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quinta-feira, 3 de setembro de 2020
Lobo-guará sofre com o avanço do desmatamento no Cerrado
As cédulas são uma das maiores divulgadoras da fauna brasileira. Desde 1994, com o surgimento do real, elas trazem estampados os animais que povoam a biodiversidade do país.
Por Claudia Leone
Agora, para a nota de R$ 200, que o Banco Central coloca em circulação nesta quarta-feira (2), a imagem escolhida é a do Lobo-Guará, o maior canídeo sul-americano e típico do Cerrado.
“O lobo-guará é talvez a espécie mais icônica do bioma Cerrado. É um animal sempre associado à imagem dos vastos campos e savanas permeados pelas belíssimas veredas que compõem as paisagens especiais do Brasil Central. É muito importante associarmos nosso patrimônio natural a símbolos de valor, mas isso precisa vir associado à consciência de que, para sobreviverem, necessitam que seu habitat natural esteja preservado”, alerta Reuber Brandão, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e professor associado da Universidade de Brasília.
Elegante e discreto, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é o maior canídeo silvestre da América do Sul. Números estimados apontam que no Brasil há cerca de 24 mil indivíduos, com a maior parte deles vivendo no Cerrado. Eles podem ser encontrados ainda, em menor número, na Mata Atlântica, no Pantanal e no Pampa.
O lobo-guará figura na lista de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente, na categoria de vulnerável, e depende da preservação de seus ambientes naturais para continuar existindo. O comprometimento dos seus habitats está associado ao crescimento das chamadas áreas antropizadas (onde a natureza sofre a ação do homem). Além da degradação do meio afetar diretamente a manutenção da vida nessas localidades, o avanço desordenado de atividades humanas sobre o Cerrado proporciona a perda de habitats, o aumento da caça, de atropelamentos e da disseminação de doenças a partir do contato com cães domésticos.
Estima-se que cerca da metade da área original do Cerrado já tenha sido destruída. Incêndios florestais, obras de infraestrutura para energia hidrelétrica e demanda por carvão vegetal para a indústria siderúrgica também ameaçam o bioma.
“Precisamos entender que existe diferença entre valor e grandeza. Apesar da escolha da espécie para ilustrar as novas cédulas de real ser positiva, o valor destes organismos e da natureza brasileira é imensamente superior ao valor nominal do dinheiro. Nesse caso, a grandeza se traduz por meio de medidas efetivas pela proteção do patrimônio natural imenso, insubstituível e único. É atribuir valor à conservação da biodiversidade, do bioma Cerrado, das Unidades de Conservação de Proteção Integral e ao icônico e elegante lobo-guará”, avalia Brandão.
O lobo-guará
O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) pode atingir até um metro de altura e pesar 30 quilos. Sua pelagem laranja avermelhada, além da beleza, lhe confere alguns apelidos, como lobo-de-crina e lobo-vermelho. Sua gestação dura pouco mais de dois meses, com média de dois filhotes. Livre na natureza, vive cerca de 15 anos. Além do Brasil, é encontrado na Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai.
Tem comportamento discreto, solitário e pouco ofensivo, preferindo se manter distante dos humanos. Geralmente, pode se alimentar de animais de grande porte, como os veados campeiros, ou de pequeno porte, como roedores, tatus e perdizes, além de frutos típicos do Cerrado, como o araticum (Annona crassiflora) e a lobeira (Solanum lycocarpum), também atuando como importante dispersor de sementes.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/09/2020
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