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quarta-feira, 25 de agosto de 2021
A queda de um balão provocou o incêndio que já consumiu 60% do Parque Estadual Juquery, em São Paulo, e continua devastando
Por Mônica Nunes, Conexão Planeta –
O fogo começou por volta das 9h deste domingo, 22/8, e já devastou cerca de 65% do Parque Estadual do Juquery – mais de 1.200 hectares de uma área de 2 mil! -, uma das últimas reservas de Cerrado do estado de São Paulo, localizada em Franco da Rocha. O calor e a seca contribuíram para que o incêndio se alastrasse rapidamente, mas não foram a causa dessa tragédia.
De acordo com informações da prefeitura, denúncias anônimas levaram a polícia a seis homens, responsáveis pela soltura de um balão próximo da mata. Eles foram presos, mas liberados logo após pagamento de fiança de R$ 3 mil, cada.
O incêndio durante o dia….
… e à noite – Fotos: Prefeitura de Franco da Rocha/Divulgação
A prefeitura de Franco da Rocha tem mantido suas redes sociais (Facebook e Twitter) atualizadas e contou, hoje, ao meio dia, que ainda há focos de incêndio ativos na mata e, por isso, “cerca de 85 profissionais – entre as equipes do Corpo de Bombeiros, do grupo Águia da Guarda Civil Metropolitana (com helicóptero), da Defesa Civil, do Parque Estadual Juquery, além de brigadistas voluntários – trabalham para conter as chamas”.
Devido ao vento, esses focos podem causar ainda mais estragos. É impossível prever para onde o fogo avançará. Além disso, os caminhões de água não acessam alguns trechos do parque, exigindo trabalho manual dos bombeiros. “É um trabalho de formiguinha, com bombeiros usando bombas costais, equipamento que leva mais de 20 litros de água nas costas”, explicou Walkiria Zanquini, tenente do Corpo de Bombeiros, ao G1.
Já o Parque Estadual Juquery está atualizando as notícias apenas nas stories de seu perfil no Instagram (o Facebook segue desatualizado, desde 2016). E veja só que ironia…
Há uma semana a administração do parque atualizou o feed de seus Instagram com um post no qual comenta sobre incêndios florestais no mundo todo e alerta para os principais motivos – entre eles, soltar balões.
“Este ano ainda não tivemos nenhuma ocorrência de grandes proporções no Juquery, mas seguimos alertas e contando com o colaboração da população para evitar situações que aumentam a probabilidade de ocorrências de fogo sem controle. Não jogue bitucas de cigarro nas trilhas! Não solte balões! Não queime lixo, aterro ou área de mata!”.
Animais feridos, como agir
Foto: Reprodução do Instagram do Parque Estadual do Juquery
Ontem, tanto a prefeitura de Franco da Rocha como uma veterinária voluntária solicitaram, em suas redes sociais, o apoio de veterinários para atender aos animais silvestres queimados. Divulgamos os dois apelos em nossas redes.
Hoje, o Parque Estadual Juquery avisou que tem voluntários suficientes para atender aos animais feridos.
Mas continuam valendo os alertas para que todos que moram ou passam pela região permaneçam atentos à presença de animais silvestres pelas ruas e rodovias da região.
Para fugir do fogo, eles têm ultrapassado os limites do parque. O melhor a fazer é desacelerar nas estradas e, ao ver um animal perdido, avisar a Guarda Civil Metropolitana (CGM) pelo número 153.
Cinzas do incêndio
No domingo à tarde, as redes sociais foram tomadas por relatos de moradores de bairros diversos da capital paulista da zona norte à leste e oeste – Casa Verde, Vila Maria, Santana, Mooca, Perdizes, Santa Cecília, Higienópolis – da identificação de cinzas e fuligem em suas casas e apartamentos.
O motivo, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE), da prefeitura da capital, foi o vento forte que levou as cinzas por quilômetros.
Se as cinzas das queimadas na Amazônia escureceram o céu de São Paulo, em agosto de 2019, por que as cinzas do incêndio no Parque Estadual do Juquery não chegariam aos bairros da capital paulista?
Trata-se de mais um alerta de que não estamos compreendendo a gravidade dos fatos devido à crise climática e também a crimes como o de soltar balão, previsto na legislação desde 1998, mas que ainda continua sendo praticado e punido de forma amena.
Soltar balão é crime!
Há 23 anos, soltar balão, em todo o Brasil, é crime. Aliás, o artigo 42 da Lei de Crimes Ambientais, nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, Indica que é crime não só soltar balões, mas fabricá-los e vendê-los também.
E essa continua sendo uma prática no país, como se não bastassem as causas naturais, a crise climática, às queimadas criminosas realizadas por grileiros, madeireiros e ruralistas.
Infelizmente, esta não foi a primeira vez que o Parque Estadual Juquery sofreu com o fogo devido a esse tipo de imprudência. Há quatro anos, cerca de 200 hectares da reserva foram devorados por um incêndio provocado também por queda de balão. Por isso, a denúncia anônima é tão importante.
Falta educação ambiental diária. Não só nas escolas, mas nos meios de comunicação, promovidos pelo poder público. E falta uma legislação mais dura. Pagar 3 mil reais por incendiar mais da metade de uma reserva ambiental, que é patrimônio da cidade, um direito de todos os cidadãos, é muito pouco! Não educa ninguém.
Fogo em terra indígena
Na sexta, 20/8, também foram identificados focos de incêndio numa área do Parque Estadual do Jaraguá, próxima a seis aldeias da Terra Indígena do Jaraguá, do povo Guarani Mbya.
Os brigadistas indígenas da aldeia Tekoa itakupe – treinados pelo Corpo de Bombeiros para agirem contra pequenos focos de fogo desde o ultimo incêndio (que debelaram sozinhos) em 2020 – entraram na mata para tentar apagar as chamas.
Mas certamente o calor e o tempo seco, sem chuvas, ajudou a intensificar o fogo e, no sábado, os bombeiros foram chamados para se juntar aos indígenas e levaram cerca de dez horas para contê-lo. Ainda não se sabe a causa, mas os indígenas sempre denunciaram a prática de soltura de balões na região.
Para Arnóbio Rocha, membro da comissão de direitos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) que atende esse povo, disse ao G1 que, aparentemente, o incêndio parece “criminoso”, mas pedirá à Polícia Civil que investigue o caso.
Foto de destaque: Prefeitura de Franco da Rocha/Divulgação
Publicado em 23 de agosto de 2021
Mônica Nunes
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.
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