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sábado, 29 de abril de 2023

Água, uma riqueza indispensável para a vida - Ricardo Lazzari Mendes

Por Ricardo Lazzari Mendes* A água é um bem indispensável para a nossa vida. Por isso, a gestão dos recursos hídricos é fundamental para manter a oferta adequada desse importante recurso. Apesar de contar com mais de 10% da água doce de todo o mundo, o Brasil não pode titubear na gestão desse recurso, concentrado em 80% na bacia do rio Amazonas, que tem menos de 10% da população. Nas últimas décadas, os impactos das mudanças climáticas provocaram crises hídricas em diversos municípios brasileiros, inclusive em regiões metropolitanas. De acordo com o Atlas da Água, elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), apenas 667 municípios brasileiros, com 4% da população urbana do País, apresentam segurança hídrica máxima. Em 2.143 cidades, com 50,2 milhões de habitantes, a classificação é de alta segurança. Porém, 77,3 milhões de brasileiros, quase 40% da população urbana, residem em municípios com segurança hídrica média e outros 50,8 milhões estão em localidades com segurança hídrica baixa ou mínima. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para abastecer mais 2 bilhões de pessoas no planeta, a demanda mundial por água deve crescer 55% até 2050. As projeções da organização mostram ainda que 240 milhões de pessoas no mundo não terão acesso à água potável e 1,4 bilhão não contarão com serviço de saneamento básico em 2050. Temos pela frente o desafio de evitar potenciais conflitos pela água, bem como reduzir os impactos para o desenvolvimento econômico e social dessas localidades. A aprovação do Novo Marco Legal do Saneamento foi um importante passo para melhorar a gestão dos recursos hídricos no território nacional. A Lei 14.026/20 sedimenta o caminho para atender à demanda de 16% da população ainda sem acesso à água, bem como obriga as concessionárias a reduzirem os índices de perdas nos sistemas de abastecimentos dos municípios. Para atingir essa meta até 2033, apenas nos sistemas de abastecimento de água são necessários R$ 164 bilhões de investimentos, de acordo com estudo da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon/Sindicon). As perdas de água nos sistemas de abastecimento das cidades é outro problema que precisa ser resolvido. Hoje, todo dia, cerca de 40% de água tratada é desperdiçada antes mesmo de chegar às residências, volume equivalente a 7,8 mil piscinas olímpicas, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). A redução desse indicador para índices próximos a 25%, que é a meta determinada pela Portaria no 490 do Ministério do Desenvolvimento Regional, promoveria uma economia de 2,3 milhões de m3, volume suficiente para atender aproximadamente 40,4 milhões de brasileiros em um ano. O Brasil precisa ainda avançar no atendimento às demandas da Agenda 2030, documento adotado na Assembleia Geral da ONU em 2015, que trouxe seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030. O item 6 estabelece a necessidade de assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos. A gestão de recursos hídricos vai além de preservar esse bem. Ela tem impactos diretos na saúde e no desenvolvimento da população e promove a melhoria da qualidade de vida em todos os aspectos. Por isso, precisamos avançar! * Ricardo Lazzari Mendes é presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente), engenheiro pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP e doutor em engenharia hidráulica e sanitária pela Escola Politécnica da USP.

COMO ABORDAR TEMAS SENSÍIVEIS NAS ESCOLAS ?

Diversidade, bullying e educação socioemocional são assuntos que devem ser tratados para evitar a exclusão social; Cláudio Falcão, Diretor Executivo do Sistema Anglo e Sistema de Ensino pH, comenta a importância de praticar ações no cotidiano da escola Tão importante quanto garantir que a escola tenha a melhor metodologia de ensino ou infraestrutura é construir um ambiente seguro para que alunas e alunos se sintam confortáveis com suas identidades. Somente por meio de canais de conversas livres e escuta autêntica por parte das instituições de ensino, é que é possível propor momentos nos quais os alunos possam realmente se expressar, independentemente da temática. Nesse contexto, questões como a diversidade, o bullying e a educação socioemocional não devem ser tabus nas escolas, mas sim trabalhados dentro e fora de sala de aula para garantir que a violência não cresça entre os estudantes. Inclusive, ao se trabalhar a importância de celebrar as diferenças e combater o preconceito, é possível evitar a exclusão social, fator muito prejudicial no desenvolvimento de crianças e jovens. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, mais de 40% dos estudantes afirmam que já sofreram bullying, de provocação e de intimidação. Além disso, o número de adolescentes na faixa etária de 13 a 17 anos que admitem ter sofrido bullying aumentou de 32% para 35,4% entre os anos de 2009 e 2019. Em outras palavras, os dados alarmantes apresentados no levantamento indicam que as instituições de ensino não estão preparadas para proporcionar um contexto saudável para uma grande parcela de alunos, que acabam se tornando vítimas de violência verbal, física e até mesmo psicológica. Preparo contra o bullying e a prevenção da violência A necessidade de iniciativas de combate ao bullying e de prevenção à violência nunca foi tão urgente quanto no período em que vivemos, principalmente no âmbito escolar brasileiro. Resultado dos acontecimentos recentes de ataques em escolas pelo país, a onda de medo e de insegurança deve servir de combustível para que surjam discussões sobre trabalhos preventivos e sobre cuidado com os alunos. Cláudio Falcão, Diretor Executivo do Sistema Anglo e Sistema de Ensino pH, comenta sobre esse exercício de prevenção da violência. “Nenhuma medida vai ser tão efetiva quanto o combate ao bullying e quanto ao discurso da diversidade, de respeitar a diferença, e o trabalho socioemocional”, afirma. Além disso, ele entende que é fundamental que as escolas tenham uma equipe com olhar multidisciplinar envolvendo coordenação, orientação acadêmica, profissionais da área da saúde mental preparada para identificar e atuar em situações delicadas. Esse time, por meio de reuniões, conhecendo os alunos, será capaz de identificar angústias coletivas ou individuais dos alunos. Em suma, Falcão explica que as instituições devem educar e sensibilizar no primeiro momento, porém ser firmes ao intervir em situações do tipo. “Acho que todas as escolas devem ser muito rigorosas nos casos de bullying. A gente educa, mas o processo tem que ser rigoroso ao identificar bullying ao identificar atitudes”, ressalta. “A escola deve ser muito dura e dar uma resposta muito clara para que as vítimas se sintam seguras, sabendo que se forem vítimas de bullying, elas serão protegidas, acolhidas, e os ofensores têm que saber que serão punidos por isso ao exercer e fazer bullying”, completa o diretor. Antídoto Com a missão de celebrar as diferenças, uma solução importante é organizar atividades especiais no decorrer do ano letivo na escola e que envolvam alunos de turmas e faixas etárias diferentes como, por exemplo, rodas de conversas. Em uma roda de socialização, é possível estabelecer discussões éticas sobre várias temáticas com recortes distintos e, após incentivar a participação, criar espaços de debate e desenvolvimento de saberes. Outro ponto com potencial de gerar desconforto e que vale a pena ser revisto são as regras muito rígidas quanto aos uniformes e outras vestimentas. Muitas vezes, quando não apresentam certa flexibilidade, essas normas podem, consequentemente, oprimir a identidade e negar a expressão de alunos e alunas. Também é necessário abrir um espaço na instituição de ensino para palestras recorrentes sobre temas inclusivos com a possibilidade de trazer palestrantes com contextos e bagagens diferentes dos que apresentam os estudantes, propondo um momento de contato com visões diferentes. Incluir pais e responsáveis nessas conversas é um passo igualmente importante, uma vez que os valores e as ações tomadas pela escola precisam estar totalmente alinhados com o que é ensinado para as crianças. Como o Sistema pH de Ensino trabalha Em relação ao cotidiano do sistema, Cláudio Falcão disse que os temas de diversidade e educação socioemocional já são englobados no currículo do sistema de ensino pH, com materiais que estão em consonância com os pilares da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ele também conta que a metodologia de ensino vai além da BNCC e propõe naturalmente discussões como as tratadas no texto a partir dos materiais utilizados, com análises conceituais e históricas. “Nesse sentido, temos uma série de atividades que são propostas dentro de diversos materiais: de ciências, de biologia, história, geografia, sociologia e filosofia”, conclui o diretor. Sobre o Sistema de Ensino pH (www.sistemadeensinoph.com.br) – Há quase 10 anos no mercado, o Sistema de Ensino pH é reconhecido pelo elevado número de aprovações nos vestibulares das universidades mais concorridas do estado e pelos excelentes resultados no ENEM. O sistema atua da Educação Infantil ao Pré-vestibular e conta com uma série de escolas parceiras, oferecendo também orientação nas áreas de planejamento, ferramentas tecnológicas, projetos inovadores, integração de recursos e formação contínua dos profissionais. O Sistema de Ensino pH integra o portfólio de empresas da SOMOS Educação na última década. (#Envolverde)

Dia da Educação: caminhos para a construção de uma escola antirracista

Segundo o Instituto DACOR, ações devem envolver desde a formação de educadores até a criação de protocolos para situações de racismo Existe um consenso no país sobre a necessidade avançar em qualidade a educação brasileira. No entanto, há diferentes perspectivas sobre os caminhos para alcançá-la. Segundo a Base Nacional Comum Curricular, o documento que norteia o currículo escolar, a educação de qualidade está ligada principalmente à formação de indivíduos em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica. Partindo desses princípios, o desenvolvimento pleno está totalmente ligado à estruturação de caminhos para uma educação antirracista. “A escola, assim como outras instituições, estruturam e são estruturadas pelo racismo, que afeta negativamente o desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos estudantes ao criar um ambiente de exclusão, desvalorização e falta de oportunidades equitativas. Para ela se transformar em um ambiente capaz de promover a valorização das diferenças, são necessárias políticas sistêmicas em âmbito de rede de ensino”, afirma Helton Souto, presidente do Instituto DACOR, organização sem fins lucrativos que atua na produção, integração e disseminação de dados, conhecimentos e evidências sobre o racismo no país. Para contribuir neste caminho, o Instituto DACOR atua por meio de formações e assessorias nas redes de ensino pública e privada, promovendo ações sistêmicas de enfrentamento do racismo em parceria com outras organizações. Em dois anos de história, já esteve presente em todas as regiões do Brasil apoiando a construção de planos de formações personalizados, de acordo com a realidade de cada local. “Muitos têm a percepção de que a escola é um lugar protegido de violência. No entanto, a experiência da criança e do adolescente negro é repleta de traumas e indutora de novas discriminações. Ao falar de combate ao racismo nesse ambiente, precisamos pensar em currículo e formação de gestores e de professores, e principalmente na articulação de dados e metas que promovam um olhar amplo sobre a comunidade local”, aponta Helton Souto. Neste Dia da Educação, veja caminhos elencados pelo Instituto DACOR para apoiar a construção de uma educação antirracista: Dados e monitoramento: É importante que gestores, educadores e estudantes reconheçam o racismo estrutural e entendam como ele afeta as relações sociais. Pesquisas sobre o tema podem apoiar esse entendimento e sensibilizar sobre a necessidade de implementar medidas concretas para combatê-lo, incluindo políticas e práticas que promovam a diversidade, a inclusão e a equidade. Além disso, o levantamento de dados na própria instituição deve ser o ponto de partida para a criação de estratégias de promoção da equidade da organização. Combate ao preconceito: As escolas devem tomar protocolos e medidas para lidar com situações de racismo de forma a garantir que essas situações sejam tratadas de maneira adequada, justa e transparente, proporcionando um ambiente escolar seguro e acolhedor para todos. Isso envolve uma avaliação detalhada das políticas e práticas atuais da escola, a especificação de medidas adotadas em caso de situações de racismo e a abertura de canais de denúncia. Formação: Ao criar um protocolo de combate ao racismo para toda a comunidade e promover treinamentos regulares para todos os membros da equipe, é necessário também monitorar regularmente a sua eficácia, coletando dados e feedback dos estudantes, pais e equipe escolar, e realizando ajustes e melhorias conforme necessário. As escolas devem ainda avaliar regularmente seus programas e políticas para garantir que estão promovendo a equidade e a inclusão. Isso pode incluir a coleta de dados sobre o desempenho dos alunos, a taxa de desistência escolar, a diversidade do corpo docente e outros indicadores relevantes. Construir uma educação antirracista requer esforços contínuos e colaborativos por parte de todos os membros da comunidade escolar e da sociedade em geral. Diversidade e inclusão: Outro passo importante é fomentar a atuação de pessoas negras na gestão e investir na formação de professores em letramento antirracista. “É fundamental que a comunidade escolar tenha acesso a uma trilha formativa capaz de transformar as relações e construir uma rede de aliados da causa. Isso inclusive ajudará os educadores a reconhecerem o racismo quando ele ocorrer na sala de aula e a tomar medidas para combatê-lo”, afirma Helton Souto. Currículo: Além de ter um corpo docente diverso, que represente a diversidade da população, a escola deve repensar o currículo de modo que todos possam se reconhecer e valorizar suas identidades. Isso envolve incluir a história, cultura e perspectivas de diferentes grupos étnicos e raciais. Desde 2003, ao artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas brasileiras. No entanto, ela ainda não é aplicada pela maior parte das escolas, como aponta um estudo do Instituto DACOR feito em parceria com estudantes do Insper, que deu luz aos instrumentos jurídicos e institucionais para o cumprimento da lei nas capitais e estados brasileiros. A aplicação é importante para garantir o respeito e a promoção da igualdade racial na educação, promovendo a formação de cidadãos críticos e conscientes da importância da diversidade étnico-racial. Sobre o Instituto DACOR (https://institutodacor.ong.br/) Criado em 2020, o Instituto DACOR é uma organização não-governamental que nasceu da vontade de ser um propulsor de ações para combater o racismo no país. Atua por meio da reunião, integração e disseminação de dados e conhecimentos em projetos para fomentar políticas públicas e privadas por equidade racial. (#Envolverde)

O racismo estrutural na escola e a importância de uma educação antirracista

Stephanie Kim Abe, CENPEC – Entenda como o racismo se manifesta em espaços educativos e a importância de combatê-lo, para uma educação de qualidade Quando analisamos os indicadores de escolaridade da população com recorte de raça, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2018) apontam uma evidente desvantagem da população negra ou parda. Já na Educação Infantil, o acesso a esse direito apresenta índices diferentes, conforme o grupo racial: 53% das crianças pretas ou pardas de 0 a 5 anos de idade frequentavam a creche ou escola em 2018, contra 55,8% das crianças brancas. Entre a população preta ou parda, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais é de 9,1%, enquanto o mesmo indicador é de 3,9% na população branca. Entre a população negra ou parda, a proporção de pessoas de 25 anos ou mais com pelo menos o Ensino Médio completo é de 40,3%. Já entre os brancos, o índice é de 55,8%. A proporção da população preta ou parda entre 18 e 24 anos com menos de 11 anos de estudo e que não frequentavam a escola em 2018 era de 28,8%, frente 17,4% de brancos na mesma situação. Essa profunda desigualdade escolar tem reflexos graves, como na renda e na expectativa de vida dessas populações. De acordo com os dados trazidos pelo Relatório Reprovação, Distorção Idade-série e abandono escolar, do Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICEF, metade dos mais de 910 mil estudantes que deixaram as escolas municipais e estaduais de todo o país em 2018 eram pretos e pardos (453 mil). Além disso, as populações preta, parda e indígena têm entre 9% e 13% de estudantes reprovados, enquanto entre brancos esse percentual é de 6,5%. Também vale notar que, de acordo com o documento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) Perfil do Educador da Educação Básica, realizado com dados do Censo Escolar 2017, 42% de docentes da educação básica eram brancos, contra 4,1% de pretos e 25,2% de pardos. Racismo estrutural e educação antirracista Foto: Arquivo pessoal Quem nunca para para olhar esses números e perceber como refletem as desigualdades da sociedade brasileira não se dá conta de que elas são fruto do racismo estrutural presente em nosso país. Isso quer dizer que ele permeia, ainda que inconscientemente, as ações e estruturas de diferentes instituições da sociedade, como o próprio ambiente escolar. Para explicar melhor o fenômeno e destrinchar o assunto, o Portal CENPEC Educação conversou com Iracema Santos do Nascimento, professora doutora na Faculdade de Educação da USP (FE-USP) e ex-coordenadora executiva da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (2005 a 2014). Nesta entrevista, Iracema ressalta a importância desse debate – que é uma luta de muitos anos dos movimentos negros – e quais ações e políticas públicas precisam ser priorizadas para que haja uma educação de qualidade para todos e todas. “O racismo estrutural estrutura a sociedade brasileira desde a invasão portuguesa nessas terras. Assim, quando pensamos na organização das nossas escolas, essa discussão não existia. Atualmente, a educação antirracista (que vem sendo proposta há décadas) ganhou bastante força, e esse debate tem sacudido todas as pessoas, negras e não-negras, brancas e não-brancas, a não mais compactuar com essas estruturas. Esse é um chamamento ético, que se impõe pela força da causa”, defende. Portal CENPEC Educação: Como a gente pode perceber o racismo estrutural no universo escolar? Iracema Santos do Nascimento: A percepção do racismo estrutural na escola, assim como em outras instâncias, é algo que por vezes se torna difícil porque, sendo estrutural, o racismo muitas vezes se manifesta nas sutilezas. É mais óbvio quando se trata de uma discriminação, uma injúria racial, em que um sujeito comete um ato contra o outro. Mas como estamos falando de racismo estrutural, isso significa que não está no sujeito, mas nas estruturas, ou seja, naquilo que dá base às relações. Mesmo afrodescendentes ou sujeitos não-brancos têm dificuldades de perceber ou denominar essas situações ou atos, e isso demanda um tempo de elaboração – do sujeito e dos sujeitos envolvidos. “Uma manifestação do racismo estrutural é o silenciamento da instituição diante de situações racistas. Parece até contraditório falar que o silêncio é uma manifestação. Mas nesse caso é sim.” Então, quando uma criança negra é chamada pelo colega de “macaco”, “pretinho”, ou ouve que “o cabelo dela é feio, é ruim” e as pessoas adultas responsáveis pelo processo educativo não fazem nada – ou seja, silenciam -, temos uma manifestação do racismo estrutural. Ainda que elas tenham se sentido incomodadas e não tenham agido por não se sentirem preparadas para lidar com o fato, se elas não levam isso adiante e não procuram ajuda, essas pessoas estão compactuando com o racismo estrutural. Não ter a representatividade de afrobrasileiros e afrobrasileiras – vale destacar, em situações positivas –, seja nas imagens que fazem parte da decoração do espaço escolar, seja no material didático, nos materiais de pintura ou entre os brinquedos na Educação Infantil (como bonecos e bonecas negras), também é um indicativo de racismo estrutural na escola. Ou, por exemplo, quando vemos pessoas negras apenas no quadro de apoio (responsáveis pela limpeza e pela comida), e não em cargos de direção ou coordenação. Portal CENPEC Educação: Como a educação antirracista está ancorada nas leis? Iracema Santos do Nascimento: Podemos percebê-la em três grandes leis estruturantes e estruturais do sistema de educação: a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei 9.394/1996), e o Plano Nacional de Educação (PNE – Lei n° 13.005/2014). Na Constituição Federal, existem vários artigos que remetem ao tema. O art. 3º estabelece os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, e tem quatro incisos: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Ainda que não falem de educação, obviamente não vamos superar as desigualdades e combater as discriminações sem educação. No art. 5º, que versa sobre os direitos fundamentais, temos o inciso 42, que estabelece o racismo como crime inafiançável. Já no art. 206, sobre os princípios da educação brasileira, temos o inciso I, que trata de igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola. Não há menção necessariamente à educação antirracista, mas nós sabemos que nem todos os grupos populacionais têm as mesmas condições de acesso às escolas e daí a necessidade da educação antirracista. Na LDB, o art. 3º reitera os princípios estabelecidos na Constituição para a Educação, e insere outros. Mas o principal artigo que ancora a educação antirracista na legislação educacional está no artigo 26A, que foi primeiramente adicionado pela Lei 10.639/2003 e depois suplantado pela Lei 11.645/2008, que define que o currículo da Educação Básica deve ter conteúdo das culturas africana, afrobrasileira e indígena. “No PNE, a meta 7 define qualidade, e a estratégia 25 menciona diretamente a educação antirracista. Essa foi uma grande conquista de educadores e educadoras negros e negras durante a tramitação do Plano, porque explicita claramente que, para que o Brasil consiga estabelecer de fato educação de qualidade, é preciso superar o racismo na educação, é preciso ter uma escola antirracista.” O combate ao racismo no Plano Nacional de Educação META 7: Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb. Estratégia 7.25: Garantir, nos currículos escolares, conteúdos sobre a história e as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar ações educacionais, nos termos das Leis nos 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, assegurando-se a implementação das respectivas diretrizes curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas com fóruns de educação para a diversidade étnico-racial, conselhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil. Fonte: (PNE – Lei 13.005/2014) Portal CENPEC Educação: Você mencionou a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana” no currículo da educação básica. Qual foi a importância dessa lei e como você analisa a sua implementação? Iracema Santos do Nascimento: Indubitavelmente, esta lei – e depois a Lei 11.645/2008 –, teve uma importância enorme ao pautar o debate da educação antirracista em todos os âmbitos educacionais. Mesmo que seja um debate de negação, no sentido de educadores(as), gestores(as) quererem negar a existência do racismo na escola e a necessidade desse debate. Ainda que ele ocorra dessa forma, o debate é importante, porque significa que há tensionamento. A lei impôs uma agenda que teve um efeito dominó. Nos estados e municípios, muitas decisões foram tomadas nos últimos 17 anos, com relação a formação de docentes, produção de material (didáticos e paradidáticos) para uso em sala de aula, etc. Já tínhamos experiências antirracistas antes da lei, mas ela deflagrou esse processo nas escolas e secretarias. “Aliás, é muito importante destacar e valorizar essas iniciativas. Há muitas escolas e professores(as) realizando experiências de educação antirracista em todo o Brasil, da Creche ao Ensino Superior. Isso sem contar as iniciativas comunitárias, como cursinhos populares. Esses grupos lutam pela inclusão, não apenas reivindicando, mas desenvolvendo e criando propostas antirracistas.” Há também uma avaliação não tão positiva da Lei, quando nos referimos às expectativas criadas e ao papel do Estado brasileiro nesse processo. Nós nos ressentimos com relação à falta de apoio aos estados e municípios, e aos(às) gestores(as) dessas esferas, para a implementação da Lei, e à falta de investimento para o desenvolvimento de projetos permanentes. Confira aqui 5 dicas para a escola trabalhar a Lei 10.639/03 Portal CENPEC Educação: Qual é o papel das redes de ensino na efetivação de uma educação antirracista que vá além de projetos pontuais? Iracema Santos do Nascimento: No âmbito do sistema educacional, instaurar instâncias que sejam núcleos ou coordenadorias de educação antirracista dentro da Secretaria de Educação – assim como foi, por exemplo, a Secretaria de Políticas de Promoção para a Igualdade Racial (Seppir), quando instituída em 2003. Quando você tem uma coordenadoria que cuida das relações raciais, você está sinalizando a importância que dá ao tema e o seu peso político. Além de instalar essa instância, é preciso destinar recursos e equipe, para que ela exista de fato e possa realizar um diagnóstico da rede e elaborar um plano de ação, de forma democrática. Esse trabalho certamente resultará em formações e outras ações, como concursos que incentivem as escolas a desenvolverem projetos de educação antirracista – o que seria bem interessante para fortalecer quem já está fazendo isso e para incentivar quem ainda não começou. As secretarias também podiam realizar mostras pedagógicas com o tema da educação antirracista, para incentivar os docentes a apresentarem suas ações e trocar experiências, e incentivar a elaboração de materiais. Outro ponto fundamental é o incentivo à pesquisa, que pode e deve ser feito pelos(as) gestores(as) educacionais em parceria com a universidade e seus órgãos de pesquisa. A partir delas, serão criados conhecimentos sobre a questão do racismo e o seu enfrentamento na escola, mantendo o assunto em pauta permanentemente e extrapolando as fronteiras acadêmicas para circular no espaço e na comunidade escolar. Veja dicas de 11 materiais sobre diversidade e combate ao preconceito Portal CENPEC Educação: Como a relação da escola com o território do entorno pode ajudar a combater o racismo? Iracema Santos do Nascimento: A questão da escola enraizada em sua comunidade, e olhando para o território, é fundamental na educação brasileira. É, na verdade, um princípio pedagógico defendido pelo norte-americano John Dewey (1859-1952) e que Anísio Teixeira (1900-1971) incorpora na suas proposições político-pedagógicas. Ele defende o enraizamento da escola no território, inclusive por meio do currículo, que abarque os anseios e os saberes da comunidade. “No caso do Brasil, onde o mito da democracia racial é parte componente desse país estruturalmente racista, esse enraizamento da escola no território tem um efeito especial, principalmente em territórios periféricos, onde estão a maior parte da população negra e indígena.” Pensemos uma escola localizada na periferia da capital paulista, onde muitos jovens negros são assassinados pela polícia ou uma criança negra precisa levantar a blusa ao entrar em uma loja para mostrar que não está roubando. Se esta instituição está em parceria com o território, olha o que está acontecendo ao seu redor e reconhece os sujeitos e a realidade local, ela precisa colocar essa questão no seu currículo. O racismo deverá ser necessariamente discutido dentro da sala de aula, em vários componentes curriculares, e a escola vai desenvolver ações para enfrentar esse estado das coisas. Portal CENPEC Educação: Que políticas públicas precisam ser priorizadas para que a educação antirracista ocorra de fato? Iracema Santos do Nascimento: No que diz respeito à gestão geral das políticas educacionais, um primeiro ponto é rever quais são as prioridades, de forma a fazer com que as questões relativas às diferenças e as diversidades ganhem centralidade. Isso significa que ela vai disputar espaço com outros temas – por exemplo, a política de avaliação externa, com base em testes de aprendizagem. Já ouvi muitas vezes depoimento de professoras que pararam de realizar certa atividade, como leitura literária com as crianças, porque precisavam prepará-las para a prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) ou, no caso do estado, do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Para escolas implementarem projetos político pedagógicos comprometidos com uma educação antirracista, é preciso tempo de estudo e dedicação, para a elaboração, implementação e avaliação dessas atividades. Mas esse tempo é a todo momento disputado por demandas de toda ordem que recaem sobre a escola e isso interfere na prática pedagógica. Entenda a importância das narrativas afrobrasileiras na sala de aula e veja dicas de podcasts (#Envolverde)

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Entenda a relação entre crise hídrica e mudança climática

A crise hídrica é um dos problemas mais graves que afetam o mundo atualmente, e as mudanças climáticas têm um papel crucial nesse cenário. A relação entre esses dois problemas é cada vez mais evidente e preocupante, uma vez que as mudanças climáticas afetam diretamente a disponibilidade e qualidade da água em diversas regiões do planeta. A mudança climática é um fenômeno que ocorre devido ao aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, resultante da atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis e desmatamento. Esse aumento de gases de efeito estufa tem causado um aumento na temperatura global e uma série de mudanças no clima, incluindo padrões de precipitação alterados, secas prolongadas e aumento do número e intensidade de eventos climáticos extremos. A crise hídrica, por sua vez, pode agravar ainda mais as mudanças climáticas, uma vez que a falta de água pode levar ao aumento da utilização de energia térmica para gerar energia elétrica, o que aumenta ainda mais as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a escassez de água pode levar ao desmatamento e à degradação dos ecossistemas, o que pode reduzir a capacidade de absorção de carbono da atmosfera. As mudanças climáticas afetam a quantidade e a distribuição da água em todo o mundo. Com padrões de precipitação alterados, a disponibilidade de água é afetada, com áreas que antes eram úmidas e chuvosas agora enfrentando secas prolongadas e áreas que antes eram áridas e secas agora enfrentando inundações e tempestades. Além disso, o aumento da temperatura global tem levado a um aumento na evaporação, resultando em uma redução na quantidade de água disponível para uso humano e agrícola. Essa redução na disponibilidade de água é agravada pela crescente demanda por água, impulsionada pelo aumento da população e pelo crescimento econômico. A crise hídrica tem impactos significativos na economia, na saúde pública e no meio ambiente. A falta de água potável pode levar a surtos de doenças transmitidas pela água e a escassez de água para irrigação pode prejudicar a produção agrícola, levando a preços mais altos dos alimentos e a insegurança alimentar. Além disso, a falta de água pode afetar a geração de energia, a navegação e a indústria. Para combater a crise hídrica e as mudanças climáticas, é necessário adotar medidas que promovam a redução das emissões de gases de efeito estufa, como a promoção de energias limpas e renováveis, o incentivo ao transporte público e ao uso de bicicletas, e a redução do consumo de carne. Além disso, é fundamental promover a gestão sustentável dos recursos hídricos, incluindo a proteção dos ecossistemas aquáticos, a redução do desperdício de água, e a promoção da recuperação de áreas degradadas. Além disso, é importante implementar medidas de adaptação para lidar com a escassez de água, como melhorias na gestão da água, aumento da eficiência hídrica e investimentos em tecnologias que permitem a reutilização da água. A crise hídrica e as mudanças climáticas estão intrinsecamente relacionadas e precisam ser abordadas em conjunto. Ações concretas são necessárias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e aumentar a resiliência às mudanças climáticas, a fim de garantir a disponibilidade de água para as gerações futuras e preservar a saúde do planeta. Henrique Cortez, editor da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394 [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Mobilidade é a área mais afetada na revisão do Programa de Metas de São Paulo

Rede Nossa São Paulo – Mudanças apresentadas pela gestão Ricardo Nunes excluíram metas como a redução de mortes no trânsito e abriram brecha para a não implantação de corredores e terminais de ônibus Depois de publicar a revisão e o relatório de execução do Programa de Metas na última quinta-feira (19/4), a prefeitura de São Paulo convocou uma coletiva de imprensa para hoje, 24/4, para apresentar um novo balanço do plano. No encontro desta segunda com os jornalistas, o prefeito Ricardo Nunes declarou que incluiu novos compromissos, como a requalificação de alguns corredores de ônibus. Na prática, no entanto, quase nada mudou em relação ao anúncio da última quinta-feira. De modo geral, os resultados demonstram que a gestão está longe de alcançar os desafios apontados pelo Programa, uma vez que somente 15,6% das metas foram alcançadas (12 metas) e 84,4% (65 metas) não foram alcançadas. Destas, 18% (14 metas) não foram iniciadas. Mesmo dentre as metas que já tiveram a implementação iniciada, o nível de conclusão ainda é muito baixo (até 25% de realização). O gráfico abaixo, produzido pela equipe da Rede Nossa São Paulo, sintetiza a execução do Programa até dezembro de 2022. A análise por temas mostra ainda que a mobilidade é a área mais prejudicada: nove das 12 metas (66,6%) estão sem execução ou com nível de execução muito baixo (abaixo de 25%). A implantação do BRT da Aricanduva e da Radial Leste, assim como a implantação de quatro novos terminais de ônibus, foram rebaixadas. Os compromissos da prefeitura passaram de “implantação” das estruturas para “viabilização”, o que significa que a meta poderá ser considerada cumprida apenas se a elaboração de estudos e a contratação dos serviços forem realizados – ou seja, ela não precisa ser concluída para o compromisso ser cumprido. Além disso, a meta referente à ampliação da rede de ônibus também foi suprimida. Outro retrocesso do Programa foi a exclusão do tema segurança viária, uma vez que a meta de redução de mortes no trânsito para 4,5 mortes/100 mil habitantes (em 2020 eram 6,5) foi cancelada. Essa meta buscava atender o que preconiza o Plano Municipal de Segurança Viária (Decreto Municipal n° 58.717/2019), que é reduzir o número de mortes no trânsito para 3 óbitos/100 mil habitantes até o ano de 2028. Na cultura, metade das metas não foi iniciada. Em meio ambiente, metade das metas estão entre não-concluídas e com execução abaixo de 50%. O destaque positivo é a saúde, em que quase 80% das metas encontram-se em nível avançado ou concluídas. Alterações Programáticas No documento apresentado pela prefeitura, houve inclusão de nove novas metas, além da alteração e ampliação de compromissos em diferentes áreas. As situações identificadas como mais graves, entretanto, se dão na análise das alterações programáticas promovidas pela gestão, pois há alterações bastante significativas. Apesar da inclusão de nove metas novas e da alteração de outras 27, muitas destas reduziram os compromissos da gestão municipal. Uma análise mais ampla e abrangente do Programa de Metas, envolvendo outros temas e áreas abordadas pelo documento, será apresentada por organizações da sociedade civil em evento no dia 23 de maio. A intenção é fazer uma avaliação do programa frente os desafios da cidade e apresentá-la à sociedade. (#Envolverde)

quinta-feira, 27 de abril de 2023

ABES vê pontos positivos para a universalização no decreto que deve alterar o marco regulatório do saneamento

ABES vê pontos positivos para a universalização no decreto que deve alterar o marco regulatório do saneamento A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES avalia como positivos os impactos de alguns pontos que vêm sendo divulgados como parte do decreto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará, alterando o marco que regula o saneamento. Entre os principais pontos está a retirada da trava de limitação de 25% para PPPs. Na opinião da ABES, este dispositivo possibilitará a busca de mais investimentos no setor. “Permitirá que os atuais prestadores constituam uma PPP, por exemplo, para todo o sistema de esgoto, e não apenas uma limitação de 25%, como o marco define até então”, ressalta o presidente nacional da ABES, Alceu Guérios Bittencourt. Outro impacto positivo, de acordo com a ABES, é a questão das outorgas. O governo deve limitar, neste decreto, a utilização de recursos federais para pagamento das mesmas. Com a mudança, para que se tenha acesso a recursos federais, o critério de seleção será o de menor tarifa. “Este é um aspecto extremamente importante, pois beneficiará diretamente o usuário. Em vez de maior outorga para pagar o governante, será a menor tarifa ao longo dos 30 anos de concessão”, frisa o presidente da ABES. A expectativa da ABES é que seja observada no decreto a condição dos municípios autônomos, que prestam diretamente os serviços e não desejam conceder, os quais pelas regras atuais não podem ter acesso a recursos públicos federais e aos financiamentos com recursos da União ou geridos ou operados por órgãos ou entidades da União. É importante destacar que, independentemente da situação contratual dos municípios, não é admissível a interrupção automática do serviço, sob pena de penalizar a população. “O marco anterior não permitia nenhuma condição para regularização destes contratos e a ABES espera que o Governo Federal encaminhe ao menos uma ‘regra de transição’ para manter a prestação por meio do atual prestador pelo período necessário para o efetivo encerramento do contrato e para a transferência do serviço para novo prestador, respeitadas as prerrogativas legais e os objetivos de atingimento da universalização até 2033”, esclarece Alceu Guérios Bittencourt. A Associação também está atenta a outros dois itens, que podem sofrer alterações: o fortalecimento da figura da regulação, tendo o Ministério das Cidades como o foco das diretrizes, mas mantendo a ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico como agência responsável; e a possibilidade de um novo programa que deve disponibilizar recursos fiscais para investir em saneamento. “Se este programa acontecer, será excelente para o setor, pois trata-se de uma oportunidade de o saneamento tornar-se prioridade, especialmente no que diz respeito ao saneamento rural e às populações mais vulneráveis, rumo à universalização, que deve ser alcançada até 2033, de acordo com o marco regulatório”, pontua o presidente da ABES. Para conhecer o posicionamento da ABES, acesse https://www.abes-dn.org.br/?p=52121 Discussões integrarão o Congresso da ABES em maio O Marco Regulatório do Saneamento, suas alterações e impactos serão tema das discussões do 32º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (CBESA), que a ABES promoverá de 21 a 24 de maio, no Expo Minas, em Belo Horizonte-MG. Há seis décadas, o Congresso da ABES, o mais importante evento de saneamento ambiental do Brasil, apresenta, reúne, discute, planeja e integra ações de forma a vencer os desafios da universalização do saneamento, visando à proteção do meio, à saúde e ao bem-estar de todas as pessoas, sem exclusão, por meio da participação de grandes especialistas do setor, pesquisadores, profissionais e estudantes, conectando órgãos públicos e privados, empresas e organizações sociais à ciência, pesquisa e inovação tecnológica. Para conhecer a programação, acesse www.congressoabes.com.br Sobre a ABES Com 56 anos de atuação, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES é uma associação com fins não econômicos, que reúne no seu corpo associativo cerca de 10.000 profissionais do setor. A força da ABES está em seus associados. A ABES tem como missão ser propulsora de atividades técnico-científicas, político-institucionais e de gestão que contribuam para o desenvolvimento do saneamento ambiental, visando à melhoria da saúde, do meio ambiente e da qualidade de vida das pessoas. É a associação brasileira que reúne a diversidade de profissionais e organizações do setor: empresas públicas e privadas, governos, prestadores de serviços, fornecedores, universidades e profissionais de diversas faixas etárias e várias áreas relacionadas ao saneamento, além da engenharia. ABES, há 56 anos trabalhando pelo saneamento e pela qualidade de vida dos brasileiros. www.abes-dn.org.br (#Envolverde)

Documentário Floresta Racionada aponta o impacto da soja sobre animais silvestres e de fazenda

TelegramEmailPrint Proteção Animal Mundial é parceira no lançamento do minidocumentário Realizado em Sinop, no Mato Grosso, “Floresta Racionada” foi produzido por meio de extensas pesquisas de dados e entrevistas com especialistas para evidenciar como a produção brasileira de grãos abastece, primordialmente, a indústria da carne e impacta a fauna brasileira. O Mato Grosso é o maior estado produtor de grãos do Brasil e o único a ter três dos principais biomas do país: Amazônia, Cerrado e Pantanal, com uma safra superior a 44 milhões de toneladas por ano. Apesar da sua força econômica, a atividade agrícola ainda é o principal vetor de devastação da Amazônia e do Cerrado. O documentário curta-metragem denuncia o impacto da pecuária industrial intensiva na vida dos animais silvestres – que são afetados pelas queimadas e o desmatamento – e de produção (como aves, suínos e bovinos) – que são criados em condições contestáveis. O minidocumentário “Floresta Racionada – O impacto da soja sobre animais silvestres e em confinamento” é uma realização da Repórter Brasil em parceria com a Proteção Animal Mundial. Nesse sentido, a Proteção Animal Mundial trabalha globalmente para que não sejam construídas novas fazendas industriais intensivas como forma de como forma de combater a causa raiz do desmatamento e de proteger do sofrimento bilhões de animais silvestres e de produção. As indústrias de criação animal têm a responsabilidade de rastrear a origem da ração adquirida, não contribuindo assim para a destruição dos habitats. Se não conseguem garantir uma produção livre de desmatamento e proteção da biodiversidade, oferecendo mecanismos eficazes de rastreabilidade, como pretendem cumprir com a promessa do carbono zero que deve ser alcançado daqui alguns anos? É hora de mudar. O documentário Este projeto de documentário de curta-metragem (disponível aqui) é fruto de um relatório divulgado no fim de 2022 que leva o mesmo nome “Floresta Racionada” e traz para discussão uma investigação sobre os impactos da produção de grãos na fronteira agrícola do país. O foco do material são os animais silvestres e animais em confinamento para a indústria da carne. Por meio de uma extensa pesquisa de dados e de entrevistas com especialistas renomados, como Ricardo Abramovay, sociólogo/ USP, Marcos Rosa, Mapbiomas, Elaine Dione, professora médica veterinária da UFMT, e Gustavo Canale, Instituto Ecótono, o documentário pretende mostrar como a pujante produção brasileira de grãos serve, primordialmente, para abastecer a indústria da carne. Para além de alertar o público sobre os impactos socioambientais decorrentes desse processo, como o desmatamento ilegal e o desrespeito a comunidades tradicionais, o filme tem por objetivo central denunciar a crueldade no tratamento dispensado aos animais. E isso engloba não só os animais silvestres vítimas de queimadas, por exemplo, mas também aves, suínos e bovinos criados em condições absolutamente questionáveis para alavancar um dos principais setores do agronegócio nacional. Para tanto, o projeto tem como pressuposto a realização de uma viagem de campo de sete dias para a realização de entrevistas e o registro de imagens. O local escolhido é Sinop (MT), um dos principais polos do país na produção de grãos. Ficha Técnica Floresta Racionada – O impacto da soja sobre animais silvestres e em confinamento (13′) Direção e roteiro: Gil Alessi Direção de fotografia e Montagem: Lucas Barreto Produção Executiva: Carlos Juliano Barros Artes e Animações: Toca Hub Realização: Repórter Brasil e Proteção Animal Mundial Sobre a Proteção Animal Mundial (World Animal Protection) – A Proteção Animal Mundial é a voz global do bem-estar animal, com mais de 70 anos de experiência em campanhas por um mundo no qual os animais vivam livres de crueldade e sofrimento. Temos escritórios em 12 países e desenvolvemos trabalhos em 47 países ao todo. Colaboramos com comunidades locais, com o setor privado, com a sociedade civil e governos para mudar a vida dos animais para melhor. Nosso objetivo é mudar a maneira como o mundo trabalha para acabar com a crueldade e o sofrimento dos animais selvagens e de produção. Por meio de nossa estratégia global de sistema alimentar, vamos acabar com a pecuária industrial intensiva e criar um sistema alimentar humano e sustentável, que coloca os animais em primeiro lugar. Ao transformar os sistemas falhos que impulsionam a exploração e a mercantilização, daremos aos animais silvestres o direito a uma vida silvestre. Nosso trabalho para proteger os animais desempenha um papel vital na solução da emergência climática, da crise de saúde pública e da devastação de habitats naturais. Sobre a Repórter Brasil – A Repórter Brasil é uma organização sem fins lucrativos fundada por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de chamar atenção e ação para a violação de direitos fundamentais de pessoas e trabalhadores no Brasil. Seus jornalistas ganharam mais de 20 prêmios por cobertura de direitos humanos e questões sociais e ambientais, incluindo o Prêmio Gabriel García Márquez de Jornalismo, enquanto suas matérias influenciaram políticas públicas e serviram de referência para outros meios de comunicação. (#Envolverde)

Onça órfã, frango confinado: os impactos da soja no MT sobre os animais

terça-feira, 25 de abril de 2023

Dependência digital e a perda de conexão com o Mundo Exterior

A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas não podemos deixar que ela nos afaste da vida real e das relações humanas Não há dúvida de que a tecnologia revolucionou a forma como vivemos, trabalhamos e nos comunicamos. No entanto, com o crescimento exponencial da internet e das redes sociais, surge uma nova preocupação: A Dependência Digital, inclusive um dos temas da Novela Travessia. Por Marcela Melo Em entrevista com a Dra. Gesika Amorim, mestre em educação médica, pediatra pós-graduada em Neurologia e Psiquiatria, especialista em Saúde Mental e Neurodesenvolvimento, ela faz um alerta sobre os perigos da dependência digital e como ela pode afetar a saúde mental e física das pessoas, em especial das crianças. Segundo a Dra. Gesika, a dependência digital pode levar a problemas como depressão, ansiedade, transtornos obsessivo-compulsivos e isolamento social, comprometendo o processo de aprendizado e prejudicando os laços afetivos e emocionais com os pais, cuidadores, familiares e amigos. “Hoje, uma grande parte das crianças se sente trocada pelo celular; elas percebem que seus pais ou cuidadores preferem a companhia do celular do que passar um tempo com ela, para brincar, conversar ou interagir de alguma outra forma”, alerta a Dra. Gesika Amorim. Mas o que leva alguém a se tornar dependente da tecnologia? A resposta está na dopamina, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. Quando usamos a internet, recebemos e-mails, recebemos curtidas e comentários em nossas redes sociais, fazemos downloads e interagimos virtualmente com outras pessoas, nos da um certo prazer, certo? “No caso da dependência digital nas crianças, acontece o mesmo. O problema é que se tornou comum a prática de muitos pais recorrerem aos aparelhos tecnológicos para manter as crianças ocupadas, mas acabam prejudicando seu desenvolvimento emocional e social”, explica a especialista. Para combater a dependência digital, é importante encontrar um equilíbrio entre o uso da tecnologia e a vida real. Algumas sugestões são: · Limitar o tempo de uso da tecnologia, · Praticar atividades físicas, hobbies · Se desconectar periodicamente da internet. “O grande problema é que seguimos conectados, navegando na internet, em nossas redes sociais, exibindo os nossos perfis, verdadeiros ou falsos, na maioria das vezes querendo a vida do outro, fingindo ser o que não somos e enlouquecidos atrás de “likes”, engajamento, comentários, e tudo isso em casa, sozinho, sem precisar lidar com o mundo do lado de fora das telas. E assim, vamos perdendo a noção da realidade à nossa volta. Acredito que este tenha sido o maior prejuízo na área de saúde/ social que a pandemia trouxe.” – diz a Especialista. Os pais também podem estabelecer regras claras e limites para o uso da tecnologia pelas crianças, e dedicar tempo de qualidade para brincar, conversar e interagir com elas. A dependência digital é um problema sério que afeta a saúde mental e o bem-estar de pessoas de todas as idades. “É importante reconhecer os sinais e tomar medidas para prevenir ou tratar esse problema. A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas não podemos deixar que ela nos afaste da vida real e das relações humanas”, finaliza a Dra. Gesika Amorim. Não ignore este alerta sobre esse problema social cada vez mais comum na sociedade atual. Ao perceber os sintomas da dependência, procure ajuda médica para tratamento e prevenção de outros transtornos. [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

CAPIVARA NÃO É PET !

Apesar de parecerem tranquilas, as capivaras são animais silvestres As capivaras são um dos ícones de Curitiba e estão presentes em vários parques da capital paranaense. É fácil observar um bando delas e seus filhotes descansando às margens de lagos ou rios, pois esse é justamente o ambiente que mais as agrada. “Nós reduzimos os habitats naturais das capivaras e de tantos outros animais, por isso eles vivem em parques e tiveram que se adaptar a áreas urbanizadas, mudando alguns comportamentos. Nós somos os invasores, não eles”. Por Luiza Lafuente São animais herbívoros, ou seja, se alimentam de capim, grama e vegetação aquática e podem pesar até 90 kg, o que rende às capivaras o título de maiores roedores do mundo. De temperamento bastante dócil, as capivaras podem passar a imagem de que são animais domésticos, mas não é recomendado interagir com os animais. “Apesar de parecerem tranquilas, as capivaras são animais silvestres e sempre vão defender seus filhotes. Se aproximar de um bando ou de uma delas pode ser percebido como um ataque”, explica o biólogo e professor de Ciências do Colégio Marista Paranaense, Moisés Serejo. Há também a questão das doenças que podem ser transmitidas, algo normal em todo animal silvestre. O ideal, de acordo com Serelo, é observá-las de longe, nunca alimentá-las e, no máximo, tirar fotografias à distância. Confira algumas curiosidades sobre as capivaras e seus hábitos: As capivaras são os maiores roedores do mundo, podendo pesar até 90 kg. Elas são animais semi aquáticos, encontradas perto de rios, lagos e pântanos em toda a América do Sul, exceto Chile. As capivaras têm uma camada espessa de pelo marrom que ajuda a protegê-las da água fria. Elas têm uma dieta herbívora, alimentando-se principalmente de plantas aquáticas, folhas e gramíneas. As capivaras são animais sociais e geralmente vivem em grupos de até 50 indivíduos, quando em áreas urbanas. Elas são excelentes nadadoras e podem permanecer submersas por até cinco minutos. As capivaras que vivem próximas a cidades se tornaram animais noturnos e passam grande parte do dia descansando perto da água. São animais calmos e pacíficos, e geralmente não representam uma ameaça para os humanos, exceto em caso de proteção dos filhotes. As capivaras são muito valorizadas na cultura sul-americana e são frequentemente retratadas em arte e literatura. Elas têm um papel importante no ecossistema como espécie-chave, ajudando a manter os níveis de água e controlar a vegetação nas áreas em que vivem. [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

A REINVENÇÃO DO FUTURO - Dal Marcondes (Envolverde)

Dal Marcondes, da Envolverde – O combate objetivo da desigualdade é o principal, se não o único, caminho da humanidade em direção ao futuro, que não deve ser encarado como inexorável. Este início de século pode ser definido como uma nova encruzilhada no tempo para a humanidade, assim como foi há 100 anos, no início do século XX. Um adulto de 1915, se perguntado como seria o futuro, não teria a mais remota possibilidade de prever o nosso presente. Olharia em volta e veria um mundo conturbado, em guerra (muito semelhante ao nosso), mas com tecnologias que estavam apenas nascendo (também muito parecido com os nossos dias). No entanto, não teria nenhuma informação de tendência que permitisse prever a sociedade pós-industrial deste século 21. Certamente, com alguma boa vontade ele poderia desejar que a humanidade já tivesse superado as guerras e a desigualdade, principais flagelos do seu tempo. O início do século XX assistiu às primeiras máquinas complexas tornarem-se a base da sociedade humana, se iluminou com a eletricidade e se maravilhou com as descobertas da química. Também viu essas novas maravilhas sendo utilizadas como armas. Nada daquele momento permitia vislumbrar as fantásticas conquistas desse início de século XXI. Eletricidade, mecânica e química se transcenderam em uma ciência interligada e capaz de elevar o conhecimento humano a um patamar quase divino. A humanidade deste século á mais bem preparada, mais culta, mais habilitada em todas as áreas de conhecimento. Enquanto a informação era para poucos em 1915, em 2015 a internet e suas ferramentas tornaram ciência e conhecimentos de acesso universal. Durante a maior parte da história humana havia a crença generalizada de que o futuro é algo inexorável, é auto realizável e nada se poderia fazer para mudar o destino. O Oráculo, desde os tempos de Delfos, tem poder de vida e morte sobre os crentes. Reis e generais consultaram os oráculos ao longo dos tempos para saber de sua sorte nas batalhas, assim como pessoas comuns seguem outras superstições para tentar descortinar o futuro inexorável à sua frente. O cenário de 2015 é completamente diferente. O futuro é algo a ser construído de acordo com os desejos e o planejamento da humanidade e de suas instituições. A casualidade tem pouco espaço em um momento da história em que a humanidade precisa tomar as rédeas de seu destino em decidir os rumos de sua civilização. Há dilemas fundamentais a serem enfrentados de forma objetiva e com um plano de trabalho capaz de superar inércias históricas, com o potencial de inovar nas relações humanas e, principalmente, com a capacidade de apoiar a humanidade em um salto evolucionário em direção ao futuro. Os desafios a serem superados são inúmeros, estão presentes em quase todos os campos do conhecimento e das relações humanas. No entanto, nenhum é maior do que a necessidade de superação da desigualdade. O planeta Terra abriga neste início de século sete bilhões de seres humanos. As estimativas dos demógrafos aponta que chegaremos a nove bilhões por volta de 2050 e depois haverá uma estabilização. Em 1900 havia menos de dois bilhões de habitantes na Terra, um número parecido com a quantidade de pessoas que neste início do século XXI de fato têm acesso às benesses da civilização contemporânea. Entre quatro e cinco bilhões de pessoas vivem com algum ou diversos tipos de carência. A desigualdade é o mais importante desafio deste tempo. Levar à totalidade das pessoas a universalização de direitos já considerados universais deveria ser o principal foco da motivação de governos, empresas, instituições e pessoas. Ao mesmo tempo em que a humanidade consegue espalhar conquistas nos campos da educação, da ciência, da tecnologia e da medicina, a concentração de riquezas nas mãos de uns poucos torna o processo distributivo limitado. Um estudo realizado pela organização internacional Oxfam mostra que durante a mais importante crise financeira global desde a crise de 1929, em 2008, o número de bilionários no planeta dobrou, enquanto a desigualdade, ou seja, a distância entre ricos e pobres, aumentou. Winnie Byanyima, diretora executiva da Oxfam Internacional A diretora executiva da Oxfam Internacional, Winnie Byanyima convoca a sociedade para virar esse jogo, “antes que a situação piore”. Os dados mostram que atualmente a soma das fortunas de 1% da população global é maior do que a soma da renda dos 99% de humanos restantes. Os números levantados pela Oxfam são impressionantes: “Se as três pessoas mais ricas do mundo gastassem US$ 1 milhão por dia, precisariam de 200 anos para exaurir suas fortunas”, informa o relatório. Segundo o documento, as 85 pessoas mais ricas viram sua fortuna coletiva crescer US$ 668 milhões ao dia entre 2013 e 2014. Isso corresponde a quase meio milhão de dólares por minuto. Governos e empresas precisam rever seus conceitos de acumulação e distribuição de renda. A desigualdade não é um bom negócio para ninguém. Para as empresas a distribuição de renda gera mercados, acesso das populações aos bens, produtos e serviços do século XXI. Para os governos significa sociedades mais bem preparadas e estruturadas para um melhor desempenho em políticas púbicas, com mais autoestima e melhores contribuintes. O embate de ideologias dos tempos atuais perdeu seu foco principal, a qualidade de vida da sociedade a à qual servem os políticos. Planejar como superar esse entrave civilizatório da desigualdade é o principal desafio da humanidade. É papel de todos, principalmente daqueles que detém dinheiro e poder. Uma regra obsoleta do marketing prega que as empresas de sucesso são aquelas que conseguem fidelizar seus clientes e vender mais para os mesmos. Essa empresa certamente vai ganhar dinheiro por algum tempo, mas não tem uma contribuição eficaz para o desenvolvimento da sociedade que a acolheu. A empresa de sucesso do século XXI será aquela que consegue fazer o dinheiro girar pela sociedade, deixando benefícios em toda a sua cadeia de valor. E antes que perguntem, sim, remunerar os acionistas. Há um conceito que define com muita clareza o papel das empresas neste novo século, é do empresário Ray Anderson, fundador da organização Sustainability e um dos precursores da economia do compartilhamento. “O Lucro não pode ser o principal objetivo de uma empresa, o foco das empresas deve ser sua missão. O lucro é apenas um dos fatores necessários para que as empresas cumpram sua missão”. Empresas ao redor do mundo estão engatinhando em uma mudança de seu foco, começam a dar mais atenção aos seus impactos ambientais e sociais. Buscam trabalhar com medidas mitigatórias em relação ao meio ambiente e apoiam projetos sociais com foco principalmente em educação e redução da pobreza. Muitas elegeram água e resíduos como suas preocupações prioritárias, o que é bom, porque na lista de prioridades do século XXI esses dois temas vem logo em seguida à desigualdade como desafios urgentes. No entanto, a crise de 2008 mostrou que a determinação das empresas em manter sua coerência em relação aos projetos de sustentabilidade ainda carece de perseverança. Muitas delas praticamente abandonaram os planos de investimentos nessa área e, outras, desarticularam suas equipes de profissionais em sustentabilidade. Mesmo os tradicionais relatórios de sustentabilidade com base em princípios do GRI (Global Reporting Iniciative) perderam consistência e passaram a ser olhados apenas como obrigação de “cumprir tabela”. A crise civilizatória que se espalha pelo planeta neste início de século guarda muitas similaridades às crises que assolaram o mundo no início do século XX. Guerras e incapacidade de diálogo entre nações e povos de distintas crenças e culturas. Em 1915 o Planeta estava mergulhado em seu primeiro grande evento global, uma guerra que demoliu os impérios e redesenhou as fronteiras do mundo. Certamente os reis e generais da época foram incapazes, antes do conflito, quando ele ainda poderia ter sido evitado, de prever os impactos das nascentes tecnologias mecânica e química sobre o campo de batalha. A diferença estrutural entre os dois momentos históricos é a atual habilidade de previsão de cenários e a capacidade da humanidade em superar os impasses propostos pela visão de inexorabilidade do futuro. O desenvolvimento inercial e inconsequente, descompromissado com a transformação dos paradigmas que regem a economia e a cultura, apenas leva ao acirramento das tragédias, com consequências catastróficas para a humanidade. Neste ponto é bom lembrar que o planeta Terra tem bilhões de anos e a humanidade chegou a uns poucos milhares de anos, e apenas nos últimos dois a três séculos fez estragos que durarão também uns poucos milhares de anos para o planeta consertar. Isso quer dizer que o que está em questão quando se fala em planejar o futuro nada tem a ver com o clássico conceito ambientalista de “salvar o planeta”, mas sim com garantir a resiliência do habitat humano como suporte para a qualidade de vida da atual civilização. O papel das empresas é fundamental para garantir qualidade da transição da economia para um modelo de menor impacto ambiental e excelência em impacto social. Todas as áreas empresariais têm muito a contribuir e, para isso, precisam mudar sua visão de mundo. A simples acumulação de capital não transforma e, a partir de um determinado valor apropriado a própria organização e seus acionistas não são mais impactados pelos resultados financeiros. Nesse ponto é preciso entrar em cena outro conceito, o de ciclo de vida dos produtos. Transformar a maneira de fazer, a qualidade e a quantidades de materiais e recursos naturais utilizados, o processo de venda, utilização e descarte é fundamental para ganhar escala que permita atender a todos e não apenas a uma pequena parcela da humanidade. É preciso estabelecer o fim de produtos e materiais desconectados com um modelo mais sustentável de civilização. O combate objetivo da desigualdade é o principal, se não o único, caminho da humanidade em direção ao futuro. As alternativas são todas catastróficas. Informação e conhecimento são os principais fatores evolucionários e de transição para uma ética de preservação ambiental e para uma sociedade menos desigual. (Envolverde) * Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, Revistas Isto É e Exame. Desde 1998 dedica-se a cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial.

Caminhos da Reportagem | Na Amazônia pelas ondas do rádio

Amazônia, Arqueologia da floresta: A terra dos povos [Episódio 01]

Amazônia: riqueza da floresta desafia pesquisa científica do Brasil

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Documentário Amazônia, Coração da Mãe Terra adverte para a urgência de esforços globais em defesa dos povos indígenas

Codirigido e coproduzido por Gert-Peter Bruch e a princesa Esmeralda da Bélgica, dois importantes ativistas pela proteção desse valioso bioma, o filme também registra esforços que somam décadas de luta pelo direito à demarcação de terras Nos últimos quatro anos, sob a égide de um governo federal assumidamente contrário a décadas de esforços coletivos pela manutenção e ampliação de direitos legítimos dos povos originários do Brasil, lutar foi um imperativo ainda mais desafiador, e enfraquecer, nesse cenário de permanente confronto, jamais foi uma escolha diante dos alarmantes recordes de desmatamento, do recrudescimento de queimadas e de invasões de grileiros e garimpeiros ilegais em território amazônico. Realidade atroz escancarada com a revelação, em janeiro de 2023, do flagelo humanitário vivenciado pelo povo Yanomami. A perspectiva de reestruturação de instituições e de políticas públicas em defesa dos povos indígenas reacende esperanças agora, com a nova gestão federal que instituiu o inédito Ministério dos Povos Originários, capitaneado pela líder do povo Arariboia e ativista Sonya Guajajara. Nesse cenário de reformulações e recálculo de rotas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) anuncia, para este mês de abril, uma agenda que dominará o Acampamento Terra Livre 2023, evento que será realizado entre os dias 24 e 28, em Brasília (DF). “Eu vou brigar mais, até conseguir. Você não pode ficar fraco. Tem que ser duro.” Raoni Metuktire, líder do povo Caiapó Esse será o cenário da primeira exibição do documentário Amazônia, Coração da Mãe Terra (2022), codirigido e coproduzido por Gert-Peter Bruch e a princesa Esmeralda da Bélgica, dois importantes ativistas ambientais de grande atuação na proteção desse valioso bioma e de seus povos originários. Com fotografia exuberante da fauna e flora amazônicas – imagens que dialogam com a impactante trilha sonora composta de música incidental e das chamadas “Canções da Mãe Terra”, a cargo de Clément Garcin e Béatrice Little Bear –, o filme conta com o apoio de um importante parceiro local para sua difusão no Brasil, o Documenta Pantanal, instituição que reúne profissionais de diversas áreas com o desafio de tornar os protetores e as riquezas do Pantanal mais conhecidos do grande público. “Proteger um bioma é proteger todos os biomas e esse filme é um exemplo de como todos eles estão interligados e como a preservação perpassa o social. O documentário é uma ferramenta importantíssima na batalha pela conservação, essa tem sido a nossa experiência”, defende Mônica Guimarães, diretora-executiva do Documenta Pantanal, também produtora executiva do maior festival de documentários da América latina, o É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. Amazônia, Coração da Mãe Terra também será exibido em sessão única e gratuita, no Espaço Itaú de Cinema – Augusta, em São Paulo, no dia 29 de abril, com a presença do diretor, lideranças indígenas e da princesa Esmeralda da Bélgica, que após a projeção permanecerão com o público para um bate-papo. A conversa também terá a presença do advogado Orlando Villas-Bôas Filho e de Marina Villas-Bôas, filho e viúva do sertanista Orlando Villas-Bôas. Entre 1963 e 1975, em importante colaboração no Xingu, Marina atuou como enfermeira e foi responsável pelo ambulatório designado para cuidar da saúde dos indígenas, com resultados excepcionais, como zerar os registros de óbito infantil. Décadas de engajamento Ativista ambiental desde os 17 anos, Gert-Peter Bruch tomou consciência das lutas dos povos originários do Brasil por intermédio da campanha de arrecadação de fundos globais realizada em 1989 pelo cantor britânico Sting, em solidariedade ao cacique Raoni Metuktire, líder do povo Caiapó, que então somava esforços para que fossem iniciadas as primeiras demarcações de terras indígenas na esteira de direitos recém-adquiridos com a promulgação da Constituição Federal de 1988. “Raoni conseguiu, como um imã, chamar pessoas de dentro e de fora do Brasil para uma ação muito importante, ao lado de Sting, que ajudou na demarcação de várias terras indígenas. A grande contribuição de Raoni e de outros que se portam como ele é a divulgação de que eles estão aqui e agora. Eles não são índios históricos. Eles vivem o aqui e agora, e essa ação é um incentivo”, defende, em depoimento registrado no documentário, o indigenista e ex-presidente da FUNAI, Sydney Possuelo. Princesa Esmeralda da Belgica Jornalista e ativista ambiental, a princesa Esmeralda da Bélgica tem ligação intrínseca com a luta em defesa dos povos originários. Seu pai, o Rei Leopoldo III (1901 – 1983), abdicou do trono e foi um precursor do ambientalismo, destacando-se como um dos mais participativos ativistas em defesa da Amazônia no cenário internacional, a partir de 1964, quando teve o primeiro contato com os Irmãos Villas-Bôas – os sertanistas Cláudio, Orlando e Leonardo – e com o nascente Parque Nacional do Xingu, ao longo de dois meses em que também estabeleceu amizade com o cacique Raoni e se destacou como fotógrafo, legando um inestimável acervo imagético compilado no livro Diário de Viagem – Fotografias do Rei Leopoldo III ao Brasil – 1923-1923, editado pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). “A luta que os irmãos Villas-Bôas desenvolveram ao longo dos anos 1960 foi uma luta muito difícil, e se não houvesse o respaldo de grandes figuras como, por exemplo, a do Rei Leopoldo III, provavelmente eles não tivessem conseguido o êxito que tiveram na manutenção desse grande projeto que foi o Parque Indígena do Xingu”, defende, no filme, Orlando Villas-Boâs Filho. Cosmogonia encantada Com narrativa poética e protagonismo das mais expressivas lideranças indígenas em atuação no País, Amazônia, Coração da Mãe Terra adverte para a urgência de articulação de esforços globais em defesa dos povos originários e da preservação dos recursos naturais da maior floresta tropical do mundo. “Graças a Mãe Terra, as folhagens nos protegem e resfriam o chão. Nós respiramos ar puro e repelimos os incêndios. Não é mais o caso de todas essas regiões onde a floresta já foi arrancada. Restam apenas pequenas ilhas de floresta que eles também querem destruir. Eu não gosto disso. Não gosto nada disso”, adverte e lamenta Raoni, em um dos vários depoimentos seus registrados no filme. A solução para conter a devastação é conhecida há décadas, como reitera o diretor de Amazônia, Coração da Mãe Terra: “O mapa idealizado há 40 anos está exatamente nas áreas protegidas da Amazônia, o resto sumiu. Se você demarcar a terra, estará protegendo a terra; se não fizer isso, perderá a floresta”, diz Bruch. Kretã Kaingang, chefe do povo Kaingang Para Kretã Kaingang, chefe do povo Kaingang, originário da Mata Atlântica do Paraná, é preciso compreender que as riquezas da floresta não podem ser mensuradas apenas como uma fonte de recursos naturais, mas sim como um terreno sagrado, de caráter espiritual para os nativos que ali vivenciam uma cosmogonia completamente alheia aos valores de quem reside nos grandes centros urbanos. “Há muitas pessoas que não entendem como funciona a floresta. Tem os seres vivos e os seres espirituais dentro da floresta. Então, para nós, os povos indígenas, ter acesso, entrar nessas florestas, passar e sentir aquela força de espírito dos seres encantados, que nós chamamos, é muito importante. A gente não é nada diferente de nada que tem dentro daquele território e daquela terra. A gente é igual a todos. Então, um tem que respeitar o outro”, afirma Kretã. Para Valdelice Veron, líder do povo Guarani-Kaiowá no cerrado de Mato Grosso do Sul, o dia a dia de contemplação de uma rotina encantada dispensa hierarquia sobre a importância de todos os seres vivos da floresta: “Cada bichinho, cada joaninha, cada formiga, começando dos bichinhos pequenos, tem seu papel para nós. E os bichos grandes, como as antas e as capivaras, ajudam a limpar os rios”, explica. No documentário, essa dimensão mística defendida por Kretãe Valdelice é reverberada em um depoimento de Jojo Mehta, diretora-executiva da Stop Ecocide International, instituição baseada no Reino Unido com atuação em diversos países: “Para as culturas indígenas, a relação com o meio ambiente está muito ligada ao patrimônio cultural e às práticas culturais. O indígena não pensa no mundo natural como uma fonte de recursos, o mundo natural é como um nosso parente”, diz. https://instagram.com/planeteamazone?igshid=YmMyMTA2M2Y= SERVIÇO Amazônia, Coração da Mãe Terra Espaço Itaú de Cinema – Augusta, Sala 1 Rua Augusta, 1475, Consolação – São Paulo Exibição em 29/4, às 20h.Ingressos gratuitos serão distribuídos1h antes da projeção. FICHA TÉCNICA Direção e produção: Gert-Peter Bruch e Esmeralda da Bélgica Câmeras: Todd Southgate Gert-Peter Bruch Alan Schvarsberg Olivier Schneuwly Onildo Santos João Pedro Augusto de Paula Albuquerque Montagem: Mohammed El Sharqawy Música: Clément Garcin, Béatrice Little Bear Cantos da Mãe-Terra: Béatrice Little Bear Mixagem: Maxime Libert Legendas: Chlé Le Bail (#Envolverde)

Expedição encontra animal ameaçado de extinção, registrado há 25 anos

Pesquisadores identificaram inseto de um milímetro em caverna no interior do Pará O que um bichinho de menos de um milímetro pode ensinar sobre biodiversidade? E por que é importante preservar esses seres tão pequenos? A resposta para os dois questionamentos é simples do ponto de vista da sustentabilidade: todos os seres vivos importam. Cada organismo é peça fundamental para a manutenção dos ecossistemas. E como mobilizar a sociedade, governo e organizações em prol da conservação desses pequenos animais? A história dessa reportagem começa em 1995, quando pesquisadores registraram a presença de um inseto com seis pernas, sem olhos ou pigmentos, em uma caverna no estado do Pará, o Troglobius brasiliensis. Havia apenas um registro existente da espécie, que está classificada como Criticamente em Perigo (CR) na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (Portarias MMA nº 443/2014, 444/2014 e 445/2014). Troglobius brasiliensis Passados 25 anos, já em 2020, teve início o trabalho de elaboração do Plano de Ação Territorial para Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção do Território Xingu (PAT Xingu), resultado do projeto Pró-Espécies: Todos contra a Extinção. A ação, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e tem o Funbio como agência implementadora e o WWF-Brasil como agência executora, procura alavancar iniciativas para reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR) e que não contam com nenhum instrumento de conservação. O Pará é um dos 13 estados envolvidos com o projeto. O PAT Xingu visa a conservação de oito espécies-alvo, sendo quatro da flora e quatro de fauna, e de seus habitats. Dentre as atividades previstas pelo plano estavam as expedições para confirmar a presença do Troglobius brasiliensis na caverna do Limoeiro em Medicilândia, em uma área de distribuição de aproximadamente 596 hectares, ou seja, 596 campos de futebol. A primeira viagem foi realizada em dezembro de 2022 pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (IDEFLOR-Bio), que coordena o plano, em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Tudo o que os pesquisadores sabiam era que o animal vivia em ambientes cavernícolas e não havia nenhuma outra informação sobre hábitos ou características que facilitassem sua localização. “Imagina entrar em uma caverna, dentro do estado do Pará, e achar a espécie que estávamos procurando. A chance era pequena, pois não tínhamos informações nem sobre o comportamento do animal. Normalmente, em cavernas, a principal fonte de energia é o guano de morcego, mas procuramos por todo o lado e não encontramos. Então decidimos ampliar a área de busca e fomos para o rio subterrâneo, na superfície da rocha limpa, e lá estava ele”, relatou o pesquisador da UEPB, Douglas Zeppelini. Em uma visita técnica da equipe do PAT Xingu, realizada em março deste ano, os pesquisadores ainda encontraram uma nova espécie de pseudoescorpião*, nunca antes descrita. “Não só achamos o Troglobius brasiliensis na caverna bem conservada, vivendo naturalmente, em densidades populacionais normais, como ainda filmei um pseudoescorpião predando o Troglobius. Imagina que essa espécie, que só vive nesse ecossistema, é presa para outros organismos, que provavelmente também estão restritos a esse ambiente. Ele é importante nessa cadeia trófica e nos possibilita concluir que o ecossistema da caverna está funcionando perfeitamente, pois temos duas espécies que ocupam diferentes níveis na cadeia alimentar nos papéis de consumidor primário e predador. E está confirmado que o T.brasiliensis não ocorre fora ou na estrada da caverna, então, até o momento, ele é classificado como endêmico deste local”, complementou o pesquisador. As descobertas foram celebradas pois reforçam a importância de estudar as espécies, principalmente as classificadas como ameaçadas, para levantar dados e informações que fomentem ações como a do Pró-Espécies. “Muitas espécies que estão classificadas como Criticamente em Perigo (CR), por exemplo, nós mal conhecemos, não temos fotos nem dados suficientes, e não sabemos detalhes sobre sua ocorrência para tentar, ao menos, traçar um plano para preservá-las. Por isso é tão importante ter recursos para estudá-las e colocar uma luz para entender melhor essas espécies, checar informações e saber qual a real categoria de ameaça a qual estão sujeitas”, complementou Renata Emin, assessora técnica do PAT Xingu. Rica biodiversidade Após a constatação da presença do Troglobius brasiliensis na caverna, pesquisadores poderão desvendar todos os detalhes sobre a espécie e conhecer mais sobre a vida desse ambiente cavernícola. Segundo Douglas, a conservação da floresta no entorno é fundamental para a manutenção da biodiversidade, pois garante a rica relação entre grilos, sapos e outros organismos que estão aproveitando os recursos disponíveis naquele local. “Espécies diferentes de morcegos depositam diversas sementes no ambiente, sejam roídas ou pré-digeridas, que servirão de alimento para grilos, que serão ingeridos por aranhas e escorpiões e assim fechamos toda a cadeia alimentar. A partir da descoberta do Troglobius puxamos um fio surpreendente de espécies que vivem ali. E tudo isso entra no cálculo do risco de extinção de um animal. Se o Troglobius desaparece, não existe outra presa para substituir e alimentar o pseudoescorpião, por exemplo, por isso é fundamental preservar esse ambiente”, ressaltou o pesquisador. E a resposta para a pergunta do início da reportagem, sobre o que um bichinho de um milímetro pode ensinar sobre a biodiversidade, está clara: tudo na natureza tem seu valor intrínseco e cada elo que a compõem é fundamental para garantir a qualidade de vida de todos. Segundo Douglas Zeppelini, na biologia da conservação, cada espécie é um elemento da biodiversidade e isso, por si só, já é suficiente para preservá-la. “Cada espécie que compõe o planeta garante a sustentabilidade. O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta e esse inseto só existe nessa caverna. Se ele desaparecer, quem perde não é o Brasil, mas o planeta Terra. Essa é uma espécie na contagem geral, assim como o rinoceronte, como o urso panda. Se perdemos uma, não temos como retroceder e recuperar. E isso é muito gratificante para um biólogo: ajudar um bicho a não desaparecer”, argumentou. PAT Xingu Elaborado em dezembro de 2020, o Plano de Ação é resultado de várias oficinas virtuais realizadas com representantes de vários órgãos: IDEFLOR-Bio, MMA, WWF-Brasil, Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Fundação Nacionais dos Povos Indígenas (FUNAI), além de representantes dos municípios de Senador José Porfírio e Altamira. Segundo Nívia Pereira, representante do IDEFLOR-Bio e coordenadora executiva do PAT Xingu, as espécies selecionadas não contavam com políticas públicas que promovessem sua conservação e manutenção. A área alvo do PAT apresenta grandes pressões antrópicas, como desmatamento, avanço agrário, garimpo, entre outras. “O plano contempla a preservação de oito espécies e já tivemos resultados muito interessantes. Nós tínhamos muitas informações desatualizadas, ou mesmo erradas, relacionadas às espécies, e graças aos parceiros e articulações, estamos atualizando e aumentando nosso conhecimento. Além das expedições, realizamos todo um trabalho de educação ambiental que é fundamental para a preservação do meio ambiente”, destacou. Além da expedição que localizou o Troglobius brasiliensis, o PAT Xingu também já realizou ações para investigar espécies-alvo da flora e três já tiveram ocorrências confirmadas na área: Pau-cravo (Dicypellium caryophyllaceum), Acapu (Vouacapoua americana Aubl) e Jutaí (Hymenaea parvifolia Huber). “No caso das espécies de plantas, tínhamos poucas informações sobre locais de coleta, que foram disponibilizadas pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e agora, indo a campo, estamos colocando uma lupa para encontrarmos esses indivíduos que podem ser matrizes. A ideia é realizar a coleta de sementes para a produção de mudas. Para isso, estamos fazendo uma articulação com as comunidades que moram perto desses locais, tanto para encontrar outros indivíduos, quanto para se envolver no projeto. O plano possibilita ações muito mais efetivas em prol da conservação, mas o que promove a mudança é a participação da sociedade e a divulgação dessas atividades para o público em geral. Dessa forma, formamos elos e ampliamos a rede de proteção”, reforçou Renata Emin. Pró-Espécies O Pró-Espécies: Todos contra a Extinção, lançado em maio de 2018, trabalha em conjunto com 13 estados do Brasil (MA, BA, PA, AM, TO, GO, SC, PR, RS, MG, SP, RJ e ES) para desenvolver estratégias de conservação em 24 territórios, totalizando 62 milhões de hectares. O projeto busca reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de espécies que não contam com nenhum instrumento de conservação e é financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, da sigla em inglês para Global Environment Facility Trust Fund), coordenado pelo MMA, implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), sendo o WWF-Brasil a agência executora. *Pseudoescorpião é um aracnídeo pequeno que parece um escorpião, mas não tem o “rabo” (opistossoma). (#Envolverde)

2.260 municípios têm segurança hídrica inadequada, alerta presidente da Apecs

Perdas de água nos sistemas de abastecimento ainda estão próximas de 40% A segurança hídrica é fundamental para garantir o abastecimento de água da população. No Brasil, 1.975 municípios têm abastecimento de água classificado com segurança hídrica média e 785 cidades apresentam segurança hídrica baixa ou mínima, de acordo com o Atlas da Água, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. No total, são 2.260 localidades que podem passar por racionamento em períodos de seca. “A vulnerabilidade hídrica de um município afeta, além do abastecimento da população, a atividade econômica, inclusive com capacidade para gerar conflitos pela água. O número de municípios que correm risco de falta de água no Brasil ainda é muito alto”, alerta o engenheiro Ricardo Lazzari Mendes, presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente). “O país tem enfrentado sucessivas crises hídricas. Elas não se concentram apenas no semiárido brasileiro, mas alcançam grandes regiões metropolitanas, que concentram uma parcela significativa da população”, analisa o presidente da Apecs. Para Mendes, o país precisa planejar melhor os recursos hídricos e fazer investimento como forma de garantir o abastecimento de água nessas localidades. Para o dirigente, o Novo Marco Legal do Saneamento trouxe importantes instrumentos, que colaboram para reduzir os riscos de crise hídrica. Um deles é a obrigatoriedade de redução das perdas de água nos municípios: “A maioria das cidades brasileiras tem sistemas de abastecimento com mais de 50 anos. A média de perdas no país chega próximo de 40% de toda água produzida. A Lei 14.026/20 estabelece como meta alcançar 25% de índices de perdas até 2033”. O presidente da Apecs lembra que o Novo Marco Legal do Saneamento já ampliou os investimentos diretos em sistemas de abastecimento e esgotamento sanitário pela iniciativa privada, por meio das concessões já realizadas desde a aprovação da nova lei: “Precisamos continuar avançando para garantir a proteção dos recursos naturais e aumento do atendimento à população”. “Nos últimos anos, os investimentos diretos no saneamento aumentaram, entretanto os desafios continuam presentes. Tanto os investimentos públicos quanto privados devem estar focados no atendimento das metas previstas na nova legislação e todos os ajustes necessários devem contribuir para que a situação continue evoluindo”, afirma Mendes. Sobre a Apecs A Apecs foi fundada em 1989 e congrega atualmente cerca de 30 das mais representativas empresas de serviços e consultoria em Saneamento Básico e Meio Ambiente com atuação dentro e fora do país. Essas empresas reúnem parte significativa do patrimônio tecnológico nacional do setor de Saneamento Básico e Meio Ambiente, fundamental para o desenvolvimento social e econômico brasileiro, estando presente nos mais importantes empreendimentos do setor. #Envolverde

Saúde bucal: 3 vantagens de aderir a pastas de dentes mais sustentáveis

Dia 20 de março é celebrado o Dia da Saúde Bucal, confira uma alternativa à pasta de dente tradicional e dicas para uma higiene correta Desde muito novos aprendemos em casa e na escola sobre a importância da higiene bucal, do uso de fio dental e das visitas periódicas ao dentista. Porém, dados de uma pesquisa recente do Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que, aproximadamente, 90% dos brasileiros escovam os dentes até duas vezes por dia, enquanto a recomendação profissional é de três vezes ao dia no mínimo, apenas 63% usam fio dental, escova e pasta de dente regularmente. Sabe-se que com a rotina cara vez mais agitada de tempos modernos, como os que vivemos, é cada vez mais comum negligenciar alguns hábitos de higiene. Mas, afinal como fazer essa higiene de forma adequada? Será que os produtos que costumamos a usar são suficientes para garantir uma escovação correta e eficiente? De acordo com Luciano Mazitelli, dentista há 20 anos e desenvolvedor da marca Sana Green, as pastas de dente tradicionais, além de terem cerca de 75% de plástico e 25% de alumínio nos tubos, nos quais são embalados, ainda contam com substâncias químicas e ativos sintéticos considerados tóxicos tanto para o corpo humano quanto para a natureza, como Flúor, Triclosan, Lauril Sulfato de Sódio (SLS), Dietanolamina (DEA), corantes artificiais, e conservantes a base de parabenos e até microesferas de plástico. Seguindo uma tendência de produtos sustentáveis e focada em promover uma real mudança de comportamento de consumo dentro do setor, a Sana Green, a primeira marca de pastilhas dentais do Brasil, traz ao mercado uma alternativa sólida às pastas convencionais. E aqui vão três motivos para você trocar seu creme dental tradicional: Um cálculo feito por pesquisadores Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estima que, se metade da população brasileira escovar os dentes três vezes ao dia, cerca de 100 toneladas de resíduos poluidores podem ser produzidas em apenas um ano, contaminando o bioma marinho. Na contramão, as pastilhas da Sana vêm no formato de comprimidos, na quantidade ideal para cada escovação e sem ativos tóxicos aos seres humanos ou ao planeta; Elas são uma alternativa mais saudável e sustentável, feitas com ativos naturais que substituem os sintéticos, promovendo resultados ainda mais efetivos, conferindo limpeza e hálito refrescante na dose certa, além de zero impacto nocivo para seus dentes, organismo ou mesmo para o meio ambiente; As pastilhas de Sana Green não são testadas em animais e não possuem embalagens secundárias, apenas um frasco de vidro reutilizável e facilmente reciclável. O dentista ainda destaca algumas dicas para fazer uma limpeza adequada. “O tempo de escovação adequado é de no mínimo dois minutos, então, nada de pressa, a técnica é que é importante. Eu gosto muito da técnica de Bass para os adultos: as cerdas da escova devem ser posicionadas em um ângulo de 45º em relação aos dentes, encaixando as cerdas diretamente no sulco gengival. Faça movimentos vibratórios de vai e vem, sem aplicar muita força. O tempo do movimento deve ser de pelo menos 10 segundos em um grupo de dentes, na face onde acontece a mastigação, repita os mesmos movimentos de vai e vem”, recomenda Luciano Mazitelli, CEO da Sana Green. Serviço: Pastilhas dentais Sana Green Preço a partir de: R$30 Onde encontrar: LINK Instagram: @sanagreenbr Sobre Sana Green Seguindo a tendência do mercado de cosméticos e produtos de higiene pessoal, de promover saúde não apenas para o consumidor final, mas também para o planeta, a Sana Green apresenta as primeiras pastilhas dentais do Brasil — uma alternativa sólida às pastas de dente convencionais — que trazem a junção perfeitamente equilibrada da ciência moderna e de ativos naturais, a fim de garantir a higienização necessária, sem impactos nocivos para os dentes ou mesmo para o planeta. A marca, 100% sustentável, natural e nacional, disponível em e-commerce próprio, ainda possui um programa assistencial, no qual a cada compra feita pelo site, parte dos lucros são destinados à produção e distribuição de pastilhas dentais da marca para comunidades ribeirinhas da Amazônia. #Envolverde

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Relatório do Clima Global destaca o avanço contínuo das mudanças climáticas

O Estado do Clima Global 2022 mostra as mudanças em escala planetária na terra, no oceano e na atmosfera causadas por níveis recordes de gases de efeito estufa Dos picos das montanhas às profundezas do oceano, as mudanças climáticas continuaram avançando em 2022, de acordo com o relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Secas, inundações e ondas de calor afetaram comunidades em todos os continentes e custaram muitos bilhões de dólares. O gelo do mar antártico caiu em sua menor extensão já registrada e o derretimento de algumas geleiras europeias foi, literalmente, fora de série. O Estado do Clima Global 2022 mostra as mudanças em escala planetária na terra, no oceano e na atmosfera causadas por níveis recordes de gases de efeito estufa que retêm o calor. Para a temperatura global, os anos de 2015-2022 foram os oito mais quentes já registrados, apesar do impacto de resfriamento de um evento La Niña nos últimos três anos. O derretimento das geleiras e o aumento do nível do mar – que novamente atingiram níveis recordes em 2022 – continuarão por até milhares de anos. “Enquanto as emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar e o clima continua a mudar, as populações em todo o mundo continuam a ser gravemente afetadas por eventos climáticos e climáticos extremos. Por exemplo, em 2022, secas contínuas na África Oriental, chuvas recordes no Paquistão e ondas de calor recordes na China e na Europa afetaram dezenas de milhões, causaram insegurança alimentar, impulsionaram a migração em massa e custaram bilhões de dólares em perdas e danos ”, disse o Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas. Relatório sobre o estado do clima global da OMM 2022 “No entanto, a colaboração entre as agências da ONU provou ser muito eficaz na abordagem dos impactos humanitários induzidos por eventos climáticos e climáticos extremos, especialmente na redução da mortalidade e perdas econômicas associadas. A Iniciativa de Alerta Precoce para Todos da ONU visa preencher a lacuna de capacidade existente para garantir que todas as pessoas na Terra sejam cobertas por serviços de alerta precoce. No momento, cerca de cem países não possuem serviços meteorológicos adequados. Atingir esta ambiciosa tarefa requer melhoria das redes de observação, investimentos em alerta precoce, capacidade de atendimento hidrológico e climático”, afirmou. O novo relatório da OMM é acompanhado por um mapa histórico, que fornece informações aos formuladores de políticas sobre como os indicadores de mudança climática estão se saindo e também mostra como a tecnologia aprimorada torna a transição para energia renovável mais barata e mais acessível do que nunca. Além dos indicadores climáticos, o relatório foca nos impactos. O aumento da desnutrição foi exacerbado pelos efeitos combinados dos riscos hidrometeorológicos e da COVID-19, bem como por conflitos e violência prolongados. Ao longo do ano, climas perigosos e eventos relacionados ao clima levaram a novos deslocamentos populacionais e pioraram as condições de muitos dos 95 milhões de pessoas que já viviam deslocadas no início do ano, de acordo com o relatório. O relatório também destaca os ecossistemas e o meio ambiente e mostra como as mudanças climáticas estão afetando eventos recorrentes na natureza, como quando as árvores florescem ou os pássaros migram. O relatório da OMM sobre o clima global foi divulgado antes do Dia da Terra de 2023. Suas principais descobertas ecoam a mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres, para o Dia da Terra. “Temos as ferramentas, o conhecimento e as soluções. Mas temos de acelerar o ritmo. Precisamos de uma ação climática acelerada com cortes de emissões mais profundos e rápidos para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius. Também precisamos de investimentos massivamente ampliados em adaptação e resiliência, principalmente para os países e comunidades mais vulneráveis ​​que menos fizeram para causar a crise”, disse Guterres. O relatório da OMM segue o lançamento do relatório State of the Climate in Europe pelo Copernicus Climate Change Service da UE. Ele complementa o sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que inclui dados até 2020. Dezenas de especialistas contribuem para o relatório, incluindo Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais (NMHSs) e Centros Globais de Dados e Análise, bem como Centros Climáticos Regionais, o Programa Mundial de Pesquisa Climática (WCRP), o Global Atmosphere Watch (GAW), o Global Cryosphere Watch e Copernicus Climate Change Service operados pela ECMWF. Os parceiros das Nações Unidas incluem a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (UNESCO-IOC), a Organização Internacional para as Migrações (IOM), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR) e o Programa Alimentar Mundial (PAM). Temperatura média global 1850-1900 Mensagens-chave Indicadores Climáticos A temperatura média global em 2022 foi de 1,15 [1,02 a 1,28] °C acima da média de 1850-1900. Os anos de 2015 a 2022 foram os oito mais quentes no registro instrumental desde 1850. 2022 foi o 5º ou 6º ano mais quente. Isso ocorreu apesar de três anos consecutivos de resfriamento do La Niña – um La Niña de “mergulho triplo” aconteceu apenas três vezes nos últimos 50 anos. As concentrações dos três principais gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – atingiram níveis recordes observados em 2021, o último ano para o qual os valores globais consolidados estão disponíveis (1984-2021). O aumento anual na concentração de metano de 2020 a 2021 foi o mais alto já registrado. Dados em tempo real de locais específicos mostram que os níveis dos três gases de efeito estufa continuaram a aumentar em 2022. As geleiras de referência para as quais temos observações de longo prazo experimentaram uma mudança média de espessura de mais de -1,3 metros entre outubro de 2021 e outubro de 2022. Essa perda é muito maior do que a média da última década. Seis dos dez anos de balanço de massa mais negativos já registrados (1950-2022) ocorreram desde 2015. A perda cumulativa de espessura desde 1970 chega a quase 30 m. Os Alpes europeus quebraram recordes de derretimento de geleiras devido a uma combinação de pouca neve no inverno, uma intrusão de poeira do Saara em março de 2022 e ondas de calor entre maio e início de setembro. Na Suíça, 6% do volume de gelo da geleira foi perdido entre 2021 e 2022 – e um terço entre 2001 e 2022. de gelo fresco ocorreu. Um balão meteorológico suíço registrou 0 C a uma altura de 5.184 m em 25 de julho, a linha de zero grau mais alta registrada no registro de 69 anos e apenas a segunda vez que a altura da linha de zero grau ultrapassou 5.000 m (16 404 pés). Novos recordes de temperatura foram registrados no cume do Mont Blanc. Medições em geleiras nas montanhas da Ásia, oeste da América do Norte, América do Sul e partes do Ártico também revelam perdas substanciais de massa de geleiras. Houve alguns ganhos de massa na Islândia e no norte da Noruega associados à precipitação acima da média e a um verão relativamente frio. De acordo com o IPCC, globalmente as geleiras perderam mais de 6.000 Gt de gelo no período 1993-2019. Isso representa um volume de água equivalente a 75 lagos do tamanho do Lac Leman (também conhecido como Lago de Genebra), o maior lago da Europa Ocidental. A camada de gelo da Groenlândia terminou com um balanço de massa total negativo pelo 26º ano consecutivo. O gelo marinho na Antártica caiu para 1,92 milhão de km 2 em 25 de fevereiro de 2022, o nível mais baixo já registrado e quase 1 milhão de km 2 abaixo da média de longo prazo (1991-2020). No restante do ano, ficou continuamente abaixo da média, com recordes de baixa em junho e julho. O gelo marinho do Ártico em setembro, no final do verão, derreteu empatado com a 11ª menor extensão mínima mensal de gelo no registro de satélite. O teor de calor do oceano atingiu um novo recorde observado em 2022. Cerca de 90% da energia retida no sistema climático pelos gases de efeito estufa vai para o oceano, melhorando um pouco os aumentos de temperatura ainda mais altos, mas apresentando riscos aos ecossistemas marinhos. As taxas de aquecimento dos oceanos foram particularmente altas nas últimas duas décadas. Apesar das contínuas condições de La Niña, 58% da superfície oceânica experimentou pelo menos uma onda de calor marinha durante 2022. O nível médio global do mar (GMSL) continuou a subir em 2022, atingindo um novo recorde para o recorde do altímetro por satélite (1993-2022). A taxa de elevação média global do nível do mar dobrou entre a primeira década do registro de satélite (1993-2002, 2,27 mm∙ano – ) e a última (2013-2022, 4,62 mm∙ano). No período de 2005-2019, a perda total de gelo terrestre das geleiras, da Groenlândia e da Antártida contribuiu com 36% para o aumento do GMSL, e o aquecimento dos oceanos (através da expansão térmica) contribuiu com 55%. As variações no armazenamento de água em terra contribuíram com menos de 10%. Acidificação dos oceanos: o CO 2 reage com a água do mar resultando em uma diminuição do pH conhecida como ‘acidificação dos oceanos’. A acidificação dos oceanos ameaça os organismos e os serviços ecossistêmicos. O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC concluiu que “Há uma confiança muito alta de que o pH da superfície do oceano aberto é agora o mais baixo desde pelo menos 26 [mil anos] e as taxas atuais de mudança de pH não têm precedentes desde pelo menos aquela época. Extensão do gelo marinho antártico - 2019-2020 Impactos socioeconômicos e ambientais A seca tomou conta da África Oriental. A precipitação tem estado abaixo da média em cinco estações chuvosas consecutivas, a mais longa sequência desse tipo em 40 anos. Em janeiro de 2023, estimava-se que mais de 20 milhões de pessoas enfrentavam insegurança alimentar aguda em toda a região, sob os efeitos da seca e de outros choques. A chuva recorde em julho e agosto levou a grandes inundações no Paquistão. Houve mais de 1.700 mortes e 33 milhões de pessoas foram afetadas, enquanto quase 8 milhões de pessoas foram deslocadas. Os danos totais e as perdas econômicas foram avaliados em US$ 30 bilhões. Julho (181% acima do normal) e agosto (243% acima do normal) foram os mais chuvosos já registrados nacionalmente. Ondas de calor recorde afetaram a Europa durante o verão. Em algumas áreas, o calor extremo foi combinado com condições excepcionalmente secas. O excesso de mortes associadas ao calor na Europa ultrapassou 15.000 no total na Espanha, Alemanha, Reino Unido, França e Portugal. A China teve sua onda de calor mais extensa e duradoura desde o início dos recordes nacionais, estendendo-se de meados de junho até o final de agosto e resultando no verão mais quente já registrado por uma margem de mais de 0,5 °C. Foi também o segundo verão mais seco já registrado. Insegurança alimentar: em 2021, 2,3 bilhões de pessoas enfrentavam insegurança alimentar, das quais 924 milhões enfrentavam insegurança alimentar grave. As projeções estimam que 767,9 milhões de pessoas enfrentarão desnutrição em 2021, 9,8% da população global. Metade deles está na Ásia e um terço na África. Ondas de calor na estação pré-monções de 2022 na Índia e no Paquistão causaram uma queda no rendimento das safras. Isso, combinado com a proibição das exportações de trigo e restrições às exportações de arroz na Índia após o início do conflito na Ucrânia, ameaçou a disponibilidade, o acesso e a estabilidade de alimentos básicos nos mercados internacionais de alimentos e impôs altos riscos aos países já afetados pela escassez. de alimentos básicos. Deslocamento: Na Somália, quase 1,2 milhão de pessoas foram deslocadas internamente devido aos impactos catastróficos da seca nos meios de subsistência pastoris e agrícolas e da fome durante o ano, das quais mais de 60.000 pessoas cruzaram para a Etiópia e o Quênia durante o mesmo período. Ao mesmo tempo, a Somália estava hospedando quase 35.000 refugiados e requerentes de asilo em áreas afetadas pela seca. Outros 512.000 deslocamentos internos associados à seca foram registrados na Etiópia. As inundações no Paquistão afetaram cerca de 33 milhões de pessoas, incluindo cerca de 800.000 refugiados afegãos alojados nos distritos afetados. Até outubro, cerca de 8 milhões de pessoas foram deslocadas internamente pelas enchentes, com cerca de 585.000 abrigadas em locais de socorro. Ambiente: As alterações climáticas têm consequências importantes para os ecossistemas e para o ambiente. Por exemplo, uma avaliação recente com foco na área única de alta elevação ao redor do planalto tibetano, o maior depósito de neve e gelo fora do Ártico e da Antártica, descobriu que o aquecimento global está causando a expansão da zona temperada. A mudança climática também está afetando eventos recorrentes na natureza, como quando as árvores florescem ou os pássaros migram. Por exemplo, o florescimento da flor de cerejeira no Japão foi documentado desde 801 DC e mudou para datas anteriores desde o final do século XIX devido aos efeitos das mudanças climáticas e do desenvolvimento urbano. Em 2021, a data de floração completa foi 26 de março, a mais antiga registrada em mais de 1200 anos. Em 2022, a data de floração foi 1º de abril. Nem todas as espécies em um ecossistema respondem às mesmas influências climáticas ou nas mesmas taxas. Por exemplo, os tempos de chegada da primavera de 117 espécies de aves migratórias europeias ao longo de cinco décadas mostram níveis crescentes de incompatibilidade com outros eventos da primavera, como a saída de folhas e o voo de insetos, que são importantes para a sobrevivência das aves. É provável que tais incompatibilidades tenham contribuído para o declínio populacional de algumas espécies migratórias, particularmente aquelas que invernam na África subsaariana. Notas para editores As informações usadas neste relatório são provenientes de um grande número de Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais (NMHSs) e instituições associadas, bem como Centros Regionais de Clima, o Programa Mundial de Pesquisa Climática (WCRP), o Global Atmosphere Watch (GAW), o Global Cryosphere Watch e os serviços Copernicus Climate Change da UE. Os parceiros das Nações Unidas incluem a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (UNESCO-IOC), a Organização Internacional para as Migrações (IOM), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR) e o Programa Alimentar Mundial (PAM). A OMM agradece todo o trabalho árduo e dedicado da rede de especialistas da OMM, que torna este relatório uma fonte confiável de informações sobre o estado do clima e os impactos climáticos. Somos especialmente gratos a John Kennedy, que atuou como principal autor deste relatório. Sempre que possível, o padrão climatológico normal da OMM, 1991-2020, é usado como período base para relatórios consistentes. Para alguns indicadores, no entanto, não é possível usar essa linha de base devido à falta de medição durante todo o período ou porque é necessário um período mais longo para calcular estatísticas representativas. Para a temperatura média global, uma linha de base de 1850-1900 é usada. Esta é a linha de base usada em relatórios recentes do IPCC como um substituto para as temperaturas pré-industriais e é relevante para entender o progresso relativo aos objetivos do Acordo de Paris. WMO usa seis conjuntos de dados internacionais para temperaturas HadCRUT.5.0.1.0 (UK Met Office), NOAAGlobalTemp v5 (EUA), NASA GISTEMP v4 (EUA), Berkeley Earth (EUA), ERA5 (ECMWF), JRA-55 (Japão). [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394