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terça-feira, 30 de junho de 2020

Covid-19 – A propósito de cloroquina, medicina, heparina e tubaína, artigo de Momtchilo Russo

[Jornal da USP] O pior da pandemia viral atual (covid-19) é a ignorância em não seguirmos as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o que outros países europeus fizeram para evitar a catástrofe que ora se instala no Brasil, com o elevado número de mortes. Cloroquina e hidroxicloroquina são fármacos usados na prevenção e tratamento da malária, uma doença causada por um protozoário e transmitida pela picada de mosquitos. Estes fármacos sintéticos foram baseados no princípio ativo do quinino, uma substância natural amarga extraída da casca de uma árvore encontrada no Peru. Um fato anedótico que uso para ilustrar a aula de malária relaciona-se com os três problemas principais que os colonizadores ingleses tinham na Índia: mosquitos, calor e malária. Então eles inventaram uma bebida que resolvia os três problemas de uma só vez. Gim para deixar de se preocupar com as picadas dos mosquitos; água tônica com gelo para matar a sede e aplacar o calor; e quinino para matar o parasita causador da malária. Ou seja, uma solução perfeita para os três problemas. Em 1918, o uso de quinino foi recomendado para combater o vírus influenza responsável pela epidemia da gripe espanhola e, posteriormente, a cloroquina, nos surtos episódicos de influenza, sem terem a sua eficácia comprovada. O uso de hidroxicloroquina na covid-19 partiu de uma observação do médico francês Didier Rault, de Marselha, que notou melhora em alguns pacientes. Baseado nessa observação, o grupo do dr. Rault publicou um trabalho sobre o efeito benéfico do tratamento da hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina na covid-19, porém o trabalho foi feito com número reduzido de pacientes e com problemas na análise estatística devido à retirada de alguns pacientes na análise dos dados, sofrendo críticas da comunidade científica, o que resultou, a pedido dos próprios autores, na retirada da publicação desse trabalho. Um dos problemas iniciais com o uso da cloroquina é que faltavam relatos concretos sobre sua eficiência na covid-19. Como a maioria dos pacientes, quase 90%, se recuperam da infecção, fica difícil determinar o efeito da cloroquina. Esse tipo de situação, quando não se tem certeza do que realmente funciona numa determinada doença, abre campo ao charlatanismo. Hoje há vários estudos que concluíram que tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina não é benéfico na covid-19, pelo contrário, pode até ter um efeito deletério. Portanto, recomendar o seu uso, como faz atualmente o Ministério da Saúde, fere um princípio básico da medicina, que é primum non nocere, ou seja, não infringir ao paciente danos desnecessários. Há um ditado na medicina que diz: “o paciente pode se curar com, sem e apesar do médico”. Apesar do médico se refere à possível ação iatrogênica, que são complicações resultantes do tratamento médico. Por causa disso, os médicos atuais seguem protocolos baseados em evidências. A recomendação do uso da cloroquina por três presidentes que compartilham a ignorância em relação ao mecanismo de ação da cloroquina é ilustrativa. Em comum, os três não têm nenhuma formação profissional ou conhecimento científico para opinar na medida que não entendem de vírus nem de terapia. O presidente do Brasil segue o presidente Trump, que preconizava e tomava cloroquina. Por outro lado, o presidente Maduro, da Venezuela, também defende o seu uso indicando que a defesa da cloroquina não é uma primazia de um tipo de governo. A defesa da cloroquina lembra o caso Lysenko, ministro da Agricultura na época de Josef Stalin. Lysenko estava convencido de que a genética de Mendel (leis baseadas em cruzamento de plantas que determinam a herança genética de pais para filhos) era uma teoria burguesa e demitiu todos os cientistas que a apoiavam. A consequência disso foi sentida na agricultura da União Soviética, que colapsou. Analogamente, foram afastados os ministros da Saúde do Brasil que se recusaram a indicar a cloroquina e/ou o fim do distanciamento social e até hoje não foram substituídos, o que se traduziu num aumento exponencial no número de internações hospitalares em algumas cidades, levando ao colapso o Sistema Único de Saúde. O uso da cloroquina no Brasil virou um problema ideológico até entre docentes e pesquisadores. Há alguns meses, foi redigido um documento endereçado ao ministro da Saúde e assinado por 31 pesquisadores pedindo urgência na aplicação da cloroquina. Chama a atenção que os signatários dessa carta pertencem a um organismo denominado Docentes pela Liberdade (DPL), como se houvesse professores e pesquisadores contrários a essa causa. Em uma visita ao site do DPL, verifica-se que o grupo se autodefine como: apartidário, formado por docentes e profissionais de qualquer área, cujo interesse é recuperar a qualidade da educação no Brasil, romper com a hegemonia da esquerda e combater a perseguição ideológica. Esse documento foi publicado no site Brasil Sem Medo, que tem em seu conselho editorial Olavo de Carvalho, guru do presidente e de seus filhos. Não à toa, parte da diretoria do DPL foi contratada para trabalhar em diferentes postos do governo. Ou seja, ao contrário do que afirma em seu site, DPL é um grupo partidário identificado com o governo atual. Lamentavelmente, o governo brasileiro ignorou um achado importante feito pela médica Elnara Marcia Negri, do Hospital Sírio-Libanês e da Universidade de São Paulo, mostrando o efeito benéfico da heparina, uma droga anticoagulante, na covid-19. Igualmente relegado foi o avanço do conhecimento na covid-19 feito por pesquisadores brasileiros do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), coordenado pela professora Marisa Dolhnikoff, mostrando que o tromboembolismo (coagulação exagerada do sangue) está associado com a patologia da covid-19. Inclusive, a orientação atual dos médicos – que também merecem ser destacados – do Hospital das Clínicas da FMUSP é utilizar heparina. Vale lembrar que um tipo de heparina na covid-19 foi também desenvolvido no Brasil pelo grupo da dra. Helena Nader da Unifesp. Tampouco um teste que identifica a presença do vírus desde o primeiro dia da infecção, desenvolvido no Hospital Albert Einstein, foi destacado pelo governo. Além dessas, inúmeras iniciativas inovadoras das universidades brasileiras foram ignoradas, incluindo as iniciativas do meu instituto (ICB/USP), que estabeleceu um teste sorológico para covid-19 ultrassensível. Para finalizar, o presidente brasileiro cometeu um erro e um ato falho quando afirmou que quem é de direita toma cloroquina e quem é de esquerda toma Tubaína – porque a esquerda não toma Tubaína, quem toma Tubaína é o povo. Tubaína tem apelo popular devido ao baixo custo. Ao associar a Tubaína ao que ele mais odeia, que é a esquerda, o presidente revela, por um ato falho, o seu viés de classe, qual seja, o seu desprezo pelo povo brasileiro ao se referir à Tubaína de forma pejorativa. A política atual do Ministério da Saúde em insistir na cloroquina e ser contra o isolamento social é, respectivamente, uma charlatanice e uma excrecência quando comparada ao que se preconiza na OMS e na maioria dos países. Essa orientação capitaneada pelo presidente levará o Brasil logo mais ao topo de óbitos. A culpabilidade dessa catástrofe deve ser imputada a alguém. Quem é o responsável? Quem vai julgar a charlatanice da cloroquina? Quando os culpados serão julgados por atos necropolíticos? Qual tribunal irá julgá-los? O que precisamos fazer para reverter essa tragédia anunciada? Por Momtchilo Russo, professor titular do Departamento de Imunologia do ICB/USP e do Departamento de Moléstias Infecciosas da FMUSP Do Jornal da USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/06/2020

Desmatamento no Cerrado afeta o clima e pode reduzir a produção de milho no Brasil

Como o desmatamento e a agricultura estão alterando o clima do Cerrado Deforestation in the Cerrado affects the climate and may reduce corn production in Brazil Dartmouth College* O Brasil é um dos três principais produtores mundiais de soja e milho, e seu setor agrícola é responsável por um quinto da economia do país. As práticas de desmatamento e limpeza de terras têm sido associadas a reduções na biodiversidade e aumentos de temperatura, fluxo de corrente, ocorrência de incêndios e emissões de dióxido de carbono. Segundo um estudo de Dartmouth publicado na Nature Sustainability , essas práticas de limpeza de terras no Brasil também estão alterando o clima e podem reduzir significativamente a produção de milho. O estudo examina o Cerrado, um bioma localizado no coração do Brasil, onde a maioria da soja e milho para exportação é cultivada. O Cerrado brasileiro é muito menos protegido que a Amazônia. Pesquisas anteriores descobriram que a Amazônia está sendo salva às custas do Cerrado. Se você possui terras na Amazônia, legalmente, é obrigado a proteger 80% das terras; no entanto, se você possui terras no Cerrado, precisará proteger apenas 20% da terra. Como resultado, apenas 3% de todo o Cerrado é protegido legalmente. Para examinar os impactos do agronegócio e das mudanças climáticas nas principais áreas agrícolas do Brasil, os pesquisadores usaram um modelo climático regional do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica. Eles executaram o modelo durante um período de 15 anos, de 2000 a 2015, usando seis cenários diferentes de cobertura da terra: Brasil antes do desmatamento, Brasil com desmatamento observado em 2016, Cerrado com apenas soja cultivada em uma estação (cultivo único) , Cerrado com soja e milho cultivados na mesma estação (corte duplo) e desmatamento na Amazônia são estados com corte único e corte duplo. Nesta região, a soja é plantada como a colheita primária e o milho é a colheita secundária. A equipe comparou cada um dos cenários ao Brasil antes da limpeza da terra. Eles examinaram diferentes variáveis, incluindo a evapotranspiração – quanta água é reciclada de volta para a atmosfera, o início e o final da estação chuvosa, as chuvas do Cerrado e da Amazônia e os limites críticos de temperatura agrícola. Soja e milho no Brasil dependem de chuvas. Apenas 6% das terras cultivadas no Brasil são irrigadas. Menos árvores devido ao desmatamento reduzem a evapotranspiração, que diminui a água reciclada de volta na atmosfera e pode levar a menos chuvas. Para investigar como as mudanças climáticas devido ao desmatamento afetam a produção de soja e milho, os pesquisadores usaram um modelo estatístico de colheita baseado nas relações observadas entre clima e produtividade. Para que o milho prospere, as noites devem ser frias. Noites acima de 24 graus Celsius (referidas neste estudo como “noites quentes”) podem danificar o milho. O estudo fornece evidências de que o desmatamento degradou o clima no Cerrado brasileiro, uma região que depende da produção de sequeiro. Os dados revelaram as seguintes conclusões principais: * Todos os cenários de limpeza de terras continham significativamente mais dias de estação de crescimento com temperaturas superiores à temperatura crítica para o cultivo bem-sucedido de milho. * Com as reduções nas taxas de evapotranspiração, o balanço água / energia é afetado significativamente em todos os cenários de limpeza do solo, principalmente durante períodos importantes de desenvolvimento da colheita. * Os resultados demonstraram que, com noites mais quentes (24+ graus Celsius), a produção de milho foi reduzida de 6 a 8% quando comparada com os anteriores cenários de limpeza de terras. O cenário mais conservador de limpeza de terras demonstrou que havia oito noites mais quentes do que antes da limpeza, em comparação com 20 a 30 noites mais quentes no cenário mais extremo. Os rendimentos da soja não foram afetados, mas a soja é muito mais resistente a temperaturas mais altas. “Nossas descobertas revelam como as práticas de desmatamento no Cerrado brasileiro está minando a produção agrícola de sequeiro, que é uma das principais razões pelas quais o Cerrado é desmatado”, explicou a coautora Stephanie A. Spera , professora assistente de geografia e ambiente na Universidade de Richmond, que era pós-doutorado no Instituto Neukom de Ciência da Computação em Dartmouth na época do estudo. Sob o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o desmatamento no Brasil é o mais alto desde 2008, já que o desmatamento na Amazônia aumentou 55% de janeiro a abril de 2019, em comparação com o mesmo período do ano anterior, e as ações de fiscalização do desmatamento são bastante reduzidas. A pandemia do COVID-19 reduziu ainda mais a fiscalização do desmatamento. “A Amazônia e o Cerrado menos conhecido são incrivelmente vulneráveis aos impactos do clima. Quanto tempo essas regiões serão capazes de sustentar a produção agrícola sob a mudança do uso da terra é uma questão essencial para o Brasil e o suprimento mundial de alimentos”, acrescentou Spera. * Do Dartmouth College, com tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate. Referência: Spera, S.A., Winter, J.M. & Partridge, T.F. Brazilian maize yields negatively affected by climate after land clearing. Nat Sustain (2020). https://doi.org/10.1038/s41893-020-0560-3 in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/06/2020

EcoDebate - Edição 3.462 de 30/ junho / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura As Fases do Ciclo de Vida do Produto Baseado no Marketing Sustentável para Empresas de Palmito no Brasil Ignorância e incompetência: grandes aliadas do coronavírus Covid-19 – A propósito de cloroquina, medicina, heparina e tubaína A tragédia do crescimento, uma metafísica do neoliberalismo As máscaras ajudam ou atrapalham na hora do exercício físico? Desmatamento no Cerrado afeta o clima e pode reduzir a produção de milho no Brasil “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Saiba em quais lugares o contágio pelo novo coronavírus pode ser maior

Estudo mostra que interação direta aumenta risco de contrair covid-19 Um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tornou mais fácil identificar lugares onde, segundo pesquisadores, a chance de ser infectado pelo vírus SARS-Cov-2, responsável pela pandemia de covid-19, é bem maior. Os resultados parecem comprovar o que já é protocolo sanitário em todo o Brasil: a residência é o lugar mais seguro para as pessoas nesse momento. A equipe de virologistas responsáveis pelo levantamento coletou amostras de lugares públicos de alta circulação na cidade de Belo Horizonte. O método utilizado foi parecido com os testes realizados para detectar a presença do vírus no organismo: o swab – um tipo de cotonete alongado que, quando friccionado contra superfícies, coleta o material em repouso – foi usado em pontos de ônibus, corrimãos, entradas de hospitais e até mesmo bancos de praças. Das 101 amostra colhidas, 17 continham traços do novo coronavírus. “Para se avaliar o risco de um determinado local, levamos em consideração três elementos: o número de pessoas que podem portar a infecção, o nível de aglomeração esperado nos ambientes e a chance de haver pessoas com a infecção no local”, explicou o infectologista e professor de medicina da UFMG, Matheus Westin. O médico lembra, ainda, que objetos também podem ter partículas infecciosas inertes. Frutas, verduras, caixas e outros itens que ficam expostos podem carregar o vetor de infecção. O estudo classificou as áreas de risco de acordo com os três pilares sanitários identificados pelos médicos. Veja o infográfico: Infográfico mostra a escala de perigo de contaminação por covid-19. Linha de frente O estudo mostrou também que profissionais que trabalham na linha de frente de combate ao novo coronavírus estão muito mais suscetíveis ao contágio, já que a proximidade com infectados é inevitável. “Todas as formas de assistência direta envolvem proximidade. Desde os cuidados primários, como administrar medicação ou conversar com o paciente, aos procedimentos invasivos, como ajustar o ventilador mecânico, aspirar as vias aéreas ou entubar o paciente, tudo isso cria um grande risco de transmissão”, argumenta Westin. Segundo o médico e professor, o investimento em equipamentos de proteção individual (EPIs) de qualidade é crucial, e pode definir se o profissional médico será contaminado ou não ao tratar pacientes. “Boa parte desse equipamento é de uso único. A troca deve ser periódica. Mas não dá pra esquecer que o profissional de saúde, ao chegar em casa, deve lavar bem com água e sabão as vestimentas hospitalares para remover traços de contaminação das roupas”, informou. Por Pedro Ivo de Oliveira, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/06/2020

As cidades mais envelhecidas do Brasil não são as mais atingidas pela covid-19, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] A pandemia do novo coronavírus causa mais vítimas fatais entre a população idosa. Na China 80% dos óbitos foram pessoas de 60 anos e mais, no Brasil são 73%. Alguém poderia imaginar que os municípios mais envelhecidos (com maior proporção de idosos na população) seriam os mais atingidos. Mas não é bem assim que tem ocorrido, como veremos a seguir. O envelhecimento populacional ocorre em função da transformação da estrutura etária que acontece em função do aumento da proporção de idosos no conjunto da população e a consequente diminuição da proporção de jovens. Populações envelhecidas são uma novidade na história do mundo e do Brasil. No passado, a estrutura etária era rejuvenescida em todos os lugares, pois a esperança de vida era baixa e os casais tinham que gerar grande número de filhos para se contrapor ao elevado número de óbitos precoces. Porém, a partir do momento em que as taxas de mortalidade e natalidade declinaram, teve início um processo de mudança da estrutura etária, com redução imediata da base da pirâmide e um alargamento, no longo prazo, do topo da distribuição de sexo e idade. Desta forma, o envelhecimento é o resultado, esperado e inexorável, da transição demográfica. Uma maneira de medir o envelhecimento populacional é por meio do Índice de Envelhecimento (IE), que é a razão entre o número de pessoas idosas sobre os jovens (crianças e adolescentes). Trata-se de uma razão entre os componentes extremos da pirâmide etária. O IE pode ser medido pelo número de pessoas de 60 anos e mais para cada 100 pessoas menores de 15 anos de idade, segundo a seguinte fórmula: Índice de Envelhecimento (IE) Uma população é considerada idosa quando o topo da pirâmide é maior do que a sua base, ou seja, quando o Índice de Envelhecimento (IE) é igual ou superior a 100. Como já dito, o envelhecimento populacional é um fenômeno novo na história da humanidade. O primeiro país do mundo a ter a quantidade de idosos (60 anos e mais) maior do que a quantidade de jovens com menos de 15 anos foi a Suécia, em 1975. O número de países idosos passou para 3 em 1980 e chegou a 52 países em 2015. O Brasil ainda é considerado um país jovem, mas em processo acelerado de envelhecimento. No ano 2010, segundo as projeções do IBGE (revisão 2018), havia 48,1 milhões de jovens de 0 a 14 anos e 20,9 milhões de idosos com 60 anos e mais. O Índice de Envelhecimento (IE) era de 43,4 idosos para cada 100 jovens, conforme mostra o gráfico abaixo. Em 2018, o número de jovens caiu para 44,5 milhões e o de idosos subiu para 28 milhões, ficando o IE em 63 idosos para cada 100 jovens. O Brasil vai se tornar um país idoso em 2031, quando haverá 42,3 milhões de jovens (0-14 anos) e 43,3 milhões de idosos (60 anos e mais). Nesta data, pela primeira vez, o IE será maior do que 100, ou seja, haverá 102,3 idosos para cada 100 jovens (veja a coluna vermelha no gráfico). Mas o envelhecimento populacional continuará sua marcha inexorável ao longo do século XXI. No ano de 2055, as projeções do IBGE indicam o montante de 34,8 milhões de jovens (0-14 anos) e de 70,3 milhões de idosos (60 anos e mais). O IE será de 202 idosos para cada 100 jovens. Ou seja, haverá mais do dobro de idosos do que jovens. diminuição da população jovem (0 a 14 anos) e do aumento da população idosa (60 anos e mais) ao longo do século XXI O gráfico acima não deixa dúvidas quanto à diminuição da população jovem (0 a 14 anos) e do aumento da população idosa (60 anos e mais) ao longo do século XXI. Durante mais de 500 anos, o Brasil foi um país com uma estrutura etária jovem, mas a partir de 2029 será um país com uma estrutura etária idosa. E não haverá mais volta. O futuro do Brasil é ser um país “grisalho”. Mas este processo de envelhecimento do país não acontece de forma uniforme, pois existem municípios que já estão mais avançados na transformação da estrutura etária e outros que ainda possuem uma estrutura muito rejuvenescida. Em geral, os municípios que foram pioneiros na transição da fecundidade também são pioneiros no envelhecimento. Mas a estrutura etária também é afetada pela migração, assim há municípios envelhecidos em função da perda de jovens e/ou do ganho de idosos. A tabela abaixo, com base na estimativa populacional municipal de 2015, do IBGE, mostra os 10 municípios com a estrutura etária mais envelhecida (maior IE) do país. Nota-se que os 10 municípios recordistas do envelhecimento estão todos no Rio Grande do Sul (RS) e são municípios com menos de 5 mil habitantes. O município de Coqueiro Baixo com apenas 1.563 habitantes tinha, em 2015, 660 idosos (de 60 anos e mais) e apenas 94 jovens (de 0 a 14 anos). Ou seja, tinha 7 vezes mais idosos do que jovens e o IE era de 702,1 idosos para cada 100 jovens. Forquetinha era o segundo município mais idoso (com IE de 480,2) e Cotiporã o décimo município mais idoso do país (com IE de 233). O Rio grande do Sul é um dos estados brasileiros pioneiros na transição da fecundidade. Mas o alto envelhecimento populacional destes 10 municípios pequenos, provavelmente, foi reforçado pela perda de população jovem que procura os grandes centros em busca de oportunidades de estudo e/ou trabalho. os 10 municípios com a estrutura etária mais envelhecida (maior IE) do país Segundo o Ministério da Saúde, até 24 de junho de 2020, Coqueiro Baixo, Rolador e Capão Bonito do Sul não registraram nenhum caso da covid-19. Forquetinha registrou 1 caso, Cruzaltense 7 casos, Canudos do Vale 4 casos, Santa Cecília do Sul 14 casos, Coronel Pilar 1 caso, Cotiporã 7 casos e nenhuma morte entre estes municípios. Santa Teresa teve 12 casos e 1 morte. A tabela abaixo, também com base nas estimativas do IBGE, para 2015, mostra os 10 municípios mais populosos com a estrutura etária mais envelhecida (IE acima de 100) do país. Niterói, no Rio de Janeiro, com quase meio milhão de habitantes, tinha 96,8 mil idosos (60 anos e mais) para 80 mil jovens (0 a 14 anos), com um IE de 120,9 idosos para cada 100 jovens. Santos, em São Paulo, com população de 433,9 mil habitantes, tinha 93,4 mil idosos e 73,3 mil jovens, com IE de 127,4. São Caetano do Sul, em São Paulo, a cidade com maior IDH do país, tinha 33,7 mil idosos e 25 mil jovens, em 2015, com IE de 134,6. Em décimo lugar, Socorro, em São Paulo, com 39,5 mil habitantes, tinha 7,5 mil idosos e 7,1 mil jovens, com IE de 105,1. os 10 municípios mais populosos com a estrutura etária mais envelhecida (IE acima de 100) do país Niterói é, entre as grandes cidades do país (mais de 40 mil habitantes) a mais envelhecida. Mas como mostra a tabela abaixo não foi a mais atingida pela pandemia. O coeficiente de incidência de Niterói é de 10,7 mil casos por milhão (acima da média da cidade do Rio de Janeiro), mas o coeficiente de mortalidade foi de 349 óbitos por milhão (bem abaixo da capital fluminense que tem uma estrutura etária menos envelhecida). Niterói é, entre as grandes cidades do país (mais de 40 mil habitantes) a mais envelhecida Para efeito de comparação, a tabela abaixo mostra os 10 municípios com a estrutura etária mais rejuvenescida (menor IE) do país. Nestes 10 municípios, o número de idosos não chega nem a 10% dos jovens. Por exemplo, Ipixuna, no Amazonas, com uma população total de 26,8 mil habitantes, tinha 11,5 mil jovens de 0 a 14 anos e somente 1,1 mil idosos (com 60 anos e mais) e um IE de 9,4 idosos para cada 100 jovens. O município de Jordão, no Acre, com população total de7,5 mil habitantes, tinha 3,6 mil jovens e somente 175 idosos, com IE de apenas 4,8. Em geral, estes municípios muito rejuvenescidos tem forte presença indígena. os 10 municípios com a estrutura etária mais rejuvenescida (menor IE) do país Até o dia 23/06, Ipixuna teve 3 pessoas infectadas pelo novo coronavírus, Porto de Moz teve 392 casos e 22 mortes e Oiapoque teve 1.196 casos e 10 mortes. O contraste com os municípios mais envelhecidos é muito grande, pois há mais mortes nos municípios mais rejuvenescidos. A tabela abaixo mostra os 10 maiores municípios brasileiros com IE abaixo de 20 idosos para cada 100 jovens. Macapá, capital do Amapá, com população de 456 mil habitantes em 2015, tinha 141,6 mil jovens e apenas 24,7 mil idosos, com IE de 17,5 idosos para cada 100 jovens. Parauapebas, no Pará, com 189 mil habitantes tinha IE de 10,8 e o município de Santana, no Amapá, com 112,2 mil habitantes, tinha IE de 18. Estes 10 municípios são de tamanho médio e possuem uma estrutura etária muito rejuvenescida. os 10 maiores municípios brasileiros com IE abaixo de 20 idosos para cada 100 jovens Dos 5.570 municípios brasileiros em 2015, 531 cidades possuem Índice de Envelhecimento (IE) acima de 100, sendo, portanto, municípios envelhecidos. Em 2643 municípios o IE estava entre 100 e 50 idosos para cada cem jovens. Em 2162 municípios o IE estava entre 50 e 20 idosos para cada cem jovens. E em 234 municípios o IE estava abaixo de 20 idosos para cada cem jovens. Observa-se, portanto, que menos de 10% dos municípios brasileiros em 2015 estavam classificados como cidades onde a população tem uma estrutura etária envelhecida. Porém, como visto no primeiro gráfico, o Brasil está em processo acelerado de envelhecimento e em 2029 terá, na média, uma estrutura etária envelhecida. Assim, a tendência para as próximas décadas é que um número cada vez maior de cidades passe a ter um Índice de Envelhecimento acima de 100. O envelhecimento é inevitável e o Brasil precisa se preparar para saber lidar com esta nova realidade demográfica. Como mostrei no artigo “A pandemia da covid-19 e o envelhecimento populacional no Brasil” (20/04/2020), a região mais atingida no Brasil pela covid-19 foi a região Norte que é a que possui a estrutura etária mais rejuvenescida, enquanto o Sul, que é a região mais envelhecida, foi a menos impactada pela pandemia. Isto mostra que a demografia não é destino e que existem outras variáveis que explicam o impacto do Sars-CoV-2 sobre a população. O importante a destacar é que os municípios mais envelhecidos não foram os mais impactados pela pandemia. Referência: ALVES, JED. A pandemia da covid-19 e o envelhecimento populacional no Brasil, Portal do Envelhecimento, 20/04/2020 https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/a-pandemia-da-covid-19-e-o-envelhecimento-populacional-no-brasil/ Nota da redação: sobre o tema envelhecimento populacional sugerimos que leia, também: Envelhecimento Populacional Continua E Não Há Perigo De Um Geronticídio Apesar Da Covid-19 As Tendências Do Envelhecimento Populacional Permanecem O Envelhecimento Populacional Compromete O Crescimento Econômico No Brasil? O Envelhecimento Populacional No Brasil O Envelhecimento Populacional Segundo As Novas Projeções Do IBGE As Diferentes Velocidades Do Envelhecimento Populacional in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/06/2020

EcoDebate - Edição 3.461 de 29/ junho / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura As cidades mais envelhecidas do Brasil não são as mais atingidas pela covid-19 Biodiversidade: a peça mais importante para um futuro sustentável O novo normal pós pandemia: procurando caminhos Marco regulatório do saneamento é absolutamente silencioso e omisso em relação aos direitos humanos Saiba em quais lugares o contágio pelo novo coronavírus pode ser maior “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Cientistas mapeiam grilagem em florestas públicas na Amazônia

Grilagem na Amazônia – Área equivalente a duas vezes o estado do Rio de Janeiro foi irregularmente declarada como imóvel rural no sistema do governo; mais de 2 milhões de hectares já foram desmatados. Por Cristina Amorim Um novo artigo científico de autores brasileiros, publicado nesta segunda-feira (23) na revista “Land Use Policy”, mapeia a grilagem em florestas públicas não-destinadas na Amazônia. Dos 49,8 milhões de hectares de florestas sob responsabilidade estadual e federal, mas ainda não alocados a nenhuma categoria de uso, 11,6 milhões de hectares foram declarados irregularmente como imóveis rurais, de uso particular, no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (CAR). Essa área equivale a dois estados do Rio de Janeiro. O impacto da grilagem se traduz facilmente em desmatamento. Nessas áreas, os pesquisadores identificaram 2,6 milhões de hectares derrubados até 2018, uma área do tamanho de Sergipe. Tal destruição gerou a emissão de 1,2 bilhão de toneladas de CO2, o principal gás do efeito estufa. Oitenta por cento da área desmatada (2,1 milhões de hectares) apresenta registro no CAR, demonstrando a intenção de uso privado de uma área pública. Se toda a área registrada até hoje como propriedade privada fosse legalizada, de 2,2 a 5,5 milhões de hectares poderiam ser derrubados nos próximos anos – isso seguindo os limites de desmatamento definidos pelo Código Florestal, quando muitas vezes o desmatamento é maior que o permitido. Nos últimos anos, a grilagem de florestas não-destinadas aumentou. Em 2019, foi a categoria fundiária onde mais se derrubou floresta na Amazônia, de acordo com dados do sistema de alertas de desmatamento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Deter. A tendência se mantém em 2020. Passo a passo Para fazer a análise, os pesquisadores primeiro limparam as sobreposições das florestas não-designadas no Cadastro Nacional de Florestas, do Serviço Florestal Brasileiro, que conta com 62 milhões de hectares, com outras áreas na base fundiária da Amazônia. Com isso, chegou-se a 49,8 milhões de hectares de florestas públicas, próxima ao tamanho da Espanha, que ainda não foram destinadas para proteção ou uso sustentável de seus recursos naturais, como previsto na Lei de Gestão de Florestas Públicas, de 2006. Deste quinhão, os estados da Amazônia possuem uma área maior (32,7 milhões de ha) do que o governo federal (17,1 milhões de ha). A grilagem dessas áreas tem como objetivo frequente a especulação fundiária. “Na Amazônia, observamos a seguinte dinâmica: um grileiro entra na área pública e a registra como dele ou no nome de laranjas; depois desmata a área, coloca algumas cabeças de gado para se dizer pecuarista e tenta de todos os jeitos a regularização, ou espera um desavisado comprar a terra. Uma vez vendida, essa terra entra no sistema de produção agropecuária, e o novo dono e seus produtos carregam esse passivo, enquanto o grileiro passa para a próxima área”, explica o pesquisador Paulo Moutinho, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), um dos autores principais do estudo. O CAR, como registro de regularidade ambiental da propriedade, autodeclarado pelo ocupante, entra nessa equação como uma tentativa de se forjar uma ocupação regular. Por isso, é preciso barrar a validação desses cadastros falsos no sistema. “Esses registros estão na base de dados do governo. Para atuar contra a ilegalidade, é fundamental que o poder público atue para, no mínimo, avaliar a legalidade da ocupação destas áreas, pois isso é roubo do patrimônio público”, diz Moutinho. A pesquisadora Claudia Azevedo-Ramos, da UFPA (Universidade Federal do Pará), que liderou o estudo, destaca o papel dessas florestas. “É preciso destinar essas florestas para fins de proteção e uso sustentável. Preservar esses ecossistemas significa respeitar os direitos das populações tradicionais e indígenas, que muitas vezes são expulsos pelos grileiros, além de manter a chuva e o clima estáveis, fundamentais para a produção agrícola na Amazônia.” A despeito de a legislação brasileira definir categorias potenciais de destinação para as florestas públicas, e resguardar essas áreas como domínio público, os autores destacam que, desde 2019, todos os programas de designação dessas áreas foram desmontadas pelos governos federal e estaduais. “Estas florestas pertencem aos brasileiros. Aos governos, cabe protegê-las e garantir que não sejam entregues à especulação e à usurpação de seus recursos naturais. Preservar as florestas públicas é garantir que a Amazônia mantenha suas funções climáticas e socioambientais, com benefícios para todo o planeta”, explica Azevedo-Ramos. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/06/2020

Estudo indica que consumir uma a três xícaras de café por dia pode reduzir o risco de hipertensão

Estudo com 8.780 participantes concluiu que ingestão moderada de café pode reduzir em 20% risco de hipertensão Pesquisa com 8.780 participantes mostra que consumo moderado de café pode reduzir risco de hipertensão em 20%; estudos recentes mostraram que efeito benéfico do consumo moderado de café é atribuído aos polifenóis, compostos bioativos, que são encontrados em abundância nessa bebida Por Júlio Bernardes, Jornal da USP A associação entre o consumo de café e o risco de hipertensão é investigada em pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Com base na análise dos hábitos de consumo da bebida, dados sociodemográficos, de estilo de vida, exames de sangue e medição de pressão arterial de um grupo de 8.780 funcionários públicos, o estudo concluiu que a ingestão moderada de café (uma a três xícaras por dia) pode reduzir em 20% o risco de hipertensão. Os resultados do estudo são detalhados em artigo da publicação científica Clinical Nutrition, no último dia 7 de junho. A pesquisa usou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), feito com 15.105 funcionários de seis instituições públicas brasileiras de ensino superior e pesquisa. “Através de um questionário padronizado foram obtidos dados sociodemográficos, como idade, sexo, cor da pele, renda familiar per capita, nível educacional”, relata Andreia Miranda, pós-doutoranda da FSP que realizou o presente estudo. “Além disso, também foram obtidos dados de estilo de vida, entre os quais prática de atividade física, hábito de fumar, ingestão de bebida alcoólica, bem como o histórico médico-familiar, uso de medicação, além de medição do peso e altura e avaliação do consumo alimentar por meio de um questionário específico.” Durante a pesquisa foi realizada a coleta de sangue para análises bioquímicas e também foi aferida a pressão arterial dos participantes por um enfermeiro previamente treinado. “Para o presente estudo, foram excluídos da amostra os indivíduos com diagnóstico de hipertensão no início da pesquisa, aqueles que apresentavam histórico prévio de doença cardiovascular (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e cirurgia cardíaca), além dos que não tinham informação sobre o consumo de café”, explica a pesquisadora. “Dessa forma, foram analisados 8.780 participantes, com seguimento médio de quatro anos.” O consumo de café foi obtido por meio de um questionário de frequência alimentar, sendo agrupado em quatro categorias: quem nunca ou quase nunca tomava café, quem bebia menos de uma xícara por dia, de uma a três xícaras por dia e mais de três xícaras por dia. “Foi definido que o tamanho das doses de café é de 50 mililitros (50 ml), o que corresponde a uma xícara pequena”, relata Andreia. “A presença de hipertensão foi definida com o valor de pressão acima de 140 por 90 milímetros de mercúrio (mmHg), o uso de medicação anti-hipertensiva ou ambos.” Consumo de café consumo de café Consumo de café foi obtido por questionário de frequência alimentar, agrupado em quatro categorias: quem nunca ou quase nunca tomava café, quem bebia menos de uma xícara por dia, de uma a três xícaras por dia e mais de três xícaras por dia – Foto: Marcos Santos/USP Imagens Para analisar a relação entre o consumo de café e o risco de hipertensão foi utilizado um método estatístico, conhecido como regressão de Poisson, que permitiu calcular o risco relativo e o respectivo intervalo de confiança. “O modelo final foi ajustado de acordo com outras variáveis descritas na literatura que poderiam influenciar no resultado, tais como idade, sexo, cor da pele, nível educacional, renda, tabagismo, consumo de álcool, prática de atividade física, índice de massa corporal (IMC), consumo de frutas e vegetais, ingestão de sódio, potássio e gordura saturada, açúcar de adição, uso de suplementos, e níveis séricos de glicose, colesterol total e triglicerídeos”, aponta a pesquisadora. “Em estudos prévios, já é bem documentado que o tabagismo é um fator de risco, fortemente associado com a ingestão de café e que pode exercer influência no desenvolvimento de doença cardiovascular, em especial na hipertensão. Por esse motivo, na pesquisa foi avaliado o efeito da interação do café com o tabagismo.” A pesquisa apurou que o consumo médio de café é de 150 ml por dia, o equivalente a três xícaras. “A maioria dos participantes relatou consumir a bebida com cafeína, filtrada/coada e com adição de açúcar, o que corresponde ao hábito tradicional de consumo de café pelos brasileiros. Durante os quatro anos de acompanhamento, um total de 1.285 participantes desenvolveu hipertensão”, destaca Andreia. “Dessa forma, foi possível observar uma associação significativa inversa entre o consumo moderado de café e a incidência de hipertensão. Ou seja, comparativamente às pessoas que nunca ou quase nunca tomavam café, o risco de hipertensão foi aproximadamente 20% menor naqueles que ingeriam de uma a três xícaras por dia”. “Estudos recentes mostram que o efeito benéfico do consumo moderado de café é atribuído aos polifenóis, compostos bioativos que são encontrados em abundância nessa bebida.” Como foi verificada uma interação significativa entre o hábito de fumar e a ingestão de café, novas análises estatísticas foram realizadas. “Verificou-se então uma diminuição do risco de hipertensão somente em pessoas que nunca fumaram e tomavam de uma a três xícaras por dia”, afirma a pesquisadora. Entre os fumantes e não fumantes, bem como na maior categoria do consumo de café, ou seja, quem tomava mais de três xícaras por dia, não se verificou associação significativa no risco de desenvolver hipertensão. “Esses achados não permitem afirmar que haja um risco nessa população ou se trata de uma dose prejudicial para a saúde”, diz Andreia. “Em resumo, os resultados mostram o efeito benéfico da ingestão de uma a três xícaras de café por dia e a importância de moderar o consumo dessa bebida para a prevenção da hipertensão.” A pesquisa teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e contou com a colaboração dos professores Alessandra Goulart, Isabela Benseñor e Paulo Lotufo, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário (HU) da USP e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e da professora Dirce Marchioni, da FSP. Os resultados da pesquisa são apresentados no artigo Coffee consumption and risk of hypertension: A prospective analysis in the cohort study, publicado no Clinical Nutrition Journal. Do Jornal da USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/06/2020

EcoDebate - Edição 3.460 de 26/ junho / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura O Brasil terá sua pior recessão em 2020 e a pior década perdida da história A Medicina só funciona por adesão Esforço para combater o coronavírus deve motivar novas medidas para reduzir poluição do ar Saúde no trabalho em casa Cientistas mapeiam grilagem em florestas públicas na Amazônia Estudo indica que consumir uma a três xícaras de café por dia pode reduzir o risco de hipertensão “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Cientistas apontam situação gravíssima das florestas na Amazônia Maranhense

Amazônia Maranhense – Assegurar medidas de proteção, assim como de restauração das florestas secundárias, é a saída para evitar o colapso ambiental na região Um artigo recentemente publicado na revista Land Use Policy mostra que a porção de Amazônia existente no estado do Maranhão já perdeu 76% das suas florestas originais e que um quarto da vegetação florestal remanescente está degradada por incêndios criminosos e pela atividade madeireira ilegal. Segundo os autores, a região também tem sido alvo de queimadas, desmatamento ilegal e muita violência, em particular contra os povos indígenas e as populações tradicionais. Publicado por cientistas de diferentes centros e universidades, entre os quais estão o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as Universidades Estadual e Federal do Maranhão (UEMA e UFMA, respectivamente), o Conselho Consultivo da Reserva Biológica do Gurupi e o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o estudo apresenta dados do alto grau de fragmentação dessas paisagens florestais e evidencia a inexistência de áreas contíguas de florestas nativas, com tamanho mínimo para o manejo florestal sustentável por empresas madeireiras. “No Estado do Maranhão é imperativo que políticas públicas garantam a conservação e a restauração florestal, assim como a produção agrícola sustentável. Mas, as tendências apontam para a direção oposta”, aponta o trabalho, coassinado por Celso H.L. Silva Junior, Danielle Celentano, Guillaume X. Rousseau, Emanoel Gomes de Moura, István van Deursen Varga, Carlos Martinez e Marlúcia Martins. Retrocessos ambientais – Segundo o artigo, o ano de 2019 foi marcado por diversos retrocessos ambientais no Brasil, que resultaram no aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia. Isso causou prejuízos sócio-econômicos e ambientais severos, incluindo grandes emissões de carbono para a atmosfera. Entre os muitos reveses ambientais, aponta ainda o texto, o ano passado foi marcado pelo enfraquecimento da fiscalização do desmatamento e das políticas de mudança climática no Brasil, que catalisaram o aumento do desmatamento ilegal na Amazônia e alarmantes taxas de incêndio. Além disso, mudanças no código florestal (Lei Federal nº 12.651 / 2012), como a indefinição do prazo de extensão para o Cadastro Ambiental Ambiental (Lei nº 13.887 / 2019) e a tentativa de regularização de terras públicas obtidas de forma ilegal, por meio do Projeto de Lei nº 2.633/2020 (antiga Medida Provisória nº 910/2019, conhecida como “MP da Grilagem”), provavelmente aumentarão o desmatamento, retardando políticas de regularização e de restauração de passivos. Restauração florestal – Nesse contexto de alta destruição, a restauração da floresta é considerada a principal medida ambiental para enfrentar as mudanças climáticas. De acordo com um estudo global, 3,6 milhões de hectares da Amazônia Maranhense são considerados Hotspots Globais, ou seja, áreas em estado de conservação altamente crítico, mas ainda aptas à restauração. A melhor estratégia para restaurar florestas como a Amazônia seria assegurar condições adequadas para a regeneração natural, protegendo a vegetação secundária – ou seja, incrementar processos que facilitem que o ecossistema se reabilite por conta própria em médio e longo prazos. “As florestas secundárias que se formam através desse processo de regeneração são importantes para conservar a biodiversidade, garantir a regulação hidrológica e sequestrar carbono da atmosfera. Sem falar dos muitos benefícios que trazem de volta para a produção agrícola: regulação do clima local, polinização, controle biológico de pragas, entre outros”, aponta o estudo. Amazônia maranhense – Atualmente, a Amazônia Maranhense tem 2,5 milhões de hectares de florestas secundárias, ou seja, que já sofreram alguma forma de degradação, este montante é quase equivalente à área de florestas intocadas (primárias), calculadas em 2,4 milhões de hectares. Para os pesquisadores, a conservação, o manejo e a restauração das florestas na região, inclusive através de práticas agroflorestais e silviculturais, representam uma oportunidade de desenvolver cadeias produtivas sustentáveis com geração de emprego e renda. Na atual conjuntura global (de crise climática) e estadual (de estresse hídrico e degradação do solo), toda cobertura florestal (primária e secundária) deve ser conservada na Amazônia Maranhense, assim como devem ser fomentadas práticas agrícolas adaptadas aos solos vulneráveis da região. No entanto, não há proteção legal para as áreas que já sofreram alguma forma de alteração e, somente entre 2014 e 2018, cerca de 830 mil hectares foram desmatados. “Regular a proteção e a recuperação do patrimônio ambiental é um dever do Estado, assim como garantir a proteção das populações indígenas e rurais”, afirmam os autores. Uma ameaça adicional às florestas secundárias se esconde no Projeto de Lei Estadual 003/2020, aprovado em maio deste ano, que institui o Zoneamento Ecológico-Econômico do Bioma Amazônico no Maranhão e autoriza a redução da Reserva Legal, prevista no Artigo 14 (§ 3º). Segundo os especialistas, a medida poderá levar ao desmatamento legal e autorizado de mais de um milhão de hectares de áreas em regeneração, o que equivale à emissão de até 50 milhões de toneladas de carbono na atmosfera. “O Estado precisa criar mecanismos de proteção das Florestas secundárias e de fomento da restauração, porque o modelo de desenvolvimento atual tem resultado em degradação e pobreza”, argumentam. Serviço: O artigo “Amazon forest on the edge of collapse in the Maranhão State, Brazil”, publicado na Revista Land Use Policy em junho de 2020, está disponível no link: https://doi.org/10.1016/j.landusepol.2020.104806. Fonte: Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/06/2020

Terras Indígenas na Amazônia são as Áreas de Proteção que mais sofrem pressão por desmatamento, revela Imazon

Desmatamento – Relatório mostra que a TI Yanomami foi a mais pressionada entre fevereiro e abril deste ano. A Terra Indígena é uma das mais vulneráveis para a Covid-19. Por Stefânia Costa De acordo com o Imazon*, das dez Áreas Protegidas que mais sofreram pressão por desmatamento, cinco são Terras Indígenas. A TI Yanomami (RR/AM) foi o maior alvo dos criminosos responsáveis pela destruição ilegal da floresta. As TIs Alto Rio Negro (AM), Raposa Serra do Sol (RR), Uaçá I e II (AP) e Kayapó (PA) também registraram ocorrências de devastação no interior da área protegida. O avanço do desmatamento, além de trazer prejuízos ambientais para essas áreas, pode resultar ainda em riscos à saúde dessas comunidades tradicionais. A Terra Indígena Yanomami, a primeira no ranking das APs mais pressionadas, está no ranking das TIs mais vulneráveis para a Covid-19, segundo levantamento feito pelo Instituto Socioambiental em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais. As TIs Raposa Serra do Sol e Alto Rio Negro também estão na lista das mais suscetíveis a ter surtos da doença. Na última semana, a TI Kayapó perdeu uma de suas maiores lideranças para o coronavírus: Paulinho Payakan. “É preciso gente para desmatar e há muita invasão justamente nas Unidades de Conservação e nas Terras Indígenas. Essas pessoas podem levar o coronavírus para esses territórios”, explica o pesquisador do Imazon Carlos Souza Jr. O estudo apresenta ainda as Áreas de Proteção mais ameaçadas: APA do Tapajós (PA) e Parna Mapinguari (AM/RO). Somente o estado de Rondônia tem cinco das dez APs mais ameaçadas de fevereiro a abril deste ano. Já no ranking das APs mais pressionadas durante esse período, aparecem ainda a APA Triunfo do Xingu (PA), APA do Tapajós (PA) e a Florex Rio Preto-Jacundá (RO). Ameaça e Pressão – O Instituto classifica ameaça como a medida do risco iminente de ocorrer desmatamento no interior de uma área protegida. É utilizada uma distância de 10 km para indicar a zona de vizinhança de uma AP, onde a ocorrência de desmatamento indica ameaça. Já o termo pressão é definido como a ocorrência do desmatamento no interior da área protegida, que pode levar à perdas ambientais e até mesmo redução ou redefinição de limites da AP. De fevereiro a abril deste ano, o Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon detectou um total de 885 km² de desmatamento na Amazônia. 53% das células de desmatamento indicam ameaça e 47% mostraram a pressão em APs. O número de células com ocorrência de desmatamento de fevereiro a abril de 2020 é 216% superior ao registrado de fevereiro a abril de 2019. Estudo – O relatório do índices de ameaça e pressão de desmatamento em Áreas Protegidas é divulgado trimestralmente pelo Imazon. O estudo é produzido com base em dados de alertas de desmatamento do SAD, Sistema de Monitoramento desenvolvido pelo Instituto. São utilizados apenas os indicadores de desmatamento para determinar ameaça e pressão em uma unidade de conservação, entretanto, outros fatores também oferecem risco para a área, como extração madeireira, atividades de garimpo e hidrelétricas. Para ver o relatório completo, clique aqui. * Imazon – O Imazon é um Instituto nacional de pesquisa, sem fins lucrativos, composto por pesquisadores brasileiros, fundado em Belém há anos. Através do sofisticado Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), a organização realiza, há mais de uma década, o trabalho de monitoramento e divulgação de dados sobre o desmatamento e degradação da Amazônia Legal, fornecendo mensalmente alertas independentes e transparentes para orientar mudanças de comportamento que resultem em reduções significativas da destruição das florestas em prol de um desenvolvimento sustentável. desmatamento nas terras indígenas in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/06/2020

É alto o risco de surgir uma nova pandemia a partir da Amazônia, avalia cientista

Carlos Nobre, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, afirma que desmatamento e perturbação da vida selvagem são alguns dos elementos que originaram o novo coronavírus Por Renato Santana Fogo, desmatamento, fragmentação florestal, perturbação da vida selvagem, aumento do fluxo de humanos (garimpeiros, madeireiros, desmatadores, etc) entre áreas perturbadas de floresta e concentrações urbanas são elementos que criam sérias condições para o surgimento de pandemias a partir da Amazônia. “Os fatores de risco estão todos lá. Não ter surgido uma epidemia massiva na região da floresta até hoje é pura sorte”, avalia Carlos Nobre, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). “A falta de fiscalização e de políticas públicas contribuem para o surgimento de doenças, pois favorecem a retirada de animais de seu habitat e o contato não planejado com humanos”, explica. Desde que os primeiros casos do novo coronavírus começaram a surgir, muito tem se discutido sobre a origem da pandemia. Um estudo publicado na revista Nature Medicine aponta que são altas as probabilidades de que a doença tenha relação com a transmissão animal. Até o momento, suspeita-se que os primeiros casos na Ásia tenham sido transmitidos a partir de morcegos ou pangolins. O consumo de carne silvestre é um hábito bastante presente também no Brasil. Estudo publicado na Revista de Ciências da Saúde na Amazônia apontou que, no município de Rio Branco (AC), 78% dos entrevistados disseram consumir este tipo de produto. “A paca (Cuniculus paca) e o tatu (Gênero Euphractus) são as espécies mais procuradas”, diz a pesquisa, segundo a qual “pratos preparados à base de carnes silvestres em restaurantes apresentaram uma aceitabilidade de 100%”. E não é apenas no Acre. No estado do Amazonas, o consumo de tartarugas-da-amazônia tem colocado a espécies em situação de vulnerabilidade. A alta demanda pela carne desses animais estimula a caça e o tráfico ilegais, criando uma crise de saúde pública, uma vez que boa parte das vezes o produto não tem origem adequada. “Estamos no século das zoonoses. A cada quatro meses, a ciência identifica um microrganismo, bactéria, vírus ou protozoário que vira patógeno no corpo humano. A maioria, felizmente, não se propaga. Mas outros têm grande capacidade de contágio, como o novo coronavírus”, explica Nobre. Para Malu Nunes, mestre em Conservação da Natureza e Ciências Florestais e diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, é preciso garantir formas eficazes de proteger a floresta. “A sociedade como um todo precisa entender que a degradação e o tráfico de animais estão diretamente relacionados à propagação de doenças. É uma questão de saúde pública. Há bem pouco tempo, ninguém imaginaria a humanidade passando por uma pandemia tão grave e com consequências tão sérias. Se não houver meios que impeçam o desmatamento e outros problemas ambientais, será cada vez mais comum termos de lidar com este e outros tipos de consequências, igualmente perturbadores”, diz Malu. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/06/2020

EcoDebate - Edição 3.459 de 25/ junho / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura O Marketing Sustentável como Ferramenta para os Negócios Ecoturísticos no Brasil, por José Austerliano Rodrigues e Izabel Cristina da Silva Injustiça socioambiental fere a dignidade da vida, artigo de Gilvander Moreira Plantio de novas florestas é parte da solução para as mudanças climáticas, mas não é tudo Terras Indígenas na Amazônia são as Áreas de Proteção que mais sofrem pressão por desmatamento, revela Imazon Cientistas apontam situação gravíssima das florestas na Amazônia Maranhense É alto o risco de surgir uma nova pandemia a partir da Amazônia, avalia cientista Transição para renováveis no mercado de energia é puxada por países em desenvolvimento “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

Nuvem de gafanhotos pode chegar ao Brasil nos próximos dias

Nuvem de gafanhotos destrói lavoura de milho na Argentina e pode chegar ...

terça-feira, 23 de junho de 2020

Covid-19: Pessoas com sintomas que adiam atendimento aumentam o risco à própria saúde

covid-19 Manter-se saudável é o desejo de todos, ainda mais em tempos de pandemia. Mas, cuidar da própria saúde ganhou mais preocupação. Com medo da contaminação, muita gente ficou sem saber se devia ir ao médico ou não, quando seria seguro aguardar um pouco para pedir ajuda. Este cenário incerteza acaba fazendo as pessoas postergarem um atendimento, deixando a própria saúde em risco. Mas ninguém precisa deixar de cuidar de si para se proteger contra a covid-19, a vida continua. Por receio de se contaminarem, muitas pessoas estão evitando ir ao médico e, até mesmo, vêm adiando solicitar atendimento. Porém, esse comportamento pode levar a consequências muitos perigosas, uma vez que pode estar atrasando a resolução de um problema de saúde mais sério. Um dado da Ecco Salva que confirma esta tendência é a redução entre 10 e 15% nos chamados por atendimento verificada em junho. Por outro lado, as ligações de clientes pedindo orientação médicas mais que dobraram, o que indica que a pessoas ainda estão preocupadas com sua saúde. Segundo Juradilson de Santis, diretor-médico da Ecco Salva em Curitiba com mais de 20 anos de experiência em atendimentos de emergência, explica que devemos estar atentos e não postergar sintomas como dores no peito, principalmente os portadores de problemas do coração, hipertensão e diabetes. “Entre os sintomas que merecem atenção estão a sensação de formigamento em braços e pernas com perda de força, e a perda de sensibilidade na face ou mesmo desvios na boca, que podem ser sinais de um acidente vascular cerebral (AVC)”, alerta Santis. Outros sintomas e situações em que o atendimento não deve ser adiado: – confusões mentais em pacientes que antes eram normais; – traumas com impacto de força grande ou moderado; – dores abdominais de média a grande intensidade que não sedem com medicação; – dificuldade respiratória importante mesmo sem sinais de gripe ou resfriado. Santis destaca também o cuidado aos sintomas respiratórios. “Nos casos da chamada síndrome gripal devemos estar atentos a febres que não cedem com uso de antitérmicos ou que sejam persistentes, piora da sensação de cansaço ou dificuldade para respirar devem ser indicativos para procurar atendimento médico”, sentencia. O Brasil tem um histórico problemático capacidade de atendimento, especialmente com relação à saúde pública. Atender a uma demanda crescente nas cidades tornou-se um grande desafio para o sistema de saúde brasileiro, que precisaria de investimento em infraestrutura complexa, com equipamentos, hospitais, unidades de pronto atendimento, pessoal capacitado e uma série de processos de excelência. Neste contexto, o Atendimento Pré-Hospitalar (APH) atua como um filtro do que irá chegar às unidades médicas, sejam públicas ou particulares. Do contrário, uma série de atendimentos que poderiam ser solucionados no local vão parar nos hospitais, gerando filas, congestionando o sistema e afetando a qualidade do serviço de saúde como um todo. Em outra frente, APH pode ser a diferença entre a vida e a morte, pois muitas vezes a pessoa não pode esperar chegar a um hospital para ser atendida. Por isso existem empresas especializadas neste tipo de atendimento. A Ecco Salva é uma delas, tendo como diferencial de mercado oferecer planos para Pessoa Física. 92% dos casos resolvidos no local As estatísticas da Ecco Salva apontam que cerca de 92% dos casos atendidos são solucionados no local da ocorrência, sem a necessidade de deslocamento até um hospital. É mais comodidade e conforto para o cliente, e menor transtorno para a família. “O APH é conhecido por salvar vidas, pois é responsável por controlar e parar a evolução dos possíveis danos que podem levar à morte, principalmente, estando distante do ambiente hospitalar adequado. Dessa maneira, atua ativamente na redução de possíveis sequelas, intervindo o mais precocemente possível na ocorrência”, esclarece Santis, que é médico emergencistas e perito médico judicial. O atendimento médico se inicia bem antes da equipe médica chegar ao local onde o cliente está. “O médico regulador, presente 24 horas por dia na central de comunicação avalia cada caso e define a resposta mais adequada, seja apenas um conselho médico ou até o envio de uma equipe de atendimento ao local da ocorrência com a estrutura mais adequada ao caso”, esclarece ele, explicando que os atendimentos são realizados conforme protocolos de atendimento e técnicas especiais. Por isso, as equipes médicas passam por treinamentos e reciclagens constantes. O lado bom de tudo o que estamos vivendo é que todo mundo passou a falar mais de saúde e querer se cuidar. A atenção de todos está redobrada e é hora de adotar a prevenção e o cuidado com a saúde como hábitos permanentes. Bons hábitos, como ter uma alimentação natural, dormir bem, praticar exercícios regularmente e visitar o médico periodicamente é o plano ideal para uma viver com qualidade. Mas que todos tenham consciência de que é importante ter bom senso e colocar sua saúde e de seus familiares em primeiro lugar e buscar ajuda sempre que for necessário. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/06/2020

EcoDebate - Edição 3.457 de 23/ junho / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura Covid-19, Ciência e a participação do Brasil na OMS, por Benisio Ferreira da Silva Filho, Vinícius Bednarczuk de Oliveira e Ivana Maria Saes Busato Coronavírus: Mais de um milhão de casos no Brasil, artigo de Juacy da Silva Investidores internacionais pressionam governo brasileiro sobre crise ambiental Commodities agrícolas foram as grandes responsáveis por incêndios na Amazônia, segundo estudo Covid-19: Pessoas com sintomas que adiam atendimento aumentam o risco à própria saúde “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

segunda-feira, 22 de junho de 2020

EcoDebate - Edição 3.456 de 22/ junho / 2020

Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura A temperatura global em 2020 pode ser recorde, artigo de José Eustáquio Diniz Alves Análise – Um milhão de infectados e os erros do Brasil no combate à covid-19 É muito provável que o ano 2020 (> 99,9%) esteja entre os dez mais quentes já registrados Pandemia escancara necessidade de diminuição na emissão de poluentes Arborização Urbana: Estudo vincula o crescimento da copa das árvores à diminuição da mortalidade humana Mortalidade de indígenas por covid-19 na Amazônia é maior do que médias nacional e regional, revela estudo Inverno exige mais cuidados para evitar o coronavírus “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]

domingo, 21 de junho de 2020

Natura &Co divulga seu Compromisso com a Vida para 2030

O grupo alcançará emissões líquidas zero de carbono 20 anos antes do compromisso estabelecido pela ONU, protegerá a Amazônia, promoverá a inclusão e a igualdade e transformará a maneira de fazer negócios por meio da economia circular e da regeneração Junho de 2020 – A Natura &Co (Avon, Natura, The Body Shop e Aesop – “o grupo”) divulga hoje seu Compromisso com a Vida, um plano abrangente de sustentabilidade que intensificará suas ações para enfrentar algumas das questões globais mais urgentes, incluindo a crise climática e a proteção da Amazônia, a defesa dos direitos humanos e a garantia de igualdade e inclusão em toda a sua rede, além de abraçar a economia circular e a regeneração até 2030. Por meio de três pilares, o Compromisso com a Vida da Natura &Co busca: Enfrentar as mudanças climáticas e proteger a Amazônia: Atingir emissões líquidas zero de carbono até 2030 para suas quatro marcas, 20 anos antes do compromisso firmado pela ONU. Reduzir as emissões de carbono alinhadas às metas científicas, rastreando as emissões em toda a cadeia de valor e de seus fornecedores; da extração de matérias-primas ao descarte de embalagens. Com base em um forte histórico de cumprimento da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica e expansão da prática, aplicar o Protocolo de Nagoya e pagamentos de ABS (acesso e compartilhamento de benefícios, em inglês) para evitar a perda de biodiversidade. O grupo fará parceria com a Aliança Baseada na Ciência (Science Base Targets) para estabelecer uma nova modelagem para a preservação da natureza. Intensificar suas ações para proteger a Amazônia, aproveitando a experiência de mais de 20 anos da Natura na região. Atualmente, a Natura preserva 1,8 milhão de hectares de terra, uma área equivalente a metade da Holanda. O grupo terá como objetivo contribuir para a preservação de 3 milhões de hectares até 2030. A Natura &Co promoverá esforços coletivos para garantir o desmatamento zero da Amazônia até 2025. Defender os direitos humanos e sermos mais humanos: Criar condições melhores, mais gentis e mais inclusivas para que suas redes prosperem. As medidas incluem aumentar a diversidade em 30%, levando em consideração a diversidade racial ou étnica, a diversidade sexual e a identidade de gênero, além de desfavorecidos social e economicamente e pessoas com deficiência. Ir além da meta dos 30% de mulheres em posições de liderança dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, aumentando sua meta para 50% até 2023. A Natura &Co garantirá paridade de gênero e remuneração igual até 2023 entre toda sua força de trabalho. Garantir que todos os seus associados recebam renda digna (living wage) até 2023. Além disso, acompanhar e promover o aumento do lucro, da saúde e da educação de seus mais de seis milhões de consultoras e representantes durante esse período, promovendo um modelo de negócios confiável, e estender esses cuidados também às 35 mil pessoas que vivem em comunidades fornecedoras de matéria prima ao Grupo. Aumentar o seu compromisso de ser uma empresa que retribui à sociedade por meio de suas quatro marcas, aumentando em 20%, a até US$ 600 milhões, os investimentos nas principais causas nas quais atua (como ações de desenvolvimento sustentável, conscientização sobre o câncer de mama, combate à violência doméstica e educação). Intolerância à violação dos direitos humanos em conformidade com os princípios orientadores da ONU até 2023 para toda a sua rede, especialmente para sua cadeia de fornecedores. Além disso, em relação a esse grupo, a Natura &Co aplicará rastreabilidade e/ou certificação completa até 2025. Por fim, o grupo promoverá programas para ingredientes críticos nos próximos anos, especificamente para óleo de palma, mica, álcool, algodão, papel e soja. Abraçar a economia circular e a regeneração: Avançar para além de um modelo econômico circular capaz de regenerar mais do que é necessário para a produção garantir a circularidade de embalagens até 2030 e garantir que 100% de seus materiais sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. Aumentar o uso de plástico reciclado para 50% e compensar a quantidade equivalente de embalagem onde a infraestrutura de reciclagem não existe para atingir 100% do descarte responsável de plásticos. O grupo também garantirá circularidade da fórmula, com o uso de 95% de ingredientes renováveis e 95% de fórmulas biodegradáveis até 2030 em todas as suas quatro marcas. Finalmente, por meio de um programa de investimento significativo, desenvolver ainda mais soluções regenerativas, incluindo comunidades de comércio justo, sistemas de extração regenerativa e soluções de resíduos em plástico até 2030. Roberto Marques, Presidente Executivo do Conselho e CEO do Grupo Natura &Co “Entendemos o momento crítico em que vivemos e o papel que as empresas precisam desempenhar para se engajarem e se comprometerem com uma sociedade melhor, mais sustentável e mais inclusiva. Ainda precisamos fazer muito mais para ser a geração que restaura nosso planeta e protege seu povo. Alinhada aos nossos princípios orientadores, a Natura &Co espera fazer parte do diálogo e da solução. Somos a geração que tem o conhecimento e a tecnologia para conter o aumento das temperaturas globais, pôr um fim à questão global dos resíduos e criar igualdade para aqueles que mais precisam. Mas agora precisamos avançar mais rápido. Precisamos agir e ser responsáveis pelo que fazemos”, afirma Roberto Marques, Presidente Executivo do Conselho e CEO do Grupo Natura &Co. Silvia Lagnado, Crescimento Sustentável da Natura &Co Silvia Lagnado, Crescimento Sustentável da Natura &Co, afirma: “Como empresas, estamos unidas, com a ambição de nos tornarmos carbono zero em dez anos, inovar com soluções regenerativas como parte de nossa busca de circularidade total e tomar ações ousadas em direção a mais igualdade e inclusão em nossa rede. Não conhecemos o caminho em detalhes, mas temos certeza do destino e estamos abertos à colaboração acima da concorrência”. Para alcançar essa ambição e ajudar a impulsionar a mudança necessária, a Natura &Co está se envolvendo com a sociedade civil para: Convidar seus parceiros, concorrentes, comunidade empresarial, a academia e as ONGs a se juntarem na tomada de posição. Desafiar o status quo – acreditando que ninguém detém todas as respostas e que as etapas que foram tomadas podem ser melhoradas coletivamente. Trabalhar em conjunto na elaboração e modelagem de um novo mundo do qual todos possam se orgulhar. Mudança de escala requer liderança, comprometimento, colaboração e inovação. Todos precisam fazer sua parte. Além do que já está fazendo, a Natura &Co está convocando indústrias, consumidores, marcas e governos a se unirem para mudar fundamentalmente o sistema e implementar uma visão regenerativa que criará um mundo mais justo e verde. Confira aqui o vídeo manifesto da Natura & Co. Sobre a Natura &Co A Natura &Co é um grupo global de cosméticos, multicanal e multimarcas, que inclui Avon, Natura, The Body Shop e Aesop. A Natura &Co registrou receita líquida de R$ 14,4 bilhões em 2019 e R$ 32,9 bilhões em termos proforma, incluindo a Avon. As quatro empresas que formam o grupo estão comprometidas em gerar impacto econômico, social e ambiental positivo. Por 130 anos, a Avon defendeu as mulheres: fornecendo produtos de beleza inovadores e de qualidade, vendidos principalmente para mulheres, por meio de mulheres. Fundada em 1969, a Natura é uma multinacional brasileira no segmento de cosméticos e cuidados pessoais, líder em vendas diretas. Fundada em 1976 em Brighton, Inglaterra, por Anita Roddick, a The Body Shop é uma marca global de beleza que busca fazer uma diferença positiva no mundo. A marca de beleza australiana Aesop foi criada em 1987 com o objetivo de criar uma gama de produtos excepcionais para a pele, cabelos e corpo.

Plurale em revista: Edição 70 Como será o novo normal?

Especial traz a atuação de empresas ajudando no combate à pandemia; reportagens dos Estados Unidos, Alemanha e China, e, como sempre haverá beleza e esperança, em uma metáfora sobre as borboletas Plurale Especial – Edição 70 traz as ações de empresas e Institutos – como Bradesco, Coca-Cola, Grupo Accor, Grupo Boticário, Instituto Claro, McDonald`s Brasil e Veracel – que estão ajudando a combater a pandemia, em parceria com o poder público e com ONGs. O novo normal também alterou a forma de consumir cultura, como mostra a repórter Maurette Brandt. A força da pesquisa e da Ciência é tema de reportagem de Nícia Ribas. Também entrevistas dos parceiros da IHU On-Line trazem a relação entre o coronavírus e o aquecimento global, assim como a ameaça para povos indígenas na Amazônia. De Nova Iorque, um dos epicentros desta crise, Viviane Faver conta a iniciativa de fotógrafos para relatar em arte o impacto da pandemia. De Hamburgo, Elisabeth Reuter Catappan traz o relato de como está o processo de começo da volta ao novo normal. Hélio Rocha, que voltou da China no fim de 2019, onde fez um intercâmbio, relata como tem sido o impacto da pandemia por lá e o conflito com os EUA. Luciana Tancredo, que migrou da cidade grande para o interior, apresenta um ensaio sobre o Brejal, joia encravada no alto da Serra de Petrópolis. Paula Martinelli conta como foi sua viagem, em 2019, à Islândia – terra do fogo e do gelo. Confira os artigos inéditos de Carlos Eduardo Frickmann Young e Maira Luiza Spanholi; Flávio Seixas e Henrique Luz, e ainda a coluna Cinema Verde, por Isabel Capaverde e Pelas empresas, por Felipe Araripe. Como parte da ação da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA) – #essaboiadanãovaipassar – arte do designer Amaro Júnior encerra a Edição assegurando que “o jornalismo ambiental nunca esteve tão atento e unido”. “Em 35 anos de profissão, esta foi, sem dúvida, a edição mais difícil. Na virada de 2019 para 2020, projetamos um especial pela efeméride do número 70 de Plurale em revista. Jamais poderíamos esperar a pandemia global. O cenário ainda é de incertezas, mas está claro que o caminho é o das parcerias. Vai passar! E seguiremos juntos nesta jornada sustentável pelo novo normal.”, disse Sônia Araripe, Editora de Plurale. Ela contou ainda sobre a matéria de capa. “No fechamento desta edição, soubemos do falecimento do pantaneiro João do Borboletário, do Hotel SESC Pantanal, em Poconé, Mato Grosso, entrevistado em reportagem na nossa revista 66. Seu João partiu depois de lutar bravamente contra um câncer. Percebemos que havia metáfora forte entre o ‘encantador de borboletas’, como o chamamos, e este momento atual que estamos vivendo”, completou Sônia. Plurale em revista e Plurale em site Há treze anos acreditando na sustentabilidade como tema principal, Plurale em revista e Plurale em site, dirigidos e editados pela jornalista Sônia Araripe, vêm divulgando histórias de pessoas, empresas e projetos, abordando temas relacionados ao meio ambiente e iniciativas de cidadania, ação e cultura. www.plurale.com.br #Envolverde

Brasil participa da última fase clínica de testes em humanos de vacinas contra COVID-19

Por Sucena Shkrada Resk* – Iniciativas são fruto de parcerias com Universidade de Oxford e com indústria farmacêutica chinesa Um dos centros de pesquisa mundiais em estágio mais avançado quanto à vacina contra a Covid-19, é a Universidade de Oxford, no Reino Unido, que já se encontra nos testes da 3ª e última fase clínica em humanos, após as executadas em animais, para verificar sua eficácia e segurança. Nesta etapa, está programada a participação de 50 mil pessoas voluntárias que não tiveram contato com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), sendo 30 mil, nos EUA; 10 mil pessoas, no Reino Unido e duas mil, divididas entre São Paulo e no Rio de Janeiro, além de países da África e Ásia. A expectativa é que os primeiros resultados saiam até meados de outubro deste ano e deverão ser submetidos primeiramente à agência regulatória do Reino Unido. A condução destes ensaios em São Paulo, no Brasil, está sob a coordenação do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que tem à frente, a pesquisadora Lily Win Weckx. Uma das principais responsáveis pela participação brasileira, na pesquisa, é a cientista Sue Ann Costa Clemens, pesquisadora do CRIE, e também chefe do Instituto de Saúde Global da Universidade de Siena. O interesse pelo país se deve especialmente por estar ainda em curva ascendente de casos, em que a população está mais exposta ao vírus. Em São Paulo, serão mil testes, com apoio da Fundação Lemann. No Rio de Janeiro, o financiamento dos testes em mil voluntários será feito pela Rede D’Or São Luiz. A iniciativa foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), subordinada ao Ministério da Saúde, no início do mês de junho. O público-alvo principal são profissionais da saúde, que estão na linha de frente, entre 18 e 55 anos, e outros grupos de risco, composto por idosos e imunodeprimidos. Segundo o professor Andrew Pollard, pesquisador-chefe do Oxford Vaccine Trial na Universidade de Oxford, em abril, ocorreram os ensaios clínicos das Fases I / II da vacina, no Reino Unido, em mais de 1.000 voluntários saudáveis, entre 18 e 55 anos, em vários centros de testes no sul da Inglaterra. Os esforços da equipe, que também tem na liderança, os cientistas Sarah Gilbert, Teresa Lambe, Sandy Douglas e Adrian Hill, tiveram início em 10 de janeiro deste ano. O ponto de partida foi um vetor de vacina para adenovírus chimpanzé (ChAdOx1), desenvolvido no Instituto Jenner de Oxford. De acordo com os pesquisadores, é uma tecnologia mais adequada para uma vacina SARS-CoV-2, porque tem capacidade de gerar uma forte resposta imune a partir de uma dose e não é um vírus replicante. Em experiência precedente bem-sucedida, a equipe já havia desenvolvido uma vacina para a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), contra uma outra cepa do coronavírus. “Nesta fase 3 de ensaios clínicos da vacina contra a Covid-19, estamos muito satisfeitos por trabalhar com a talentosa equipe de pesquisadores no Brasil no ensaio da vacina, pois pesquisadores e cientistas de todo o mundo colaboram no trabalho de desenvolvimento clínico com urgência sem precedentes para combater a ameaça global à saúde humana, que é o coronavírus”, afirma Pollard, em publicação da universidade. Os esforços dos cientistas de Oxford no combate à Covid-19 vão muito mais além, na instituição. Atualmente são mais de 150 profissionais envolvidos, que além da vacina, estudam medicamentos, testes de anticorpos e sistema de rastreamento de contatos. Para acompanhar os artigos a respeito destas iniciativas, é só acessar o site: https://www.research.ox.ac.uk/Area/Search/coronavirus Desafio: produção em escala A maior preocupação, entretanto, é com a produção da vacina em grande escala, devido à dimensão global da pandemia, e que seja de acesso aberto à transferência de tecnologia. A primeira iniciativa, neste sentido, se deu em 30 de abril, quando a Universidade de Oxford e a empresa AstraZeneca anunciaram um acordo para o desenvolvimento e distribuição global da potencial vacina. Em uma primeira escala, a meta é da produção de 1 bilhão de doses. No Brasil, Soraya Smaili, reitora da Unifesp, expõe a expectativa de o Brasil também ter prioridade para o recebimento da vacina, além do Reino Unido, EUA, entre outras nações com maiores números de casos no mundo. Com a disponibilização da tecnologia, ela destaca que o país tem capacidade de produção local, por meio de laboratórios nacionais, como o Instituto Butantan, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “A tecnologia desenvolvida pela Oxford, o Butantan ainda não domina”, explicou o diretor da unidade, Dimas Covas. Mais uma frente de testes pelo Instituto Butantan Um novo anúncio, entretanto, foi feito nesta quinta-feira, 11 de junho, expandindo as possibilidades da prevenção da doença. O Instituto Butantan, do Governo do Estado de São Paulo, assinou uma parceria no último dia 10, com a indústria farmacêutica chinesa Sinovac, para realizar a fase 3 de testes clínicos da vacina contra a Covid-19 produzida pela empresa, sob o nome de CoronaVac, em 9 mil voluntários no Brasil. De acordo com Covas, a instituição investiu R$ 85 mi na iniciativa e deverá ter a parceria de 16 centros de estudos clínicos no Brasil, que já atuam no combate à Dengue. A expectativa é ter a validação até o final do primeiro semestre de 2021. Aí é possível falar em produção em massa para imunizar a população. As fases anteriores foram aplicadas na China A divulgação destas iniciativas está sendo considerada positiva, colocando a força científica brasileira novamente no protagonismo mundial, apesar dos conflitos na condução política da pandemia no país. Esta soma de esforços deverá refletir futuramente na consistência da prevenção da doença no Programa Nacional de Imunização brasileiro e dos demais países do mundo, com o objetivo de quebrar barreiras que prejudicam os países mais pobres e em desenvolvimento. Este é um dos esforços também da Organização Mundial da Saúde (OMS) Como o diretor-científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, o infectologista Sérgio Cimerman, frisou nesta semana – “Para uma vacina ser aprovada, deve ter alcance pelo menos de 85% de eficácia…E complementa sobre a importância dos esforços nunca antes vistos no planeta, que esta pandemia exigiu, na agilização de respostas eficazes no combate à Covid-19. “A média para o processo de estudo de uma vacina é (historicamente) de dez 10 anos a 15 anos”, destaca. No mundo, atualmente há mais de 110 estudos em andamento, em diferentes etapas, de acordo com a cientista Sue Ann. Deste montante, entretanto, somente 10 estão mais avançadas, com destaque às pesquisas de Oxford e da Sinovac. *Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade. #Envolverde

ARARA AZUL : QUANDO A NATUREZA TEM ASSISTENTES

por Dal Marcondes*, especial pera o Projeto Terramérica – Esta reportagem foi feita em 2005 para o Projeto Terramérica, uma parceria da Envolverde com a agência internacional Inter Press Service (IPS) e foi republicada em mais de 40 países e em ao menos 10 diferentes idiomas. O Pantanal sofre graves ameaças, com desmatamento sem controle realizado por empreendimentos agropecuários e a extinção de espécies que são endêmicas. O Projeto Arara Azul, coordenado pela bióloga Neiva Guedes é exemplo de garra e determinação na luta pela preservação de espécies magníficas que são alvo fácil de caçadores e traficantes de animais. Em 1989, quando a bióloga Neiva Guedes se encontrou pela primeira vez um bando de araras azuis pousado em uma árvore no Pantanal teve início um caso de amor à primeira vista. “Foi uma visão de muita beleza”, conta emocionada esta batalhadora, que depois de duas décadas dedicados ao trabalho de preservação desta espécie contabiliza uma vitória numérica. Eram cerca de 1500 indivíduos em 1990 e hoje a contagem passa de 5500, graças principalmente a Neiva e a seu time de colaboradores que diariamente vasculha as entranhas do Pantanal no Mato Grosso do Sul em busca de ninhos e vestígios da presença da arara azul. “Atualmente estamos monitorando permanentemente mais de 500 ninhos e mantendo um relacionamento muito próximo com os fazendeiros e com os peões que trabalham nas fazendas”, conta Neiva. Para ela os pantaneiros, pessoas que vivem e trabalham no Pantanal são os melhores aliados para a preservação da arara azul, que está entre as espécies animais mais ameaçadas do planeta. A bióloga Neiva Guedes, criadora do Projeto Arara Azul No Brasil existem populações de araras azuis no Pantanal, na Amazônia, no Piauí, Tocantins e Bahia. Apenas no Pantanal o trabalho de preservação conta com a ajuda estruturada de uma equipe, o Projeto Arara Azul, com apoio da UNIDERP (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), que contratou Neiva Guedes como pesquisadora e seu principal auxiliar, o ex-militar Cezar Corrêa. Nos outros locais onde ocorrem a arara azul a situação é muito grave, segundo Neiva. Na Amazônia a ave é uma das principais presas de caçadores, traficantes de animais e índios em busca de penas para seu artesanato. Neiva conta que uma vez que esteve no Pará encontrou exemplares da Arara Azul presos em gaiolas apenas para ter suas penas arrancadas a cada vez que cresciam, uma maneira de se ter um abastecimento constante de penas para artesanato. A arara azul (Anodorynchus hyacinthinus) se destaca não só pela beleza, mas por ser a maior do mundo: aproximadamente um metro da ponta do bico à cauda e cerca de 1,3 quilo de peso. Casal de araras azuis por Marie Stafford O tráfico de animais é um dos principais inimigos desta ave majestosa. Um exemplar com saúde pode chegar a valer 10 mil euros na Europa. No entanto, para que apenas um indivíduo chegue com vida a este mercado, dezenas morrem pelo caminho, porque a captura é feita nos ninhos, com os filhotes muito pequenos ou ainda em ovos. “A arara azul reproduz apenas a cada dois anos e o filhote precisa ficar sob os cuidados dos pais até 18 meses”, conta Neiva. Para ela a ação dos órgãos de fiscalização contra o tráfico de animais ainda é muito precária e não consegue impedir a ação dos bandidos. “Uma vez em cativeiro a arara azul se comporta como um gatinho”, explica a bióloga, e este é um dos principais motivos pelo qual elas são tão valiosas no mercado negro. Existem estimativas que apontam para a captura de mais de 10 mil exemplares de araras azuis nos anos 80. Hoje o tráfico diminuiu um pouco no Pantanal, mas ainda há a ameaça de indígenas que capturam o animal para usar suas penas em adornos e artesanato que são vendidos aos turistas. Em um pequeno posto de venda de artesanato na cidade de Miranda, ao ver penas de araras em peças de artesanato, a bióloga franze a testa. Sabe que não são penas coletadas no solo, que naqueles artefatos podem estar penduradas penas de algumas de suas araras. Ali podem ser perdidos anos de trabalho, apenas porque não se respeita a lei que proíbe o uso de penas de aves ameaçadas de extinção para a fabricação de qualquer tipo de produto, seja por artesãos indígenas como ou por industriais paulistas. Porém, mesmo com as ameaças ainda presentes, quem anda pelo Pantanal pode hoje avistar destas aves, sempre voando aos pares. É que elas são monogâmicas e depois que escolhem um companheiro ou companheira não mais se separam. Estarão sempre juntas buscando alimento, as palmeiras de acuri e bocaiúva, cujas castanhas são seus únicos alimentos desde que nascem até a morte. E não é apenas na alimentação que estas aves são tão especializadas. Seu habitat no Pantanal também é muito específico, só fazem ninhos em árvores de manduvi que têm uma madeira macia que permite às araras ampliarem pequenos buracos que encontram em seus caules. Cezar Correa, que diariamente percorre cerca de 10 ninhos de araras no Pantanal explica que esta especialização de habitat também é um problema para a preservação da espécie. O manduvi para estar pronto para receber um ninho de arara já deve ter quase 100 anos. Antes disto a madeira ainda é muito dura e as aves não conseguem fazer o buraco para aninhar”, conta. Isto quer dizer que as árvores que estão sendo usadas como ninho hoje foram plantadas no final do século XIX e início do século XX. E qualquer projeto para ampliar a oferta de ninhos para a araras azuis deve ser feito pensando um século à frente. Tratores flagrados pelo Ibama em desmatamento ilegal no Pantanal Desmatamento A limpeza rasa do solo, realizada por tratores arrastando correntes, é uma das ameaças mais graves aos habitats não apenas das araras azuis, mas de centenas de outras espécies pantaneiras. E este tipo de ocupação predatória está tornando-se cada vez mais comum na região, um dos ecossistemas mais frágeis do Brasil. “Os investidores de fora compram a terra e acreditam que podem produzir gado nas mesmas condições de pastagens que implantaram em ecossistemas de cerrado e Mata Atlântica”, diz Neiva. “Mas não dá certo, tem de respeitar o Pantanal, seu ciclo de águas, sua fauna e flora”, explica. Contudo, este procedimento predatório arranca pela raiz centenas de pés de manduvi e, com eles, os ninhos, que não servem apenas às araras azuis, mas também às araras vermelhas, aos gaviões, às corujas e aos patos. Para tentar diminuir este déficit o Projeto Arara Azul trabalha na criação de ninhos artificiais para suprir uma demanda cada vez maior por parte das aves que dependem deste ninho para a reprodução. “Tentamos vários formatos, mas apenas recentemente tivemos sucesso com um tipo de ninho artificial”, explica Neiva Guedes. Este ninho é uma caixa de madeira que deve ser colocada entre os galhos do manduvi, como se fosse um buraco de arara natural. Das conversas com os pantaneiros vêm as histórias de transformação que a região vem sofrendo ns últimos anos. Os velhos proprietários de terra estão deixando suas heranças para os filhos, que seguem dois caminhos. O primeiro é buscar ampliar a produtividade de um pedaço menor de terra, uma vez que a fazenda original foi dividida. Para isto ampliam o desmatamento e buscam aumentar suas áreas de criação e pastagem. Contudo, este não é o maior predador. Normalmente é gente que conhece a terra e faz um desmatamento seletivo, preservando as árvores importantes e as matas ciliares. O pior acontece quando os herdeiros não têm interesse em seguir com as tradições dos pais e vendem as terras para grupos de fora, principalmente empresas de agropecuária que chegam buscando o lucro rápido e não têm nenhum compromisso com a terra. “Estes são os piores, chegam de avião, reclamam do calor, dos mosquitos e querem ir embora o mais rápido possível”, diz Neiva. Os olhares da mídia estão muito focados nos desmatamentos na Amazônia, mas um passeio rápido pelo Pantanal mostra cenários de desolação. Não apenas em novos desmatamentos, mas nos exemplos de fracasso de antigas intervenções equivocadas. São milhares de hectares de terras que se tornam alagados na cheia e que estão com sua flora devastada e sem a capacidade de suprir a fauna local com frutos e abrigo. O peão Carlos Camilo, nascido e criado no Pantanal, que há 15 anos é capataz de uma fazenda na região, conta que antes havia mais onças, cervos e animais grandes. “Hoje tá rareando”, diz. Para ele o desmatamento é a principal causa do sumiço das espécies. Orgulhoso, ele se aproxima da equipe do Projeto Arara Azul que chega para monitorar um ninho perto de sua casa. Na conversa com os técnicos passa informações preciosas sobre o comportamento das aves e diz que além do ninho, aquele manduvi abriga mais de 30 indivíduos que vêm no final da tarde para passar a noite em seus galhos. Fêmea de arara azul, por Marie Stafford O trabalho Quando uma equipe do Projeto Arara Azul chega próximo a um ninho, o casal de araras azuis faz muito barulho, mas se afasta pra permitir que a cavidade seja inspecionada. Escalar as árvores é um trabalho arriscado, feito com equipamento de rapel e usando uma técnica desenvolvida pela própria Neiva. Uma vez no ninho o técnico faz uma inspeção de seu estado, se não tem nenhum tipo de infestação e, se houver um filhote, este é baixado para ser identificado pelas biólogas. A própria Neiva ou as estagiárias que atuam no projeto. A pequena ave é anilhada, identificada com um chip subcutâneo, tem uma amostra de seu sangue retirada para exames e devolvida ao ninho. A partir daí ela será monitorada pelo projeto durante toda a sua vida. Sempre que for encontrada, um equipamento tem como ler a poucos metros os dados de seu chip e dar aos pesquisadores as principais Informações sobre a ave. Neiva Guedes e um filhote de arara azul Neiva alerta que mesmo que tenhamos dados sobre todas as araras azuis, isto não quer dizer que saibamos como elas vão se comportar. Segundo ela são animais com personalidade própria e cada indivíduo ou casal tem uma forma de viver e se relacionar com os humanos. A maioria é muito dócil, se mantém a uma pequena distância enquanto seu ninho é monitorado e retorna assim que os humanos se retiram para voltar a cuidar e alimentar seu filhote. As pequenas ararinhas ficam no ninho por pouco mais de cem dias, quando então dão seus primeiros vôos e passam a acompanhar os pais até completarem dezoito meses. Até os seis meses serão alimentadas pelos pais, que as ensinam a voar, a buscar alimentos e a defenderem-se de predadores. Os dezoito meses representam para as araras azuis o mesmo que s dezoito anos significam para os humanos. É com esta idade que elas deixam a companhia dos pais e juntam-se a um bando de “solteiros”. “Os teens do Pantanal”, brinca Neiva. Neste bando elas continuam seu aprendizado de vida e é lá também que vão encontrar o companheiro ou companheira para toda a vida. Na natureza uma arara azul pode chegar a 35 anos e vai viver na companhia de seu parceiro até morte. As pesquisas do Projeto Arara Azul Mostram que a monogamia é absoluta entre estes animais. O início do Projeto Neiva conta que o início do Projeto Arara Azul não foi fácil, não tinha apoio formal de ninguém e passava dias viajando pelo Pantanal sozinha e de carona com os fazendeiros da região. Sem um veículo e trabalhando sozinha, Neiva logo chamou a atenção sobre a dignidade e relevância de seu trabalho. Um importante apoio veio quando um engenheiro da montadora Toyota assistiu a uma de suas palestras e conseguiu que a empresa cedesse um jipe Bandeirante no início dos anos 90. “Foi a independência e um grande salto para o projeto”, lembra Neiva, que foi sozinha até a fábrica no ABC Paulista buscar o veículo. “Nossa, nunca suei tanto na minha vida, além de ter de dirigir no trânsito de São Paulo. Tinha de aprender como funcionava o Bandeirante”, conta. Premiada e reconhecida internacionalmente pela importância e relevância de seu trabalho, Neiva mantém um distanciamento crítico em relação a projetos de preservação mantidos por governos e instituições públicas. Para ela é importante que os cientistas e pesquisadores recebam apoio, mas mantenham sua autonomia para a realização dos trabalhos. Qualquer ingerência política atrapalha. Ela cita como exemplo o projeto da ararinha azul de lear, que tinha muito mais dinheiro que o seu projeto e que não salvou o bicho da extinção. Hoje, além da Toyota, quem em 2002 trocou o Bandeirante por duas caminhonetes Hilux e no ano passado renovou estes veículos, trocando-os por modelos mais recentes, o projeto hoje conta com o apoio do WWF, que paga o salário de estagiárias, das pousadas Cayman e Ararauna, que servem como suporte logístico para a atuação das equipes que visitam os ninhos de araras e acolhem os visitantes que desejam conhecer o trabalho desta equipe de ajudantes da natureza. Desde sua criação, o Projeto recebeu biólogos de vários países e alunos das mais conceituadas universidades brasileiras. Conta ainda com o apoio do Hyacinth Macaw Fund que repassa recursos através da Califórnia Community Foundation e ainda da Smart Family Foundation, Parrot Society, Ibama, BR Tintas, Brasil Telecom e Fundação Manoel de Barros. O ex-militar Cezar Corrêa, principal assistente de Neiva Guedes no Projeto Arara Azul trabalhando na manutenção de um ninho artificial. Hoje Neiva sabe que sem o suporte decisivo de empresas comprometidas com a sustentabilidade o trabalho de monitoramento e preservação de aves no Pantanal, ou em qualquer região do Brasil não é possível. “No caso das araras azuis, os ninhos chegam a estar a 50 quilômetros de distância entre si, precisamos de veículos todo terreno para passar por lugares onde nunca nem se sonhou em construir estradas”, explica Neiva com a concordância de Cezar. As duas caminhonetes do Projeto Arara Azul mais parecem bois bravos de rodeios saltando pelas trilhas do Pantanal, carregando sua preciosa carga de dignidade e esperança. A construção do futuro O Projeto Arara Azul conta atualmente com uma equipe formada pela bióloga Neiva Guedes, por seu assistente Cezar Corrêa, a bióloga Andréa Macieira Carvalho, a estagiária Renata Boss, a educadora ambiental Neliane Guedes Corrêa, irmã de Neiva, e a bióloga Grace Ferreira da Silva. Este time de valentes tem feito a diferença na preservação da arara azul em uma pequena parte do Pantanal. No entanto há ainda muito a ser feito em outras partes do mesmo Pantanal, principalmente ao Norte, nas regiões de incidência da arara azul no Piauí, Tocantins e Bahia, e na Amazônia. Para isto Neiva estima a necessidade de dez equipes trabalhando e não apenas uma. “Hoje já detemos muito conhecimento sobre esta espécie, não estamos mais partindo do zero, é preciso treinar equipes, equipa-las e montar estratégias de trabalho em todas as regiões”, explica Neiva. Uma equipe para sair sozinha a campo precisa de pelo menos um ano de trabalho junto com o pessoal que já está atuando. Para manter uma estrutura como esta será necessário muito mais recursos, um investimento importante e que certamente dá muito resultados para seus apoiadores e financiadores. Este projeto já recebeu, entre outros prêmios, o Prêmio Von Marthius, na categoria Natureza, e Neiva Guedes foi a primeira mulher a receber do príncipe Bernhard, da República dos Países Baixos, o título de dama integrante da Ordem da Arca Dourada (Golden Ark Knighthood), em reconhecimento ao trabalho de conservação da arara-azul (Anodorynchus hyacinthinus). A Ordem dos Cavaleiros da Arca Dourada foi criada em 1971, por sua alteza real Príncipe Bernhard, para reconhecer os esforços de ambientalistas e cientistas na conservação dos recursos naturais em todo o mundo. Nos próximos anos o Projeto Arara Azul certamente continuara a servir como referência para os esforços de preservação de espécies ameaçadas em todo o planeta. Sua estrutura e capacidade operacional é modelo e deve ser replicado com a criação de novas equipes dedicadas à arara azul e a qualquer outra espécie. Atualmente os conhecimentos detidos por esta equipe já são socializados com pesquisadores que estudam morcegos, gaviões, onças e muitos outros animais e plantas. Links importantes: https://www2.uniderp.br/projetos/arara.html https://www.caiman.com.br/caiman/new-portugues/conservacao/ararazul.asp https://www.mma.gov.br/ascom/ultimas/index.cfm?id=355 https://www.escolavesper.com.br/arara%20azul.htm https://www.caiman.de/01_05/art_1/index_pt.shtml *O jornalista Dal Marcondes, da Agência Envolverde, viajou ao Pantanal a convite da Toyota e do Projeto Arara Azul.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Transmissão do coronavírus se agrava nas aldeias indígenas e demanda ações urgentes de contenção

nota pública O Cimi se solidariza e se coloca também em luto junto às inúmeras famílias que choram pela morte de seus entes queridos, impedidos de dar-lhes seu último adeus O Conselho Indigenista Missionário – Cimi vem a público, mais uma vez, denunciar o agravamento do contágio por coronavírus no interior das aldeias indígenas em todo o Brasil, e exigir providências das autoridades frente a essa situação calamitosa, que tem vitimado inúmeros indígenas. O Cimi se solidariza e se coloca também em luto junto às inúmeras famílias que choram pela morte de seus entes queridos, impedidas de dar-lhes seu último adeus; entre esses, há muitas lideranças, em especial as mais idosas, baluartes da história e cultura viva de seus povos, que estão morrendo pela covid-19. No Brasil, nesses três meses de pandemia, os números oficiais divulgados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) indicam a ocorrência de 103 mortes de indígenas por covid-19 e pelo menos 3.079 indígenas contaminados até o dia 16 de junho. Já de acordo com os dados coletados pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) até o dia 14 de junho, os números são ainda mais assustadores: 281 indígenas mortos e 5.361 contaminados pelo novo coronavírus. Essa tragédia só não é maior devido às providências tomadas pelos próprios indígenas de fechar os seus territórios logo no início da pandemia. Mesmo assim, a contaminação se alastrou em Manaus (AM) e continua se alastrando nas regiões do alto e médio Solimões, Vale do Javari, Rio Negro, no estado do Amazonas, e também nos estados de Roraima, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, assim como no litoral Sul do Brasil. Em todas estas regiões, o vírus já está presente no interior das aldeias. Diante desse quadro de morte, dor e sofrimento dos povos indígenas, assistimos, perplexos, às falas e posturas de ignorância e descompromisso das autoridades do governo federal, que são manifestas de forma desenfreada. Não bastando o discurso de ódio do presidente da República, do ministro da Educação, o “passar a boiada” do ministro do Meio Ambiente, ainda o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), cujo dever institucional e constitucional seria o de proteger as populações indígenas, edita a Instrução Normativa nº 09 – por meio da qual a Funai permite o reconhecimento dos limites de imóveis privados em terras indígenas – e agora fala na elaboração de um novo decreto de demarcação de terras indígenas. Seguindo os mesmos padrões, o secretário da Sesai, em vídeo e documento, espalha boatos, colocando povos contra povos, em relação ao Projeto de Lei nº 1142, que propõe a criação de um plano emergencial de enfrentamento à covid-19 para povos indígenas, comunidades quilombolas e tradicionais. Essas posturas e ações por parte de membros do governo federal são gravíssimas, inconstitucionais, e ocorrem em um período de extrema gravidade do contágio do coronavírus, não contribuindo em nada para o enfrentamento da pandemia. Pelo contrário, corroboram a discriminação, o preconceito, a violência e o extermínio desses povos, e das demais populações pobres no Brasil. Infelizmente, constatamos que hoje no Brasil existe uma postura institucionalizada de violência contra os povos indígenas e os seus direitos, que fere os preceitos de nossa Constituição Federal. Que essas autoridades sejam devidamente responsabilizadas pelo não cumprimento da lei maior do país. Exigimos do atual governo o respeito a essa situação grave pela qual passa toda a população brasileira, em especial os povos indígenas. Assuma as suas responsabilidades constitucionais de cuidar e de se relacionar com a totalidade da sociedade, e não apenas com uma parcela. É urgente um plano de ação do governo para conter o avanço do coronavírus nos territórios indígenas, que contemple o combate às invasões, a retirada de invasores e a estruturação das equipes multidisciplinares com profissionais, equipamentos e insumos para a devida assistência às comunidades que estão clamando por socorro nas várias regiões do Brasil, e que faça chegarem benefícios emergenciais e alimentos com segurança, agilidade e cuidado. Reafirmamos a nossa contrariedade com relação a essa política de ódio, integracionista, preconceituosa e violenta contra os povos indígenas, concebida por um governo descompromissado com os reais interesses da população, com a cidadania e com a soberania do Brasil. Ao mesmo tempo, reafirmamos o nosso apoio e compromisso com os povos indígenas, suas comunidades, lideranças e organizações, na sua luta pela existência e resistência nos seus territórios, sejam eles em área rural ou urbana. Conclamamos toda a sociedade a continuar com as ações solidárias aos pobres e às populações indígenas em todo o Brasil, sensível ao sofrimento desses irmãos e irmãs e em contraposição ao discurso e às ações de violência que partem de quem deveria defendê-los. Reafirmamos também a importância da denúncia e da luta na defesa dos direitos constitucionais dos povos indígenas, tanto no âmbito nacional e internacional de defesa de direitos humanos. Com os povos indígenas, seguimos aprendendo o significado da solidariedade e da gratuidade, redescobrindo a profunda articulação entre a vida cotidiana e o sagrado e as incontáveis maneiras de construir em nosso meio o Reino de Justiça, de Paz e de Liberdade. Brasília, 17 de junho de 2020 Conselho Indigenista Missionário in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/06/2020