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sexta-feira, 12 de junho de 2020
Descarte de resíduos e proteção dos oceanos em tempos de pandemia COVID-19
Oceanos em 2050 vão ter mais plástico do que peixes, alerta Fórum de Davos. Foto: NOAA
A pandemia de coronavírus (COVID-19), anunciada em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ficará marcada por consequências ainda difíceis de mensurar. Inclusive para a saúde dos oceanos. O cenário é de incertezas e o afastamento social recomendado pelas autoridades sanitárias tem se transformado em um período de reflexão e mudança de hábito para a população.
Por Camilla Valadares e Alethea Muniz
Um dos principais problemas que já existia mesmo antes desta crise mundial, mas que pode ser agravado, diz respeito à poluição marinha, especialmente pelo descarte inadequado do lixo. “A partir do momento em que descartamos os resíduos, eles iniciam um percurso de destino incerto”, afirma a engenheira Sílvia Astolpho, mestre em saúde pública e especialista em gestão ambiental.
Esse percurso pode ser feito inclusive por resíduos descartados em cidades bem distantes do mar. “Plásticos não coletados e tratados de forma inadequada são carregados pelas águas das chuvas e pela ação do vento aos canais de drenagem de uma bacia, que capta essas águas conduzindo-as ao mar”, exemplifica Sílvia.
As consequências são inúmeras tanto nos aspectos sanitários quanto ambientais de uma maneira geral. Os impactos desses resíduos na contaminação e redução de recursos naturais causam prejuízos imensuráveis. “Se a própria atividade humana estiver restringindo a capacidade de renovação desses recursos, o que suportará nossa existência?”, questiona a pesquisadora.
O aumento de resíduos plásticos no mar, de todos os tipos e tamanhos, por exemplo, prejudica diretamente as espécies. Elas interagem com o plástico basicamente de duas formas: a ingestão dos resíduos e o “emaranhamento”. A ingestão de plástico, ou microplástico, já é observada em todos os níveis da cadeia alimentar, desde o zooplâncton até animais maiores, inclusive os peixes que consumimos.
O impacto ambiental do descarte inadequado de plástico afeta ainda o contexto atual que vivemos: o novo coronavírus – causador da COVID-19 -permanece vivo por até três dias no plástico, conforme informa Sílvia Astolpho. Impedir que esse material se torne um vetor de contaminação é fundamental para combater a pandemia. E essa interrupção, defende Sílvia Astolpho, deve ser sustentável do ponto de vista ambiental. “A interrupção de um ciclo desencadeia novas medidas de controle que repercutirão por outros ciclos em propagação”.
Poluição marinha continua
A poluição marinha por plásticos continua, mesmo com a pandemia de coronavírus, porque o uso de descartáveis aumentou. Dentre os hábitos que mudaram com a pandemia, está o aumento nos pedidos de deliveries – e com isso, mais circulação de embalagens de isopor, por exemplo, que é um material sem circularidade e sem mercado de reciclagem.
Portanto, o plástico segue sendo um problema, e as empresas continuam sem oferecer embalagens alternativas, ou com materiais alternativos aos consumidores.
Os mesmos cuidados podem ser tomados no ambiente doméstico. “Lidar com a realidade trazida pelo vírus significa regrar-se diante da adoção de um ‘protocolo domiciliar’ de higiene, atuando na prevenção do contágio, que poderá valer tanto para o COVID-19 quanto para tantas outras infecções”, afirma Sílvia Astolpho.
A pesquisadora alerta que as condutas adotadas dentro de casa também devem praticar a sustentabilidade ambiental, sob a pena de repassar condições adversas a outras cadeias e onerar o meio ambiente, restringindo seus serviços. “O ato de ficar em casa, em isolamento social, tem permitido reorientar e reafirmar hábitos de asseio e higiene, regular ou desregular a alimentação, dentre tantas outras coisas, permitindo uma análise bastante crítica de nossas escolhas do cotidiano”, diz a pesquisadora.
Apesar das mudanças nos sistemas de coleta de lixo anunciadas em várias cidades para reduzir a exposição dos trabalhadores como forma de combater o COVID-19, ainda existem muitos funcionários de empresas de limpeza e catadores sendo expostos à contaminação por meio do lixo.
“É preciso que governos e indústrias adotem medidas para reduzir o volume de lixo descartado, principalmente de materiais que podem levar a contaminação. Isso protegerá tanto a sociedade do coronavírus quanto os oceanos da poluição que impacta os ecossistemas marinhos”, afirma Lara Iwanicki, engenheira ambiental e cientista marinha da Oceana no Brasil.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/06/2020
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