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sábado, 28 de agosto de 2021
Como alimentar o mundo sem matar o planeta é uma questão de US$ 15 bilhões
Por Ruben G. Echeverría, presidente da Comissão de Intensificação da Agricultura Sustentável (CoSAI) , especial para a IPS –
WASHINGTON DC (IPS) – Uma população de mais de 9 bilhões de pessoas, temperaturas mais altas, ecossistemas decadentes e desastres naturais cada vez mais graves. É isso que nosso mundo enfrentará até 2050 por causa das mudanças climáticas.
Mesmo antes da adição de cerca de dois bilhões de pessoas, o mundo ainda luta para garantir comida suficiente para todos, com cerca de 700 milhões de pessoas passando fome em todo o mundo hoje.
Uma população cada vez maior exige uma intensificação da agricultura para fornecer maiores quantidades de alimentos, se quisermos evitar o fantasma de uma crise de fome ainda maior.
Em países de baixa renda, onde o investimento em intensificação é mais necessário, menos de 5% da produção agrícola é gasta em inovação, representando $ 50 a $ 70 bilhões. Desse total, apenas 7% do investimento é dedicado especificamente a formas mais sustentáveis de intensificação.
É aí que reside o nosso problema. Sem novas ideias, métodos e inovação, a intensificação significa expandir a agricultura em terras não cultivadas finitas, como as florestas tropicais, e colocar um fardo ainda maior sobre os recursos essenciais como a água.
Essa tensão entre sustentabilidade e produtividade é o dilema no cerne de nossos desafios gêmeos da fome e do clima, os quais exigem uma solução, mas nenhum dos quais pode ser enfrentado sozinho. Resolver esse dilema é a resposta a uma pergunta de US $ 15 bilhões.
Um novo estudo revelou uma lacuna de investimento anual de US $ 15,3 bilhões para financiar a pesquisa e as tecnologias que podem ajudar os agricultores em todo o mundo a produzir mais alimentos sem consumir mais recursos naturais.
Ao aumentar nossos níveis atuais de investimento em pelo menos 25% e canalizá-lo para áreas específicas para obter o máximo impacto, podemos ajudar a aliviar a fome global e a mudança climática de uma só vez.
Mas investir nosso tempo, energia e dinheiro de forma inteligente e eficiente requer a compreensão de quais práticas existentes já funcionam, onde existem lacunas em nosso conhecimento, investimento e pesquisa e a melhor forma de preenchê-las.
Crucialmente, a pesquisa também lançou uma nova luz sobre as áreas onde o investimento pode ter o maior impacto na produtividade, ao mesmo tempo que minimiza a pegada ambiental de alimentos e agricultura.
Por exemplo, ao investir em novas tecnologias que permitem aos agricultores usar a água de forma mais eficiente, é possível aumentar os rendimentos das colheitas e, ao mesmo tempo, reduzir o uso de água na agricultura em 10 por cento até 2030. Esses tipos de tecnologias podem ajudar a aumentar os lucros, reduzir os preços dos alimentos e salvar fazendeiros – e o planeta – água.
Os claros benefícios de melhorar a eficiência do uso da água para a agricultura justificam um investimento adicional de US $ 4,7 bilhões, o que é ainda mais crítico dado que apenas 7% dos investimentos existentes visam a resultados ambientais.
Em segundo lugar, investir em melhores serviços de treinamento e aprendizagem para pequenos produtores nos países em desenvolvimento proporcionaria um acesso mais equitativo aos conhecimentos e apoio agrícolas mais recentes.
Agricultores mais bem informados e eficientes terão então o poder de produzir alimentos mais seguros e nutritivos, potencialmente tirando 140 milhões de pessoas da pobreza e da fome.
Atualmente, cerca de metade dos investimentos do setor privado nos países em desenvolvimento se concentram em insumos agrícolas, como sementes, pesticidas e fertilizantes. Os investimentos públicos complementares em assistência técnica equipariam os agricultores para fornecer alimentos mais saudáveis e verdes para suas comunidades.
Finalmente, o investimento no financiamento de pequenos agricultores atenderá à demanda não atendida entre os agricultores dos países em desenvolvimento por mais capital com o qual adquirir as tecnologias e sistemas para uma intensificação agrícola mais eficiente e sustentável.
Investir em mecanismos financeiros novos e emergentes para a agricultura oferece a proposta única de fornecer linhas críticas de crédito e financiamento para os agricultores, ao mesmo tempo que incentiva práticas mais sustentáveis, por meio de títulos verdes e azuis, ou pagamentos por serviços ecossistêmicos.
Por exemplo, US $ 6,5 bilhões adicionais por ano até 2030 seriam suficientes para subsidiar a adoção de inovações que reduziriam as emissões de gases de efeito estufa para fornecer uma trajetória de mitigação em linha com o Acordo de Paris.
Não há como escapar dos problemas colocados pelo futuro. À medida que a população mundial cresce, também crescem os desafios urgentes da mudança climática e da fome. Mas os investidores não devem se contentar em resolver um problema sem enfrentar o outro e devem olhar para as inovações agrícolas que possibilitem uma ação decisiva em ambas as frentes.
Com investimentos mais inteligentes em novas tecnologias e políticas agrícolas, podemos alimentar o mundo sem prejudicá-lo, abordando nosso clima duplo e os problemas da fome ao mesmo tempo, e proporcionando um mundo mais saudável e verde para as gerações futuras. (IPS/#Envolverde)
Abertura da Estrada do Colono ameaça biodiversidade e mais de 1.600 espécies, destaca artigo da Revista Nature
Publicação alerta sobre os impactos se a Estrada do Colono for aberta e como a pressão política está influenciando na aprovação do projeto de lei; animais serão os mais atingidos com a degradação ambiental
A revista britânica Nature, uma das publicações mais respeitadas do mundo, publicou no último dia 17 de agosto, um artigo sobre os impactos da abertura da Estrada do Colono, localizada dentro do Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. Com a chamada “Brazilian road proposal threatens famed biodiversity hotspot (Proposta de rodovia brasileira ameaça famoso ponto de biodiversidade – título traduzido), o artigo é assinado pela jornalista Meghie Rodrigues e analisa o Projeto de Lei no. 984/2019.
Edição de 150 anos da Revista Nature
No artigo, a jornalista descreve que, caso o projeto de lei seja aprovado, será construída uma rodovia na Estrada do Colono, que hoje conta com vegetação nativa (visto de cima, não existe mais a estrada antiga) e conecta cidades ao norte e ao sul, em um trecho de 18 quilômetros, entre os municípios de Serranópolis do Iguaçu e Capanema. A matéria também aborda como a abertura irá impactar diretamente na biodiversidade do parque, que abriga mais de 1.600 espécies de animais, incluindo ameaçados em extinção, como as onças e as antas e diversas espécies de pássaros, além de projetos de pesquisas e ecossistemas preciosos.
A Nature ainda destaca a luta dos ambientalistas e pesquisadores contra a abertura, sob o argumento que trará, além da poluição do ar, do solo, da água e até do som para o parque, também caçadores ilegais, que podem ameaçar os animais, incluindo o tráfico de onças e outros animais silvestres. A jornalista Meghie Rodrigues ouviu fontes locais como Ivan Baptiston, chefe do Parque Nacional do Iguaçu entre 2015 e 2020; Carmel Croukamp Davies, diretora do Parque das Aves; Carlos Araújo, ativista ambiental argentino; e pesquisadores como o biólogo Victor Prasniewski, que fez um estudo sobre o impacto de uma estrada em meio à floresta (poluição do ar, solo, água e sonora), para a reprodução de animais que vivem no entorno.
“O fechamento da estrada é questão que transita em julgado pela justiça brasileira,ou seja, aos olhos da Lei, ela não pode ser reaberta. O PL não passa de manobra política, que não interessa a ninguém, além de meia dúzia de políticos, do ponto de vista ambiental é uma catástrofe e economicamente não traria nenhum benefício a região. Ao contrário, causaria vergonha internacional, afastando os turistas estrangeiros e fazendo o Parque perder o título de Patrimônio Natural da Humanidade. Quem defende o país, não pode deixar isso acontecer”, afirma Angela Kuczach, diretora executiva da rede Pró-UC (Pró Unidade de Conservação da Natureza).
Projeto de Lei teria interesses pessoais para a abertura
A reportagem da Nature também traz que o projeto de lei é patrocinado por Nelsi Coguetto Maria, integrante da Câmara dos Deputados, e argumenta que a mídia local noticiou que sua família potencialmente tem a ganhar com a Estrada do Colono, pois dois de seus filhos são sócios em empresas de construção que poderiam pavimentar a estrada. Um dos argumentos é que o restabelecimento da rodovia seria uma “solução para um problema logístico do Paraná”.
“O escritório de Coguetto Maria não respondeu às perguntas da Nature sobre isso ou sobre as preocupações dos pesquisadores sobre a estrada. Quando a Câmara dos Deputados aprovou a aceleração do projeto de lei, ele argumentou que o Brasil de hoje é ‘responsável’, tem ‘competência e capacidade para construir uma estrada ecologicamente correta’, ressaltando que a estrada existia como um caminho para caminhadas antes mesmo de o parque ser criado”, alerta o texto da Nature. Estudos históricos, no entanto, refutam essa teoria.
Se aprovada, A Lei irá enfraquecer ainda mais a legislação ambiental brasileira
Um ponto importante que o artigo da Nature aborda é o posicionamento do governo brasileiro, que sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro, enfraqueceu a proteção das florestas do país em favor dos setores de mineração, extração de madeira e pecuária. Se o projeto de lei for aprovado, irá enfraquecer ainda mais a legislação ambiental brasileira, além de abrir caminhos para a criação de estradas e rodovias em outros parques e unidades de conversação no país.
Se o projeto for aprovado vira uma lei, que estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, é o que questiona Neucir Szinwelski, professor na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. “O que acontecer no Parque Nacional do Iguaçu poderá sim acontecer em outras unidades de conservação. Não há no projeto de lei qual limitação a isso e, portanto, a abertura de estradas será baseada apenas na demanda e nos interesses econômicos, pois em termos legais tais procedimentos estão regulamentados. Cabe ressaltar que o projeto foi aprovado com regime de urgência, sem que discussões fossem feitas nas câmaras especiais. Ainda, o que é dito pelo autor do projeto é que após a aprovação é que será discutido o modelo de implantação. Não faz sentido isso. Como podem pensar em aprovar uma lei que não se sabe o que vai estar contido dentro dela”.
Abertura de Estrada do Colono não irá impulsionar o ecoturismo
Sobre os argumentos para a abertura, a matéria da Nature foi enfática ao afirmar que não faz sentido que a rodovia irá potencializar o turismo no Paraná. Para Hélio Secco, Secretário Geral da Rede Brasileira de Especialista em Ecologia de Transportes e Pesquisador colaborador do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o projeto de lei não tem a intenção de atrair o ecoturismo, sendo que o mesmo já é atraído pelos pontos tradicionais do Parque. Para ele, ainda existe o risco de atropelamento da fauna, uma vez que a estrada será para encurtar distâncias e o volume de veículos pode ser uma ameaça para as espécies locais.
“Eu não acredito que o projeto de lei será aprovado. Eu acho que com a pressão organizada pela sociedade civil, institutos de pesquisas e acadêmicos vêm demonstrando por diversos motivos o quão negativo seria esta abertura, que inclusive a própria mídia já vem repercutindo, o que acaba fazendo com que muitos parlamentares tomem uma decisão contrária e evitem se expor neste momento”, comenta o especialista.
Já na visão de Szinwelski, professor na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, o projeto sofrerá grande resistência tanto na Câmara quanto no Senado, isso porque há grande pressão do empresariado nacional e dos investidores internacionais para que o projeto seja retirado de pauta e rejeitado. “Enquanto o mundo está ligando suas atividades à conservação da biodiversidade, a proteção e ampliação de florestas, a reestruturação dos habitats naturais, o Brasil parece ir em sentido contrário, com um projeto de lei que modifica a estrutura do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), e faz isso começando pela maior e mais emblemática unidade de conservação: o Parque Nacional do Iguaçu. O projeto visa, literalmente, partir o parque em dois, e abre precedentes para que isso seja feito em qualquer unidade de conservação”, complementa.
Sobre a Estrada do Colono
O Parque Nacional do Iguaçu é conhecido pelas Cataratas do Iguaçu – uma das maiores do mundo. Fundado em 1939, o Parque contém a maior mancha remanescente de Mata Atlântica no sul do Brasil, rica em vegetais e animais e se estende na costa sudeste do Brasil até a Argentina e o Paraguai. Mas devido ao aceleramento do desmatamento causado pela urbanização e pelas atividades agrícolas e industriais no século XX, a floresta já perdeu 90% da sua cobertura arbórea. Em 1986, ocorreu o primeiro fechamento da Estrada do Colono, que também foi declarado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas (UNESCO). No mesmo ano, o Ministério Público Federal abriu uma ação civil para fechar a Estrada e, no ano seguinte, uma juíza federal a fechou oficialmente. Em 1997 ocorreu uma reabertura ilegal e, em 2001, a Justiça Federal determinou o fechamento definitivo durante 2 anos. Moradores resistiram a entregar a área e a desocupação foi feita pelo Exército, Polícia Federal e o Ibama.
Com o fechamento, alguns moradores locais tentaram abrir a estrada, alegando dificuldades econômicas e a impossibilidade de viajar com eficiência para a área, mas o argumento econômico não se sustenta mais. “Os danos causados à altamente valorizada Mata Atlântica do parque superariam em muito os ganhos econômicos potenciais para as cidades vizinhas’, dizem eles. Além disso, as espécies protegidas pelo parque são insubstituíveis, acrescentam. O Parque Nacional do Iguaçu é o único local do mundo onde a população de onças está aumentando em vez de diminuir”, cita o texto da Nature.
“Os retrocessos ambientais serão muito severos e o Brasil já deu grandes demonstrações de que não sabe cuidar dos seus recursos naturais e que não sabe tomar decisões ambientais assertivas, ao contrário do que diz o autor do projeto de lei”, finaliza Szinwelski.
Para ler o artigo da Nature na íntegra, clique em https://www.nature.com/articles/d41586-021-02199-x.
Sobre a Rede Pró UC
A Rede Pró-Unidades de Conservação é uma organização não governamental advocacy que busca ampliar sua representatividade e impacto em prol da proteção dos ambientes naturais. A Rede foi fundada em 1998 e atua em todo o território nacional fortalecendo Unidades de Conservação da Natureza juntamente com outras instituições e colaboradores que atuam em defesa das UCs no Brasil. Mais informações, acesse em https://redeprouc.org.br/.
Secas, tempestades, chuvas intensas e incêndios ameaçam milhões na América Latina e no Caribe
por Alison Kentish, especial para a IPS –
NOVA YORK (IPS) – Em 2020, Brasil, Paraguai e Bolívia enfrentaram sua pior seca em meio século. A Bacia do Atlântico viu 30 tempestades nomeadas – a maior parte registrada em um único ano. Dois furacões de categoria 4 alcançaram um feito sem precedentes ao atingir a Nicarágua.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirma que eventos como enchentes, secas e ondas de calor são responsáveis por mais de 90% de todos os desastres na América Latina e no Caribe nos últimos 20 anos.
Acrescenta que adverte que os impactos das mudanças climáticas devem se tornar mais intensos para a Região.
A Organização, em colaboração com a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR), lançou o ‘Estado do Clima na América Latina e o Caribe 2020’ em 17 de agosto em uma conferência de alto nível ‘Trabalhando juntos para a resiliência do clima, do clima e da água na América Latina e no Caribe.’
De acordo com o Relatório, o aumento das temperaturas, recuo das geleiras, aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos, branqueamento dos recifes de coral, ondas de calor terrestres e marinhas, ciclones tropicais intensos, inundações, secas e incêndios florestais impactaram as comunidades mais vulneráveis, entre elas muitas pequenas ilhas Estados em desenvolvimento.
“Informações precisas e acessíveis são cruciais para a tomada de decisões informada sobre riscos, e o ‘Estado do Clima na América Latina e no Caribe’ é uma ferramenta vital em nossa batalha por um mundo mais seguro e resiliente”, disse Mami Mizutori, Especial Representante do Secretário-Geral para a Redução do Risco de Desastres e Chefe da UNDRR.
Embora o relatório descreva o impacto devastador de uma mudança climática na Região, também traz muitas soluções e iniciativas de mitigação e adaptação urgentemente necessárias.
Apoiando-se no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13 , que exige ‘ação urgente para combater a mudança climática e seus impactos’, a OMM deseja que as nações fortaleçam seus sistemas nacionais de alerta precoce multirriscos.
Embora agências como a OMM e a CEPAL digam que esses sistemas são subutilizados na Região, a Diretora Coordenadora da Organização Meteorológica do Caribe, Dra. Arlene Laing, disse ao evento virtual que desastres recentes no Caribe, incluindo a erupção do Vulcão La Soufriere em São Vicente e Granadinas, sublinharam a importância dos sistemas de alerta precoce para reduzir o risco de desastres e os impactos nas vidas e nos meios de subsistência.
“O serviço meteorológico de São Vicente, por exemplo, forneceu previsões do tempo ao Centro de Pesquisa Sísmica da Universidade das Índias Ocidentais para o planejamento de suas atividades no local. Houve alertas vermelhos dados aos pescadores, que foram avisados de pouca visibilidade devido às cinzas vulcânicas. Houve comunicação constante com a Organização Nacional de Gestão de Emergências e a autoridade local de água sobre chuvas fortes que levariam a cinzas encharcadas pela chuva ”, disse ela.
O Haiti, assediado pela pobreza e turbulência política, também enfrentou inúmeros desastres na última década. Em 2020, a tempestade tropical Laura ceifou 31 vidas no país, enquanto seus cidadãos e fazendeiros suportaram o fardo da severa seca. De acordo com o relatório da OMM, o Haiti está entre os 10 principais países em crise alimentar.
“O Haiti apresenta uma necessidade muito mais extrema para este tipo de sistema de alerta precoce e cooperação, pois eles têm experimentado em sucessão a tempestade tropical Fred, um terremoto e depois a tempestade tropical Grace”, disse o Dr. Laing.
Muitos pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS) no Caribe sabem da importância das medidas de adaptação e mitigação. O problema está no financiamento dessas iniciativas.
O presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS), Dr. Walton Webson, disse à IPS que, na ausência de uma reforma do financiamento do clima, essas nações, que contribuem tão pouco para as emissões globais de gases de efeito estufa, mas carregam o maior fardo dos impactos das mudanças climáticas, serão incapazes de empreender os projetos de que precisam para sobreviver.
“Apenas 2 por cento do financiamento climático total fornecido e mobilizado pelos países em desenvolvimento foi direcionado para SIDS de 2016 a 2018. A pandemia de COVID-19 exacerbou nossos desafios financeiros e nos colocou em uma situação fiscal precária. Nossas necessidades se multiplicaram e continuamos a endividar-se à medida que nossas economias são atingidas e as vias de financiamento concessional se fecham para muitos de nós ”, disse ele.
O presidente da AOSIS diz que a Aliança está liderando reformas para garantir fluxos financeiros direcionados aos mais vulneráveis. Isso inclui o desenvolvimento de um ‘índice de vulnerabilidade multidimensional para tratar da elegibilidade’.
Acrescentou que os pequenos Estados insulares caribenhos de Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Saint Kitts, Nevis e Trinidad e Tobago não têm mais assistência para o desenvolvimento.
“Imagine que essas ilhas vulneráveis ao clima, atingidas por furacões, inundações e secas, devam agora encontrar empréstimos a taxas de juros comerciais para investir em sistemas de alerta precoce, recursos hídricos e outras resiliências climáticas! Precisamos de forte apoio político no Nível Mais Alto para adotar um índice de vulnerabilidade multidimensional ”, disse ele.
O lançamento do ‘Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2020’ segue de perto a publicação de um novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas , que advertiu que ‘a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra’, levando a ondas de calor extremas, secas e inundações.
A América Latina e o Caribe já estão sofrendo com os impactos de um clima em mudança.
Com 2020 entre os três anos mais quentes na América Central e no Caribe e 6 a 8 por cento das pessoas vivendo em áreas classificadas como de alto ou muito alto risco de perigos costeiros, a OMM afirma que o caminho a seguir deve incluir a colaboração entre os governos e a comunidade científica, apoiado por um forte apoio financeiro. (IPS/#Envolverde)
sexta-feira, 27 de agosto de 2021
Pesquisas confirmam que a mudança climática está acontecendo e se acelerando
A mudança climática está acontecendo e se acelerando. A Terra continuará a aquecer. E essas mudanças são inequivocamente causadas por atividades humanas.
Essas estão entre as conclusões do relatório publicado pelo International Panel on Climate Change ( IPCC ), com a contribuição do professor assistente de oceanografia da Universidade do Havaí em Manoa, Malte Stuecker .
University of Hawai’i *
“O último relatório do IPCC mostra claramente que se não reduzirmos drasticamente nossas emissões, iremos para temperaturas que a Terra não via há milhões de anos”, resume Stuecker. “Além disso, podemos agora afirmar com certeza que todo o aquecimento global ocorrido desde meados do século 19 se deve à atividade humana. Embora esses sejam fatos preocupantes, certamente não devemos nos desesperar. Na verdade, se as sociedades escolherem um caminho de grandes reduções nas emissões de gases de efeito estufa agora, o relatório também mostra que evitaremos os piores resultados futuros possíveis e a Terra experimentará apenas um aquecimento adicional moderado ao longo deste século, ao qual provavelmente podemos nos adaptar ”.
Além do aquecimento global, o clima regional em muitas partes do mundo é afetado pelo ciclo entre as condições quentes do El Niño e as frias do La Niña no leste do Oceano Pacífico – comumente referido como El Niño-Oscilação Sul ( ENSO ). ENSO – persistiu sem grandes interrupções por milhares a milhões de anos. Isso também pode mudar em um futuro mundo mais quente, embora o recente relatório do IPCC destaque as incertezas em possíveis mudanças no ENSO .
Dois estudos adicionais
Dando continuidade à longa tradição de contribuir para o desenvolvimento de teorias e avanços nos modelos climáticos em torno do ENSO , pesquisadores da Escola de Ciência e Tecnologia do Oceano e da Terra UH Manoa ( SOEST ) publicaram recentemente dois estudos adicionais abordando a complexidade deste fenômeno climático mais importante.
Os cientistas atmosféricos da SOEST , a Professora Associada Christina Karamperidou e o Professor Fei-Fei Jin , e Stuecker foram coautores de um artigo de revisão publicado na Nature Reviews Earth & Environment (1), no qual sintetizaram avanços recentes na pesquisa sobre ENSO .
Há um consenso emergente entre as simulações do clima futuro sob fortes emissões de gases de efeito estufa com a geração mais recente de modelos climáticos de que a variabilidade da futura temperatura da superfície do mar ENSO pode aumentar à medida que o clima aquece.
“No entanto, ainda há muita incerteza sobre o grau em que o ENSO pode mudar e o momento em que essas mudanças potenciais surgirão da variabilidade natural do ENSO “, disse Karamperidou. “Isso se deve em parte ao entendimento incompleto do fenômeno, em parte devido às limitações conhecidas dos modelos na representação e resolução de processos relevantes, e em parte devido às limitações inerentes ao nosso entendimento impostas pelo curto comprimento do registro instrumental.”
Além disso, liderado por pesquisadores do Centro IBS para Física Climática na Coréia, Stuecker foi coautor de outro estudo publicado na Nature Climate Change (2) que produziu uma série de simulações de modelos climáticos globais com resolução espacial sem precedentes. Impulsionadas pelo poder de um dos supercomputadores mais rápidos da Coréia do Sul (Aleph), as novas simulações de ultra-alta resolução representaram realisticamente processos que geralmente estão ausentes em outros modelos, embora desempenhem papéis fundamentais na geração e no encerramento de El Niño e La Niña eventos.
“A partir desta simulação de modelo climático futuro de mais alta resolução que foi feita até agora, concluímos que é possível que a variabilidade do ENSO possa entrar em colapso sob forte aquecimento do efeito estufa no futuro”, disse Stuecker.
É necessária mais investigação
Esta aparente contradição nas conclusões levanta muitas questões interessantes e destaca a necessidade de uma investigação mais aprofundada.
“Independentemente dos detalhes de como o El Niño mudará no futuro, as chuvas e a seca se tornarão mais extremas no futuro devido ao fato de que estaremos vivendo em um mundo mais quente com um ciclo hidrológico de esteróides”, disse Stuecker.
“Apesar da disseminação de projeções de modelo sobre como o ENSO pode mudar sob forte forçamento antrópico, tanto o relatório do IPCC quanto o artigo da Nature Reviews demonstram que seus impactos sobre as chuvas provavelmente serão aumentados, o que tem implicações significativas em todo o mundo e no Pacífico, incluindo Havaí ” , disse Karamperidou.
Referências:
(1)
Cai, W., Santoso, A., Collins, M. et al. Changing El Niño–Southern Oscillation in a warming climate. Nat Rev Earth Environ (2021). https://doi.org/10.1038/s43017-021-00199-z
Article has an altmetric score of 131
(2)
Wengel, C., Lee, SS., Stuecker, M.F. et al. Future high-resolution El Niño/Southern Oscillation dynamics. Nat. Clim. Chang. (2021). https://doi.org/10.1038/s41558-021-01132-4
Article has an altmetric score of 91
Henrique Cortez *, tradução e edição
Nota da redação EcoDebate: Em relação ao último relatório do IPCC, sugerimos que leia, também:
IPCC AR6 WGI – Síntese principais conclusões do relatório
Relatório do IPCC: mudanças profundas estão em andamento nos oceanos e no gelo da Terra
Relatório do IPCC: ciclo hidrológico está se intensificando com o aquecimento do clima
IPCC relata que as mudanças climáticas são reais – Conheça as principais conclusões do relatório
Relatório do IPCC aumenta responsabilidade da COP26 e pressão sobre o Brasil
Questões importantes na análise do Relatório IPCC AR6 WGI
Novo relatório do IPCC é ultimato para governos e empresas
O relatório do IPCC e a gravidade da crise climática
Aquecimento global deve causar aumento generalizado da temperatura no Brasil
O IPCC apenas confirma o que a natureza já avisava
O futuro cada vez mais incerto das economias carbonizadas
Relatório do IPCC alerta que estamos perdendo para as mudanças climáticas
Ultrapassar pontos de não retorno aumentaria impactos econômicos da mudança climática
Relatório do IPCC reforça a influência humana nas mudanças climáticas
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/08/2021
EcoDebate - Edição 3.734 de 27 / agosto/ 2021
Dia Mundial pelo fim do Especismo
Mudanças climáticas impulsionam ondas de frio e calor extremos
Como detectar truques em planos de emissão zero (Net Zero)
Esclerose Múltipla: Aprenda a reconhecer os sinais da doença ainda no estágio inicial
Pesquisas confirmam que a mudança climática está acontecendo e se acelerando
Ciência de atribuição relaciona aumento dos eventos climáticos extremos à mudança climática
Fraturamento hidráulico (fracking) prejudica a qualidade da água
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
EcoDebate - Edição 3.733 de 26 / agosto/ 2021
Custo do Consumidor Ecológico
FMI sabota metas climáticas promovendo investimento em combustíveis fósseis
Tentativa de abertura da Estrada do Colono ameaça biodiversidade e mais de 1.600 espécies de animais
Capacidade das florestas tropicais de remover carbono da atmosfera está diminuindo
Crises de clima e biodiversidade devem ser tratadas como uma só
Conectividade de áreas protegidas ajuda espécies a lidarem com as mudanças climática
Partículas em nanoescala – Plásticos invisíveis na água potável
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
A queda de um balão provocou o incêndio que já consumiu 60% do Parque Estadual Juquery, em São Paulo, e continua devastando
Por Mônica Nunes, Conexão Planeta –
O fogo começou por volta das 9h deste domingo, 22/8, e já devastou cerca de 65% do Parque Estadual do Juquery – mais de 1.200 hectares de uma área de 2 mil! -, uma das últimas reservas de Cerrado do estado de São Paulo, localizada em Franco da Rocha. O calor e a seca contribuíram para que o incêndio se alastrasse rapidamente, mas não foram a causa dessa tragédia.
De acordo com informações da prefeitura, denúncias anônimas levaram a polícia a seis homens, responsáveis pela soltura de um balão próximo da mata. Eles foram presos, mas liberados logo após pagamento de fiança de R$ 3 mil, cada.
O incêndio durante o dia….
… e à noite – Fotos: Prefeitura de Franco da Rocha/Divulgação
A prefeitura de Franco da Rocha tem mantido suas redes sociais (Facebook e Twitter) atualizadas e contou, hoje, ao meio dia, que ainda há focos de incêndio ativos na mata e, por isso, “cerca de 85 profissionais – entre as equipes do Corpo de Bombeiros, do grupo Águia da Guarda Civil Metropolitana (com helicóptero), da Defesa Civil, do Parque Estadual Juquery, além de brigadistas voluntários – trabalham para conter as chamas”.
Devido ao vento, esses focos podem causar ainda mais estragos. É impossível prever para onde o fogo avançará. Além disso, os caminhões de água não acessam alguns trechos do parque, exigindo trabalho manual dos bombeiros. “É um trabalho de formiguinha, com bombeiros usando bombas costais, equipamento que leva mais de 20 litros de água nas costas”, explicou Walkiria Zanquini, tenente do Corpo de Bombeiros, ao G1.
Já o Parque Estadual Juquery está atualizando as notícias apenas nas stories de seu perfil no Instagram (o Facebook segue desatualizado, desde 2016). E veja só que ironia…
Há uma semana a administração do parque atualizou o feed de seus Instagram com um post no qual comenta sobre incêndios florestais no mundo todo e alerta para os principais motivos – entre eles, soltar balões.
“Este ano ainda não tivemos nenhuma ocorrência de grandes proporções no Juquery, mas seguimos alertas e contando com o colaboração da população para evitar situações que aumentam a probabilidade de ocorrências de fogo sem controle. Não jogue bitucas de cigarro nas trilhas! Não solte balões! Não queime lixo, aterro ou área de mata!”.
Animais feridos, como agir
Foto: Reprodução do Instagram do Parque Estadual do Juquery
Ontem, tanto a prefeitura de Franco da Rocha como uma veterinária voluntária solicitaram, em suas redes sociais, o apoio de veterinários para atender aos animais silvestres queimados. Divulgamos os dois apelos em nossas redes.
Hoje, o Parque Estadual Juquery avisou que tem voluntários suficientes para atender aos animais feridos.
Mas continuam valendo os alertas para que todos que moram ou passam pela região permaneçam atentos à presença de animais silvestres pelas ruas e rodovias da região.
Para fugir do fogo, eles têm ultrapassado os limites do parque. O melhor a fazer é desacelerar nas estradas e, ao ver um animal perdido, avisar a Guarda Civil Metropolitana (CGM) pelo número 153.
Cinzas do incêndio
No domingo à tarde, as redes sociais foram tomadas por relatos de moradores de bairros diversos da capital paulista da zona norte à leste e oeste – Casa Verde, Vila Maria, Santana, Mooca, Perdizes, Santa Cecília, Higienópolis – da identificação de cinzas e fuligem em suas casas e apartamentos.
O motivo, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE), da prefeitura da capital, foi o vento forte que levou as cinzas por quilômetros.
Se as cinzas das queimadas na Amazônia escureceram o céu de São Paulo, em agosto de 2019, por que as cinzas do incêndio no Parque Estadual do Juquery não chegariam aos bairros da capital paulista?
Trata-se de mais um alerta de que não estamos compreendendo a gravidade dos fatos devido à crise climática e também a crimes como o de soltar balão, previsto na legislação desde 1998, mas que ainda continua sendo praticado e punido de forma amena.
Soltar balão é crime!
Há 23 anos, soltar balão, em todo o Brasil, é crime. Aliás, o artigo 42 da Lei de Crimes Ambientais, nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, Indica que é crime não só soltar balões, mas fabricá-los e vendê-los também.
E essa continua sendo uma prática no país, como se não bastassem as causas naturais, a crise climática, às queimadas criminosas realizadas por grileiros, madeireiros e ruralistas.
Infelizmente, esta não foi a primeira vez que o Parque Estadual Juquery sofreu com o fogo devido a esse tipo de imprudência. Há quatro anos, cerca de 200 hectares da reserva foram devorados por um incêndio provocado também por queda de balão. Por isso, a denúncia anônima é tão importante.
Falta educação ambiental diária. Não só nas escolas, mas nos meios de comunicação, promovidos pelo poder público. E falta uma legislação mais dura. Pagar 3 mil reais por incendiar mais da metade de uma reserva ambiental, que é patrimônio da cidade, um direito de todos os cidadãos, é muito pouco! Não educa ninguém.
Fogo em terra indígena
Na sexta, 20/8, também foram identificados focos de incêndio numa área do Parque Estadual do Jaraguá, próxima a seis aldeias da Terra Indígena do Jaraguá, do povo Guarani Mbya.
Os brigadistas indígenas da aldeia Tekoa itakupe – treinados pelo Corpo de Bombeiros para agirem contra pequenos focos de fogo desde o ultimo incêndio (que debelaram sozinhos) em 2020 – entraram na mata para tentar apagar as chamas.
Mas certamente o calor e o tempo seco, sem chuvas, ajudou a intensificar o fogo e, no sábado, os bombeiros foram chamados para se juntar aos indígenas e levaram cerca de dez horas para contê-lo. Ainda não se sabe a causa, mas os indígenas sempre denunciaram a prática de soltura de balões na região.
Para Arnóbio Rocha, membro da comissão de direitos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) que atende esse povo, disse ao G1 que, aparentemente, o incêndio parece “criminoso”, mas pedirá à Polícia Civil que investigue o caso.
Foto de destaque: Prefeitura de Franco da Rocha/Divulgação
Publicado em 23 de agosto de 2021
Mônica Nunes
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.
#Envolverde
Sem água e sem energia, este é o mundo sem florestas
Por Neuza Àrbocz, Especial para Envolverde –
Quando o Pantanal e a Amazônia ardem em chamas, os que observam a Natureza e seus ciclos sabem que enfrentaremos estiagem e seca em um curto espaço de tempo. Sem o fenômeno dos “rios voadores”, formados a partir da umidade e das partículas que as árvores soltam no ar, ficamos sem chuva.
Mesmo assim, desde 2020, o Brasil enfrenta um ritmo acelerado de desmatamento e o mais recente relatório do Map Biomas – que consolida dados de cinco sistemas de monitoramento – apurou um aumento na destruição das áreas naturais em todo o país, com a perda equivalente a 24 árvores por segundo.
As consequências já se fazem sentir e esta semana, o governo federal autorizou o plano de racionamento de energia para grandes consumidores e a Sabesp já colocou São Paulo em estado de alerta devido ao baixo nível de suas represas.
“Nós já estamos em uma crise hídrica. Os indicadores mostram uma redução significativa no volume de chuvas e no armazenamento de água ao longo dos meses deste ano. Hoje, nós temos 20% menos água do que o mesmo período em 2013, ano que antecedeu a crise”, avaliou Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, em entrevista ao jornal da universidade.
Com reservatórios baixos, as hidrelétricas, responsáveis por cerca de 70% de toda energia do país, reduzem sua produção e acionam-se mais termelétricas, movidas à queima de gás, carvão ou biomassa. Medida que, ao longo do tempo, agrava o quadro por jogar mais poluentes na atmosfera e provocar ainda mais desequilíbrio. Um desafio que o Brasil ainda não resolve, pois parte de sua população acredita em “queimar o mato” – ou arrasá-lo com correntões e tratores, para colocar em seu lugar, boi e pasto. O país atingiu a marca de 215 milhões de cabeças de gado este ano, que serão, na sua maioria, devorados em inconsequentes churrascos, deixando um rastro de terras exauridas e improdutivas atrás de si, no decorrer do tempo.
Ao analisar 74.218 alertas de desmatamento, o Map Biomas detectou que 99% deles ocorrem na ilegalidade e sobre áreas protegidas. “Em mais de dois terços dos casos, é possível saber quem é o responsável. É preciso que os órgãos de controle autuem e embarguem as áreas desmatadas ilegalmente e as empresas eliminem essas áreas de suas cadeias de produção”, recomendou Tasso Azevedo, coordenador-geral do Map Biomas, em entrevista ao canal RBA. Um outro estudo da entidade, com a análise de imagens de satélite de todo o território nacional entre 1985 e 2020, descobriu que a superfície coberta por água no Brasil se reduziu em 15,7% desde o início dos anos 90.
Temos pouco tempo para agir. Felizmente, outra parcela da população, ciente desta realidade, trabalha para a restauração florestal e recomposição de APPs (áreas de preservação permanente) e reservas legais. Iniciativas como as agroflorestas, difundidas a partir do pioneiro Ernst Gostch, a agricultura regenerativa, como aplicada pela Renature, e os consórcios iLPF – Integração Lavoura, Pecuária e Florestas, incentivados pela Embrapa, abrem caminhos para a produção responsável de alimentos para a população humana, em equilíbrio com os ciclos naturais do planeta. É chegada a hora de todos tomarem partido neste embate e fazerem suas escolhas. Os hábitos de consumo de cada um são a ponta final de todas as boas ou más práticas no campo.
De que lado você está?
Imagem de destaque: Karen Nadine por Pixabay
#Envolverde
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
Rios são a maior fonte global de mercúrio nos oceanos e o Amazonas lidera a lista
A presença de mercúrio nos oceanos do mundo tem ramificações para a saúde humana e a vida selvagem, especialmente nas áreas costeiras onde ocorre a maior parte da pesca.
Mas, embora os modelos que avaliam as fontes de mercúrio nos oceanos tenham se concentrado no mercúrio depositado diretamente da atmosfera, um novo estudo liderado por Peter Raymond, professor de ecologia de ecossistemas da Escola de Meio Ambiente de Yale e publicado na Nature Geoscience mostra que os rios são na verdade o principal fonte do metal pesado tóxico ao longo das costas do mundo.
Pela Yale University*
“É uma espécie de religação do ciclo global do mercúrio”, diz Raymond. Anteriormente, acreditava-se que a maior parte do mercúrio no oceano aberto era depositado da atmosfera e, em seguida, chegava às áreas costeiras . Mas agora parece que a maior parte do mercúrio flui dos rios para as áreas costeiras do oceano e, de lá, segue para o oceano aberto . “Atualmente, os legisladores se concentram principalmente no controle da emissão atmosférica e da deposição de mercúrio, enquanto a contribuição do mercúrio do rio para os oceanos costeiros não é bem compreendida”, disse Maodian Liu, pós-doutorado no laboratório de Raymond. Ele diz que as novas descobertas ressaltam a importância de limitar o mercúrio que penetra nos rios.
Os pesquisadores também investigaram mudanças no ciclo anual de escoamento de mercúrio ribeirinho, descobrindo que, globalmente, os níveis eram mais altos em agosto e setembro. E eles analisaram quais rios eram os maiores contribuintes de mercúrio; dez rios são responsáveis por metade do mercúrio ribeirinho. O rio Amazonas está no topo da lista, seguido pelo Ganges na Índia e Bangladesh, e pelo Yangtze na China.
Enquanto outros estudos recentes também estimaram as quantidades de mercúrio ribeirinho, Raymond diz que esses estudos não tinham o mesmo nível de especificidade em relação a quais rios tinham as maiores quantidades de mercúrio e quando durante o ano esses níveis eram mais elevados. “A comunidade realmente não tinha concordado com o papel dos rios”, diz ele, acrescentando que este novo trabalho ajuda a fortalecer o argumento de que os rios são de fato a maior fonte de mercúrio oceânico.
A queima do carvão é predominantemente responsável pelo mercúrio atmosférico, que acaba indo parar tanto no oceano quanto nas massas de terra. O mercúrio que os rios transportam para o oceano pode vir do mercúrio atmosférico que acabou nos solos; também pode vir de outras fontes antropogênicas, como mineração de ouro e, em menor grau, de fontes geológicas de ocorrência natural. Além disso, como a mudança climática induz tempestades e inundações mais severas , o mercúrio que permaneceu dormente nos solos por longos períodos pode ser cada vez mais transportado para os oceanos costeiros, dizem os pesquisadores.
Raymond diz que o trabalho futuro pode se concentrar na compreensão dos processos que afetam o mercúrio nesses “pontos críticos”, onde as concentrações que chegam ao oceano são mais altas, bem como examinar as conexões com a pesca nessas áreas. “O consumo de peixe é a fonte alimentar mais importante de exposição humana ao mercúrio”, observa Liu. Em última análise, essa compreensão aprimorada de como e onde o mercúrio entra nos oceanos ajudará a informar os regulamentos para reduzir a quantidade de mercúrio nos peixes em todos os nossos pratos.
Referência:
Liu, M., Zhang, Q., Maavara, T. et al. Rivers as the largest source of mercury to coastal oceans worldwide. Nat. Geosci. (2021). https://doi.org/10.1038/s41561-021-00793-2
Article has an altmetric score of 78
* Henrique Cortez, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/08/2021
Queimadas dão prejuízo para agricultores e ameaçam a saúde da população
ONU Brasil
Em uma reportagem especial, o PNUMA revela o verdadeiro custo das queimadas. A agência explica que as chamas e os incêndios florestais que se espalham a partir delas são a maior fonte mundial de carbono negro, uma ameaça para a saúde humana e ambiental.
Embora exista apenas por alguns dias ou semanas, o impacto do carbono negro no aquecimento global é de 460 a 1.500 vezes mais forte do que o dióxido de carbono. Ele também pode modificar os padrões de chuva, especialmente as monções asiáticas, interrompendo os eventos climáticos necessários para apoiar a agricultura.
Em vez de estimular a produtividade das terras, as queimadas reduzem a fertilidade e aumentam a erosão, exigindo que os agricultores compensem com fertilizantes.
91% da população mundial habita em lugares cuja qualidade do ar ultrapassa os limites estipulados pela OMS. Segundo a agência, a poluição mata 7 milhões de pessoas por ano, incluindo 650 mil crianças.
Diante do apelo universal por medidas capazes de combater a mudança climática, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) preparou uma reportagem especial sobre o verdadeiro custo das queimadas. De acordo com a agência, essa ameaça vai se intensificar com a chegada do outono, que em muitos países corresponde à temporada de queima de safras agrícolas, na qual os produtores queimam seus campos para abrir caminho para uma nova safra, gerando nuvens de fumaça tóxica.
Essas grandes áreas de terras incendiadas todos os anos estão contribuindo para a poluição do ar que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mata 7 milhões de pessoas por ano, incluindo 650 mil crianças. Desse total, 3,8 milhões se devem à exposição domiciliar à fumaça de fogões e combustíveis sujos e 4,2 ocorrem como resultado da poluição em ambientes externos.
Longe de se tratar de um problema localizado, 91% da população mundial habita em lugares cuja qualidade do ar ultrapassa os limites estipulados pela OMS.
“Melhorar a qualidade do ar que respiramos é absolutamente necessário para nossa saúde e bem-estar”, disse Helena Molin Valdés, chefe da secretaria da Coalizão Clima e Ar Limpo (do inglês, CCAC) liderada pelo PNUMA. “Também é fundamental para a segurança alimentar, ação climática, produção e consumo responsáveis – e fundamental para a igualdade. Na verdade, não podemos falar sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável a menos que levemos a sério a qualidade do ar”.
Carbono negro – Muitos agricultores consideram as queimadas agrícolas a maneira mais eficaz e econômica de limpar a terra, fertilizar o solo e prepará-lo para uma nova plantação. No entanto, essas chamas e os incêndios florestais que se espalham a partir delas são a maior fonte mundial de carbono negro, uma ameaça para a saúde humana e ambiental.
O carbono negro é um componente do PM2.5, um poluente microscópico que penetra profundamente nos pulmões e na corrente sanguínea. PM2.5 aumenta o risco de morte por doenças cardíacas e pulmonares, derrames e alguns tipos de câncer, fazendo com que milhões de pessoas morram prematuramente todos os anos. Em crianças, o PM2.5 também pode causar problemas psicológicos e comportamentais. Em pessoas mais velhas, está associado à doença de Alzheimer, doença de Parkinson e demência. E como a poluição do ar compromete a saúde respiratória, também pode aumentar a vulnerabilidade à COVID-19.
O carbono negro também é um poluente climático de curta duração, o que significa que, embora exista apenas por alguns dias ou semanas, seu impacto no aquecimento global é de 460 a 1.500 vezes mais forte do que o dióxido de carbono.
Um caminho melhor – Ironicamente, longe de estimular o crescimento, as queimadas agrícolas na verdade reduzem a retenção de água e a fertilidade do solo em 25 a 30% e, portanto, exigem que os agricultores invistam em fertilizantes caros e sistemas de irrigação para compensar. O carbono negro também pode modificar os padrões de chuva, especialmente as monções asiáticas, interrompendo os eventos climáticos necessários para apoiar a agricultura.
“Terras queimadas, na verdade, têm menor fertilidade e maiores taxas de erosão, exigindo que os agricultores compensem com fertilizantes”, explica Pam Pearson, Diretora da Iniciativa Internacional para o Clima da Criosfera, que trabalhou com agricultores em todo o mundo para introduzir o cultivo livre de fogo.
“As alternativas sem queima, como incorporar o restolho de volta aos campos ou mesmo plantar direto no restolho, quase sempre economizam o dinheiro do agricultor.”
Pearson observa que mudar o hábito de longa data de queimar resíduos agrícolas exigirá educação, sensibilização e capacitação dos agricultores. É um empreendimento elevado, mas os impactos seriam consideráveis e de longo alcance. Reduzir a poluição do ar de fazendas no norte da Índia, por exemplo, poderia evitar o aumento de inundações e secas causadas pelo carbono negro, acelerando o derretimento do gelo e das geleiras do Himalaia – um resultado de mudança de vida para bilhões que dependem dos rios alimentados por essas montanhas.
Esforço mundial – A Coalizão sobre Clima e Ar Limpo trabalha em países e com redes regionais para promover alternativas às queimadas. Na Índia, por exemplo, fornece aos agricultores informações e assistência para acessar alternativas aos incêndios nas plantações, usando satélites para monitorar os incêndios e rastrear seu impacto, apoiando intervenções políticas, subsidiando os agricultores e, por fim, transformando resíduos agrícolas em recursos.
Em Punjab, a coalizão e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estão procurando maneiras de transformar os resíduos de colheita que seriam queimados em uma fonte de combustível renovável. A criação de uma economia circular para esses resíduos proporciona aos agricultores mais renda e reduz a poluição do ar.
Países em todo o mundo estão trabalhando para reduzir a poluição do ar. Essa campanha estará em destaque em 7 de setembro, Dia Internacional do Ar Limpo para um céu azul, que visa estimular uma ação global contra partículas perigosas.
De olho no aquecimento global e na segurança alimentar, um projeto chamado Koronivia Joint Work on Agriculture está integrando a agricultura na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A próxima rodada ocorre na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), ainda neste ano.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/08/2021
Relatório do IPCC (AR6 WGI): entenda a análise e as principais conclusões
O Relatório IPCC AR6 WGI, Climate Change 2021: The Physical Science Basis, apesar de sua grande importância, já caiu no esquecimento da grande mídia e da maioria das pessoas. O relatório documenta que a emergência climática é um fato e que estamos muito próximos de pontos sem retorno, o que causaria severos e permanentes danos ao clima do planeta.
Em vista da relevância do relatório, preparamos um lista de matérias e artigos que podem ajudar a compreender a análise e as principais conclusões do relatório.
Boa Leitura:
IPCC AR6 WGI – Síntese principais conclusões do relatório
Relatório do IPCC: mudanças profundas estão em andamento nos oceanos e no gelo da Terra
Relatório do IPCC: ciclo hidrológico está se intensificando com o aquecimento do clima
IPCC relata que as mudanças climáticas são reais – Conheça as principais conclusões do relatório
Relatório do IPCC aumenta responsabilidade da COP26 e pressão sobre o Brasil
Questões importantes na análise do Relatório IPCC AR6 WGI
Novo relatório do IPCC é ultimato para governos e empresas
O relatório do IPCC e a gravidade da crise climática
Aquecimento global deve causar aumento generalizado da temperatura no Brasil
O IPCC apenas confirma o que a natureza já avisava
O futuro cada vez mais incerto das economias carbonizadas
Relatório do IPCC alerta que estamos perdendo para as mudanças climáticas
Ultrapassar pontos de não retorno aumentaria impactos econômicos da mudança climática
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/08/2021
sábado, 21 de agosto de 2021
Desmatamento pode reduzir volume de chuvas na Amazônia em até 70%, alertam pesquisadores
Por ClimaInfo –
A intensificação do desmatamento na Amazônia pode contribuir para uma redução substancial do volume de chuvas na região. Esta é a conclusão de um novo estudo internacional publicado nesta semana na revista Global Change Biology. De acordo com a análise, o desmatamento pode resultar em uma queda de 55% a 70% da precipitação anual na floresta.
A Amazônia é uma das áreas mais úmidas do planeta. Isso se deve a processos naturais da própria floresta: as plantas liberam vapor d’água no processo de fotossíntese, que se acumulam no ar e resultam em chuvas quase imediatas. O desmatamento destrói a vegetação, o que interrompe este ciclo natural, diminuindo a formação e a incidência de chuvas na região amazônica. A principal novidade da pesquisa é a amplitude do processo, com perdas potenciais muito acima do que se imaginava até agora.
O Terra republicou matéria da ANSA sobre o estudo.
Em tempo: Pesquisadores brasileiros fizeram um estudo de atribuição sobre as fortes chuvas que atingiram a região de Belo Horizonte em janeiro de 2020. De acordo com a pesquisa, um evento dessa magnitude é 70% mais provável em um mundo com temperatura média cerca de 1°C acima dos níveis pré-industriais, como o que temos atualmente. Em termos de impacto, as chuvas afetaram mais de 90 mil pessoas, incluindo desabrigados, e um prejuízo de pelo menos R$ 1,3 bilhão, dos quais 41% podem ser atribuídos às mudanças climáticas induzidas pela ação humana.
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Ruralistas atacam Código Florestal; projetos podem ser votados nos plenários da Câmara e Senado
Por Instituto Socioambiental (ISA)* –
ISA divulga nota técnica denunciando pacote de propostas que permitem redução e até eliminação de florestas de beira de rio em cidades
A bancada ruralista está promovendo um grande ataque ao Código Florestal (Lei 12.651/2012) no Congresso, menos de dez anos depois de uma drástica reforma da legislação, instituída originalmente em 1965 – e com grande parte das alterações ainda não implementada.
Um pacote de projetos na Câmara e no Senado pretende permitir, em especial, a redução ou até a eliminação de vegetação de beira de rio em cidades. As chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) são fundamentais para o controle de inundações, assoreamento, erosão e poluição, além de garantir a qualidade e a quantidade dos mananciais de água.
Nesta semana, podem ser votados, no plenário da Câmara, o regime de urgência do Projeto de Lei (PL) 2.510/2019, do deputado Rogério Peninha Mendonça (MDB-SC), e, no plenário do Senado, o PL 1.869/2021, do senador Jorginho Mello (PL-SC). As duas propostas são carros-chefe da mobilização ruralista: na Câmara, a proposta principal tem outros projetos anexados ou com requerimento de anexação.
Segundo as regras do Código Florestal, que é uma lei federal, as APPs devem ter entre 30 metros e 500 metros de comprimento na beira de rios em área urbana, dependendo da largura do curso de água. Uma das principais bandeiras do pacote ruralista é permitir que o tema seja regulado pela legislação municipal, o que abre caminho para a diminuição ou até o fim dessas áreas protegidas.
Além de ruralistas e governo, o lobby pelas alterações reúne parte dos setores imobiliário, comercial e industrial e também prefeituras. Para ambientalistas e pesquisadores, as propostas vão estimular e legalizar ocupações de áreas sensíveis e, em consequência, ampliar desastres, como enchentes e deslizamentos, além de prejuízos econômicos e mortes.
“Todo dia alguém tenta mudar o Código Florestal. Nas últimas semanas, um grande número de projetos tem tirado o nosso sono com o objetivo de flexibilizar nossa legislação para destruir e ocupar nossas florestas. Isso precisa parar”, afirma o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), presidente da Frente Parlamentar Ambientalista.
“A gravidade e a extensão desse pacote são espantosas. Sua aprovação abriria uma porta para a realização de novos desmatamentos em todos os biomas brasileiros, dentro de áreas protegidas essenciais à proteção dos recursos hídricos e à segurança da população”, diz Kenzo Jucá, assessor técnico do ISA.
Para Jucá, se aprovados, os projetos também vão inviabilizar o cumprimento das metas assumidas pelo Brasil no tratado internacional de mudanças climáticas, o Acordo de Paris. “Isso também afastaria o país do ingresso na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O objetivo desse conjunto de alterações na lei é renovar a antiga intenção de alguns setores radicais do agronegócio de nunca implementar o Código Florestal de fato.”
O ISA produziu uma nota técnica sobre o pacote ruralista contra o Código Florestal. “Trata-se de um cheque em branco,
sem qualquer contrapartida ambiental, para que cada um dos 5.570 municípios possa, de forma desordenada e
em detrimento do equilíbrio ecológico, reduzir suas APPs e abrir novas áreas para desmatamento”, afirma o documento.
Crise climática
“Em pleno 2021, e com a crise climática já instalada, Câmara e Senado parecem ignorar os problemas que ocorrem pela falta da vegetação ao longo dos rios, como as enchentes cada vez mais frequentes e intensas, causando destruição e perda de vidas humanas”, diz Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima.
“Pretendem votar às pressas regras mais flexíveis sobre as Áreas de Preservação Permanente urbanas. É uma irresponsabilidade completa. Cidades inteligentes respeitam as regras ambientais. Para isso, os legisladores necessitam lutar pela implementação das regras protetivas, e não para flexibilizá-las”, alerta Araújo. “Na margem desses rios, historicamente têm sido ignoradas nas cidades brasileiras as faixas com matas ciliares, que protegem os rios de assoreamento e as comunidades de enchentes”, acrescenta.
O Código Florestal estabelece que APP é uma área protegida que tem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, protegendo o solo.
*Edição e reportagem: Oswaldo Braga de Souza, com informações do jornal Estado de São Paulo
Imagem de destaque: Parque Estadual da Cantareira (SP) | © Marcos Leone / ICLEI América do Sul
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Pandemia provoca novo adiamento de conferência da ONU sobre biodiversidade
A próxima Conferência das Partes (COP15) da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CDB) foi novamente adiada em virtude da pandemia de COVID-19. De acordo com os organizadores do encontro, a COP deve acontecer em duas fases: a primeira, entre 11 e 15 de outubro, será realizada de forma virtual; e a segunda, entre 25 de abril e 8 de maio de 2022, presencialmente na cidade de Kunming, na China. O encontro estava previsto para acontecer em outubro, depois de ter sido adiado uma vez no ano passado, no auge da pandemia.
Mesmo com o avanço da vacinação e a diminuição do número de casos em todo o mundo, a grande preocupação das autoridades chinesas é a disseminação da variante Delta. O país, o primeiro afetado pela COVID, vem sofrendo nas últimas semanas com novos surtos da doença. Por essa razão, o novo adiamento da COP15 da CDB já era esperado por negociadores e observadores.
Tal como nas negociações climáticas da UNFCCC, a questão da participação virtual tem sido um problema para garantir conversas minimamente adequadas na CDB. Além da instabilidade na conexão de internet e de problemas de infraestrutura digital, muitos negociadores e observadores de países pobres criticam o modelo de negociação virtual por restringir as possibilidades de discussão e troca de informações entre os participantes. Guardian e Valor repercutiram a notícia.
Enquanto isso, persistem preocupações quanto ao formato e restrições de participação presencial da próxima Conferência do Clima (COP26), programada para acontecer em novembro na cidade de Glasgow, na Escócia. O governo britânico, anfitrião do encontro, anunciou neste mês as regras para entrada de participantes no país. A despeito da aceitação de pessoas vacinadas por qualquer tipo de imunizante aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a exigência de quarentena sanitária pode ser um obstáculo decisivo para impedir a participação de representantes de países pobres. O Washington Post fez um panorama das incertezas e angústias acerca das questões sanitárias na COP26.
Em tempo: A preocupação com a COVID-19 também está no radar do governo dos EUA. De acordo com a Reuters, Washington pediu à ONU que evite a realização de grandes eventos presenciais no mês de setembro, quando está programada a próxima Assembleia Geral. A recomendação da Casa Branca é que os líderes mundiais recorram novamente a mensagens de vídeo para fazer seus discursos oficiais, para restringir a circulação de pessoas em Nova York durante o evento.
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sexta-feira, 20 de agosto de 2021
Queimadas e secas frequentes ameaçam a capacidade de recuperação do Pantanal
Um estudo estima que quase 60% dos 22 mil focos de queimadas detectados pelo Inpe no Pantanal em 2020 foram provocadas por atividades agropastoris
Com a seca extrema enfrentada pelo Pantanal em 2021, o fogo já começa a preocupar especialistas. Embora o número de queimadas no primeiro semestre ainda seja bem mais baixo que no mesmo período do ano passado, o bioma está enfrentando uma estiagem ainda mais severa, que deixa a comunidade científica em alerta para evitar que se repita a tragédia de 2020. Depois de uma temporada excepcionalmente seca em 2019, os incêndios bateram recordes inimagináveis no ano passado, produzindo a maior devastação já registrada na história do Pantanal.
O fogo provocado pela estiagem faz parte da dinâmica natural do bioma, cujo equilíbrio depende da alternância entre períodos de alagamento e de seca. As espécies que prosperam na temporada úmida têm estratégias que lhes permitem sobreviver à estação seca, recuperando rapidamente o espaço perdido quando cessam as queimadas e voltam as chuvas. Mas esse ciclo de regeneração natural pode ser comprometido, alertam especialistas, caso queimadas tão intensas quanto as de 2020 ocorram por anos consecutivos – um risco bastante real, considerando as mudanças climáticas.
Um estudo feito pelos Ministérios Públicos de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso estima que quase 60% dos 22 mil focos de queimadas detectados pelo Inpe no Pantanal em 2020 foram provocadas por atividades agropastoris. O ano passado foi especialmente catastrófico para o bioma porque o número de focos superou a soma de 2019, 2018 e 2017. Nunca se viu nada igual. Até então, o recorde, alcançado em 2005, era de 12,5 mil focos.
A área afetada pelo fogo em 2020 também não tem precedentes: mais de 40 mil km² ou mais de 27% da cobertura vegetal do bioma no Brasil. O recorde anterior havia sido também em 2005, quando 27 mil km² foram destruídos. O impacto na fauna ainda não foi inteiramente mensurado, mas estimativas realizadas ainda no auge das queimadas do ano passado sugeriam que, em setembro, o fogo já havia atingido ao menos 65 milhões de animais vertebrados e 4 bilhões de invertebrados.
Mesmo após um impacto dessa magnitude, de acordo com especialistas, o Pantanal tem grande capacidade de regeneração – ao menos em algumas partes do bioma, que tem ambientes com características muito diversas, como explica Christine Strüssmann, professora de Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). “A fauna do Pantanal tem grande capacidade de recuperação em alguns ambientes, como as áreas de campo inundável, que são sujeitas anualmente aos ciclos de cheias e seca acompanhada de fogo. Ali, a fauna se regenera com muita rapidez. Em outras áreas que não estão sujeitas ao fogo recorrente, como as matas ciliares, dificilmente haverá recuperação”, diz.
Segundo ela, muitos animais têm estratégias para escapar, mesmo onde há o chamado “fogo subterrâneo”, que arde sob a cobertura de turfa quando as chamas já parecem ter cessado. Christine relata que é comum observar roedores em atividade dentro de buracos onde o chão ainda está fumegante – um exemplo dessas estratégias. Ainda assim, uma enorme quantidade de animais não resiste.
“O problema é que o tempo de duração do fogo foi muito grande em algumas áreas e, nesses casos, tanto a fauna quanto a flora têm mais dificuldades de recuperação. Nos campos inundáveis, logo após os incêndios, observamos intensa atividade de peixes, sapos e caranguejos. Mas em cada área do bioma a resposta é diferente”, afirma a professora.
Impactos na fauna. Christine coordenou uma das equipes de campo que realizou o primeiro grande inventário sobre a magnitude do impacto das queimadas de 2020 na fauna vertebrada pantaneira. O trabalho, resultado de uma parceria entre diversas instituições de pesquisa que atuam no Pantanal – incluindo a UFMT, que teve apoio do WWF-Brasil –, permitiu estimar a mortalidade de animais em grandes áreas do Pantanal logo após a passagem do fogo.
“Várias equipes de pesquisadores percorreram longos trechos atingidos por queimadas, em áreas que vão do norte do Pantanal ao Mato Grosso do Sul, contando e registrando as carcaças de animais mortos, em períodos de 24 a 48 horas após a passagem do fogo”, explica Christine.
Nunca havia sido realizado um estudo dessa magnitude, com uma metodologia única, em uma área tão grande do Pantanal, salienta ela. Esse trabalho é importante também porque fornece uma base para que novas pesquisas possam revelar a dimensão do impacto global do fogo no ecossistema. Embora a falta de dados prévios impeça uma análise precisa dos impactos sofridos pela fauna em 2020, os pesquisadores verificaram que algumas populações foram mais atingidas.
“O número de serpentes que conseguimos ver foi maior que dos outros grupos. Não temos uma base prévia para comparação – e as populações de serpentes podem ser muito maiores que as de outros grupos. Porém, mesmo entre as serpentes, o impacto foi desigual. As aquáticas foram especialmente atingidas”, afirma.
De acordo com o estudo, a taxa de mortalidade foi alta principalmente entre os répteis, concentrando mais de 79% do total de animais mortos. Destes, mais de 95% eram serpentes, sendo que 97% delas eram aquáticas. Os mamíferos foram pouco mais de 15% do total e os anfíbios, 4%. O número de aves mortas encontradas foi baixo.
De acordo com a bióloga Paula Valdujo, especialista em conservação do WWF-Brasil que acompanhou a realização do estudo, a grande diversidade de ambientes do Pantanal, com determinadas espécies adaptadas a cada um deles, ajuda a explicar o impacto heterogêneo.
“Áreas que nos anos anteriores ficaram submersas estão expostas por conta da estiagem. O Pantanal tem grande abundância de espécies aquáticas e semiaquáticas de vertebrados, que foram as mais impactadas. A seca extrema seguida de fogo foi uma receita pavorosa para os animais que vivem na água, alimentam-se de peixes, mas sobem para utilizar a vegetação marginal”, destaca Paula.
Estratégias de sobrevivência. Apesar de o impacto na fauna ter sido imenso e preocupante, de acordo com Paula, não significa a extinção total. “Os ecossistemas pantaneiros têm grande resiliência. Assim como no Cerrado, a vegetação retorna após as queimadas e as espécies da fauna voltam a habitá-las, ainda que muitos fatores possam tornar esse processo demorado”, pondera.
É provável que a fauna atingida pelo fogo em 2020 se regenere completamente, acredita Paula, mas tudo vai depender do que acontecer daqui em diante. “O impacto do fogo é cumulativo. A vegetação volta após a queimada, mas, se a chuva for reduzida por mais um ou dois anos consecutivos, com grandes incêndios se repetindo, certamente essa resiliência pode ser comprometida “, alerta a bióloga.
Infelizmente, essa é uma perspectiva real. O período de secas no Pantanal começa em maio e tem seu auge em setembro. Mas, após chuvas fracas em dezembro do ano passado e janeiro de 2021, a estiagem já teve início e a seca deste ano parece ainda mais severa que a de 2020. “Tivemos secas intensas por dois anos seguidos e a de 2021 é recorde, com o Rio Paraguai próximo ao nível mais baixo da série histórica iniciada em 2016. É provável que a seca seja pior que as dos últimos anos, que foram intensas”, explica Paula. “Áreas que normalmente ficam submersas já estão muito expostas. Com as secas intensas e repetidas, a vegetação de áreas que normalmente já estariam inundadas se acumula, formando tufos secos de capim altamente inflamável”.
Nesse contexto, o impacto das mudanças climáticas representa uma grave ameaça ao bioma. Apesar da relevância do fogo para o ecossistema pantaneiro e para o processo ecológico, as queimadas frequentes e em grande escala podem levar a impactos negativos cumulativos. Paula explica ainda que o desmatamento no Pantanal – mas também na Amazônia e no Cerrado – podem, de fato, tornar mais recorrentes os eventos extremos de estiagem, desequilibrando o complexo ciclo natural que garante o “pulso” de alagamento e seca característico do bioma.
“Não adianta nada termos uma política extremamente restritiva no Pantanal se as cabeceiras dos rios não forem conservadas no Cerrado”, afirma. Tudo o que acontece na Bacia do Alto Paraguai, salienta ela, afeta o Pantanal e alterações ambientais produzidas no planalto têm impacto nas partes baixas. “Por outro lado, sabemos que parte das chuvas do Pantanal dependem da Amazônia, onde o desmatamento também piora a situação climática. Por isso, o planejamento territorial é fundamental, assim como a conservação de áreas protegidas e o cumprimento do Código Florestal. As políticas públicas para o Pantanal não podem se limitar ao bioma”, frisa Paula.
Ciclos sobrepostos. Os impactos das mudanças climáticas nos ciclos do Pantanal certamente já estão sendo sentidos, mas a complexidade desses fenômenos torna muito difícil saber até que ponto eles determinaram a seca atual e os incêndios extremos de 2020, segundo a professora Catia Nunes da Cunha, especialista em ecologia de áreas alagáveis do Instituto de Biociências da UFMT.
“O Pantanal é uma moeda com duas caras, a fase seca e a fase inundada. Mas, além do ciclo anual que conhecemos, há também grandes variações plurianuais. Isto é, a longo prazo, o ciclo anual se sobrepõe a grandes períodos mais úmidos, alternados por grandes períodos de estiagem mais forte, com muito fogo”, diz a pesquisadora.
De acordo com ela, os últimos 40 anos corresponderam a um ciclo plurianual úmido. Em contrapartida, entre 1963 e 1973, houve um longo período seco, sem inundações. “Sabemos que no período seco da década de 1960, a vegetação adaptada à inundação regrediu, expandindo-se novamente nos últimos 40 anos e dominando a paisagem. Mas ainda não podemos afirmar com certeza se estamos entrando em um novo período de grandes estiagens”, pontua Catia.
Essa hipótese está sendo estudada. Catia coordena uma equipe de campo da UFMT que está avaliando o efeito do fogo sobre a vegetação pantaneira. Os pesquisadores trabalham em nove parcelas permanentes que são estudadas desde 2006. As árvores são etiquetadas e o grupo analisa o grau de mortalidade e a capacidade de regeneração das diversas espécies da flora após os incêndios.
“Verificamos que, no Pantanal, apesar da presença ocasional do fogo, a vegetação não era dramaticamente afetada, havia uma considerável capacidade de regeneração, mesmo nas matas secas e cerradões. Nossa hipótese é que, nos anos úmidos, algumas espécies, como o cambarazal, se expandem e ocupam grandes áreas que antes eram secas e começaram a inundar”, explica.
Prós e contras. A seca e as queimadas de 2020, relata Catia, levaram muitas árvores a morrerem com a falta de água, mesmo em áreas que não foram atingidas pelo fogo. Por outro lado, em áreas de florestas secas, há espécies que se beneficiam das chamas. “Vimos que nas áreas queimadas o impacto depende da intensidade do fogo. Uma antiga floresta de cambarás, com árvores grandes e bem estabelecidas que estudávamos há vários anos – e que sempre se recuperava após as queimadas -, foi totalmente destruída após os incêndios de 2019 e 2020. Quando as labaredas são muito altas, em um horário muito quente do dia, o impacto é mais grave”, diz.
A alternância entre a fase seca e úmida é o que controla a vegetação, destaca Catia. “Os períodos plurianuais fazem expandir ou regredir a tipologia da vegetação em função de quem tem afinidade com a umidade e quem não suporta a inundação. O maior problema do fogo é a reincidência. Se realmente estivermos entrando em um longo período seco, muitas espécies vão se alastrar e outras vão se retrair, mudando a cara do Pantanal por vários anos”, diz.
Embora a seca de 2021 esteja ainda pior que a de 2020, até o início de julho o número de focos de queimadas no acumulado do ano era equivalente a um décimo do que foi detectado no mesmo período em 2020. Isso aconteceu provavelmente porque o tempo foi muito curto para que o emaranhado de vegetação se desenvolvesse – e, portanto, há menos biomassa para ser queimada, de acordo com Catia.
Para o professor Geraldo Damasceno, do Laboratório de Botânica e de Ecologia Vegetal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o que chamou a atenção em 2020 foi o tamanho da área queimada. “Foi um ano muito seco e áreas que dificilmente estariam disponíveis para pegar fogo acabaram se incendiando”, diz o biólogo.
Boa parte do Pantanal é composta por vegetação herbácea, que tem uma dinâmica resistente a queimadas. Quando o fogo passa, destrói a vegetação exposta, mas um “banco de sementes” de plantas terrestres e aquáticas permanece nas camadas subterrâneas. Quando a inundação volta, a tendência é que a vegetação herbácea se recupere. “Sempre há espécies mais sensíveis que reduzirão sua cobertura. Outras, beneficiam-se do fogo e se alastram, incluindo espécies arbóreas. Os bancos de sementes são muito resistentes e é possível que esteja tudo verde novamente no ano que vem”, explica Damasceno.
De acordo com ele, todo o sistema é altamente resiliente, contanto que não se perca o pulso de cheias e secas. “Se um período seco permanecer por muitos anos, aí sim é bastante complicado para a sobrevivência de diversas plantas. Se o Pantanal parar de pulsar, temos realmente um problema. Esse pulso também é afetado pelo desmatamento nas bordas do bioma.”
Manejo do fogo. O professor destaca a importância do manejo integrado do fogo no bioma e menciona o estudo feito pelos Ministérios Públicos (MPs) de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que atribui à ação humana a maior parte das queimadas ocorridas no Pantanal em 2020. “Os pesquisadores do MP fizeram um levantamento das áreas onde os principais focos de fogo aconteceram, mapearam algumas fazendas e descobriram que a maior parte do fogo teve origem na prática de limpeza do terreno. Esse manejo pode e deve ser feito, mas é preciso ter cuidado. Provavelmente usaram o fogo como costumavam fazer sempre, mas devido às condições da seca, os incêndios se espalharam. Se houvesse um sistema de prevenção do fogo atuante, um alarme geral teria sido dado”, diz Damasceno.
Colega de Damasceno, o agrônomo Arnildo Pott, professor do Departamento de Biologia da UFMS que estuda a biologia vegetal do Pantanal há várias décadas, explica que, uma vez que os incêndios saem do controle, é muito difícil deter seu alastramento quando as condições são muito secas. “As turfeiras, muitas vezes, formam mais de um metro de solo orgânico e inflamável, acumulado eventualmente por 20, 30 ou 40 anos. Nessas áreas, depois da passagem do fogo, quando o incêndio já parece debelado, tudo está queimando por baixo, como uma brasa de cigarro. Assim, o fogo que foi apagado em uma área, pode incandescer durante a noite e se espalhar por outras áreas”, explica Pott.
Ele conta que, dependendo da força do fogo, ele não pode ser detido nem mesmo por aceiros – faixas nas quais a vegetação é suprimida de forma a isolar uma parte da floresta e evitar o alastramento de incêndios. “Já vimos fagulhas atravessando o Rio Paraguai e incendiando a outra margem. Seria impraticável instalar um aceiro maior que o rio”, analisa.
Fogo até na água. O fogo planejado e controlado pode reduzir os incêndios, de acordo com Pott. “As queimadas diminuíram depois que o fogo passou a ser regulamentado. O problema é que, em condições muito secas, é preciso muito cuidado para fazer esse manejo. Dependendo das condições, o fogo pode até mesmo passar por cima de corpos d’água. O rabo-de-burro, que é um capim alto, cresce dentro das lagoas e fica com a parte superior seca acima da água, permitindo que o fogo se alastre sobre a lagoa”, afirma.
Pott faz uma distinção entre a seca atmosférica e a seca no solo. “No ano passado, as duas se somaram. Não choveu muito e não houve inundações. O manejo do fogo não foi modificado e o resultado foi catastrófico”, lembra.
O professor começou a trabalhar no Pantanal no início da década de 1980 e conta que, naquela época, os moradores locais ainda estavam adaptados ao período seco que predominou até 1974. “Eles contam que atravessavam o Rio Paraguai a pé, a cavalo, de jipe e de trator. A seca foi tão prolongada que as pessoas construíram casas em locais que hoje são completamente alagados”, declara Pott.
Ainda não é possível saber, segundo Pott, se essa situação vai perdurar, como na década seca iniciada em 1963, e se, com isso, incêndios como os de 2020 se tornarão mais frequentes, comprometendo o equilíbrio do bioma. Mas, pelo menos por enquanto, o Pantanal deve conseguir se regenerar. “Um mês após a passagem do fogo em 2020 eu fui de carro até a ponte do Rio Paraguai para observar a regeneração. A rebrota e a germinação já estavam acontecendo em níveis impressionantes”, afirma.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/08/2021
Investidores estrangeiros recebem alerta sobre risco da pauta antiambiental no Congresso brasileiro
Projetos de lei em curso no Congresso brasileiro, com consequências irreversíveis à floresta Amazônica e aos povos indígenas, podem gerar graves riscos às operações de instituições financeiras. Alerta da Coalizão e aliados se soma à agenda de denúncias de povos indígenas.
Em carta enviada hoje a 80 instituições financeiras nacionais e internacionais, a Coalizão Florestas & Finanças, juntamente com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib, Observatório do Clima e outras 45 organizações aliadas, alertam sobre os riscos de investimentos no Brasil diante do conjunto de mudanças legislativas em curso no Congresso brasileiro. Se aprovadas, essas mudanças resultarão em consequências irreversíveis à proteção de ecossistemas críticos como a Floresta Amazônica, Pantanal e Cerrado e à garantia dos direitos dos povos indígenas, representando para muitas instituições graves riscos às suas operações no Brasil.
O alerta da Coalizão tem o objetivo de pressionar essas instituições a se posicionar publicamente e de forma contundente contra a agenda de retrocessos, e a soar o alerta junto aos seus pares e às empresas que contam com seus financiamentos e operam no Brasil.
“A Coalizão Florestas e Finanças pressiona há algum tempo as instituições financeiras para tomarem medidas com relação a seus investimentos que ameaçam as florestas e os direitos dos povos indígenas no Brasil. Entre estas medidas estão critérios claros para exclusão de seu portfólio das empresas que cometem essas violações e a adoção de políticas contra o desmatamento e pela proteção dos direitos dos povos indígenas” afirma Merel Van der Merk, coordenadora da Coalizão. “Mas diante de uma ameaça dessa magnitude às garantias legais de proteção do meio ambiente, precisamos de uma ação concreta agora, um posicionamento muito claro de que essas instituições não vão ser cúmplices de mais destruição, desmatamento e degradação dos ecossistemas brasileiros e da violação dos direitos dos povos indígenas”, ela ressaltou.
Dentre as ameaças legislativas descritas na carta, estão os projetos de lei 2633/2020, também conhecido como PL da Grilagem; o 3729/2004 que afrouxa as regras para o licenciamento ambiental no Brasil – ambos aprovados com larga vantagem na Câmara dos Deputados, aguardando apreciação no Senado; o PL 191/2020 que libera a mineração e outras atividades extrativas dentro de terras indígenas e remove o poder de veto dessas comunidades; o Decreto Legislativo 177/2021, que permite a retirada do Brasil da Convenção 169 da OIT e o PL 490/2007, que pode reverter as proteções constitucionais aos Territórios Indígenas, inviabilizando novas demarcações e ameaçando as atuais.
A carta reforça a agenda de mobilizações de povos e organizações indígenas entre os meses de agosto e setembro deste ano. Na segunda-feira (16/08), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) lançou um dossiê internacional de denúncias para chamar atenção à ofensiva contra os povos indígenas e o meio ambiente liderada pelo governo Bolsonaro e seus aliados. A Apib assina a carta liderada pela Coalizão, além de outras 45 organizações.
“Com essa carta, nos somamos às centenas de lideranças indígenas e defensores do meio ambiente marchando agora até Brasília para defender suas florestas e territórios. Se aprovadas, essas medidas terão resultados catastróficos não apenas para eles, mas para todo o aparato de proteção socioambiental no Brasil – já esvaziado pelo atual governo – e para todos nós”, afirmou Rosana Miranda, assessora de campanhas da Amazon Watch, integrante da coalizão. “Essas mudanças ameaçam as próprias instituições do setor financeiro, pois representam um aumento dos riscos sociais, legais, ambientais e climáticos para operar no Brasil. Elas precisam agir”, concluiu.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/08/2021
EcoDebate - Edição 3.730 de 20 / agosto/ 2021
Mix Sustentável – Consumidor
Relatório do IPCC reforça a influência humana nas mudanças climáticas
É necessário compreender a luta pela terra enquanto pedagogia de emancipação humana
Rios são a maior fonte global de mercúrio nos oceanos e o Amazonas lidera a lista
Queimadas e secas frequentes ameaçam a capacidade de recuperação do Pantanal
Investidores estrangeiros recebem alerta sobre risco da pauta antiambiental no Congresso brasileiro
Queimadas dão prejuízo para agricultores e ameaçam a saúde da população
Relatório do IPCC (AR6 WGI): entenda a análise e as principais conclusões
Refluxo gastroesofágico na gravidez: o que fazer?
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
Afeganistão: 20 anos de progresso para as mulheres prestes a desaparecer
Azadah Raz Mohammad e Jenna Sapiano para o The Conversation/IPS –
À medida que o Talibã assume o controle do país, o Afeganistão tornou-se novamente um lugar extremamente perigoso para ser mulher.
Mesmo antes da queda de Cabul no domingo, a situação estava se deteriorando rapidamente , exacerbada pela retirada planejada de todos os militares estrangeiros e pelo declínio da ajuda internacional .
Só nas últimas semanas, houve muitos relatos de vítimas e violência. Enquanto isso, centenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados afirma que cerca de 80% dos que fugiram desde o final de maio são mulheres e crianças.
O que o retorno do Taleban significa para mulheres e meninas?
A história do Talibã
O Taleban assumiu o controle do Afeganistão em 1996, impondo condições e regras severas, seguindo sua interpretação estrita da lei islâmica.
Centenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados afirma que cerca de 80% dos que fugiram desde o final de maio são mulheres e crianças.
O que o retorno do Taleban significa para mulheres e meninas?
Sob sua regra, as mulheres tinham que se cobrir e apenas sair de casa na companhia de um parente do sexo masculino. O Taleban também proibiu as meninas de frequentar a escola e as mulheres de trabalhar fora de casa. Eles também foram proibidos de votar.
As mulheres estavam sujeitas a punições cruéis por desobedecer a essas regras, incluindo serem espancadas e açoitadas, e apedrejadas até a morte se fossem consideradas culpadas de adultério. O Afeganistão tinha a maior taxa de mortalidade materna do mundo.
Nos últimos 20 anos
Com a queda do Taleban em 2001, a situação das mulheres e meninas melhorou muito, embora esses ganhos tenham sido parciais e frágeis.
As mulheres agora ocupam cargos como embaixadoras, ministras, governadoras e policiais e membros das forças de segurança. Em 2003, o novo governo ratificou a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, que exige que os Estados incorporem a igualdade de gênero em sua legislação interna.
A Constituição afegã de 2004 afirma que “os cidadãos do Afeganistão, homens e mulheres, têm direitos e deveres iguais perante a lei”. Enquanto isso, uma lei de 2009 foi introduzida para proteger as mulheres do casamento forçado e de menores, e da violência.
De acordo com a Human Rights Watch, a lei viu um aumento na denúncia, investigação e, em menor medida, condenação por crimes violentos contra mulheres e meninas.
Embora o país tenha passado de quase nenhuma menina na escola para dezenas de milhares na universidade , o progresso tem sido lento e instável. Relatórios da UNICEF de 3,7 milhões de crianças afegãs fora da escola, cerca de 60% são meninas.
Um retorno aos dias sombrios
Oficialmente, os líderes do Taleban disseram que querem garantir os direitos das mulheres “de acordo com o Islã”. Mas isso foi recebido com grande ceticismo, inclusive por mulheres líderes no Afeganistão. Na verdade, o Talibã deu todas as indicações de que irá reimpor seu regime repressivo.
Em julho, as Nações Unidas relataram que o número de mulheres e meninas mortas e feridas nos primeiros seis meses do ano quase dobrou em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Nas áreas novamente sob controle do Taleban , as meninas foram proibidas de ir à escola e sua liberdade de movimento foi restringida. Também houve relatos de casamentos forçados.
As mulheres estão colocando as burcas novamente e falam em destruir evidências de sua educação e vida fora de casa para se proteger do Taleban.
Como uma mulher afegã anônima escreveu no The Guardian:
“Eu não esperava que fôssemos privados de todos os nossos direitos básicos novamente e viajaríamos de volta para 20 anos atrás. Que depois de 20 anos lutando por nossos direitos e liberdade, deveríamos estar caçando burcas e escondendo nossa identidade”.
Muitos afegãos estão irritados com o retorno do Taleban e com o que consideram seu abandono pela comunidade internacional. Houve protestos nas ruas . As mulheres até pegaram em armas em uma rara demonstração de desafio.
Mas isso por si só não será suficiente para proteger mulheres e meninas.
O mundo olha para o outro lado
Atualmente, os EUA e seus aliados estão envolvidos em operações frenéticas de resgate para retirar seus cidadãos e funcionários do Afeganistão. Mas e quanto aos cidadãos afegãos e seu futuro?
O presidente dos EUA, Joe Biden, permanece praticamente indiferente ao avanço do Taleban e ao agravamento da crise humanitária. Em uma declaração de 14 de agosto , ele disse:
“Uma presença americana interminável no meio do conflito civil de outro país não era aceitável para mim”.
Mesmo assim, os EUA e seus aliados – incluindo a Austrália – foram ao Afeganistão há 20 anos com a premissa de remover o Taleban e proteger os direitos das mulheres. No entanto, a maioria dos afegãos não acredita que experimentou paz em suas vidas.
À medida que o Taleban reafirma o controle total sobre o país, as conquistas dos últimos 20 anos, especialmente aquelas feitas para proteger os direitos das mulheres e a igualdade, estão em risco se a comunidade internacional mais uma vez abandonar o Afeganistão.
Mulheres e meninas imploram por ajuda enquanto o Talibã avança. Esperamos que o mundo ouça.A conversa
Azadah Raz Mohammad , estudante de PhD, The University of Melbourne e Jenna Sapiano , Australia Research Council Associado e professor de pós-doutorado, Monash Gender Peace & Security Center, Monash University
Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original .
(IPS/#Envolverde)
Código Vermelho para a Humanidade e o Planeta
Por Felix Dodds e Chris SpenceReimprimir para a IPS –
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, está absolutamente certo em chamar o último relatório climático da ONU de “Código Vermelho para a Humanidade”. Sem ação imediata e séria, estamos condenando as gerações futuras a um futuro sombrio.
Já perdemos muito tempo. No próximo ano, fará meio século desde que a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo nos alertou sobre os riscos ao meio ambiente causados pelas atividades humanas. Mais de 30 anos se passaram desde que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU publicou seu primeiro relatório (o último relatório é o sexto). Mesmo aquele primeiro relatório em 1990 alertou sobre o impacto da humanidade nas concentrações de gases de efeito estufa e no aquecimento do planeta. Mais uma vez, nossas ações nas décadas subsequentes foram terrivelmente inadequadas.
Se permitíssemos um aumento de 2 ° C na temperatura, então as temperaturas recordes registradas recentemente nos Estados Unidos e inesperadamente no Canadá teriam 14 vezes mais probabilidade de acontecer novamente no futuro, tanto lá quanto em outros lugares
Este ano nos deu as percepções mais vívidas sobre como será o novo mundo, sejam secas e incêndios na Califórnia ou os últimos trágicos incêndios florestais na Grécia, já que as temperaturas ficam tão altas que até mesmo uma pequena faísca as acende.
O relatório do IPCC também analisa as ondas de calor. Se permitíssemos um aumento de 2 ° C na temperatura, as temperaturas recorde registradas recentemente nos Estados Unidos e inesperadamente no Canadá teriam 14 vezes mais probabilidade de ocorrer novamente no futuro, tanto lá quanto em outros lugares.
Já houve um aumento no número e na força de. As inundações estão acontecendo com mais frequência e novamente em lugares inesperados, pois a chuva cai de uma maneira diferente de como antes. Essas fortes chuvas, mais recentemente na Alemanha, mostram que as defesas contra inundações foram construídas para um tipo diferente de chuva e exigirão uma grande infraestrutura revisões se este for o novo normal.
Depois, há o efeito em cascata, se as florestas e a vegetação se incendiarem. Quando a chuva voltar, não haverá mais nada para conter a água, o que significa que as enchentes terão um impacto maior nas comunidades já devastadas.
A chave aqui é a água. As negociações climáticas da ONU apenas adicionaram a água como uma questão-chave para as negociações em 2010 devido à campanha dos esforços de múltiplas partes interessadas da Coalizão Água e Clima. A abordagem das metas de efeito estufa perdeu uma grande oportunidade de abordar os setores-chave que estavam contribuindo para o problema ou seriam impactados por ele.
Sem ferimentos leves
Por que tantos líderes políticos estão negando a necessidade de uma ação urgente ou simplesmente dizendo isso da boca para fora? O atual senso de negação é perturbadoramente reminiscente do filme de comédia Monty Python e o Santo Graal . Em uma cena dolorosamente engraçada, um misterioso cavaleiro das trevas bloqueia o caminho de nosso herói, o Rei Arthur. Os dois lutam e o Rei Arthur espera que o cavaleiro fique de lado quando ele corta o braço do cavaleiro. Mas o cavaleiro se recusa, alegando a princípio que é apenas um “arranhão”. A luta recomeça e o cavaleiro perde o outro braço. Novamente, ele se recusa a se submeter ou se afastar, alegando que é “apenas uma ferida na carne”.
É aqui que nos posicionamos com relação às mudanças climáticas. Já infligimos grandes ferimentos em nosso planeta e precisamos responder de acordo. Não podemos fingir que o globo sofreu apenas alguns pequenos cortes e arranhões. Se nosso mundo fosse o cavaleiro das trevas, você poderia argumentar que, por meio de nossas ações, já cortamos um membro. Devemos cessar nossos ataques e tratar isso como uma emergência global para nossa saúde global. Nenhuma solução de band-aid ou gesso sobre o dano fará. A inação não vai resolver isso.
Em uma emergência de saúde, o tempo é essencial. Você não pode esperar para chamar uma ambulância ou tentar continuar normalmente. Se o fizer, o paciente pode não sobreviver. O último relatório do IPCC mostra que devemos agir imediatamente e tomar as medidas mais enérgicas possíveis.
Uma frase de chamariz
Então, o que pode ser feito com o novo alerta do IPCC da ONU?
Em primeiro lugar, os países que ainda não apresentaram novas metas de Contribuição Determinada Nacionalmente sob o acordo de Paris da ONU devem fazê-lo imediatamente.
Em segundo lugar, os países desenvolvidos devem aumentar sua contribuição prometida em 2015 para o financiamento de US $ 100 bilhões por ano para trabalhos climáticos para pelo menos US $ 200 bilhões pela Cúpula do Clima no Egito em 2022.
Em terceiro lugar, e ainda mais importante, os governos precisam se concentrar agressivamente no setor corporativo e em suas responsabilidades. Isso deve incluir a exigência de que todas as empresas listadas em qualquer Bolsa de Valores produzam sua estratégia de sustentabilidade e seu Relatório Ambiental, Social e de Governança (ESG) todos os anos. Este deve ser um requisito para permanecer na bolsa de valores. Isso também deve exigir que eles produzam metas baseadas na ciência para atingir zero líquido de gases de efeito estufa até 2050. As metas voluntárias e autocriadas das empresas não são mais suficientes.
Talvez valha a pena considerar que as Bolsas de Valores publiquem o carbono total de seus membros e começar a considerá-las colocando um teto no que a Bolsa permitiria e qual será sua contribuição para o zero líquido.
Em quarto lugar, o papel dos governos locais e subnacionais precisa ser apoiado e aprimorado. Atores nos níveis local e regional são essenciais para entregar o que precisamos. Eles precisam ser apoiados para definir suas próprias metas para 2030 e estratégias de zero líquido para 2050. Para permitir que eles alcancem isso, os governos centrais precisarão apoiá-los e fornecer o financiamento extra. Todas as decisões de planejamento devem ser baseadas nas novas projeções de mudanças climáticas e a construção em planícies de inundação deve ser interrompida.
Em quinto lugar, os governos devem revisar os impactos sobre as mudanças climáticas de todas as políticas existentes e não prosseguir, a menos que estejam dentro da estratégia para entregar o NDC e as estratégias de Zero Zero para 2030 e 2050. Resumindo, os governos precisam começar a incorporar as mudanças climáticas em todas as suas formas de pensar, em todos os setores. O problema é muito vasto e muito urgente para fazer o contrário.
Em sexto lugar, todos os governos precisam revisar urgentemente suas estratégias de redução de risco de desastres antes de uma grande conferência da ONU sobre este assunto, marcada para maio próximo em Bali.
Em todos os níveis de governo, precisamos revisar as interligações entre água, agricultura, energia e mudanças climáticas para garantir que o planejamento seja à prova de clima. Sem contabilizar cada um desses setores, as soluções não serão grandes o suficiente para enfrentar o desafio.
Por fim, como eleitores, contribuintes e cidadãos, precisamos pressionar nossos líderes políticos a colocar a mudança climática no topo de sua lista de prioridades. Eles precisam ser lembrados de que não são apenas as gerações futuras que os julgarão e suas políticas – nós também podemos fazer isso.
Uma Emergência Código Vermelho
Temos uma década para reverter isso. Já vimos as temperaturas globais subir 1,09 ° C. O IPCC sugere que podemos ultrapassar o importante limite de 1,5 ° C até 2034-2040.
Na verdade, as coisas podem ser ainda mais urgentes. O relatório que saiu na segunda-feira foi o “resumo para os formuladores de políticas”, o que significa que foi um documento negociado tanto com as nações progressistas quanto com os países mais céticos e cautelosos quanto ao clima, negociando o texto exato. Embora as descobertas fossem certamente cientificamente sólidas, é bem provável que a linguagem pudesse ter sido – e provavelmente deveria ter sido – ainda mais urgente. Faríamos bem em lembrar o que alguns políticos disseram nos últimos anos; se eles negaram a ciência no passado, então agora é certamente a hora de abrirem caminho para outros que estão dispostos a dar a essa questão o peso que ela claramente merece.
Felix Dodds é professor adjunto do Water Institute da University of North Carolina, onde é investigador principal do projeto Re-Energize, financiado pela Belmont. Ele co-coordenou a Coalizão de Água e Mudança Climática nas Negociações Climáticas (2007-2012). Seu novo livro é Tomorrow’s People and New Technology: Changing How We Live Our Lives (outubro de 2021).
Chris Spence é consultor ambiental, escritor e autor do livro Global Warming: Personal Solutions for a Healthy Planet. Ele é um veterano de muitas cúpulas do clima e outras negociações das Nações Unidas nas últimas três décadas.
(IPS/#Envolverde)
terça-feira, 17 de agosto de 2021
Degradação florestal e incêndios afetam toda a América Latina
Um novo estudo liderado pela Universidade Nacional da Colômbia (UNAL) e publicado recentemente na revista Science Advances , avaliou os efeitos devastadores de incêndios cada vez mais frequentes nas florestas da América Latina, que foram acompanhados por 15 anos.
Universidad Nacional de Colombia (UNAL)
No início do século 21, cerca de 1,1% das florestas da América Latina sofreram um incêndio florestal. Em 2003, foram perdidos quase 8,5 milhões de hectares, assim distribuídos: 4,7 milhões no Brasil, 1,4 milhão na Bolívia, quase 1 milhão no México, 436 mil no Paraguai e o restante, cerca de 1,4 milhão, entre Guatemala, Venezuela, Honduras, Argentina , Chile, Colômbia, Belize, Peru, Nicarágua, Panamá e Guiana e Suriname.
“Durante 15 anos acompanhamos essas florestas para ver qual a trajetória que estavam tomando desde os danos causados CO2 pelo fogo até o presente (2018). Metade delas, que só foram queimadas uma vez no início do século, acabaram se perdendo em poucos anos apenas com um incêndio ”.
“Por outro lado, mais da metade das florestas que queimaram no início do século foram queimadas novamente até duas ou três vezes mais, e em poucos anos tornaram-se principalmente pastagens, savanas e pastagens, o que implica que as reservas de carbono foram perdidos ”.
A explicação é a professora Dolors Armenteras, diretora do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Modelagem de Ecossistemas (Ecolmod), do Departamento de Biologia da UNAL Sede de Bogotá, e os pesquisadores Liliana Dávalos, Joan Barreto, Alejandro Miranda, Ángela Hernández, Carlos Zamorano, Tania González , María Meza e Javier Retana.
Os autores do estudo observam que Argentina, Brasil, Chile e Paraguai perderam florestas rapidamente; em 2004, 37, 38, 42,5 e 38% foram registrados, respectivamente.
Enquanto isso, no México, Guatemala e Honduras, a transformação das florestas foi mais gradual: em 2004, apenas 6, 12 e 9%, respectivamente.
“Na verdade, uma proporção muito baixa de florestas queimadas consegue se manter em pé como floresta durante todo o período; Nossas análises mostram que alguns resistem e podem persistir se apenas sofrerem um incêndio, pois embora se degradem até certo ponto, podem ser recuperados e continuar cumprindo seu papel essencial de conservação da biodiversidade e da funcionalidade dos ecossistemas ”, destaca o professor Armenteras. .
Também destaca que “detectamos que em alguns países o fogo pode estar associado à conversão para florestas mistas ou plantadas, prática que deve ser avaliada com cuidado devido às implicações que pode ter nas emissões de gases e particulados da biomassa queimada . na floresta “.
O estudo revela uma devastação em escala até agora desconhecida em toda a região latino-americana que tem implicações não só para a perda de biomassa vegetal e as emissões de gases emitidos, mas também compromete as reservas de carbono da região e a prestação de serviços. às populações que o habitam.
Os pesquisadores alertam que “é urgente reduzir os incêndios florestais, seja qual for sua origem. Apelamos urgentemente aos tomadores de decisão para investir em práticas de gestão de terras que busquem paisagens mais seguras e resilientes, e para implementar pagamentos por serviços ecossistêmicos para proteger florestas, processar e punir crimes ambientais, desencorajar práticas agrícolas ruins que aumentam o risco de incêndios, promover tanto incentivos quanto investimentos em práticas sustentáveis CO2e manejo integrado do fogo, entre outros ”.
“É inegável que as florestas queimadas não se recuperam, são degradadas e perdem a capacidade de prestar serviços ecossistêmicos, e em outras latitudes vemos a consequência da imprevisibilidade e da falta de planejamento preventivo, incêndios que não podem ser apagados pelo seu tamanho” eles observam.
Este estudo surge de uma colaboração liderada pela UNAL Bogotá Headquarters com o Centro de Pesquisa em Ecossistemas da Patagônia no Chile, o Centro de Ecologia Florestal e Aplicações da Espanha e a Universidade de Stony Brook nos Estados Unidos.
Referência:
Fire-induced loss of the world’s most biodiverse forests in Latin America
Dolors Armenteras, Liliana M. Dávalos, Joan S. Barreto, Alejandro Miranda, Angela Hernández-Moreno, Carlos Zamorano-Elgueta, Tania M. González-Delgado, María C. Meza-Elizalde, Javier Retana
Science Advances 13 Aug 2021: Vol. 7, no. 33, eabd3357
DOI: 10.1126/sciadv.abd3357
https://doi.org/10.1126/sciadv.abd3357
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* Henrique Cortez, tradução e edição.
in https://www.ecodebate.com.br/“>EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/08/2021
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Quase 20% do território brasileiro pegou fogo ao menos uma vez entre 1985 e 2020
Iniciativa pioneira de mapeamento histórico das cicatrizes do fogo no Brasil gera o mais abrangente banco de dados sobre áreas queimadas e incêndios florestais do País, com dados inéditos – e preocupantes
Uma casa que pega fogo todos os anos: esse é o retrato do Brasil obtido pelo MapBiomas após analisar imagens de satélite entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo sobre o território nacional. Na média, em cada um desses 36 anos, o Brasil queimou uma área maior que a Inglaterra: foram 150.957 km² por ano, ou 1,8% do país. O acumulado do período chega a praticamente um quinto do território nacional: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil.
“Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite entender as mudanças no regime de fogo e seu avanço sobre o território brasileiro”, destaca Ane Alencar, Coordenadora do MapBiomas Fogo.
Quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de vegetação nativa, sendo que os biomas Cerrado e Amazônia concentram 85% de toda a área queimada pelo menos uma vez no país. No caso do Cerrado, a área queimada por ano desde 1985 equivale a 45 vezes a área do município de São Paulo.
“Um dado preocupante é que cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não estamos falando de eventos isolados. No caso da Amazônia, 69% do bioma queimou mais de uma vez no período, sendo que 48% queimou mais de três vezes”, ressalta.
Os estados com maior ocorrência de fogo foram Mato Grosso, Pará e Tocantins. Formações savânicas foram o tipo de vegetação nativa com mais ocorrência de fogo; pastagens foram o tipo de uso antrópico com mais ocorrência de fogo.
Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham ocorrido principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema (1987, 1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010, 2017), altas taxas de desmatamento principalmente na Amazônia e antes de 2005 e depois de 2019 tiveram um grande impacto no aumento da área queimada nesses períodos. A estação seca, entre julho e outubro, concentra 83% da ocorrência de queimadas e incêndios florestais.
A análise por bioma mostra que o Pantanal é o que mais queimou nos últimos 36 anos: 57% de seu território foi queimado pelo menos uma vez no período, ou 86.403 km². Ele é seguido pelo Cerrado (733.851 km², 36%) e pela Amazônia (690.028 km², 16,4%). “O caso da Amazônia é preocupante. Os dados do MapBiomas Fogo revelam que as florestas do bioma têm queimado em grandes proporções e alta frequência, o que não é esperado em um bioma que não é naturalmente adaptado ao fogo”, explica Ane Alencar.
Na média anual, o bioma Cerrado assume a liderança, com 67.833 km²/ano – mais que a Amazônia, cuja média ficou em 64.955 km²/ano. ” O Cerrado é um bioma com vegetação o nativa onde o fogo faz parte de sua ecologia”, explica Vera Arruda, da equipe do MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento do Cerrado. “Entretanto a extensão e frequência da área queimada no bioma nas últimas quase quatro décadas revela que algo está errado com o regime de fogo no bioma”, ressalta.
No bioma Pantanal é possível identificar os anos de 1999 e 2020 com os recordes de áreas queimadas. Foram anos secos e de grande acúmulo de biomassa. “O Pantanal tem uma vegetação adaptada ao fogo, mas em regime de frequência muito grande, ele torna-se prejudicial à biodiversidade de flora e fauna. O combate ao fogo no Pantanal é especialmente desafiador, portanto, ações de manejo integrado e preventivo do fogo, devem ser discutidas para proteção do bioma”, explica Eduardo Rosa, do MapBiomas.
No caso da Mata Atlântica, os meses de agosto, setembro e outubro constituem o período em que mais ocorrem queimadas, sendo que mais de 80% das queimadas ocorreram em áreas agropecuárias ou campestres, “É possível observar uma queda após 2004, quando começam a entrar em vigor leis para regulamentar a queimada em lavouras”, explica Marcos Rosa, Coordenador da equipe do MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento da Mata Atlântica.
Para chegar a esses números, inéditos, a equipe do MapBiomas processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de 1985 a 2020. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de 30 m X 30 m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro ao longo dos 36 anos entre 1985 e 2020, em todos os tipos de uso e cobertura da terra. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas, revelando áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo. O método também permite identificar a área queimada em cada mês em todo o período, bem como o tipo de uso e cobertura do solo que queimou.
Os dados de áreas queimadas e incêndios florestais estão disponibilizados em mapas e estatísticas anual, mensal e acumulada em para qualquer período entre 1985 e 2020 na plataforma https://mapbiomas.org/, aberta a todos. Ela também inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos últimos 36 anos. A resolução é de 30 m, com indicação do tipo de cobertura e uso do solo que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra indígena, assentamentos e áreas com CAR.
Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/08/2021
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