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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

OS DIREITOS URBANOS NA AMÉRICA LATINA

Nos últimos anos, o conceito de cidades inteligentes ganhou preponderância em relação ao desenho e funcionamento, mas, ao mesmo tempo, alimenta a dúvida se esse esquema contribuirá para que seus habitantes tenham acesso a diferentes direitos.
Por Emilio Godoy, da IPS – 
Cidade do México, México, 30/9/2016 –  “Por trás do conceito, há um trabalho de marketing muito grande, mais do que um trabalho real de conceptualização. Existe como uma ideia muito global, como a criação de infraestrutura urbana na qual se mesclam meios digitais e físicos”, opinou à IPS o cofundador da organização não governamental mexicana Medialabmx, Leonardo Aranda.
O especialista, cuja organização desde 2013 trabalha no desenvolvimento e na apropriação da tecnologia com fins sociais e culturais, disse que falta saber se as cidades inteligentes “se converterão em uma solução ou são apenas uma charada, na qual as grandes corporações buscam o investimento público muito grande que existe e encontram um discurso muito fácil de vender e que as cidades estão comprando”.
Para Aranda, as tecnologias podem ajudar a resolver problemas urbanos, mas também podem criar outros. “É um problema geral da tecnologia, não soluciona problemas por si só, tem a ver com seu desenho”, afirmou.
O Grupo Temático sobre Cidades Sustentáveis e Inteligentes da União Internacional de Telecomunicações as define com  cidades inovadoras que utilizam as tecnologias da informação e comunicação e outros meios para melhorar a tomada de decisões, a eficiência das operações, a prestação dos serviços urbanos e sua competitividade, para procurar a satisfação das necessidades econômicas, sociais e ambientais.
As cidades inteligentes, também conhecidas pelo termo inglês Smart Cities, estarão no foco da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Humano Sustentável (Habitat III), que acontecerá entre 17 e 20 de outubro, organizada pela ONU Habitat.
De fato, no rascunho da Declaração de Quito Sobre Cidades Sustentáveis e Assentamentos Humanos Para Todos, acordado no dia 10 deste mês, os Estados parte se comprometem a “adotar um enfoque de cidade inteligente, que faz uso de oportunidades da digitalização, energia limpa e tecnologias, bem como tecnologias de transporte inovadoras, proporcionando opções para a população tomar decisões mais amigáveis com o ambiente, e promover o crescimento econômico sustentável que permita melhorar a prestação de serviços.
Na América Latina, onde 80% de seus mais de 600 milhões de habitantes vivem em cidades, as metrópoles médias e grandes enfrentam o congestionamento no trânsito, a poluição do ar, o estresse hídrico, o crescimento desordenado, os assentamentos irregulares, o aumento da temperatura e trâmites burocráticos.Inicialmente, acreditou-se que o desenvolvimento de aplicativos para telefones e outros dispositivos inteligentes era a base do entorno digital urbano para atender problemas como tráfego, buracos nas ruas ou a qualidade do ar.
Não houve metrópole que não os criasse, mas essa visão logo ficou para trás.Em uma tentativa de paliar esses flagelos, várias cidades decidiram aplicar soluções inteligentes, cujos resultados ainda não são claramente visualizados.O Brasil incentiva o projeto de acesso a banda larga mediante a Rede de Cidades Digitais, que inclui 300 municípios. Além disso, o Rio de Janeiro implantou o Centro de Operações Rio, pelas mãos da transnacional norte-americana IBM.
A Colômbia, por sua vez, executa o Plano Vive Digital 2014-2018 e a cidade de Medellín representa o caso mais emblemático da região, porque coloca a tecnologia como um instrumento e não um fim.O projeto Cidade Inteligente, liderado pela Prefeitura da segunda cidade colombiana, incentiva o bom uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC), ancorado em inovação social, sustentabilidade, governo aberto e participação da cidadania.
Por esses progressos, Medellín recebeu, em março deste ano, o prestigiado Prêmio à Cidade Global Lee KuanYew, concedido pela Autoridade para o Redesenho Urbano e pelo Centro para as Cidades Habitáveis de Cingapura, que distingue metrópoles socialmente inovadoras.
O Chile definiu cinco desenhos para cidades inteligentes. Em abril, a Prefeitura de Santiago anunciou que a plataforma DOM Digital, para trâmites e serviços, já estava online em três áreas territoriais das 52 existentes na região metropolitana.No Uruguai, o maior exportador de programas de informática da América Latina, o projeto Montevidéu 2030, busca se converter na plataforma de TIC mais desenvolvida da região.
Para a urbanista Zulma Bolívar, presidente do Instituto Metropolitano de Urbanismo Taller Caracas, a máxima autoridade na ordenação urbanística da Prefeitura Metropolitana de Caracas, a soma de governantes e cidadãos inteligentes gera cidades inteligentes.A funcionária dessa Prefeitura, em mãos opositoras ao governo federal da Venezuela, destacou que a política pública deve se integrar “a partirdo local” e oferecer resultados efetivos.
“O nome tem marketing. As cidades precisam primeiro atender o básico dos requerimentos para depois aspirarem algo tão sofisticado com a conexão à internet. Aceitamos e  procuramos assimilar a tecnologia e que esta ajude os processos, mas quando não se pode andar na rua com o celular na mão, que inteligência tem essa cidade?”, questionou a urbanista à IPS.
Para os cinco municípios da área metropolitana da capital, de aproximadamente seis milhões de habitantes, opera o Plano Caracas 2020, sobre os vetores de acessível e em movimento, segura e integrada, sustentável, produtiva e empreendedora, governável e cidadã. Mas a crise institucional e política venezuelana praticamente acabou com o projeto.
Em seu informe O Caminho para as Smart Cities: Migrando de Uma Gestão Tradicional Para a Cidade Inteligente, publicado em julho, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) destacou que as cidades latino-americanas enfrentam desafios como segurança da sociedade, mobilidade urbana sustentável, gestão de riscos, prevenção e resposta a desastres, eficiência energética, gestão hídrica, manejo de resíduos, governo eletrônico e inclusão digital.
Mediante seu Programa Cidades Emergentes e Sustentáveis, o BID assessora, desde 2011, 76 cidades da região em áreas como mudança climática, sustentabilidade ambiental,urbana e fiscal, e governabilidade. Pelo menos dez delas já contam com estudos de viabilidade em temas de gestão inteligente.
Os especialistas esperam que a Habitat III transmita detalhes sobre a melhor forma de avançar para cidades inteligentes.“A Declaração de Quito pode soar bem ou muito geral. A inovação pode significar um monte de coisas, gerar redes de transporte inteligente que permita mobilidade mista ou introduzir unidades novas com geolocalizadores”, que implicará muito investimento público, explicou Aranda.
Para Bolívar, a reunião deve atender as cidades pequenas, “onde inclusive não há sinal telefônico e não se pode nem mesmo usar um celular”. A urbanista pediu “que se consiga a equidade, que a distribuição de cargas e benefícios seja um pouco mais homogênea e que o habitat ofereça todos os serviços. Se algo devemos propor é que o beneficio seja coletivo e que ajude a governabilidade dos países”. Envolverde/IPS

Mundo pode exceder 2 graus já em 2050

emissoesAlerta é de relatório divulgado por pioneiros da ciência climática, que apontam que meta de 1,5oC do Acordo de Paris está “quase certamente perdida” devido à falta de ação no passado.
Por Claudio Angelo, do OC –
Um grupo de cientistas idosos e já sem papas na língua resolveu contar “a verdade sobre as mudanças climáticas” num relatório publicado nesta quinta-feira (29). E o que eles têm a dizer não é nada conveniente para o estado geral de oba-oba que se instalou no mundo após o sucesso do Acordo de Paris. Segundo o relatório, a meta mais alta do tratado do clima, de estabilizar o aquecimento global em 1,5oC, está “quase certamente perdida” devido às emissões de carbono do passado. E a meta mais baixa, de estabilização em menos de 2oC, pode ser perdida já em 2050 caso não seja feito um esforço de corte de emissões muito maior do que qualquer coisa que esteja na mesa de negociações hoje.
“Esse relatório reflete o drama dos cientistas que começaram a alertar para o problema”, disse ao OC o físico José Goldemberg, 88, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Ele é um dos sete autores do documento, capitaneado pelo inglês Robert “Bob” Watson, 68, primeiro presidente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). “Os cientistas que começaram isso estão cansados, velhos e vão morrer em breve”, brincou Goldemberg. “Eles se sentem obrigados a alertar sobre a espada de Dâmocles que paira sobre a humanidade”, prosseguiu, a sério, referindo-se ao aquecimento global.
O relatório, publicado por uma fundação argentina, é um documento curto, de 12 páginas, que se propõe a responder a oito perguntas incômodas. Entre elas, “por que tem sido tão difícil agir sobre o clima?”, “por que o público não entendeu a urgência da mudança climática?” e “uma transição para as energias renováveis resolverá a mudança do clima?”
Uma das maneiras de encontrar essas respostas foi fazer o que cientistas físicos fazem de melhor: botar números sobre a mesa. Segundo eles, para estabilizar o aquecimento em menos de 2oC, as emissões globais (54 bilhões de toneladas de CO2 hoje) deveriam cair 22% até 2030. No entanto, se todos os compromissos dos países para o Acordo de Paris (as chamadas NDCs) forem cumpridos na íntegra, as emissões em 2030 estarão no mesmo nível das atuais. Se apenas a parte não-condicionada (ou seja, as reduções que os países farão mesmo na ausência de financiamento externo, por exemplo) for cumprida, as emissões em 2030 serão 6% menores do que as de hoje.
O “buraco” de implementação para cumprir a meta seria de 17 bilhões de toneladas, o equivalente a todas as emissões da produção de energia do mundo inteiro. Para que a porção condicional das INDCs seja cumprida, os países em desenvolvimento precisarão de dinheiro dos ricos, que em Paris prometeram US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020. Estamos em 2016 e pouco mais de 10% disso foi disponibilizado por governos desenvolvidos.
Segundo Watson e colegas, mesmo com os compromissos já adotados o aquecimento global tende a ultrapassar o limite de 2oC no meio do século. Apenas entre 2012 e 2015 a temperatura já subiu de 0,85oC além da média pré-industrial para 1oC, e há mais 0,4oC a 0,5oC de aquecimento já comprometido devido à inércia do sistema climático, por conta dos gases emitidos no passado e da inação nos últimos 20 anos.
“A principal preocupação não é quando o objetivo de 2oC será excedido, mas com os impactos da mudança climática resultantes de tal aumento”, escreveram os autores. “Eventos extremos climáticos dobraram em número desde 1990. Um aumento na temperatura global de 2oC no próximo par de décadas implica em dobrar novamente o número desses eventos.”
Para desespero daqueles que vêm alardeando a transição para uma matriz elétrica renovável – algo que começa a ganhar tração no mundo, com o crescimento explosivo da energia solar e a queda de seu preço – como a panaceia para a crise do clima, os cientistas dizem que apenas isso não vai dar conta do recado.
O que o grupo advoga é uma “mudança radical” na maneira como o mundo produz e usa energia, atingindo emissão líquida zero em 2060 a 2075. Porém, como a humanidade procrastinou no clima por 20 anos, isso exigirá “opções mais restritivas e caras”. Entre elas, a chamada captura e armazenagem de carbono (CCS) pelas plantas de combustíveis fósseis e as emissões negativas, com CCS em usinas de bioenergia (o chamado BECCS) – uma tecnologia que os próprios pesquisadores dizem ainda não estar demonstrada e que traz riscos diversos. “As INDCs inadequadas aceleraram a dependência dessas tecnologias”, afirmam Watson e seus coautores.
Eles dizem esperar que tal dependência possa ser “reduzida” por meio do aumento da ambição das INDCs, a partir de 2018. (Observatório do Clima/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.

QUEM PAGA PELO DESPERDÍCIO ?

A quantidade de ouro em lixões pode ser maior do que em minas de onde ele é extraído. Foto: Shutterstock
A quantidade de ouro em lixões pode ser maior do que em minas de onde ele é extraído. Foto: Shutterstock
Por Washington Novaes*
Relatório divulgado há poucos dias na Europa informa que o velho continente poderia economizar mais de US$ 1,8 trilhão por ano com avanços na gestão do lixo. E um terço disso seria resultado apenas da economia no consumo de recursos naturais. O Brasil, segundo a empresa consultora (McKinsey), também poderia ganhar muito, já que cada pessoa produz em média 330 quilos anuais de resíduos.
Um dos exemplo apontados de desperdício no lixo é o da quantidade de ouro em lixões, que pode ser maior que a existente em minas de onde o metal é extraído. A vantagem poderia ser ainda maior para recicladores se se reduzisse a carga tributária sobre produtos reciclados, em alguns casos maior que a aplicada a materiais virgens.
É um sinal de avanço, por isso a apresentação em Santa Catarina do primeiro documento declaratório de resíduos industriais, por um acordo entre a Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes e a Fundação do Meio Ambiente. Já aderiram ao sistema 18 mil empresas da região. E foram emitidos 328,7 mil manifestos de transporte de resíduos (retoquejor.com.br). Com isso, é possível acompanhar todas as etapas da cadeia de destinação de resíduos sólidos no Estado – influenciando a produção, o transporte, o destino e o aproveitamento desses resíduos.
A iniciativa é importante por muitos ângulos. Por exemplo: as emissões de gases do efeito estufa no Brasil provenientes do setor de resíduos sólidos continuam a crescer e, segundo o relatório lançado em setembro, atingiram o maior número nos últimos 44 anos, com 68,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalentes – com aumento de 80% entre 2000 e 2014 e de 500% desde 1970. Embora essas emissões representem apenas 3,7% do total dos vários setores geradores (mudanças no uso da terra, energia, agropecuária e processos industriais), têm grande impacto na atmosfera por causa da geração de gases com maior potencial de aquecimento, como o metano (21 vezes mais potente que o dióxido de carbono) e o óxido nitroso (310 vezes mais potente).
Curiosamente, diz o estudo, as emissões de gases de efeito estufa em 2014 no País permaneceram estáveis em relação ao período anterior, apesar da queda de 18% na taxa de desmatamento na Amazônia. O Brasil emitiu 1,558 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente – uma redução de 0,9% em relação a 1,571 bilhão de toneladas emitidas em 2013. As razões ainda não foram explicitadas.
É possível que mais à frente os cientistas se deparem com dificuldades diante das taxas de desmatamento na Amazônia entre 2014 e 2015, que aumentaram 24%, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe (amazonia.org, 27/9). São dados a serem divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente na primeira semana de outubro.
De agosto de 2014 a junho de 2015 foram desmatados 6.207 quilômetros quadrados, ou 6,45% acima do estimado em fins de novembro. Os Estados que mais desmataram, pela ordem, foram Pará, Mato Grosso e Rondônia. Uma das hipóteses é a de que os sistemas de controle já não funcionem com a mesma eficácia – embora haja diferenças entre alguns Estados e outros.
Uma revisão recente realizada pelo Inpe mostra que a perda florestal, com base nos dados de 2015, é de 6.207 quilômetros quadrados, quando em novembro se calculava em 5.835 km2 (16% mais que em 2014). O novo número é 4,1 vezes a área da cidade de São Paulo (Observatório do Clima, 27/9). Um exemplo mais das altas taxas de desperdício de patrimônios valiosos.
Há poucos dias foram publicados (Folha de S.Paulo, 26/9, texto de Leão Serva) dados sobre o desperdício num setor como o de veículos. Segundo o texto, “a propaganda de carros continua oferecendo virilidade e glamour, enquanto entrega congestionamento, estresse, doenças e aquecimento global”. E por isso mesmo “metade dos moradores da maior cidade do Brasil buscam jeitos de usar menos o automóvel”, diante das “irracionalidades deste: gasta cerca de 95% do combustível para ‘levar a si mesmo’; um veículo médio pesa cerca de 1,5 mil quilos, o motorista 75 kg (5%); e os carros levam geralmente só uma pessoa: quer coisa mais irracional?” E segue “o desfile de irracionalidades”: o carro só é usado para rodar 20 km diários; a desvalorização é rápida; são altos os custos com IPVA obrigatório, seguro, manutenção – um total de 10%, fora a desvalorização de 20%. Ainda é possível falar em incentivos fiscais. E outro estudo assegura que a gasolina deveria custar cinco vezes mais que seu preço.
Para quem achar que são os únicos desperdícios, depois de não ter êxito na venda de suas empresas de energia térmica (altamente poluidoras) a Petrobrás está tentando agora (Folha de S.Paulo, 27/9) agrupar todas as unidades numa única empresa, “para oferecer depois uma participação a outro investidor”. O plano prevê investimentos de US$ 74,1 bilhões nos próximos cinco anos e estabelece nova metade vendas de ativos, de US$ 19,5 bilhões entre 2017 e 2018. Nesse processo, deixará de atuar nos segmentos de petroquímica, fertilizantes e biocombustíveis. Mas continuará com a energia térmica, “para usar quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas estiver baixo”.
Mais desperdício? A Fundação Getúlio Vargas mostra que “46% das 851 obras contratadas com recursos do FGTS no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não foram concluídas, estão paralisadas” ou nem sequer foram iniciadas (Danielle Nogueira, O Globo, 26/9). Dos R$ 28,6 bilhões em financiamentos, R$ 17,5 bilhões foram para 398 contratos cujas obras estão pendentes.
Desmatamento, destinação do lixo sem nada pagar ao poder público, nenhum pagamento de custos pela poluição do ar, etc., etc. – assim vamos, desperdiçando sem cobrar custos. O poder público paga, transfere para quem não tem poder. (O Estado de S. Paulo/ #Envolverde)
Washington Novaes é jornalista (e-mail: wlrnovaes@uol.com.br).
** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

Duplicaram as ações para tornar o sistema financeiro mais verde, segundo o PNUMA




Anda
30/09/2016EDIÇÃO 895
CONTEÚDO ANDA
Elefante é libertado após 50 anos de abusos e exploração
CONTEÚDO ANDA
Tigres enclausurados em aquário nunca viram a luz do sol 
CONTEÚDO ANDA
Vacas cegas resgatadas se tornam amigas em santuário 
SOMOS UM - SILVIA LEONEL
A indústria agropecuária e sustentabilidade 
CONTEÚDO ANDA
Mais de 20 mil pessoas pedem o fim da exploração animal em circos na Suécia 
CONTEÚDO ANDA
Filhote morre após ser agredido e agonizar em uma mala fechada 
Compaixão
"Existe um ditado que diz: diga-me com quem ANDAs e te direi quem és. Então, se vc tá seguindo essa pegada, quer dizer que faz parte da minha turma. Defe..."
Lúcia Veríssimo
Atriz
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Importantes Zonas De Biodiversidade Permanecem Desprotegidas No Mundo, Diz PNUMA

As áreas de proteção ambiental cobrem quase 20 milhões de quilômetros quadrados, ou cerca de 15% do planeta, número que está pouco abaixo das Metas de Aichi de Biodiversidade, adotadas por mais de 190 países em 2010, que prevê 17% de cobertura em 2020. No entanto, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as conquistas em número e tamanho têm de ser acompanhadas de melhoras em sua qualidade, com a proteção de lugares com maior diversidade biológica.
Vista aérea da Amazônia. Brasil é o país com o maior sistema de terras protegidas do mundo, com 2,47 milhões de quilômetros quadrados. Foto: EBC
Vista aérea da Amazônia. Brasil é o país com o maior sistema de terras protegidas do mundo, com 2,47 milhões de quilômetros quadrados. Foto: EBC
Com 14,7% da superfície da Terra e 12% de suas águas territoriais protegidas, o mundo está a caminho de cumprir um importante objetivo global de conservação, de acordo com novo relatório apresentado no início deste mês pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
No entanto, o relatório “Planeja Protegido 2016” mostrou que áreas cruciais de biodiversidade permanecem desprotegidas, enquanto espécies e habitats estão subrepresentados e uma gestão inadequada limita a efetividade dessas áreas.
“As grandes conquistas em número e tamanho das áreas protegidas das últimas décadas têm que ser acompanhadas de melhoras em sua qualidade”, disse o diretor-executivo do PNUMA, Erik Solheim.
“O mundo deve fazer mais para proteger de forma efetiva os lugares com maior diversidade biológica. As áreas protegidas devem estar mais bem conectadas, para permitir que as populações de animais e plantas se mesclem e se disseminem. Também é importante assegurar que as comunidades locais estejam envolvidas nos esforços de proteção. Seu apoio é crucial para a conservação no longo prazo”, completou.
“Hoje, o mundo enfrenta desafios ambientais e sociais críticos, como a mudança climática e a segurança alimentar e da água”, disse, por sua vez, Inger Andersen, diretor-geral da UICN. “As áreas protegidas têm um importante papel na conservação das espécies e nos ecossistemas que nos ajudam a fazer frente a esses desafios. Assegurar que sejam cuidadosamente mapeados e eficientemente administrados é crucial se quisermos continuar prosperando neste planeta”.
Segundo os cientistas da UICN e do Centro Mundial de Monitoramento da Conservação do PNUMA, atualmente há 202.467 áreas protegidas que cobrem quase 20 milhões de quilômetros quadrados, ou 14,7% do planeta, com exceção da Antártida. Esse número está pouco abaixo das Metas de Aichi de Biodiversidade, adotadas por mais de 190 países em 2010, que preveem 17% de cobertura em 2020.
A cobertura de áreas protegidas caiu 0,7% desde o último relatório Planeta Protegido. Os cientistas acreditam que não se trata de uma diminuição real da cobertura de solos, mas uma consequência de fatores relacionados a fluxos de dados, tais como mudanças nas fronteiras, eliminação de alguns sítios de grande porte da Base de Dados Mundial de Áreas Protegidas ou de uma melhora na qualidade das informações.
A região da América Latina e do Caribe possui a maior área protegida do mundo, quase 5 milhões de quilômetros quadrados. Cerca da metade está no Brasil, país com o maior sistema de terras protegidas do mundo, com 2,47 milhões de quilômetros quadrados.
O Oriente Médio, por outro lado, tem o índice mais baixo de proteção de terras, com cerca de 3%, que equivale a cerca de 119 mil quilômetros quadrados.
A última década viu um progresso notável na proteção dos oceanos no mundo. O tamanho das áreas marinhas protegidas aumentou de pouco mais de 4 milhões em 2006 para quase 17 milhões de quilômetros quadrados atualmente, o que cobre 4% dos oceanos da Terra, quase o tamanho da Rússia. No entanto, apesar do crescimento, ainda resta muito a fazer para melhorar a qualidade das áreas protegidas, segundo o PNUMA.

Áreas de importância para a biodiversidade

Atualmente, menos de 20% das áreas-chave de biodiversidade do mundo estão completamente cobertas por áreas protegidas, enquanto menos de 20% dos países cumpriram seus compromissos para avaliar a gestão de suas áreas protegidas, o que levanta dúvidas sobre a qualidade e a eficácia das medidas de conservação existentes.
O relatório recomenda investir em áreas protegidas para fortalecer a gestão sustentável da pesca, controlar as espécies invasoras, fazer frente à mudança climática e reduzir os incentivos prejudiciais, como os subsídios, que ameaçam a biodiversidade.
A adoção dessas recomendações ajudaria a deter a perda de biodiversidade, melhorar a segurança alimentar e da água, permitir às comunidades vulneráveis fazer frente aos desastres naturais e conservar o conhecimento tradicional.

Novos dados

Desde que os dados do relatório foram coletados, foram declaradas novas áreas marinhas protegidas, como a recente expansão ordenada pelo presidente norte-americano, Barack Obama, do Monumento Nacional Marinho Papahanaumokuakea no Havaí, oito novos sítios protegidos em Malta e grandes áreas marinhas protegidas no Chile e em Palau. Isso fez com que a taxa das águas territoriais protegidas aumentasse para 11,95%, ante 10,2% citado no documento.
O relatório Planeta Protegido 2016 avalia a forma com a qual as áreas protegidas contribuem para a realização do Plano Estratégico para a Diversidade Biológica e as metas pertinentes dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Nele se destacam estudos de pesquisa e casos atuais sobre o papel que as áreas protegidas desempenham na conservação da biodiversidade e do patrimônio cultural.

Da ONU Brasil, in EcoDebate, 30/09/2016

Sistema De Informação Sobre A Biodiversidade Brasileira (SiBBr) Ganha Ferramentas De Busca

Plataforma passa a contar com dicionário taxonômico e validador de nomes científicos


O SiBBr conta com, aproximadamente, 9 milhões de registros de ocorrências de quase 100 mil espécies brasileiras. Foto: Divulgação/MCTIC


Um novo conjunto de ferramentas e serviços facilitará buscas por dados e pesquisas acadêmicas no Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Os mecanismos foram lançados durante o 67º Congresso Nacional de Botânica, que acontece até sexta-feira (30), em Vitória (ES).
Os aplicativos podem consolidar o SiBBr como a principal infraestrutura nacional de dados e conteúdos sobre a biodiversidade. Cada uma recebeu o nome de uma espécie brasileira.
AttaPublica, por exemplo, é uma porta de entrada para os publicadores do sistema e homenageia as formigas do gênero Atta, que apresentam uma complexa organização social e vivem em ninhos subterrâneos.
Já o HarpiaTax é um dicionário taxonômico, que permite a consulta fácil e rápida do status de um nome científico. Como bases de dados para a pesquisa, o material utiliza o Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil e a Lista de Espécies da Flora do Brasil – Reflora. As duas publicações abrangem boa parte da biodiversidade conhecida do Brasil e são listas de referência para o SiBBr. O nome da ferramenta homenageia a popularmente conhecida Harpia ou Gavião-Real, a maior água brasileira, considerada criticamente em perigo em alguns Estados do País.
RivulusValida é um validador de nomes científicos. Por meio da ferramenta, é possível carregar uma planilha com vários nomes científicos e verificar se eles são aceitos, sinônimos ou inválidos, bem como a referência da fonte consultada. O nome homenageia os peixes do gênero Rivulus, que vivem em ambientes aquáticos temporários, como poças da água, e se locomovem por meio de saltos.
Junto às ferramentas também está disponível o SiBBr Fórum, um espaço de discussão, informações e suporte sobre as ferramentas e serviços do sistema, softwares de curadoria de coleções, publicação de dados biológicos e outros temas.
Sistema
Criado em novembro de 2014, o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) que reúne aproximadamente 9 milhões de registros de ocorrências de quase 100 mil espécies brasileiras.
A iniciativa tem suporte técnico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e apoio financeiro do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).
Fonte: Portal Brasil, com informações do MCTIC
in EcoDebate, 30/09/2016

Filme ‘A Lei Da Água – Novo Código Florestal’ Está Disponível Gratuitamente Nas Plataformas Youtube E Vimeo

Com direção de André D’Elia e produção executiva de Fernando Meirelles, filme alerta sobre consequências da nova lei e o que ainda pode ser feito para evitar mais prejuízos ao meio ambiente.

Filme 'A Lei da Água – Novo Código Florestal'

A O2 Play, distribuidora da O2 Filmes, disponibilizará gratuitamente o documentário “A Lei da Água – Novo Código Florestal” nas plataformas online Vimeo e em seu canal no Youtube. O longa tem direção de André D’Elia, com produção executiva de Fernando Meirelles, e retrata a polêmica sobre as mudanças na legislação que prevê a importância das florestas para a conservação dos recursos hídricos no Brasil, nas propriedades rurais e cidades brasileiras. A produção é da Cinedelia, produtora de cinema e vídeo especializada em projetos socioambientais, e a co-produção da O2 Filmes.
O longa “A Lei da Água – Novo Código Florestal” é um documentário realizado sem fins lucrativos, com financiamento coletivo e parcerias entre o Instituto Socioambiental (ISA), WWF-Brasil, Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e Bem-Te-Vi Diversidade. O documentário atingiu um financiamento coletivo online, que permitiu a viabilização do filme “A Lei da Água” em 14 salas de cinema de todo o Brasil, além da produção de 1.500 cartilhas que foram distribuídas em debates com especialistas durante as exibições do filme. Os produtores de “A Lei da Água” destinaram a verba arrecadada em prol de exibições em escolas públicas e ONGs, foram mais de 400 exibições gratuitas, com uma estimativa de público de 20.000 espectadores.
O documentário brasileiro retrata a importância das florestas para a conservação das águas, explicando a relação do novo Código Florestal e a crise hídrica brasileira. As florestas são importantes para a preservação da água, do solo e também para a produção de alimentos que necessitam a ação de polinizadores, como o café, o milho e a soja. O diretor André D’Elia entrevistou agricultores, especialistas, cientistas e parlamentares que apoiam a Ação Direta de Inconstitucionalidade do novo Código Florestal no Supremo Tribunal Federal. Entre os entrevistados no filme, estão o senador e ex-governador Blairo Maggi (PR-MT), os deputados federais Ivan Valente (PSOl-SP) e Ricardo Trípoli (PSDB-SP), a sub-procuradora da República Sandra Cureau, o ambientalista Mário Mantovani, pesquisadores de instituições como a USP e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre outros.
A distribuição da O2 Play foi realizada de forma diferenciada e não convencional, através da concretização do financiamento. As sessões foram realizadas exclusivamente em cada cidade e quando o número era atingido o mínimo necessário para a exibição em uma sala, outra sessão para esta mesma cidade era aberta para compra. Ao fim de cada sessão, os financiadores participavam de um debate especial sobre o filme, e recebiam uma cartilha com dicas de como ajudar na campanha. “É um jeito de oferecer mais do que uma sessão de cinema, mas uma experiência completa que permita um aprofundamento a respeito da questão ambiental” afirma Igor Kupstas, Diretor da O2 Play.
A disponibilidade gratuita nos canais online permite um alcance de público ainda maior, além de trazer esclarecimentos necessários sobre o novo código para a sociedade. “Em um momento como o que estamos vivendo, de crise hídrica, o público tem solicitado cada vez mais exibições do filme, até mesmo para entender o Código Florestal aprovado pelo Congresso Nacional”, explica o diretor André D’Elia.
Atualmente, o Instituto Socioambiental (ISA) e as organizações Mater Natura, Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) fazem parte das quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Lei 12.651/2012, que revogou o antigo Código Florestal. O ISA encaminhou ao tribunal uma manifestação conhecida como amici curiae, que é um levantamento de dados científicos recentes que demonstram a importância para a população e a economia brasileiras dos serviços socioambientais prestados pela vegetação nativa. O documentário “A Lei da Água – Novo Código Florestal” também foi anexado à petição. As entidades ambientalistas, preocupadas com os impactos negativos gerados pela nova lei, exigem urgência no julgamento das ADIs. “As ADIs do Código Florestal são as ações judiciais de maior relevância para a pauta ambiental da história, já que impactam diretamente a proteção florestal brasileira”, reforça Maurício Guetta, advogado do ISA responsável pela manifestação. “Há questões nesse processo sobre as quais o STF se pronunciará pela primeira vez, tornando este caso emblemático em termos de evolução da jurisprudência. Por isso, apresentamos agora ao STF a compilação dos estudos jurídicos e técnico-científicos sobre o tema, de modo a municiar os ministros dos elementos necessários para o julgamento”, conclui.
O documentário “A Lei da Água – Novo Código Florestal” teve sua pré-estreia no auditório do Ibirapuera, dia 31 de agosto de 2014, no encerramento da Virada Sustentável de 2014, e o lançamento mundial, aconteceu no dia 14 de maio de 2015. O documentário foi premiado no Festival Brasil de Cinema Internacional, como Melhor Filme na categoria “Nosso Planeta” e Melhor Produtor, além do prêmio de Melhor Filme pelo público da Competição Latino-Americana pela 4ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental.
Assista “A Lei da Água – Novo Código Florestal”

Sobre André D’Elia
Paulistano, André D’Elia cursou Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo, durante o qual trabalhou em cerca de 50 filmes curtas metragens em película, 16 ou 35 mm, e mais 40 vídeos. Destes projetos André dirigiu sete filmes e trabalhou como diretor de fotografia em outros 14. Se formou dirigindo o filme “Depois da Ponte” em 2009/2010 – um curta metragem ficcional sobre um jovem violeiro do interior do Brasil em busca de liberdade.
Trabalhando na produtora Goma Filmes, na produção do filme “Vida Sobre Rodas” de 2011, um documentário sobre a história do skate no Brasil e no qual assina como assistente de câmera, fotografo adicional e assistente de direção, André foi responsável pela seleção e captura de material de pesquisa e acervo em grandes emissoras de televisão. Foi durante as pesquisas que D’Elia teve a ideia de fazer o filme “Belo Monte – Anúncio de uma Guerra”, sobre a construção da hidroelétrica no rio Xingu, estado do Pará. Depois de viajar a Amazônia, percebendo que não havia informações confiáveis sobre o tema, André resolveu fazer um documentário investigativo.
Em novembro de 2011, foi lançada na internet uma campanha de financiamento coletivo para Belo Monte. Mais de 3 500 pessoas do Brasil e do mundo financiaram o processo de pós-produção do filme, juntando cerca de 140 mil reais e batendo o recorde de maior caso de financiamento coletivo em plataforma aberta do Brasil. “Belo Monte” já foi assistido por 45 mil pessoas nos cinemas e 3,7 milhões de na internet. .
Realizador de três curtas metragens lançados na internet sob forma de uma campanha de conscientização (“Direitos Indígenas”, “MOB. Nacional Indígena” e “PEC 215 – Nó na Garganta”), em 2012 D’Elia e o diretor de som Diego Depane se juntaram as artistas plásticas Carolina Meirelles e Yasmim Flores para a realização do projeto “Ngô Meitire” (“Água Valiosa” na língua macro Jê).
Sinopse
“A Lei da Água – Novo Código Florestal” esclarece as mudanças promovidas pelo novo Código Florestal e a polêmica sobre a sua elaboração e implantação. O documentário mostra como a lei impacta diretamente a floresta e, assim, a água, o ar, a fertilidade do solo, a produção de alimentos e a vida de cada cidadão. Produzida ao longo de 16 meses, a obra baseia-se em pesquisa e 37 entrevistas com ambientalistas, ruralistas, cientistas e agricultores. Retrata ainda casos concretos de degradação ambiental e técnicas agrícolas sustentáveis que podem conciliar os interesses de conservação e produção da sociedade.
Ficha Técnica:
Produção: Cinedelia
Duração: 75 min
Coprodução: O2 Filmes
Produção Executiva: André D’Elia e Fernando Meirelles.
Direção: André D’Elia
Consultor de Conteúdo: Raul Silva Telles do Valle
Montagem: Raoni Reis.
Direção de Som: Diego Depane.
Cinematografia: Federico Dueñas
Direção de Arte: Vital Pasquale
Platô: Digo Castelo Branco
Assessoria de Imprensa: Agência Lema
Trilha Sonora Original: Fábio Barros e Gabriel Nascimbeni.

Colaboração de Denise Lara, in EcoDebate, 30/09/2016

EcoDebate - Edição 2.620 de 30/ setembro / 2016

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura
Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

" O GRITO DO BICHO " - Boletim do dia 30/09/2016.

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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Crônica em meio à grande crise global

Por Ladislau Dowbor*
Saídas para evitar um colapso civilizatório são evidentes – mas nunca estiveram tão bloqueadas. A questão crucial: teremos tempo para chegar a um Plano B?
Imagem: Banksy
Imagem: Banksy

Difícil deixar de pensar que estamos vivendo num circo gigante. Quando sentamos no sofá depois de um dia bizarro de trabalho e horas de transporte, as novelas surreais na TV nos dão uma visão geral do jogo global: tantas bombas sobre a Síria, mais refugiados nas fronteiras, os problemas das grandes finanças, os últimos gols de Neimar. Ah sim, e quem, depois da Hungria, a Grécia, a Polônia e o Reino Unido está ameaçando deixar a União Europeia em nome de ideais nacionais superiores.
É um jogo e tanto. Relatórios do Crédit Suisse e da Oxfam mostram a grande divisão entre os donos do jogo e os espectadores: 62 bilionários têm mais riqueza do que os 50% mais pobres da população mundial. Eles produziram tudo isso? Evidentemente, tudo depende de que papel você desempenha no jogo. Em São Paulo, os muito ricos que habitam o condomínio de Alphaville estão murados em segurança, enquanto os pobres que vivem na vizinhança se autodenominam Alphavella. Alguém precisa cortar a grama e entregar as compras.
De acordo com o relatório global da WWF sobre a destruição da vida selvagem, 52% das populações de animais não-domesticados desapareceram, durante os 40 anos que vão de 1970 a 2010. Muitas fontes de água estão contaminadas ou secando. Os oceanos estão gritando por socorro, o ar condicionado prospera. As florestas estão sendo derrubadas na Indonésia, que substituiu a Amazônia como a região número um do mundo em desmatamento. A Europa precisa ter energia renovável, de carne barata e da beleza do mogno.
A Rede de Justiça Fiscal revelou que cerca de 30 trilhões de dólares – comparados a um PIB mundial de US$ 73 trilhões – eram mantidos em paraísos fiscais em 2012. O Banco de Compensações Internacionais da Basileia mostra que o mercado de derivativos, o sistema especulativo das principais commodities, alcançou 630 trilhões de dólares, gerando o efeito iôiô nos preços das matérias-primas econômicas básicas. O maior jogo do planeta envolve grãos, minerais ferrosos e não ferrosos, energia. Essas commodities estão nas mãos de 16 corporações basicamente, a maior parte delas sediadas em Genebra, como revelou Jean Ziegler em “A Suiça lava mais branco”. Não há árbitro neste jogo, estamos num ambiente vigiado. Os franceses têm uma excelente descrição para os nossos tempos: vivemos une époque formidable!
Fizemos um trabalho perfeito em 2015: a avaliação global sobre como financiar o desenvolvimento em Adis Abeba, as metas do desenvolvimento sustentável para 2030 em Nova York e a cúpula sobre mudanças climáticas em Paris. Os desafios, soluções e custos foram claramente expostos. Nossa equação global é suficientemente simples para ser executada: os trilhões em especulação financeira precisam ser redirecionados para financiar inclusão social e para promover a mudança de paradigma tecnológico que nos permitirá salvar o planeta. E a nós mesmos, claro.
Mas são os lobos de Wall Street que traçaram o código moral para este esporte: Ganância é Ótima!
Afogando em números
Estamos nos afogando em estatísticas. O Banco Mundial sugere que deveríamos fazer algo a respeito dos news four biliion – referindo-se aos quatro bilhões de seres humanos “que não têm acesso aos benefícios da globalização” – uma hábil referência aos pobres. Temos também os bilhões que vivem com menos de 1,25 dólar por dia. A FAO nos mostra em detalhes onde estão localizadas as 800 milhões de pessoas famintas do mundo. A Unicef conta aproximadamente 5 milhões de crianças que morrem anualmente em razão do acesso insuficiente a comida e água limpa. Isso significa quatro World Trade Centers por dia, mas elas morrem silenciosamente em lugares pobres, e seus pais são desvalidos.
As coisas estão melhorando, com certeza, mas o problema é que temos 80 milhões de pessoas a mais todo ano – a população do Egito, aproximadamente – e este número está crescendo. Um lembrete ajuda, pois ninguém entende de fato o que significa um bilhão: quando meu pai nasceu, em 1900, éramos 1,5 bilhão; agora somos 7,2 bilhões. Não falo da história antiga, falo do meu pai. E já que não é da nossa experiência diária entender o que é um bilionário, vai aqui uma nova imagem: se você investe um bilhão de dólares em algum fundo que paga miseráveis 5% de juros ao ano, ganha 137.000 dólares por dia. Não há como gastar isso, então você alimenta mais circuitos financeiros, tornando-se ainda mais fabulosamente rico e alimentando mais operadores financeiros.
Investir em produtos financeiros paga mais do que investir na produção de bens e serviços – como fizeram os bons, velhos e úteis capitalistas – de modo que não tem como o acesso ao dinheiro ficar estável, muito menos gotejar para baixo. O dinheiro é naturalmente atraído para onde ele mais se multiplica, é parte da sua natureza, e da natureza dos bancos. Dinheiro nas mãos da base da pirâmide gera consumo, investimento produtivo, produtos e empregos. Dinheiro no topo gera fabulosos ricos degenerados que comprarão clubes de futebol, antes de finalmente pensar na velhice e fundar uma ONG – por via das dúvidas.
Um suborno global
Muita gente percebe que as regras do jogo são manipuladas. Os tempos são de fraude global, quando pessoas fabulosamente ricas doam a políticos e promovem a aprovação de leis para acomodar suas crescentes necessidades, fazendo da especulação, da evasão fiscal e da instabilidade geral um processo estrutural e legal. Lester Brown fez suas somatórias ambientais e escreveu Plano B [“Plan B”], mostrando claramente que o atual Plano A está morto. Gus Speth, Gar Alperovitz, Jeffrey Sachs e muitos outros estão trabalhando no Próximo Sistema [“Next System”], mostrando, implicitamente, que nosso sistema foi além de seus próprios limites.
Joseph Stiglitz e um punhado de economistas lançaram Uma Agenda para a Prosperidade Compartilhada, rejeitando “os velhos modelos econômicos”. De acordo com sua visão, “igualdade e desempenho econômico constituem na realidade forças complementares, e não opostas”. A França criou seu movimento de Alternativas Econômicas; temos a Fundação da Nova Economia no Reino Unido; e estudantes da economia tradicional estão boicotando seus estudos em Harvard e outras universidades de elite. Mehr licht! [Mais luz!]
E os pobres estão claramente fartos desse jogo. Sobram muito poucos camponeses isolados e ignorantes prontos a se satisfazer com sua parte, seja ela qual for. As pessoas pobres de todo o mundo estão crescentemente conscientes de que poderiam ter uma boa escola para seus filhos e um hospital decente onde pudessem nascer. E além disso veem na TV como tudo pode funcionar: 97% das donas de casa brasileiras têm aparelho de TV, mesmo quando não têm saneamento básico decente.
Como podemos esperar ter paz em torno do lago que alguns chamam de Mediterrâneo, se 70% dos empregos são informais e o desemprego da juventude está acima de 40%? E eles estão assistindo na TV o lazer e a prosperidade existentes logo ali, cruzando o mar, em Nice? A Europa bombardeia-os com estilos de vida que estão fora do seu alcance econômico. Nada disso faz sentido e, num planeta que encolhe, é explosivo. Estamos condenados a viver juntos, o mundo é plano, os desafios estão colocados para todos nós, e a iniciativa deve vir dos mais prósperos. E, felizmente, os pobres não são mais quem eram.
Cultura e convivialidade
Sempre tive uma visão muito mais ampla de cultura do que o tradicional “Ach! disse Bach”. Penso que ela inclui desfrutar de alegria com os outros, enquanto se constrói ou se escreve alguma coisa, ou simplesmente se brinca por aí. Convivialidade. Recentemente passei algum tempo em Varsóvia. Nos fins de semana de verão, os parques e praças ficavam cheios de gente e havia atividades culturais para todo lado.
Ao ar livre, com um monte de gente sentada no chão ou em simples cadeiras de plástico, uma trupe de teatro fazia uma paródia do modo como tratamos os idosos. Pouco dinheiro, muita diversão. Logo adiante, em outras partes do parque Lazienki, vários grupos tocavam jazz ou música clássica, e as pessoas estavam sentadas na grama ou assentos improvisados, as crianças brincando por perto.
No Brasil, com Gilberto Gil no ministério da Cultura, foi criada uma nova política, os Pontos de Cultura. Isso significou que qualquer grupo de jovens que desejassem formar uma banda poderiam solicitar apoio, receber instrumentos musicais ou o que fosse necessário, e organizar shows ou produzir online. Milhares de grupos surgiram – estimular a criatividade requer não mais que um pequeno empurrão, parece que os jovens trazem isso na própria pele.
A política foi fortemente atacada pela indústria da música, sob o argumento de que estávamos tirando o pão da boca de artistas profissionais. Eles não querem cultura, querem indústria de entretenimento, e negócios. Por sorte, isso está vindo abaixo. Ou pelo menos a vida cultural está florescendo novamente. Os negócios têm uma capacidade impressionante para ser estraga-prazeres.
O carnaval de 2016 em São Paulo foi incrível. Fechando o círculo, o carnaval de rua e a criatividade improvisada estão de volta às ruas, depois de ter sido domados e disciplinados, encarecidos pela comunicação magnata da Rede Globo. As pessoas saíram improvisando centenas de eventos pela cidade, era de novo um caos popular, como nunca deixou de ser em Salvador, Recife e outras regiões mais pobres do país. O entretenimento do carnaval está lá, é claro, e os turistas pagam para sentar e assistir ao show rico e deslumbrante, mas a verdadeira brincadeira está em outro lugar, onde o direito de todo mundo dançar e cantar foi novamente conquistado.
Um caso de consumo
Eu costumava jogar futebol bastante bem, e ia com meu pai ver o Corinthians jogar no tradicional estádio do Pacaembu, em São Paulo. Momentos mágicos, memórias para a vida inteira. Mas principalmente brincávamos entre nós, onde e quando podíamos, com bolas improvisadas ou reais. Isso não é nostalgia dos velhos e bons tempos, mas um sentimento confuso de que quando o esporte foi reduzido a ver grandes caras fazendo grandes coisas na TV, enquanto a gente mastiga alguma coisa e bebe uma cerveja, não é o esporte – mas a cultura no seu sentido mais amplo – que se transformou numa questão de produção e consumo, não em alguma coisa que nós próprios criamos.
Em Toronto, fiquei pasmo ao ver tanta gente brincando em tantos lugares, crianças e gente idosa, porque espaços públicos ao ar livre podem ser encontrados em todo canto. Aparentemente, por certo nos esportes, eles sobrevivem divertindo-se juntos. Mas isso não é o mainstream, obviamente. A indústria de entretenimento penetrou em cada moradia do mundo, em todo computador, todo telefone celular, sala de espera, ônibus. Somos um terminal, um nó na extensão de uma espécie de estranho e gigante bate-papo global.
Esse bate-papo global, com evidentes exceções, é financiado pela publicidade. A enorme indústria de publicidade é por sua vez financiada por uma meia dúzia de corporações gigantes cuja estratégia de sobrevivência e expansão é baseada na transformação das pessoas em consumidores. O sistema funciona porque adotamos, docilmente, comportamentos consumistas obsessivos, ao invés de fazer música, pintar uma paisagem, cantar com um grupo de amigos, jogar futebol ou nadar numa piscina com nossas crianças.
Um punhado de otários consumistas
Que monte de idiotas consumistas nós somos, com nossos apartamentos de dois ou três quartos, sofá, TV, computador e telefone celular, assistindo o que outras pessoas fazem.
Quem precisa de uma família? No Brasil o casamento dura 14 anos e está diminuindo, nossa média é de 3,1 pessoas por moradia. A Europa está na frente de nós, 2,4 por casa. Nos EUA apenas 25% das moradias têm um casal com crianças. O mesmo na Suécia. A obesidade está prosperando, graças ao sofá, a geladeira, o aparelho de TV e as guloseimas. Prosperam também as cirurgias infantis de obesidade, um tributo ao consumismo. E você pode comprar um relógio de pulso que pode dizer quão rápido seu coração está batendo depois de andar dois quarteirões. E uma mensagem já foi enviada ao seu médico.
O que tudo isso significa? Entendo cultura como a maneira pela qual organizamos nossas vidas. Família, trabalho, esportes, música, dança, tudo o que torna minha vida digna de ser vivida. Leio livros, e tiro um cochilo depois do almoço, como todo ser humano deveria fazer. Todos os mamíferos dormem depois de comer, somos os únicos ridículos bípedes que correm para o trabalho. Claro, há esse terrível negócio do PIB. Todas as coisas prazerosas que mencionei não aumentam o PIB – muito menos minha sesta na rede. Elas apenas melhoram nossa qualidade de vida. E o PIB é tão importante que o Reino Unido incluiu estimativas sobre prostituição e venda de drogas para aumentar as taxas de crescimento. Considerando o tipo de vida que estamos construindo, eles talvez estejam certos.
Necessitamos de um choque de realidade. A desventura da terra não vai desaparecer, levantar paredes e cercas não vai resolver nada, o desastre climático não vai ser interrompido (a não ser se alterarmos nosso mix de tecnologia e energia), o dinheiro não vai fluir aonde deveria (a não ser que o regulemos), as pessoas não criarão uma força política forte o suficiente para apoiar as mudanças necessárias (a não ser que estejam efetivamente informadas sobre nossos desafios estruturais). Enquanto isso, as Olimpíadas e MSN (Messi, Suarez, Neymar para os analfabetos) nos mantêm ocupados em nossos sofás. Como ficará, com toda a franqueza, o autor destas linhas. Sursum corda. (Outras Palavras/ #Envolverde)
Ladislau Dowbor é professor de economia nas pós-graduações em economia e em administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e consultor de várias agências das Nações Unidas. Seus artigos estão disponíveis online em http://dowbor.org.
** Tradução: Inês Castilho. Publicado originalmente no site Outras Palavras.