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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Como funcionam os algoritmos das redes sociais? - Maria Carolina Avis

Artigo de Maria Carolina Avis [EcoDebate] Depois do lançamento do documentário “O Dilema das Redes” no Netflix, muitas pessoas tentam entender como os algoritmos das redes sociais funcionam e, principalmente, se o conteúdo pode de certa forma, manipular os usuários. O documentário relata experiências de ex-colaboradores de empresas como Facebook, Google, Pinterest, Twitter e YouTube, mostrando que a principal forma de operação dessas empresas é com a captação de dados e monitoramento das atividades dos usuários. O que acontece é que as redes sociais funcionam com base em algoritmos de relevância, ou seja, algoritmos programados para mostrar com prioridade o que é mais relevante naquele momento. Isso porque, de acordo com Brian Boland, vice-presidente de Tecnologia de Publicidade do Facebook, existem, em média, 1.500 histórias que poderiam aparecer no feed, cada vez que uma pessoa se conecta. O que cada um vê no momento em que entra na rede é personalizado de acordo com a relevância do conteúdo e daquela página específica. Mas o que são os tais algoritmos? De acordo com o dicionário Aurélio, “algoritmo é um conjunto de regras e operações bem definidas e ordenadas, destinadas à solução de um problema”. Segundo o Instagram, o alcance orgânico é de 100%, ou seja, se o usuário rodar o feed até o fim, ele verá todas as publicações, então para os criadores de conteúdo, a chance da publicação chegar a todos seus seguidores é de 100%, na teoria. Na prática, o alcance orgânico não chega nem perto da média de 10%. É claro que para que o conteúdo alcance mais seguidores, ele precisa ser altamente interessante, já que os critérios do algoritmo são de qualidade. As redes sociais não abrem como funcionam os algoritmos, portanto o que se sabe foi percebido em testes e experimentos práticos, visando entender a operação dessa inteligência artificial. Mas o que dá para saber sobre seu funcionamento é que são baseados em relacionamento, temporalidade e engajamento. Relacionamento: você já percebeu que quando abre alguma rede social, vê com prioridade as postagens dos perfis que você se relaciona mais? Isso inclui: fotos com marcações, check-ins nos mesmos lugares, curtir a publicação um do outro, compartilhar a publicação um do outro, comentar nas publicações, responder inbox, passar certo tempo assistindo vídeos ou stories, clicar no “ler mais” para ver toda a legenda, marcar nos comentários, e até mesmo a velocidade com que se assistem os conteúdos; se a pessoa postar agora e eu abrir agora seu conteúdo, significa que tenho interesse naquela página. Se a pessoa postar uma sequência de 10 vídeos no stories e você assistir aos 10 sem pular, significa para o algoritmo, que você que tem interesse naquele conteúdo. Mas não é um desses fatores isolados que determina a ordem dos resultados, mas a junção de vários deles. Temporalidade: apesar de as redes sociais não disponibilizarem as publicações por ordem cronológica, o tempo de uma publicação ainda é levado em consideração. Em geral, após 7 dias as publicações tendem a perder vez, e as mais recentes são mostradas com prioridade. É claro que cada rede social tem sua programação de relevância. No LinkedIn, por exemplo, uma publicação pode durar meses rodando no feed, já que existem poucos usuários produzindo conteúdo e a maioria apenas consome conteúdo, então o feed é, geralmente, menos disputado. Uma ótima oportunidade para gerar conteúdo relevante e alcançar uma boa base de pessoas. Engajamento: é medido pelas curtidas, comentários, reações, compartilhamentos, envio da publicação via DM (mensagem direta no Instagram, quando você envia uma publicação para um amigo pelo bate-papo) e publicações salvas. O algoritmo calcula a taxa de engajamento das publicações para priorizá-las, então é natural que publicações com bastante engajamento apareçam com prioridade no feed, para dar maior visibilidade. No LinkedIn, funciona diferente, na principal rede social profissional do mundo, para que uma publicação tenha boa posição no feed, ela precisa ter um conteúdo muito bom. Assim que a publicação é feita, os algoritmos analisam o conteúdo para classificá-lo, e se for spam ou conteúdo copiado, não terá bom alcance, ou podem até ser tirados do ar. O conteúdo é analisado pelo engajamento. As postagens com maior engajamento têm prioridade no feed. Quando um conteúdo viraliza, a postagem tem ainda mais chance de ficar no topo do feed, já que concentra muitos likes e comentários. Além disso, o LinkedIn analisa quais os temas mais relevantes para cada usuário e prioriza postagens sobre este tema. Como mostrado no documentário, existe sim a especulação de que as grandes empresas de tecnologia manipulam as informações que recebemos, para fazer com que tenhamos preferências específicas. Em 2012, o Facebook financiou um experimento em que milhares de usuários tiveram seu feed manipulado, para analisar seu “contágio emocional”. Foi um estudo em conjunto com pesquisadores e universidades, em que o algoritmo do feed de mais de 600 mil usuários foi manipulado com conteúdos que manipulavam seus sentimentos. O objetivo era compreender se mensagens animadoras ou depressivas apresentadas aos usuários poderiam influenciar no emocional, refletidos em seus status. O estudo “contágio emocional em larga escala”, realmente constatou que as pessoas que foram expostas ao experimento reagiram atualizando seus status de acordo com o conteúdo que viram em seus feeds. Como essa pesquisa foi financiada pelo próprio Facebook, reforça que sim, podemos ser manipulados pelos algoritmos de relevância. E igualmente, uma empresa pode ter sua performance prejudicada, ou melhorada, pelos critérios de qualidade. Maria Carolina Avis é professora do curso de Marketing Digital do Centro Universitário Internacional Uninter. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/09/2020

Quase 40% das plantas no planeta estão ameaçadas de extinção, mostra pesquisa

A cada cinco espécies de plantas no planeta, duas estão ameaçadas de extinção, estima relatório divulgado na terça-feira (29) pelo Jardim Botânico Real do Reino Unido. O estudo conta com a participação de pesquisadores de 42 países, incluindo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O relatório alerta para a necessidade de acelerar a identificação das espécies ameaçadas para protegê-las a tempo. Segundo o documento, 39,4% das plantas estão sob risco, patamar que é quase o dobro do estimado em 2016, quando estava em 21%. O estudo explica que o salto se deve à adoção de avaliações mais sofisticadas e abordagens mais precisas. Entre as mais de 36 mil espécies de plantas catalogadas no Brasil, 3.934 estão ameaçadas, segundo a pesquisadora Rafaela Forzza, do Jardim Botânico do Rio. A bióloga pondera que o número real, na verdade, é bem maior, porque faltam informações para avaliar a situação de parte das espécies catalogadas. “As pessoas sabem que as baleias estão ameaçadas, que os golfinhos e os micos-leões-dourados estão ameaçados. Mas a sociedade é muito menos empática ao número de plantas ameaçadas. E as plantas nos cercam a todo momento. Nossa vida depende muito delas”, alerta a bióloga, que ressalta que ainda há muito a ser descoberto em países tropicais como o Brasil. “Estamos destruindo uma biodiversidade que nem conhecemos ainda”. O relatório também trouxe dados sobre os fungos ameaçados de extinção, destacando o grande desconhecimento que ainda existe sobre esses seres vivos. As 148 mil espécies de fungos catalogados não representam nem 10% do número estimado de mais de 2 bilhões de espécies no planeta. As principais ameaças às plantas, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza são a agricultura e aquicultura (32,8%), a utilização como recurso natural (21,1%) e modificações no habitat (10,8%). Já no caso dos fungos, o desenvolvimento de áreas comerciais e residenciais (18,7%) vem em primeiro lugar, seguido do uso como recurso natural (13,9%) e da agricultura e pecuária (12,9%). Novas espécies Desde 2008, o Brasil descobre cerca de 10% das novas espécies de plantas catalogadas em todo o mundo. Em 2019, o país foi, mais uma vez, o que mais identificou espécies, com 216 novos registros, enquanto a China descobriu 195, e a Colômbia, 121. O Brasil descobriu ainda 87 novas espécies de fungos no ano passado, segundo o relatório. A pesquisadora do Jardim Botânico do Rio, que integrou o trabalho divulgado hoje, destaca que o país não descobre apenas pequenas espécies de plantas, mas conta com 33 árvores na lista de novas espécies registradas em 2019. As descobertas também incluem vegetais frutíferos, como 24 variedades silvestres de mirtáceas, a mesma família da goiaba, da jabuticaba e da pitanga. Apesar da grande destruição de sua área original, da qual restaram apenas cerca de 10%, a Mata Atlântica foi o bioma em que mais espécies foram encontradas. “Se só no ano passado a gente foi capaz de descrever 71 novas espécies de Mata Atlântica, só no que restou de Mata Atlântica, imagine o que a gente perdeu de espécies que foram dizimadas antes de catalogar. Isso não tem como reverter”, lamenta a pesquisadora, que relata ainda 46 espécies no Cerrado, 32 na Amazônia, 10 na Caatinga, cinco nos Pampas e duas no Pantanal. As outras 50 espécies descobertas ocorrem em mais de um bioma. Na discussão sobre a preservação da biodiversidade, Rafaela explica que o Brasil ocupa posição central, por concentrar o maior número de espécies do mundo. As 36 mil plantas catalogadas no Brasil são mais de 10% das 350 mil espécies conhecidas em todo o planeta. “Quase 50% das espécies de plantas do Brasil só ocorrem no país. Se a gente não proteger, não tem como outros países protegerem. Então, é nossa obrigação com o nosso povo e com a humanidade”, reforça. “A gente é muito importante para a conservação da biodiversidade mundial, que é um bem da humanidade sob responsabilidade de cada uma das nações, e a Constituição Brasileira diz que a biodiversidade pertence a todos os brasileiros. Quando você destrói biodiversidade para meia dúzia de pessoas lucrar em cima disso, você está tirando de mais de 200 milhões de pessoas, porque a biodiversidade é de todos e das futuras gerações, inclusive”, disse. Plantas medicinais Entre os dados em destaque na pesquisa, está a estimativa de que 723 espécies de plantas medicinais estão ameaçadas. O número corresponde a 13% das 5,4 mil plantas medicinais que foram avaliadas quanto ao risco de extinção. A pesquisa pondera que o número de plantas medicinais catalogadas, no entanto, chega a 25 mil. Segundo o relatório, cerca de 4 bilhões de pessoas dependem de medicamentos fitoterápicos como sua principal fonte de saúde. Na China, país mais populoso do planeta, esses medicamentos representam 40% dos serviços de saúde. A demanda por medicamentos fitoterápicos cresce aliada a fatores como o aumento da prevalência de doenças crônicas, e a perda de biodiversidade causa impacto ainda em outros países, como a África do Sul. A pesquisa exemplifica que o número de espécies medicinais comercializadas no país caiu de 700, em 1998, para 350, em 2013. Entre as preocupações estão a colheita excessiva e o uso insustentável de plantas medicinais silvestres. A pesquisa relata ainda que há um potencial inexplorado para a produção de biocombustíveis e para diversificar o consumo de alimentos. Segundo o relatório, enquanto existem mais de 7 mil espécies de plantas comestíveis com potencial para produção de alimentos, apenas 15 espécies vegetais fornecem 90% da energia alimentar ingerida pela humanidade. Por Vinicius Lisboa, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/09/2020

EcoDebate - Edição 3.524 de 30 / setembro / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura Déficit, dívida pública e crise da democracia nos EUA Uma breve análise sobre o papel fundamental das florestas tropicais primárias e secundárias Na Covid-19, caiu a máscara dos rostos de numerosos brasileiros Como funcionam os algoritmos das redes sociais? Quase 40% das plantas no planeta estão ameaçadas de extinção, mostra pesquisa COVID afeta o coração e gera complicações em pelo menos 8% dos casos “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

terça-feira, 29 de setembro de 2020

MPF vai analisar legalidade da revogação de resoluções pelo Conama

Medidas foram aprovadas nesta segunda-feira. Objetivo é avaliar os possíveis impactos das deliberações O coordenador da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (4CCR/MPF), subprocurador-geral da República Juliano Baiocchi, requisitou ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) os votos de todos os participantes da reunião realizada pelo órgão na segunda-feira (28). Conama – O objetivo é aprofundar a análise das medidas deliberadas para avaliar eventuais impactos, considerando tanto a Constituição Federal quanto a legislação vigente, tendo em vista as normas que regulam a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável do país. Durante sua 135ª reunião, o Conselho revogou três resoluções e aprovou uma quarta. Uma das normas revogadas foi a Resolução 302/2002, que estabelecia parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente (APPs) de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. Outro normativo abolido foi a Resolução 303/2002, que previa uma faixa de proteção mínima em áreas de restinga do litoral e sobre toda a extensão dos manguezais. A norma também estabelecia faixas menores ao redor de lagos e nascentes. O Conama revogou ainda a Resolução 284/2001, que discriminava os empreendimentos de irrigação em três categorias e exigia o licenciamento ambiental para tais empreendimentos. Além disso, aprovou uma nova resolução para permitir e regulamentar a queima de diversos tipos de resíduos em fornos de produção de cimento, no chamado coprocessamento. Após a avaliação técnica das medidas, o órgão superior do MPF na temática ambiental decidirá sobre eventual encaminhamento de representação ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para atuação junto aos tribunais superiores, ou aos membros que atuam em primeira instância. Fonte: Procuradoria-Geral da República in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/09/2020

Movimento antivacinas ameaça a saúde global

Jornal da UNICAMP TEXTO LUIZ CARLOS DIAS | INSTITUTO DE QUÍMICA FOTOS DIVULGAÇÃO PIXABAY EDIÇÃO DE IMAGEM RENAN GARCIA O movimento antivacinas é criminoso e uma séria ameaça crescente à saúde global. Existe sim um movimento antivacinas crescendo no Brasil, então não podemos ignorar. Um artigo publicado no dia 10/09/2020 na revista The Lancet envolvendo 284.381 pessoas em 149 países, mostra que o movimento antivacinas, o extremismo religioso, a instabilidade política, o populismo, as fake news e questões como segurança podem prejudicar as campanhas de vacinação em massa e a confiança nas vacinas em países com esses problemas. As vacinas, saneamento básico, esgoto tratado e água potável são nossas melhores ferramentas de saúde pública. As vacinas são responsáveis pelo aumento da nossa expectativa de vida, foram as principais responsáveis pela diminuição da mortalidade infantil e são um marco na história da saúde humana. As vacinas salvam cerca de 3 milhões de pessoas por ano, ou 5 pessoas a cada minuto. No Brasil dos anos 1950, cerca de 10% das crianças morriam antes dos primeiros cinco anos de vida. Doenças como sarampo, poliomielite, catapora, caxumba, rubéola, tétano, difteria, rotavírus, coqueluche, estavam controladas. A varíola foi erradicada em 1980. As vacinas são responsáveis pelo aumento da nossa expectativa de vida, foram as principais responsáveis pela diminuição da mortalidade infantil e são um marco na história da saúde humana As vacinas são responsáveis pelo aumento da nossa expectativa de vida, foram as principais responsáveis pela diminuição da mortalidade infantil e são um marco na história da saúde humana Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações para 2019, após 20 anos, o Brasil observa uma queda da cobertura vacinal de crianças e não atinge a meta para as principais vacinas indicadas para crianças de até 2 anos de idade. Dados do Sistema Nacional de Imunização (base Datasus), mostram que a taxa de abandono para nove vacinas no Brasil, como a meningocócica C (duas doses), a tríplice viral (em duas doses contra sarampo, rubéola, caxumba) e a poliomielite (três doses), cresceu cerca de 48% nos últimos cinco anos. A cobertura vacinal contra poliomielite no país era de 96,5% em 2012 e foi 86,3% em 2018, sendo que o índice de vacinação de 2019 é o pior desde o ano 2000. A vacina eliminou o sarampo da população brasileira, mas esse foi reintroduzido no País e em 2019 tivemos cerca de 18 mil casos em 526 municípios em 23 Unidades da Federação, com 15 óbitos. São contabilizadas nas estatísticas de abandono, também, as crianças que tomaram uma dose inicial de determinada vacina, mas não voltam para tomar as doses seguintes. Esses dados são preocupantes e evidenciam a necessidade de que precisaremos de intensa mobilização para ampliar a cobertura vacinal para a Covid-19 no Brasil. A queda na cobertura pode ter várias razões, desde o subfinanciamento das prioridades de saúde pública, questões logísticas como aquisição e distribuição, ausência de campanhas de conscientização da população. Essa redução na cobertura vacinal pode ter sido influenciada também pelo sucesso do programa nacional de imunizações no país, visto que eliminamos algumas das principais doenças e à dificuldade de acesso das famílias aos serviços essenciais de saúde. Precisamos ter informação científica de qualidade disponível, didática, acessível, com linguagem clara para combater o movimento antivacinas e negacionista crescente no País, principalmente neste momento de polarização política. Precisamos de pessoas que multipliquem as mensagens e informações corretas sobre a importância da vacinação contra a Covid-19. Entre as razões que vem sendo levantadas nas redes sociais pelos grupos antivacinas estão teorias de conspiração, alterações de DNA, Bill Gates, chips nas vacinas, que elas causam autismo, contém mercúrio, fetos abortados, perigo e ineficácia das vacinas e muita gente está lendo essas mentiras. Nós precisamos iniciar uma campanha de engajamento e preparação da população brasileira e da infraestrutura dos SUS para combater este movimento antivacinas, não deixar crescer. É preciso incentivar e levar uma mensagem clara para a população brasileira sobre a necessidade e importância da vacinação em massa contra a Covid-19. Temos que agir em várias frentes, a tarefa será complexa, complicada e não podemos demorar para agir, se queremos evitar que os grupos antivacina comecem a espalhar mentiras e fake news nas redes sociais sobre as vacinas contra o novo coronavírus. A expansão das teorias de conspiração sobre a vacinação também se relaciona com problemas de comunicação entre pesquisadores, cientistas, médicos e outros profissionais da saúde com a sociedade. ## Uma vacina ideal seria aquela eficaz em apenas uma dose,produzindo imunidade de longa duração, com pouca reatogenicidade e efeitos colateriais, com facilidade de armazenamento, distribuição e aplicação, que seja acessível, disponível e barata. A boa notícia : Nove candidatas vacinais na última fase de testes Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), temos 192 candidatas vacinais registradas, sendo 146 em ensaios pré-clínicos, 37 em fases 1 e 2 e 9 em fase 3. Quase todas precisaram de duas doses nos ensaios de fase 2 para induzir resposta de anticorpos, sendo que algumas induziram também resposta de células T. Universidade de Oxford/AstraZeneca (UK) – AZD1222 – Vetor viral não replicante, adenovírus de chipanzé atenuado, duas doses intervalo de 28 dias Janssen Pharmaceutical Companies (EUA) – AD26CoV-S1 – Vetor viral não replicante, adenovírus humano, duas doses intervalo de 56 dias CanSino Biologics Inc./Instituto de Biotecnologia de Pequim (China) – AD5-nCoV – Vetor viral não replicante, adenovírus humano Ad5, atenuado, 1 dose Instituto de Pesquisa Gamaleya (Rússia) – Sputnik V – Vetor viral não replicante, adenovírus humano, dois vetores, uma dose de rAd26-S e uma dose de rAd5-S após intervalo de 21 dias. Sinovac (China) – CoronaVac – Vírus inativado, duas doses intervalo de 14 dias Sinopharm/Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan (China) – Vírus inativado, duas doses intervalo de 14 ou 21 dias Sinopharm/Instituto de Produtos Biológicos de Pequim (China) – Vírus inativado, duas doses intervalo de 14 ou 21 dias Moderna/Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (EUA) – mRNA-1273 – RNA mensageiro, duas doses intervalo de 28 dias Pfizer/BioNTech/Fosun Pharma (EUA e Alemanha) – BNT162 – RNA mensageiro, duas doses intervalo de 28 dias Embora ainda não esteja claro qual é o principal marcador de proteção contra a Covid-19, o ensaio clínico de fase 3 tem como objetivo avaliar a eficácia em impedir a infecção e prevenir casos de Covid-19 na população vacinada ou tornar a doença mais branda. Uma vacina ideal seria aquela eficaz em apenas uma dose, induzindo imunidade esterilizante, imunizando a maior parte dos inoculados, produzindo imunidade de longa duração, com pouca reatogenicidade e poucos efeitos colaterais imediatos ou tardios, facilidade de armazenamento, distribuição e aplicação. Que não precise de rede de frio com temperaturas muito baixas e que seja acessível, disponível e barata. Terminadas todas as fases de testes, quais os próximos passos? Nós certamente teremos mais do que uma vacina aprovada para a Covid-19. A ANVISA também terá que trabalhar em regime acelerado para registrar as vacinas aprovadas em fase 3, mantendo o rigor científico necessário. Mas existe a possibilidade real de que nós precisaremos de vacinas em pelo menos duas doses. Somos 212 milhões de brasileiros, se tivermos uma adesão de 80%, vamos vacinar cerca de 170 milhões de pessoas. Se a vacina oferecer proteção em uma única dose, precisaremos de 170 milhões de doses, mas se necessitar de duas doses, precisaremos de 340 milhões de doses. E como este será o maior programa de vacinação da história da humanidade, podemos esperar alguns desafios logísticos, além de torcer para que as pessoas que tomarem a primeira dose, voltem para tomar a segunda dose e voltem para uma eventual terceira dose, principalmente os grupos de idosos e pessoas com comorbidades, com sistema imune mais deficiente e menos robusto em termos de resposta vacinal. As pessoas terão que tirar uma folga do trabalho, perder tempo em longas filas, tudo duas vezes. E possivelmente experimentarão efeitos colaterais desagradáveis, como febre, dor e inchaço no local da aplicação, tudo duas vezes, em um período curto de tempo. "O Brasil tem muita experiência em campanhas de vacinação em massa, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) funciona muito bem e podemos vencer essas barreiras" “O Brasil tem muita experiência em campanhas de vacinação em massa, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) funciona muito bem e podemos vencer essas barreiras” É preciso produzir milhões de doses e precisaremos adquirir os insumos e os adjuvantes, de mercados externos, pois o Brasil não produz aqui. A partir da aquisição do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) e dos adjuvantes, iniciam as etapas de formulação, controle de qualidade, envase, rotulagem. Depois vem a etapa de armazenamento, a cadeia de frio, o transporte e movimentação, distribuição e administração. Também são necessários equipamentos de proteção individual para manuseio das vacinas em salas frias, para que se possa embalar e despachar adequadamente os lotes de doses. E depois disso precisaremos de seringas, agulhas, frascos de vidro, tampas para os frascos, embalagens para armazenar os frascos de vacinas, luvas, todos materiais descartáveis. Muito resíduo hospitalar será gerado e muito cuidado será necessário no descarte. São muitos os desafios, além de torcer para uma boa eficácia, sustentabilidade e duração da proteção vacinal. A estabilidade das vacinas depende da temperatura de armazenamento. As vacinas podem perder eficácia por causa das variações de temperatura na produção dos lotes, no armazenamento e no transporte. As vacinas são produtos muito sensíveis e o calor, o frio e a luz ambiente podem enfraquecer uma vacina, dependendo da formulação. Algumas delas podem ser armazenadas em temperaturas em torno de 0° a 10°C, mas é necessário pensar em estratégias de cadeia de frio, de modo que o armazenamento adequado seja mantido em todas as etapas de produção, armazenamento, transporte e distribuição até chegar ao posto de saúde ou local de aplicação. Como as moléculas de mRNA são bastante sensíveis, as candidatas vacinais da empresa americana Moderna e da Pfizer/BioNTech podem trazer desafios de logística, pois certamente vão precisar de freezers com temperaturas de -20 graus Celsius a –70 graus Celsius, que são comuns em laboratórios de universidades e institutos de pesquisas, mas não nos postos de saúde do SUS. As vacinas de vírus inativado, como a da chinesa Sinovac, talvez possam ser armazenadas em refrigeradores comuns, mas é preciso cuidar com a estabilidade delas e manter uma temperatura baixa, principalmente em locais com instabilidade no fornecimento de energia elétrica. O Brasil é um País gigantesco, com pessoas espalhadas em lugares muito remotos, então as vacinas têm que chegar por terra, água e ar. Algumas transportadoras como UPS e DHL estão se equipando e os aeroportos precisam fazer o mesmo. Vamos precisar de bons estoques de gelo seco para manter a temperatura baixa que possa garantir que as doses não fiquem comprometidas no transporte para locais sem energia elétrica. Não pode haver erros neste caminho, pois qualquer exposição à muita luz ou temperatura inadequadas, podem prejudicar a qualidade das vacinas, levando à perda de potência, o que seria um desserviço enorme. E, claro, os profissionais responsáveis pelas aplicações devem receber treinamento, instruções de acondicionamento, abertura e manuseio dos frascos com as vacinas. O Brasil tem muita experiência em campanhas de vacinação em massa, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) funciona muito bem e podemos vencer essas barreiras. Mas sem dúvida, será necessária uma grande articulação de vários segmentos da sociedade civil. As candidatas vacinais estão nas mãos dos cientistas, mas e a vacinação? No Brasil, quem vai decidir quem toma primeiro? Quais os mecanismos de decisão? Será uma decisão política? Qual será o protagonismo da ciência nesse momento de decisão? Estamos prontos para a vacinação em massa, pensando em aplicação de duas doses em períodos que vão de 14 a 60 dias? E como será o acompanhamento de possíveis efeitos adversos em fase de farmacovigilância após as aplicações? Eu espero que o planejamento logístico já tenha começado. Luiz Carlos Dias é Professor Titular do Instituto de Química da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Força-Tarefa da UNICAMP no combate à Covid-19. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/09/2020

EcoDebate - Edição 3.523 de 29 / setembro / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura Cidades Verdes e Sustentáveis Cianobactérias, um veneno que derruba elefante? Queimadas e a razão irracional do ser humano Agropecuária não é o suficiente para fazer o Brasil se desenvolver, aponta pesquisa MPF vai analisar legalidade da revogação de resoluções pelo Conama O Brasil atingiu em 2018 o pior índice de insegurança alimentar desde 2004 Movimento antivacinas ameaça a saúde global “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A pandemia e o decrescimento econômico - SÉRGIO LATOUCHE

O coronavírus e o decrescimento. Artigo de Serge Latouche IHU “É improvável que a pandemia seja suficiente para superar a inércia de um sistema que combina os interesses dos poderosos e a cumplicidade passiva de suas vítimas. Passado o alerta, corre-se o risco de voltar aos negócios normais, como aconteceu após a crise econômica e financeira de 2008. Estamos sempre na lógica da competitividade. O choque precisaria ser muito mais forte”, escreve Serge Latouche, professor emérito de Economia na Universidade de Orsay, França. A situação “sem precedentes” na qual o coronavírus afundou o mundo conduz a um decrescimento? Esta questão foi ampliada em debate público nas últimas semanas. Serge Latouche, opositor da falácia do crescimento, é um dos ideólogos mais conhecidos e referenciais do decrescimento, corrente que define não como uma alternativa concreta, mas sim como a matriz que daria lugar à eclosão de múltiplas alternativas ao “crescimento”, o que qualifica como uma crença. O artigo é publicado por Alai, 24-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo. Eis o artigo. Com o surgimento da pandemia de covid-19, começaram a chegar pedidos de entrevista, principalmente de jornalistas italianos e franceses, mas não apenas, com o argumento de que essa pandemia desafia a tese do crescimento. Para alguns, a situação atual corresponde às previsões dos objetores de crescimento, pois poderia ser um início da realização do seu projeto; para outros, esta crise seria uma rara oportunidade de mudar o sistema. Na verdade, as principais medidas postas em prática pelos governos para conter a epidemia parecem ter consequências “positivas”. As emissões de gases de efeito estufa caíram substancialmente na China, o ar se tornou transparente, os pequineses puderam ver um céu azul novamente, a poluição de todos os tipos foi reduzida, o canto dos pássaros pôde ser escutado novamente nas cidades, os golfinhos retornaram aos canais de Veneza, livres dos navios a vapor e dos turistas. Além disso, pela força das coisas, as pessoas percebem que podem sobreviver sem consumir muito. Aprendem a viver com frugalidade e perceberam que podem viver sem muitas coisas, sem se sentirem muito mal. Não seria conveniente, como aponta um interlocutor, “uma possibilidade de recondicionamento e, consequentemente, reaprendizagem da compaixão pelo outro, dando atenção ao que se vive, com redução forçada do consumo e do trabalho e depois adotá-la? Como a temporalidade da reflexão teórica e filosófica não é a mesma da mídia, me contive muito em minhas reações, limitando-me a sublinhar minha incompetência nos aspectos técnicos do problema epidemiológico e a dizer que, em minha opinião, tão logo passasse a crise voltaríamos às práticas anteriores, como aconteceu após a crise de 2008. As lições aprendidas limitar-se-ão, na melhor das hipóteses, a um repatriamento relativo da produção farmacêutica, graças a intervenções estatais ad hoc que revogam os princípios sacrossantos da competitividade e do livre comércio. Com o tempo e o recuo necessários à reflexão, esta crise parece ser, pela sua especificidade e amplitude, uma revelação particularmente forte das patologias do nosso crescimento, sociedade produtivista e consumista. No entanto, é conveniente refletir sobre o paradoxo do aspecto “sem precedentes” do fenômeno antes de considerar o que ele revela, quais seriam as consequências e que lições podemos tirar. Sem precedente? A mídia, que é em grande parte a causa, invariavelmente reflete a natureza excepcional do que estamos vivenciando. O que, então, é qualificado como sem precedentes? Certamente o aparecimento de uma pandemia não é, nem mesmo a sua gravidade. Os historiadores identificam o aparecimento recorrente de pandemias desde o período Neolítico, com algumas mais graves do que a que vivemos hoje, como a Peste Negra do século XIV que teria exterminado um terço da população da Europa. Em geral, atribuem esses fenômenos às modificações nas relações do ser humano com o meio “selvagem” (vida selvagem); e no que diz respeito à origem do vírus e sua propagação, o desenvolvimento de trocas e movimentos populacionais. Mais recentemente, alguns mostraram a sua ligação com as mudanças climáticas de origem geológica e por vezes antrópica, na Antiguidade e no século XVI para o continente americano. O que certamente não tem precedentes é a amplitude das medidas de contenção adotadas por um grande número de países, que no momento da redação deste artigo atingem mais de três bilhões de indivíduos. Se o vírus não é fatal na maioria dos casos, seu contágio é muito forte e os males que causa introduzem desordem em estruturas de saúde mal preparadas, apesar da previsibilidade do surgimento de patologias desse tipo. A atividade humana é suspensa em quase todos os lugares do planeta. No entanto, aqueles que inicialmente apontaram o caráter benigno, senão banal, do assunto não estavam muito enganados. Diziam que a realidade, neste momento, não está no fim do mundo, como mostram os números de mortes notificados. As estatísticas de mortos e infectados, anunciadas com grande escândalo, sem correções e sem perspectiva, a todo o momento pela mídia, como se fossem vítimas de uma guerra, contribuem para a criação de uma psicose apocalíptica. Lembremos que a gripe comum também produz mais de 150 mortes por dia na França ao longo de vários meses, sem falar nos acidentes rodoviários que produzem cerca de 1,3 milhão de mortes no mundo todo ano, sem que isso leve à proibição de circulação. Na época dos balanços, poderia parecer que outras pandemias menos recentes tiveram um impacto real mais importante. O jornalista Daniel Schneidermann, em uma crônica do diário parisiense Liberation de 23 de março de 2020, observa que a gripe de Hong Kong, entre o verão de 1968 até o inverno de 1969/70, produziu cerca de 40 mil mortes na França e um milhão no mundo e passou despercebida. Esses dados nos perguntam sobre as causas da mídia e a amplitude política da atual pandemia. Saúde a qualquer preço O crescimento da importância da rejeição da morte que se manifestou no fantasma das guerras de mortos-zero após as intervenções americanas no Iraque, como também é revelado nas investigações quiméricas dos transhumanistas, é transparente na cumplicidade implícita entre os poderes médico e governamental e a opinião pública. A autoridade do discurso médico e científico, grandemente ampliado pela mídia, plebiscitado pela opinião, apesar das contradições e confusões de seus porta-vozes, tornou-se uma verdadeira força vinculante, para chefes de estado – as mudanças de posição de Donald Trump e Boris Johnson são particularmente reveladoras – e ao mesmo tempo, servem de apoio às inclinações ditatoriais da Hungria de Orban e da Turquia de Erdogan, que são os exemplos mais flagrantes. Certas autoridades médicas reagem a quem dita as medidas mais restritivas e repressivas, em detrimento das liberdades. Na verdade, é notável que tenha havido um regresso da “economia a todo custo” da sociedade em crescimento para a “saúde a qualquer custo” da primeira modernidade, após as guerras religiosas. Ou seja, entre os dois polos complementares e antagônicos da modernidade, a “bolsa de valores”, bem representada por John Locke, para quem o contrato social visa o enriquecimento dentro de um estado de direito e de “vida”, bem representado por Thomas Hobbes, para quem devemos abdicar de todos os direitos naturais em benefício de um Leviatã tutelar único fiador da mera sobrevivência e segurança, o cursor mudou na direção do segundo termo: escapar da morte, qualquer que seja o preço a pagar em termos de renúncia às liberdades e até, se necessário, sacrificar um pouco a economia. Curar patologia social A crise revela, antes de tudo, a extraordinária fragilidade de nossas sociedades. Muitos anos atrás, os ambientalistas mostraram que o crescimento da sociedade iria atingir a parede dos limites ecológicos do planeta Terra. Quanto mais a sociedade em crescimento desenvolve seu poder tecnológico, mais frágil ela se torna. A erupção de um vulcão islandês, alguns anos atrás, havia mostrado isso. Além disso, falhas recorrentes de energia ou panes, tsunamis e outros desastres naturais. Quanto mais crescem a interconexão e a interdependência entre os seres humanos e entre as nações, devido ao efeito da lógica econômica e tecnológica, mais diminui a resiliência. A escassez de produtos farmacêuticos confirma isso. Na Itália, como na França, em particular, o triunfo das políticas neoliberais e as curas de austeridade desmantelaram o Estado-provedor e os sistemas de saúde construídos após a Segunda Guerra Mundial, em benefício de um setor privado e da lógica da rentabilidade. Como resultado, tivemos que enfrentar essa pandemia com equipe médica insuficiente, estoques de material de proteção, equipamentos, número de leitos e medicamentos essenciais em falta. Há algo patético na competição global por máscaras de proteção que não requerem nem terras raras nem alta tecnologia para serem fabricadas. Porém, seja qual for o escândalo pelo crime das políticas seguidas e da surdez dos poderes públicos perante os sinais de alarme, não devemos nos cegar, no entanto, em torno da contraprodutividade da medicina moderna. É frequentemente iatrogênico, como analisa Iván Illich, e constitui um abismo financeiro; engendra doenças nosocomiais e o enfraquecimento das barreiras imunológicas sob o efeito do abuso de drogas. A crise do estado social também tem fundamentos muito reais que, sem desculpá-la, ajudam a explicar a contrarrevolução neoliberal de Margaret Thatcher e Ronald Reagan. A realidade é que os gastos com saúde na lógica da medicina de ponta tendem a se tornar exponenciais e incontroláveis, sem falar nos preços exigidos pelas empresas farmacêuticas. Saúde para todos neste contexto de uma sociedade em crescimento (que também apresenta crescimento quase zero) está se tornando uma meta cada vez mais difícil de alcançar. No entanto, será necessário cuidar da patologia social em vez de seus efeitos cada vez maiores sobre a saúde dos cidadãos. Seria mais eficaz remediar os efeitos negativos da sociedade em crescimento por meio de uma ruptura radical do que por meio de uma fuga tecnológica. O programa de decrescimento defende fortemente uma reorientação da pesquisa científica, particularmente no domínio da medicina, e mediante o desenvolvimento de uma medicina doce, ambiental e de proximidade. O triunfo do virtual No plano humano e relacional, um dos efeitos mais desanimadores que nos deveriam desafiar é o fato de que a sociabilidade elementar e fundamental, apertar as mãos, beijar, foi suprimida em favor do triunfo do virtual. No passado, o gerenciamento de pandemia envolvia quarentena, mas nunca o desaparecimento do encontro real com o outro. A viralidade, não só epidêmica, também eletrônica, econômica e financeira, terrorista etc., acelerada pela globalização favorece o triunfo do virtual sobre o real, como bem viu em sua época o sociólogo Jean Baudrillard. Esse triunfo do virtual é consideravelmente reforçado pelo lugar que o digital ocupa na vida confinada. Desse modo, as objeções justificadas sobre os perigos físicos e psicológicos da exposição prolongada de crianças às telas são varridas, devido à necessidade de preservar a educação escolar, sem falar na diversão de famílias amontoadas e enclausuradas em espaços restritos. As partes do mercado digital, em detrimento da economia real, sejam livrarias Amazon ou lojas de proximidade ou mercados locais em benefício de vendas online, teletrabalho de grande distribuição, consultas serviços médicos online, etc., crescem irreversivelmente. Nesse ponto, pelo menos, nada será mais como antes. Estamos testemunhando o que James Lovelock chama de “vingança de Gaia”. Declaramos guerra à natureza por meio da modernidade, em vez de viver dentro dela em harmonia com ela. Ela reage para se defender e, em vez de recuar, lançamos uma nova ofensiva. Essa atitude guerreira é detestável e contraproducente. Não se mata um vírus que faz parte do que vive, mas se administra.. Parece, se acreditarmos nos especialistas em virologia, que o coronavírus vem de morcegos como muitos outros vírus e passou aos humanos diretamente (os chineses consomem a farmacopeia tradicional) ou indiretamente, por meio de outras espécies silvestres igualmente consumidas por eles, como o pangolim. A agricultura produtivista também participa da guerra contra a natureza e aplica comportamentos predatórios e não de bom jardineiro, como na permacultura e no campesinato tradicional. Contribui para o desmatamento, para os métodos de criação intensivos sem respeito aos animais, para o comércio de animais silvestres, todas atividades que favorecem o cruzamento de barreiras entre as espécies, a mutação de vírus e finalmente sua passagem do animal ao ser humano. Gripe aviária, peste suína, AIDS, SARS, são as ilustrações. No caso da pandemia atual, isso pode ser menos flagrante, mas em qualquer caso, menos direto, mas a ligação é provável. Em vez disso, parece que a saturação do ar em Wuhan e na Lombardia têm sido fatores agravantes, enquanto a globalização gerou uma propagação sem precedentes. Uma catástrofe pedagógica? Que lições podemos tirar desta crise? Nada mais será como antes é o que todas as vozes autorizadas, políticas, intelectuais e até econômicas nos dizem. Nós apenas podemos acreditar, mas assim? A razão, obviamente, nos obriga a mudar de rumo. Veremos, porém, a colocação dos prolegômenos daquela sociedade de abundância frugal que desejamos, para evitar um desequilíbrio total e o desaparecimento da humanidade? Certamente, ao mesmo tempo em que alguns chamam isso de decrescimento forçado, ver-se-á – mas tínhamos visto com o movimento dos coletes amarelos – o emergir impetuoso da solidariedade, uma certa criatividade e até formas de convivialidade, virtual pela força das coisas… Mas tudo isso será suficiente para realizar a mudança necessária? Algumas pequenas mudanças podem ser previstas. Haverá uma pequena dose de protecionismo com uma certa deslocalização das empresas farmacêuticas, uma modificação das regras de funcionamento monetário da União Europeia, na perspectiva de um regresso relativo do intervencionismo estatal. Porém, a renúncia às políticas neoliberais, das quais não podemos deixar de nos alegrar, corre o risco de ser apenas provisória e a necessária “metanoia”, o questionamento dos fundamentos de nossas sociedades, ficará por ser feita. A visão de curto prazo que domina as políticas governamentais provavelmente prevalecerá. A renúncia à religião da economia e do crescimento ainda não está na agenda. É improvável que a pandemia seja suficiente para superar a inércia de um sistema que combina os interesses dos poderosos e a cumplicidade passiva de suas vítimas. Passado o alerta, corre-se o risco de voltar aos negócios normais, como aconteceu após a crise econômica e financeira de 2008. Estamos sempre na lógica da competitividade. O choque precisaria ser muito mais forte. E se houvesse um descarrilamento total da economia mundial? Não é impossível, mas é improvável. Agora, os governos reconheceram uma série de lições. Eles são capazes de intervir nos mercados. Obviamente, existem limites, por exemplo no caso de uma recessão. Mas acho que no contexto atual o sistema ainda é capaz de enfrentar uma recessão desde que não vire uma depressão, porque nesse momento tudo estaria fora de controle. Mesmo os aspectos ecológicos positivos seriam eliminados. Lembremos que, na época da queda da URSS, o desastre econômico e social, as emissões de CO2 caíram consideravelmente. No caso da China, a queda é considerável, mas eles já planejam recuperar o atraso. Vários acreditaram ter visto, na suspensão da maior parte das atividades, a famosa utopia dos anos 1970 criada pelo cartunista Gebé de Charlie Hebdo, “O ano 01”, que recriou a vida como deveria ser, simples, bela, satisfatória, e não como realmente é; mas, pelo menos nesta ocasião, ainda não será. Vamos manter viva a nostalgia, porém, para alimentar a esperança de uma mudança radical necessária sustentada pelo projeto de desabrochar. (EcoDebate, 21/09/2020) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação. [IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

Mudanças Climáticas: O Ártico está em transição para um novo estado climático

Os padrões climáticos nas latitudes superiores sempre variaram de ano para ano, com mais ou menos gelo marinho, invernos mais frios ou mais quentes e estações mais longas ou mais curtas de chuva em vez de neve. Mas uma nova pesquisa feita por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica ( NCAR ) descobriu que o Ártico se aqueceu tão significativamente que sua variabilidade de ano para ano está se movendo para fora dos limites de quaisquer flutuações anteriores, sinalizando a transição para um “novo Ártico “regime climático. “A taxa de mudança é notável”, disse a cientista do NCAR Laura Landrum, principal autora do estudo. “É um período de mudanças tão rápidas que as observações dos padrões climáticos anteriores não mostram mais o que você pode esperar no próximo ano. O Ártico já está entrando em um clima completamente diferente do que apenas algumas décadas atrás.” Landrum e sua co-autora, a cientista do NCAR Marika Holland, descobriram que o gelo marinho do Ártico derreteu de forma tão significativa nas últimas décadas que mesmo um ano excepcionalmente frio não terá mais a quantidade de gelo marinho de verão que existia até meados do século 20 . As temperaturas do outono e inverno também serão quentes o suficiente para entrar em um clima estatisticamente distinto em meados deste século, seguido por uma mudança sazonal na precipitação que resultará em meses adicionais em que a chuva cairá em vez de neve. Landrum e Holland usaram centenas de simulações de computador detalhadas, bem como observações das condições climáticas do Ártico. A vasta quantidade de dados permitiu-lhes definir os limites climáticos do “antigo Ártico” – ou quanta variabilidade pode ocorrer naturalmente de ano a ano – e identificar quando o aquecimento causado pelo homem empurrará o Ártico para além desses limites naturais e em um novo clima. A mudança climática tem consequências enormes e abrangentes para os ecossistemas, gestão de recursos hídricos, planejamento de inundações e infraestrutura. Fonte: US National Science Foundation* Referência: Landrum, L., Holland, M.M. Extremes become routine in an emerging new Arctic. Nat. Clim. Chang. (2020). https://doi.org/10.1038/s41558-020-0892-z Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020

EcoDebate - Edição 3.522 de 28 / setembro / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura O mundo atinge 33 milhões de casos e 1 milhão de mortes pela covid-19 Marketing Sustentável no Mercado Globalizado – Caso Brasil A pandemia e o decrescimento econômico Conama pode derrubar resoluções que protegem as praias e áreas de restinga Aumento das ondas de calor marinhas é resultado da influência humana Mudanças Climáticas: O Ártico está em transição para um novo estado climático Gestão hídrica no Semiárido nordestino privilegia interesses políticos “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

MT quase triplica registro de queimadas no período da proibição

Mesmo com o prolongamento do período de proibição das queimadas, Mato Grosso registrou segunda alta consecutiva em índices de queimadas no estado neste ano. Entre julho e o dia 20 de setembro, foram 30,5 mil focos de calor distribuídos nos três biomas abarcados pelo estado, um aumento de 45% dos pontos de calor detectados entre julho e todo o mês de setembro de 2019, com 21 mil focos. No mesmo período de 2018, foram registrados 11 mil focos. Apenas nos primeiros 20 dias de setembro deste ano, houve um aumento de 65% em comparação com todo o mês de setembro do ano passado. Os dados são do Monitor de Queimadas do Instituto Centro de Vida (ICV), ferramenta interativa que utiliza informações disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Todo ano, a prática é proibida durante a época de estiagem, quando a vegetação está mais vulnerável aos incêndios florestais. Neste ano, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema/MT) antecipou em 15 dias o início do período de proibição: a medida entrou em vigor no dia 1º de julho e segue até o dia 30 de setembro. Isso, porém, não surtiu efeitos significativos no controle dos incêndios. No estado inteiro, os imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) concentram a maior parte dos focos de calor, com 51% do total (15.440), seguidos das áreas não cadastradas com 26% (8.037) e das terras indígenas com 17% (5.080). A maior parte dos focos no período ocorreu na Amazônia, com 11.676 focos (38,22%), seguida do Pantanal com 9.983 focos (32,51%) e do Cerrado com 8.943 focos (29,27%). Dos biomas, o Pantanal segue sendo proporcionalmente o mais afetado. Enquanto setembro inteiro de 2019 registrou 800 focos de calor, nos primeiros 20 dias de setembro o bioma em Mato Grosso contabilizou mais de 5 mil focos de calor. Os índices mostram que o estado sofreu a maior parte das queimadas na área brasileira do Pantanal, que abrange Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. De um total de 15.963 focos de calor de janeiro ao dia 20 de setembro no Pantanal brasileiro, 66% (10.481 mil) ocorreram em Mato Grosso e 34% (5.482 mil) em Mato Grosso do Sul. Impacto dos incêndios no Pantanal Na porção mato-grossense do Pantanal, o fogo atingiu cerca de 1,7 milhão de hectares em 2020. A área equivale a quase um terço do bioma no Estado. Os dados são do período de janeiro até o dia 17 de setembro e são resultado de análise técnica realizada pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com base em dados da Global Emissions Fires Database, da Nasa. Um dos fatores que levaram à situação atual foi a seca severa no bioma, que fez com que o rio Paraguai atingisse o nível mais baixo desde os anos 1960. A condição está diretamente relacionada aos altos níveis de desmatamento na Amazônia. É o que explica Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV. “Estudos apontam que, com a aceleração do desmatamento da Amazônia, o período de chuvas tem encurtado e as secas se tornaram mais severas nas regiões central e sudeste do país”, afirma o engenheiro florestal. “O desmatamento afeta o fenômeno conhecido como rios voadores, no qual a umidade da floresta origina uma grande coluna de água, transportada pela América do Sul.” Dos estados da Amazônia Legal, Mato Grosso também figura como segundo que mais desmata a floresta amazônica em território brasileiro. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, foram registrados 1.880 km² de áreas com alertas de desmatamento no estado, uma área maior que o município de São Paulo. Em geral, o uso do fogo está relacionado com a limpeza dos terrenos para pastagem após o corte raso da vegetação ou para renovação da pastagem. Com a seca, o fogo nas áreas onde foi utilizado para fins agropecuários fugiu de controle e os incêndios tomaram grandes proporções. Uma nota técnica do ICV mostrou que nove pontos de calor nos primeiros 50 dias do período proibitivo foram responsáveis por atingir cerca de 324 mil hectares no Pantanal. Destes, cinco ocorreram em imóveis rurais cadastrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR). m Mato Grosso, o bioma Pantanal tem 72% de sua área ocupada pelos 3.260 mil imóveis privados inscritos no CAR, dos quais 13% contam com área acima de 1.500 hectares. “Dado interessante é que, dessas grandes, existem 32 que têm área acima de 20 mil hectares e que sozinhas ocupam 32% do Pantanal. Todas essas fazendas têm a criação extensiva de gado como principal atividade”, afirma Vinícius. Uma causa apontada pelo especialista para o descontrole no número das queimadas neste ano é a sensação de impunidade de quem faz uso do fogo de maneira ilegal. prática é proibida durante a época de estiagem, quando a vegetação está mais vulnerável e eleva os riscos de incêndios florestais, e é punida pela Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) que prevê pena de um a quatro anos de reclusão. De 1º de janeiro até o dia 14 de setembro, as multas aplicadas pelo Ibama por infrações relacionadas à vegetação – como desmatamento e queimadas ilegais – caíram 22% em 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior. Em Mato Grosso, foram registradas 173 autuações relacionadas à vegetação neste ano, uma redução de 52% em relação ao mesmo período de 2019, com 361. O levantamento foi realizado pela BBC News. Áreas protegidas sob risco no bioma O impacto do fogo no Pantanal em Mato Grosso foi sem precedentes nas Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs) em 2020. Os dados mostram que, de janeiro a 20 de setembro, foram detectados 293 focos de calor em terras indígenas no Pantanal. Os números representam um aumento significativo para as TIs no bioma: em 2019, a categoria somou nove ocorrências de janeiro a setembro inteiro e, em 2018, não contabilizou nenhuma. Já as unidades de conservação somam 633 focos de calor na mesa área, enquanto 2019 contabilizou 19 registros. Entre elas, destaca-se o Parque Estadual Encontro das Águas, o maior refúgio de onça-pintada das Américas e que teve mais de 92 mil hectares atingidos até o dia 13 de setembro, o representante a 85% da área total do parque. Todos municípios atingidos pelo fogo A análise dos dados da Nasa também aponta que os 141 municípios de Mato Grosso tiveram áreas atingidas por incêndios. Até o dia 1 de setembro, os municípios pantaneiros de Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres respondiam por 51% do total atingido pelo fogo em todo estado. No dia 17 de setembro, o percentual caiu para 30%, o que demonstra que o fogo avançou no Cerrado e na Amazônia nas últimas duas semanas.

Mineração em terras indígenas pode causar prejuízo anual de US$ 5 bi, diz estudo

por Hyury Potter, Naira Hofmeister, Deutsche Welle – Levantamento aponta que projeto de lei ameaça cerca de 860 mil km² de Floresta Amazônica, cuja devastação impactaria cadeias produtivas e regime de chuvas, com efeitos negativos para outras regiões e para o agronegócio. Uma área na Amazônia quase do tamanho da Venezuela pode ser devastada, resultando em prejuízos econômicos bilionários por ano, caso um projeto de lei que autoriza mineração dentro de terras indígenas no Brasil seja aprovado. É o que concluiu um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e australianos que analisou os impactos ambientais do PL 191/2020, apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional em fevereiro deste ano. Hoje uma prática ilegal, a exploração mineral nessas áreas protegidas, que abrigam a maior porção de floresta intocada do bioma, passaria a ser possível. “Se todas as ocorrências minerais que conhecemos hoje fossem desenvolvidas, tanto dentro como fora das terras indígenas, o impacto chegaria a 863 mil km²”, calcula o professor Britaldo Soares-Filho, coordenador do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos autores do estudo, publicado neste mês na revista científica One Earth. Caso o projeto de lei seja rechaçado, a área máxima afetada pela mineração na Amazônia brasileira seria de 700 km², um número 23% menor, mas ainda assim uma extensão equivalente ao dobro do território da Alemanha, aponta a pesquisa. Essa porção de floresta afetada seria substituída não apenas pelas cavas das minas e por suas usinas de beneficiamento, mas também por estradas, linhas de energia e infraestrutura de serviços ligados à atividade. A perda de biodiversidade vinculada aos projetos de mineração afetaria cadeias produtivas locais, como a da madeira e a da borracha, além da extração de castanha-do-pará, que garante a subsistência de muitos povos da floresta. O desmatamento de uma área com essas dimensões traria ainda alterações no regime de chuvas – não apenas da Amazônia, mas do Centro-Oeste e até do Sul, regiões onde está concentrado o agronegócio do país, responsável por 21% do PIB nacional, segundo a Confederação Nacional de Agricultura. O estudo aponta ainda que, sem chuva, as lavouras perderiam produtividade. Na ponta do lápis, o resultado seria uma prejuízo total de ao menos 5 bilhões de dólares por ano (cerca de R$ 28 bilhões na cotação atual), o equivalente ao lucro líquido de um dos maiores bancos do país em 2019. Trata-se de uma estimativa do valor que a área de floresta potencialmente afetada pela mineração fornece à economia global, ao produzir alimentos, mitigar as emissões de CO2 e regular o clima para a agricultura e a produção de energia. “E esse é um valor extremamente conservador, porque conseguimos medir apenas alguns serviços ecossistêmicos. Financeiramente, há muito a se perder com o desmatamento”, alerta Soares-Filho. O cálculo foi feito considerando os danos ambientais na vegetação e em rios em um raio de 70 quilômetros a partir do local de extração do minério e inclui desmatamento e degradação da floresta. “Este estudo está baseado em outros dois artigos prévios, publicados na Nature, nos quais medimos a extensão do impacto da mineração, sobretudo o indireto, e chegamos a essa área”, explica o professor da UFMG. O novo estudo alerta ainda para a pressão populacional decorrente de uma eventual liberação da mineração em terras indígenas, cuja consequência imediata seria uma ameaça aos povos e aos ecossistemas presentes na floresta, muitos ainda nem conhecidos por cientistas. Apenas na Amazônia Legal vivem 222 etnias, e há 332 terras indígenas oficiais e 92 em estudo, com 655 mil famílias que falam 160 línguas. E tudo isso está ameaçado com o PL 191/2020. “O prejuízo cultural é muito difícil de ser calculado”, afirma Juliana Siqueira-Gay, doutoranda e pesquisadora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), que também assina o artigo publicado na One Earth. Garimpo ilegal O projeto de lei examinado pelos pesquisadores prevê uma compensação financeira aos indígenas potencialmente afetados pela mineração. “Mas é muito difícil que esse valor chegue a 5 bilhões de dólares anuais. O que o estudo faz é colocar uma pergunta: vale a pena abrir [para mineração]?”, diz Siqueira-Gay. Uma convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) determina que os povos indígenas sejam consultados sobre qualquer projeto que possa afetar seu modo de vida tradicional – e que a decisão deles tem poder de veto. O PL traz menção à oitiva das comunidades indígenas afetadas, mas sem trazer detalhes sobre como isso aconteceria, o que é criticado por pesquisadores. Até dezembro de 2019, a Agência Nacional de Mineração registrava cerca de 4 mil requerimentos minerários protocolados dentro de terras indígenas da Amazônia. Embora seja ilegal minerar essas áreas, não há vedação para que elas sejam requeridas formalmente. A orientação do Ministério Público Federal para a agência é que esse tipo de pedido seja negado imediatamente, mas na prática não é o que ocorre, ainda que a maior parte deles não se reverta em autorizações de pesquisa ou de lavra. O temor dos pesquisadores é que, diante do volume de riscos que pode representar uma operação minerária em terra indígena – inclusive reputacionais –, o PL atraia não as grandes mineradoras, que podem sofrer pressões de investidores, mas sim garimpeiros ilegais. Uma preocupação que é compartilhada pelos índios. “O garimpo é uma sentença de morte para o índio. Com o garimpo vem a pressão populacional, e isso traz violência, alcoolismo e uma série de outros problemas. Agora na pandemia de covid-19, a falta de fiscalização faz com que muitos garimpeiros ilegais circulem em terras indígenas, e eles podem infectar esses povos”, denuncia Tito Menezes, advogado indígena de etnia Sateré-Mawé e assessor jurídico da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). A falta de barreiras sanitárias em oito terras indígenas da Amazônia, que poderiam impedir contato de garimpeiros com os povos, foi apontada em um relatório entregue pela Funai ao Supremo Tribunal Federal (STF) em julho. Até esta quinta-feira (24/09), o Brasil registrou 826 mortos e 33.226 casos confirmados de covid-19 em 158 terras indígenas, de acordo com levantamento feito pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). “Passar a boiada” O receio dos pesquisadores cresce diante da postura do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desde o início do governo. Em maio, a divulgação de um vídeo de uma reunião ministerial revelou o titular da pasta sugerindo “passar a boiada” e derrubar regulamentações da área ambiental. Defensor da mineração em terras indígenas, Salles visitou em agosto um território Munduruku, em Jacareacanga, no Pará, e falou em discutir a proposta de “maneira aberta” com os povos originários. No dia seguinte, teria levado sete índios em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para uma reunião em Brasília. O Ministério Público Federal no Pará abriu uma investigação após ser informado por lideranças Munduruku de que os índios que foram a Brasília não representavam a etnia e eram garimpeiros ilegais. “Verificam-se, no presente caso, fortes indícios de desvio de finalidade na utilização de aeronaves da Força Aérea Brasileira, as quais, a princípio, deveriam ser destinadas para efetividade da Operação Verde Brasil 2 no combate à mineração ilegal”, diz o MPF no despacho que abriu a investigação, em 20 de agosto. Premiado pela Fundação Alexander von Humboldt em 2015 por um trabalho anterior, no qual demonstrou a contribuição de políticas públicas para a redução do desmatamento histórico no Brasil, Soares-Filho observa que hoje o efeito é o inverso. “O impacto final de um projeto de lei como esse depende muito do cenário de governança ambiental. No caso atual, de falta governança ambiental. Há um esforço de desconstrução de ganhos ambientais do passado”, diz Soares-Filho. Atualmente, apenas 2% dos projetos de mineração do país exigem relatórios de impacto ambiental, no restante dos casos bastando apenas relatórios simplificados, que não exigem reparação ambiental. “E a tendência é de simplificação no processo de licenciamento”, alerta Siqueira-Gay. A expectativa do grupo de pesquisa é que os dados fornecidos pelo estudo possam qualificar o debate público. “Queremos contribuir de forma científica para melhorar a tomada de decisão, as políticas públicas. É uma perspectiva colaborativa, uma visão de mais longo prazo que está fazendo falta”, conclui a pesquisadora da USP. #Envolverde

Misérias e delícias de uma vida virtual e o que isto tem a ver com o “consumo consciente”?

Por Samyra Crespo, especial para a Envolverde – Escrevi anteriormente dois textos em que apontei agravos ao padrão de consumo predatório durante a pandemia: novos resíduos sólidos em grande quantidade (toucas, luvas, máscaras, sapatilhas e frascos de álcool gel) e o aumento do consumo de alimentos processados e do uso ampliado de desinfetantes e produtos químicos que literalmente agridem o meio ambiente. Neste, quero destacar os benefícios deste período para áreas como mudanças climáticas, poluição atmosférica e consumo de água e energia. É evidente que o número de viagens no espaço doméstico e internacional diminuiu drasticamente. As reuniões de negócio e os congressos profissionais passaram a ser on line. O turismo – outro grande impulsionador das viagens de avião, ônibus ou carro, também minguou. Então, com certeza houve menos consumo de combustíveis fósseis e menos emissões de CO2. Escolas, shoppings fechados, bem como centros culturais, teatros e cinemas também significaram uma tremenda economia de energia – e as pessoas mergulharam em “passeios virtuais” pelos grandes museus do mundo e compraram doidamente via on line e cartão de crédito. Clubes, hotéis, saunas e academias de ginástica fechadas também significou uma enorme economia de água e outros insumos. Com o home office e o “autotrabalho” (via internet) é óbvio que menos carros circularam e a poluição urbana causada por fonte veicular diminuiu. Pena que o desmate e as queimadas, infelizmente, agravaram a situação do Brasil como um dos grandes emissores dos gases do efeito estufa. Até há pouco tempo éramos o quarto país em emissões – agora será preciso fazer uma nova contabilidade – depois da queima apocalíptica da Amazônia, Pantanal, Cerrado e até da nossa ameaçadíssima Mata Atlântica, devemos ter subido de posição no ranking. O outro lado da moeda dessas fabulosas “economias” é perverso e muitas delas não se sustentarão a médio prazo. Escolas e shoppings estão reabrindo, o turismo começa a engrenar e a roda parece ter que girar como sempre. O desemprego, a falência de empreendedores e a “uberização” dos serviços, contudo, é uma tendência forte e inevitável nestes próximos anos. O “delivery ” intensificou-se e veio para ficar – promovendo nosso conforto (será) às custas de menos socialização e da precarização do trabalho. O home office virou uma mina de ouro para as empresas e muitas delas diminuirão seus espaços físicos impondo aos funcionários “jornadas sem fim” em casa. Executivos de pijama – e não de ternos Armani – é uma imagem pitoresca, e bem real. O autotrabalho (quando você acessa serviços virtuais e paga contas, movimenta dinheiro no banco, faz compras, etc) hoje impõe uma carga horária extra ao comum dos mortais de no mínimo 2 horas por dia. Onde havia alguém fazendo ou atendendo (empregando pessoas) você faz. Quem ganha? Follow the money!!! Há um enorme ganho de produtividade por aí, extraindo mais valia de nós – consumidores. O fato é que a vida virtual está aí, prosperando, e parece que tudo é possível ao alcance de um celular: ouvir música, passear no Louvre, rezar, conhecer novas culturas, amar e fazer sexo express. Mas documentário disponível na Netflix – Social Dilema – que recomendo a todos que vejam sem demora – mostra a outra face do todo poderoso Deus Janus. Nesta outra face ainda pouco percebida e obscura, nossa vida é controlada por algoritmos e câmeras espiã. E esse controle gera trilhões de dólares e cria negócios bilionários. Nossos dados pessoais são processados juntamente com os de outras milhões de pessoas e nossos desejos mais íntimos são conhecidos e manipulados. Quando buscamos uma informação nas plataformas virtuais, ela vem “customizada”, embalada em nossas expectativas, reforçando estereótipos, preconceitos e outras disposições pessoais ou coletivas. Reforçando ou mudando padrões de consumo subliminarmente. A vida virtual tem inúmeras vantagens, mas precisamos rapidamente pensar em mecanismos que nos defendam de sua capacidade tecnológica absurda (a serviço do capital ou da política) de nos seduzir, convencer ou viciar – interferir em nossas escolhas. O consumo da cultura e da informação acurada e independente, precisa urgentemente de atenção. Mais do que nunca o consumo virtual de bens, serviços e informação merece um debate sério e ponderado. A tecnologia pode ser usada a nosso favor e contra nós. Sempre foi assim. A tecnologia nuclear que o diga. A maravilhosa tecnologia da medicina o comprova. Se nossa liberdade fica cada vez mais tolhida e tudo o mais deteriora (empregos, convivialidade, meio ambiente) – estamos alimentando o monstro que nos devora. Pense nisto. Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008. * Este texto foi escrito para o Site Envolverde e faz parte se uma série que venho publicando desde março do ano passado.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Arctic Greening Driven By Warmer Temperatures

Aquecimento: Verões cada vez mais quentes tornam o Ártico mais verde

Por Kate Ramsayer* Goddard Space Flight Center da NASA , Greenbelt, Maryland À medida que os verões árticos esquentam, as paisagens do norte da Terra estão mudando. Usando imagens de satélite para rastrear ecossistemas globais de tundra ao longo de décadas, um novo estudo descobriu que a região se tornou mais verde, à medida que o ar mais quente e as temperaturas do solo aumentam o crescimento das plantas. “A tundra do Ártico é um dos biomas mais frios da Terra e também um dos que aquece mais rapidamente”, disse Logan Berner, ecologista de mudanças globais da Northern Arizona University em Flagstaff, que liderou a pesquisa recente. “Este verde ártico que vemos é realmente um termômetro da mudança climática global – é uma resposta em escala de bioma ao aumento da temperatura do ar.” Dados dos satélites Landsat da NASA / USGS mostram que durante 1985-2016, a vegetação na tundra ártica do Canadá, Alasca e Eurásia ocidental mostrou um aumento de 38% em verdura – representando plantas crescendo mais, tornando-se mais densas e / ou arbustos invadindo a tundra típica gramíneas e musgo. Créditos: Goddard Space Flight Center da NASA Arctic Greening impulsionado por temperaturas mais altas O estudo , publicado esta semana na Nature Communications, é o primeiro a medir as mudanças na vegetação que abrange toda a tundra ártica, do Alasca e Canadá à Sibéria, usando dados de satélite do Landsat, uma missão conjunta da NASA e do US Geological Survey (USGS). Outros estudos usaram os dados de satélite para observar regiões menores, uma vez que os dados do Landsat podem ser usados ​​para determinar a quantidade de vegetação em crescimento ativo no solo. O greening pode representar plantas crescendo mais, tornando-se mais densas e / ou arbustos invadindo gramas típicas de tundra e musgo. Quando a vegetação da tundra muda, ela impacta não apenas a vida selvagem que depende de certas plantas, mas também as pessoas que vivem na região e dependem dos ecossistemas locais para se alimentar. Embora as plantas ativas absorvam mais carbono da atmosfera, as temperaturas mais altas também podem estar derretendo o permafrost, liberando gases do efeito estufa. A pesquisa faz parte do Arctic Boreal Vulnerability Experiment (ABoVE) da NASA, que visa compreender melhor como os ecossistemas estão respondendo a esses ambientes de aquecimento e as implicações sociais mais amplas. Berner e seus colegas usaram os dados Landsat e cálculos adicionais para estimar o pico de verdura de um determinado ano para cada um dos 50.000 locais selecionados aleatoriamente em toda a tundra. Entre 1985 e 2016, cerca de 38% dos locais de tundra no Alasca, Canadá e Eurásia ocidental mostraram-se verdes. Apenas 3% mostraram o efeito de escurecimento oposto, o que significaria menos plantas em crescimento ativo. Para incluir sítios da Eurásia oriental, eles compararam os dados a partir de 2000, quando os satélites Landsat começaram a coletar regularmente imagens daquela região. Com essa visão global, 22% dos sites esverdearam entre 2000 e 2016, enquanto 4% bronzearam. Uma rena na tundra ártica Quando a tundra ártica fica verde, passando por um aumento no crescimento das plantas, ela pode impactar espécies da vida selvagem, incluindo renas e caribus. Créditos: Logan Berner / Northern Arizona University “Quer seja desde 1985 ou 2000, vemos esse esverdeamento do Ártico evidente no registro do Landsat”, disse Berner. “E vemos esse esverdeamento em escala de bioma ao mesmo tempo e durante o mesmo período, pois vemos aumentos realmente rápidos nas temperaturas do ar no verão.” Os pesquisadores compararam esses padrões de esverdeamento com outros fatores e descobriram que também estão associados a altas temperaturas e umidade do solo. Eles confirmaram essas descobertas com medições de crescimento de plantas em locais de campo ao redor do Ártico. “O Landsat é fundamental para esse tipo de medição porque reúne dados em uma escala muito mais precisa do que a usada anteriormente”, disse Scott Goetz, professor da Northern Arizona University que também trabalhou no estudo e lidera a equipe científica ABoVE. Isso permite que os pesquisadores investiguem o que está causando as mudanças na tundra. “Há muita variabilidade em microescala no Ártico, por isso é importante trabalhar em uma resolução mais precisa e ao mesmo tempo ter um longo registro de dados”, disse Goetz. “É por isso que o Landsat é tão valioso.” * Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020

Biomas brasileiros perderam 8,34% das áreas naturais entre 2000 e 2018

Entre 2000 e 2018 todos os biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa – tiveram saldo negativo em números absolutos (489.877 km²) das áreas naturais, o que representa menos 8,34%, mas a perda diminuiu de magnitude ao longo desses anos. A maior desaceleração ocorreu no Bioma Mata Atlântica que saiu de uma perda de 8.793 km², entre 2000 e 2010, para menos 577 km², entre 2016 e 2018. Apesar disso, a Mata Atlântica, onde há a ocupação mais antiga e intensa, conserva apenas 16,6% de suas áreas naturais. Esse é o menor percentual entre os biomas.Biomas brasileiros, desmatamento nos biomas brasileiros, desmatamento no BrasilBiomas brasileiros, desmatamento nos biomas brasileiros, desmatamento no Brasil Os biomas Amazônia e Cerrado concentraram os maiores quantitativos absolutos de redução de áreas naturais. A maior perda foi do bioma Amazônia (269,8 mil km²), seguido pelo Cerrado (152,7 mil km²). As menores quedas de áreas naturais, tanto em termos absolutos (2.109 km²) quanto percentuais (1,6%), foram no Pantanal. Já a maior perda percentual ocorreu no Bioma Pampa, onde 16,8% de sua área natural, de 2000 a 2018, foram convertidos em usos antrópicos – quando há a ação do ser humano em atividades sociais, econômicas e culturais sobre o meio ambiente. Os dados fazem parte da Edição inaugural das Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas (2000-2018), divulgada hoje (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Levantamento apresenta os resultados, em termos gerais, do estado de conservação dos ecossistemas no ambiente terrestre brasileiro. A pesquisa indicou que entre 2000 e 2018, a Amazônia perdeu quase 8% de sua cobertura florestal, que foi substituída, principalmente, por áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248,8 mil km², em 2000, para 426,4 mil km² da Amazônia, em 2018. A pesquisadora da Diretoria de Geociências do IBGE, Maria Luíza da Fonseca, informou que os biomas Pampa e Pantanal apresentaram o indicador de intensidade de mudança com proporções bastante superiores aos demais do território nacional. “No Pantanal temos 75,3% das alterações realizadas, consideradas desde alterações intensas, que têm o indicador 3, o mais elevado. O mesmo acontece com o Bioma Pampa, com cerca de 60% de alterações bastante intensas. O indicador de valor 3 retrata uma conversão de uso que era natural e passou diretamente ao antrópico intenso. No Pampa, sobretudo na área agrícola, e no Pantanal prevaleceu a pastagem por manejo”, afirmou. A Mata Atlântica (7,96%) e Caatinga (7,44%) tiveram as menores transformações do espaço brasileiro e os maiores decréscimos nas supressões de áreas naturais. “Dentro de um cenário nacional, podemos ver que tanto a Mata Atlântica quanto a Caatinga foram as que, no último biênio analisado (2016/2018), tiveram o maior decréscimo. Elas mostram, ao longo de toda a série histórica (2000/2018), a maior desaceleração dessas perdas”, disse, acrescentando que essas áreas naturais dizem respeito às vegetações florestal e campestre, às áreas úmidas e descobertas, consideradas vegetação nativa sem interferência antrópica. Amazônia Amazônia – Valter Campanato/Agência Brasil “A perda de áreas naturais ocorre de formas diversas. Nem essa pesquisa e nem o monitoramento trata das causas desses fenômenos. Ou seja, se foram por meio de ação antrópica ou por causa dos próprios fenômenos da natureza. As pesquisas do IBGE ainda não trazem esse detalhamento de causas”, disse. Áreas naturais florestais Maria Luíza destacou que o mapa de concentração das áreas naturais florestais contínuas, referente a 2018, mostra a maior parte no Bioma Amazônia e um avanço de maneira clara do arco do desmatamento, que em 2000 era mais restrito ao limite do Bioma Cerrado e hoje apresenta uma interiorização por meio das estradas e dos cursos de rios. Em contraposição, o segundo Bioma mais florestal é o da Mata Atlântica onde, atualmente, se vê poucos remanescentes de vegetação, com alta fragmentação ao longo do litoral. Formações campestres O Cerrado tem o maior grau de interferência antrópica nas formações campestres florestais, sobretudo no Centro-Sul, onde avançam as atividades agropecuárias. Ainda em 2018, o Pantanal era o mais preservado, com pontual interferência antrópica na borda leste do bioma. “É claro que ele também sofre influência do Bioma Cerrado no limite, porque a Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, que abastece o Pantanal, não respeita o limite dos biomas, então, a produção de água e sedimentos do Cerrado chega também ao Pantanal”, acrescentou. A pesquisadora disse que o impacto das queimadas que têm ocorrido no Pantanal só será verificado no próximo ano de referência (2020) do Projeto de Monitoramento de Cobertura do Uso da Terra, que fará parte da edição seguinte, prevista para ser divulgada em 2022. “A supressão de áreas naturais que ocorrer no Pantanal, de acordo com esse fenômeno que estamos vendo agora, provavelmente será detectada no próximo ano referência”, afirmou. No Pampa, as formações campestres seguem o padrão de ocupação nos planaltos, área propícia à expansão da atividade agrícola, e na Caatinga há a antropização nas depressões orientais sertanejas que fazem limite com a Mata Atlântica. Metodologia A metodologia atual da pesquisa também não faz avaliação do impacto econômico direto das conversões com as Contas Nacionais, especificamente com o Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, os ativos ambientais, por enquanto, estão fora da fronteira das contas nacionais em grande parte, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) já propôs essa inclusão, que está sendo analisada pelos países para assegurar um conceito mundial. “Ainda não existe integração entre as duas coisas, o que existe são indicadores auxiliares, para ver como também o meio ambiente pode ser levado em consideração em políticas públicas e, além de olhar a evolução da economia, olhar o que está acontecendo no meio ambiente com essa evolução”, informou. Tudo isso, segundo Rebeca, é discutido internacionalmente e está prevista uma revisão do próprio manual internacional de contas nacionais. “Há toda uma discussão de como seria possível integrar cada vez mais o meio ambiente nessa contabilização. Esse é um primeiro passo, até internacional, que a gente também está seguindo: mostrar também, junto com a evolução da economia, o que está ocorrendo com o meio ambiente”, completou. Por Cristina Índio do Brasil da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020

Na Amazônia, a floresta perde espaço para pastagens

IBGE Resumo Biomas terrestres brasileiros perderam cerca de 500 mil km² de sua cobertura natural entre 2000 e 2018. Em números absolutos, a maior perda neste período aconteceu no bioma Amazônia (269,8 mil km²), seguido pelo Cerrado (152,7 mil km²), mas, em termos percentuais, o Pampa foi o que mais perdeu área natural, -16,8%. A cobertura florestal representava 81,9% da área total da Amazônia em 2000, proporção que se reduziu para 75,7% em 2018. Essa área foi substituída, principalmente, por áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248,8 mil km² para 426,4 mil km² nesse período. Entre 2000 e 2018, o Pantanal teve as menores perdas, em área (-2,1 mil km²) e em percentual (-1,6%), mas desde 2010, cerca de 60% das mudanças foram de áreas naturais campestres para pastagem com manejo. A Mata Atlântica, que sofre a ocupação mais antiga e intensa, conservava apenas 16,6% de suas áreas naturais, em 2018, o menor percentual entre os biomas. Todos os biomas brasileiros tiveram saldo negativo, mas a tendência nacional foi de diminuição da magnitude ao longo dos anos, com exceção do Pampa e do Pantanal. A pesquisadora da Diretoria de Geociências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Maria Luíza Fonseca, disse que a atividade agropecuária ocupa considerável extensão de terra no Bioma Amazônia, mas não tem expressividade no valor da produção nacional. Segundo ela a atividade está em expansão ao longo da série histórica da pesquisa Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas (2000-2018). O levantamento foi divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Amazônia, degradação ambiental, crime ambiental na Amazônia, desmatamento, desmatamento da AmazôniaAmazônia, degradação ambiental, crime ambiental na Amazônia, desmatamento, desmatamento da Amazônia Entre 2016 e 2017, o setor agropecuário cresceu em volume de Produto Interno Bruto (PIB) cerca de 14% e, na Região Norte, esse crescimento foi negativo. “Sabemos que a Região Norte e o Bioma Amazônia não têm limites conscientes, contudo é o limite do sistema de contas regionais que mais se aproxima dele. Os estados do Pará, de Rondônia e Mato Grosso são exceções desse quadro e têm variações positivas, disse Maria Luíza, lembrando que Mato Grosso é um estado limítrofe entre a Amazônia e o Cerrado e divide a sua extensão territorial entre os dois biomas”. Conforme os dados da pesquisa do IBGE, o Bioma Cerrado, o segundo do Brasil em número de alterações decorrentes do avanço de usos antrópicos compondo a frente de expansão da fronteira agrícola, é considerado um dos maiores concentradores mundiais da biodiversidade, abrigando as maiores bacias hidrográficas da América do Sul. A maior conversão nesse bioma é a expansão contínua e acelerada da agricultura, com acréscimo de 102.603 km² tanto sobre as áreas naturais quanto para a conversão de áreas de manejo em área agrícola. Maria Luíza afirmou que o Bioma Mata Atlântica é um dos mais ameaçados do planeta e onde se concentram, no Brasil, diversos projetos socioambientais. “O destaque nesse bioma é que ele é o único terrestre em que a classe predominante não é cobertura natural. Em 2018 apenas 12,6% do seu território eram cobertos por florestas”. Na Caatinga, considerada área suscetível à desertificação, existem muitas espécies endêmicas que só ocorrem lá, sensíveis do ponto de vista ambiental. Nesse bioma, a característica de ocupação do território é de pequenos estabelecimentos rurais e sistemas agroflorestais. A área agrícola teve aumento de 74,9%, expandindo-se sobre áreas naturais, sendo apenas 2,5% convertidos em pastagem com manejo. No Bioma Pampa predominam os campos e, em 2018, 37,4% eram de vegetação campestre, seguida pela classe de área agrícola (36,3%), além de 19,3% da área natural descoberta do Brasil. O Bioma Pantanal, apesar de ser em expansão territorial o menor do Brasil, está entre as maiores extensões úmidas do planeta. Segundo a pesquisadora, a predominância investigada entre 2000 e 2018 nesse bioma, é uma conversão de vegetação campestre, ou seja, o pasto nativo, em que 59,9% das alterações correspondem em pastagem por manejo. “O Pantanal tem como atividade tradicional o pasto nativo, mas ele vem sendo substituído pela pastagem por manejo, por meio da substituição por forrageiras exóticas, ou seja, gramíneas que não são originais do Pantanal”, observou. Maria Luíza informou ainda que a pesquisa não trata das causas das mudanças, mas avalia as conversões. “Por exemplo, no Pantanal a gente observou que houve alguma substituição do pasto nativo pelo pasto com manejo. Inclusive a atividade econômica predominante, a pecuária, é mantida, mas com outras formas e outras técnicas pecuaristas. Então, a gente identifica essa mudança”. Para a pesquisadora, existe grande parte de benefícios gerados pela natureza, chamados de serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos, que não são capturados pelos sistemas de contas nacionais, porque não constituem um processo econômico de produção. Contudo, os serviços alimentam diversas atividades de consumo de produção e estão em função da extensão da condição do ecossistema. “Por fim, vão gerar benefícios que fazem parte do bem-estar social e individual. O desafio dessa metodologia é conseguir identificar, mapeando os ecossistemas e os serviços. Para isso, são sugeridas algumas etapas metodológicas, que são divididas em termos físicos e análises em termos econômicos”, observou. Maria Luíza disse ainda que a primeira etapa para cumprimento dessa metodologia é analisar a extensão dos ecossistemas, ou seja, o estoque que o capital natural tem e, no segundo momento, a condição dele para, então, serem atribuídos os valores de uso ou de não uso que os serviços ecossistêmicos representam na contabilidade. As Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas (2000-2018) integram a pesquisa Contas de Ecossistemas no Brasil e fazem parte de um projeto que segue as recomendações da ONU para a inclusão das variáveis ambientais nas Contas Nacionais. A publicação retrata a extensão das áreas naturais e antropizadas do Brasil nos seis biomas do território. desmatamento na Amazônia Por Cristina Índio do Brasil da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020

Caravana Virtual CriAção Amazônica contra a Crise Climática: Ciência cla...

A CIÊNCIA CLAMA POR SALVAR A AMAZÔNIA

Prezadas e prezados, No âmbito da riquíssima programação da Caravana Virtual CreAcción Amazônica que está ocorrendo ao longo desta semana (acompanhem no link geral, abaixo) https://www.youtube.com/results?search_query=Caravana+Virtual+CreAcci%C3%B3n+Amaz%C3%B4nica Chamo a atenção, em especial, para os depoimentos, breves (5 minutos ao todo), mas absolutamente certeiros, de Antônio Donato Nobre e de Luciana Gatti, ambos do INPE, sobre os impactos da perda dos serviços ecossistêmicos da floresta amazônica decorrentes de sua destruição pelo desmatamento e pelo fogo. Eis o link deste depoimento: https://www.youtube.com/watch?v=mZsP8FLWFB0 A mensagem é inequívoca: da manutenção da floresta amazônica depende a viabilidade da sociedade brasileira. Somos existencialmente dependentes da floresta, como sociedade e, em última instância, como espécie. Ainda está em nossas mãos impedir que o (des)governo Bolsonaro destrua nosso patrimônio natural e as condições de possibilidade de nossa sociedade. Temos que reagir ou será tarde demais! Dada a importância crucial para todos nós de deter a galopante degradação em curso da floresta amazônica (mas também do Cerrado, do Pantanal e da Caatinga), peço que passem adiante esse alerta (melhor seria chamar ultimato) da ciência. A ciência clama por salvar a Amazônia Cordialmente, Luiz Luiz Marques https://unicamp.academia.edu/LuizMarques in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020

Dicas de autocuidado para o bem-estar mental

Setembro amarelo: psicóloga dá dicas sobre autocuidado durante a quarentena – Sono, alimentação e excesso de trabalho estão entre os pontos de atenção durante a busca pelo bem-estar mental Durante o período de distanciamento social, por conta da pandemia da Covid-19, a saúde mental tornou-se um tema ainda mais discutido, e muitos profissionais da saúde alertam que o isolamento pode acarretar uma epidemia de transtornos de depressão e ansiedade. Um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apontou que os casos de depressão praticamente dobraram desde o início da quarentena. Entre março e abril desse ano, dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8%. A campanha do Setembro Amarelo, que tem como objetivo conscientizar a população em relação ao equilíbrio mental, que este ano apresenta um papel ainda mais relevante ao trazer informações sobre o aumento do número de transtornos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais deprimido e ansioso da América Latina. O último relatório da organização, divulgado no fim de 2018, mostra que, nos últimos dez anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% em todo o mundo – o que corresponde a 322 milhões de indivíduos ou 4,4% da população global. Melina Cury Haddad, coordenadora de psicologia da Care Plus, comenta que a partir do lançamento da campanha, em 2003, as informações sobre saúde mental começaram a mudar. “Fomos aprendendo e entendendo que esse assunto precisa ser falado e discutido da forma correta; a informação aliada à ciência e a educação à saúde podem ser bases fortes para se prevenir a depressão. Sim, todos nós podemos contribuir para ajudar as pessoas que estão em profundo sofrimento. Talvez uma conversa com alguém, uma oferta de ajuda, encontrar uma informação com um direcionamento para um serviço de saúde ou mesmo um serviço voluntário podem fazer com que ela encontre outro caminho. Vamos falar do tema, vamos perder o medo de conversar”, afirma. Durante a pandemia, quem está próximo pode ajudar muito ao ouvir o que a pessoa tem a dizer. “Muitas vezes temos medo de perguntar, até porque não vamos saber lidar com aquilo ou achamos que não temos capacidade de ajudar, mas todos temos essa capacidade, não precisa se preocupar em falar a coisa certa, apenas em ouvir, dar atenção, perguntar como está, oferecer o telefone de um profissional, um copo d’água. O mais importante é abrir um espaço para esse momento, não fazer nenhum julgamento sobre o que ela está passando, não dar broncas achando que vai ser bom para ela, apenas escutar com empatia”, explica a psicóloga. Melina destaca os principais hábitos para se manter o bem-estar mental durante este momento, confira: – O equilíbrio vem quando conseguimos dosar a quantidade de estresse que temos com momentos de lazer e que proporcionam prazer; então é necessário fazer um balanço, por exemplo, se estou trabalhando muito e até tarde por causa do home office, então tentar deixar um momento no dia para relaxar, talvez ouvir uma música que goste, tomar um banho relaxante; – O sono é um fator primordial pra manter a saúde emocional. Busque ter horário pra dormir e acordar, fazer um ritual para o sono antes de dormir e se desligar com antecedência de telas de celular, TV, tablets, não beber nada estimulante, isso ajuda muito a equilibrar e preparar o cérebro pra dormir, pode também fazer um exercício de respiração profunda, relaxamentos ajudam muito na indução do sono. – Ter como base uma alimentação balanceada, com alimentos nutritivos irá auxiliar você no bem-estar. Praticar exercícios físicos regularmente, mesmo em casa, pois são responsáveis pela liberação de neuro-hormônios que auxiliam na sensação de prazer e bem-estar. – Conversar com pessoas, mesmo que seja a distância, faz nos sentirmos conectados, e isso é muito importante para enfrentar sentimentos de solidão e sentir que pertencemos a um lugar. Na depressão, temos a tendência de abandonar atividades que nos dão prazer; é muito importante não abandonar, mesmo sem vontade, não deixe de fazer tarefas simples do dia a dia, lembre-se de que o fazer antecede o prazer, então pra ter vontade de fazer as coisas, é necessário começar a fazer, a vontade pode surgir depois. infográfico in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2020

EcoDebate - Edição 3.521 de 25 / setembro / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura A perda da credibilidade do governo brasileiro na preservação ambiental Brasil perde investimentos e protagonismo na agenda ambiental internacional Aquecimento: Verões cada vez mais quentes tornam o Ártico mais verde Biomas brasileiros perderam 8,34% das áreas naturais entre 2000 e 2018 Na Amazônia, a floresta perde espaço para pastagens A ciência clama por salvar a Amazônia Adolescentes x Estudos em casa e uma rotina eficiente e saudável Dicas de autocuidado para o bem-estar mental “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

terça-feira, 22 de setembro de 2020

0,5°C de aquecimento adicional tem um grande efeito nas secas globais

Em um novo estudo de modelagem climática, pesquisadores do Instituto de Ciência Industrial da Universidade de Tóquio revelaram importantes implicações para a seca e aridez globais ao limitar o aquecimento a 1,5 ° C em vez de 2 ° C acima dos níveis pré-industriais. Institute of Industrial Science (IIS), the University of Tokyo* A seca tem sérios impactos negativos na sociedade humana e no mundo natural e é geralmente projetada para aumentar sob a mudança climática global. Como resultado, a avaliação do risco de seca devido às mudanças climáticas é uma área crítica da pesquisa climática. Nos Acordos de Paris de 2015, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) propôs que o aumento da temperatura média global deveria ser limitado entre 1,5 ° C e 2 ° C acima dos níveis pré-industriais para limitar os efeitos das mudanças climáticas severas . No entanto, existem poucos estudos enfocando a importância relativa desse 0,5 ° C de aumento da temperatura média global e que efeito isso pode ter sobre a seca e a desertificação em todo o mundo. “Queríamos contribuir para a compreensão de quão importante esse 0,5 ° C pode ser, mas esse estudo não é fácil de conduzir com base em abordagens de modelagem anteriores”, explica o autor correspondente Hyungjun Kim. “Isso ocorre principalmente porque a maioria dos modelos olha para níveis extremamente altos e você não pode simplesmente tirar uma fatia dos dados enquanto o modelo gira até esse máximo. Portanto, usamos os dados especialmente projetados do Prognóstico de Aquecimento Adicional de Meio Grau e Projetado Impactos (HAPPI) projeto para avaliar os impactos na aridez com base em estimativas do equilíbrio entre água e energia na superfície da Terra. ” O estudo revelou que 2 ° C de aquecimento levou a anos secos mais frequentes e desertificação mais severa na maioria das áreas do mundo em comparação com 1,5 ° C, o que enfatiza que esforços devem ser feitos para limitar o aquecimento a 1,5 ° C acima dos níveis pré-industriais . “Há uma mensagem muito forte de que algumas partes do mundo podem ter secas mais frequentes a 2 ° C do que a 1,5 ° C. Esta situação pode ser especialmente grave no Mediterrâneo, Europa Ocidental, norte da América do Sul, região do Sahel e sul da África “, diz o autor principal Akira Takeshima. “No entanto, esta situação é altamente regional. Em algumas partes do mundo, como Austrália e algumas da Ásia, foi simulada a situação oposta, com um clima mais úmido a 2 ° C do que a 1,5 ° C.” Essas descobertas mostram a importância de considerar os impactos regionais de 0,5 ° C adicional de aquecimento, especialmente com relação a qualquer relaxamento futuro da meta de 1,5 ° C. Referência: Global aridity changes due to differences in surface energy and water balance between 1.5 °C and 2 °C warming Published in Environmental Research Letters (ERL), September 2020 https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/ab9db3 DOI – 10.1088/1748-9326/ab9db3 Authors – Akira Takeshima, Hyungjun Kim, Hideo Shiogama, Ludwig Lierhammer, John F Scinocca, Øyvind Seland * Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/09/2020

Por desmatamento, França se opõe ao acordo com Mercosul

Desmatamento: Relatório encomendado pelo governo indica “oportunidade perdida” e custo ambiental superior a ganho econômico Por Cinthia Leone A França rejeita um acordo de livre comércio em sua forma atual entre União Europeia e Mercosul devido a “grandes preocupações” com o desmatamento na região. O pronunciamento do governo francês vem após a divulgação de um relatório encomendado pelo país sobre o tema. Os franceses devem fazer exigências para que as negociações continuem, o que incluiria crucialmente o respeito aos objetivos do Acordo de Paris contra as mudanças climáticas, disse o governo. O relatório de 184 páginas define o acordo como uma “oportunidade perdida” em questões ambientais e de saúde e concentra boa parte de sua análise na pecuária. O texto estima aumento no desmatamento a uma taxa anual de 5% durante os seis anos seguintes à implementação do acordo, num total de 700.000 hectares. Usando como base o valor unitário de US﹩ 250 por tonelada de CO2 emitido, o documento indica que o custo ambiental do acordo seria maior para a União Europeia do que os benefícios econômicos. “O relatório reforça a posição da França de se opor ao projeto de acordo UE-Mercosul na sua forma atual”, tuitou o primeiro-ministro francês, Jean Castex. “A consistência dos compromissos ambientais de nosso país e da Europa está em jogo.” A ministra do meio ambiente da França, Barbara Pompili, acrescentou, também no Twitter: “Tal projeto teria conseqüências desastrosas em termos de desmatamento, erosão da biodiversidade e mudança climática”. Não iremos por um caminho incompatível com o Acordo de Paris”. No início deste mês, a chanceler alemã Angela Merkel expressou “severas dúvidas” sobre o acordo, dada a extensão do desmatamento, disse seu porta-voz. A Ministra da Agricultura alemã, Julia Klöckner, acrescentou que o “acordo comercial não será ratificado a curto prazo” e que a grande maioria dos ministros da agricultura da UE é “muito, muito céptica” em relação ao acordo. Os parlamentos da Áustria, da Holanda e da região belga da Valônia já indicaram sua oposição ao acordo em sua forma atual. Os cidadãos europeus parecem concordar com seus governos: de acordo com uma pesquisa do YouGov de 10 de setembro, 3 em cada 4 pessoas pesquisadas acreditam que o acordo comercial UE-Mercosul deve ser suspenso se ele impulsionar o desmatamento. Os respondentes da França (78%), Espanha (78%), Alemanha (74%) e Holanda (71%) vêem a necessidade de parar o acordo comercial UE/Mercosul com base em sua contribuição para o desmatamento da Amazônia e seus danos ambientais. A esmagadora maioria do público da Espanha (82%), seguida pelos entrevistados da França (79%), Holanda (75%) e Alemanha (72%) também querem que a UE só concorde com acordos comerciais que estejam de acordo com seus compromissos de enfrentar a mudança climática. Relação entre o Acordo e o desmatamento O acordo da UE com o Mercosul será apresentado ao Conselho Europeu para discussão no outono do Hemisfério Norte, que começa em outubro. O tratado poderia abrir caminho para uma expansão agrícola ainda maior e, com isso, para mais destruição ambiental, já que o Brasil não demonstra conseguir controlar o desmatamento. Por exemplo, o acordo propõe a redução dos impostos sobre a importação de 100.000 toneladas de carne para a UE ao longo de 5 anos, mas o aumento da produção de carne bovina no atual contexto brasileiro contribuirá para o aumento do desflorestamento. A UE é o maior bloco comercial do mundo, representa o maior mercado de exportação para cerca de 80 países e responde por cerca de 16% das importações e exportações mundiais. A Comissão Europeia propõe tornar o respeito ao Acordo de Paris um elemento essencial para todos os futuros acordos comerciais abrangentes. Além, disso, as relações de comércio exterior do bloco devem observar o Pacto Ecológico Europeu , apresentado em dezembro de 2019 e apelidado de “Green Deal”. Nota: Dados completos da pesquisa do Instituto Yougov. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/09/2020

Grupo Casino notificado a parar de vender carne originada de desmatamento

Organizações indígenas e coalizão de ONGs notificam grupo Casino/Pão de Açúcar a parar de vender carne originada de desmatamento no Brasil e na Colômbia A coalizão afirma que o grupo pode ter de enfrentar a lei francesa: “Parem de brincar com nossas florestas”. Uma coalizão internacional de associações (Canopée, CPT, Envol Vert, Mighty Earth, Notre Affaire à Tous e Sherpa) e organizações representativas dos povos indígenas da Amazônia (OPIAC, COIAB, FEPIPA y FEPOIMT) estão convocando o Grupo Casino/Pão de Açúcar a tomar as medidas necessárias para excluir da sua cadeia de abastecimento, no Brasil na Colômbia, e globalmente, a carne bovina oriunda de desmatamento ou de grilagem de territórios indígenas. A Coalizão se reserva o direito de buscar compensações por qualquer dano resultante. O Casino / Pão de Açúcar / Grupo Éxito é um dos maiores e mais influentes grupos de supermercados da França, assim como do Brasil e da Colômbia – com um grande volume de compras de carne em todo o mundo, inclusive no Brasil. A pecuária é o principal fator do desmatamento da Amazônia Segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento atingiu mais de 9.216 km2 na Amazônia brasileira entre Agosto de 2019 e Julho de 2020, período usado como referência para o cálculo da evolução do desmatamento. Isso representa 34,5% a mais que no período anterior. A pecuária é a principal causa. Investigações feitas há quase 10 anos continuam apontando para a responsabilidade dos frigoríficos e dos distribuidores. Eles não apenas adquirem habitualmente carne bovina oriunda de áreas recentemente desmatadas, mas também fazem vista grossa sobre práticas de “lavagem de gado” destinadas a driblar a legislação brasileira. Essas práticas permitem que os responsáveis por crimes ambientais vendam seu gado com total impunidade. Carnes ligadas a desmatamento são vendidas no Brasil em supermercados do Grupo Casino/Pão de Açúcar O Grupo Casino é o primeiro na distribuição no Brasil por meio de sua subsidiária “Pão de Açúcar”. Ele detém 15% do mercado brasileiro. 47% do faturamento mundial do grupo é realizado neste mercado. Em Junho de 2020, a associação ‘Envol Vert’ publicou uma investigação contundente evidenciando provas de desmatamento recente e práticas de grilagem, com base em amostras de produtos de carne vendidos em vários supermercados do Grupo Casino/Pão de Açúcar no Brasil. Segundo Boris Patentreger, fundador da associação Envol Vert, “essas investigações demonstram a existência de vínculos entre várias fazendas envolvidas em desmatamento ilegal e produtos comercializados nos supermercados do Grupo Casino/Pão de Açúcar. Por si só, essas fazendas representam 4497 hectares de desmatamento”. O Grupo Casino/Pão de Açúcar pode estar violando da nova lei francesa “dever de vigilância” Pois é: desde 2017, o Grupo Casino/Pão de Açúcar está sujeito à legislação francesa sobre o dever de vigilância, que obriga a empresa a tomar medidas adequadas para prevenir graves violações dos direitos humanos, do meio ambiente e da saúde e segurança das pessoas, decorrentes das suas operações e atividades ou das de suas subsidiárias, fornecedores ou subcontratados. Embora o Grupo Casino/Pão de Açúcar reconheça explicitamente que a cadeia de fornecimento de carne bovina no Brasil está exposta a riscos extremamente graves, sua política nessa área é claramente falha. Segundo Sandra Cossart, da associação Sherpa, “o simples fato de o Casino declarar em seu plano de vigilância que 100% de seus fornecedores aderiram à sua política sobre desmatamento, enquanto esses mesmos fornecedores são regularmente condenados por seu envolvimento no desmatamento, mostra que esta política é inadequada, ou não implementada, ou ambos”. Etelle Higonnet, Diretora de Campanhas da Mighty Earth, afirmou “O Casino está comprando carne de fornecedores como a JBS, que é uma das piores empresas internacionais quanto ao desmatamento – e também a maior empresa de carne do mundo. A JBS se tornou famosa pela corrupção a partir do escândalo da Lava Jato e pelo seu histórico de envolvimento em trabalho escravo, desmatamento, incêndios na Amazônia, e grilagem de terras indígenas. No entanto, em virtude da nova lei francesa, o Grupo Casino/Pão de Açúcar deve finalmente assumir a responsabilidade em relação à JBS e a todos os seus outros fornecedores de carne que impulsionam o desmatamento ou violações de direitos humanos. Na verdade, todos os supermercados franceses estão agora de sobreaviso: é nossa intenção responsabilizá-los pelo respeito da lei”. Segundo Célia Jouayed, da associação Notre Affaire à Tous, “é necessário que grandes empresas, do porte do Casino, enxerguem toda a abrangência da lei do dever de vigilância. Isso impõe que tomem as medidas concretas visando a prevenir riscos aos direitos humanos, ao meio ambiente e à saúde, não bastando simplesmente identificá-los formalmente em algum documento.” Para os advogados Sébastien Mabile e François de Cambiaire do “Escritório Seattle”, que representam as associações, “esta é uma ação histórica contra o Grupo Casino/Pão de Açúcar, baseada numa lei pioneira que permitirá ao juiz francês ordenar as medidas necessárias para deter a destruição da Amazônia causada por empresas francesas, e reparar os danos sofridos ”. OPIAC, COIAB, FEPIPA, FEPOIMT, CPT, Canopée, Envol Vert, Mighty Earth, Notre Affaire à Tous e Sherpa pedem formalmente ao Grupo Casino/Pão de Açúcar que respeite suas obrigações legais tomando as medidas necessárias para excluir de sua cadeia de abastecimento toda a carne bovina resultando de desmatamento. Caso a empresa não cumpra o prazo de 3 meses previsto na lei, as associações pretendem remeter a questão para o tribunal competente. ______________________________________________________ Envol vert atua pela preservação de florestas e biodiversidade na América Latina (principalmente Colômbia e Peru) e na França. Desde 2011, tem desenvolvido projetos de campo concretos e eficazes que incluem o reflorestamento de áreas degradadas, o desenvolvimento de sistemas agroflorestais e alternativas à extração ilegal de madeira como o ecoturismo, o desenvolvimento de reservas naturais, a preservação ou a reintrodução de espécies. A Envol Vert também realiza campanhas de comunicação e ações de sensibilização para incentivar empresas e cidadãos a mudarem os seus padrões de produção e/ou consumo. Audrey Benard / communication@envol-vert.org / +33 (0) 6 81 25 48 64 (FR/ UK/ ES) Boris Patentreger / bpatentreger@envol-vert.org / +33 (0) 7 76 07 44 19 (FR/ UK/ ES) Mighty Earth é uma organização global de advocacia que trabalha para proteger as florestas tropicais, os oceanos e o clima. Nossas campanhas e nossa equipe têm desempenhado um papel importante em persuadir as maiores empresas de alimentos e agricultura do mundo a adotar políticas para acabar com o desmatamento e as violações dos direitos humanos nas suas cadeias de abastecimento. Como resultado já foram transferidos bilhões de dólares para a adoção de energia limpa. Mighty Earth – Etelle Higonnet / etelle@mightyearth.org / +1 202 848 7792 (FR/ UK/ ES/ BR) Notre Affaire à Tous é uma associação que trabalha para proteger a vida, os bens comuns naturais e o clima através do uso da lei. Vindo do movimento pelo reconhecimento do crime de ecocídio no direito internacional para punir os crimes mais graves contra o meio ambiente e na origem do Caso do Século, os próprios membros do Notre Affaire à Tous se posicionam como “defensores do planeta”, buscando estabelecer através da jurisprudência, da advocacia e da mobilização cidadã uma responsabilidade efetiva e objetiva do ser humano perante o meio ambiente. Cécilia Rinaudo / cecilia.rinaudo@notreaffaireatous.org (FR/ UK) Seattle Advogados é um escritório de advocacia especializado na questão da responsabilidade das empresas em caso de violações ao meio ambiente e aos direitos humanos. Os advogados Sébastien Mabile e François de Cambiaire representam ONGs e coletividades nas primeiras ações interpostas com base na lei do dever corporativo de vigilância, a exemplo das ações contra Total e contra o grupo XPO Logistics, e focam a atenção sobre os debates em curso em nível internacional e europeu sobre a responsabilidade social e penal das multinacionais. Em se tratando de danos particularmente graves para o meio ambiente com consequências não menos graves para os direitos de populações originárias, o Seattle Advogados está colocando suas competências a serviço da coalizão internacional de organizações que exigem do grupo Casino que se conforme à lei sobre o dever de vigilância. François de Cambiaire / fdecambiaire@seattle-avocats.fr / +33 6 87 93 62 05 (FR/ UK) Sébastien Mabile / smabile@seattle-avocats.fr / +33 6 62 65 35 19 (FR/ UK) Sherpa é uma associação criada em 2001 com a missão de combater as novas formas de impunidade vinculadas à globalização e defender as comunidades vítimas de crimes econômicos. Sherpa trabalha para colocar o Direito a serviço de uma globalização mais justa. A ação da associação é baseada em quatro ferramentas interdependentes: pesquisa, litígio, advocacia e capacitação. Essas ações são realizadas por uma equipe de juristas e advogados. As atividades de Sherpa ajudaram a compensar comunidades afetadas por crimes econômicos, a tomar decisões judiciais históricas contra multinacionais e seus líderes e a promover políticas legislativas inovadoras. Lucie Chatelain / lucie.chatelain@asso-sherpa.org / +336 47 11 65 06 (FR/ UK) A OPIAC (Organização Nacional de los Pueblos Indígenas da Amazônia Colombiana) é uma instituição indígena colombiana, uma organização sem fins lucrativos que exerce a representação política dos povos indígenas da Amazônia colombiana perante instituições nacionais e internacionais. Seu principal objetivo é garantir que todos os direitos coletivos e individuais de seus membros sejam respeitados e reconhecidos por todos os atores localizados na região amazônica colombiana. COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), fundada em 19 de abril de 1989 é a maior organização indígena regional do Brasil, que surgiu por iniciativa das lideranças das organizações indígenas. A missão da COIAB é defender os direitos dos povos indígenas à terra, saúde, educação, cultura e sustentabilidade, levando em conta a diversidade dos povos e buscando sua autonomia por meio da articulação política e fortalecimento das organizações indígenas. FEPIPA (Federação dos Povos Indígenas do Pará), fundada em abril de 2016, é uma organização indígena criada para promover o bem-estar social, político, econômico e cultural e os direitos humanos dos povos indígenas. Tem como objetivo defender e discutir os interesses coletivos dos povos e comunidades indígenas do Estado de Pará, promovendo sua organização social, cultural, econômica e política, e fortalecendo sua autonomia. A FEPOIMT (Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso), criada em junho de 2016, nasceu da necessidade de unir para a ação e articulação política, visando à organização social, cultural, econômica e ao desenvolvimento sustentável e político da povos e organizações indígenas de Mato Grosso. Seus principais desafios são a garantia e regularização fundiária, a gestão ambiental, a proteção do território e a luta pelos direitos indígenas. Aliança Global de Comunidades Territoriais: Lucas Tolentino lucas.tolentino@alianzaglobal.me +55 61 9254-0990 (UK/BR) A Comissão Pastoral da Terra (CPT), criada em 1975, é vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Seu compromisso é com a questão crucial da distribuição da terra e contra a destruição do meio ambiente. Suas equipes locais estão presentes em cada estado do Brasil, acompanhando em sua luta comunidades e grupos de base, unindo sua voz à deles, denunciando injustiças, violências, discriminação, trabalho escravo. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/09/2020