vendê-lo barato”, explicou Kioko. No tocante à acácia, Ndufa disse que a ideia é desenvolver uma variedade que produza muitas ramas e folhas para alimentar as cabras e os camelos, e madeira.
No entanto, para lutar contra a desertificação e a degradação são necessárias intervenções em escala nacional e transfronteiriça,  apontou Frank Msafiri, presidente do capítulo queniano da rede East African Sustainability (SusWatch), que reúne várias organizações da África oriental.
A grande preocupação é que a elevada pobreza, a pouca disponibilidade de água, o desmatamento e a degradação do solo avivem os conflitos, observou Msafiri. “Os atores de setores como água, silvicultura e agricultura, bem como dos centros de pesquisa da África, não devem perseguir estratégias contraditórias, mas harmonizá-las sob o guarda-chuva da gestão sustentável da terra”, explicou.
Por sua vez, a secretária executiva da UNCCD, Monique Barbut, disse no CRIC15 que muitos países que se dedicam à recuperação florestal conseguem resultados positivos. Ao citar o exemplo da Etiópia, afirmou que a terra recuperada graças a um plano específico suportou a seca provocada pelo fenômeno El Niño, que afetou a região da África austral e oriental no ano passado. Envolverde/IPS